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Desenvolvimento 
Humano e Social
1ª edição
2017
Desenvolvimento 
Humano e Social
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5Unidade 5
Indivíduo, Sociedade e Direito
Para iniciar seus estudos
Esta unidade trata da relação intrínseca e complexa entre indivíduo e 
sociedade no contexto das organizações sociais, dos mecanismos sociais 
e da prática da cidadania. No estudo desta unidade, tomamos o cuidado 
de lhe proporcionar uma perspectiva histórica dos conceitos e categorias, 
demonstrando sua alteração no tempo e no espaço, a fim de facilitar a 
leitura do problema no contexto da contemporaneidade. Esse processo 
deve desenvolver a capacidade de intervir ativamente em busca de ações 
solucionadoras para as questões sociais.
Objetivos de Aprendizagem
• Percorrer a construção social a partir de suas bases, como cida-
dania, prática de direitos e deveres, recursos e práticas, que dão 
à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do 
governo de seu povo.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo, Sociedade e Direito
5.1 Organização Social
Neste tópico, analisaremos as organizações sociais tendo em vista as seguintes questões: o que são? Para que 
servem? Qual a diferença de organização social e estrutura social? E qual a relação da organização social com 
o indivíduo? Esses questionamentos, por sua vez, suscitam outras necessidades, como pensar e analisar o indi-
víduo. Dessa forma, cumpre refletir sobre o que é o indivíduo, como ele se forma, como se desenvolve a relação 
com o coletivo, entre outros aspectos, para compreender a complexidade da relação entre indivíduo e sociedade 
no processo de desenvolvimento humano e social.
A história da Sociologia enquanto uma ciência sempre teve como preocupação a explicação acerca da formação 
da sociedade, seu funcionamento e sua capacidade de continuidade no tempo e no espaço, sempre partindo do 
entendimento de que o objeto sociedade se tratava de algo para além das individualidades ou particularidades e 
que tudo se movia conforme as estruturas sociais. Ou seja, o coletivo, em sua totalidade complexa, determinaria 
ou condicionaria as formas de desenvolvimento da vida humana, em sua singularidade.
Nesse sentido, é como se a formação do “eu” estivesse sob balizas colocadas externamente. Um exemplo figu-
rativo é a forma como se dá a manobra de estacionamento do carro na autoescola: colocam-se dois marcado-
res que determinam seu espaço de ação com o automóvel e, dentro desse espaço que impuseram, é que lhe é 
permitido movimentos de encaixe para aquele determinado espaço. Esse exemplo nos ajuda a enxergar que a 
liberdade da relação individual com o automóvel e sua locomoção não é no espaço em sua totalidade, mas no 
espaço recortado especialmente para que a pessoa se adeque a ela.
Quando pensamos a relação da sociedade com o indivíduo, por muito tempo, a Sociologia, em suas correntes 
de pensamento mais tradicionais, vinculadas à sua gênese, concebia a formação do indivíduo e seu desenvol-
vimento da mesma maneira. Ou seja, o sujeito nasce em relações coletivas que limitam, de certa forma, suas 
decisões, cabendo a ele apenas escolher os movimentos corretos, que lhe auxiliem nesse encaixe ou nessa con-
formação com a forma social que lhe é preparada externamente.
Mas o que são essas estruturas sociais? As estruturas sociais tratam-se de parâmetros rígidos no tempo e no 
espaço que permitem um processo de produção e reprodução contínuo da sociedade, preservando o senti-
mento de segurança. Em decorrência disso, a estrutura comumente tem muita dificuldade de sofrer quaisquer 
influências individuais que lhe direcione a mudanças. Por exemplo, a família, a escola, a igreja, o Estado etc. são 
estruturas sociais que preservam, ao longo do tempo, o máximo de sua originalidade, sendo muito resistentes 
à mudança. A segurança é proporcionada pelo fato de podermos conhecer mais claramente a ordem e o fun-
cionamento dessas estruturas, havendo mais facilidade e segurança no momento da escolha e do exercício da 
individualidade nesse processo.
Estruturas sociais são rígidas no tempo e no espaço e auxiliam em dar formas e funções 
necessárias para um determinado grupo ou mesmo indivíduos. As estruturas sociais aju-
dam nos processos que culminam em determinar posições e papéis sociais, por exemplo, tais 
como família, parentesco, relações de classe, distribuição ocupacional, entre outros. 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo, Sociedade e Direito
No que difere estrutura social e organização social? Enquanto a estrutura social tem quase que inteira influência 
sobre as ferramentas que permitem a construção do indivíduo, determinando verticalmente seus padrões insti-
tucionalizados, a organização social trata-se de algo mais flexível e de um lugar que permite, em certa medida, 
dar voz ao indivíduo e suas vontades, tendo significativo efeito sobre o coletivo por desencadear processos de luta 
que promovem mais facilmente alterações em sua ordem.
Dessa maneira, a organização social é algo mais passível de mudança a partir das individualidades quando com-
parada às estruturas. Assim podemos perceber que, aparentemente, é na organização social que ocorrem os 
ininterruptos conflitos sociais condicionantes para movimentos sociais de grupos não majoritários, demons-
trando o ouvir das vontades individuais frente às imposições do coletivo.
Figura 5.1 – Relação sociedade x indivíduo.
Legenda: A imagem ilustra a relação existente entre sociedade e indivíduo no interior da organização social.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
A figura anterior ilustra os conflitos sociais, em que um lado representa as convenções coletivas mais estrutura-
das, com papéis sociais historicamente determinados e, o outro, indivíduos que, municiados de novas concep-
ções de seu lugar na sociedade, disseminam seus ideais. Isso acaba por desencadear um processo de luta entre o 
que poderíamos chamar de um novo modo de conceber uma determinada posição social e um grupo majoritá-
rio, que está ancorado nos papéis históricos.
A título de exemplo dessa relação conflituosa no interior das organizações sociais, na contemporaneidade, temos 
o papel socialmente construído do que é ser mulher e do que é ser homem. É de convenção histórica que a 
mulher era concebida, na organização social, com um papel de gestora do espaço doméstico, ficando sob sua 
responsabilidade o cuidado dos filhos, a limpeza da casa, a alimentação e todas as responsabilidades necessárias 
no espaço da casa. Em outros momentos, a mulher não tinha direito ao voto ou quaisquer participações ativas 
no processo de construção política dos Estados. O homem, por outro lado, era condicionado à responsabilidade 
do trabalho, desenvolvendo carreiras em espaços sociais externos à esfera doméstica, bem como o trato com a 
política e todas as questões que envolvessem debates sobre o curso da vida coletiva. Ele pouco se envolvia com 
as questões da casa, se limitando a construir recursos para o desenvolvimento de sua vida familiar.
Por outro lado, é nítido o processo histórico em que as mulheres, ou ao menos parte delas, têm empreendido na 
luta pela quebra desses papéis socialmente construídos, conseguindo diversas modificações no seio da organi-
zação social que levam todo o contexto da coletividade a refletir criticamente sobre o que de fato é ser mulher e 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo, Sociedade e Direito
qual seu papel social. Na esteira desse processo histórico, houve, por exemplo, a conquista do sufrágio univer-
sal (direito de votos a todos, incluindo a mulher), conquista na possibilidade de se eleger (o resultado disso, no 
mundo, foram diversas lideranças governamentais femininas) e um movimento em massa de mulheres que se 
lançaram à vida profissional e que hoje concorrem igualmente com os homens em todos os espaços.
Os homens, de sua parte, em um processo um pouco menos intenso, hoje encontram-se ocupando papéis 
sociais que outrora eram ocupações ditas femininas.Um exemplo disso são atividades no campo da educação. 
Mesmo hoje, o trabalho de educador, sobretudo educador infantil, é majoritariamente ocupado por uma mulher, 
o que estaria vinculado à sua perspectiva de ser mãe. No entanto, tem havido considerável ingresso de homens 
assumindo a missão no campo da educação.
Sem quaisquer pretensões de juízo de valor, nos limitamos a usar ambos os exemplos como demonstração de 
como ocorre a mudança na organização social e como ela é bem mais visível do que possíveis alterações nas 
estruturas sociais. Verificamos, assim, que a organização social possibilita o rearranjo comportamental dos indi-
víduos, ancorados em vontades muito mais restritas do que as do coletivo.
Essa organização social pode então ser percebida enquanto forma pela qual os homens conduzem suas relações 
sociais, embasadas em ações que levem em consideração características como período temporal, responsabili-
dade e representatividade com grupos sociais, riqueza, camada social na qual estão inseridos e demais caracte-
rísticas ou aspectos que contribuem para a demarcação de uma determinada posição social do indivíduo para o 
desempenho de seu papel.
O debate acerca das estruturas sociais e as organizações ou sistemas sociais está inserido no interior de um 
debate sociológico entre a Escola Estruturalista, que possui como um de seus principais precursores o sociólogo 
Émile Durkheim (1858-1917), e a Escola Pós-Estruturalista, cujo referencial teórico tem como representantes 
Anthony Giddens (1938-) e Nobert Elias (1897-1990).
Os estruturalistas defendem que a estrutura social é responsável única e exclusivamente por agir coercitiva-
mente sobre as liberdades ou vontades individuais. A estrutura age, pois, como coerção social. Já Giddens (2002) 
tece uma crítica a essa escola ao refletir sobre o duplo papel das estruturas sociais e organizações sociais: pri-
meiro, o papel de coerção social, e, segundo, o papel de facilitador social. Ou seja, a escola pós-estruturalista 
concorda sobre o papel coercitivo das estruturas, mas entende que não é sua única contribuição no processo de 
desenvolvimento social, tendo em vista que, para além da coerção, as estruturas sociais agem como facilitadores 
no processo de expansão das relações sociais e do próprio indivíduo.
Ambas as correntes de pensamento concordam que a estrutura social é caracterizada pela sua resistência no 
tempo e no espaço sem que haja alterações ou, quando ocorrem, que elas sejam mínimas. Por isso, um exemplo 
claro de estrutura social é a língua, algo que nos é imposto externamente e que não se altera de forma fácil. 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo, Sociedade e Direito
Figura 5.2 – Diferentes idiomas na sociedade
Legenda: A imagem ilustra diferentes pessoas que compõem a 
sociedade, em que os diferentes idiomas se destacam na estrutura social.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Em relação aos diferentes idiomas que a sociedade apresenta, vamos usar o exemplo do próprio Giddens (2002) 
para compreender essa nova perspectiva acerca das estruturas sociais sobre as organizações sociais. Ele traz 
como estrutura a língua pátria. A nossa primeira opção de dialeto, a língua pátria, trata-se de uma estrutura 
social que incorporamos sem o exercício de nossa vontade individual. O aprendizado dessa língua, por sua vez, 
de maneira imposta e coercitiva, limita nossas capacidades de socialização e aprendizagem na medida em que 
nos torna submissos a uma determinada organização social no tempo e no espaço. Por outro lado, aprender essa 
língua é fundamental para a expansão de nossas capacidades cognitivas e para os processos de socialização 
e expansão dos conhecimentos, sejam locais ou globais. Nesse sentido, Giddens (2002) procura tornar claro o 
duplo papel da estrutura, que é tanto coercitiva quanto facilitadora.
A discussão das duas correntes de pensamento sociológico nos impulsiona a pensar sobre a relação de controle 
social que existe no processo de construção das relações sociais, que se desenvolve entre indivíduo e sociedade. 
Se há estruturas que quase não se alteram no tempo e no espaço, interessa-nos analisar as ferramentas que 
auxiliam no processo de perpetuação dessas estruturas, sendo o que nos parece haver são mecanismos de con-
trole social.
5.2 Controle Social
A perpetuação das estruturas sociais, ou mesmo de uma organização social duradoura no tempo e no espaço, 
não ocorre somente a partir de um afeto dos indivíduos pela sua composição e organização. Entende-se que há 
mecanismos sociais em funcionamento que agem coercitivamente no processo de aceitação e internalização 
por parte dos indivíduos. Neste tópico, iremos analisar esses mecanismos de controle social enquanto elementos 
talvez necessários para uma vida mais cidadã. O necessário, nesse contexto de cidadania, se aplica na medida 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo, Sociedade e Direito
em que, segundo Elias (1994), a sociedade esteve caminhando nas últimas décadas do século XX para um com-
portamento cada vez mais individualizado (essa discussão trataremos mais detalhadamente no tópico seguinte), 
alerta que se confirma nos primeiros anos do século XXI.
Como podemos definir o controle social? Independentemente da corrente de pensamento sociológico, é possí-
vel definir a categoria do controle social enquanto um conjunto de mecanismos internos e externos de diversos 
grupos sociais ou da própria sociedade, que são utilizados para garantir a conformidade do comportamento 
dos indivíduos aos padrões socialmente condicionados. Podemos tomar como exemplo uma fôrma de bolo: o 
recipiente impulsiona o conteúdo a tomar o formato da fôrma em que ele é colocado e, depois de pronto, o seu 
formato não se trata de sua própria liberdade, mas de toda a pressão exercida pelos limites impostos pela forma. 
O bolo quadrado não é quadrado: a fôrma é quadrada. O bolo redondo não é redondo: a fôrma é redonda.
No caso específico do processo de controle social exercido sobre o indivíduo, é possível dividi-lo em duas condições: 
a condição de controle social positiva e a de controle social negativa. O controle social positivo pode ser entendido 
como uma deliberação do próprio indivíduo que, ao compreender as imposições sociais, as aceita e internaliza pas-
sivamente, agindo como se espera no coletivo. O controle social negativo se dá no momento em que o indivíduo 
decide por não aceitar as condições coletivas de convivência e passa a infringir os acordos coletivos, recebendo, por 
isso, sansões por meio de mecanismos sociais que o forcem a se conformar com a forma da sociedade.
Figura 5.3 – Relação indivíduo e sociedade no controle social.
Legenda: A imagem ilustra o indivíduo que se encaixa na sociedade no contexto do controle social.
Fonte: Plataforma Deduca (2018). 
A Figura 5.3 auxilia na ilustração da relação entre indivíduo e sociedade no contexto do controle social, em que 
o indivíduo consiste na peça diferenciada do quebra-cabeça, que nasce cheios de potenciais singulares no que 
tange à sua construção indenitária. Por outro lado, a sociedade instaura mecanismos, quer seja interna ou exter-
namente, que agem com o propósito de encaixar essas características individuais dentro do grande quebra-
-cabeça que ela é.
De acordo com o sociólogo Norberto Bobbio (1909-2004), esses dois tipos de mecanismos de controle sociais 
(controle social externo e controle social interno) são elucidados da seguinte maneira: as formas de controle 
externo agem, ocorrem ou, ainda, são necessárias quando o sujeito ou o indivíduo não age com disposição de 
se desenvolver nas relações sociais em uniformidade ou conformidade com o coletivo social. Nesse caso, temos 
como baliza de definição dessa inconformidade as regras sociais, as leis que serão determinantes analíticos para 
que saibamos se a ação do indivíduo está ou não de acordo com os pressupostos da sociedade.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo,Sociedade e Direito
Em caso de ações individuais conflitantes com a ordem social, esse sujeito recebe sansões e punições que o 
conduz em coercitivamente aos padrões esperados. A polícia, nesse contexto, é um exemplo de ferramenta de 
aplicação práticas dos mecanismos de controle social externo. Devemos nos recordar que o poder das leis e da 
polícia são legitimados pelo Estado enquanto suposto defensor e organizador do interesse da sociedade no que 
tange a condições de desenvolvimento humano e social saudável.
A forma de controle social interno, de sua parte, trata-se de mecanismos pelos quais a sociedade consegue fazer 
o indivíduo internalizar as regras, parâmetros e limites da convivência social, construindo, de forma complexa, 
ideias, pensamentos ou quaisquer formações de consciência ou parte dela, que norteiem e limitem as ações 
individuais sem necessariamente haver a necessidade de quaisquer coerções externas.
Para que tornemos mais claro o controle social interno, temos como exemplo, conforme imagem anterior, a 
escola, que é um mecanismo social de controle interno. Toda a produção cultural humana ao longo do tempo, 
responsável por nortear a formação e desenvolvimento das relações sociais, é repassada sistematicamente e 
pedagogicamente para que o indivíduo em processo de desenvolvimento tenha condições de se adequar às 
regras de convivência social, antecipando quaisquer necessidades de coerção externa.
Do ponto de vista filosófico, ele pode ser entendido enquanto os princípios éticos que norteiam as decisões 
morais do indivíduo, compreendendo normas e valores sociais que ele passa a defender e ter como sustentáculo 
de suas ações, independentemente de um exercício pleno de sua liberdade. Nesse sentido, há diversas defesas 
que fazemos e condutas que temos em nossa vida cotidiana, em que não precisamos de quaisquer ferramentas 
de coerção para que façamos do jeito que está convencionado socialmente. O desenvolvimento dessa consci-
ência torna o indivíduo um vigia de si próprio. Sem depender de fatores externos, eu penso ou vou agindo desse 
ou daquele jeito, tendo como referência a minha própria consciência construída a partir das experiências com 
mecanismos sociais de controle internos como a escola.
Outra forma de controle social interno é a família. No seio familiar, o indivíduo se desenvolve internalizando uma 
série de crenças, valores e conceitos que serão responsáveis por balizar diversas ações no que tange à convivência 
coletiva, que foram colocadas pelo pai, pela mãe e pelos diversos graus de convivência familiar. Nessa perspec-
tiva, o sujeito não precisará de quaisquer mecanismos punitivos sociais externos para sustentar esse ou aquele 
valor, uma vez que ele decide internamente pelo cumprimento da regra internalizada, em um diálogo com a 
própria formação do consciente. A psicologia social, para esses casos, entende que a punição, caso haja a quebra 
dessa regra internalizada, é o próprio sentimento de culpa, que pune o indivíduo.
Outra perspectiva interessante que podemos trazer para compreender a complexidade desse processo de con-
trole social para o desenvolvimento das relações humanas e sociais, é a produção de Michel Foucault (1926-
1984), na célebre obra “A microfísica do poder” (1999). Nessa obra, ao tratar das instituições que cumprem o 
papel de controle social interno, como no caso da escola, o autor define o processo como a construção de um 
sujeito dócil, útil e submisso à ordem estabelecida. As instituições são, portanto, disciplinadores que condicio-
nam o indivíduo no interior desse processo, na esteira do qual o sujeito tem a mente e o corpo moldados em 
concordância ao que se pede pela sociedade. O resultado disso será um sujeito útil e conformado nas regras da 
instituição que o molda, com o objetivo de torná-lo produtivo para o seu contexto social em específico. 
Se pensarmos a escola a partir dessa perspectiva, abrimos enormes possibilidades, inclusive no campo jurídico, de 
perceber elementos que compõem essa forma de controle social. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(LDBEN) e também nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), existem aberturas no que se refere à organiza-
ção curricular e de conteúdo, que pode ser preenchida com materiais vinculados à produção cultural local. Nesse 
sentido e tomando por base a concepção de Giddens (2002) para a relação do local e global, esse preenchimento 
cumpre o papel de formatar um indivíduo útil ao seu contexto social local, pois os conteúdos organizados apenas 
globalmente diminuem a capacidade de ele estabelecer conexões úteis com sua realidade local.
Portanto, o controle social, seja ele interno ou externo, trata-se de um conjunto complexo que colabora e age para 
intervir no comportamento do sujeito desviante, bem como de um processo de conscientização guiado pelas regras 
e normas do coletivo social, que deverão balizar a construção individual do “eu”. O entendimento da relação com-
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo, Sociedade e Direito
plexa entre a formação do indivíduo e a sociedade, com vistas para o desenvolvimento humano e social, importa na 
medida em que o equilíbrio dessa relação torna-se fundamental para a prática de uma vida cidadã.
5.3 Cidadania
A cidadania consiste em uma categoria histórica e social. Histórica no sentido de que ela surge em dado contexto 
histórico do passado e social na medida em que se torna intrínseca ao tipo de organização social, pensando a 
relação dos indivíduos com a sociedade no acesso aos bens disponíveis para uma vida digna nas esferas econô-
mica, social e cultural. Assim, propomos, neste tópico, a análise das diversas concepções que procuram definir a 
cidadania, na teoria e em sua práxis, procurando entender as zonas limítrofes entre o exercício da individualidade 
e as imposições sociais no que se refere ao direito à cidadania.
Um cidadão, de acordo com o dicionário Aurélio (2014), trata-se do indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos 
de um Estado. Mas nem sempre foi assim. O conceito de cidadania se desenvolveu em meados do século IX a. C, 
com o surgimento das cidades-estado e polis gregas. Nesse período, o emprego do termo estava correlacionado 
à ideia de indivíduos com possibilidades de exercício pleno de sua liberdade, como privilégio de participar inte-
gralmente em todo o ciclo da vida política, social e econômica de determinada comunidade.
Mesmo no seu surgimento histórico mais embrionário, o conceito de cidadania surgia com um papel excludente 
na organização social. Desse modo, na sociedade grega, não eram todos que possuíam o exercício da cidadania. 
Ficavam de fora do gozo dessa liberdade os estrangeiros, o contingente populacional submetido ao controle 
militar e escravos. Acercados direitos de participar da vida pública da comunidade, as mulheres também não 
gozavam da cidadania.
Um pouco mais tarde na história, o conceito de cidadania é estabelecido na sociedade do Império Romano. Aqui, 
o título de cidadão romano possui um significado um pouco mais complexo que na polis grega. De igual maneira 
se tratava de um privilégio de grandes proprietários rurais, pessoas que detinham cargos públicos, religiosos e as 
mais altas patentes na hierarquia militar. A prática da cidadania romana estava mais vinculada a poderes políticos 
do Império dentro de uma perspectiva de abrangência territorial. Além disso, assim como a cidadania grega, a 
romana possui o seu caráter excludente, não participando da vida da Res Publica escravos, camadas populares e 
povos dominados, bem como as mulheres. Podemos identificar algumas diferenças, como, por exemplo, a con-
cessão de título de cidadão romano, que poderia ser conquistado por classes sociais mais altas de outros povos 
dominados pelo Império Romano, sobretudo filhos dessas classes educados conforme a educação romana.
No contexto da modernidade e da pós-modernidade, pensar o conceito de cidadania passa a ser uma atividade 
intelectual,teórica e prática muito mais complexa do que tem se apresentado em outras definições. Segundo 
Bitar (2004, p. 18):
Em verdade, a real identidade da palavra cidadania [...] algo mais que simplesmente direitos e deveres polí-
ticos, e ganhando dimensão de sentido segundo a qual é possível identificar nas questões ligadas a cidada-
nia as preocupações em torno do acesso as condições dignas de vida. Nessa perspectiva conceitual, o que 
se quer ver é que não é possível pensar em um povo capaz de exercer a sua cidadania de modo integral (no 
sentido político-jurídico) sem que ela esteja plenamente alcançada e realizada em suas instâncias mais 
elementares de formação e implementação de estruturas garantidoras de bens e serviços, direitos, institui-
ções e instrumentos de garantia de existência da vida e da dignidade. 
A citação de Bitar (2014) interessa-nos na medida em que nos convida a um alargamento do conceito de cidada-
nia. Isso porque expor a cidadania enquanto a prática de direitos e deveres frente a um Estado nacional, como algo 
suficiente para colocar os indivíduos em condições de igualdade, parece, para a sociologia contemporânea, algo 
incompleto e insuficiente. Do ponto de vista jurídico, todos temos direito à vida, porém, na cotidianidade da vida, 
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existe um contingente significativo de pessoas que nem se quer possui condições materiais mínimas para manter 
essa vida. Como as pessoas, por exemplo, que carecem de alimentos e vivem em condições de extrema pobreza.
Na esteira dessa discussão, nos parece salutar pensar no processo de ressignificação do conceito de cidadania. 
Ainda sobre o conceito de cidadania na história, temos duas concepções mais recentes e ainda presentes nos 
debates acerca do exercício da cidadania:
[...] temos pelo menos duas concepções de cidadania mutuamente excludentes. A primeira é 
aquela formal ou individual, originada no estado moderno regidos pelos princípios da revolu-
ção francesa – Liberdade, igualdade e fraternidade. A liberdade referindo-se ao direito de todos 
os detentores de capital a propriedade privada, a igualdade significando existência de direitos e 
deveres iguais para todos indistintamente, apesar das diferenças sociais, culturais e econômicas. 
E por fim a fraternidade, elemento que garante, mesmo com o uso da força, a harmonia ou manu-
tenção social”. (BITAR, 2014, p. 156).
Para efeito didático explicativo, vamos analisar essa primeira concepção de cidadania, antes de expormos a 
citação acerca da segunda concepção. A Revolução Francesa norteou a construção conceitual da cidadania na 
chamada modernidade. Nesse sentido, ela definiu que todos deveriam gozar de sua liberdade em possuir a pro-
priedade privada. Aqui encontramos o primeiro problema do seu caráter excludente, pois cria-se uma definição 
pautada no consumo para o exercício da liberdade, sem que antes houvesse quaisquer discussões sobre as con-
dições de consumo e prática dessa liberdade. Ou seja, como aqueles que conseguiram as condições para ter a 
propriedade privada chegaram nesse ponto e o que fazer com relação aqueles que não possuem tais condições.
O segundo ponto dessa primeira concepção de cidadania é a igualdade de direitos e deveres frente ao corpus 
jurídico que norteia as relações sociais e a relação do indivíduo com a sociedade. Igual à análise do parágrafo 
anterior, aqui também não há quaisquer preocupações com as condições reais e cotidianas da heterogeneidade 
social para o cumprimento de deveres e, muitas vezes, se cria uma pseudocondição de ter o mesmo direito de 
outros cidadãos. Há correntes sociológicas que criticam esse posicionamento conceitual para liberdade no exer-
cício da cidadania, pautadas no argumento de que a própria sociedade cria outros meios de cerceamento da 
prática da liberdade, ocultada pelas diferenças socioeconômicas, e que, por isso, jamais houve o interesse de se 
discutir as condições existenciais para essa prática.
A fraternidade, no contexto da cidadania vinculada à Revolução Francesa, tratava-se, pois, de uma condição de 
irmandade em que todos no exercício de seus direitos e deveres, respeitando os limites e espaços correlatos ao 
outro, colaborariam para uma convivência coletiva harmônica. A harmonia dos interesses individuais, frente às 
necessidades coletivas. O problema surge na medida em que é cada vez mais desafiador convencer os indivíduos 
a pensar e conceber a vida de forma coletiva. A sociedade individualizada tem colocado o exercício da liberdade 
individual e graus de importância tal qual o exercício do bem-estar do coletivo. Nesse sentido, a citação deixa 
claro que a efetivação dessa harmonia deve ocorrer mesmo que sob o uso da força. 
Mas quem pode usar essa força? Essa pergunta nos leva a refletir sobre o papel do Estado e de todo seu aparelho 
jurídico no campo do direito, que acaba, por intermédio daquele, tornando-se o legitimador do uso dessa força, 
por meio da polícia enquanto mecanismo social de coerção, quando não há um consenso deliberado da socie-
dade acerca de como manter essa harmonia do bem-estar coletivo. Essa concepção de cidadania, em harmonia 
com forças coercitivas e o Estado, é ainda a de mais expressão e entendimento na sociedade contemporânea, 
mesmo com o recente surgimento de novas formas conceituais para a prática da cidadania.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo, Sociedade e Direito
Vejamos, agora, a próxima concepção de cidadania:
A segunda concepção de cidadania, por ser tecida pelos movimentos sociais, pode ser denominada de 
social. Via de regra, esta última, em função dos movimentos sociais, por meio dos quais é engendrada, está 
ancorada em uma tríade daquela da cidadania moderna: Liberdade, diferença e solidariedade. O primeiro 
termo refere-se à liberdade de opções, que somente é possível em uma sociedade complexa e plural que 
respeita a diferença, vista não como características a ser eliminada por processo massificadores, mas como 
direito a ser respeitado e mantido em nome de uma democracia de fato. A solidariedade, como defende 
Bauman (1998, p.256), é a condição para a existência tanto da liberdade quanto da diferença e implica a 
existência de respeito mútuo e a possibilidade de ver-se no e com o outro”. (BITAR, 2014, p. 157)
Diferentemente das outras concepções de cidadania, essa segunda não possui um caráter de exclusão, mas sim 
um caráter inclusivo. Nela, o ser cidadão ou praticar a cidadania vai para além das determinações jurídicas do 
Direito, uma vez que está constantemente preocupada com a cotidianidade da vida social. A diversidade dessa 
prática cidadã, por sua vez, aparece dissolvida no interior dos movimentos sociais, que são responsáveis por dar 
voz a extratos sociais que, na prática, não têm a sua cidadania de forma plena na práxis da vida cotidiana.
Figura 5.4 – Cidadania.
Legenda: A imagem ilustra a perspectiva inclusiva na concepção de cidadania.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
A título de exemplo temos o caso de pessoas com necessidades especiais provocadas por deficiência física. A 
prática da cidadania dessas pessoas, frente ao corpus jurídico, determina que a igualdade delas esteja no direito 
de ir e vir e de se locomover nos espaços de sociabilidade da cidade. Porém, sabemos que, por muito tempo, as 
cidades não proporcionavam condições para que essa igualdade de direito, no campo da teoria da jurisprudên-
cia, se revelasse em uma prática cotidiana para as pessoas com deficiência física. Então houve, ao longo de anos, 
diversos movimentos sociais que passaram a cobrar das administrações públicas alterações nas zonas urbanas, 
tendo em vista esse direito, para que realmente se cumprisse a igualdade de ir e vir para as pessoas com necessi-
dade especiais. O resultado tem sido, cada vez mais, cidades com obras adaptativas para a locomoção de pessoas 
cadeirantes, pessoas com deficiência visual etc.
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Figura 5.5 – Adaptações na sociedade.
Legenda: A imagem representa as obras e adaptações necessárias para inclusão social.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Sabemos que essas alterações são iniciais e carecem de um alargamento para que se tornem plenas em todos 
os territórios. No entanto, o exemplo importa-nos na medida em que há uma luta por parte da sociedade para 
que a cidadania deixe de ter medidas apenas teóricas e jurídicas e passe a se apresentar, de fato, na práxis da vida 
cotidiana. Porém, para que seja possível empreender esse conceito de cidadania prática e inclusiva, é imprescin-
dível o desenvolvimento, no interior das individualidades, de um sentimento de solidariedade e empatia. Nesse 
sentido, cumpre pensar as diferenças como aspectos que devem ser levados em conta para serem incorporados à 
prática da cidadania, com as pessoas sendo solidárias às necessidades que emergem pela diversidade dos grupos 
sociais e dos indivíduos, fazendo do corpo jurídico um espaço de afirmação dessa solidariedade.
Essa perspectiva de cidadania, pautada na liberdade, diferença e solidariedade, automatiza uma sociedade inclu-
siva, com relação harmônica com a diversidade, sendo cada vez mais dispensável o uso das forças para manter 
essa harmonia. Pois, diferentemente da fraternidade, a solidariedade vem da capacidade de se colocar no lugar 
do outro, entender a necessidade desse outro e empreender um processo de luta para suprir essa necessidade, 
como se fosse sua própria. Nessa perspectiva, eu não preciso fazer parte da necessidade para lutar por ela: eu 
apenas convivo com as diferenças de maneira empática, nutrindo com naturalidade um ambiente harmônico.
Nesse sentido, no contexto da pós-modernidade e em uma sociedade marcada pelo consumo, segundo Souza 
e Costa (2005), é cada vez mais salutar que a cidadania esteja constantemente em processo de reflexão e res-
significação para a busca de constituição de projetos societários inclusivos e igualitários. Essa necessidade per-
manente está ligada ao fato de vivermos uma realidade social pautada pelo consumo, cuja tentação é olharmos 
apenas para os anseios e desejos que revelam a nossa individualidade. Realidade essa pouco convidativa para um 
olhar preocupado com as necessidades do outro.
Dessa forma, quaisquer noções e conceitos que apontem para o desenvolvimento humano e social de uma 
sociedade cada vez mais igualitária e inclusiva podem e devem ser vinculados ao conceito de cidadania. Esse pro-
cesso encontra-se intimamente ligado às ações dos sujeitos sociais comprometidos com a participação ativa em 
movimentos sociais. As correntes sociológicas mais contemporâneas, que pensam as relações sociais com vistas 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 5 - Indivíduo, Sociedade e Direito
para o desenvolvimento humano, procuram demonstrar que sempre esteve no interior dos movimentos sociais a 
capacidade de ampliar conceitos e práticas a eles associados, tornando a sociedade cada vez mais democrática.
A título de exemplificação, iniciamos esse tópico fazendo um resgate histórico embrionário de como era conce-
bido o conceito de cidadania. A evolução desse conceito, a partir dos gregos, ocorreu no interior do movimento 
social provocado pelas transformações advindas do imperialismo do Império Romano e sua nova forma de pen-
sar e conceber as relações sociais, sobretudo no campo do Direito. Depois foi o movimento social da Revolução 
Francesa, no contexto do século XVIII, que redimensionou o que era ser cidadão por proporcionar conquistas 
para diferentes classes sociais e aproximar direitos e deveres para homens e mulheres, quebrando com diversos 
paradigmas que engessavam o conceito de cidadania. Nesse sentido, portanto, são os movimentos sociais que 
devem constantemente incitar na sociedade a necessidade de rever o que significa, na prática, ser cidadão ou 
gozar da cidadania.
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Considerações finais
Nesta unidade, acessamos diversas perspectivas capazes de nos auxilia-
rem na compreensão do que são as organizações sociais, o controle social 
e a cidadania:
• As organizações sociais tratam-se de uma esfera social menos 
rígida no tempo e no espaço, sendo flexíveis e dinâmicas. Con-
sistem em lugares em que o sujeito e suas necessidades individu-
ais são ouvidos e oferecem-se enquanto campo de luta para os 
movimentos sociais.
• Os mecanismos de controle social são um conjunto de mecanis-
mos internos e externos de diversos grupos sociais ou da própria 
sociedade, que são utilizados para garantir a conformidade do 
comportamento dos indivíduos aos padrões socialmente condi-
cionados.
• A cidadania, enquanto categoria histórico e social, trata do exer-
cício prático do sujeito no gozo dos seus direitos políticos e civis 
dentro de um Estado de direito. Definimos que a cidadania é uma 
categoria que deve ser continuamente revista e transformada 
conforme as necessidades de cada tempo e condição social.
Referências bibliográficas
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BAUMAN, Z. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor, 1998.
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Manole, 2004.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel Rama-
lhete. 35. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 
1994.
GIDDENS, A. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
tor, 2002.
SOUZA, M. A.; COSTA, L. C. (Org.) Sociedade e Cidadania: desafios para o 
século XXI. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2005.
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