Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
58 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 INTERCORRÊNCIAS MAMÁRIAS RELACIONADAS COM À AMAMENTAÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Betina Regis Neves1 Thenay dos Santos Silva1 Daiene Rosa Gomes2 Mússio Pirajá Mattos3 Anna Carolinna Cezar dos Santos Mendes4 Daniela Rosa Gomes5 1- Enfermeira pela Faculdade Anísio Teixeira, Feira de Santana, BA. 2- Nutricionista pela Universidade Federal da Bahia; Mestre em Saúde e coletiva pela Universidade Estadual de Feira de Santana da Bahia; Docente da Universidade Federal do Oeste da Bahia. 3- Farmacêutico e Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal da Bahia; Professor da Faculdade São Francisco de Barreiras e da Universidade Federal do Oeste da Bahia. 4- Graduanda em Nutrição pela Universidade Federal do Oeste da Bahia; Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Feira de Santana; Docente da Universidade Federal do Oeste da Bahia. 5- Enfermeira pelo Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE); Especialista em Enfermagem em Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Central de Material Esterilizado pela UNIJORGE; Especialista no Programa de Saúde da Família pela UNIJORGE. Correspondência: 2- Daiene Rosa Gomes Telefone: (77)3614-3238 E-mail: daiene.gomes@ufob.edu.br Endereço: Rua Professor José Seabra de Lemos, 316, Recanto dos Pássaros. CEP: 47.808-02, Barreiras – BA. RESUMO A amamentação é o primeiro contato afetivo entre mãe e filho, entretanto, é interrompido precocemente pelas complicações surgidas durante o processo de amamentar, a ocupação da puérpera e a falta de informação. Diante deste fato, o presente estudo teve o objetivo de identificar as intercorrências mamárias relacionadas com a amamentação e dissertar sobre a importância da atuação do Enfermeiro na prevenção dessas complicações mamárias. Realizou-se uma revisão sistemática por intermédio das bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), SCIELO e LILACS, com seleção final de 13 artigos. As intercorrências mamárias mais frequentes foram ingurgitamento mamário, fissura mamilar, abcesso mamário e mastite. A atuação do enfermeiro, no puerpério, se mostrou imprescindível para prevenir as intercorrências mamárias, além de ajudar a mãe a tomar decisões seguras, fazendo com que a nutriz comece a despertar o interesse pela mailto:daiene.gomes@ufob.edu.br 59 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 amamentação, aumentando também sua autoestima, o que contribui para o sucesso desta prática, demonstrando que um bom pré-natal é fundamental para o sucesso da amamentação. Palavras-chave: Aleitamento materno; Mastite; Desmame; Doenças mamárias. ABSTRACT Breastfeeding is the first emotional contact between mother and child, however, is stopped early by the complications that arise during the process of breastfeeding, the occupation of postpartum women and the lack of information. Given this fact, this study aimed to identify the mammary complications related to breastfeeding and speak about the importance of the role of the nurse in the prevention of these complications breast. We conducted a literature review through the databases Virtual Health Library (VHL), SCIELO and LILACS, with final selection of 13 items. The most frequent complications were breast engorgement, cracked nipples, mastitis and breast abscess. The work of nurses, postpartum, was essential to prevent the mammary complications and helps the mother to make safe decisions, making the nursing mother begins to generate interest in breastfeeding, while increasing their self-esteem, which helps to the success of this practice, showing that good prenatal care is critical to the success of breastfeeding. Keywords: Breastfeeding; Mastitis; Weaning; Breast diseases. INTRODUÇÃO A partir dos anos 1980, o tema Aleitamento Materno (AM) vem ocupando lugar de destaque nas agendas de Saúde Pública, ao passo que tem se transformado em objeto de interesse crescente para os diferentes segmentos da comunidade científica, bem como tem despertado o interesse dos gestores responsáveis pela definição de políticas de saúde na área materno-infantil. Além disso, o tema AM vem motivando o desenvolvimento de pesquisas, visando um diagnóstico da situação, na perspectiva de elaborar intervenções para ampliar a prática da amamentação no país1. A importância da amamentação é atribuída ao seu efeito sobre a mortalidade e morbidade infantil1. A proteção conferida pelo AM foi comprovada em diversas pesquisas que apontam o papel protetor do leite materno, o qual chega a reduzir em 50% as mortes por doenças respiratórias e em 66% as mortes por diarreia2. Em estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), baseado em dados provenientes de três continentes, foi demonstrado que o risco de morte por doenças infecciosas é 5,8 vezes 60 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 maior entre lactentes desmamados nos dois primeiros meses de vida, quando comparados aos que foram amamentados nos seis meses de vida3. Em um estudo transversal realizado em Feira de Santana, as crianças menores de seis meses que não mamavam apresentaram uma chance de 64% a mais para a diarreia do que aquelas amamentadas. Quando comparadas com as que mamavam exclusivamente, houve um aumento dessa chance para 82% entre as não amamentadas4. Em outro estudo, Escuder, Venancio e Pereira5 verificaram o impacto da amamentação na redução dos óbitos, os autores afirmam que a amamentação no primeiro ano de vida pode ser a estratégia mais exequível de redução da mortalidade pós-neonatal oriunda das infecções. Considerando a importância da amamentação, a OMS recomenda a prática do aleitamento materno exclusivo (AME) por seis meses e a manutenção do AM acrescido de alimentos complementares até os dois anos de vida ou mais1. Apesar da importância e da recomendação do AME nos primeiros seis meses de vida da criança, as taxas desse padrão de aleitamento ainda estão aquém do que preconiza a OMS1. Diante desta importância, faz-se necessário estudar os fatores que interferem diretamente no ato de amamentar, e dentre estes destaca-se as complicações mamárias. A fim de contribuir para a redução destas possíveis complicações, a assistência de enfermagem no AM é de fundamental importância, visto que o enfermeiro é o profissional que, mais estreitamente, se relaciona com a mulher durante o ciclo gravídico-puerperal e tem importante papel nos programas de educação em saúde, durante o pré-natal 6. Neste sentido, conhecer ações que contribuam para a prevenção destas intercorrências mamárias é de grande importância acadêmica. Diante de tal necessidade, o presente estudo teve o objetivo de identificar as intercorrências mamárias relacionadas com a amamentação e dissertar sobre a importância da atuação do Enfermeiro na prevenção dessas complicações mamárias. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de uma revisão sistemática. O levantamento foi realizado nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online(SCIELO) e Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0CB8QFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.scielo.org%2F&ei=9nxZVMuJIsuYNs7DgJAE&usg=AFQjCNEnNAurIe91oKP97ilFH9ltH9ncGA&bvm=bv.78677474,d.eXY https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0CB8QFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.scielo.org%2F&ei=9nxZVMuJIsuYNs7DgJAE&usg=AFQjCNEnNAurIe91oKP97ilFH9ltH9ncGA&bvm=bv.78677474,d.eXY 61 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 Utilizaram-se 13 artigos, em língua portuguesa que estavam relacionados à temática. Na busca foram utilizadas as seguintes palavras-chave: aleitamento materno,mastite, desmame, doenças mamárias nos períodos de 1999 a 2016. Os critérios de inclusão adotados para orientar a busca e seleção dos artigos foram: abordar a temática AM e prevenção das complicações mamárias, apresentar-se no idioma português e publicado na íntegra (disponível). O período de publicação não foi delimitado para a possibilidade de ampliar o número de publicações. Na 1ª fase, para a seleção dos artigos foi realizada uma leitura criteriosa dos títulos, onde foram selecionados 113 artigos, (SCIELO=63), (BVS= 28) e (LILACS=22). Na 2º fase ocorreu a leitura do resumo e texto na íntegra. Ao final, 13 artigos atenderam a todos os critérios de inclusão. A análise de dados foi realizada de acordo com a Análise de Conteúdo de Bardin22, que se divide em três fases: a pré-análise, a exploração de material e o tratamento dos resultados, inferência e interpretação. RESULTADOS Durante a busca dos artigos da presente revisão bibliográfica, de acordo com os critérios de inclusão previamente estabelecidos, foram encontrados 13 estudos que trabalharam o tema abordado. De acordo com a literatura o papel do enfermeiro é identificar e oportunizar ações educativas facilitando a amamentação, o diagnóstico e o tratamento adequado na prevenção das complicações mamárias relacionadas ao AM, podendo ele atuar junto com a população promovendo a educação continuada de forma efetiva. Os resultados se encontram distribuídos em três tabelas. A primeira tabela apresenta os dados relacionados aos benefícios do AM, a segunda apresenta os fatores 62 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 relacionados com as intercorrências mamária/tipo de intercorrências e a terceira tabela mostra as ações do enfermeiro na prevenção das complicações mamárias. Tabela 1. Benefícios do Aleitamento Materno N° Autores/ Ano Periódico Objetivo Tipo de Estudo/ Amostra Benefícios do Aleitamento Materno 01 Rea, 2004. Jornal de Pediatria. Revisar os benefícios da amamentação para a saúde da mulher. Revisão da literatura. - Redução de câncer de mama, cânceres ovarianos, certas fraturas ósseas e menor risco de morte por artrite reumatóide. - Retorno ao peso mais precocemente. - Menor sangramento uterino pós-parto. 63 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 Tabela 2. Fatores relacionados com as intercorrências mamárias/tipo de intercorrências N° Autores/A no Periódico Objetivo Local Tipo de Estudo/Amostra Fatores relacionados com as intercorrências mamárias/tipo de intercorrências 02 Castro et. al., 2009. O Mundo da Saúde. Investigar quais as intercorrências mamárias relacionadas à lactação que incidem com maior frequência em puérperas e os possíveis fatores que contribuem para o seu desencadeamento. João Pessoa- PB. Estudo quantitativo. Participaram 145 parturientes. Ingurgitamento mamário (28,3%); Fissura mamilar (7,6%); Mastite (2,8%); Técnica incorreta (41,4%); Baixo grau de escolaridade (53,1%); Primiparidade (46,2%); Ausência de experiências anteriores com amamentação (54,5%). 03 Vieira et. al., 2010. Jornal de Pediatria. Averiguar os fatores associados à interrupção do AM exclusivo no primeiro mês de lactação. Feira de Santana-BA. Estudo de coorte. Participaram 1.309 duplas mães- bebê. Falta de experiência prévia com amamentação; Presença de fissura mamilar; Horários pré- determinados para amamentar; Uso de chupeta. 04 Azeredo et. al., 2008 Revista Paulista de Pediatria. Identificar vantagens do aleitamento materno e causas para o desmame precoce, a partir da percepção de mães e profissionais do PSF. Teixeira, Minas Gerais- MG. Estudo qualitativo. Participaram do estudo 36 profissio-nais de saúde do PSF e 137 mães de bebês com até 24 meses de idade. Leite fraco; Leite seco; Pouco leite; Retorno ao trabalho; Intercorrências/ dificuldades da amamentação. 05 França et. al., 2007. Revista Saúde Pública. Verificar os fatores de risco para a interrupção do aleitamento materno em crianças menores de um ano. Cuiabá/ Mato Grosso- MT. Estudo transversal analítico. Participaram do estudo, crianças menores de um ano de idade. O uso de chupeta; A introdução de chás; A baixa escolaridade da mãe; Mães primíparas. 06 Parizottoe Zorzi, 2008. O Mundo da Saúde. Identificar os fatores relacionados ao desmame precoce. Passo Fundo- RS. Estudo qualitativo. Participaram do estudo 18 mães. Desinformação sobre o assunto; Problemas mamários (mamilos doloridos, trauma mamilar, ingurgitamento mamário, baixa produção de leite, mastite, abscesso mamário, candidíase e mamilos planos ou invertidos); Falta de assistência do profissional de saúde; Mulher fora do lar. 07 Frota; Marcopito , 2004. Revista Saúde Pública. Verificar se a adolescência está associada com a prevalência de desmame no sexto mês de vida das crianças. Montes Claros-MG. Estudo transversal. Participaram 240 mães adolescentes e 240 não adolescentes. - Estado conjugal; Atividade fora do lar; Dificuldade para amamentar. 64 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 08 Sales et. al., 2000. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Conhecer as características clínicas e bacteriológicas mais frequentemente observadas nas mulheres com mastite. Feira de Santana-BA. Estudo descritivo. Participaram 70 mulheres com diagnóstico de mastite. - Não tinha mamas examinadas (50%); Primíparas (57%); Mamas ingurgitadas (46%); Sem orientação sobre ordenha (58%); Fissura mamilar (47%); Mastite (44% eram bipolar, 39% ampolar e 17% glandular); Abscesso (84%); - Staphylococcusauerus (55%). 09 Giugliani, 2004. Jornal e Pediatria. Apresentar uma revisão atualizada sobre problemas comuns relacionados à lactação e seu manejo. Estudo de revisão bibliográfica. - Ingurgitamento mamário; Trauma Mamilar; Infecção por Staphilococcus aureus; Candidíase; - Fenômeno de Raynaud; Bloqueio dos ductos linfáticos; Mastite; Abscesso mamário; Galactocele; - Baixa produção de leite. 10 Vieira, et. al., 2006. Caderno de Saúde Pública. Investigar o acompanhamento da nutriz, com ênfase na importância da amamentação, e o seu preparo para lidar com a lactação. Feira de Santana-BA. Estudo transversal. Participaram crianças menores de um ano. São efeitos protetores contra mastite: - Ausência de fissura mamilar; - Ausência de trabalho materno fora do lar. 11 Sousa, et. al., 2012. Revista Escola Enfermagem USP. Identificar e analisar as evidências encontradas na literatura a respeito da terapêutica não- farmacológica para alívio de sintomas de ingurgitamento mamário. Estudo de revisão integrada da literatura. - Aplicação de folha de repolho; Compressas quentes; Ultrassons; Acupuntura; Terapia GuaSha. 12 Zorzi; Bonilha, 2006. Revista Brasileira de Enfermagem. Conhecer as práticas do cuidado das puérperas relacionadas aos problemas mamários. Passo Fundo, Rio Grande do Sul-RS. Estudo qualitativo. Participaram da amostra 14 puérperas. - Rezas e simpatias; Chás de ervas medicinais; - Sebo de ovelha; Casca de banana ou mamão; - Uso do sol ou luz; Passar pente de cabelo nas mamas. 65 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 Tabela 3. Ações do enfermeiro na prevenção das complicações mamárias DISCUSSÃO Categoria 1: Benefícios do Aleitamento Materno Observou-se que dos 13 artigos usados nessa análise, somente 17, falava dos benefícios do aleitamento materno para a puérpera. Rea7, encontrou uma relação positiva entre amamentar e a prevenção de doenças como: câncer de mama e ovariano, fraturas por osteoporose, menos morte por artrite reumatoide, além de outros benefícios como a amenorreiapós-parto, retorno ao peso pré-gestacional mais precocemente e menos sangramento uterino pós-parto. Outros estudos também mostraram o menor risco de câncer de ovários entre mulheres que amamentam, além de também observar a redução na ocorrência de outros tipos de tumores epiteliais dos ovários, exceto os invasivos minuciosos23,24. O ato de amamentar também se mostrou efetivo na proteção contra o risco de fatura no quadril, independente da paridade7. Em um estudo realizado por Brun e colaboradores25, com mulheres norueguesas, mostrou que o tempo total de lactação esteve associado a menor mortalidade por artrite reumatoide. Gigante e colaboradores26 mostraram que as mulheres que amamentaram de 6 a 12 meses apresentaram os menores índices de massa corpórea. Benitez et. al.27 mostraram no seu estudo que a introdução de outros alimentos pode interferir na duração da amenorréia lactacional, independentemente do número e duração das mamadas. A partir destes indícios é possível concluir que a amamentação traz importantes benefícios à saúde da mulher. N° Autore s/Ano Periódico Objetivo Local Tipo de Estudo/ Amostra Ações do enfermeiro na prevenção das complicações mamárias 13 Batista, Farias, Melo, 2013. Saúde em Debate. Compreender a influência da assistência de enfermagem, como suporte social, em relação ao aleitamento materno. Cajazeira s/ Paraíba- PB. Estudo qualitativo. Participa- ram do estudo 17 mulheres. - Falta da assistência de enfermagem na prática da amamentação; - Falta de incentivo ao AM; - Falta da visita domiciliar no puerpério; - Suporte social a amamentação. 66 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 Categoria 2: fatores relacionados com as intercorrências mamária/tipo de intercorrências Castro et al.8, mostraram que a prática de amamentar é uma experiência que envolve uma série de fatores maternos e outros relacionados ao Recém Nascido (RN). Dentre esses fatores destacam-se as intercorrências mamárias, que têm início, especialmente, nos primeiros dias, aproximadamente entre o primeiro e décimo quinto dia após o parto. Neste estudo, as intercorrências mais prevalentes foram os nódulos de retenção láctea que estavam presentes em 43,4% das mulheres, o ingurgitamento mamário que foram encontrados em 28,3%, as fissuras mamilares encontradas em 7,6% e a mastite puerperal que foram percebidas em 2,8% das puérperas. Ainda neste estudo, relatou-se que os possíveis fatores contribuintes para essas complicações foram a técnica incorreta de amamentar, presente em 41,4% das entrevistadas, o baixo grau de escolaridade em 53,1%, primiparidade em 46,2% e ausência de experiências anteriores com a amamentação, presente em 54,5% das entrevistadas. No estudo de Vieira e colaboradores9, diante de todas as variáveis testadas as que se mantiveram associadas à interrupção do AM foram: falta de experiência prévia com a amamentação que foram apresentadas em 24% das mulheres; presença de fissura mamilar em 25%, horário fixo para amamentar 42% e uso de chupeta em 53% das entrevistadas. Já no estudo de Azeredo et al.10 eles perceberam as causas do desmame a partir da percepção das mães e dos profissionais. Através dos relatos observou-se que os motivos do desmame relatado tanto pelas mães como pelos profissionais foram o do “leite ser fraco” e “pouco leite”, outros fatores apresentados pelas mães foram retorno ao trabalho, intercorrências e dificuldade na amamentação. O segundo motivo na visão dos profissionais é a falta de informação das mães, devido à falta de clareza dos profissionais de saúde, já que os mesmos são responsáveis em parte pela atenção no pré-natal, puerpério e momentos seguintes da mãe e do bebê. Estudo realizado por França et al.11, com crianças menores de um ano mostraram que os fatores relacionados ao desmame são o uso de chupetas, primiparidade e trabalho fora do lar; já nos menores de 180 dias as variáveis associadas a interrupção da amamentação exclusiva foram: idade da mãe inferior a 20 anos, uso de chupetas e 67 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 primiparidade; as variáveis associadas a menor duração da amamentação nos menores de 120 dias foram uso de chupetas e consumo de chá. Através deste estudo ficou comprovado que o uso de chupetas pode ser o fator de maior risco para o desmame precoce. Parizotto e Zorzi12, em seu estudo, discutiram os seguintes temas: desinformação sobre o assunto, problemas mamários, uso de chupetas, falta de assistência e mulher trabalhar fora do lar. As entrevistas mostraram que as participantes receberam informações sobre o assunto, porém elas não seguem a maior parte das informações e continuam a acreditar e valorizar suas crenças e tabus. Segundo Giugliani13, entre os fatores envolvidos nas taxas de AM encontram-se o desconhecimento de sua importância para a saúde da criança, algumas práticas maternas e crenças culturais, promoção inadequada de substitutos do leite materno, falta de confiança da mãe quanto a sua capacidade de amamentar seu filho e práticas inadequadas dos profissionais de saúde. Entre os fatores que mais se destacaram foram mamilos doloridos, trauma mamilar, ingurgitamento mamário, baixa produção de leite, mastite, abscesso, candidíase, mamilos planos e invertidos. Os profissionais de saúde foram considerados fator de favorecimento para o desmame precoce, embora sejam as pessoas mais capacitadas para incentivar o AM. Outro fator foi o trabalho da mulher fora de casa, às mulheres investigadas demonstraram uma grande dificuldade em conciliar as múltiplas atribuições, o que se transformou inclusive em motivos de angústia e preocupação. Frota e Marcopito14 apresentaram que entre as mães que fizeram pré-natal, 88,7% foram orientadas sobre o AM. As dificuldades para amamentar, mais frequentes, relatadas pelas mulheres foram: problemas comuns nos mamilos (28,5%), acompanhado de dor (22,3%), presença de fissuras (19,5%), ausência de leite (13,4%), mastite (4,5%) e outros motivos. Essas dificuldades foram mais frequentes em mães adolescentes e mostraram ser fortemente associadas ao desmame independente de outros fatores. Outro fator importante foi o estado conjugal, nas análises mostraram que mães adolescentes com vida conjugal favoreceram ao desmame, ocorrendo o oposto com as que não tinham vida conjugal. Foi observado também que mães adolescentes que tinham atividade fora do lar apresentaram maior proporção de desmame até o sexto mês. Os resultados finais mostraram que a assistência no pré-natal é um fator que protege contra o desmame, no entanto, a existência da vida conjugal e atividade fora de casa são fatores associados ao desmame somente em mães adolescente. 68 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 Em um estudo realizado por Sales e colaboradores15, foi possível identificar quais os fatores que estão relacionados com a mastite. Dentre as 70 pacientes estudadas com mastite, 51% tinham menor grau de escolaridade, 66% tinham atividade domiciliar sem apoio, 57% eram primíparas, 67% não tinham experiência anterior com amamentação, 90% realizaram pré-natal e 45% informaram que suas mamas não foram examinadas. O mesmo foi relatado em relação à ordenha, 42% não foram orientadas e apenas 26% sabiam fazer corretamente. Quanto ás complicações mamárias, 46% tinham mamas ingurgitadas, 47% fissuras mamilares e 84% evoluíram para abscesso. Giugliani16 em uma revisão atualizada sobre problemas comuns relacionados à lactação e seu manejo. Relatou que a prevenção da maioria das doenças é feita através de uma técnica correta, mamadas frequentes e em livre demanda, posição correta de amamentar e seu tratamento é feito através das seguintes medidas: massagens nas mamas, técnica e posição corretade amamentar, como já foi dito anteriormente, evitar uso de cremes nos mamilos. Vieira et al. 17apresentam que mulheres que pariram em hospitais com Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) tiveram menos prevalência de mastite do que mulheres que pariram em hospitais sem este programa. Eles identificaram que nas mulheres atendidas no IHAC, àausência de fissuras mamilares e não se ausentar do lar para trabalhar, foram fatores de proteção contra a mastite. Através de seu estudo eles comprovaram a importância da implementação do IHAC nas maternidades, além de medidas que previnem a mastite, sendo essa uma importante causa para o desmame precoce. Sousa et al.18 abordam em seu estudo os recursos não-farmacológicos para alívio dos sintomas do ingurgitamento mamário. Em artigos analisados por eles foram encontrados 4 tipos de técnicas utilizadas: a aplicação de folha de repolho e compressas quentes, acupuntura e a terapia de Gua-Sha. Dos itens estudados eles puderam identificar que a aplicação de folha de repolho e compressas quentes podem causar piora dos sintomas de ingurgitamento mamário. Em relação a acupuntura e a terapia de Gua- Sha recomenda-se como recursos não-farmacológicos que podem substituir com segurança o uso de terapias medicamentosas às mulheres em processo de amamentação. Através deste estudo eles puderam afirmar que os recursos não- farmacológicos são sinônimo para alívio do ingurgitamento mamário, porém observaram que necessita de mais estudo em relação a esta temática. 69 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 Zorzi e Bonilha 19 trazem as práticas utilizadas pelas puérperas frente às intercorrências mamárias em seu domicílio. As patologias avaliadas foram: fissura mamilar, dor mamilar e ingurgitamento mamário. Vários foram os motivos que levaram as mães acompanhadas em sua pesquisa a amamentarem, quase todos relacionados as experiências anteriores vivenciadas dentro do contexto familiar. As práticas adotadas para o tratamento de intercorrências na lactação também estão baseadas nessas experiências familiares. Quando os problemas mamários estavam instalados, a ajuda vinha dos familiares e de pessoas mais próximas, como vizinhos, parentes, benzedeiras e rezadeiras da comunidade, comadres, etc. Dentre as práticas utilizadas foram destacadas as rezas e simpatias, chás de ervas medicinais, sebo de ovelha, casca de banana ou mamão, uso do sol ou luz, passar pente de cabelo nas mamas. Através dos artigos analisados foi possível observar que são vários os fatores associados ao desmame precoce. As intercorrências mamárias e a falta de assistências dos profissionais de saúde frente às essas complicações se configuraram como importante fator de risco para a ocorrência do desmame precoce19. Categoria 3: ações do enfermeiro na prevenção das complicações mamárias Na literatura pesquisada para realização desta análise, um dado muito importante foi às ações do enfermeiro na prevenção das complicações mamárias. Para Batista, Farias e Melo20, a prática do AM está relacionada a fatores físicos, psicológicos e sociais, sendo reconhecido o envolvimento dos profissionais de saúde neste processo. No seu estudo eles perceberam através dos questionamentos realizados as entrevistadas que existe uma falta de assistência de enfermagem na prática da amamentação. Em relação ao incentivo ao AM os autores identificaram que entre as 16 mulheres entrevistadas, 9 relataram não ter recebido orientações em nenhum momento da gestação Batista, Farias e Melo 20. Foi observado também no estudo de Demitto et al.21, que das 21 mulheres entrevistadas apenas 6 foram orientadas por enfermeiros. A visita domiciliar (VD) contribui para o maior contato entre o profissional de saúde e a família, identificando assim suas principais necessidades e demais intercorrências que surgirem, pois, a visita domiciliar é de fundamental importância para a criança e para incentivar a prática do AM. Batista, Farias e Melo20, observaram através dos relatos que a 70 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 visita domiciliar realizada por enfermeiro não foi satisfatória, uma vez que apenas 2 mulheres relataram ter recebido essa visita. Segundo Batista, Farias e Melo 20, para que ocorra suporte social na amamentação, é necessário enfatizar que além da contribuição familiar, os profissionais de saúde também se destacam na promoção do vínculo afetivo entre mãe e bebê iniciando desde as primeiras consultas até o puerpério, contribuindo assim para o sucesso da prática da amamentação. Diante dos achados foi possível observar que a assistência de enfermagem às lactentes ainda é insuficiente para garantir uma prática adequada da amamentação. Portanto cabe ao enfermeiro procurar se capacitar em AM para poder atuar junto à população, não somente na assistência, mas, na promoção e educação20. CONCLUSÃO Mediante a revisão de literatura, concluiu-se que a atuação dos profissionais de saúde, em especial do enfermeiro no puerpério é imensurável, pois vêm trazer o incentivo necessário às puérperas, enfatizando sobre a importância do AME no tempo certo, orientando sobre técnicas adequadas, prevenindo e tratando as patologias mamárias. O objetivo maior desta assistência é evitar o desmame precoce e consequentemente a utilização de aleitamento artificial, tornando-se válida a proposta do incentivo a orientação e ao preparo para o AM. A intervenção da equipe de enfermagem no aconselhamento para a amamentação ajuda a mãe a tomar decisões seguras, a nutriz começa a ouvir e a despertar o interesse pela amamentação preventiva, aumentando também sua autoestima, o que contribui para o sucesso desta prática, demonstrando que um pré-natal bem estruturado, rico em informações sobre assuntos é de importância para o bom andamento do aleitamento materno exclusivo. Desta forma, o presente estudo foi de grande relevância, pois foi perceptível atuação da enfermagem nas complicações no AM, contribuindo no sentido de orientação à família e a sociedade, para diminuir o índice de desmame precoce. Novos estudos empíricos, entretanto, são necessários para continuar demonstrando a importância do 71 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 profissional de enfermagem como membro de uma equipe multidisciplinar na prevenção e no tratamento dessas complicações. REFERÊNCIAS 1. World Health Organization (WHO). Infant and young child feeding: model chapter for textbooks for medical students and allied health professionals. Geneva: WHO; 2009 2. Victora CG, Kirkwood BR, Ashworth A, Black RE, Rogers S, Sazawal S, Campbell H, Gove S. Potential interventions for the prevention of childhood pneumonia in developing countries: improving nutrition. The American Journal of Clinical Nutriton 1999; 70:309-20. 3. World Health Organization (WHO). Collaborative Study Team on the role of breastfeeding on the prevention of infant mortality. Effect of breastfeeding on infant and child mortality due to infectious diseases in less developed countries: a pooled analysis. WHO 2000; 9202(355):451-55. 4. Vieira GO. Alimentação infantil e morbidade por diarreia na cidade de Feira de Santana. Feira de Santana. Dissertação - Universidade Estadual de Feira de Santana, 2002. 5. Escuder MML, Venancio SI, Perera JCR. Estimativa de impacto da amamentação sobre a mortalidade infantil. Rev. de Saúde Públic 2003; 37(3):319-25. 6. Almeida NAM, Fernandes AG, Araújo CG. Aleitamento materno: uma abordagem sobre o papel do enfermeiro no pós-parto. Rev. Eletrônic de Enf 2004; 6(3):3583- 67. 7. Rea MF. Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher, J. pediatr. 2004; 80(5): 142-46. 8. Castro KF, Souto CMRM, Rigão TVC, Garcia TR, Bustorff LACV, Braga VAB. Intercorrência mamáriasrelacionadas à lactação: estudo envolvendo puérperas de uma maternidade pública de João Pessoa, PB. O mundo da Saúde 2009, 33(4):433-9. 9. Vieira GO, Martins CC, Vieira TO, Oliveira NF, Silva LR. Fatores preditivos da interrupção do aleitamento materno exclusivo no primeiro mês de lactação. Jornal de Pediatria 2010; 86(5):441-4. 72 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 10. Azeredo CM, Maia TM, Teresa CA, Silva FF, Cecon PR, Cotta RMM. Percepção de mães e profissionais de saúde sobre o aleitamento materno: encontros e desencontros. Rev. Paulista de Pediatr 2008; 26(4):336-44. 11. França GVA, Bruken GS, Silva SM, Escuder MM, Venancio SI. Determinantes da amamentação no primeiro ano de vida em Cuiabá, Mato Grosso. Rev. Saúde Pública 2007; 41(5):711-8. 12. Parizotto J, Zorzi NT. Aleitamento Materno: fatores que levam ao desmame precoce no munícipio de Passo Fundo, RS. O mundo da Saúde 2008; 32(4):466- 74. 13. Giugliani ERJ. O aleitamento materno na prática clínica. J. pediatr. (Rio J.). 2000; 76 (Supl.3): S238-S52 14. Frota DAL, Marcopito LF. Amamentação entre mães adolescentes e não- adolescente, Montes Claros, MG. Revista Saúde Pública 2004; 38(1):85-92. 15. Sales AN, Vieira GO, Moura MSQ, Almeida SPTMA, Vieira TO. Mastite Puerperal: Estudo de Fatores Predisponentes. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (RBGO) 2000; 22(10):627-32. 16. Giugliani ERJ. Problemas comuns na lactação e seu manejo. J. pediatr. 2004; 80(5):147-54. 17. Vieira GO, Silva LR, Mendes CMC, Vieira TO. Mastite lactacional e a iniciativa Hospital Amigo da Criança, Feira de Santana, Bahia, Brasil. Caderno de Saúde Pública 2006; 22(6):1193-200. 18. Sousa L, Haddad ML, Nakano MAS, Gomes FA.Terapêutica não-farmacológica para alívio do ingurgitamento mamário durante a lactação: revisão integrativa da literatura. Revista da Escola de Enfermagem da USP 2012; 46(2):472-9. 19. Zorzi NT, Bonilha ALL. Práticas utilizadas pelas puérperas nos problemas mamários. Revista Brasileira de Enfermagem 2006; 59(4):521-6. 20. Batista KRA, Farias MCAD, Melo WSN. Influência da assistência de enfermagem na prática da amamentação no puerpério imediato. Saúde em Debate 2013; 37(96):130-8. 21. Demitto MO, Da Silva TC, Páschoa ARZ, Mathias TAF, Bercini LO. Orientações sobre amamentação na assistência pré-natal: uma revisão integrativa. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste 2010; 11:223-9. 73 Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2016; 1 (2): 58-73 22. Bardin L. Análise de conteúdo. 1 ed. São Paulo: Edições 70; 2011. 229. 23. Tung KH, Goodman MT, Wu Anna H, McDuffie K, Wilkens LR, Kolonel LN, et al. Reproductivefactorsandepithelial ovarian cancer risk by histologic type: a multiethnic case-control study. Am J Epidemiol 2003;158:629-38. 24. Riman T, Dickman PW, Nilsson S, Correia N, Nordlinder H, Magnusson CM, et al. Riskfactor for invasiveepithelialovariancancer: resultsfrom a Swedish case- controlstudy. Am J Epidemiol 2002;156:363-73. 25. Brun JG, Nilssen S, Kvale G. Breastfeeding, other reproductive factors and rheumatoid arthritis: a prospective study. Br J Rheumatol 1995;34:542-6 26. Gigante D, Victora CG, Barros FC. Breastfeeding has a limited long-time effect on anthropometry and body composition of Brazilian mothers. J Nutr. 2001;131:78-84. 27. Benitez I, de la Cruz J, Suplido A, Oblepias V, Kennedy K, Visness C. Extending lactationalamenorrhoea in Manila: a successful breastfeeding education program. J BiosocSci1992; 24:211-31.
Compartilhar