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Tema 6

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Tema 6: Os Direitos Fundamentais na Constituição Brasileira
 A declaração de direitos fundamentais constitui tradição constitucional brasileira, mas ganhou novos contornos com a Constituição Federal de 1988. 
Segundo se depreende dos estudos de Ferreira Filho (2012), a declaração de direitos fundamentais constitui traço comum em todas as constituições brasileiras, sendo que, a partir de 1934, acrescentaram-se os direitos sociais às liberdades públicas e, agora, na Constituição de 1988, acrescentaram-se os direitos da solidariedade.
Além disso, o mesmo jurista enumera três pontos inovadores no novo texto constitucional promulgado em 1988: 
1. Os direitos fundamentais são enunciados antes da estruturação do Estado, o que representa uma inversão em relação às constituições anteriores e marca a preeminência dos direitos humanos na visão do Poder Constituinte. 
2. Tratamento dos direitos fundamentais de primeira e segunda geração no Título II (Direitos e Garantias Fundamentais) na seguinte sequência: 1º) Direitos individuais e coletivos; 2º) Direitos sociais; 3º) Nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos. 
3. A Constituição aponta direitos fundamentais em outros pontos, como ocorre com as limitações ao poder de tributar do capítulo do Sistema Tributário Nacional (CF, art. 145 e ss).
A enumeração exemplifi cativa do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, os direitos implícitos e os decorrentes de tratados internacionais. A Constituição de 1988 contempla em seu sistema as três gerações de direitos humanos, como você pode ver no Quadro 6.1:
	Geração de direitos humanos fundamentais
	Dispositivo da CF/1988 em que os direitos são enunciados
	1ª Geração – Liberdades Públicas
	Art. 5º – Direitos Individuais e Coletivos
	2ª Geração – Direitos Sociais e Econômicos
	Art. 6º – Direitos Sociais
	3ª Geração – Direitos da Solidariedade
	Art. 225 – Direito ao Meio Ambiente
Portanto, a enumeração de direitos do artigo 5º é meramente exemplificativa. E isso acontece, primeiramente, porque os direitos e garantias estão expressos em toda a Constituição, como é o caso dos direitos e garantias fundamentais relativos à tributação, enunciados no capítulo constitucional relativo ao Sistema Tributário Nacional, entre eles: Capacidade contributiva (art. 145, § 1º): sempre que possível os impostos terão caráter pessoal e serão graduados de acordo com a capacidade econômica do contribuinte.
Legalidade tributária (art. 150, I): é vedado às pessoas políticas criar ou aumentar tributos sem que lei o estabeleça. Isonomia tributária (art. 150, II): é vedado instituir tratamento desigual entre contribuintes em situações equivalentes. Em segundo lugar, há direitos e garantias fundamentais implícitos, que decorrem do regime e dos princípios, muitas vezes estabelecidos no próprio artigo 5º, mas, outras tantas, decorrentes de outros dispositivos espalhados por toda a Constituição. Por exemplo, um direito fundamental muito importante, que está implícito na Constituição, é o direito ao sigilo.
Embora não esteja expresso e decorra do direito à privacidade e à intimidade, previsto no artigo 5º, inciso X, constitui a base para outros direitos fundamentais, como o sigilo da fonte de informações, estabelecido no artigo 5º, inciso XIV e o sigilo da correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e das comunicações telefônicas, objeto do artigo 5º, inciso XII. Outro princípio que está implícito e decorre de diversas normas disseminadas por todo o texto constitucional é o princípio da segurança jurídica, que se fundamenta tanto no artigo 5º, como ocorre com a norma que protege o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI), como também, por exemplo, no artigo 150, inciso III, da Constituição, que trata dos princípios da irretroatividade e da anterioridade da norma tributária, segundo os quais é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) n o mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) a ntes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Em relação aos direitos sociais e econômicos não é diferente. O artigo 6º da Constituição enumera os direitos sociais, mas há outros deles implicitamente garantidos em outros dispositivos constitucionais, como são os casos:
- Do direito ao trabalho digno, decorrente do artigo 7º.
- Do direito à seguridade social que, conjugando direitos enunciados no artigo 6º, é reconhecido com todas as letras no artigo 194, compreendendo saúde, previdência e assistência social.
Outro exemplo é o princípio da livre iniciativa, que se encontra enunciado no artigo 170, parágrafo único da Constituição Federal, que tem a seguinte redação: “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”. 									 Por fim, têm-se os direitos e garantias fundamentais decorrentes dos tratados internacionais sobre direitos humanos de que o Brasil seja signatário. Esses tratados, por dizerem respeito a direitos humanos fundamentais, podem ser internalizados com estatura de normas constitucionais, isto é, admitidos na ordem jurídica interna com status de Emendas Constitucionais, consoante dispõe expressamente o § 3º do artigo 5º da Constituição: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Atenção para a necessidade de ratificação do tratado mediante quórum qualificado de 3/5 do Congresso Nacional, o que significa dizer que os tratados de direitos humanos podem ser ratificados sem estatura constitucional se a ratificação ocorrer mediante aprovação de maioria simples do Congresso.
Um exemplo decorrente de tratado internacional, aliás já abordado em aulas anteriores, é a proibição da prisão por dívidas, exceto se for originária de pensão alimentícia, consagrada na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de São José da Costa Rica. Outro exemplo advém de recentíssima jurisprudência do STF, como se pode identificar no seguinte acórdão: 
			A ordem constitucional brasileira, inaugurada em 1988, trouxe desde seus 			escritos originais a preocupação com a proteção das pessoas portadoras de 			necessidades especiais, construindo políticas e diretrizes de inserção nas 				diversas áreas sociais e econômicas da comunidade (trabalho privado, serviço 			público, previdência e assistência social). Estabeleceu, assim, nos arts. 227, § 			2º, e 244, a necessidade de se conferir amplo acesso e plena capacidade de 			locomoção às pessoas com deficiência, no que concerne tanto aos logradouros 			públicos, quanto aos veículos de transporte coletivo, determinando ao 				legislador ordinário a edição de diplomas que estabeleçam as formas de 				construção e modificação desses espaços e desses meios de transporte. Na 			mesma linha afirmativa, há poucos anos, incorporou-se ao ordenamento 				constitucional a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com 			Deficiência, primeiro tratado internacional aprovado pelo rito legislativo 				previsto no art. 5º, § 3º, da CF, o qual foi internalizado por meio do Decreto 			presidencial 6.949/2009. O art. 9º da convenção veio justamente reforçar o 			arcabouço de proteção dodireito de acessibilidade das pessoas com 				deficiência. (STF – ADI 903, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 22-5- 			2013, Plenário, DJE de 7-2-2014).
Aplicabilidade imediata 
Nos termos do artigo 5, § 1º da Constituição Federal, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Entretanto, fica a crítica de Ferreira Filho (2012) no sentido de que a aplicabilidade imediata fica inviabilizada quando a norma constitucional veiculadora do direito ou garantia fundamental estiver incompleta. Ocorre, por exemplo, no mandado de injunção (CF, art. 5º, LXXI), em que a previsão do remédio constitucional restringe-se a enunciar o cabimento quando a falta de norma regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, sem que, contudo, estabeleça o procedimento aplicável. 
Colisão de direitos 
Uma possibilidade importante a se considerar diz respeito à colisão de direitos fundamentais enunciados. Não há no texto da Constituição uma solução pronta e acabada para a colisão entre direitos fundamentais, de modo que, para solução de conflitos dessa espécie há de se sopesar qual o direito mais importante, tarefa que incumbe ao legislador no momento da elaboração da lei e também ao Poder Judiciário na interpretação e aplicação das normas de direitos humanos fundamentais em cada caso concreto, valendo-se do princípio da proporcionalidade. 
Classificações dos direitos fundamentais Há várias classificações doutrinárias dos direitos fundamentais que são citadas por Ferreira Filho (2012). Duas de grande importância são as classificações quanto ao objeto e quanto ao titular. 									 Quanto ao objeto: liberdades, direitos de crédito, direitos de situação e direitos de garantia. Quanto ao titular: individuais, de grupo, coletivos e difusos.
Cláusulas pétreas 
Por fim, em Constituições como a brasileira, deve-se ressaltar a existência de normas impassíveis de modificação, conforme detalha Roque Carrazza em comentários sobre a supremacia constitucional pátria: 
A supremacia da Constituição brasileira também vem resguardada por sua rigidez. Pode, é certo, ser emendada, mas só por meio de um procedimento especial (art. 60, I a III e §§ 1º. a 5º.), respeitadas as cláusulas pétreas (cerne fixo da Carta Magna, a teor de seu art. 60, § 4º., I a IV), inclusive as que consagram direitos do contribuinte e suas garantias. Sobremais, nossa Constituição não pode ser emendada na vigência de intervenção federal, estado de defesa ou sítio. (CARRAZA, 2002, p. 28). 
Nessa direção, não serão objeto de apreciação as propostas, seja de quem for a iniciativa, tendentes à abolição da forma federativa de Estado, do voto direto, secreto, universal e periódico, da separação dos Poderes e dos direitos e garantias individuais (CF, art. 60, § 4º). E, portanto, entre as cláusulas pétreas, estão os direitos e garantias individuais explícitos e implícitos na Constituição.

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