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10ª Aula - Crime culposo Iter criminis e resultado

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TEORIA DO DELITO - CRIME CULPOSO
Conceito de culpa: Ocorre quando o agente deixa de observar o dever de cuidado objetivo, atua com impudência, negligência ou imperícia, produz um resultado naturalístico não previsto nem querido, mas objetivamente previsível. 
O crime culposo está previsto no artigo 18, II do Código Penal com a seguinte redação:
Art. 18 do CP: Diz-se o crime:
(...)
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
Para determinar quando surge a imprudência, negligência ou imperícia, é necessária a noção de dever de cuidado objetivo. Este corresponde ao dever, que todos se impõe, de praticar os atos da vida com as cautelas necessárias, para que do seu atuar não decorram danos a bens alheios. 
A imprudência é uma conduta positiva, que se dá com a quebra de regras de conduta ensinadas pela experiência. Exemplos: Dirigir em excesso de velocidade e atropelar um pedestre. Agente que coloca bala de verdade, pensando que era de festim, efetua disparo contra amigo e mata-o, neste caso não atua com culpa consciente, pois sequer previu o resultado, mas, com culpa inconsciente, na modalidade de imprudência. 
É a forma positiva da culpa (in agendo), consistente na atuação do agente sem observância das cautelas necessárias. É a ação intempestiva e irrefletida. Tem forma ativa. Desenvolve-se sempre de modo paralelo à ação, ou seja, surge e se manifesta enquanto o seu autor pratica a conduta. 
No caso em que o motorista dirige seu veículo automotor, enquanto ele respeitar as leis de trânsito a sua conduta é correta. 
A partir do momento em que passa, por exemplo, a dirigir em
excesso de velocidade, surge a imprudência. E, quanto mais ele insistir e agravar essa conduta, mais duradoura e perceptível será essa modalidade de culpa. 
A negligência ocorre quando o sujeito se porta sem a devida cautela; é uma conduta negativa, uma omissão quando o caso impunha uma ação preventiva. Exemplo: Mãe que deixa um veneno perigoso à mesa, permitindo que seu filho pequeno o ingira e morra. Não fazer manutenção no veículo. 
É a inação, a modalidade negativa da culpa (in omitendo), consistente na omissão em relação à conduta que se devia praticar. Negligenciar é omitir a ação cuidadosa que as circunstâncias exigem. 
Ocorre previamente ao início da conduta. É o caso do agente que deixa a arma de fogo municiada em local acessível a menor de idade, inabilitado para manuseá-la, que dela se apodera, vindo a matar alguém. O responsável foi negligente, e depois da sua omissão e em razão dela a conduta criminosa foi praticada.
A imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. A imperícia pressupõe sempre a qualificação ou habilitação legal para o ofício. Exemplo: um Médico, durante uma cirurgia, secciona uma artéria e causa hemorragia de morte. 
É também chamada de culpa profissional, pois somente pode ser praticada no exercício de arte, profissão ou ofício. 
Sempre ocorre no âmbito de uma função na qual o agente, em que pese esteja autorizado a desempenhá-la, não possui conhecimentos práticos ou teóricos para fazê-la a contento.
Toda profissão, arte ou ofício são regidas por princípios e regras que devem ser do conhecimento e do domínio de todos que a elas se dedicam. Se tais pessoas ultrapassarem os seus limites, conscientes ou inconscientes de sua incapacidade, violam a lei e respondem pelas consequências.
A imperícia somente pode acontecer no exercício de arte, profissão ou ofício.
Pode até ocorrer fora destas, mas sob o ponto de vista jurídico deverá então ser tratada como imprudência ou negligência. Assim, por exemplo, se um médico, realizando um parto, causa a morte da gestante, será imperito. Entretanto, se a morte for provocada pelo parto mal efetuado por um curandeiro, não há falar em imperícia, mas em imprudência.
E, ainda, os erros cometidos no desempenho de arte, profissão ou ofício não serão sempre frutos da imperícia, pois podem ser ordenados por negligência ou imprudência.
Negligente seria, por exemplo, o médico que, ao receitar, trocasse o nome do medicamento, provocando a morte do doente. 
Por seu turno, imprudente seria, exemplificativamente, o cirurgião que, podendo realizar a operação por um método simples e conhecido, decide utilizar, por vaidade profissional, outro mais complexo e difícil, daí resultando a morte do paciente.
Anote-se, porém, que nem toda falha no exercício de arte, profissão ou ofício constitui-se em imperícia. A lei, ao determinar os requisitos necessários ao exercício de determinada atividade, não pode exigir de todas as pessoas o mesmo talento, igual cultura ou idêntica habilidade.
Resultado naturalístico involuntário: No crime culposo, o resultado naturalístico – modificação do mundo exterior provocada pela conduta do agente – funciona como elementar do tipo penal. Em consequência, todo crime culposo integra o grupo dos crimes materiais.
Ausência de previsão: Em regra, o agente não prevê o resultado objetivamente previsível. Não enxerga aquilo que o homem médio conseguiria ver. Excepcionalmente, todavia, há previsão do resultado (culpa consciente).
Espécies de culpa:
a) Culpa própria: Ocorre quando o agente não quer e não assume o risco de produzir o resultado. Ela se subdivide em: 
a.1) Culpa consciente/com previsão/ex lascívia – O agente prevê o resultado, mas, acredita sinceramente em sua não ocorrência, por confiar em suas habilidades.
a.2) Culpa inconsciente/sem previsão/ex ignorantia – O agente não prevê um resultado por descuido, desatenção, que seria previsível por qualquer pessoa. 
b) Culpa imprópria ou culpa por extensão, assimilação ou equiparação: Configura-se quando o agente, por erro evitável (vencível), imagina certa situação de fato, supondo estar agindo acobertado por uma causa de exclusão de ilicitude, conferindo, assim, um tratamento culposo a um crime doloso. 
Exemplo de culpa imprópria: Uma garota de 15 anos de idade e pertencente a uma família conservadora é proibida pelos pais de namorar. Ela, desobediente, namora um rapaz. Os pais
para evitar os encontros, trancam todas as portas e janelas da casa, e escondem as chaves. O único meio de sair do imóvel é pela janela do quarto do casal.
Depois de constatar que os pais estavam em sono profundo, a garota entra no dormitório dos genitores, pula a janela que dá acesso ao quintal, habitado por dois cães bravios, sobe no muro e o ultrapassa, encontrando seu precoce amado. Saem de carro sem que sejam notados, e, horas depois, durante a madrugada, a jovem retorna à sua casa, já saciada em seu amor. 
Pula o muro, passa pelos ferozes cães, que sequer latem e ingressa no quarto dos pais pela janela. Já no interior do dormitório, seu pai, um militar reformado, nota a presença de um vulto com corpo franzino e cabelos compridos, e ordena
sua parada. Como a sua determinação não é cumprida, persegue o vulto, e contra ele efetua seis certeiros disparos de arma de fogo. O corpo cai ao solo. Ao acender a luz, nota que sua filha foi alvejada, mas está viva.
A descrição retrata um típico caso de culpa imprópria. O agente efetuou disparos com arma de fogo, com intenção de matar (animus necandi ou animus occidendi). Tinha dolo direto. Agiu, contudo, com erro inescusável quanto à ilicitude do fato, pois foi imprudente. Poderia ter sido mais cauteloso, já que o vulto não lhe trazia qualquer ameaça, e, com o silêncio dos cachorros, somente poderia ser pessoa da casa.
Responde, assim, por homicídio culposo, com fundamento no art. 20, § 1.º, do Código Penal. E mais: na forma tentada, em que pese se tratar de crime culposo.
Culpa inconsciente e culpa consciente
Essa divisão tem como fator distintivo a previsão do agente acerca do resultado naturalístico provocado pela sua conduta.
Culpa inconsciente, sem previsão ou ex ignorantia é aquela em que o agente não prevê o resultado objetivamente previsível.
Culpa consciente, com previsão ou ex lascivia é a que ocorre quando o agente, após prever o resultado objetivamente previsível, realizaa conduta acreditando sinceramente que ele não ocorrerá. 
Representa o estágio mais avançado da culpa, pois se aproxima do dolo eventual. Dele, todavia, se diferencia.
Na culpa consciente, o sujeito não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo. Apesar de sabê-lo possível, acredita sinceramente ser capaz de evita-lo, o que apenas não acontece por erro de cálculo ou por erro na execução. 
No dolo eventual o agente não somente prevê o resultado naturalístico, como também, apesar de tudo, o aceita como uma das alternativas possíveis.
Examinemos a seguinte situação: “A” sai atrasado de casa em uma motocicleta, e se dirige para uma entrevista que provavelmente lhe garantirá um bom emprego. No caminho, fica parado em um congestionamento. Ao perceber que a hora combinada se aproxima, e se continuar ali inerte não chegará em tempo, decide trafegar um quarteirão pela calçada, com o propósito de, em seguida, rumar por uma via alternativa descongestionada. Na calçada, depara-se com inúmeros pedestres, mas mesmo assim insiste em sua escolha.
Certamente lhe é previsível que, assim agindo, pode atropelar pessoas, e, consequentemente, feri-las e inclusive matá-las. Mas vai em frente e acaba por colidir com uma senhora de idade, matando-a.
Questiona-se: trata-se de homicídio culposo na direção de veículo automotor (CTB, art. 302) ou de homicídio doloso (CP, art. 121)? Se “A”, após prever o resultado, acreditar honestamente que ele não irá ocorrer, até mesmo porque fará de tudo para evitá-lo, estará desenhada a culpa consciente. 
Contudo, se, após a previsão do resultado, assumir o risco de produzi-lo, responderá pelo dolo eventual.
A distinção é tênue, e somente pode ser feita no caso concreto, mediante a análise das provas exteriores ao fato. 
ELEMENTOS DA CULPA: São os seguintes:
a) concentração na análise da conduta voluntária do agente, isto é, o mais importante na culpa é a análise do comportamento e não do resultado;
b) ausência do dever de cuidado objetivo, significando que o agente deixou de seguir as regras básicas e gerais de atenção e cautela, exigíveis de todos que vivem em sociedade. Essas regras gerais de cuidado derivam da proibição de ações de risco que vão além daquilo que a comunidade juridicamente organizada está disposta a tolerar;
c) resultado danoso involuntário, ou seja, é imprescindível que o evento lesivo jamais tenha sido desejado ou acolhido pelo agente;
d) previsibilidade, que é a possibilidade de prever o resultado lesivo, inerente a qualquer ser humano normal. Ausente a previsibilidade, afastada estará a culpa, pois não se exige da pessoa uma atenção extraordinária e fora do razoável. 
e) ausência de previsão (culpa inconsciente), ou seja, não é possível que o agente tenha previsto o evento lesivo; ou previsão do resultado, esperando, sinceramente, que ele não aconteça (culpa consciente), quando o agente vislumbra o evento lesivo, mas crê poder evitar que ocorra;
f) tipicidade, vale dizer, o crime culposo precisa estar expressamente previsto no tipo penal. Ex.: não existe menção, no art. 155 do Código Penal, à culpa, de forma que não há “furto culposo”;
g) nexo causal, significando que somente a ligação, através da previsibilidade, entre a conduta do agente e o resultado danoso pode constituir o nexo de causalidade no crime culposo, já que o agente não deseja a produção do evento lesivo.
Notas importantes: 
1) No dolo direto, a vontade do agente, em busca do resultado criminoso é retilínea. Ex.:se quer matar a vítima, age para que isso ocorra.
2) No dolo eventual, a vontade do agente busca um determinado resultado, mas visualiza a possibilidade de atingir um segundo resultado, que não quer, mas assume o risco de produzir.
3) Na culpa consciente, a vontade do agente busca um determinado resultado, mas visualiza a possibilidade de atingir outro, que não deseja, esperando, sinceramente, ser possível evitar.
4) Na culpa inconsciente, o agente quer atingir determinado resultado e não visualiza um outro, que não quer, mas lhe é previsível. Difere da culpa consciente, pois não vê o mal que pode causar. Deveria visualizar, se agisse com mais cautela, embora não o faça no caso concreto. Logo, não assume o risco de atingir o resultado danoso, nem tem esperança de não o atingir, pois simplesmente não o enxerga.
ITER CRIMINIS
Iter criminis: O caminho percorrido pelo crime é chamado de “iter criminis”, nada mais é do que as fases que ocorrem para a execução da conduta ilícita. São fases do crime a cogitação, os atos preparatórios, os atos executórios e a sua consumação. 
CRIME CONSUMADO E TENTATIVA
CRIME CONSUMADO: É o tipo penal integralmente realizado, ou seja, quando o tipo concreto se enquadra no tipo abstrato (art. 14, I, CP). Exemplo: quando A subtrai um veículo pertencente a B, com o ânimo de assenhoreamento, produz um crime consumado, pois sua conduta e o resultado materializado encaixam-se, com perfeição, no modelo legal de conduta proibida descrito no art. 155 do Código Penal.
O crime estará consumado quando estiver completa a realização do tipo penal, ou seja, o agente realizou todos os elementos que compõe a definição do tipo penal. 
TENTATIVA
Conceito de crime tentado: É a realização incompleta da conduta típica, que não é punida como crime autônomo (art. 14, II, CP). Como diz Aníbal Bruno, é a tipicidade não concluída. O Código Penal não faz previsão, para cada delito, da figura da tentativa, embora a grande maioria comporte a figura tentada.
Tentativa conforme o próprio legislador dispõe, ocorre quando por circunstâncias alheias a vontade do agente o crime não se consuma, ou seja, iniciou-se a fase de execução, mas não se consumou por razões que fogem a esfera de vontade do agente. 
Preferiu-se usar uma fórmula de extensão, ou seja, para caracterizar a tentativa de homicídio, não se encontra previsão expressa no art. 121, da Parte Especial. Nesse caso, aplica-se a figura do crime consumado em associação com o disposto no art. 14, II, da Parte Geral. Portanto, o crime tentado de homicídio é a união do “matar alguém” com o “início de execução, que não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente”. Pode-se ler: quem, pretendendo eliminar a vida de alguém e dando início à execução, não conseguiu atingir o resultado morte, praticou uma tentativa de homicídio.
Denomina-se tentativa branca ou incruenta a que se desenvolve no contexto dos crimes contra a pessoa, não havendo derramamento de sangue, portanto, sem a ocorrência de lesões na vítima.
Conceito e divisão do iter criminis
Trata-se do percurso para a realização do crime, que vai da cogitação à consumação. Divide-se em duas fases – interna e externa – que se subdividem:
a) Fase interna, que ocorre na mente do agente, percorrendo, como regra, as seguintes etapas:
a.1) Cogitação: é o momento de ideação do delito, ou seja, quando o agente tem a ideia de praticar o crime;
a.2) Deliberação: trata-se do momento em que o agente pondera os prós e os contras da atividade criminosa idealizada;
a.3) Resolução: cuida do instante em que o agente decide, efetivamente, praticar o delito. Tendo em vista que a fase interna não é exteriorizada, logicamente não é punida, pois cogitationis poenam nemo patitur (ninguém pode ser punido por seus pensamentos);
b)Fase externa, que ocorre no momento em que o agente exterioriza, por meio de atos, seu objetivo criminoso, subdividindo-se em:
b.1) Manifestação: é o momento em que o agente proclama a quem queira e possa ouvir a sua resolução. Embora não possa ser punida esta fase como tentativa do crime almejado, é possível tornar-se figura típica autônoma, como acontece com a concretização do delito de ameaça;
b.2) Preparação: é a fase de exteriorização da ideia do crime, através de atos, que começam a materializar a perseguição ao alvo idealizado, configurando uma verdadeira ponte entre a fase interna e a execução. O agente ainda não ingressou nos atos executórios, daí por que não é punida a preparação no direito brasileiro. Exemplo de Hungria,em relação aos atos preparatórios, não puníveis: “Tício, tendo recebido uma bofetada de Caio, corre a um armeiro, adquire um revólver, carrega-o com seis balas e volta, ato seguido, à procura do seu adversário, que, entretanto, por cautela ou casualmente, já não se acha no local da contenda; Tício, porém, não desistindo de encontrar Caio, vai postar-se, dissimulado atrás de uma moita, junto ao caminho onde ele habitualmente passa, rumo de casa, e ali espera em vão pelo seu inimigo, que, desconfiado, tomou direção diversa. Não se pode conceber uma série de atos mais inequivocamente reveladores da intenção de matar, embora todos eles sejam meramente preparatórios” (Comentários ao Código Penal, v. I, t. II, p. 79). Excepcionalmente, diante da relevância da conduta, o legislador pode criar um tipo especial, prevendo punição para a preparação de certos delitos, embora, nesses casos, exista autonomia do crime consumado. Exemplo: possuir
substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante ou material destinado à sua fabricação (art. 253, CP) não deixa de ser a preparação para os crimes de explosão (art. 251, CP) ou de uso de gás tóxico (art. 252, CP), razão pela qual somente torna-se conduta punível pela existência de tipicidade incriminadora autônoma;
b.3) Execução: é a fase de realização da conduta designada pelo núcleo da figura típica, constituída, como regra, de atos idôneos e unívocos para chegar ao resultado, mas também daqueles que representarem atos imediatamente anteriores a estes, desde que se tenha certeza do plano concreto do autor. Exemplo: comprar um revólver para matar a vítima é apenas a preparação do crime de homicídio, embora dar tiros na direção
do ofendido signifique atos idôneos para chegar ao núcleo da figura típica “matar”;
b.4) Consumação: é o momento de conclusão do delito, reunindo todos os elementos do tipo penal. O exaurimento do crime significa a produção de resultado lesivo ao bem jurídico após o delito já estar consumado, ou seja, é o esgotamento da atividade criminosa, implicando em outros prejuízos além dos atingidos pela consumação. É o que ocorre no contexto dos crimes formais, quando atingem o resultado previsto no tipo – mas não obrigatório para a consumação. Exemplo disso: o recebimento do resgate(exaurimento) na extorsão mediante sequestro, que se consuma após a realização da privação da liberdade da vítima. Segundo Zaffaroni e Pierangeli, denomina-se também consumação material (Da tentativa, p. 26).
Crimes que não admitem a tentativa
a) Delitos culposos, pois o resultado é sempre involuntário. 
b) crimes preterdolosos (havendo dolo na conduta antecedente e culpa na consequente, possuindo o mesmo bem jurídico protegido nas duas fases), pois há necessidade do resultado mais grave para a constituição do tipo. 
c) Crimes unissubsistentes, pois são constituídos de ato único (ex.: ameaça verbal), não admitindo iter criminis. Ou o agente profere a ameaça, consumando-se o delito, ou não o faz de maneira completa, deixando de intimidar a vítima e é um fato penalmente irrelevante;
d) Crimes omissivos próprios, pois o não fazer, descrito no tipo, também não admite fracionamento: ou o agente deixa de fazer a conduta devida, configurando o tipo, ou faz, constituindo conduta atípica, não havendo meio-termo punível;
e) Delitos habituais próprios, que são os que se configuram somente quando determinada conduta é reiterada, com habitualidade, pelo agente. Não pode admitir a figura tentada, uma vez que os atos isolados são penalmente irrelevantes (Ex: Casa de prostituição – art. 229 do CP). 
f) Contravenções penais, pois a Lei das Contravenções Penais diz ser não punível a tentativa (art. 4.º). Cuida-se de política criminal do Estado, uma vez que as contravenções são consideradas delitos menores, deixando de ser relevante para o direito penal a singela tentativa;
g) Delitos condicionados, pois submetidos, para a sua concretização, à superveniência de uma condição. Exemplo: o crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122, CP) somente se configura se houver lesão grave ou morte
da vítima, conforme previsto no preceito sancionador, de modo que não há possibilidade de haver tentativa;
h) Crimes de atentado (delitos de empreendimento), cuja tentativa é punida com pena autônoma ou igual à do crime consumado (vide o exemplo do art. 352 do Código Penal: “Evadir-se ou tentar evadir-se...”). Logo, fugir ou tentar fugir empregando violência contra a pessoa é crime consumado. Impossível, pois, falar-se em tentativa de tentar fugir, pois estaríamos cuidando de mera preparação ou cogitação;
i) Crimes permanentes na forma omissiva, pois não há iter criminis possível de diferenciar a preparação da execução. Exemplo: quando um carcereiro recebe um alvará de soltura e decide não dar cumprimento, deixando preso o beneficiado, comete o delito de cárcere privado na modalidade omissiva, sem possibilidade de fracionamento. Na realidade, envolvendo uma omissão, exclui-se naturalmente a tentativa, pois unissubsistente o ato: ou faz o que lhe é exigido ou deixa de fazer, consumando o delito.
Nomenclatura e espécies de tentativa: Tentativa também chamada de “conatus” podem ser das seguintes espécies:
a) Tentativa imperfeita (inacabada): Ocorre quando o agente inicia os atos executórios, mas é interrompido, existindo ainda atos a serem praticados, não se consumando o crime por circunstâncias alheias à vontade do agente. Exemplo: pretendendo dar fim à vida da vítima a tiros, começa a descarregar sua arma, quando, antes de findar os atos executórios, pois crente que o ofendido ainda está vivo, é barrado pela ação de terceiros. Pode merecer diminuição maior da sua pena, pois a fase executória do iter criminis, nesse caso, apenas começou.
b) Tentativa perfeita (acabada, crime falho): Ocorre quando o agente, segundo seu entendimento praticou todos os atos executórios necessários à consumação do crime, mas mesmo assim o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Exemplo: o agente desfere inúmeros tiros certeiros na vítima e, acreditando que morreu, afasta-se do local. Ocorre que, socorrido por terceiros, o ofendido salva-se. Trata-se de tentativa que merece menor diminuição da pena. 
c) Tentativa branca (incruenta): Ocorre quando o bem jurídico tutelado não chega a ser atingido, apesar dos atos executórios praticados pelo agente.
d) Tentativa vermelha (cruenta): Ocorre quando o bem tutelado é atingido pelos atos perpetrados pelo agente.
Situação-problema: “Pena já foi a morte”, diz delegado sobre pai que esqueceu filho em carro Menino de dois anos morreu após passar 5 horas trancado em carro em MT. Causa da morte foi asfixia por confinamento, segundo laudo do IML. A Polícia Civil acredita que a Justiça deverá aplicar o perdão judicial após o envio do inquérito que apura a morte de uma criança de dois anos que foi esquecida dentro de um carro em Cuiabá. 
Frederico era filho do delegado Geraldo Gezoni, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e morreu na última terça-feira (26). O caso será investigado pela Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica). Segundo o delegado Eduardo Botelho, o procedimento de investigação é comum na polícia e, após o fim da apuração do caso, o inquérito será encaminhado ao Poder Judiciário. O delegado disse que aguarda apenas o encaminhamento do expediente por parte da DHPP, que atendeu o caso, e o resultado do exame de necropsia da criança para realizar a abertura do inquérito (Notícia veiculada pelo site g1.globo em 28/01/2016 18h18 - Atualizado em 28/01/2016 18h24, disponível em< http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2016/01/pena-ja-foi-morte-diz-delegadosobre-pai-que-esqueceu-filho-em-carro.html>) 
Pergunta-se: A partir da situação narrada diferencie as condutas comissivas e omissivas e avalie a fundamentação jurídica para fins de responsabilidade jurídico-penal do denominado agente garantidor.
Bibliografia: 
Manual de direito penal/Nucci, Guilhermede Souza. – 16. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2020
Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Ed. MÉTODO, 2019.
Curso de Direito Penal: Valter Kenji Ishida – São Paulo: Atlas, 2009
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