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UNIDADE I – ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTUAL OBJETIVOS: Auxiliar o/a professor/a de Língua Portuguesa do Ensino Médio a: *Refletir sobre como tornar os alunos competentes usuários do sistema comunicativo da escrita e como desenvolver suas habilidades de reflexão sobre esse processo; * Possibilitar estratégias que auxiliem o aluno a refletir sobre como produzir textos de sua autoria e com argumentatividade. PERÍODO DE EXECUÇÃO: *junho, julho e agosto de 2018. PÚBLICO ENVOLVIDO: *Professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio da rede Estadual do Ceará. MATERIAL: *Livros de autores diversos que contemplem as competências da formação; *Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa; FORMA DE AVALIAÇÃO E REGISTRO: *Os cursistas serão avaliados pelas respostas aos questionamentos realizados ao fim de cada unidade e pela elaboração de um material sistemático de avaliação final; RESULTADO/PRODUTO: Ao final da participação no curso, com a apropriação por parte do professor de LP do material teórico aqui apresentado, espera-se que ele possa intermediar o processo de aprendizagem sistemática do aluno, favorecendo por parte deste a aquisição de habilidades que o auxiliem a desenvolver as competências exigidas pela redação do Exame Nacional do Ensino Médio (avaliação externa federal a que os aluno são submetidos): COMPETÊNCIA 1- Demonstrar o domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa; COMPETÊNCIA 2- Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa; COMPETÊNCIA 3- Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; COMPETÊNCIA 4-Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação; COMPETÊNCIA 5- Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. UNIDADE I – ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTUAL No processo de ensino da Língua materna, é importante, para a construção do conhecimento linguístico, trabalhar sob a perspectiva do desenvolvimento da competência comunicativa, promovendo o diálogo entre a escrita na escola e o estilo que cada um vai construindo ao longo da vida. Não basta ensinar os modelos sem que os alunos ou o próprio professor possam praticá-los em diferentes situações sócio-comunicativas e por meio do aprendizado do uso, pela prática da escrita e reescrita de textos numa dinâmica que inclui dois movimentos básicos de retomada de práticas já conhecidas e expansão para outros usos da escrita. Nessa unidade, abordaremos a temática sob duas óticas: na seção 1- a produção escrita na escola, como facilitá-la e sobre ela refletir. Na seção 2, o foco será na produção escrita de textos argumentativos visto a aprendizagem desse tipo de texto ser essencial para o aluno do Ensino Médio que quer ingressar no ensino superior através de avaliações externas (ENEM e vestibulares). A PRODUÇÃO TEXTUAL NA ESCOLA A leitura e escrita representam em uma sociedade complexa como a nossa, uma das condições mais básicas e necessárias para a integração do indivíduo nas práticas sociais cotidianas e que, através do bom uso dessas práticas, é possível alterar sua condição do ponto de vista social, cultural, político e até econômico possibilitando sua ampla e efetiva participação na sociedade. “A ideia de escrever não tem nada de natural para o homem, embora pareça de extrema simplicidade. Sem que tenhamos consciência do que está acontecendo, inúmeras gerações, anteriores à nossa, empregaram tempo e esforço para que nosso cérebro, hoje, se comporte com extrema naturalidade diante da escrita. Embora se fale muito em do, qualquer pessoa de aptidão mediana pode escrever razoavelmente. Basta aplicar-se a essa finalidade. A rigor, a escrita nada mais é do que a transcrição da palavra falada, respeitadas as normas de padronização da língua escrita.” (Bortone, 2008,p.72) A escrita é um ato social comunicativo. Se é um ato social e comunicativo, insere-se numa determinada situação que tem função, interlocutores, objetivo, versa sobre um tema, de acordo com uma intenção, é expressa em relação com um gênero, utiliza um determinado nível de linguagem e, como material de leitura que se constitui é escrito em um suporte. Todo processo que envolve a reflexão exige que se pense sobre o próprio modo de agir, de tomar decisões. O papel do professor de redação está relacionado também a esse processo de pensar sobre o pensar (metacognição) e de aprender a aprender sobre a escrita. Na escola, é possível também mediar o desenvolvimento da técnica e da voz dos alunos na medida em que se oferece práticas variadas de leitura (indissociada da produção) e da escrita. “Fala e escrita são duas modalidades de uso da língua, possuindo cada uma delas características próprias; isto é, a escrita não constitui mera transcrição da fala. [...] Os diversos tipos de práticas sociais de produção textual situam- se ao longo de um contínuo tipológico, em cujas extremidades estariam, de um lado, a escrita formal e, de outro, a conversação espontânea, coloquial.” (Bortone, 2018,p.72) A língua escrita é utilizada com algumas funções básicas. Uma das descrições mais conhecida e utilizadas no ensino da língua é a de Roman Jakobson, publicada em português, no livro “Linguística e Comunicação”, pela editora Cultrix, de São Paulo e que aqui transcrevo da maneira simples como um professor procura intermediar com seus alunos. São elas: a) Expressiva- Centrada no Eu, utilizada para expressão individual como é a que acontece em diários, depoimentos, cartas, bilhetes, artigos, poemas. b) Conativa ou Apelativa- centrada no leitor, em sua conquista, persuasão, tem por objetivo influenciar o comportamento de quem lê. É o caso das propagandas políticas ou de lojas em geral. c) Metalinguística- Centrada na linguagem através da qual a mensagem se manifesta, constituindo-se ela própria como objeto de descrição e explicação. É o que acontece nos dicionários, onde a língua explica a própria língua. d) Poética e Referencial- ambas focam sua atenção na mensagem, mas enquanto a primeira tem possibilidades expressivas, o autor procura encantar pela estética, a segunda é utilizada de maneira objetiva, para descrever, conceituar, informar. “Há uma crença muito forte em nossa cultura a respeito da habilidade de escrever. Muitas pessoas acreditam que a capacidade de escrever está associada à inspiração e à veia artística. Grande engano. A escrita, muito mais do que inspiração, requer do escritor conhecimento prévio, leituras diversificadas, investigação sobre o assunto abordado, reconhecimento da forma e da estrutura do texto a ser escrito e, claro, trabalho e dedicação no processo de construção do texto propriamente dito. Entende- se dessa forma que um texto necessita de conteúdo, informações variadas, estrutura definida, adequação de palavras e relação de sentido e um elo entre as ideias apresentadas. Assim, construir um texto não é tarefa advinda de dons especiais, mas um exercício contínuo de produção e aperfeiçoamento de habilidades específicas necessárias ao escritor para que ele possa se expressar satisfatoriamente.” (Bortono, 2018, p.77) À escola e ao professor, cabe intermediar esse processo para que o aluno, mediante as leituras feitas e vivenciadas no ambiente escolar, possa sistematizar sua escrita, rompendo com os estigmas de que escrever é um dom e que apenas alguns são capazes de desenvolvê-lo. A sala de aula pode ser um laboratório, no qual a escrita, analisada e trabalhada de forma técnica possa ser possível e constante na vida dos estudantes do ensino médio. PARA REFLETIR: 1. Como ajudar o aluno do ensino médio a se apropriar de ténicas de escrita? 2. Através de que trabalhoa escola consegue tornar a escrita uma técnica sistemática em sala de aula para todos e não apenas um dom para alguns alunos? A PRODUÇÃO TEXTUAL ARGUMENTATIVA Nossa própria existência como seres humanos já é moldada pela nossa capacidade de agir pela linguagem. Distinguimo-nos de outras espécies animais porque somos capazes de nos constituir humanos pelo exercício dessa faculdade. Todo uso da linguagem é um processo de movimento argumentativo, pois estabelece uma interação com o outro, um fazer social. Toda vez que nos comunicamos com o outro, buscamos fazer algo, impressioná-lo, buscar reações, convencê-lo. Esse é um uso argumentativo da linguagem em seu sentido mais amplo. Somos seres argumentativos porque objetivamos algo com o uso da linguagem. Na escola de ensino médio, porém, em virtude da preparação dos alunos para a produção escrita argumentativa em provas externas como o Exame Nacional do Ensino Médio e os Vestibulares, o trabalho com a produção de textos prioriza a sistematização do ensino da língua escrita que gira em torno da argumentação pensada e refletida não apenas da subentendida. “Um bom professor de produção textual é aquele que pesquisa, lê, busca complementar as informações a serem trabalhadas nos textos e, principalmente, aquele que produz uma escrita atual e reflexiva. Escrever com os alunos e/ou para os alunos é uma excelente maneira de demonstrar como a escrita é funcional em nossa vida e como podemos desenvolvê-la sem temor. O professor não leitor provavelmente terá dificuldade em ler e compreender reflexivamente os textos que circulam diariamente no contexto social, especialmente, se ele também não produzir habitualmente textos escritos: certamente estará distante dos diferentes processos de desenvolvimento da escrita e de aprimoramento do poder reflexivo sobre a própria língua.” (Bortone, 2018,p.82) Ao fazer uso dessa capacidade de convencimento da linguagem, não se faz uso apenas do código linguístico, qualquer outro recurso comunicativo interage com os signos de língua portuguesa para atingir o processo comunicativo. A argumentatividade é uma característica inerente da linguagem pois corresponde a uma organização textual que tem por finalidade específica convencer, persuadir o interlocutor a respeito de alguma ideia ou comportamento. Para entender como é possível convencer alguém sobre algo através da língua escrita, é importante entender e refletir sobre os tipos de argumentos que podem auxiliar o aluno/leitor/escritor nesse processo de convencimento alheio. “Para criar um bom texto, antes de mais nada é preciso que se inteirem do assunto a respeito do qual pretendem escrever. [...] Cada um escreve à sua maneira completamente diferente do outro. Mas alguns princípios são universais e devem ser seguidos por todo aquele que pretenda ser eficiente ao tentar dar o seu recado por escrito. (Raposo,2007, p.123) Argumentos são os motivos, as razões utilizadas para convencer o leitor da validade da tese (a ideia que defende em seu texto). O aluno, para saber argumentar deve ter cuidado em ampliar o máximo possível seu repertório sóciocultural através de leitura de jornais, revistas, fatos históricos, sociológicos e filosóficos diversos. Por essa leitura entenda-se a ampliação do conhecimento que também pode acontecer quando o aluno assiste telejornais, acompanha redes sociais, ou seja, o conhecimento individual do aluno sobre temas atuais e que constituem uma problemática que precisa ser resolvida vais ser adquirido por ele da forma que ele acreditar ser a melhor. Mas o fato é que só saberá argumentar com propriedade e competência sobre qualquer assunto aquele que estiver preparado para isso. Algumas vezes esse conhecimento pode ser baseado no senso comum, são as verdades aceitas como universais, aceitas sem necessidade de comprovação são os chamados argumentos de autoridade. Alguns desses argumentos recorrem são baseados em provas concretas e recorrem a cifras, estatísticas fatos históricos, aspectos que dão maior credibilidade e confiança à ideia defendida. É possível ao aluno ainda, argumentar através de um exemplo pelo qual se possa generalizar e extrair uma conclusão geral que englobe o problema levantado. O aluno que, ao ler, assimila as informações lidas com segurança pode fazer uso do argumento de autoridade recorrendo a fontes renomadas como autores, livros, revistas especializadas para demonstrar a veracidade da tese defendida. Esse forma de construir um argumento, estabelecendo relações lógicas, apelando para o raciocínio, costuma conferir ao texto consistência argumentativa, pois pelo raciocínio é difícil ao leitor contestar provas. O importante é que, na construção do texto argumentativo, o aluno possa observar que todos os argumentos conduzam ao mesmo objetivo e produzam os efeitos desejados no interlocutor. Uma construção adequada de argumentação não pode se basear apenas em opiniões sem comprovação, a primeira condição para um bom texto argumentativo é a clareza do objetivo (da tese que se quer comprovar) a segunda é a solidariedade entre os argumentos: todos devem conduzir para o mesmo objetivo e este objetivo deve ficar claro para o leitor/ ouvinte. “Outra competência fundamental para uma vida cidadã é saber enfrentar situações-problema, mobilizar conhecimentos de diversas áreas e diferentes habilidades para chegar à melhor solução possível de um problema, sempre respeitando os direitos do cidadão, o bem comum, o meio ambiente etc. Por fim, vivendo numa sociedade complexa e contraditória como a nossa, é preciso saber argumentar defender seu ponto de vista de modo claro e eficiente a partir de argumentos ou provas consistentes, lidando com opiniões divergentes da sua sem desrespeitar os interlocutores, negociando, chegando a um acordo, a um consenso. E, além disso, é necessário também elaborar propostas, visando sempre ao bem comum e tendo como perspectiva uma sociedade cada vez mais justa e democrática.” (Roberto, 2011, p. 44) Argumentar é firmar uma posição diante de um problema; significa um compromisso com a informação, com o conhecimento e com o convencimento do outro por meio de uma sistematização pertinente ao assunto e acessível aos interlocutores. “É óbvio que se a escola tem como missão primária levar o aluno a bem desempenhar na escrita, capacitando-o a desenvolver textos em que os aspectos formal e comunicativo estejam bem conjugados, isto não deve servir de motivo para ignorar os processos da comunicação oral. A razão é simples, pois desenvolver um texto escrito é fazer as vezes do falante e do ouvinte simuladamente. Mesmo que o texto escrito desenvolva um uso linguístico interativo não do tipo comunicação face a face, deve, contudo, preservar os papeis que cabem ao escritor e ao leitor para cumprir sua função, sob pena de não ser comunicativo.” (Marcushi, 2008,p.53) REFERÊNCIAS 1. Bortone, Maria Elizabeth Marcia. A construção da leitura e da escrita: do 6º ao 9º ano do ensino fundamental/ Marcia Elizabeth Bortone, Cátia Regina Braga Martins.- São Paulo: Parábola Editorial, 2008. 2. Cereja, William Roberto. Superdicas para ler e interpretar textos no ENEM / William Roberto Cereja, Ciley Cleto.- 1ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2011.- (Série superdicas) 3. Raposo,Alexandre. Escrever é fácil!: um método infalível para melhorar sua redação / Alexandre Raposo. – 4ª ed.- Rio de Janeiro: Record, 2007. 4. Marcushi, Luiz Antônio-1946-2016. Linguística de texto: o que é e como se faz? Luiz Luiz Antonio Marcushi. São Paulo: Parábola editorial, 2012.
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