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Wesley Antunes Meireles Psicultor 1ª edição Montes Claros Instituto Federal do Norte de Minas Gerais 2015 Psicultor Wesley Antunes Meireles Montes Claros-MG 2015 Presidência da República Federativa do Brasil Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal do Norte de Minas Gerais Reitor Prof. José Ricardo Martins da Silva Pró-Reitora de Ensino Ana Alves Neta Pró-Reitor de Administração Edmilson Tadeu Cassani Pró-Reitor de Extensão Paulo César Pinheiro de Azevedo Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Rogério Mendes Murta Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Alisson Magalhães Castro Diretor de Educação a Distância Antônio Carlos Soares Martins Coordenadora de Ensino Ramony Maria da Silva Reis Oliveira Coordenador de Administração e Planejamento Alessandro Fonseca Câmara Revisão Editorial Antônio Carlos Soares Martins Ramony Maria Silva Reis Oliveira Rogeane Patrícia Camelo Gonzaga Coordenação Geral Pronatec Ramony Maria Silva Reis Oliveira Coordenação Adjunta Pronatec Ednaldo Liberado de Oliveira Conteudista Wesley Antunes Meireles Revisor do Eixo tecnológico Walfredo Sérgio Carneiro Figueiredo Revisor de Legalidade Maria Aparecida de Melo Miranda Revisor Especialista em Assuntos Educacionais Claudilene Campos Farias Revisão Linguística Ana Márcia Ruas de Aquino Marli Silva Fróes Coordenação de Produção de Material Karina Carvalho de Almeida Projeto Gráfico, Capa e Iconografia Tatiane Fernandes Pinheiro Editoração Eletrônica Antonio Cristian Pereira Barbosa Karina Carvalho de Almeida Tatiane Fernandes Pinheiro Welington Batista Lessa Ícones Interativos Utilizado para sugerir leituras, bibliografias, sites e textos para aprofundar os temas discutidos; explicar conceitos e informações. Utilizado para auxiliar nos estudos; voltar em unidades ou cadernos já estu- dados; indicar sites interessantes para pesquisa; realizar experiências. Utilizado para indicar atividades que auxiliam a compreensão e a avaliação da aprendizagem dos conteúdos discutidos na unidade ou seções do caderno; informar o que deve ser feito com o resultado da atividade, como: enviar ao tutor, postar no fórum de discussão, etc. Utilizado para defininir uma palavra ou expressão do texto. SUMÁRIO Palavra do Professor-autor 9 Unidade 1 11 1.1 Histórico da piscicultura 11 1.2. Potencial brasileiro para piscicultura 14 1.3. Importância do consumo de pescado para a saúde 15 1.4. Ictiologia, conceito e princípios de classificação dos peixes 16 1.5. Principais espécies de interesse zootécnico 17 1.6 Anatomia e fisiologia dos peixes de água doce 25 Unidade 2 31 2.1 Histórico da limnologia 31 2.2 Os seres vivos no ambiente aquático 31 2.3 Principais variáveis físicas e químicas da água 33 2.4 Construções de tanques e viveiros para a piscicultura 35 2.5 Criação em tanque-rede 37 Unidade 3 40 3.1 Endocrinologia da reprodução dos peixes 40 3.2 Reprodução de peixes de caráter reofílico 44 3.3 Reprodução e inversão sexual em tilápias 49 Unidade 4 52 4.1 Nutrição de peixes de água doce 52 4.2 Principais doenças dos peixes de água doce 54 4.3 Comercialização de peixes 58 Referências Bibliográficas 62 Palavra do Professor-autor Ricos em nutrientes, a carne de peixe é um alimento muito saudável, porém ainda pouco presente no prato das famílias brasileiras. Obtidos através da piscicultura ou pela pesca, esse alimento pode gerar fonte de renda ao produtor quando explo- rado corretamente. A prática da piscicultura requer conhecimentos essenciais para sua implantação e exploração. Identificar qual a espécie a ser cultivada e o potencial de mercado são os primeiros passos, mas o correto manejo durante o período de criação é indis- pensável para bons resultados. A piscicultura deve ser desenvolvida em ambiente agradável, livre de doenças, sendo que a alimentação também deve ser adequada aos peixes para que alcan- cem seu potencial máximo de produção, ou seja, características desejáveis na exploração. Esse e outros assuntos serão abordados nesta disciplina com o objetivo de proporcionar conhecimentos suficientes aos estudantes para atuarem na área como piscicultores com formação voltada para o desenvolvimento sustentável e preservação de espécies nativas. O IFNMG vem realizando projetos de reprodução induzida e peixamentos com es- pécies nativas das bacias dos rios Pardo e Jequitinhonha há vários anos, junto com a CEMIG em convênio realizado com a Horizontes Energia e FADETEC (IFNMG – CAMPUS SALINAS). Esse conhecimento, no entanto, vem sendo aproveitado em cursos técnicos e superiores, com pouca divulgação para a população ribeirinha e produtores rurais. Nessa perspectiva, o IFNMG propõe-se a oferecer o curso de formação inicial e con- tinuada de Piscicultor, na modalidade presencial, por entender que estará contri- buindo para a elevação da qualidade dos serviços prestados à sociedade, formando o Piscicultor, através de um processo de apropriação e de produção de conheci- mentos científicos e tecnológicos, capaz de contribuir com a formação humana integral, sustentabilidade e com o desenvolvimento socioeconômico da região, bem como com os processos de democratização e justiça social. Bom estudo a todos! 12 Psicultor Unidade 1 1.1 Histórico da piscicultura Durante o período pré-histórico (9.000 AC), o homem começou a se fixar em po- voados, o que fez com que ele se reduzisse a disponibilidade da caça ao seu redor (ATALAY & HASTORF, 2006). Em contrapartida, a população crescia e a necessidade por alimento estimulou as tentativas de criação de animais, o que se considera os primórdios da domesticação dos animais (pecuária) e da agricultura (plantio e armazenamento de sementes). Entretanto, não existem sinais arqueológicos de atividade ligada aos peixes daquela época, que não a pesca extrativista (BOWMAN, 1980). O cultivo controlado de animais aquáticos pelo homem é uma atividade que teve início na China, há uns 4.000 anos aproximadamente, com o monocultivo da carpa (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). Mas, antes disto, os chineses já utilizavam as ma- croalgas marinhas como fonte de alimento. Documentos históricos parecem sugerir que os chineses, de certa forma, as cultivavam em estruturas submersas na água, confeccionadas com varas de bambu. Pode-se perceber, então, que o oriente foi o berço da aquicultura, e não é coincidência que hoje, o continente asiático res- ponda por cerca de 90% da produção mundial dos alimentos provenientes da água, sendo que a China é responsável por mais da metade dessa produção (CAMARGO & POUEY, 2005). No Egito, são encontradas pinturas que indicam que os antepassados desse povo cultivavam peixes ornamentais e tilápias capturadas no rio Nilo em tanques (OS- TRENSKY & BOEGER, 1998). Durante o império romano, os oficiais tomavam banho em estruturas denominadas de “piscinas” (do latim “piscis” que significa peixe), que eram locais onde promoviam o cultivo de peixes e atividades esportivas aquá- ticas (CAMARGO & JUVÊNCIO, 2005). Quanto às atividades de pesca no Brasil, pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara, localizada no Estado do Piauí mostram desenhos de peixes e cenas de pesca e/ou caça com redes (Figura 1). Figura 1: Imagens de figuras rupestres de peixes (a) e utilização de rede para pesca e/ou caça (b), no Parque Nacional da Serra da Capivara – PI. Fonte: Arquivo fotográfico do autor. A piscicultura brasileira teve início no século XVIII, com a colonização holandesa no Brasil, pois algumas práticas de cultivo, como os viveiros de peixe no litoral nor- destino, já eram realizadas (OSTRENSKY, BORGHETTI & SOTO, 2007). Na década de 13 Pronatec 1930, pesquisas ictiológicas (estudo dos peixes) com espécies nativas foram feitas, com destaque para o desenvolvimento da técnica de indução hormonal de peixes migratórios para desova em cativeiro, de autoria do pesquisador Rodolfo Von Lhe- ring, em 1934 (OSTRENSKY, BORGHETTI &SOTO, 2007). Apesar destas pesquisas e da grande diversidade de espécies locais, as primeiras experiências de piscicultura no Brasil se limitaram à introdução de animais exó- ticos, principalmente para povoamento de reservatórios. Assim, até a década de 1940, foram introduzidas espécies como a carpa comum (Cyprinus carpio), a tilá- pia (Oreochomis sp) e a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss), seguidas por outras espécies de carpa já na década de 1960 (OSTRENSKY; BORGHETTI & SOTO, 2007). Contudo, esta fase foi de limitado sucesso pela falta de planejamento e observân- cia dos limites do ambiente ou dos próprios peixes escolhidos, seja por questões de consumo (no caso das carpas), alta fecundidade (tilápias) ou pelas limitadas áreas de cultivo (trutas). A partir da década de 1970, voltou-se a investir em espécies bra- sileiras para utilização na piscicultura. Assim, peixes como o tambaqui (Colossoma macropomum), o pacu (Piaractus mesopotamicus) e os piaus (Leporinus sp) começa- ram a ganhar espaço na aquicultura nacional, apesar de não apresentarem o mesmo estágio tecnológico de cultivo das espécies introduzidas (WOYNAROVICH, 1983). 1.1.1 Diferenças entre aquicultura e piscicultura Aquicultura é o processo de produção em cativeiro, de organismos com habitat predominantemente aquático, tais como peixes, camarões, rãs, algas, entre ou- tras espécies (CAMARGO & POUEY, 2005). Quando se avalia especificamente a produção de peixes, como subtipo da aquicul- tura, está-se referindo à piscicultura. Pode-se concluir que o negócio da aquicul- tura apresenta-se como uma atividade alternativa à prática extrativista, que tem ultrapassado seus limites sustentáveis, e revela-se como uma opção interessante para empreendedores de todos os portes (SANDOVAL JÚNIOR, 2010). A maior diferença entre a aquicultura e a pesca está na incerteza em relação ao produto final. Na atividade de pesca o pescador ou a empresa de pesca não têm garantias em relação à qualidade e à quantidade do que irão obter (CAMARGO & POUEY, 2005). 1.1.2 Produção mundial e brasileira de peixes É senso comum a ideia de que o peixe é sempre a opção mais saudável, e mais cara, do cardápio. Mas talvez seja hora de rever este conceito. Pela primeira vez na História, a produção de peixes e outros frutos do mar, em cativeiro, ultrapassou a de carne bovina. A informação consta de um estudo do Instituto Earth Policy em 2012, no qual foram consumidos 66,5 milhões de toneladas de frutos do mar con- tra 63 milhões de toneladas de carne vermelha. A Ásia, principalmente a China, responde pela maior parte da produção e do consumo de peixes (SEBRAE, 2012). Produzidos em cativeiro, os peixes ficam mais baratos e a sobrepesca pode ser fre- ada. Embora aponte uma possível nova tendência na alimentação, isso não signifi- ca que os problemas ambientais irão acabar-se, eles apenas poderão se reinventar (CAMARGO & POUEY, 2005). 14 Psicultor As informações apresentadas nesta seção demonstram o panorama da produção mundial de pescado e são provenientes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), sendo disponibilizadas e acessadas através do programa FishStat Plus. As bases de dados foram consultadas entre fevereiro e outubro de 2011 e trazem informações da produção pesqueira e aquícola mundial para o período de 1950 a 2009. No caso do Brasil, para o ano de 2009, foram uti- lizados os valores consolidados e apresentados no Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura - Ano 2008 e 2009, restringindo-se a este período a análise desta se- ção, devido a não publicação dos dados referentes à produção mundial de pescado de 2010 pela FAO. A produção mundial de pescado (proveniente tanto da pesca extrativa, quanto da aquicultura) atingiu aproximadamente 146 milhões de toneladas em 2009 e 142 milhões de toneladas em 2008. Os maiores produtores em 2009 foram a China com aproximadamente 60,5 milhões de toneladas, a Indonésia com 9.8 milhões de to- neladas, a Índia com 7,9 milhões de toneladas e o Peru com cerca de 7 milhões de toneladas. O Brasil, neste contexto, contribuiu com 1.240.813 t em 2009, repre- sentando 0,86% da produção mundial de pescado (SEBRAE, 2012). Em 2008, a produção de pescado nacional contribuiu com 0,81% do total produzido no mundo. Com este aumento no percentual de contribuição da produção total de pescado mundial de 2008 para 2009, o Brasil ganhou quatro posições e passou a ocupar o 18° lugar no ranking geral dos maiores produtores de pescado do mundo. Considerando-se apenas os países da América do Sul, fica evidente que a produção de pescado dos países que pescam no oceano Pacífico são bem superiores à produ- ção brasileira. O Peru registrou uma produção em torno de 7 milhões de toneladas, seguido pelo Chile, com aproximadamente 4,7 milhões de toneladas. Neste crité- rio, o Brasil aparece em terceiro lugar, logo à frente da Argentina que produziu cerca de 862 mil toneladas de pescado (Quadro 2). Quadro 2. Produção de pescado (t) mundial dos trinta maiores produtores em 2008 e 2009. Posição Páis Produção em 2008 (t) Produção em 2009 (t) 1º China 57.827.108 60.474.939 2º Indonésia 8.860.745 9.815.202 3º Índia 7.950.287 7.845.163 4º Peru 7.448.994 6.964.446 5º Japão 5.615.779 5.195.958 6º Filipinas 4.972.358 5.083.131 7º Vietnã 4.585.620 4.832.900 8º Estados Unidos 4.856.867 4.710.453 9º Chile 4.810.216 4.702.902 10º Rússia 3.509.646 3.049.267 11º Mianmar 3.168.562 3.545.186 12º Noruega 3.279.730 3.486.277 13º Coréia do Sul 3.358.475 3.199.177 14º Tailândia 3.204.293 3.137.682 15º Bangladesh 2.563.296 2.885.864 16º Malásia 1.757.348 1.871.971 17º México 1.745.757 1.871.971 18º Brasil 1.156.423 1.240.813 19º Marrocos 1.003.823 1.173.832 20º Espanha 1.167.323 1.171.508 21º Islândia 1.311.691 1.169.597 22º Canadá 1.108.049 1.107.123 23º Egito 1.067.631 1.079.501 24º Taiwan 1.347.371 1.060.986 25º Argentina 997.783 862.543 26º Dinamarca 725.549 811.882 27º Reino Unido 775.194 770.086 28º Nigéria 744.575 751.006 29º Coréia do Norte 713.250 713.350 30º Equador 641.824 696.763 15 Pronatec 1.2. Potencial brasileiro para piscicultura Com 8,5 mil quilômetros de costa, além de uma infinidade de rios e lagos, que correspondem a 13,7% da água doce do mundo, o Brasil concentra uma gigantesca biodiversidade aquática, conferindo ao país um grande potencial pesqueiro. Ape- sar disso, 60% dos peixes que os brasileiros consomem são importados de outros países da América do Sul, Ásia e Europa. Diversos fatores, desde a cultura de pesca no país, até dificuldades de transporte ajudam a explicar por que esse fenômeno acontece (SEBRAE, 2012). Um dos critérios que põem dificuldades na produção de peixes no país se refere à dificuldade e aos altos custos do processamento e transporte do peixe no Brasil. Acaba sendo mais fácil uma rede de supermercados importar um peixe cortado e embalado do que comprar a pescada branca da região Norte ou Nordeste do país. Essa dificuldade se deve aos custos altos cobrados pelos frigoríficos brasileiros, além das condições ruins das estradas e o transporte aéreo, que é muito caro den- tro do país (SANDOVAL JÚNIOR, 2010). Também, a cultura de pesca no Brasil colabora para essa realidade, a maior parte da pesca no país é artesanal. Por não realizarem uma atividade industrial, esses pescadores não possuem frigoríficos próximos, além de estrutura para o armaze- namento dos peixes. Esses problemas impedem um transporte maior dessa carne para os principais mercados consumidores do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (SEBRAE, 2012). Para o Ministério de Pesca e Aquicultura, a atividade foi planejada tardiamente no Brasil. Enquanto pesquisas para melhoramento de grãos e gado bovino são de- senvolvidas há algumas décadas, as pesquisas para melhorar a pesca no país são recentes. O próprio Ministério da Pesca e Aquicultura foi criado em 2009, enquanto o da Agricultura existe desde 1860 (SEBRAE, 2012). De acordo com o Ministério de Pesca e Aquicultura,existem cerca de um milhão de pessoas que dependem da pesca para viver no Brasil. Desde 2003, o governo realiza cursos de especialização com esses pescadores, além de alfabetização e da criação de telecentros, que levam internet para as comunidades pesqueiras. Mas ainda não é o suficiente. As dificuldades que os pescadores enfrentam para vender seu produto os fazem cada vez mais pobres, sendo que o governo precisa investir mais na área, para dar algum futuro a essas pessoas (SANDOVAL JÚNIOR, 2010). Nos últimos anos, o potencial brasileiro para a aquicultura começou a ser explo- rado. Atualmente, cinco, das 200 grandes represas do Brasil tiveram parte de sua área destinada à produção de peixes. Estados estão simplificando a legislação para que produtores criem peixe em suas fazendas. Anteriormente, um fazendeiro pre- cisava de uma autorização para isso, que chegava a demorar cinco anos para ser emitida. Hoje, o Estado de São Paulo não exige mais autorização para fazendas que destinem até cinco hectares para produção de peixes, e a tendência é que a medida se espalhe para outras regiões do Brasil (CAMARGO & POUEY, 2005). A produção aquícola brasileira no ano de 2011 apontou uma predominância na produção de pescado continental com 87% (544.490 toneladas) sobre a produção marinha que contribuiu apenas com 13% (84.214 toneladas). A região sul foi a maior produtora com 28%, seguido pelo nordeste (25%), norte (17%), sudeste (16%) e centro-oeste (14%). Nota-se o crescimento das regiões nordeste e norte nos úl- timos anos, justificado pelos investimentos realizados pelo governo e iniciativa privada (SEBRAE, 2012). 16 Psicultor Quanto à produção nacional de pescados, de acordo com o SEBRAE (2012), o maior produtor é o estado do Paraná (14%), seguido por Santa Catarina (10%), Mato Gros- so (9%), São Paulo (8%), Ceará (7%), Maranhão (6%), Amazonas (5%), Rio Grande do Sul (5%), Minas Gerais (5%), Roraima (5%), Bahia (4%), Piauí (3%), Goiás (3%), Mato Grosso do Sul (2%), Tocantins (2%) e os outros estados (14%). 1.3. Importância do consumo de pescado para a saúde Atualmente, a produção de alimentos através da aquicultura vem gerando pro- funda atenção da sociedade, levando ao desenvolvimento de pesquisas sobre a qualidade sanitária do alimento, o sistema de produção utilizado e o impacto cau- sado por essa atividade no ambiente. Dessa forma, instituições como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento vêm criando algumas disposições para garantir a segurança alimentar e o fornecimento de produtos da aquicultura com qualidade superior ou, no mínimo, igual à dos produtos advindos do ambiente na- tural (OSTRENSKY, BORGHETTI & SOTO, 2007). As famílias de óleos da série (ácidos graxos) ômega-3 e ômega-6 consistem de óleos contendo de 18 a 22 carbonos. Os principais óleos da série ômega-3 são o ácido linolênico, o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA), en- quanto os principais da série ômega-6 são o ácido linoléico e o ácido araquidônico (OETTERER DE ANDRADE & CAMARGO, 1984). Como o organismo não consegue produzir esses óleos em quantidade suficiente, retira dos alimentos que são ingeridos. O óleo ômega-3 existe em grandes con- centrações nos peixes e nos frutos do mar, mas também pode ser encontrado em alguns vegetais como a soja e o gergelim. O peixe de água salgada é mais rico em ômega-3 porque se alimenta de plânctons (algas e microcrustáceos) que possuem grandes concentrações desses óleos (OLIVEIRA, LUZIA & RONDÓ, 2012). Benefícios nutricionais e medicinais do EPA e DHA têm sido discutidos em muitos artigos científicos e conferências, como a prevenção e tratamento de doenças car- diovasculares, hipertensão, inflamações em geral, asma, artrite, psoríase e vários tipos de câncer. Os efeitos de proteção à saúde humana, produzidos pelo consumo de peixe ou do óleo de peixe, são atribuídos à presença de óleos ômega-3, princi- palmente EPA e DHA (OETTERER DE ANDRADE & CAMARGO, 1984). A curiosidade sobre o ômega-3 começou em 1936, quando dois cientistas dinamar- queses mostraram ao mundo um estudo realizado em tribos de “esquimós” (povos Inuítes) na Groenlândia. A pesquisa apontou um baixíssimo índice de doenças car- díacas, apesar da alimentação extremamente rica em gorduras. Observando os hábitos alimentares desse povo, os médicos concluíram que o consumo de peixe e de outros animais marinhos, como a foca e a baleia, oferecia uma proteção extra para o coração e para os vasos sanguíneos. Na década de 1970, então foi descober- to que essa proteção era proporcionada por um conjunto de óleos presentes nesses animais (SANTOS & BORTO-LOZO, 2008). No que diz respeito à formação de tromboses, estudos médicos têm demonstrado que efeitos anti-coagulantes podem ser atribuídos a um aumento dos óleos ôme- ga-3 na dieta. Esta é uma entre as várias funções dos óleos ômega-3, que atuam no sistema cardiovascular e contribuem para a redução da tendência de formação de trombos graças à sua ação anti-inflamatória (OLIVEIRA, LUZIA & RONDÓ, 2012). 17 Pronatec Sem dúvida, o conhecimento sobre a importância dos óleos da série ômega-3 terá um efeito profundo no desenvolvimento da aquicultura comercial. O aumento da criação de peixes em cativeiro vem gerando uma expansão desta área em nível comercial, e para que esta indústria se desenvolva e seja valorizada por seus pro- dutos é preciso dar maior ênfase à divulgação dos benefícios do consumo de pei- xe para a saúde humana, formando uma nova imagem sobre a importância e as qualidades do peixe de cultivo como alimento funcional para a população humana (SANTOS & BORTO-LOZO, 2008). 1.4. Ictiologia, conceito e princípios de classificação dos peixes A palavra ictiologia é o ramo da zoologia devotado ao estudo dos peixes, ou seja, estuda os peixes do ponto de vista da sua posição sistemática (NOMURA, 1976). No entanto, os peixes são igualmente estudados no âmbito da ecologia, da biologia pesqueira, da fisiologia e doutros ramos da biologia. No nosso caso, não vamos descrever a classificação de todos peixes, no entanto, passamos a descrever sobre a classe Osteichthies, formada pelos peixes ósseos, e a subclasse Actinopteryggi que são os peixes com raios nas nadadeiras, ou seja, os “teleósteos”, que incluem a maioria das ordens de peixes atuais e objeto do nosso estudo. Para a lista mais aceita das ordens dos peixes – incluindo as que são classificadas nos diferentes grupos mencionados acima – consultar a sempre o site http://www. fishbase.org/search.php que é uma biblioteca chamada de FishBase onde existem as chaves de classificação das espécies do mundo inteiro. De acordo com REIS, KULLANDER & FERRARIS JÚNIOR (2003), os peixes ainda po- dem ser classificados em diversas ordens, no entanto, para facilitar nossos es- tudos, destacamos apenas as quatro mais importantes das espécies de interesse zootécnico estudadas mais adiante, que são: Perciformes (tilápias e tucunarés), Characiformes (tambaqui, pacu, traíra, lambaris, piaus etc.), Siluriformes (suru- bins e bagres) e Salmoniformes (trutra arco-íris). Os Perciformes incluem cerca de 40% de todos os peixes e constituem a maior or- dem de vertebrados. Estão presentes em quase todos os ambientes aquáticos (do- ces e marinhos), contendo 20 subordens, 160 famílias e mais de 10.000 espécies. As características que unem as famílias pertencentes a essa ordem são: presença de espinhos nas nadadeiras dorsal e anal; um espinho e cinco ou menos raios na nadadeira pélvica; ausência de nadadeira adiposa; presença de 17 ou menos raios principais na nadadeira caudal; e presença de quatro arcos branquiais. As tilápias, acarás e tucunarés pertencem a essa ordem (REIS, KULLANDER & FERRARIS JÚ- NIOR, 2003). Characiformes é uma ordem de peixes constituída por aproximadamente 270 gê- neros e mais 1500 espécies entre os quais estão piranha, lambari, curimbatá, dou- rado, etc. O grupo é exclusivo de ambientes de água doce e tem representantes naÁfrica e na América (do sul da América do Norte, América Central e América do Sul). Esta Ordem destaca-se tanto pela grande diversidade de espécies, como pela grande diversidade morfológica, ecológica e de amplitude de tamanho. Em geral os Characiformes apresentam corpo recoberto por escamas; nadadeira adiposa; nadadeira pélvica com raios variando de 5-12; nadadeira anal de curta a mode- 18 Psicultor radamente longa, podendo ter até 45 raios; linha lateral curvada para baixo, às vezes incompleta (EIGENMANN, 1921). Os Siluriformes são peixes caracterizados pelo corpo sem escamas, revestido por pele nua ou placas ósseas, e por apresentarem também barbilhões ao redor da boca, normalmente em três pares (um par na maxila e dois mentonianos). Os den- tes são pequenos e curvos, agrupados em faixas ou placas semelhantes a uma lixa. As nadadeiras peitorais e dorsal são geralmente guarnecidas com espinhos providos de serras nas margens. Muitas espécies apresentam o corpo achatado dorsoventral- mente, adaptado à vida bentônica. A maioria possui hábitos noturnos ou crepus- culares. Muitas são carnívoras, no entanto, algumas alimentam-se principalmente de algas (lodo), que são raspadas de folhas, pedras ou galhos submersos. Várias espécies têm a capacidade de respirar o ar atmosférico, o que lhes possibilita ha- bitar ambientes não suportados por outros grupos de peixes (FERREIRA, ZUANON & SANTOS, 1998). Essa ordem apresenta 31 famílias, com cerca de 400 gêneros e aproximadamente mais de 2.000 espécies. Na América do Sul essa ordem é cha- mada popularmente de “bagres”, enquanto na cultura anglo-saxônica é chamada de “catfish”. Pertencem a essa ordem, os surubins, bagres e cascudos (FERRARIS, 2007). Os Salmoniformes ocorrem em todos os ambientes aquáticos, de água doce à sal- gada, sendo que a maioria das espécies vivem no mar, regressando aos rios onde nasceram para desovar e morrer de seguida. Originalmente, esses peixes são oriun- dos de águas frias do Hemisfério Norte, mas foram introduzidos em quase todos os continentes uma vez que muitas espécies têm valor comercial ou desportivo. O grupo inclui 66 espécies divididas em 11 gêneros, destacando-se nessa ordem, a truta arco-íris que foi implantada em diversas áreas de clima temperado no Brasil, como Campos do Jordão/SP e na Serra da Mantiqueira em Minas Gerais e Espírito Santo (LAZZAROTTO & CARAMASCHI, 2009). Os peixes, como outros animais, recebem uma nomenclatura binomial ou binária que designa, nas ciências biológicas, o conjunto de normas que regulam a atri- buição de nomes científicos às espécies de seres vivos (HICKMANN JUNIOR et al., 2004). Chama-se binominal porque o nome de cada espécie é formado por duas palavras: o nome do gênero e o restritivo específico, normalmente um adjetivo que qualifica gênero. A utilização do sistema de nomenclatura binomial é um dos pilares da classificação científica dos seres vivos sendo regulada pelos códigos es- pecíficos da nomenclatura zoológica, botânica e microbiológica. Foi primeiramen- te proposta pelo naturalista suíço Gaspard Bauhin, no século XVII e formalizada por Carlos Lineu no século seguinte (HICKMANN JR et al., 2004). Os nomes utilizados são em latim, ou numa versão latinizada da palavra ou das palavras que se pre- tende utilizar. O nome genérico e o epíteto específico devem sempre ser escritos em tipo itálico, ou, na sua indisponibilidade, ser sublinhados, sendo, sempre que possível, seguidos pelo autor ou autores da descrição (em geral, referido como a “autoridade”). Algumas vezes, identificamos a abreviatura “sp.” em textos de zoologia, sendo usada quando o nome da espécie não pode ou não interessa ser explicitado. A abreviatura “spp.” (plural) indica “várias espécies”. Por exemplo: Brycon sp. significa “uma espécie do gênero Brycon”. 1.5. Principais espécies de interesse zootécnico A primeira premissa para o planejamento de qualquer empresa é estabelecer ob- jetivos claros, que, no caso da criação de peixes é essencial saber para quem se 19 Pronatec vai produzir (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). O perfil do consumidor vai designar quase tudo, como exemplo, quais as espécies a serem criadas e que terão mais aceitação no início do empreendimento. O consumidor é também quem vai deter- minar o tamanho de sua criação, a partir da estimativa de potencial de consumo. A comercialização de peixes é feita para restaurantes, feiras livres, supermercados, peixarias e pesque-pague, tipo de negócio derivado da piscicultura, voltado para o lazer e que vem se desenvolvendo de forma acelerada será analisado em capítulo à parte (SEBRAE, 2012). Para que uma espécie de peixe seja considerada adequada para o cultivo, ela deve apresentar algumas características às quais o produtor deve estar sempre atento. A primeira destas características é que a espécie deve ser facilmente propagáveis, natural ou artificialmente, isto é, poder produzir anualmente um grande número de alevinos (WOYNAROVICH & HOVARTH, 1983). Também é importante apresentar bom crescimento em condições de cativeiro e ser resistente ao manejo e às enfer- midades mais comuns. As orientações técnicas também indicam ser necessário que estas espécies apresentem um hábito alimentar onívoro, herbívoro, iliófago, de- tritívoro, fitoplantófago, zooplantófago ou plantófago. Se a espécie for carnívora, ela deverá ser de alto valor comercial e aceitar alimento não vivo, de preferência ração extrusada. Outro ponto muito importante, e que deve servir como peso da balança para a escolha da espécie, é que ela deve ter boa aceitação no mercado. A seguir, de forma bastante resumida, apresentamos as características das espécies mais facilmente encontradas nas unidades produtoras de alevinos no Brasil, atual- mente (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). 1.5.1 Tilápia do Nilo. Entre as várias espécies existentes, essa é a mais utilizada para o cultivo, por apresentar um melhor desempenho, principalmente os machos. É um peixe africa- no muito rústico e com carne saborosa, possuindo hábito alimentar planctófago e detritívoro, alimentando-se, em primeiro lugar, do plâncton e em menor proporção de detritos orgânicos, aceita bem rações artificiais. Atinge cerca de 400 gramas a 600 gramas no período de seis a oito meses de cultivo. É também utilizado como peixe forrageiro, servindo de alimento na criação de peixes carnívoros. A maior restrição ao seu cultivo é sua reprodução precoce, a partir de quatro meses de ida- de, o que gera o superpovoamento de tanques. Este problema pode ser contornado com a utilização apenas de alevinos machos, sexados manualmente ou revertidos através de hormônios sexuais, que são facilmente encontrados em vários fornece- dores de alevinos (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). A tilápia mais utilizada pertence à espécie Oreochromis niloticus, no entanto, híbridos genéticos do mesmo gênero vêm sendo cultivados, como a tilápia vermelha (Saint Peter) e as tailandesas (Su- preme e Chitralada) conforme Figura 2. Figura 2: Imagem de um exemplar de tilápia, variedade Chitralada (Oreochromis sp). Fonte: http://loucosporpesca.com.br/wordpress/?p=2446. 20 Psicultor 1.5.2 Tambaqui e tambacu O tambaqui (Colossoma macropomum) é uma das principais espécies do rio Amazonas, podendo alcançar até 20 kg. Tem a carne bastante apreciada e se adapta bem ao cativeiro, onde atinge, em condições ideais de temperatura e alimentação, até 1,4 kg em um ano. Com crescimento mais rápido que o pacu, porém menos resistente ao frio, registra alta mortalidade em temperaturas abaixo de 15ºC. É um peixe onívoro, aceitando bem rações comerciais, sendo de piracema e não desova naturalmente em cativeiros (Figura 3). O tambacu, ou paqui, é um híbrido resultante do cruzamento da fêmea de tambaqui com o macho do pacu. Menos sensível que o tambaqui ao clima subtropical, pode adaptar-se a temperaturas abaixo de 20ºC. Mas se esse híbrido for fértil e escapar para a natureza, ameaça o futuro das duas espécies das quais se originou.Tanto o tambaqui quanto o tambacu têm carne saborosa e aceitam bem a ração em cativeiro (SANDOVAL JÚNIOR, 2010). Figura 3: Imagem de um exemplar de tambaqui (Colossoma macropomum). Fonte: http://www.fishbase.org/Photos/PicturesSummary.php?ID=263&what=species . 1.5.3 Pacu O pacu (Piaractus mesopotamicus), também conhecido como pacu-caranha, na região Centro-Oeste, e pacu-guaçu, no Sudeste, é um peixe originário da Bacia do Prata, habitando principalmente os rios do Pantanal Mato-grossense, onde chega a atingir até 18 quilos. Desenvolve-se melhor em ambientes com temperaturas entre 20 a 30ºC, mas resiste bem a temperaturas abaixo de 20ºC. É um peixe oní- voro, podendo ser alimentado com frutas, sementes, grãos, pequenos moluscos, crustáceos, insetos e também com ração com 22% a 30% de proteína bruta. Peixe de piracema, só se reproduz em cativeiro com indução artificial, sendo que nos viveiros pode ultrapassar 1,1 kg em um ano de cultivo (Figura 4). Sua carne é muito saborosa, podendo apresentar acúmulo de gordura se receber alimentação muito rica em proteínas e quando cultivado com as carpas, costuma comer as nadadeiras das mesmas (SANDOVAL JÚNIOR, 2010). Figura 4: Imagem de um exemplar de Pacu (Piaractus mesopotamicus). Fonte: http://www.fishbase.org/Photos/PicturesSummary.php?ID=55383&what=species. 21 Pronatec 1.5.4 Curimbatá Também chamado de curimba, corumbatá, grumatá, curimatá ou curimatá, é um peixe muito conhecido do Rio Grande do Sul até o Nordeste do país. No entanto, existem várias espécies diferentes, destacando-se o Prochilodus affinis no rio São Francisco, Prochilodus hartii no rio Jequitinhonha (Figura 5), Prochilodus vimboi- des no rio Doce, Prochilodus brevis nos rios do Nordeste, Prochilodus lineatus na bacia do Prata e Prochilodus nigrigans na bacia amazônica. Cresce melhor em viveiros grandes, podendo atingir até 800 gramas no primeiro ano Têm hábito ali- mentar iliófago, isto é uma espécie de fundo de tanque, sua carne tem ligeiro gos- to de terra. No policultivo, onde é utilizado como espécie secundária, sua função é remover o lodo, liberando os gases tóxicos e colocando a matéria orgânica em suspensão, o que ajuda a adubar os tanques (SANDOVAL JÚNIOR, 2010). Figura 5: Imagem de um exemplar de curimbatá (Prochilodus hartii). Fonte: Arquivo fotográfico do autor. 1.5.5 Carpa comum Espécie de origem asiática (Cyprinus carpio) cultivada praticamente em todo o mundo, possuindo qualidades importantes para produção em viveiros, como resis- tência a doenças, facilidade de manejo e reprodução. Em algumas regiões do Brasil seu sabor e aparência não são bem aceitos pelos consumidores. As variedades mais cultivadas são a carpa escama, a espelho e a colorida (Figura 6), sendo esta última mais apreciada para fins decorativos. Têm hábito alimentar bentófago e onívoro, ou seja, alimenta-se de preferência de pequenos vermes, minhocas e moluscos que vivem no fundo dos tanques e se adapta bem aos mais diferentes tipos de alimen- tos. As carpas apresentam crescimento rápido, atingindo facilmente 1,5 kg em um ano. Podendo ser utilizadas em policultivo, se reproduzam em viveiros, apresen- tando uma desova por ano. Artificialmente podem ser feitas mais de duas desovas ao ano (OSTRENSKY, BORGHETTI & SOTO, 2007). Figura 6: Imagem de um exemplar de carpa (Cyprinus carpio). Fonte: http://www.fishbase.org/photos/PicturesSummary.php?StartRow=3&ID=1450&what=species&TotRec=22. 22 Psicultor 1.5.6 Bagre africano Vem se popularizando em viveiros por resistir a baixos níveis de oxigenação na água, pois pode sobreviver e deslocar-se, ficando fora da água por longos períodos respirando ar atmosférico através de pseudopulmões. E dono de alta conversão alimentar, aceita de zooplâncton até pequenos peixes, rações artificiais e vísceras de outros animais. Chega a crescer até mais de 1 kg no primeiro ano. Seu nome científico é Clarias gariepinus, possuindo carne avermelhada e com pouca gordura, atingindo um quilo em um ano (Figura 7). Atinge a maturidade sexual com nove meses de idade, mas sua reprodução tem que ser induzida (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). O IBAMA proíbe seu cultivo em boa parte do território brasileiro, sendo que para cultivar esta espécie, portanto, é fundamental consultar o Instituto ambien- tal na região em que se pretende implantar o cativeiro (IBAMA, 1998). Figura 7: Imagem de um exemplar de bagre africano (Clarias gariepinus). Fonte: http://www.fishbase.org/photos/PicturesSummary.php?StartRow=1&ID=1934&what=species&TotRec=16. 1.5.7 Piau Esse peixe nativo, muito apreciado pelo sabor de sua carne, tem desaparecido dos rios e despertado o interesse no seu cultivo. As espécies geralmente cultivadas são o piau verdadeiro (Leporinus sp.), o piauçu e a piapara (Leporinus elongatus) (Figura 8). Tem hábito alimentar onívoro, aceitando bem os grãos e as rações ar- tificiais. Apresenta um bom crescimento, chegando a 800 gramas e até a 1 kg no período de um ano (SANDOVAL JÚNIOR, 2010). Figura 8: Imagem de um exemplar de piapara (Leporinus elongatus). Fonte: Arquivo fotográfico do autor. 1.5.8 Cascudos Ele é rústico, esquisito, pouco estudado e vem chamando a atenção de cientistas pela importância bio-econômica. Capaz de repovoar com matéria orgânica um rio poluído, o cascudo (Hypostomus sp.) ainda é pouco explorado comercialmente. Mas sua carne nutritiva ainda pode conquistar o paladar do brasileiro, fazendo-o deixar sua condição de peixe de aquário (SANCHES et al., 2011). 23 Pronatec O cascudo pertence à família Loricariidae. Seu corpo delgado é revestido por pla- cas ósseas ao invés de escamas. Também chamados de acaris, são peixes que vivem no fundo de rios rochosos de água doce e alimentam-se de algas e lodo presentes em pedras e troncos de árvores. Para isso, usam os lábios alargados em forma de ventosa e as maxilas com uma série de dentículos adaptados a raspar os alimentos do substrato (Figura 9). O pouco conhecimento sobre a distribuição destes peixes nos rios da América do Sul e a falta de revisões mais recentes deste grupo são problemas que dificultam a identificação de novas espécies. Na bacia do rio São Francisco, atualmente o cascudo preto (Rhinelepis aspera) está sendo reproduzido e com sua carne apreciada pela população ribeirinha (SANCHES et al., 2011). Figura 9: Imagem de um exemplar de acari (Hypostomus affinis). Fonte: http://www.fishbase.us/photos/UploadedBy.php?autoctr=18731&win=uploaded. 1.5.9 Surubins O gênero Pseudoplatystoma compreende os maiores peixes da família Pimelodi- dae, da ordem dos Siluriformes, e esses podem ser encontrados nas principais ba- cias hidrográficas sul-americanas; regionalmente são conhecidos como “surubins” (ROMAGOSA et al., 2003). Sua distribuição inclui os maiores rios das bacias hidro- gráficas da América do Sul: o rio Paraná, Amazonas, Orinoco, São Francisco, entre outros (BURGESS, 1989). Possui hábito noturno e estritamente piscívoro, sendo de grande importância econômica, é considerado um dos peixes de água doce de maior valor comercial. A diminuição dos estoques naturais vem impulsionando sua produção em cativeiro. Até os dias atuais considerava-se que esse gênero era constituído apenas pelas espécies: Pseudoplatystoma coruscans (pintado) da bacia do Prata e São Francisco (Figura 10), Pseudoplatystoma fasciatum (cachara) da bacia do Prata e Amazônica e Pseudoplatystoma tigrinum (caparari), somente da bacia Amazônica (PETRERE, 1995). Iniciativas com o objetivo da domesticação e conservação do Pseudoplatysto- ma corruscans começaram a produzir resultados satisfatórios (MIRANDA & RIBEI- RO,1997) a partir da década de 1990. Hoje, é possível encontrar pesqueiros que comercializam surubins produzidos em cativeiro, bem como estações de piscicultu- ra de órgãos governamentais produtoras e distribuidoras de alevinos desta espécie, tanto para produção como para repovoamento de rios (SATO & GODINHO, 2003). O cachapinta (cruzamento de fêmea de cachara com machode pintado) e o pinca- chara (cruzamento de fêmea de pintado com macho de cachara) são importantes híbridos que vêm sendo cultivados em pisciculturas no lugar das espécies puras. Segundo os produtores de alevinos, isto se deve ao fato de esses serem mais dó- ceis, aprenderem a se alimentar mais facilmente e possivelmente apresentarem taxa de crescimento mais elevada (CREPALDI et al., 2006). Os híbridos têm sido 24 Psicultor cultivados em todo o Brasil e já vêm sendo encontrados na natureza (como no rio Paraná e Jequitinhonha), provavelmente devido a escapes de pisciculturas. Exis- tem preocupações sobre seu impacto nas espécies naturais, havendo a possibilida- de de contaminação genética por introgressão (CARVALHO et al., 2008). Os surubins são peixes nobres, conhecidos e valorizados no mercado nacional, por sua carne branca, de sabor suave e sem espinhas. Ao contrario de peixes como a tilápia, que é produzida em muitos países, este não têm seu preço final de venda, indexado aos valores mundiais de comércio de carnes. Seu preço é designado pelo produtor, pois a sua produção, ainda é bastante inferior à demanda do mercado. Sem dúvidas, a criação de surubins tem se demonstrado um negócio lucrativo, se- guro e com fácil comercialização do produto final (CREPALDI et al., 2006). Figura 10: Imagem de um exemplar de surubim (Pseudoplatystoma corruscans). Fonte: http://www.fishbase.org/Photos/PicturesSummary.php?StartRow=0&ID=8674&what=species&TotRec=2. 1.5.10 Os lambaris Lambari é a designação vulgar de várias espécies de peixes do gênero Astyanax, família Characidae, comum nos rios, lagoas, córregos e represas do Brasil. Seu tamanho médio é entre os 10 e os 15 centímetros de comprimento, possuindo um corpo prateado e nadadeiras com cores que variam conforme as espécies, sendo mais comuns os tons de amarelo, vermelho e preto (REIS, KULLANDER & FERRARIS JÚNIOR, 2003). São considerados como uma iguaria e também são utilizados como iscas na pesca de peixes maiores. São peixes onívoros e a base da alimentação de diversos pei- xes predadores. As espécies mais conhecidas são o Astyanax altiparanae (lambari tambiú) presente na bacia do Prata, Astyanax fasciatus (lambari do rabo verme- lho) em quase todas as bacias brasileiras, Astyanax bimaculatus (lambari do rabo amarelo) na bacia do São Francisco, Astyanax brevirhinus (piabinha) na bacia do Jequitinhonha (Figura 11). Figura 11: Imagens de exemplares de lambaris (Astyanax brevirhinus). Fonte: Arquivo fotográfico do autor. 25 Pronatec 1.5.11 Truta arco-íris A truta-arco-íris (Oncorhynchus mykiss) é um salmonídeo originário dos rios da América do Norte que drenam para o Oceano Pacífico, mas que se encontra distri- buída atualmente por todo o mundo. A espécie foi introduzida em pelo menos 45 países, como peixe de aquicultura, destacando-se as regiões frias montanhosas do Brasil, como a Serra da Mantiqueira (LAZZAROTTO & CARAMASCHI, 2009). As trutas arco-íris são peixes de água doce e têm o corpo acastanhado ou amarela- do, com pintas pretas na zona do dorso, também presentes nas barbatanas dorsal e caudal. Como característica distintiva ela tem uma linha rosada que se prolonga das brânquias à barbatana caudal (Figura 12). A truta arco-íris tem um compri- mento entre 30 e 45 cm. A espécie é cultivada na piscicultura e uma das mais consumidas nos mercados ocidentais. É um peixe muito cobiçado por pescadores esportivos, por ser um peixe muito combatente e astuto, principalmente por parte dos praticantes da pesca esportiva (LAZZAROTTO & CARAMASCHI, 2009). Figura 12: Imagem de um exemplar de truta arco-íris (Onchrhynchus mykiss). Fonte: http://www.fishbase.org/photos/PicturesSummary.php?StartRow=6&ID=239&what=species&TotRec=21. 1.5.12 Pirarucu Típico dos rios que cortam a Amazônia, o pirarucu (Arapaima gigas) já alcançou outras moradas pelo território nacional. Há exemplares no Nordeste, Centro-Oeste e em parte do Sudeste. O pescado ainda tem a seu favor a característica de se dar bem em águas com diferentes níveis de pH e concentração de sais minerais. Con- tudo, mesmo dotado de bexiga natatória altamente vascularizada, que é utilizada como pulmão, o pirarucu necessita de água com bom teor de oxigênio para não ter seu crescimento prejudicado (IMBIRIBA et al., 1996). Um dos maiores peixes de água doce, o pirarucu pode ultrapassar 2 metros de com- primento e pesar mais de 200 kg, vivendo em águas calmas e em rios de correnteza fraca (Figura 13). Pelas vantagens comerciais, o pirarucu tornou-se presa cobiçada pela pesca predatória, sendo a criação em cativeiro uma alternativa para manter os estoques da espécie (IMBIRIBA et al., 1996). Porém, antes de iniciar a criação de pirarucu em regiões fora da Amazônia, o pro- dutor precisa consultar o órgão ambiental de seu Estado sobre a permissão para a atividade, de acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Presente na lista de animais ameaçados de extinção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o pirarucu tem seu manejo sob a orien- tação da entidade. 26 Psicultor Figura 13: Imagem de um exemplar juvenil de pirarucu (Arapaima gigas). Fonte: http://www.fishbase.us/photos/UploadedBy.php?autoctr=7943&win=uploaded. 1.6 Anatomia e fisiologia dos peixes de água doce A classe dos peixes possui 25.000 espécies, sendo considerados como os primeiros animais vertebrados, isto é, animais cordados que possuem um esqueleto ósseo (impregnado de cálcio) ou cartilaginoso (impregnado de matéria orgânica). Na grande maioria dos peixes, o corpo é achatado lateralmente; em alguns, como nas raias, achatados dorso-ventralmente, e protegidos por escamas que são sempre formadas pela pele (BONE & MARSHALL, 1982). A respiração é feita por brânquias, mas existem alguns peixes pulmonados, como a piramboia. A flutuação dos peixes é auxiliada por um órgão especial, a bexiga natatória, situado na frente do apare- lho digestivo e ligado ao esôfago, e que se enche com uma mistura de nitrogênio, oxigênio e gás carbônico. Alguns peixes, porém, não possuem a bexiga natatória (HICKMAN JUNIOR et al., 2004). Os sentidos são representados por dois olhos, ouvidos com canais semicirculares (órgãos de equilíbrio), e geralmente pela linha lateral que percorre a parte lateral do corpo e permite sentir vibrações da água e audição (BONE & MARSHALL, 1982). A reprodução é sempre sexuada e, em geral, externa, havendo poucas exceções, sendo que as células masculinas e femininas são lançadas na água, onde se unem, formando um número de ovos muito grande. As águas estariam superpovoadas se a maioria dos filhotes não fosse comida por outros animais antes de chegarem ao estágio adulto (BONE & MARSHALL, 1982). 1.6.1 Anatomia externa Em geral, os peixes têm sete nadadeiras, três ímpares (dorsal, anal e caudal) e duas pares (peitorais e ventrais). As nadadeiras têm papel fundamental na loco- moção, cada uma delas com uma função específica, relacionada ao movimento de cada espécie de peixe. Muitas espécies nadam primariamente com o movimento das nadadeiras ao invés do movimento ondulatório do corpo (HICKMAN JUNIOR et al., 2004). Nos peixes, a linha lateral é um órgão sensorial usado para detectar movimentos ao redor na água, ou seja, a audição. A linha lateral pode ser facilmente identificada em alguns peixes por estar posicionada nos flancos laterais e é formada por escamas com poros, ou aberturas na pele, que expõem os neuromastos para o meio exterior. Nos peixes, os opérculos são placas ósseas localizadas nos lados da cabeça, antes das brânquias e cobrem a fenda branquial (Figura 14). Podem ser lisos, cobertos de escamas ou ornamentados com cristas ou espinhos (BONE & MARSHALL, 1982). 27 Pronatec Figura 14: Anatomia externa de um exemplar de curimbatá (Prochilodus brevis) na bacia do rio Pardo. Fonte: Arquivo fotográfico do autor. Legenda: nota-se a presença da nadadeira dorsal (ND), adiposa (NAD), caudal (NC), anal(NA), ventral (NV) e peitoral (NP). A linha lateral (LL) responsável pela audi- ção é identificada, além do opérculo (Op), olhos (O) e narinas (N). 1.6.2 Sistema locomotor A natação do peixe efetua-se pela progressão do corpo contra a água do ambiente, sendo que a pele do peixe produz um muco que confere um menor atrito com a água, facilitando o deslocamento. A progressão ocorre devido à ação muscular com a ajuda de uma movimentação da nadadeira caudal, sendo que os deslocamentos em linha reta regram-nos as nadadeiras dorsais e anais, enquanto o equilíbrio do corpo está a cargo das nadadeiras peitorais e pélvicas. A densidade do animal equi- libra-se pelo ar contido na bexiga natatória. Por esse motivo o deslocamento não exige grandes esforços (BONE & MARSHALL, 1982). O esqueleto dos peixes, como de outros vertebrados, pode ser dividido em duas partes: esqueleto axial, constituído pelo crânio e pela coluna vertebral, e esque- leto apendicular, constituído pelos elementos de sustentação das nadadeiras. Os ossos do crânio dos peixes são formados muitas vezes, por elementos dérmicos (bem como elementos endocondrais) formando um crânio bastante complexo (DE IULIIS & PULERÀ, 2007) variando entre as espécies. A coluna vertebral dos peixes é formada por vértebras articuladas, constituídas por uma região central compacta e por um anel dorsal onde se aloja a medula espinhal, apresentando projeções como as espinhas neurais, espinhas hemais e costelas (Figura 15), que apresentam variações entre as espécies (MEIRELES, 2012). 28 Psicultor Figura 15: Imagem de um esqueleto de uma piranha (Serrasalmus sp.) montado no Museu de Zoologia da USP. Fonte: Arquivo fotográfico do autor. Legenda: notam-se os ossos opérculo (O), costelas (C), vértebras (V), espinhos neurais (N), espinhos hemais (H), raios das nadadeiras dorsais (ND), peitoral (NP), anal (NA) e caudal (NC). 1.6.3 Sistema circulatório O coração é simples, situado abaixo da faringe, na cavidade celomática, sendo composto por quatro câmaras em série: seio venoso, átrio, ventrículo e bulbo arte- rioso elástico. O sangue venoso chega ao coração pelas veias cefálicas e hepáticas, passando pelo seio venoso, átrio, ventrículo (que ao contrair em sístole, impulsio- na o sangue para todo o sistema) e bulbo arterioso elástico (DE IULIIS & PULERÀ, 2007). O sangue venoso é então transportado pela aorta ventral para as brânquias onde sofre as trocas gasosas passando para as artérias branquiais que lançam o sangue arterial para a aorta dorsal e esta distribui o sangue rico em oxigênio para todo o organismo (Figura 16). Apenas o sangue não-oxigenado passa pelo coração, sendo depois bombeado para as brânquias, onde é oxigenado e distribuído para o corpo (BONE & MARSHALL, 1982). Figura 16: Imagem do coração de um piau, Leporinus steindachneri sendo dissecado após anestesia com eugenol na Estação de Piscicultura de Machado Mineiro. Fonte: Arquivo fotográfico do autor. Legenda: nota-se a presença do coração, destacando-se o átrio (A) e ventrículo (V), brânquias (B), gordura (G) e bexiga natatória (BN). 29 Pronatec 1.6.4 Sistema Respiratório A respiração dos peixes é feita pelas brânquias internas que se desenvolvem a partir de uma série de evaginações da faringe. A água contendo oxigênio dissolvido é aspi- rada pela boca dos peixes, passa para as cavidades branquiais através das fendas que separam os arcos branquiais (os filamentos branquiais) e então é forçada a passar entre as lamelas secundárias, sendo que o sangue flui no sentido oposto ao da água, sendo realizada a troca gasosa por um mecanismo contra corrente (BONE & MAR- SHALL, 1982). A molécula de hemoglobina (que dá coloração vermelha ao sangue) captura o oxigênio da água, passando para o sangue contido nos vasos dos filamentos branquiais e é distribuído para todo o corpo (HICKMANN JUNIOR et al., 2004). Os peixes, de uma maneira geral, respiram pelas brânquias, no entanto, existem outros tipos de respiração que não são mais do que adaptações que permitem a certos peixes um segundo tipo de respiração, sempre que não for possível fazê-lo por meio das brânquias por deficiência de oxigênio. O cascudo (Hipostomus sp.), por exemplo, além de respirar pelas brânquias, também respira pelo estômago, cujas paredes são vascularizadas (BUENO, CHELLAPPA & CHELLAPPA, 2008). Por isso, ele pode ficar fora d’água por bastante tempo. Já o bagre africano (Clarias sp.) possui um mecanismo de respiração denominada de órgão arborescente que lhe permite respira fora d’água. O pirarucu (Aiaparas gigas) é dotado de bexiga natatória altamente vascularizada, que é utilizada como pulmão (IMBIRIBA et al., 1996), enquanto o poraquê (Electrophorus electricus) ou peixe elétrico, existe um sistema respiratório acessório na cavidade bucal (OLIVEIRA & MENDES JÚNIOR, 2012). 1.6.5 Sistema Digestivo A observação da anatomia dos peixes permite obter informações básicas de seus hábitos alimentares, e um exame atento do aparelho digestivo oferece boa estima- tiva do alimento preferido ou, ao mesmo, pode servir para orientar estudos sobre sua alimentação (MENIN & MIMURA, 1992). O sistema digestivo dos peixes é constituído de boca, cavidade oro-branquial, esô- fago, estômago, intestino e glândulas anexas, sendo que o trato digestivo refere-se aos órgãos compreendidos entre a boca e o intestino, enquanto o tubo digestivo, refere-se aos órgãos do esôfago até o ânus. A boca corresponde à abertura anterior da cavidade oro-branquial, sendo sua posição, formato e tamanho estão intima- mente relacionados aos hábitos alimentares e, em especial, à forma de apreensão do alimento (MENIN & MIMURA, 1992). Os peixes não apresentam glândulas sali- vares e cada espécie possui uma fenda bucal específica, sendo importante para definição da granulometria da ração e a posição da boca pode ser dorsal, terminal, semi-ventral e ventral. A cavidade oro-branquial é um aparelho típico dos peixes, com duas funções principais que dão origem a seu nome a retenção e manipulação de alimento e a passagem da água usada na respiração branquial. Os lábios dos peixes carnívoros são finos e aderidos ao maxilar, enquanto nos peixes onívoros e herbívoros, os lábios são bem mais espessos. Nos peixes, podemos encontrar den- tes nos ossos das maxilas, no vômer, nos palatinos, como também na língua, na faringe e nos lábios. Quanto aos tipos de dentes orais e faringeanos, mais comuns em peixes são os caninos e cônicos (encontrados em peixes carnívoros); viliformes, cuspidados e truncados (encontrados principalmente em peixes onívoros). Nos pei- xes iliófagos, nota-se a ausência total dos dentes na boca, por isso existe em seu estômago, uma estrutura semelhante a uma moela (MEIRELES, 2012). 30 Psicultor O esôfago é um órgão tubular que serve de passagem entre a cavidade oro-bran- quial e o estômago, geralmente é curto, mas pode ser longo dependendo do com- primento do corpo do peixe e da posição do estômago. O ducto pneumático da bexiga natatória geralmente abre no esôfago da maioria das espécies de peixes (BONE & MARSHALL, 1982). O estômago, na maioria dos peixes é uma dilatação do tubo digestivo onde os alimentos são mantidos o tempo necessário para realizar a digestão ácida. Sua mucosa interna forma sulcos longitudinais e sinuosos que desaparecem quando o estômago se expande com a entrada dos alimentos. O estômago assume formas diferentes, segundo a natureza da dieta, podendo ser retos nos peixes carnívoros, ou ter forma de “U” ou “Y” nos onívoros, enquanto em algumas espécies iliófagas apresentam uma estrutura semelhante a uma moela (MEIRELES, 2012). O intestino é um órgão geralmente tubular por onde transita o alimento e no qual ocorre a digestão e a absorção dos nutrientes, sendo geralmente tubular e com essa forma o aumento ou a diminuição da superfície de absorção é controlada pelo maior ou menor comprimento do intestino. Espécies iliófagas apresentam pregas na mucosa com a provável funçãode ampliar a superfície de absorção (MENIN & MIMURA, 1992). O fígado, como em todos os vertebrados, tem como função principal preparar as substâncias nutritivas, provenientes da absorção intestinal, para serem aproveita- das pelo organismo e, entre os peixes, também é importante a função de estocar gordura. Já o pâncreas é geralmente difuso e devido à ausência de um ducto pancreático, as secreções são depositadas no fígado e encaminhadas ao intestino junto com a bile (MENIN & MIMURA, 1992). 1.6.6 Sistema Excretor O sistema excretor dos peixes, como dos outros vertebrados, regula o conteúdo de água do corpo, mantém o equilíbrio salino adequado (BONE & MARSHALL, 1982). A eliminação dos resíduos nitrogenados resultantes do metabolismo proteico no caso a amônia é eliminada pelas brânquias. Esses órgãos precisam desenvolver uma ampla atividade para manter o equilíbrio da água em seu corpo, já que ficam rode- ados de água. Alguns peixes que podem viver tanto em água doce quanto salgada, têm os rins especialmente adaptados para enfrentar essas diversas condições da água (HICKMANN JUNIOR et al., 2004). 1.6.7 Sistema reprodutor Quanto ao aspecto reprodutivo dos peixes, sabemos que os Ciclóstomos são her- mafroditas, caso raro entre os vertebrados e mesmo entre os peixes modernos. Entretanto os peixes cartilaginosos e os peixes ósseos apresentam gônadas pares, sendo os sexos separados (HICKMANN JUNIOR et al., 2004). A fecundação na maio- ria dos peixes é externa e o estudo do sistema reprodutor será detalhado na parte de reprodução. 31 Pronatec 1. Em que país, provavelmente originou as atividades de piscicultura? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2. Qual é o maior produtor mundial de pescado? E em que colocação está o Brasil? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3. Por que o consumo de peixes é importante para a saúde humana? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4. O que é ictiologia? Cite pelo menos 3 espécies (com nomes científicos) nativos da bacia hidrográfica de sua região. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5. O peixe consegue ouvir debaixo d’água? Qual estrutura anatômica é responsá- vel por esse sentido? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 32 Psicultor Unidade 2 2.1 Histórico da limnologia A limnologia (do grego, limne - lago, e logos - estudo) é a ciência que estuda as águas continentais, independente da concentração de sais, em relação aos fluxos de matéria e energia e suas interações com a comunidade biótica (ESTEVES & ES- TEVES, 1998). A origem da limnologia se deu no início do século XX, quando François Forel iniciou seus estudos no lago Léman (lago de Genebra, Suíça), muito embora essa ciência tenha sido originalmente desenvolvida com o objetivo de estudar os ambientes lacustres, atualmente os ambientes estudados abrangem os lagos, lagoas, lagunas, reservatórios, rios, e áreas inundáveis (ESTEVES & ESTEVES, 1998). A compartimentação das áreas do conhecimento limnológico levou à criação das linhas de pesquisa relacionadas aos estudos das formas (morfometria) do ambiente lacustre, aos aspectos abióticos da coluna d’água, como as propriedades e dinâmi- cas da disponibilidade de luz, estratificação térmica e química, além das caracte- rísticas do sedimento. Quanto aos aspectos bióticos, as diversas linhas de pesquisa podem ser resumidas em estudos do bacterioplâncton, fitoplâncton, zooplâncton, bentos, macrófita aquática e perifíton (PINTO-COELHO, 2002). 2.2 Os seres vivos no ambiente aquático Em limnologia chama-se fitoplâncton ao conjunto dos organismos aquáticos mi- croscópicos que têm capacidade fotossintética e que vivem dispersos flutuando na coluna de água. Em águas correntes (rios e ribeirões) o grupo mais importante, pela sua abundância e diversidade, é o das diatomáceas, organismos microscópicos com pigmentos amarelo-dourados e carapaça externa de sílica, que protege as células da agressão mecânica causada pela correnteza. Por outro lado, em lagos e represas as algas da classe Chlorophyceae são mais diversas e abundantes e pos- suem estruturas que favorecem a flutuação que, no entanto, são frágeis (ESTEVES & ESTEVES, 1998). O fitoplâncton encontra-se na base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquá- ticos, uma vez que serve de alimentação a organismos maiores e está na base porque pertence ao nível trófico dos produtores. Além disso, acredita-se que o fi- toplâncton é responsável pela produção de cerca de 98% do oxigênio da atmosfera terrestre, como também, pode ser responsável por alguns problemas ecológicos quando se desenvolve demasiadamente numa situação de excesso de nutrientes e de temperatura favorável, podendo multiplicar-se rapidamente formando o que se costuma chamar florescimento ou “bloom” (palavra inglesa que é mais usada). Nesta situação, a água fica esverdeada mais rapidamente, de um a dois dias, de- pendendo da temperatura, se torna acastanhada, quando o plâncton esgota os nutrientes e começa a morrer. Nessa altura, a decomposição mais ou menos rápida dos organismos mortos pode levar ao esgotamento do oxigênio na água e, como consequência, à morte em massa de peixes e outros organismos (PINTO-COELHO, 2002), sendo esse fenômeno denominado de “Eutrofização”. 33 Pronatec Figura 17: Ilustração demonstrando exemplos de fitoplâncton da divisão Bacillariophyta. Fonte: http://www.infoescola.com/biologia/divisao-bacillariophyta-diatomaceas/. Inúmeros representantes do reino animal fazem da água o seu ambiente natural de vida ou então buscam na água o seu ambiente natural de vida ou então buscam na água o seu alimento estando, portanto, intimamente ligados à piscicultura, sendo chamados de zooplâncton. O zooplâncton, devido à sua posição intermediária en- tre os diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos, representa um elo alimentar importante, uma vez que a maior parte dos peixes se alimenta do plâncton pelo menos durante o período inicial de sua vida. O zooplânc- ton pode ser classificado em rotíferos, cladóceros, copépodas e protozoa (ESTEVES & ESTEVES, 1998). Os rotíferos são pequenos animais aquáticos, medindo 0,1-1,0 mm e é o alimento mais importante das pós-larvas dos peixes nas primeirassemanas de vida. No Bra- sil, os rotíferos dominam, em densidade e número de espécies de zooplâncton na maioria dos lagos, lagoas e reservatórios (PINTO-COELHO, 2002). Os cladóceros são animais aquáticos, pertencentes à classe crustácea, medindo cerca de um milímetro, sendo importantes na cadeia alimentar para os peixes adultos que não podem comer algas diretamente. O exemplo de maior expressão de cladóceros num viveiro de piscicultura são as pulgas d’água (ESTEVES & ESTE- VES, 1998). Os copépodas são animais aquáticos, pertencentes à classe crustácea, medindo até cinco milímetros. Uma diferença fundamental entre os copépodas e os demais gru- pos dominantes do zooplâncton de água doce é que eles passam por uma série de metamorfoses antes de atingirem a fase adulta. No curso de seu desenvolvimento, mudam paulatinamente seu modo e capacidade de locomoção e de obtenção de alimento (ESTEVES & ESTEVES, 1998). Figura 18: Ilustração demonstrando exemplos de Rotíferos, Cladóceros Copépodas (zooplâncton). Fonte: http://vidalagunadebragado.blogspot.com.br/2013/08/proyecto-contribucion-al-conocimiento.html. Em limnologia, chama-se bentos aos organismos que vivem no substrato, fixos ou não, em contraposição com os pelágicos, que vivem livremente na coluna de água. 34 Psicultor Alguns outros seres animais, que vivem na água, são úteis sob o ponto de vista da piscicultura, porém, quando carnívoros, são nocivos, pois comem os peixes peque- nos. As larvas de libélulas (Odonata sp.) e as larvas de baratinha d’água (Dytiscus sp.) bem como as diferentes espécies de barata d’água e nadador de costa (Ani- sops sp. e Notonecta sp.) são inimigos, especialmente das pós-larvas e alevinos (ESTEVES & ESTEVES. 1998). As macrófitas são plantas aquáticas, principalmente as enraizadas, têm a habili- dade de assimilar os nutrientes presentes no sedimento. Durante a decomposição ou mediante a excreção de compostos orgânicos podem liberá-los para a coluna de água. Desta forma, o nutriente que anteriormente ficaria preso, através do efeito de bombeamento do sedimento para a coluna de água, por intermédio da macrófita aquática, rapidamente retorna ao ecossistema aquático. Em virtude do intenso crescimento as macrófitas aquáticas flutuantes podem ser os principais produtores de matéria orgânica do sistema. Podem crescer, em condições ótimas de luz e nutrientes, cerca de 5% ao dia com a potencialidade de cobrir boa parte do espelho de água causando inúmeros problemas ambientais e na qualidade da água como: prejuízos ao abastecimento de água, à navegação, aos usos múltiplos dos reservatórios, entre outros (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). 2.3 Principais variáveis físicas e químicas da água As principais variáveis físicas e químicas que devem ser monitoradas em cultivo de peixes são temperatura, oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica e transpa- rência da água (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). 2.3.1 Temperatura Com o aumento da temperatura aumenta a velocidade das reações químicas (di- minuição no teor de oxigênio dissolvido na água) e o metabolismo dos organismos. Todas as atividades fisiológicas dos peixes estão ligadas a temperatura da água. A temperatura gera efeitos sobre os organismos aquáticos, assim como interage com todas as demais propriedades da água. Algumas espécies de peixes tropicais toleram temperaturas mais altas (˃25ºC). O frio diminui o metabolismo e o cres- cimento dos peixes, com o calor aumenta o metabolismo e o crescimento. Peixes como a truta arco-íris requerem temperaturas menores e são cultivadas no Brasil em regiões de maior altitude. Para a maioria das espécies de peixes tropicais bra- sileiros a faixa térmica ideal está entre 24 e 30ºC (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). Variações de 3 a 4ºC num mesmo dia são prejudiciais aos peixes, notadamente durante as fases de ovos, larvas e alevinos, influenciando também na maturação gonadal e na extrusão de ovos durante reprodução induzida (MEIRELES, 2012). A temperatura da água pode ser medida com termômetro comum, termômetro de máxima e mínima, termístor com cabo (sonda), termístor de bolso ou portátil. 2.3.2 Oxigênio dissolvido (OD) A solubilidade do oxigênio na água depende da temperatura e altitude, sendo que em águas naturais a concentração de OD está sempre modificando de acordo com os processos físicos, químicos e biológicos. A variação do oxigênio durante 24 horas está ligada aos processos de fotossíntese durante o dia (aumento de OD) 35 Pronatec e respiração/decomposição no período noturno (diminuição de OD). Um tanque com grande florescimento planctônico apresenta amplas flutuações em 24 horas na concentração de OD, com baixas concentrações durante o período da manhã (ESTEVES & ESTEVES, 1998). A faixa de concentração desejável de OD em viveiros é de 5,0 mg/l. De 1,0 a 4,9 mg/l o peixe sobrevive, mas o crescimento é lento em exposição prolongada, enquanto de 0,0 a 0,9 mg/l é letal se a exposição é prolongada (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). 2.3.3 Potencial Hidrogeniônico Mede o grau de acidez e basicidade da água e varia de 0 a 14, e não tem unidade (na verdade é o logaritmo negativo da atividade do íon hidrogênio). Abaixo de 7 o pH indica acidez e acima, alcalinidade, sendo pH igual a 7 chamado de neutro. A faixa de pH desejável para produção de peixes é entre 6,5 e 9,0 (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). 2.3.4 Condutividade elétrica É uma medida da capacidade de conduzir corrente elétrica da água e indiretamente avalia a quantidade de íons e nutrientes na água doce. Varia muito de local para local, devido a origem (fonte) e caminho (tipo de solo, rochas, fontes de poluição) percorrido pela água doce. A sua unidade de medida é mS/cm (microsíemens por centímetro). A condutividade elétrica da água é quase proporcional à concentração de seus principais elementos dissolvidos (ESTEVES & ESTEVES, 1998). Na Esta- ção de Piscicultura de Machado Mineiro, a condutividade média da água é 50 µS/ cm. 2.3.5 Transparência da água A penetração de luz no sistema aquático pode ser medida através da sua transpa- rência, utilizando-se de um disco de Secchi com 30 cm de diâmetro, pintado de branco. O disco, suspenso por um cordão, é abaixado verticalmente, na coluna d’água, sendo que a profundidade média onde o disco de Secchi desaparece e reaparece é tomada como medida de transparência da água. A transparência ideal está em torno de 20 a 30 cm. Com menos de 20 cm deve-se cessar a adubação e fertilização de viveiros. Acima de 40 cm, deve-se fazer a adubação para evitar o desenvolvimento de macrófitas no fundo do viveiro (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). 2.3.6 Fertilização de viveiros para piscicultura Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não são os peixes que conso- mem diretamente o adubo quando realizada a adubação dos viveiros. Quando se aduba a água, há um maior crescimento do plâncton, que é o conjunto dos peque- nos animais (zooplâncton) e vegetais (fitoplâncton) dos quais são alimentos para a maioria das espécies. A principal adubação dos viveiros pode ser a orgânica, sendo os adubos de melhor qualidade para a piscicultura são os estercos de aves e suí- nos, sendo também utilizados os estercos de bovinos e de outros animais. Podem ser utilizadas fezes frescas, mas os estercos curtidos surtem efeitos superiores. A 36 Psicultor adubação química (inorgânica) também pode ser feita, pois em geral, a água apre- senta quantidade mínima de fosfato, por isso, costuma-se utilizar a combinação fósforo-nitrogênio como nutriente auxiliar na produção planctônica (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). Após quinze dias, semanalmente é sugerido realizar uma adubação orgânica ou química, de acordo com o estabelecido no Quadro 4. Tipo Produto Quantidade Em G/M2 Orgânica Esterco bovino 300 Orgânica Esterco suíno ou de aves 150 Química fosfatada Supertosfato simples 7,5 Química fosfatada Supertostato triplo 2,5 Química nitrogenada Sultato de amônio 13 Química nitrogenada Uréia 6,5 Quadro 4: Tipos de adubaçõesem tanques/viveiros de piscicultura. Fonte: Adaptado de OSTRENSKY & BOEGER (1998). 2.3.7 Povoamento dos viveiros O povoamento ou peixamento, nada mais é do que a colocação dos peixes nos viveiros de engorda. Geralmente em Estações de Piscicultura, os viveiros são po- voados na fase de pós-larvas, que são muito sensíveis a mudanças de ambiente e alimentação, não podendo ocorrer grandes variações entre a temperatura da água dos viveiros e incubadora. Nunca transferir os peixes diretamente na água, deve-se colocar os sacos ou baldes sobre a água e esperar que as temperaturas se igualem durante 20 a 30 minutos (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). 2.4 Construções de tanques e viveiros para a piscicultura Durante a elaboração do projeto de uma unidade de piscicultura, deverão ser considerados os aspectos ligados ao local de implantação para a adequada viabi- lização do empreendimento. Esses aspectos referem-se à topografia da área de implantação, o tipo de solo, a avaliação quantitativa e qualitativa da água para o abastecimento dos tanques, viveiros ou represas e da vegetação local. Devem ser consideradas também as informações meteorológicas diárias disponíveis como temperatura do ar (mínimas, máximas e médias), umidade relativa do ar, preci- pitação pluviométrica, evaporação, ventos (intensidade e direção). Além disso, o reconhecimento e seleção da área de implantação da piscicultura deverão levar em consideração o tipo de projeto, as espécies a serem criadas, o manejo a ser adotado e as facilidades de comercialização do produto. Todos esses aspectos in- fluenciarão o sucesso do empreendimento e orientarão o dimensionamento e a construção da piscicultura (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). Tanques referem-se às construções destinadas à piscicultura ou carcinocultura em que existem proteções nas laterais (por exemplo: concreto, alvenaria, solo-ci- mento, madeira, fibra de vidro ou plástico). Já viveiros referem-se às escavações no solo, geralmente argiloso, que após compactação e plantio de grama nas late- rais, serão destinadas a criação de peixes ou camarões (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994). 37 Pronatec 2.4.1 Relevo e topografia A viabilidade econômico-financeira do investimento, no que se refere à movimen- tação de terra, é determinada pela topografia do terreno. Em terrenos com topo- grafia plana, com desnível em torno 2%, os trabalhos serão minimizados, enquanto em terrenos com inclinação de 5% no máximo, a alocação de viveiros em níveis distintos podem otimizar os trabalhos de movimentação de terra. Em terrenos mais acidentados haverá necessidade de maior volume de terraplanagem o que aumentará os custos (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994). 2.4.2 Tipologia do solo Os solos resultam da decomposição de matéria orgânica (animais e vegetais) e mi- neral (argila, silte, areia, cascalho). Solos argilosos, com teor de argila superior a 35%, são mais adequados à execução de obras de viveiros, enquanto solos com teor de areia maior que 50% são considerados impróprios para tal finalidade, a não ser que se utilizem revestimentos com material sintético impermeável (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). 2.4.3 Recursos hídricos disponíveis Em um projeto de piscicultura, é necessária a avaliação quantitativa e qualitativa da água para abastecimento dos tanques e viveiros, para conhecimento da origem e a disponibilidade para suprimento das necessidades. Para instalação de uma pis- cicultura, a vazão de água necessária está em torno de 10 litros/s por cada hectare a ser construído, considerando tanques e viveiros estáticos, ou seja, a água que entra é suficiente para manter o nível normal. Esta quantidade de água atende às necessidades de reposição com a manutenção do nível e supre com segurança nos diferentes meses do ano (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994). 2.4.4 Sistemas de abastecimento e drenagem Para abastecimento de água controlado, mais comumente empregado em viveiros, o manancial deve ser verificado e analisado, identificando-se o ponto de captação e o trajeto do canal de abastecimento ou de derivação (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). A tomada de água deve prevenir as seguintes características: a) permitir o total controle sobre o volume de água a ser captada; b) captar água a favor da corrente- za e abaixo do nível mínimo do curso de água, considerando o período de estiagem prolongada; c) possuir tela ou filtro biológico para prevenir entrada de peixes inde- sejável à criação; e d) estar localizada acima do nível ou cota máxima dos tanques, viveiros, açudes etc. (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994). O sistema de escoamento de água mais adequado ao projeto depende do tamanho do tanque ou viveiro e devem obedecer aos seguintes requisitos: a) o dreno deve ser locado na parte mais profunda do viveiro, para assegurar total esvaziamento; b) o sistema de drenagem deve ter capacidade de vazão suficiente para evitar o transbordamento pelo vertedouro ou pelo dique, para prevenir erosões; c) se o sistema de criação a ser adotado prevê a utilização de viveiros estáticos, o excesso de água deve ser eliminado pelo fundo; e d) o sistema de controle de nível deve possuir tela de proteção para evitar fuga de peixes (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994). 38 Psicultor O monge ou caixa de controle de nível é o melhor sistema de escoamento e com- preende uma estrutura vertical em concreto, cuja seção horizontal tem forma de “U” com abertura voltada para dentro do viveiro. Possui uma parede dorsal e duas laterais, estas últimas com seis ranhuras verticais onde são encaixadas pranchas de madeira, que se sobrepõem adaptadas umas às outras (Figura 19a). Na base da pri- meira ranhura ou em toda sua altura pode ser colocada uma grade metálica para impedir a fuga dos peixes (Figura 19b). Na parede dorsal é acoplada a canalização de drenagem que atravessa o dique. A base do monge deve ser construída em terreno firme, ligeiramente abaixo do ponto mais profundo do viveiro e a certa distância da base do dique, para não ser obstruído por eventuais desmoronamentos. O monge pode ser também instalado na parte externa do viveiro (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994). ltura do monge deve corresponder ao nível máximo da crista do talude ou do di- que, ou seja, 30 a 60 cm acima do nível máximo da lâmina d’água do viveiro e a capacidade de escoamento ou de drenagem da tubulação ser maior que a de abas- tecimento (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994). A profundidade de tanques e viveiros situam-se entre 1,00 e 2,50 m, sendo que normalmente viveiros considerados rasos apresentam 1,00m na parte mais rasa e até 1,70m na mais profunda. Viveiros considerados fundos podem apresentar 1,50 m na parte mais rasa e até 2,50 m na mais profunda. O fundo do viveiro deve apre- sentar declividade de 0,5 a 1% (Figura 19c). Figura 19: Imagem de tanques com sistemas de abastecimento e drenagem para piscicultura. Fonte: Arquivo fotográfico do autor. Legenda: Sistema de drenagem de monges mostrando processo de enchimento do tanque com água (a); detalhe do monge com reservatório cheio, mostrando a tela contra fuga de peixes (b); e tanques vazios (c) mostrando sistema de abastecimen- to (ab) e drenagem (dr). 2.5 Criação em tanque-rede A criação de peixes em tanque-rede é uma atividade emergente, apresentando- se como mais uma alternativa para essa criação, com a utilização de recursos d’água, anteriormente não aproveitados. Entre eles, destacam-se as lagoas, lagos e grandes reservatórios públicos, geralmente provenientes de usinas hidrelétricas (SANDOVAL JÚNIOR, 2010). 39 Pronatec A gaiola ou tanque-rede deve ser construído com material flexível, resistente e durável, não abrasivo, com uma malha que não restrinja a passagem da água. Na criação de peixes confinados em tanques-rede, deve-se considerar a qualidade da água (temperatura, taxa de oxigênio, pH e concentração de amônia), a produti- vidade (no mínimo, deve haver 1m entre o fundo da gaiola e o piso no período da seca) e a velocidade da água (correntes de 10 a 20 cm/s). A velocidade
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