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1 Introdução à Ciência e Tecnologia dos Materiais Imperfeições nos sólidos – Capítulo 4 Cursos de Graduação em Engenharia de Produção, Mecânica, Civil e Elétrica Internet ATENÇÃO O CONTEÚDO AUDIOVISUAL DESTA AULA É EXCLUSIVO PARA FINS ACADÊMICOS, ESTANDO PROTEGIDO PELAS LEIS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL. PROIBIDA A SUA CESSÃO OU OUTRA FORMA DE UTILIZAÇÃO NÃO AUTORIZADA 2 Por que estudar? As propriedades de alguns materiais são profundamente influenciadas pela presença de imperfeições. Torna-se importante conhecer os tipos de imperfeições que existem e os papéis que desempenham ao afetar o comportamento dos materiais. Exemplo 1: As propriedades mecânicas dos metais puros apresentam alterações significativas quando eles estão ligados. O latão (70%Cu-30%Zn) é muito mais duro e resistente do que o cobre puro. Por que estudar? Exemplo 2: Os dispositivos microeletrônicos dos circuitos integrados encontrados nos nossos computadores, calculadoras e utensílios domésticos funcionam devido à presença de concentrações rigorosamente controladas de impurezas específicas, que são incorporadas em regiões pequenas e localizadas de materiais semicondutores, a fim de alterar a condutividade elétrica nestas regiões. 3 Por que estudar? Exemplo 3: A deformação mecânica dos materiais promove a formação de imperfeições que geram um aumento na resistência mecânica (processo conhecido como encruamento). Exemplo 4: Velocidade de migração dos átomos nas ligas: a difusão atômica pode ser acelerada pelas impurezas e imperfeições. Importância 4 Introdução Defeito/Imperfeição: irregularidade na rede cristalina, envolvendo a posição dos átomos ou o tipo dos átomos. AA presençapresença dede defeitosdefeitos nemnem sempresempre éé negativanegativa e, com frequência, defeitos são introduzidos propositalmente em quantidades controladas, com a finalidade de se obter características específicas. O tipo e o número de defeitos dependem da composição do material, do meio ambiente e das circunstâncias sob as quais o material é processado. Tipos de defeitos A classificação das imperfeições cristalinas é frequentemente feita de acordo com a geometria ou com a dimensão do defeito. 1 - Pontuais: Adimensionais. Envolvem algumas posições atômicas. Exemplos: Lacunas, auto-intersticial e impurezas. 2 – Lineares (unidimensionais): Envolvem uma direção em um plano extra de átomos. Exemplo: discordâncias. 3 – Superficiais (bidimensionais ou planares). São defeitos interfaciais. Exemplos: contornos de grão, superfície externa. 4 – Volumétricos (tridimensionais): Se estendem sobre o conjunto dos átomos na estrutura ou no volume. Exemplos: Poros, inclusões e trincas. 5 Defeitos Pontuais Defeitos pontuais 6 Defeitos pontuais: Lacunas Lacuna (vacância, vazio): sítio vago na rede cristalina (posição que deveria estar ocupada, mas está vaga). Todos os sólidos cristalinos tem lacunas; não é possível criar um material sem este defeito. Defeitos pontuais: Lacunas O número de lacunas em equilíbrio (Nl) aumenta exponencialmente com a temperatura. N: número total de sítios atômicos Ql: energia necessária para a formação de uma lacuna T: temperatura absoluta K: constante de Boltzmann (1,38x10-23 J/átomo-K ou 8,62x10-5 eV/átomo-K) ρ: massa específica A: peso atômico Nl= N exp (-Ql/kT) N=NAρ/A 7 Defeitos pontuais: Lacunas Para a maioria dos metais: Nl/N é da ordem de 10 -4 a uma temperatura logo abaixo da temperatura de fusão. Ou seja: 1 em cada 10.000 sítios estará vazio As lacunas podem ser originadas durante a solidificação, como resultado de perturbações locais durante o crescimento dos cristais, ou podem ser criadas pelo rearranjo dos átomos de um cristal, devido à mobilidade atômica. Podem ser ainda resultado da deformação plástica, do resfriamento rápido e do bombardeamento da rede cristalina por nêutrons. Exemplo 4.1 Calcule o número de lacunas em equilíbrio, por metro cúbico de cobre, a 1000ºC. A energia para a formação de uma lacuna é 0,9 eV/átomo. O peso atômico e a massa específica (a 1000ºC) para o cobre são de 63,5 g/mol e 8,4 g/cm3, respectivamente. 8 Exercício 4.2 Calcule o número de lacunas por metro cúbico no ouro a 900ºC. A energia para a formação de lacunas é 0,98 eV/átomo. Adicionalmente, a massa específica e o peso atômico para o Au valem 18,63 g/cm3 e 196,9 g/mol, respectivamente. Exercício 4.3 Calcule a energia para a formação de lacunas na prata, sabendo que o número de lacunas em equilíbrio na temperatura de 800ºC é de 3,6x1023 m-3. O peso atômico e a massa específica (a 800ºC) para a prata são, respectivamente, 107,9 g/mol e 9,5 g/cm3. 9 Defeitos pontuais: Auto-intersticial Auto-intersticial: átomo do cristal que se encontra comprimido em um sítio intersticial (pequeno espaço vazio, não ocupado normalmente). Introduz distorções relativamente grandes na rede cristalina, pois o átomo é substancialmente maior do que o interstício. Existe em concentrações muito reduzidas quando comparado às lacunas (sua formação é pouco provável). Impurezas nos sólidos Obter um metal puro é impossível; impurezas de outros elementos sempre estarão presentes, algumas irão existir como defeitos pontuais. Mesmo com técnicas sofisticadas é difícil obter uma pureza superior a 99,9999% = 1022‐1023 átomos de impurezas por m3. Ligas: mistura de dois ou mais metais. Os átomos de impurezas são adicionados intencionalmente para conferir características específicas ao material. Em geral, para aumentar a resistência mecânica e à corrosão. 10 Impurezas nos sólidos Os metais mais conhecidos não são altamente puros, mas sim ligas. - Latão: Cu-Zn - Bronze: Cu-Sn - Aço: Fe-C - Ouro 18 quilates: 75%Au-13%Ag-12%Cu - Amálgama: 70%Ag-18%S-10%Cu-2%Hg Impurezas nos sólidos A adição de átomos de impurezas a um metal resultará na formação de uma solução sólida e/ou de uma nova fase (precipitação), dependendo do tipo e da concentração de impurezas e da temperatura. Solvente: representa o elemento ou composto que está presente em maior quantidade (átomos hospedeiros). Soluto: elemento ou composto presente em menor concentração. Também é chamado de elemento de liga. 11 Ilustração de fases e solubilidade: (a) As três formas da água: sólida, líquida e gasosa; (b) água e álcool têm solubilidade ilimitada; (c) Sal e água possuem solubilidade limitada; (d) Água e óleo não possuem solubilidade. Solução sólida em metais É formada quando a adição de átomos de soluto não altera a estrutura cristalina do material hospedeiro e nenhuma nova estrutura é formada. É homogênea em termos de composição: os átomos do soluto estão distribuídos de forma aleatória e uniforme no interior do sólido. Analogia com solução líquida: álcool e água. 12 Tipos de solução sólida Solução sólida substitucional: os átomos do soluto ocupam as posições dos átomos do solvente na rede cristalina (átomos do soluto e do solvente com tamanhos próximos). Solução sólida intersticial: os átomos do soluto preenchem espaços vazios (interstícios) que existem entre os átomos do solvente. Tipos de solução sólida 13 a) Solução sólida substitucional No caso das soluções sólidas substitucionais, existem fatores que determinam o grau segundo o qual os átomos do soluto se dissolvem no solvente: Regra de Hume-Rothery 1 – Tamanho atômico: a diferença ente os raios atômicos não deve ser maior do que ~15%. 2 – Estrutura cristalina: deve ser a mesma para o solvente e o soluto. 3 – Eletronegatividade: as eletronegatividades dos elementos devem ser próximas. 4 – Valências: um metal tende a dissolver outro metal de maior valência do que de menor valência. a) Solução sólida substitucional Exemplo: Cu-Ni são solúveis em todas as proporções. 1 – Raios atômicos: 0,128 nm (Cu) e 0,125 nm (Ni). 2 – Estrutura cristalina: CFC 3 – Eletronegatividades:1,9 (Cu) e 1,8 (Ni) 4 – Valências: +1 (Cu) e +2 (Ni) 14 b) Soluções sólidas intersticiais Para metais que possuem alto fator de empacotamento, os interstícios são menores. Consequência: o diâmetro atômico das impurezas deve ser substancialmente menor do que o do átomo do soluto. Mesmo os átomos de impurezas muito pequenos são geralmente maiores do que os interstícios, causando deformação da rede sobre os átomos hospedeiros adjacentes. Geralmente, no máximo 10% de impurezas são incorporadas nos interstícios. b) Soluções sólidas intersticiais Fe-C solubilidade máxima do C no Fe é 2,1% a 912ºC e de 0,022% a 727ºC. O C tem raio atômico bastante pequeno se comparado com o Fe: rC= 0,071 nm rFe= 0,124 nm 15 Defeitos pontuais Defeitos pontuais: (a) lacuna, (b) átomo intersticial, (c) átomo substitucional pequeno, (d) átomo substitucional grande. Todos estes defeitos perturbam o “perfeito” arranjo atômico dos átomos vizinhos. Defeitos Lineares 16 Defeitos lineares: discordâncias Discordância: é um defeito cristalino linear entorno do qual alguns átomos estão desalinhados e, consequentemente, provoca uma distorção na estrutura cristalina. Todos os materiais cristalinos contém algumas discordâncias, que foram originadas durante a solidificação dos sólidos cristalinos, durante a deformação plástica e/ou como consequência das tensões térmicas que resultam de um resfriamento rápido do material. Defeitos lineares: discordâncias A presença deste defeito é responsável pela deformação plástica dos materiais (os metais são cerca de 10 vezes mais “moles” do que deveriam) e a consequente falha dos mesmos. A quantidade e o movimento das discordâncias podem ser controlados pelo grau de deformação e/ou por tratamentos térmicos. 17 Tipos de discordâncias Discordância em aresta (cunha) Discordância em hélice (espiral) Discordância mista a) Discordância em aresta Pode ser entendida como a distorção entorno da aresta de um semi-plano extra de átomos no reticulado, o que provoca uma imperfeição linear. Aresta do semi-plano = linha da discordância. A magnitude desta distorção normalmente tem a ordem de uma distância interatômica (a). 18 a) Discordância em aresta Na região em torno da linha da discordância existe uma distorção localizada da rede cristalina. Os átomos acima da linha da discordância são comprimidos uns contra os outros, enquanto que os abaixo da mesma linha são tracionados um para longe do outro. A magnitude desta distorção diminui com o afastamento da linha da discordância. Em posições remotas da linha da discordância, o reticulado cristalino é virtualmente perfeito. a) Discordância em aresta a) Um cristal perfeito; b) Um plano extra é inserido no cristal (a). A distorção entorno da extremidade da parte inferior do plano extra é uma discordância em cunha. c) O vetor de burgers b equivale à distância necessária para fechar o contorno formado pelo mesmo número de átomos ao redor da discordância em cunha. (a) (b) (c) 19 b) Discordância em espiral É uma discordância produzida pela distorção (torção) de um cristal, de modo que um plano atômico produza uma rampa ao redor da discordância. A região do cristal deslocada uma distância atômica para cima em relação à fração posterior. b) Discordância em espiral O cristal perfeito (a) é cortado e cisalhado em um espaçamento interatômico, (b) e (c). A linha ao longo da qual ocorre o cisalhamento é uma discordância em hélice. Um vetor de Burgers b é requerido para fechar o circuito de igual espaçamento interatômico ao redor da discordância. 20 c) Discordâncias mistas A maioria das discordâncias encontradas em materiais cristalinos não é, provavelmente, nem uma discordância em aresta ou em espiral. Na verdade, as discordâncias exibem características de ambos os tipos, tornando-se conhecidas como discordâncias mistas. Como possui níveis variados de caráter aresta e espiral, a orientação relativa entre a linha da discordância e o vetor de Burgers não é nem perpendicular nem paralela. c) Discordâncias mistas Representação esquemática de uma discordância que possui características em aresta, espiral e mista. Vista superior 21 Observação das Discordâncias Diretamente: MET (TEM) ou HRTEM Indiretamente: MEV (SEM) - MET‐ Microscopia Eletrônica de Transmissão, ou TEM (Transmission Electron Microscopy) - HRMET – High Resolution Electron Microscopy (Microscopia Eletrônica de Transmissão de Alta resolução) - MEV ‐ Microscopia Eletrônica de Varredura, ou SEM (Scanning Electron Microscopy) Observação das Discordâncias Discordâncias no MET 22 Observação das Discordâncias Discordâncias no HRTEM Defeitos Superficiais (Interfaciais) 23 Defeitos interfaciais São contornos que possuem duas dimensões e que, normalmente, separam regiões dos materiais que possuem diferentes estruturas cristalinas e/ou orientações cristalográficas. a) Superfícies externas b) Contornos de grão c) Contornos de macla d) Defeitos interfaciais diversos a) Superfície externa É o contorno (interface) ao longo do qual termina a estrutura do cristal. Os átomos na superfície não estão ligados ao número máximo de vizinhos mais próximos: possuem maior energia que os átomos nas posições interiores. As ligações incompletas desses átomos na superfície dão origem a uma energia de superfície. 24 a) Superfícies externas b) Contornos de grão Contorno (2-5 diâmetros atômicos) que separa dois cristais com orientações cristalográficas diferentes em um material policristalino. No interior do grão todos os átomos estão arranjados segundo um “único modelo” e “única orientação”, caracterizada pela célula unitária. 25 b) Contornos de grão Na região do contorno existe um desalinhamento de átomos na transição da orientação cristalina de um grão para a orientação de um grão adjacente. b) Contornos de grão Contornos de baixo ângulo: grau de desalinhamento da orientação é pequeno (até 10º). 26 b) Contornos de grão Lingote de alumínio policristalino b) Contornos de grão 27 b) Contornos de grão b) Contornos de grão Como os átomos estão ligados de maneira menos regular ao longo do contorno de grão, há uma energia interfacial a ele associada. ↑ângulo de desorientação ↑energia interfacial 28 b) Contornos de grão Consequências: - Os contornos de grãos são quimicamente mais reativos do que os grãos. Como os átomos estão fracamente ligados, é mais fácil arrancá-los. - O menor empacotamento dos átomos nas regiões adjacentes facilita a difusão; - Átomos de impurezas frequentemente segregam-se preferencialmente ao longo destes contornos, diminuindo a energia do contorno; - ↑ tamanho do grão, ↓ área de contorno total = ↓ energia interfacial. 29 b) Contornos de grão A região do contorno de grão aparece mais escura no microscópio, devido à sua menor capacidade de reflexão da luz. c) Contorno de macla É um tipo especial de contorno de grão através do qual existe uma simetria espelhada da rede cristalina. As estruturas são idênticas, mas parecem deslocadas como se olhadas em um espelho. A região de material entre estes contornos é chamada de macla. 30 c) Contorno de macla Maclas ocorrem em uma direção e um plano bem definidos, de acordo com a estrutura cristalina. Podem resultar de: - Forças mecânicas de cisalhamento (maclas de deformação). Ocorrem em estruturas CCC e HC. - Tratamentos térmicos de recozimento realizados após a deformação (maclas de recozimento). Ocorrem em estruturas CFC. Aplicação de tensão em um cristal perfeito (a) pode causar um deslocamento dos átomos, (b) resultando na formação de uma macla. c) Contorno de macla 31 c) Contorno de macla Defeitos interfaciais diversos Falhas de empilhamento: encontradas nos metais CFC quando existe uma interrupção na sequência de empilhamento de planos compactos. Altera pouco a energiada estrutura, pois os planos continuam os mesmos, apenas a sequência é modificada. Contornos de fase: existem nos materiais com mais de uma fase, através dos quais há uma mudança repentina nas características físicas e/ou químicas. 32 Defeitos interfaciais diversos Defeitos Volumétricos (ou de massa) 33 Defeitos Volumétricos (ou de massa) Normalmente, são introduzidos durante as etapas de processamento e de fabricação. São muito maiores do que os anteriores. Poros: ausência de material. Originam-se devido à presença ou formação de gases. Podem modificar substancialmente as propriedades ópticas, mecânicas e térmicas de um material; Trincas: alteram as propriedades mecânicas; Inclusões: decorrem da presença de impurezas estranhas. Podem modificar substancialmente as propriedades elétricas, mecânicas e ópticas de um material. Defeitos Volumétricos (ou de massa) Poros Inclusões Fases 34 Porosidade COMPACTADO DE PÓ DEFERRO, COMPACTAÇÃO UNIAXIAL EM MATRIZ DE DUPLO EFEITO, A 550 MPa COMPACTADO DE PÓ DE FERRO APÓS SINTERIZAÇÃO A 1150ºC, POR 120 min EM ATMOSFERA DE HIDROGÊNIO As figuras abaixo apresentam a superfície de ferro puro durante o seu processamento por metalurgia do pó. Inclusões Inclusões de óxido de cobre (Cu2O) em cobre de alta pureza (99,26%) laminado a frio e recozido a 800º C. 35 Referências Askeland, D. R.; Fulay, P. P.;Wright, W. J. The Science and Engineering of Materials. Stamford: Cengage Learning, 2011, 949 9p. Callister Jr, W.D. (2008) Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 7a ed. Rio de Janeiro. LTC Editora. 705 p. Van Vlack, Lawrence H. Princípios de ciência dos materiais. Tradução de Luiz Paulo Camargo Ferrão. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. 427p.
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