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Manual de Piscicultura

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Prévia do material em texto

Wesley Antunes Meireles
Psicultor
1ª edição
Montes Claros
Instituto Federal do Norte de Minas Gerais
2015
Psicultor
Wesley Antunes Meireles
Montes Claros-MG
2015
Presidência da República Federativa do Brasil
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Instituto Federal do Norte de Minas Gerais
Reitor
Prof. José Ricardo Martins da Silva 
Pró-Reitora de Ensino
Ana Alves Neta 
Pró-Reitor de Administração
Edmilson Tadeu Cassani
Pró-Reitor de Extensão
Paulo César Pinheiro de Azevedo 
Pró-Reitor de Pesquisa, 
Pós-Graduação e Inovação
Rogério Mendes Murta 
Pró-Reitor de Desenvolvimento 
Institucional
Alisson Magalhães Castro 
Diretor de Educação a Distância
Antônio Carlos Soares Martins
Coordenadora de Ensino
Ramony Maria da Silva Reis Oliveira
Coordenador de Administração e 
Planejamento
Alessandro Fonseca Câmara
Revisão Editorial
Antônio Carlos Soares Martins
Ramony Maria Silva Reis Oliveira
Rogeane Patrícia Camelo Gonzaga
Coordenação Geral Pronatec
Ramony Maria Silva Reis Oliveira
Coordenação Adjunta Pronatec
Ednaldo Liberado de Oliveira
Conteudista
Wesley Antunes Meireles
Revisor do Eixo tecnológico
 Walfredo Sérgio Carneiro
Figueiredo
Revisor de Legalidade
Maria Aparecida de Melo Miranda
 Revisor Especialista em Assuntos
Educacionais
Claudilene Campos Farias
Revisão Linguística
Ana Márcia Ruas de Aquino
 Marli Silva Fróes
Coordenação de Produção 
de Material 
Karina Carvalho de Almeida
Projeto Gráfico, Capa e Iconografia
Tatiane Fernandes Pinheiro
Editoração Eletrônica
Antonio Cristian Pereira Barbosa
Karina Carvalho de Almeida
Tatiane Fernandes Pinheiro
Welington Batista Lessa
Ícones Interativos
Utilizado para sugerir leituras, bibliografias, sites e textos para aprofundar 
os temas discutidos; explicar conceitos e informações.
Utilizado para auxiliar nos estudos; voltar em unidades ou cadernos já estu-
dados; indicar sites interessantes para pesquisa; realizar experiências.
Utilizado para indicar atividades que auxiliam a compreensão e a avaliação 
da aprendizagem dos conteúdos discutidos na unidade ou seções do caderno; 
informar o que deve ser feito com o resultado da atividade, como: enviar ao 
tutor, postar no fórum de discussão, etc. 
Utilizado para defininir uma palavra ou expressão do texto.
SUMÁRIO
Palavra do Professor-autor 9
Unidade 1 11
1.1 Histórico da piscicultura 11
1.2. Potencial brasileiro para piscicultura 14
1.3. Importância do consumo de pescado para a saúde 15
1.4. Ictiologia, conceito e princípios de classificação dos peixes 16
1.5. Principais espécies de interesse zootécnico 17
1.6 Anatomia e fisiologia dos peixes de água doce 25
Unidade 2 31
2.1 Histórico da limnologia 31
2.2 Os seres vivos no ambiente aquático 31
2.3 Principais variáveis físicas e químicas da água 33
2.4 Construções de tanques e viveiros para a piscicultura 35
2.5 Criação em tanque-rede 37
Unidade 3 40
3.1 Endocrinologia da reprodução dos peixes 40
3.2 Reprodução de peixes de caráter reofílico 44
3.3 Reprodução e inversão sexual em tilápias 49
Unidade 4 52
4.1 Nutrição de peixes de água doce 52
4.2 Principais doenças dos peixes de água doce 54
4.3 Comercialização de peixes 58
Referências Bibliográficas 62
Palavra do Professor-autor
Ricos em nutrientes, a carne de peixe é um alimento muito saudável, porém ainda 
pouco presente no prato das famílias brasileiras. Obtidos através da piscicultura 
ou pela pesca, esse alimento pode gerar fonte de renda ao produtor quando explo-
rado corretamente.
A prática da piscicultura requer conhecimentos essenciais para sua implantação e 
exploração. Identificar qual a espécie a ser cultivada e o potencial de mercado são 
os primeiros passos, mas o correto manejo durante o período de criação é indis-
pensável para bons resultados.
A piscicultura deve ser desenvolvida em ambiente agradável, livre de doenças, 
sendo que a alimentação também deve ser adequada aos peixes para que alcan-
cem seu potencial máximo de produção, ou seja, características desejáveis na 
exploração. Esse e outros assuntos serão abordados nesta disciplina com o objetivo 
de proporcionar conhecimentos suficientes aos estudantes para atuarem na área 
como piscicultores com formação voltada para o desenvolvimento sustentável e 
preservação de espécies nativas.
O IFNMG vem realizando projetos de reprodução induzida e peixamentos com es-
pécies nativas das bacias dos rios Pardo e Jequitinhonha há vários anos, junto 
com a CEMIG em convênio realizado com a Horizontes Energia e FADETEC (IFNMG 
– CAMPUS SALINAS). Esse conhecimento, no entanto, vem sendo aproveitado em 
cursos técnicos e superiores, com pouca divulgação para a população ribeirinha e 
produtores rurais.
Nessa perspectiva, o IFNMG propõe-se a oferecer o curso de formação inicial e con-
tinuada de Piscicultor, na modalidade presencial, por entender que estará contri-
buindo para a elevação da qualidade dos serviços prestados à sociedade, formando 
o Piscicultor, através de um processo de apropriação e de produção de conheci-
mentos científicos e tecnológicos, capaz de contribuir com a formação humana 
integral, sustentabilidade e com o desenvolvimento socioeconômico da região, 
bem como com os processos de democratização e justiça social.
Bom estudo a todos!
12
Psicultor
Unidade 1
1.1 Histórico da piscicultura
Durante o período pré-histórico (9.000 AC), o homem começou a se fixar em po-
voados, o que fez com que ele se reduzisse a disponibilidade da caça ao seu redor 
(ATALAY & HASTORF, 2006). Em contrapartida, a população crescia e a necessidade 
por alimento estimulou as tentativas de criação de animais, o que se considera 
os primórdios da domesticação dos animais (pecuária) e da agricultura (plantio e 
armazenamento de sementes). Entretanto, não existem sinais arqueológicos de 
atividade ligada aos peixes daquela época, que não a pesca extrativista (BOWMAN, 
1980).
O cultivo controlado de animais aquáticos pelo homem é uma atividade que teve 
início na China, há uns 4.000 anos aproximadamente, com o monocultivo da carpa 
(OSTRENSKY & BOEGER, 1998). Mas, antes disto, os chineses já utilizavam as ma-
croalgas marinhas como fonte de alimento. Documentos históricos parecem sugerir 
que os chineses, de certa forma, as cultivavam em estruturas submersas na água, 
confeccionadas com varas de bambu. Pode-se perceber, então, que o oriente foi 
o berço da aquicultura, e não é coincidência que hoje, o continente asiático res-
ponda por cerca de 90% da produção mundial dos alimentos provenientes da água, 
sendo que a China é responsável por mais da metade dessa produção (CAMARGO & 
POUEY, 2005).
No Egito, são encontradas pinturas que indicam que os antepassados desse povo 
cultivavam peixes ornamentais e tilápias capturadas no rio Nilo em tanques (OS-
TRENSKY & BOEGER, 1998). Durante o império romano, os oficiais tomavam banho 
em estruturas denominadas de “piscinas” (do latim “piscis” que significa peixe), 
que eram locais onde promoviam o cultivo de peixes e atividades esportivas aquá-
ticas (CAMARGO & JUVÊNCIO, 2005).
Quanto às atividades de pesca no Brasil, pinturas rupestres no Parque Nacional da 
Serra da Capivara, localizada no Estado do Piauí mostram desenhos de peixes e 
cenas de pesca e/ou caça com redes (Figura 1).
Figura 1: Imagens de figuras rupestres de peixes (a) e utilização de rede para pesca e/ou caça (b), no 
Parque Nacional da Serra da Capivara – PI.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
A piscicultura brasileira teve início no século XVIII, com a colonização holandesa no 
Brasil, pois algumas práticas de cultivo, como os viveiros de peixe no litoral nor-
destino, já eram realizadas (OSTRENSKY, BORGHETTI & SOTO, 2007). Na década de 
13
Pronatec
1930, pesquisas ictiológicas (estudo dos peixes) com espécies nativas foram feitas, 
com destaque para o desenvolvimento da técnica de indução hormonal de peixes 
migratórios para desova em cativeiro, de autoria do pesquisador Rodolfo Von Lhe-
ring, em 1934 (OSTRENSKY, BORGHETTI &SOTO, 2007).
Apesar destas pesquisas e da grande diversidade de espécies locais, as primeiras 
experiências de piscicultura no Brasil se limitaram à introdução de animais exó-
ticos, principalmente para povoamento de reservatórios. Assim, até a década de 
1940, foram introduzidas espécies como a carpa comum (Cyprinus carpio), a tilá-
pia (Oreochomis sp) e a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss), seguidas por outras 
espécies de carpa já na década de 1960 (OSTRENSKY; BORGHETTI & SOTO, 2007).
Contudo, esta fase foi de limitado sucesso pela falta de planejamento e observân-
cia dos limites do ambiente ou dos próprios peixes escolhidos, seja por questões de 
consumo (no caso das carpas), alta fecundidade (tilápias) ou pelas limitadas áreas 
de cultivo (trutas). A partir da década de 1970, voltou-se a investir em espécies bra-
sileiras para utilização na piscicultura. Assim, peixes como o tambaqui (Colossoma 
macropomum), o pacu (Piaractus mesopotamicus) e os piaus (Leporinus sp) começa-
ram a ganhar espaço na aquicultura nacional, apesar de não apresentarem o mesmo 
estágio tecnológico de cultivo das espécies introduzidas (WOYNAROVICH, 1983).
1.1.1 Diferenças entre aquicultura e piscicultura
Aquicultura é o processo de produção em cativeiro, de organismos com habitat 
predominantemente aquático, tais como peixes, camarões, rãs, algas, entre ou-
tras espécies (CAMARGO & POUEY, 2005).
Quando se avalia especificamente a produção de peixes, como subtipo da aquicul-
tura, está-se referindo à piscicultura. Pode-se concluir que o negócio da aquicul-
tura apresenta-se como uma atividade alternativa à prática extrativista, que tem 
ultrapassado seus limites sustentáveis, e revela-se como uma opção interessante 
para empreendedores de todos os portes (SANDOVAL JÚNIOR, 2010).
A maior diferença entre a aquicultura e a pesca está na incerteza em relação ao 
produto final. Na atividade de pesca o pescador ou a empresa de pesca não têm 
garantias em relação à qualidade e à quantidade do que irão obter (CAMARGO & 
POUEY, 2005).
1.1.2 Produção mundial e brasileira de peixes
É senso comum a ideia de que o peixe é sempre a opção mais saudável, e mais 
cara, do cardápio. Mas talvez seja hora de rever este conceito. Pela primeira vez 
na História, a produção de peixes e outros frutos do mar, em cativeiro, ultrapassou 
a de carne bovina. A informação consta de um estudo do Instituto Earth Policy em 
2012, no qual foram consumidos 66,5 milhões de toneladas de frutos do mar con-
tra 63 milhões de toneladas de carne vermelha. A Ásia, principalmente a China, 
responde pela maior parte da produção e do consumo de peixes (SEBRAE, 2012).
Produzidos em cativeiro, os peixes ficam mais baratos e a sobrepesca pode ser fre-
ada. Embora aponte uma possível nova tendência na alimentação, isso não signifi-
ca que os problemas ambientais irão acabar-se, eles apenas poderão se reinventar 
(CAMARGO & POUEY, 2005).
14
Psicultor
As informações apresentadas nesta seção demonstram o panorama da produção 
mundial de pescado e são provenientes da Organização das Nações Unidas para 
Agricultura e Alimentação (FAO), sendo disponibilizadas e acessadas através do 
programa FishStat Plus. As bases de dados foram consultadas entre fevereiro e 
outubro de 2011 e trazem informações da produção pesqueira e aquícola mundial 
para o período de 1950 a 2009. No caso do Brasil, para o ano de 2009, foram uti-
lizados os valores consolidados e apresentados no Boletim Estatístico da Pesca e 
Aquicultura - Ano 2008 e 2009, restringindo-se a este período a análise desta se-
ção, devido a não publicação dos dados referentes à produção mundial de pescado 
de 2010 pela FAO. 
A produção mundial de pescado (proveniente tanto da pesca extrativa, quanto da 
aquicultura) atingiu aproximadamente 146 milhões de toneladas em 2009 e 142 
milhões de toneladas em 2008. Os maiores produtores em 2009 foram a China com 
aproximadamente 60,5 milhões de toneladas, a Indonésia com 9.8 milhões de to-
neladas, a Índia com 7,9 milhões de toneladas e o Peru com cerca de 7 milhões de 
toneladas. O Brasil, neste contexto, contribuiu com 1.240.813 t em 2009, repre-
sentando 0,86% da produção mundial de pescado (SEBRAE, 2012).
Em 2008, a produção de pescado nacional contribuiu com 0,81% do total produzido 
no mundo. Com este aumento no percentual de contribuição da produção total de 
pescado mundial de 2008 para 2009, o Brasil ganhou quatro posições e passou a 
ocupar o 18° lugar no ranking geral dos maiores produtores de pescado do mundo. 
Considerando-se apenas os países da América do Sul, fica evidente que a produção 
de pescado dos países que pescam no oceano Pacífico são bem superiores à produ-
ção brasileira. O Peru registrou uma produção em torno de 7 milhões de toneladas, 
seguido pelo Chile, com aproximadamente 4,7 milhões de toneladas. Neste crité-
rio, o Brasil aparece em terceiro lugar, logo à frente da Argentina que produziu 
cerca de 862 mil toneladas de pescado (Quadro 2).
Quadro 2. Produção de pescado (t) mundial dos trinta maiores produtores em 2008 e 2009.
Posição Páis Produção em 2008 (t) Produção em 2009 (t)
1º China 57.827.108 60.474.939
2º Indonésia 8.860.745 9.815.202
3º Índia 7.950.287 7.845.163
4º Peru 7.448.994 6.964.446
5º Japão 5.615.779 5.195.958
6º Filipinas 4.972.358 5.083.131
7º Vietnã 4.585.620 4.832.900
8º Estados Unidos 4.856.867 4.710.453
9º Chile 4.810.216 4.702.902
10º Rússia 3.509.646 3.049.267
11º Mianmar 3.168.562 3.545.186
12º Noruega 3.279.730 3.486.277
13º Coréia do Sul 3.358.475 3.199.177
14º Tailândia 3.204.293 3.137.682
15º Bangladesh 2.563.296 2.885.864
16º Malásia 1.757.348 1.871.971
17º México 1.745.757 1.871.971
18º Brasil 1.156.423 1.240.813
19º Marrocos 1.003.823 1.173.832
20º Espanha 1.167.323 1.171.508
21º Islândia 1.311.691 1.169.597
22º Canadá 1.108.049 1.107.123
23º Egito 1.067.631 1.079.501
24º Taiwan 1.347.371 1.060.986
25º Argentina 997.783 862.543
26º Dinamarca 725.549 811.882
27º Reino Unido 775.194 770.086
28º Nigéria 744.575 751.006
29º Coréia do Norte 713.250 713.350
30º Equador 641.824 696.763
15
Pronatec
1.2. Potencial brasileiro para piscicultura
Com 8,5 mil quilômetros de costa, além de uma infinidade de rios e lagos, que 
correspondem a 13,7% da água doce do mundo, o Brasil concentra uma gigantesca 
biodiversidade aquática, conferindo ao país um grande potencial pesqueiro. Ape-
sar disso, 60% dos peixes que os brasileiros consomem são importados de outros 
países da América do Sul, Ásia e Europa. Diversos fatores, desde a cultura de pesca 
no país, até dificuldades de transporte ajudam a explicar por que esse fenômeno 
acontece (SEBRAE, 2012).
Um dos critérios que põem dificuldades na produção de peixes no país se refere à 
dificuldade e aos altos custos do processamento e transporte do peixe no Brasil. 
Acaba sendo mais fácil uma rede de supermercados importar um peixe cortado e 
embalado do que comprar a pescada branca da região Norte ou Nordeste do país. 
Essa dificuldade se deve aos custos altos cobrados pelos frigoríficos brasileiros, 
além das condições ruins das estradas e o transporte aéreo, que é muito caro den-
tro do país (SANDOVAL JÚNIOR, 2010).
Também, a cultura de pesca no Brasil colabora para essa realidade, a maior parte 
da pesca no país é artesanal. Por não realizarem uma atividade industrial, esses 
pescadores não possuem frigoríficos próximos, além de estrutura para o armaze-
namento dos peixes. Esses problemas impedem um transporte maior dessa carne 
para os principais mercados consumidores do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e 
Brasília (SEBRAE, 2012).
Para o Ministério de Pesca e Aquicultura, a atividade foi planejada tardiamente 
no Brasil. Enquanto pesquisas para melhoramento de grãos e gado bovino são de-
senvolvidas há algumas décadas, as pesquisas para melhorar a pesca no país são 
recentes. O próprio Ministério da Pesca e Aquicultura foi criado em 2009, enquanto 
o da Agricultura existe desde 1860 (SEBRAE, 2012).
De acordo com o Ministério de Pesca e Aquicultura,existem cerca de um milhão 
de pessoas que dependem da pesca para viver no Brasil. Desde 2003, o governo 
realiza cursos de especialização com esses pescadores, além de alfabetização e da 
criação de telecentros, que levam internet para as comunidades pesqueiras. Mas 
ainda não é o suficiente. As dificuldades que os pescadores enfrentam para vender 
seu produto os fazem cada vez mais pobres, sendo que o governo precisa investir 
mais na área, para dar algum futuro a essas pessoas (SANDOVAL JÚNIOR, 2010).
Nos últimos anos, o potencial brasileiro para a aquicultura começou a ser explo-
rado. Atualmente, cinco, das 200 grandes represas do Brasil tiveram parte de sua 
área destinada à produção de peixes. Estados estão simplificando a legislação para 
que produtores criem peixe em suas fazendas. Anteriormente, um fazendeiro pre-
cisava de uma autorização para isso, que chegava a demorar cinco anos para ser 
emitida. Hoje, o Estado de São Paulo não exige mais autorização para fazendas 
que destinem até cinco hectares para produção de peixes, e a tendência é que a 
medida se espalhe para outras regiões do Brasil (CAMARGO & POUEY, 2005).
A produção aquícola brasileira no ano de 2011 apontou uma predominância na 
produção de pescado continental com 87% (544.490 toneladas) sobre a produção 
marinha que contribuiu apenas com 13% (84.214 toneladas). A região sul foi a 
maior produtora com 28%, seguido pelo nordeste (25%), norte (17%), sudeste (16%) 
e centro-oeste (14%). Nota-se o crescimento das regiões nordeste e norte nos úl-
timos anos, justificado pelos investimentos realizados pelo governo e iniciativa 
privada (SEBRAE, 2012).
16
Psicultor
Quanto à produção nacional de pescados, de acordo com o SEBRAE (2012), o maior 
produtor é o estado do Paraná (14%), seguido por Santa Catarina (10%), Mato Gros-
so (9%), São Paulo (8%), Ceará (7%), Maranhão (6%), Amazonas (5%), Rio Grande do 
Sul (5%), Minas Gerais (5%), Roraima (5%), Bahia (4%), Piauí (3%), Goiás (3%), Mato 
Grosso do Sul (2%), Tocantins (2%) e os outros estados (14%).
1.3. Importância do consumo de pescado para a saúde
Atualmente, a produção de alimentos através da aquicultura vem gerando pro-
funda atenção da sociedade, levando ao desenvolvimento de pesquisas sobre a 
qualidade sanitária do alimento, o sistema de produção utilizado e o impacto cau-
sado por essa atividade no ambiente. Dessa forma, instituições como o Ministério 
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento vêm criando algumas disposições para 
garantir a segurança alimentar e o fornecimento de produtos da aquicultura com 
qualidade superior ou, no mínimo, igual à dos produtos advindos do ambiente na-
tural (OSTRENSKY, BORGHETTI & SOTO, 2007).
As famílias de óleos da série (ácidos graxos) ômega-3 e ômega-6 consistem de óleos 
contendo de 18 a 22 carbonos. Os principais óleos da série ômega-3 são o ácido 
linolênico, o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA), en-
quanto os principais da série ômega-6 são o ácido linoléico e o ácido araquidônico 
(OETTERER DE ANDRADE & CAMARGO, 1984).
Como o organismo não consegue produzir esses óleos em quantidade suficiente, 
retira dos alimentos que são ingeridos. O óleo ômega-3 existe em grandes con-
centrações nos peixes e nos frutos do mar, mas também pode ser encontrado em 
alguns vegetais como a soja e o gergelim. O peixe de água salgada é mais rico em 
ômega-3 porque se alimenta de plânctons (algas e microcrustáceos) que possuem 
grandes concentrações desses óleos (OLIVEIRA, LUZIA & RONDÓ, 2012). 
Benefícios nutricionais e medicinais do EPA e DHA têm sido discutidos em muitos 
artigos científicos e conferências, como a prevenção e tratamento de doenças car-
diovasculares, hipertensão, inflamações em geral, asma, artrite, psoríase e vários 
tipos de câncer. Os efeitos de proteção à saúde humana, produzidos pelo consumo 
de peixe ou do óleo de peixe, são atribuídos à presença de óleos ômega-3, princi-
palmente EPA e DHA (OETTERER DE ANDRADE & CAMARGO, 1984).
A curiosidade sobre o ômega-3 começou em 1936, quando dois cientistas dinamar-
queses mostraram ao mundo um estudo realizado em tribos de “esquimós” (povos 
Inuítes) na Groenlândia. A pesquisa apontou um baixíssimo índice de doenças car-
díacas, apesar da alimentação extremamente rica em gorduras. Observando os 
hábitos alimentares desse povo, os médicos concluíram que o consumo de peixe e 
de outros animais marinhos, como a foca e a baleia, oferecia uma proteção extra 
para o coração e para os vasos sanguíneos. Na década de 1970, então foi descober-
to que essa proteção era proporcionada por um conjunto de óleos presentes nesses 
animais (SANTOS & BORTO-LOZO, 2008).
No que diz respeito à formação de tromboses, estudos médicos têm demonstrado 
que efeitos anti-coagulantes podem ser atribuídos a um aumento dos óleos ôme-
ga-3 na dieta. Esta é uma entre as várias funções dos óleos ômega-3, que atuam 
no sistema cardiovascular e contribuem para a redução da tendência de formação 
de trombos graças à sua ação anti-inflamatória (OLIVEIRA, LUZIA & RONDÓ, 2012).
17
Pronatec
Sem dúvida, o conhecimento sobre a importância dos óleos da série ômega-3 terá 
um efeito profundo no desenvolvimento da aquicultura comercial. O aumento da 
criação de peixes em cativeiro vem gerando uma expansão desta área em nível 
comercial, e para que esta indústria se desenvolva e seja valorizada por seus pro-
dutos é preciso dar maior ênfase à divulgação dos benefícios do consumo de pei-
xe para a saúde humana, formando uma nova imagem sobre a importância e as 
qualidades do peixe de cultivo como alimento funcional para a população humana 
(SANTOS & BORTO-LOZO, 2008).
1.4. Ictiologia, conceito e princípios de classificação dos 
peixes
A palavra ictiologia é o ramo da zoologia devotado ao estudo dos peixes, ou seja, 
estuda os peixes do ponto de vista da sua posição sistemática (NOMURA, 1976). No 
entanto, os peixes são igualmente estudados no âmbito da ecologia, da biologia 
pesqueira, da fisiologia e doutros ramos da biologia.
No nosso caso, não vamos descrever a classificação de todos peixes, no entanto, 
passamos a descrever sobre a classe Osteichthies, formada pelos peixes ósseos, e 
a subclasse Actinopteryggi que são os peixes com raios nas nadadeiras, ou seja, os 
“teleósteos”, que incluem a maioria das ordens de peixes atuais e objeto do nosso 
estudo.
Para a lista mais aceita das ordens dos peixes – incluindo as que são classificadas 
nos diferentes grupos mencionados acima – consultar a sempre o site http://www.
fishbase.org/search.php que é uma biblioteca chamada de FishBase onde existem 
as chaves de classificação das espécies do mundo inteiro.
De acordo com REIS, KULLANDER & FERRARIS JÚNIOR (2003), os peixes ainda po-
dem ser classificados em diversas ordens, no entanto, para facilitar nossos es-
tudos, destacamos apenas as quatro mais importantes das espécies de interesse 
zootécnico estudadas mais adiante, que são: Perciformes (tilápias e tucunarés), 
Characiformes (tambaqui, pacu, traíra, lambaris, piaus etc.), Siluriformes (suru-
bins e bagres) e Salmoniformes (trutra arco-íris).
Os Perciformes incluem cerca de 40% de todos os peixes e constituem a maior or-
dem de vertebrados. Estão presentes em quase todos os ambientes aquáticos (do-
ces e marinhos), contendo 20 subordens, 160 famílias e mais de 10.000 espécies. 
As características que unem as famílias pertencentes a essa ordem são: presença 
de espinhos nas nadadeiras dorsal e anal; um espinho e cinco ou menos raios na 
nadadeira pélvica; ausência de nadadeira adiposa; presença de 17 ou menos raios 
principais na nadadeira caudal; e presença de quatro arcos branquiais. As tilápias, 
acarás e tucunarés pertencem a essa ordem (REIS, KULLANDER & FERRARIS JÚ-
NIOR, 2003).
Characiformes é uma ordem de peixes constituída por aproximadamente 270 gê-
neros e mais 1500 espécies entre os quais estão piranha, lambari, curimbatá, dou-
rado, etc. O grupo é exclusivo de ambientes de água doce e tem representantes 
naÁfrica e na América (do sul da América do Norte, América Central e América do 
Sul). Esta Ordem destaca-se tanto pela grande diversidade de espécies, como pela 
grande diversidade morfológica, ecológica e de amplitude de tamanho. Em geral 
os Characiformes apresentam corpo recoberto por escamas; nadadeira adiposa; 
nadadeira pélvica com raios variando de 5-12; nadadeira anal de curta a mode-
18
Psicultor
radamente longa, podendo ter até 45 raios; linha lateral curvada para baixo, às 
vezes incompleta (EIGENMANN, 1921).
Os Siluriformes são peixes caracterizados pelo corpo sem escamas, revestido por 
pele nua ou placas ósseas, e por apresentarem também barbilhões ao redor da 
boca, normalmente em três pares (um par na maxila e dois mentonianos). Os den-
tes são pequenos e curvos, agrupados em faixas ou placas semelhantes a uma lixa. 
As nadadeiras peitorais e dorsal são geralmente guarnecidas com espinhos providos 
de serras nas margens. Muitas espécies apresentam o corpo achatado dorsoventral-
mente, adaptado à vida bentônica. A maioria possui hábitos noturnos ou crepus-
culares. Muitas são carnívoras, no entanto, algumas alimentam-se principalmente 
de algas (lodo), que são raspadas de folhas, pedras ou galhos submersos. Várias 
espécies têm a capacidade de respirar o ar atmosférico, o que lhes possibilita ha-
bitar ambientes não suportados por outros grupos de peixes (FERREIRA, ZUANON 
& SANTOS, 1998). Essa ordem apresenta 31 famílias, com cerca de 400 gêneros e 
aproximadamente mais de 2.000 espécies. Na América do Sul essa ordem é cha-
mada popularmente de “bagres”, enquanto na cultura anglo-saxônica é chamada 
de “catfish”. Pertencem a essa ordem, os surubins, bagres e cascudos (FERRARIS, 
2007).
Os Salmoniformes ocorrem em todos os ambientes aquáticos, de água doce à sal-
gada, sendo que a maioria das espécies vivem no mar, regressando aos rios onde 
nasceram para desovar e morrer de seguida. Originalmente, esses peixes são oriun-
dos de águas frias do Hemisfério Norte, mas foram introduzidos em quase todos 
os continentes uma vez que muitas espécies têm valor comercial ou desportivo. O 
grupo inclui 66 espécies divididas em 11 gêneros, destacando-se nessa ordem, a 
truta arco-íris que foi implantada em diversas áreas de clima temperado no Brasil, 
como Campos do Jordão/SP e na Serra da Mantiqueira em Minas Gerais e Espírito 
Santo (LAZZAROTTO & CARAMASCHI, 2009).
Os peixes, como outros animais, recebem uma nomenclatura binomial ou binária 
que designa, nas ciências biológicas, o conjunto de normas que regulam a atri-
buição de nomes científicos às espécies de seres vivos (HICKMANN JUNIOR et al., 
2004). Chama-se binominal porque o nome de cada espécie é formado por duas 
palavras: o nome do gênero e o restritivo específico, normalmente um adjetivo 
que qualifica gênero. A utilização do sistema de nomenclatura binomial é um dos 
pilares da classificação científica dos seres vivos sendo regulada pelos códigos es-
pecíficos da nomenclatura zoológica, botânica e microbiológica. Foi primeiramen-
te proposta pelo naturalista suíço Gaspard Bauhin, no século XVII e formalizada por 
Carlos Lineu no século seguinte (HICKMANN JR et al., 2004). Os nomes utilizados 
são em latim, ou numa versão latinizada da palavra ou das palavras que se pre-
tende utilizar. O nome genérico e o epíteto específico devem sempre ser escritos 
em tipo itálico, ou, na sua indisponibilidade, ser sublinhados, sendo, sempre que 
possível, seguidos pelo autor ou autores da descrição (em geral, referido como a 
“autoridade”). Algumas vezes, identificamos a abreviatura “sp.” em textos de 
zoologia, sendo usada quando o nome da espécie não pode ou não interessa ser 
explicitado. A abreviatura “spp.” (plural) indica “várias espécies”. Por exemplo: 
Brycon sp. significa “uma espécie do gênero Brycon”.
1.5. Principais espécies de interesse zootécnico
A primeira premissa para o planejamento de qualquer empresa é estabelecer ob-
jetivos claros, que, no caso da criação de peixes é essencial saber para quem se 
19
Pronatec
vai produzir (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). O perfil do consumidor vai designar 
quase tudo, como exemplo, quais as espécies a serem criadas e que terão mais 
aceitação no início do empreendimento. O consumidor é também quem vai deter-
minar o tamanho de sua criação, a partir da estimativa de potencial de consumo. A 
comercialização de peixes é feita para restaurantes, feiras livres, supermercados, 
peixarias e pesque-pague, tipo de negócio derivado da piscicultura, voltado para o 
lazer e que vem se desenvolvendo de forma acelerada será analisado em capítulo 
à parte (SEBRAE, 2012).
Para que uma espécie de peixe seja considerada adequada para o cultivo, ela deve 
apresentar algumas características às quais o produtor deve estar sempre atento. 
A primeira destas características é que a espécie deve ser facilmente propagáveis, 
natural ou artificialmente, isto é, poder produzir anualmente um grande número 
de alevinos (WOYNAROVICH & HOVARTH, 1983). Também é importante apresentar 
bom crescimento em condições de cativeiro e ser resistente ao manejo e às enfer-
midades mais comuns. As orientações técnicas também indicam ser necessário que 
estas espécies apresentem um hábito alimentar onívoro, herbívoro, iliófago, de-
tritívoro, fitoplantófago, zooplantófago ou plantófago. Se a espécie for carnívora, 
ela deverá ser de alto valor comercial e aceitar alimento não vivo, de preferência 
ração extrusada. Outro ponto muito importante, e que deve servir como peso da 
balança para a escolha da espécie, é que ela deve ter boa aceitação no mercado. A 
seguir, de forma bastante resumida, apresentamos as características das espécies 
mais facilmente encontradas nas unidades produtoras de alevinos no Brasil, atual-
mente (OSTRENSKY & BOEGER, 1998).
1.5.1 Tilápia do Nilo.
Entre as várias espécies existentes, essa é a mais utilizada para o cultivo, por 
apresentar um melhor desempenho, principalmente os machos. É um peixe africa-
no muito rústico e com carne saborosa, possuindo hábito alimentar planctófago e 
detritívoro, alimentando-se, em primeiro lugar, do plâncton e em menor proporção 
de detritos orgânicos, aceita bem rações artificiais. Atinge cerca de 400 gramas a 
600 gramas no período de seis a oito meses de cultivo. É também utilizado como 
peixe forrageiro, servindo de alimento na criação de peixes carnívoros. A maior 
restrição ao seu cultivo é sua reprodução precoce, a partir de quatro meses de ida-
de, o que gera o superpovoamento de tanques. Este problema pode ser contornado 
com a utilização apenas de alevinos machos, sexados manualmente ou revertidos 
através de hormônios sexuais, que são facilmente encontrados em vários fornece-
dores de alevinos (OSTRENSKY & BOEGER, 1998). A tilápia mais utilizada pertence 
à espécie Oreochromis niloticus, no entanto, híbridos genéticos do mesmo gênero 
vêm sendo cultivados, como a tilápia vermelha (Saint Peter) e as tailandesas (Su-
preme e Chitralada) conforme Figura 2.
Figura 2: Imagem de um exemplar de tilápia, variedade Chitralada (Oreochromis sp).
Fonte: http://loucosporpesca.com.br/wordpress/?p=2446.
20
Psicultor
1.5.2 Tambaqui e tambacu
O tambaqui (Colossoma macropomum) é uma das principais espécies do rio 
Amazonas, podendo alcançar até 20 kg. Tem a carne bastante apreciada e se adapta 
bem ao cativeiro, onde atinge, em condições ideais de temperatura e alimentação, 
até 1,4 kg em um ano. Com crescimento mais rápido que o pacu, porém menos 
resistente ao frio, registra alta mortalidade em temperaturas abaixo de 15ºC. É 
um peixe onívoro, aceitando bem rações comerciais, sendo de piracema e não 
desova naturalmente em cativeiros (Figura 3). O tambacu, ou paqui, é um híbrido 
resultante do cruzamento da fêmea de tambaqui com o macho do pacu. Menos 
sensível que o tambaqui ao clima subtropical, pode adaptar-se a temperaturas 
abaixo de 20ºC. Mas se esse híbrido for fértil e escapar para a natureza, ameaça o 
futuro das duas espécies das quais se originou.Tanto o tambaqui quanto o tambacu 
têm carne saborosa e aceitam bem a ração em cativeiro (SANDOVAL JÚNIOR, 2010).
Figura 3: Imagem de um exemplar de tambaqui (Colossoma macropomum).
Fonte: http://www.fishbase.org/Photos/PicturesSummary.php?ID=263&what=species .
1.5.3 Pacu
O pacu (Piaractus mesopotamicus), também conhecido como pacu-caranha, na 
região Centro-Oeste, e pacu-guaçu, no Sudeste, é um peixe originário da Bacia do 
Prata, habitando principalmente os rios do Pantanal Mato-grossense, onde chega 
a atingir até 18 quilos. Desenvolve-se melhor em ambientes com temperaturas 
entre 20 a 30ºC, mas resiste bem a temperaturas abaixo de 20ºC. É um peixe oní-
voro, podendo ser alimentado com frutas, sementes, grãos, pequenos moluscos, 
crustáceos, insetos e também com ração com 22% a 30% de proteína bruta. Peixe 
de piracema, só se reproduz em cativeiro com indução artificial, sendo que nos 
viveiros pode ultrapassar 1,1 kg em um ano de cultivo (Figura 4). Sua carne é muito 
saborosa, podendo apresentar acúmulo de gordura se receber alimentação muito 
rica em proteínas e quando cultivado com as carpas, costuma comer as nadadeiras 
das mesmas (SANDOVAL JÚNIOR, 2010).
Figura 4: Imagem de um exemplar de Pacu (Piaractus mesopotamicus).
Fonte: http://www.fishbase.org/Photos/PicturesSummary.php?ID=55383&what=species.
21
Pronatec
1.5.4 Curimbatá
Também chamado de curimba, corumbatá, grumatá, curimatá ou curimatá, é um 
peixe muito conhecido do Rio Grande do Sul até o Nordeste do país. No entanto, 
existem várias espécies diferentes, destacando-se o Prochilodus affinis no rio São 
Francisco, Prochilodus hartii no rio Jequitinhonha (Figura 5), Prochilodus vimboi-
des no rio Doce, Prochilodus brevis nos rios do Nordeste, Prochilodus lineatus na 
bacia do Prata e Prochilodus nigrigans na bacia amazônica. Cresce melhor em 
viveiros grandes, podendo atingir até 800 gramas no primeiro ano Têm hábito ali-
mentar iliófago, isto é uma espécie de fundo de tanque, sua carne tem ligeiro gos-
to de terra. No policultivo, onde é utilizado como espécie secundária, sua função 
é remover o lodo, liberando os gases tóxicos e colocando a matéria orgânica em 
suspensão, o que ajuda a adubar os tanques (SANDOVAL JÚNIOR, 2010).
Figura 5: Imagem de um exemplar de curimbatá (Prochilodus hartii).
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
1.5.5 Carpa comum
Espécie de origem asiática (Cyprinus carpio) cultivada praticamente em todo o 
mundo, possuindo qualidades importantes para produção em viveiros, como resis-
tência a doenças, facilidade de manejo e reprodução. Em algumas regiões do Brasil 
seu sabor e aparência não são bem aceitos pelos consumidores. As variedades mais 
cultivadas são a carpa escama, a espelho e a colorida (Figura 6), sendo esta última 
mais apreciada para fins decorativos. Têm hábito alimentar bentófago e onívoro, 
ou seja, alimenta-se de preferência de pequenos vermes, minhocas e moluscos que 
vivem no fundo dos tanques e se adapta bem aos mais diferentes tipos de alimen-
tos. As carpas apresentam crescimento rápido, atingindo facilmente 1,5 kg em um 
ano. Podendo ser utilizadas em policultivo, se reproduzam em viveiros, apresen-
tando uma desova por ano. Artificialmente podem ser feitas mais de duas desovas 
ao ano (OSTRENSKY, BORGHETTI & SOTO, 2007).
Figura 6: Imagem de um exemplar de carpa (Cyprinus carpio).
Fonte: http://www.fishbase.org/photos/PicturesSummary.php?StartRow=3&ID=1450&what=species&TotRec=22.
22
Psicultor
1.5.6 Bagre africano
Vem se popularizando em viveiros por resistir a baixos níveis de oxigenação na 
água, pois pode sobreviver e deslocar-se, ficando fora da água por longos períodos 
respirando ar atmosférico através de pseudopulmões. E dono de alta conversão 
alimentar, aceita de zooplâncton até pequenos peixes, rações artificiais e vísceras 
de outros animais. Chega a crescer até mais de 1 kg no primeiro ano. Seu nome 
científico é Clarias gariepinus, possuindo carne avermelhada e com pouca gordura, 
atingindo um quilo em um ano (Figura 7). Atinge a maturidade sexual com nove 
meses de idade, mas sua reprodução tem que ser induzida (OSTRENSKY & BOEGER, 
1998). O IBAMA proíbe seu cultivo em boa parte do território brasileiro, sendo que 
para cultivar esta espécie, portanto, é fundamental consultar o Instituto ambien-
tal na região em que se pretende implantar o cativeiro (IBAMA, 1998).
Figura 7: Imagem de um exemplar de bagre africano (Clarias gariepinus).
Fonte: http://www.fishbase.org/photos/PicturesSummary.php?StartRow=1&ID=1934&what=species&TotRec=16.
1.5.7 Piau
Esse peixe nativo, muito apreciado pelo sabor de sua carne, tem desaparecido dos 
rios e despertado o interesse no seu cultivo. As espécies geralmente cultivadas 
são o piau verdadeiro (Leporinus sp.), o piauçu e a piapara (Leporinus elongatus) 
(Figura 8). Tem hábito alimentar onívoro, aceitando bem os grãos e as rações ar-
tificiais. Apresenta um bom crescimento, chegando a 800 gramas e até a 1 kg no 
período de um ano (SANDOVAL JÚNIOR, 2010).
Figura 8: Imagem de um exemplar de piapara (Leporinus elongatus).
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
1.5.8 Cascudos
Ele é rústico, esquisito, pouco estudado e vem chamando a atenção de cientistas 
pela importância bio-econômica. Capaz de repovoar com matéria orgânica um rio 
poluído, o cascudo (Hypostomus sp.) ainda é pouco explorado comercialmente. 
Mas sua carne nutritiva ainda pode conquistar o paladar do brasileiro, fazendo-o 
deixar sua condição de peixe de aquário (SANCHES et al., 2011).
23
Pronatec
O cascudo pertence à família Loricariidae. Seu corpo delgado é revestido por pla-
cas ósseas ao invés de escamas. Também chamados de acaris, são peixes que vivem 
no fundo de rios rochosos de água doce e alimentam-se de algas e lodo presentes 
em pedras e troncos de árvores. Para isso, usam os lábios alargados em forma de 
ventosa e as maxilas com uma série de dentículos adaptados a raspar os alimentos 
do substrato (Figura 9). O pouco conhecimento sobre a distribuição destes peixes 
nos rios da América do Sul e a falta de revisões mais recentes deste grupo são 
problemas que dificultam a identificação de novas espécies. Na bacia do rio São 
Francisco, atualmente o cascudo preto (Rhinelepis aspera) está sendo reproduzido 
e com sua carne apreciada pela população ribeirinha (SANCHES et al., 2011).
Figura 9: Imagem de um exemplar de acari (Hypostomus affinis).
Fonte: http://www.fishbase.us/photos/UploadedBy.php?autoctr=18731&win=uploaded.
1.5.9 Surubins
O gênero Pseudoplatystoma compreende os maiores peixes da família Pimelodi-
dae, da ordem dos Siluriformes, e esses podem ser encontrados nas principais ba-
cias hidrográficas sul-americanas; regionalmente são conhecidos como “surubins” 
(ROMAGOSA et al., 2003). Sua distribuição inclui os maiores rios das bacias hidro-
gráficas da América do Sul: o rio Paraná, Amazonas, Orinoco, São Francisco, entre 
outros (BURGESS, 1989). Possui hábito noturno e estritamente piscívoro, sendo 
de grande importância econômica, é considerado um dos peixes de água doce de 
maior valor comercial. A diminuição dos estoques naturais vem impulsionando sua 
produção em cativeiro.
Até os dias atuais considerava-se que esse gênero era constituído apenas pelas 
espécies: Pseudoplatystoma coruscans (pintado) da bacia do Prata e São Francisco 
(Figura 10), Pseudoplatystoma fasciatum (cachara) da bacia do Prata e Amazônica 
e Pseudoplatystoma tigrinum (caparari), somente da bacia Amazônica (PETRERE, 
1995).
Iniciativas com o objetivo da domesticação e conservação do Pseudoplatysto-
ma corruscans começaram a produzir resultados satisfatórios (MIRANDA & RIBEI-
RO,1997) a partir da década de 1990. Hoje, é possível encontrar pesqueiros que 
comercializam surubins produzidos em cativeiro, bem como estações de piscicultu-
ra de órgãos governamentais produtoras e distribuidoras de alevinos desta espécie, 
tanto para produção como para repovoamento de rios (SATO & GODINHO, 2003). 
O cachapinta (cruzamento de fêmea de cachara com machode pintado) e o pinca-
chara (cruzamento de fêmea de pintado com macho de cachara) são importantes 
híbridos que vêm sendo cultivados em pisciculturas no lugar das espécies puras. 
Segundo os produtores de alevinos, isto se deve ao fato de esses serem mais dó-
ceis, aprenderem a se alimentar mais facilmente e possivelmente apresentarem 
taxa de crescimento mais elevada (CREPALDI et al., 2006). Os híbridos têm sido 
24
Psicultor
cultivados em todo o Brasil e já vêm sendo encontrados na natureza (como no rio 
Paraná e Jequitinhonha), provavelmente devido a escapes de pisciculturas. Exis-
tem preocupações sobre seu impacto nas espécies naturais, havendo a possibilida-
de de contaminação genética por introgressão (CARVALHO et al., 2008).
Os surubins são peixes nobres, conhecidos e valorizados no mercado nacional, por 
sua carne branca, de sabor suave e sem espinhas. Ao contrario de peixes como a 
tilápia, que é produzida em muitos países, este não têm seu preço final de venda, 
indexado aos valores mundiais de comércio de carnes. Seu preço é designado pelo 
produtor, pois a sua produção, ainda é bastante inferior à demanda do mercado. 
Sem dúvidas, a criação de surubins tem se demonstrado um negócio lucrativo, se-
guro e com fácil comercialização do produto final (CREPALDI et al., 2006).
Figura 10: Imagem de um exemplar de surubim (Pseudoplatystoma corruscans).
Fonte: http://www.fishbase.org/Photos/PicturesSummary.php?StartRow=0&ID=8674&what=species&TotRec=2.
1.5.10 Os lambaris
Lambari é a designação vulgar de várias espécies de peixes do gênero Astyanax, 
família Characidae, comum nos rios, lagoas, córregos e represas do Brasil. Seu 
tamanho médio é entre os 10 e os 15 centímetros de comprimento, possuindo um 
corpo prateado e nadadeiras com cores que variam conforme as espécies, sendo 
mais comuns os tons de amarelo, vermelho e preto (REIS, KULLANDER & FERRARIS 
JÚNIOR, 2003).
São considerados como uma iguaria e também são utilizados como iscas na pesca 
de peixes maiores. São peixes onívoros e a base da alimentação de diversos pei-
xes predadores. As espécies mais conhecidas são o Astyanax altiparanae (lambari 
tambiú) presente na bacia do Prata, Astyanax fasciatus (lambari do rabo verme-
lho) em quase todas as bacias brasileiras, Astyanax bimaculatus (lambari do rabo 
amarelo) na bacia do São Francisco, Astyanax brevirhinus (piabinha) na bacia do 
Jequitinhonha (Figura 11).
Figura 11: Imagens de exemplares de lambaris (Astyanax brevirhinus).
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
25
Pronatec
1.5.11 Truta arco-íris
A truta-arco-íris (Oncorhynchus mykiss) é um salmonídeo originário dos rios da 
América do Norte que drenam para o Oceano Pacífico, mas que se encontra distri-
buída atualmente por todo o mundo. A espécie foi introduzida em pelo menos 45 
países, como peixe de aquicultura, destacando-se as regiões frias montanhosas do 
Brasil, como a Serra da Mantiqueira (LAZZAROTTO & CARAMASCHI, 2009).
As trutas arco-íris são peixes de água doce e têm o corpo acastanhado ou amarela-
do, com pintas pretas na zona do dorso, também presentes nas barbatanas dorsal 
e caudal. Como característica distintiva ela tem uma linha rosada que se prolonga 
das brânquias à barbatana caudal (Figura 12). A truta arco-íris tem um compri-
mento entre 30 e 45 cm. A espécie é cultivada na piscicultura e uma das mais 
consumidas nos mercados ocidentais. É um peixe muito cobiçado por pescadores 
esportivos, por ser um peixe muito combatente e astuto, principalmente por parte 
dos praticantes da pesca esportiva (LAZZAROTTO & CARAMASCHI, 2009).
Figura 12: Imagem de um exemplar de truta arco-íris (Onchrhynchus mykiss).
Fonte: http://www.fishbase.org/photos/PicturesSummary.php?StartRow=6&ID=239&what=species&TotRec=21.
1.5.12 Pirarucu
Típico dos rios que cortam a Amazônia, o pirarucu (Arapaima gigas) já alcançou 
outras moradas pelo território nacional. Há exemplares no Nordeste, Centro-Oeste 
e em parte do Sudeste. O pescado ainda tem a seu favor a característica de se dar 
bem em águas com diferentes níveis de pH e concentração de sais minerais. Con-
tudo, mesmo dotado de bexiga natatória altamente vascularizada, que é utilizada 
como pulmão, o pirarucu necessita de água com bom teor de oxigênio para não ter 
seu crescimento prejudicado (IMBIRIBA et al., 1996).
Um dos maiores peixes de água doce, o pirarucu pode ultrapassar 2 metros de com-
primento e pesar mais de 200 kg, vivendo em águas calmas e em rios de correnteza 
fraca (Figura 13). Pelas vantagens comerciais, o pirarucu tornou-se presa cobiçada 
pela pesca predatória, sendo a criação em cativeiro uma alternativa para manter 
os estoques da espécie (IMBIRIBA et al., 1996).
Porém, antes de iniciar a criação de pirarucu em regiões fora da Amazônia, o pro-
dutor precisa consultar o órgão ambiental de seu Estado sobre a permissão para a 
atividade, de acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Presente na 
lista de animais ameaçados de extinção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e 
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o pirarucu tem seu manejo sob a orien-
tação da entidade.
26
Psicultor
Figura 13: Imagem de um exemplar juvenil de pirarucu (Arapaima gigas).
Fonte: http://www.fishbase.us/photos/UploadedBy.php?autoctr=7943&win=uploaded.
1.6 Anatomia e fisiologia dos peixes de água doce
A classe dos peixes possui 25.000 espécies, sendo considerados como os primeiros 
animais vertebrados, isto é, animais cordados que possuem um esqueleto ósseo 
(impregnado de cálcio) ou cartilaginoso (impregnado de matéria orgânica). Na 
grande maioria dos peixes, o corpo é achatado lateralmente; em alguns, como nas 
raias, achatados dorso-ventralmente, e protegidos por escamas que são sempre 
formadas pela pele (BONE & MARSHALL, 1982). A respiração é feita por brânquias, 
mas existem alguns peixes pulmonados, como a piramboia. A flutuação dos peixes 
é auxiliada por um órgão especial, a bexiga natatória, situado na frente do apare-
lho digestivo e ligado ao esôfago, e que se enche com uma mistura de nitrogênio, 
oxigênio e gás carbônico. Alguns peixes, porém, não possuem a bexiga natatória 
(HICKMAN JUNIOR et al., 2004).
Os sentidos são representados por dois olhos, ouvidos com canais semicirculares 
(órgãos de equilíbrio), e geralmente pela linha lateral que percorre a parte lateral 
do corpo e permite sentir vibrações da água e audição (BONE & MARSHALL, 1982).
A reprodução é sempre sexuada e, em geral, externa, havendo poucas exceções, 
sendo que as células masculinas e femininas são lançadas na água, onde se unem, 
formando um número de ovos muito grande. As águas estariam superpovoadas se 
a maioria dos filhotes não fosse comida por outros animais antes de chegarem ao 
estágio adulto (BONE & MARSHALL, 1982).
1.6.1 Anatomia externa
Em geral, os peixes têm sete nadadeiras, três ímpares (dorsal, anal e caudal) e 
duas pares (peitorais e ventrais). As nadadeiras têm papel fundamental na loco-
moção, cada uma delas com uma função específica, relacionada ao movimento de 
cada espécie de peixe. Muitas espécies nadam primariamente com o movimento 
das nadadeiras ao invés do movimento ondulatório do corpo (HICKMAN JUNIOR et 
al., 2004).
Nos peixes, a linha lateral é um órgão sensorial usado para detectar movimentos ao 
redor na água, ou seja, a audição. A linha lateral pode ser facilmente identificada 
em alguns peixes por estar posicionada nos flancos laterais e é formada por escamas 
com poros, ou aberturas na pele, que expõem os neuromastos para o meio exterior.
Nos peixes, os opérculos são placas ósseas localizadas nos lados da cabeça, antes 
das brânquias e cobrem a fenda branquial (Figura 14). Podem ser lisos, cobertos 
de escamas ou ornamentados com cristas ou espinhos (BONE & MARSHALL, 1982).
27
Pronatec
Figura 14: Anatomia externa de um exemplar de curimbatá (Prochilodus brevis) na bacia do rio Pardo.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
Legenda: nota-se a presença da nadadeira dorsal (ND), adiposa (NAD), caudal (NC), 
anal(NA), ventral (NV) e peitoral (NP). A linha lateral (LL) responsável pela audi-
ção é identificada, além do opérculo (Op), olhos (O) e narinas (N).
1.6.2 Sistema locomotor
A natação do peixe efetua-se pela progressão do corpo contra a água do ambiente, 
sendo que a pele do peixe produz um muco que confere um menor atrito com a 
água, facilitando o deslocamento. A progressão ocorre devido à ação muscular com 
a ajuda de uma movimentação da nadadeira caudal, sendo que os deslocamentos 
em linha reta regram-nos as nadadeiras dorsais e anais, enquanto o equilíbrio do 
corpo está a cargo das nadadeiras peitorais e pélvicas. A densidade do animal equi-
libra-se pelo ar contido na bexiga natatória. Por esse motivo o deslocamento não 
exige grandes esforços (BONE & MARSHALL, 1982).
O esqueleto dos peixes, como de outros vertebrados, pode ser dividido em duas 
partes: esqueleto axial, constituído pelo crânio e pela coluna vertebral, e esque-
leto apendicular, constituído pelos elementos de sustentação das nadadeiras. Os 
ossos do crânio dos peixes são formados muitas vezes, por elementos dérmicos 
(bem como elementos endocondrais) formando um crânio bastante complexo (DE 
IULIIS & PULERÀ, 2007) variando entre as espécies. A coluna vertebral dos peixes é 
formada por vértebras articuladas, constituídas por uma região central compacta 
e por um anel dorsal onde se aloja a medula espinhal, apresentando projeções 
como as espinhas neurais, espinhas hemais e costelas (Figura 15), que apresentam 
variações entre as espécies (MEIRELES, 2012).
28
Psicultor
Figura 15: Imagem de um esqueleto de uma piranha (Serrasalmus sp.) montado no Museu de Zoologia 
da USP.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
Legenda: notam-se os ossos opérculo (O), costelas (C), vértebras (V), espinhos 
neurais (N), espinhos hemais (H), raios das nadadeiras dorsais (ND), peitoral (NP), 
anal (NA) e caudal (NC).
1.6.3 Sistema circulatório
O coração é simples, situado abaixo da faringe, na cavidade celomática, sendo 
composto por quatro câmaras em série: seio venoso, átrio, ventrículo e bulbo arte-
rioso elástico. O sangue venoso chega ao coração pelas veias cefálicas e hepáticas, 
passando pelo seio venoso, átrio, ventrículo (que ao contrair em sístole, impulsio-
na o sangue para todo o sistema) e bulbo arterioso elástico (DE IULIIS & PULERÀ, 
2007). O sangue venoso é então transportado pela aorta ventral para as brânquias 
onde sofre as trocas gasosas passando para as artérias branquiais que lançam o 
sangue arterial para a aorta dorsal e esta distribui o sangue rico em oxigênio para 
todo o organismo (Figura 16). Apenas o sangue não-oxigenado passa pelo coração, 
sendo depois bombeado para as brânquias, onde é oxigenado e distribuído para o 
corpo (BONE & MARSHALL, 1982).
Figura 16: Imagem do coração de um piau, Leporinus steindachneri sendo dissecado após anestesia com 
eugenol na Estação de Piscicultura de Machado Mineiro.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
Legenda: nota-se a presença do coração, destacando-se o átrio (A) e ventrículo 
(V), brânquias (B), gordura (G) e bexiga natatória (BN).
29
Pronatec
1.6.4 Sistema Respiratório
A respiração dos peixes é feita pelas brânquias internas que se desenvolvem a partir 
de uma série de evaginações da faringe. A água contendo oxigênio dissolvido é aspi-
rada pela boca dos peixes, passa para as cavidades branquiais através das fendas que 
separam os arcos branquiais (os filamentos branquiais) e então é forçada a passar 
entre as lamelas secundárias, sendo que o sangue flui no sentido oposto ao da água, 
sendo realizada a troca gasosa por um mecanismo contra corrente (BONE & MAR-
SHALL, 1982). A molécula de hemoglobina (que dá coloração vermelha ao sangue) 
captura o oxigênio da água, passando para o sangue contido nos vasos dos filamentos 
branquiais e é distribuído para todo o corpo (HICKMANN JUNIOR et al., 2004).
Os peixes, de uma maneira geral, respiram pelas brânquias, no entanto, existem 
outros tipos de respiração que não são mais do que adaptações que permitem a 
certos peixes um segundo tipo de respiração, sempre que não for possível fazê-lo 
por meio das brânquias por deficiência de oxigênio. O cascudo (Hipostomus sp.), 
por exemplo, além de respirar pelas brânquias, também respira pelo estômago, 
cujas paredes são vascularizadas (BUENO, CHELLAPPA & CHELLAPPA, 2008). Por 
isso, ele pode ficar fora d’água por bastante tempo. Já o bagre africano (Clarias 
sp.) possui um mecanismo de respiração denominada de órgão arborescente que 
lhe permite respira fora d’água. O pirarucu (Aiaparas gigas) é dotado de bexiga 
natatória altamente vascularizada, que é utilizada como pulmão (IMBIRIBA et al., 
1996), enquanto o poraquê (Electrophorus electricus) ou peixe elétrico, existe 
um sistema respiratório acessório na cavidade bucal (OLIVEIRA & MENDES JÚNIOR, 
2012).
1.6.5 Sistema Digestivo
A observação da anatomia dos peixes permite obter informações básicas de seus 
hábitos alimentares, e um exame atento do aparelho digestivo oferece boa estima-
tiva do alimento preferido ou, ao mesmo, pode servir para orientar estudos sobre 
sua alimentação (MENIN & MIMURA, 1992).
O sistema digestivo dos peixes é constituído de boca, cavidade oro-branquial, esô-
fago, estômago, intestino e glândulas anexas, sendo que o trato digestivo refere-se 
aos órgãos compreendidos entre a boca e o intestino, enquanto o tubo digestivo, 
refere-se aos órgãos do esôfago até o ânus. A boca corresponde à abertura anterior 
da cavidade oro-branquial, sendo sua posição, formato e tamanho estão intima-
mente relacionados aos hábitos alimentares e, em especial, à forma de apreensão 
do alimento (MENIN & MIMURA, 1992). Os peixes não apresentam glândulas sali-
vares e cada espécie possui uma fenda bucal específica, sendo importante para 
definição da granulometria da ração e a posição da boca pode ser dorsal, terminal, 
semi-ventral e ventral. A cavidade oro-branquial é um aparelho típico dos peixes, 
com duas funções principais que dão origem a seu nome a retenção e manipulação 
de alimento e a passagem da água usada na respiração branquial. Os lábios dos 
peixes carnívoros são finos e aderidos ao maxilar, enquanto nos peixes onívoros e 
herbívoros, os lábios são bem mais espessos. Nos peixes, podemos encontrar den-
tes nos ossos das maxilas, no vômer, nos palatinos, como também na língua, na 
faringe e nos lábios. Quanto aos tipos de dentes orais e faringeanos, mais comuns 
em peixes são os caninos e cônicos (encontrados em peixes carnívoros); viliformes, 
cuspidados e truncados (encontrados principalmente em peixes onívoros). Nos pei-
xes iliófagos, nota-se a ausência total dos dentes na boca, por isso existe em seu 
estômago, uma estrutura semelhante a uma moela (MEIRELES, 2012).
30
Psicultor
O esôfago é um órgão tubular que serve de passagem entre a cavidade oro-bran-
quial e o estômago, geralmente é curto, mas pode ser longo dependendo do com-
primento do corpo do peixe e da posição do estômago. O ducto pneumático da 
bexiga natatória geralmente abre no esôfago da maioria das espécies de peixes 
(BONE & MARSHALL, 1982).
O estômago, na maioria dos peixes é uma dilatação do tubo digestivo onde os 
alimentos são mantidos o tempo necessário para realizar a digestão ácida. Sua 
mucosa interna forma sulcos longitudinais e sinuosos que desaparecem quando o 
estômago se expande com a entrada dos alimentos. O estômago assume formas 
diferentes, segundo a natureza da dieta, podendo ser retos nos peixes carnívoros, 
ou ter forma de “U” ou “Y” nos onívoros, enquanto em algumas espécies iliófagas 
apresentam uma estrutura semelhante a uma moela (MEIRELES, 2012).
O intestino é um órgão geralmente tubular por onde transita o alimento e no qual 
ocorre a digestão e a absorção dos nutrientes, sendo geralmente tubular e com 
essa forma o aumento ou a diminuição da superfície de absorção é controlada pelo 
maior ou menor comprimento do intestino. Espécies iliófagas apresentam pregas 
na mucosa com a provável funçãode ampliar a superfície de absorção (MENIN & 
MIMURA, 1992).
O fígado, como em todos os vertebrados, tem como função principal preparar as 
substâncias nutritivas, provenientes da absorção intestinal, para serem aproveita-
das pelo organismo e, entre os peixes, também é importante a função de estocar 
gordura. Já o pâncreas é geralmente difuso e devido à ausência de um ducto 
pancreático, as secreções são depositadas no fígado e encaminhadas ao intestino 
junto com a bile (MENIN & MIMURA, 1992).
1.6.6 Sistema Excretor
O sistema excretor dos peixes, como dos outros vertebrados, regula o conteúdo de 
água do corpo, mantém o equilíbrio salino adequado (BONE & MARSHALL, 1982). A 
eliminação dos resíduos nitrogenados resultantes do metabolismo proteico no caso 
a amônia é eliminada pelas brânquias. Esses órgãos precisam desenvolver uma 
ampla atividade para manter o equilíbrio da água em seu corpo, já que ficam rode-
ados de água. Alguns peixes que podem viver tanto em água doce quanto salgada, 
têm os rins especialmente adaptados para enfrentar essas diversas condições da 
água (HICKMANN JUNIOR et al., 2004).
1.6.7 Sistema reprodutor
Quanto ao aspecto reprodutivo dos peixes, sabemos que os Ciclóstomos são her-
mafroditas, caso raro entre os vertebrados e mesmo entre os peixes modernos. 
Entretanto os peixes cartilaginosos e os peixes ósseos apresentam gônadas pares, 
sendo os sexos separados (HICKMANN JUNIOR et al., 2004). A fecundação na maio-
ria dos peixes é externa e o estudo do sistema reprodutor será detalhado na parte 
de reprodução.
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Pronatec
1. Em que país, provavelmente originou as atividades de piscicultura?
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2. Qual é o maior produtor mundial de pescado? E em que colocação está o Brasil?
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3. Por que o consumo de peixes é importante para a saúde humana?
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4. O que é ictiologia? Cite pelo menos 3 espécies (com nomes científicos) nativos 
da bacia hidrográfica de sua região.
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5. O peixe consegue ouvir debaixo d’água? Qual estrutura anatômica é responsá-
vel por esse sentido?
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32
Psicultor
Unidade 2
2.1 Histórico da limnologia
A limnologia (do grego, limne - lago, e logos - estudo) é a ciência que estuda as 
águas continentais, independente da concentração de sais, em relação aos fluxos 
de matéria e energia e suas interações com a comunidade biótica (ESTEVES & ES-
TEVES, 1998).
A origem da limnologia se deu no início do século XX, quando François Forel iniciou 
seus estudos no lago Léman (lago de Genebra, Suíça), muito embora essa ciência 
tenha sido originalmente desenvolvida com o objetivo de estudar os ambientes 
lacustres, atualmente os ambientes estudados abrangem os lagos, lagoas, lagunas, 
reservatórios, rios, e áreas inundáveis (ESTEVES & ESTEVES, 1998).
A compartimentação das áreas do conhecimento limnológico levou à criação das 
linhas de pesquisa relacionadas aos estudos das formas (morfometria) do ambiente 
lacustre, aos aspectos abióticos da coluna d’água, como as propriedades e dinâmi-
cas da disponibilidade de luz, estratificação térmica e química, além das caracte-
rísticas do sedimento. Quanto aos aspectos bióticos, as diversas linhas de pesquisa 
podem ser resumidas em estudos do bacterioplâncton, fitoplâncton, zooplâncton, 
bentos, macrófita aquática e perifíton (PINTO-COELHO, 2002).
2.2 Os seres vivos no ambiente aquático
Em limnologia chama-se fitoplâncton ao conjunto dos organismos aquáticos mi-
croscópicos que têm capacidade fotossintética e que vivem dispersos flutuando 
na coluna de água. Em águas correntes (rios e ribeirões) o grupo mais importante, 
pela sua abundância e diversidade, é o das diatomáceas, organismos microscópicos 
com pigmentos amarelo-dourados e carapaça externa de sílica, que protege as 
células da agressão mecânica causada pela correnteza. Por outro lado, em lagos e 
represas as algas da classe Chlorophyceae são mais diversas e abundantes e pos-
suem estruturas que favorecem a flutuação que, no entanto, são frágeis (ESTEVES 
& ESTEVES, 1998).
O fitoplâncton encontra-se na base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquá-
ticos, uma vez que serve de alimentação a organismos maiores e está na base 
porque pertence ao nível trófico dos produtores. Além disso, acredita-se que o fi-
toplâncton é responsável pela produção de cerca de 98% do oxigênio da atmosfera 
terrestre, como também, pode ser responsável por alguns problemas ecológicos 
quando se desenvolve demasiadamente numa situação de excesso de nutrientes 
e de temperatura favorável, podendo multiplicar-se rapidamente formando o que 
se costuma chamar florescimento ou “bloom” (palavra inglesa que é mais usada). 
Nesta situação, a água fica esverdeada mais rapidamente, de um a dois dias, de-
pendendo da temperatura, se torna acastanhada, quando o plâncton esgota os 
nutrientes e começa a morrer. Nessa altura, a decomposição mais ou menos rápida 
dos organismos mortos pode levar ao esgotamento do oxigênio na água e, como 
consequência, à morte em massa de peixes e outros organismos (PINTO-COELHO, 
2002), sendo esse fenômeno denominado de “Eutrofização”.
33
Pronatec
Figura 17: Ilustração demonstrando exemplos de fitoplâncton da divisão Bacillariophyta.
Fonte: http://www.infoescola.com/biologia/divisao-bacillariophyta-diatomaceas/.
Inúmeros representantes do reino animal fazem da água o seu ambiente natural de 
vida ou então buscam na água o seu ambiente natural de vida ou então buscam na 
água o seu alimento estando, portanto, intimamente ligados à piscicultura, sendo 
chamados de zooplâncton. O zooplâncton, devido à sua posição intermediária en-
tre os diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos, 
representa um elo alimentar importante, uma vez que a maior parte dos peixes se 
alimenta do plâncton pelo menos durante o período inicial de sua vida. O zooplânc-
ton pode ser classificado em rotíferos, cladóceros, copépodas e protozoa (ESTEVES 
& ESTEVES, 1998).
Os rotíferos são pequenos animais aquáticos, medindo 0,1-1,0 mm e é o alimento 
mais importante das pós-larvas dos peixes nas primeirassemanas de vida. No Bra-
sil, os rotíferos dominam, em densidade e número de espécies de zooplâncton na 
maioria dos lagos, lagoas e reservatórios (PINTO-COELHO, 2002).
Os cladóceros são animais aquáticos, pertencentes à classe crustácea, medindo 
cerca de um milímetro, sendo importantes na cadeia alimentar para os peixes 
adultos que não podem comer algas diretamente. O exemplo de maior expressão 
de cladóceros num viveiro de piscicultura são as pulgas d’água (ESTEVES & ESTE-
VES, 1998).
Os copépodas são animais aquáticos, pertencentes à classe crustácea, medindo até 
cinco milímetros. Uma diferença fundamental entre os copépodas e os demais gru-
pos dominantes do zooplâncton de água doce é que eles passam por uma série de 
metamorfoses antes de atingirem a fase adulta. No curso de seu desenvolvimento, 
mudam paulatinamente seu modo e capacidade de locomoção e de obtenção de 
alimento (ESTEVES & ESTEVES, 1998).
Figura 18: Ilustração demonstrando exemplos de Rotíferos, Cladóceros Copépodas (zooplâncton).
Fonte: http://vidalagunadebragado.blogspot.com.br/2013/08/proyecto-contribucion-al-conocimiento.html.
Em limnologia, chama-se bentos aos organismos que vivem no substrato, fixos ou 
não, em contraposição com os pelágicos, que vivem livremente na coluna de água.
34
Psicultor
Alguns outros seres animais, que vivem na água, são úteis sob o ponto de vista da 
piscicultura, porém, quando carnívoros, são nocivos, pois comem os peixes peque-
nos. As larvas de libélulas (Odonata sp.) e as larvas de baratinha d’água (Dytiscus 
sp.) bem como as diferentes espécies de barata d’água e nadador de costa (Ani-
sops sp. e Notonecta sp.) são inimigos, especialmente das pós-larvas e alevinos 
(ESTEVES & ESTEVES. 1998).
As macrófitas são plantas aquáticas, principalmente as enraizadas, têm a habili-
dade de assimilar os nutrientes presentes no sedimento. Durante a decomposição 
ou mediante a excreção de compostos orgânicos podem liberá-los para a coluna 
de água. Desta forma, o nutriente que anteriormente ficaria preso, através do 
efeito de bombeamento do sedimento para a coluna de água, por intermédio da 
macrófita aquática, rapidamente retorna ao ecossistema aquático. Em virtude do 
intenso crescimento as macrófitas aquáticas flutuantes podem ser os principais 
produtores de matéria orgânica do sistema. Podem crescer, em condições ótimas 
de luz e nutrientes, cerca de 5% ao dia com a potencialidade de cobrir boa parte 
do espelho de água causando inúmeros problemas ambientais e na qualidade da 
água como: prejuízos ao abastecimento de água, à navegação, aos usos múltiplos 
dos reservatórios, entre outros (OSTRENSKY & BOEGER, 1998).
2.3 Principais variáveis físicas e químicas da água
As principais variáveis físicas e químicas que devem ser monitoradas em cultivo de 
peixes são temperatura, oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica e transpa-
rência da água (OSTRENSKY & BOEGER, 1998).
2.3.1 Temperatura
Com o aumento da temperatura aumenta a velocidade das reações químicas (di-
minuição no teor de oxigênio dissolvido na água) e o metabolismo dos organismos. 
Todas as atividades fisiológicas dos peixes estão ligadas a temperatura da água. 
A temperatura gera efeitos sobre os organismos aquáticos, assim como interage 
com todas as demais propriedades da água. Algumas espécies de peixes tropicais 
toleram temperaturas mais altas (˃25ºC). O frio diminui o metabolismo e o cres-
cimento dos peixes, com o calor aumenta o metabolismo e o crescimento. Peixes 
como a truta arco-íris requerem temperaturas menores e são cultivadas no Brasil 
em regiões de maior altitude. Para a maioria das espécies de peixes tropicais bra-
sileiros a faixa térmica ideal está entre 24 e 30ºC (OSTRENSKY & BOEGER, 1998).
Variações de 3 a 4ºC num mesmo dia são prejudiciais aos peixes, notadamente 
durante as fases de ovos, larvas e alevinos, influenciando também na maturação 
gonadal e na extrusão de ovos durante reprodução induzida (MEIRELES, 2012). A 
temperatura da água pode ser medida com termômetro comum, termômetro de 
máxima e mínima, termístor com cabo (sonda), termístor de bolso ou portátil.
2.3.2 Oxigênio dissolvido (OD)
A solubilidade do oxigênio na água depende da temperatura e altitude, sendo 
que em águas naturais a concentração de OD está sempre modificando de acordo 
com os processos físicos, químicos e biológicos. A variação do oxigênio durante 
24 horas está ligada aos processos de fotossíntese durante o dia (aumento de OD) 
35
Pronatec
e respiração/decomposição no período noturno (diminuição de OD). Um tanque 
com grande florescimento planctônico apresenta amplas flutuações em 24 horas 
na concentração de OD, com baixas concentrações durante o período da manhã 
(ESTEVES & ESTEVES, 1998).
A faixa de concentração desejável de OD em viveiros é de 5,0 mg/l. De 1,0 a 
4,9 mg/l o peixe sobrevive, mas o crescimento é lento em exposição prolongada, 
enquanto de 0,0 a 0,9 mg/l é letal se a exposição é prolongada (OSTRENSKY & 
BOEGER, 1998).
2.3.3 Potencial Hidrogeniônico
Mede o grau de acidez e basicidade da água e varia de 0 a 14, e não tem unidade 
(na verdade é o logaritmo negativo da atividade do íon hidrogênio). Abaixo de 7 
o pH indica acidez e acima, alcalinidade, sendo pH igual a 7 chamado de neutro. 
A faixa de pH desejável para produção de peixes é entre 6,5 e 9,0 (OSTRENSKY & 
BOEGER, 1998).
2.3.4 Condutividade elétrica
É uma medida da capacidade de conduzir corrente elétrica da água e indiretamente 
avalia a quantidade de íons e nutrientes na água doce. Varia muito de local para 
local, devido a origem (fonte) e caminho (tipo de solo, rochas, fontes de poluição) 
percorrido pela água doce. A sua unidade de medida é mS/cm (microsíemens por 
centímetro). A condutividade elétrica da água é quase proporcional à concentração 
de seus principais elementos dissolvidos (ESTEVES & ESTEVES, 1998). Na Esta-
ção de Piscicultura de Machado Mineiro, a condutividade média da água é 50 µS/
cm.
2.3.5 Transparência da água
A penetração de luz no sistema aquático pode ser medida através da sua transpa-
rência, utilizando-se de um disco de Secchi com 30 cm de diâmetro, pintado de 
branco. O disco, suspenso por um cordão, é abaixado verticalmente, na coluna 
d’água, sendo que a profundidade média onde o disco de Secchi desaparece e 
reaparece é tomada como medida de transparência da água. A transparência ideal 
está em torno de 20 a 30 cm. Com menos de 20 cm deve-se cessar a adubação e 
fertilização de viveiros. Acima de 40 cm, deve-se fazer a adubação para evitar o 
desenvolvimento de macrófitas no fundo do viveiro (OSTRENSKY & BOEGER, 1998).
2.3.6 Fertilização de viveiros para piscicultura
Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não são os peixes que conso-
mem diretamente o adubo quando realizada a adubação dos viveiros. Quando se 
aduba a água, há um maior crescimento do plâncton, que é o conjunto dos peque-
nos animais (zooplâncton) e vegetais (fitoplâncton) dos quais são alimentos para a 
maioria das espécies. A principal adubação dos viveiros pode ser a orgânica, sendo 
os adubos de melhor qualidade para a piscicultura são os estercos de aves e suí-
nos, sendo também utilizados os estercos de bovinos e de outros animais. Podem 
ser utilizadas fezes frescas, mas os estercos curtidos surtem efeitos superiores. A 
36
Psicultor
adubação química (inorgânica) também pode ser feita, pois em geral, a água apre-
senta quantidade mínima de fosfato, por isso, costuma-se utilizar a combinação 
fósforo-nitrogênio como nutriente auxiliar na produção planctônica (OSTRENSKY & 
BOEGER, 1998). Após quinze dias, semanalmente é sugerido realizar uma adubação 
orgânica ou química, de acordo com o estabelecido no Quadro 4.
Tipo Produto Quantidade Em G/M2
Orgânica Esterco bovino 300
Orgânica Esterco suíno ou de aves 150
Química fosfatada Supertosfato simples 7,5
Química fosfatada Supertostato triplo 2,5
Química nitrogenada Sultato de amônio 13
Química nitrogenada Uréia 6,5
Quadro 4: Tipos de adubaçõesem tanques/viveiros de piscicultura.
Fonte: Adaptado de OSTRENSKY & BOEGER (1998).
2.3.7 Povoamento dos viveiros
O povoamento ou peixamento, nada mais é do que a colocação dos peixes nos 
viveiros de engorda. Geralmente em Estações de Piscicultura, os viveiros são po-
voados na fase de pós-larvas, que são muito sensíveis a mudanças de ambiente e 
alimentação, não podendo ocorrer grandes variações entre a temperatura da água 
dos viveiros e incubadora. Nunca transferir os peixes diretamente na água, deve-se 
colocar os sacos ou baldes sobre a água e esperar que as temperaturas se igualem 
durante 20 a 30 minutos (OSTRENSKY & BOEGER, 1998).
2.4 Construções de tanques e viveiros para a 
piscicultura
Durante a elaboração do projeto de uma unidade de piscicultura, deverão ser 
considerados os aspectos ligados ao local de implantação para a adequada viabi-
lização do empreendimento. Esses aspectos referem-se à topografia da área de 
implantação, o tipo de solo, a avaliação quantitativa e qualitativa da água para 
o abastecimento dos tanques, viveiros ou represas e da vegetação local. Devem 
ser consideradas também as informações meteorológicas diárias disponíveis como 
temperatura do ar (mínimas, máximas e médias), umidade relativa do ar, preci-
pitação pluviométrica, evaporação, ventos (intensidade e direção). Além disso, o 
reconhecimento e seleção da área de implantação da piscicultura deverão levar 
em consideração o tipo de projeto, as espécies a serem criadas, o manejo a ser 
adotado e as facilidades de comercialização do produto. Todos esses aspectos in-
fluenciarão o sucesso do empreendimento e orientarão o dimensionamento e a 
construção da piscicultura (OSTRENSKY & BOEGER, 1998).
Tanques referem-se às construções destinadas à piscicultura ou carcinocultura em 
que existem proteções nas laterais (por exemplo: concreto, alvenaria, solo-ci-
mento, madeira, fibra de vidro ou plástico). Já viveiros referem-se às escavações 
no solo, geralmente argiloso, que após compactação e plantio de grama nas late-
rais, serão destinadas a criação de peixes ou camarões (PROENÇA & BITTENCOURT, 
1994).
37
Pronatec
2.4.1 Relevo e topografia
A viabilidade econômico-financeira do investimento, no que se refere à movimen-
tação de terra, é determinada pela topografia do terreno. Em terrenos com topo-
grafia plana, com desnível em torno 2%, os trabalhos serão minimizados, enquanto 
em terrenos com inclinação de 5% no máximo, a alocação de viveiros em níveis 
distintos podem otimizar os trabalhos de movimentação de terra. Em terrenos 
mais acidentados haverá necessidade de maior volume de terraplanagem o que 
aumentará os custos (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).
2.4.2 Tipologia do solo
Os solos resultam da decomposição de matéria orgânica (animais e vegetais) e mi-
neral (argila, silte, areia, cascalho). Solos argilosos, com teor de argila superior a 
35%, são mais adequados à execução de obras de viveiros, enquanto solos com teor 
de areia maior que 50% são considerados impróprios para tal finalidade, a não ser 
que se utilizem revestimentos com material sintético impermeável (OSTRENSKY & 
BOEGER, 1998).
2.4.3 Recursos hídricos disponíveis
Em um projeto de piscicultura, é necessária a avaliação quantitativa e qualitativa 
da água para abastecimento dos tanques e viveiros, para conhecimento da origem 
e a disponibilidade para suprimento das necessidades. Para instalação de uma pis-
cicultura, a vazão de água necessária está em torno de 10 litros/s por cada hectare 
a ser construído, considerando tanques e viveiros estáticos, ou seja, a água que 
entra é suficiente para manter o nível normal. Esta quantidade de água atende às 
necessidades de reposição com a manutenção do nível e supre com segurança nos 
diferentes meses do ano (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).
2.4.4 Sistemas de abastecimento e drenagem
Para abastecimento de água controlado, mais comumente empregado em viveiros, o 
manancial deve ser verificado e analisado, identificando-se o ponto de captação e o 
trajeto do canal de abastecimento ou de derivação (OSTRENSKY & BOEGER, 1998).
A tomada de água deve prevenir as seguintes características: a) permitir o total 
controle sobre o volume de água a ser captada; b) captar água a favor da corrente-
za e abaixo do nível mínimo do curso de água, considerando o período de estiagem 
prolongada; c) possuir tela ou filtro biológico para prevenir entrada de peixes inde-
sejável à criação; e d) estar localizada acima do nível ou cota máxima dos tanques, 
viveiros, açudes etc. (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).
O sistema de escoamento de água mais adequado ao projeto depende do tamanho 
do tanque ou viveiro e devem obedecer aos seguintes requisitos: a) o dreno deve 
ser locado na parte mais profunda do viveiro, para assegurar total esvaziamento; 
b) o sistema de drenagem deve ter capacidade de vazão suficiente para evitar o 
transbordamento pelo vertedouro ou pelo dique, para prevenir erosões; c) se o 
sistema de criação a ser adotado prevê a utilização de viveiros estáticos, o excesso 
de água deve ser eliminado pelo fundo; e d) o sistema de controle de nível deve 
possuir tela de proteção para evitar fuga de peixes (PROENÇA & BITTENCOURT, 
1994).
38
Psicultor
O monge ou caixa de controle de nível é o melhor sistema de escoamento e com-
preende uma estrutura vertical em concreto, cuja seção horizontal tem forma de 
“U” com abertura voltada para dentro do viveiro. Possui uma parede dorsal e duas 
laterais, estas últimas com seis ranhuras verticais onde são encaixadas pranchas de 
madeira, que se sobrepõem adaptadas umas às outras (Figura 19a). Na base da pri-
meira ranhura ou em toda sua altura pode ser colocada uma grade metálica para 
impedir a fuga dos peixes (Figura 19b). Na parede dorsal é acoplada a canalização 
de drenagem que atravessa o dique.
A base do monge deve ser construída em terreno firme, ligeiramente abaixo do 
ponto mais profundo do viveiro e a certa distância da base do dique, para não ser 
obstruído por eventuais desmoronamentos. O monge pode ser também instalado 
na parte externa do viveiro (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).
ltura do monge deve corresponder ao nível máximo da crista do talude ou do di-
que, ou seja, 30 a 60 cm acima do nível máximo da lâmina d’água do viveiro e a 
capacidade de escoamento ou de drenagem da tubulação ser maior que a de abas-
tecimento (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).
A profundidade de tanques e viveiros situam-se entre 1,00 e 2,50 m, sendo que 
normalmente viveiros considerados rasos apresentam 1,00m na parte mais rasa e 
até 1,70m na mais profunda. Viveiros considerados fundos podem apresentar 1,50 
m na parte mais rasa e até 2,50 m na mais profunda. O fundo do viveiro deve apre-
sentar declividade de 0,5 a 1% (Figura 19c).
Figura 19: Imagem de tanques com sistemas de abastecimento e drenagem para piscicultura.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
Legenda: Sistema de drenagem de monges mostrando processo de enchimento do 
tanque com água (a); detalhe do monge com reservatório cheio, mostrando a tela 
contra fuga de peixes (b); e tanques vazios (c) mostrando sistema de abastecimen-
to (ab) e drenagem (dr).
2.5 Criação em tanque-rede
A criação de peixes em tanque-rede é uma atividade emergente, apresentando-
se como mais uma alternativa para essa criação, com a utilização de recursos 
d’água, anteriormente não aproveitados. Entre eles, destacam-se as lagoas, lagos 
e grandes reservatórios públicos, geralmente provenientes de usinas hidrelétricas 
(SANDOVAL JÚNIOR, 2010).
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Pronatec
A gaiola ou tanque-rede deve ser construído com material flexível, resistente e 
durável, não abrasivo, com uma malha que não restrinja a passagem da água. Na 
criação de peixes confinados em tanques-rede, deve-se considerar a qualidade da 
água (temperatura, taxa de oxigênio, pH e concentração de amônia), a produti-
vidade (no mínimo, deve haver 1m entre o fundo da gaiola e o piso no período da 
seca) e a velocidade da água (correntes de 10 a 20 cm/s).
A velocidade

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