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GESTÃO DE PROCESSOS GERENCIAIS Rodrigo Medici Candido 3 1 GESTÃO DE PROCESSOS Todas as empresas possuem, quer saibam ou não, processos a serem gerenciados. Os processos vão desde a compra e recebimento da matéria prima, controle de estoques, controle de treinamento e de recursos humanos, até a abordagem de vendas e apoio administrativo. As empresas, nesse sentido, são orientadas por processos, de forma que quão melhor gerenciados, melhor a sua posição no mercado. Naturalmente, os processos variam em algum grau entre as empresas, visto que o processo importante para uma, pode não ser importante para outra. Abordaremos, no primeiro bloco, as temáticas introdutórias acerca da gestão de processos gerenciais, bem como hierarquias, tipologias e a cadeia de valor. 1.1 Processos De acordo com Cavalcanti (2017), um processo representa uma sequência de atividades que transformam insumos em produtos, sejam eles bens ou serviços, e produz uma saída para o cliente. Nesse sentido, um processo de negócio é uma “atividade previamente estabelecida cujo objetivo é determinar como o trabalho será realizado em uma organização”. Um processo implica ação, uma cadeia que se constitui em força motriz para as organizações. Para que um processo de negócio exista, três variáveis são fundamentais, sendo representadas por entradas, processamento e saídas. As entradas são representadas por matérias primas, insumos, energia elétrica, água ou mão de obra. As saídas são os produtos ou serviços que são gerados em função do processamento daquilo que entrou, podendo ser móveis, objetos ou até mesmo relatórios. O processamento trata da forma pela qual a entrada gerará uma saída (SILVA, 2015). Grande parte do entendimento da abordagem por processos nas organizações está relacionada ao entendimento do ambiente organizacional, conforme destaca Stadler (2013). Via de regra, as empresas, em sua maioria, adotam um estilo de organização por áreas funcionais, dividindo as tarefas com base nas especialidades de cada setor, estando a empresa baseada em conceitos como eficiência, especialização e controle de processos. Essa forma de atuação, por mais antiga que seja, está presente na maior parte das empresas. Ocorre, entretanto, que as empresas não são sistemas fechados e recebem influência do ambiente externo, ao mesmo tempo em que o influencia, 4 estabelecendo com o meio uma relação de interdependência. No ambiente de negócios contemporâneo, as empresas fechadas, que não se preocupam com a transparência, integração e cooperação, estão fadadas ao fracasso. Os processos de negócio, portanto, são os balizadores das atividades organizacionais, podendo ocorrer no âmbito operacional, tático ou estratégico. Uma empresa que produz algum bem possuirá um processo de fabricação, por exemplo. Um comércio possuirá, dentre outros, um processo de vendas, mas não o de fabricação, já que não produzirá nenhum bem. Cada atividade representa um processo e deve ser controlada para que se mensure a sua eficiência. Salienta-se que nem todas as empresas possuem os mesmos processos, vide o exemplo acima, de uma indústria e um comércio. Um é produtor e o outro é revendedor. Cavalcanti (2017) destaca algumas características dos processos de negócio, como o envolvimento de diferentes setores organizacionais para a sua completa execução; o fato de refletirem a missão e visão organizacional e representarem um significante ativo intangível; o fato de permitirem a obtenção de uma visão holística da organização de modo a identificar erros e oportunidades de melhoria e o foco no cliente final, não em uma área ou chefe. Stadler (2013) complementa as características dos processos de negócios, conforme quadro 1, ao afirmar que os processos de negócios são: Características Significado Extensos e complexos Envolvem diversidade e quantidade de informações geradas tanto internamente, quanto externamente. Dinâmicos Requerem agilidade para responder às demandas dos consumidores. Distribuídos e segmentados Limitados a uma organização. Duradouros Executar algumas transações pode levar muito tempo. Automatizados (Possivelmente) Atividades rotineiras podem ser executadas por computadores. Dependentes de pessoas Requerem interação com clientes e de pessoas capacitadas à execução. Quadro 1: Características dos processos de negócio. 5 Fonte: Adaptado de Stadler (2013). 1.2 Gestão por processos Na gestão por processos, segundo Stadler (2013), a informação é considerada um insumo. Quanto mais uma organização conhece e compreende o seu consumidor, melhor direcionados serão os seus processos, que resultarão em saídas assertivas para atingir a necessidade do consumidor. A informação, portanto, é considerada como entrada em qualquer processo de transformação. A compreensão desse fato nos permite compreender que o foco da abordagem por processos se encontra na horizontalização dos processos de negócio, trabalhando-se com fluxos de informação internos e externos à empresa. Nessa abordagem, jamais o foco será apenas em uma área funcional, mas no agrupamento das atividades necessárias à realização dos processos de negócio. A gestão por processos difere da gestão de processos, afirma Cavalcanti (2017). A gestão de processos é o ato de gerenciar os processos existentes em uma organização e a gestão por processos é uma filosofia de gerenciamento na qual se busca enxergar a empresa de forma global, por meio do inter-relacionamento das áreas e da sinergia entre elas. A análise dos seguintes atributos contidos no quadro 2 permitirá o melhor entendimento de sua diferenciação: Atributos Gestão de processos Gestão por processos Foco Chefe Cliente Relacionamento primário Cadeia de comando Cliente/Fornecedor Orientação Hierarquia Processo Tomador de decisão Gerência Todos os participantes Estilo Autoritário Participativo Objetivo Redução de custo Prevenção de risco Visão Funcional, vertical Processual, horizontal Melhoria contínua Dos processos Dos resultados Orientação Tarefas Metas dos processos 6 Quadro 2: Atributos de processos Fonte: Adaptado de Cavalcanti (2017). Stadler (2013) também destaca alguns pontos diferenciadores da gestão de processos, o que o autor chama de gestão funcional, e a gestão por processos, conforme apresentados no quadro 3: Características Gestão de processos Gestão por processos Forma de organização Linear Integrada Avaliação de desempenho Centrada no indivíduo Centrada nos resultados do processo de negócio Capacitação dos indivíduos Especialização Multifuncionalidade Relacionamento externo Pouco direcionado Estimulado por cooperação e parcerias Alocação de pessoas Rígida supervisão hierárquica Autoridade para as equipes tomares decisões Quadro 3: características diferenciadores da gestão de processos e da gestão por processos. Fonte: Adaptado de Stadler (2013). 1.3 Hierarquia de processos Os processos podem ser diferenciados a partir do estabelecimento de uma hierarquia, conforme destaca Stadler (2013). Todas as atividades organizacionais representam processos e tratar todas as atividades da mesma maneira pode gerar algum tipo de desequilíbrio no atendimento às necessidades do consumidor. Os processos de negócio podem ser diferenciados pelo seu objetivo final e denominados de processos de gestão, processos primários e processos de apoio, conforme quadro 4. Processos de negócio Definição Processos de gestão Coordenação e gerenciamento dos processos primários e de apoio. Processos primários Aqueles que se relacionam diretamente com o cliente e cujas falhas serão facilmente reconhecidas. 7 Processos de Apoio Suportam os processos primários e são importantes para que eles sejam realizados. Quadro 4: Hierarquiade processos Fonte: Stadler (2013). Os processos de negócio podem, ainda, ser decompostos a partir dos três níveis organizacionais básicos, conforme apresentado no quadro 5. Nível Categoria Definição 1 - Estratégico Macroprocessos Denotam o funcionamento geral do negócio, expondo todas as operações realizadas pela organização. 2 - Tático Subprocesso Conjunto de processos da cadeia de valor expostos à visualização de forma mais detalhada, decompostos e executados de forma ordenada. 3 - Operacional Atividades e tarefas Ampliação do nível de detalhe do processo, representando o “como fazer”. Quadro 5: Processos decompostos Fonte: Cavalcanti (2017). 1.4 Elementos dos processos De acordo com Silva (2015), os processos são constituídos de uma série de elementos, a saber: clientes, pessoas, materiais, tecnologia, equipamentos e capital. Tais variáveis são críticas para o gerenciamento de processos e para o gerenciamento por processos. Variáveis Observação Clientes Os processos existem para atender demandas e, muitas vezes, os gestores não possuem uma visão clara sobre quem são os clientes dos processos. Os casos mais graves apontam que os gestores não percebem que a saída de cada processo não impacta apenas uma área. Parte da explicação para tal fato está na falta de reflexão acerca dos processos de negócio da organização, até mesmo pela falta de tempo. O gerenciamento adequado do processo envolve a identificação e 8 estabelecimento de quem são os clientes e o que eles esperam. Pessoas Além da identificação dos clientes dos processos, também é preciso o gerenciamento das pessoas envolvidas na execução do processo. Todos os envolvidos devem conhecer a sua atividade e qual é o fim da mesma, de forma a enxergarem valor e compreenderem o funcionamento do negócio. Pessoas comprometidas fazem a diferença em qualquer equipe, desde que motivadas e desafiadas a atingir metas atingíveis. No gerenciamento de pessoas, é fundamental o conhecimento de quanto cada colaborador pode produzir, de suas competências e de quanto se pode extrair de cada um. O gestor é um líder. Materiais Os materiais são utilizados no processo de transformação e dão forma ao produto final. Os materiais podem ser matérias primas, componentes ou insumos, destinados tanto para a etapa fabril quanto para o escritório. Os materiais representam a entrada dos processos. A área de logística é fundamental para uma gestão profissional e para que os custos não sejam maiores que os rendimentos. Tecnologia e equipamentos São representados por aparelhos simples, como os computadores e telefones, ou por aparelhos complexos, como aqueles utilizados no processo fabril, que demandam programação e especialização. Com o passar do tempo, a evolução da tecnologia proporcionou elevados ganhos em termos de competitividade para as organizações, que abriram mão de tarefas manuais e automatizaram muitos processos. Esta situação, apesar de já estar presente há tempos, continua a representar uma tendência. Capital O capital é necessário para arcar com as despesas referentes a materiais, pessoas, tecnologia e equipamentos. Os gastos devem ser internalizados e os rendimentos devem ser superiores a eles. Há de se preocupar, ainda, com questões de manutenção preventiva e corretiva, melhorias de processo, programas de qualidade, retrabalho e material desperdiçado. Quadro 6: Variáveis constituintes dos processos Fonte: Adaptado de Silva (2015). 9 1.5 Cadeia de valor Gestores que fazem a gestão por processos, conforme visto nos tópicos anteriores, estão sempre atentos ao que o cliente deseja, já que todo processo gera uma saída com vistas a ele. Desta maneira, as empresas devem conhecer os consumidores para que possam orientar seus processos à satisfação deles. O conhecimento dos desejos e necessidades dos consumidores amplia a chance de as empresas criarem valor para o cliente. Mais do que criar valor, é preciso que o consumidor perceba esse valor positivamente. Zeithaml (1988, apud Lage Júnior, 2016) afirma que o valor percebido representa a avaliação geral do consumidor sobre a utilidade do produto com base na percepção do que é recebido e do que é dado, ou seja, os valores entregues (imagem da marca, qualidade do produto, nível de serviços) subtraídos dos custos de aquisição (tempo, valor monetário, energia física e psíquica). Segundo Lage Júnior (2016), com economias cada vez mais competitivas, produtos e serviços variados e consumidores exigentes, os negócios sentem a necessidade de ajustar seus processos para entregar mais valor aos clientes. Cada empresa é única e deve, a partir da identificação e análise de suas atividades operacionais, definir quais delas são primárias e quais delas são de apoio, para que possa encontrar maneiras de criar e entregar valor ao consumidor. Albertin e Pontes (2016) afirmam que, “para avaliar o fluxo de valor de uma empresa, deve-se identificar e separar os processos que efetivamente geram valor para os clientes daqueles que não geram valor”. Se os processos são geradores de valor, devem ser maximizados. Do contrário, devem ser minimizados ou eliminados. Conclusão A gestão de processos é, muitas vezes, utilizada de forma errônea na gestão dos negócios. A gestão de processos é superficial, individual, não integrativa, ao passo que a gestão por processos envolve a equipe, é integrativa e demanda participação dos envolvidos. Independentemente da metodologia que as organizações adotem, algumas questões tornam-se fundamentais para que o sucesso seja atingido. Não basta apenas conhecer uma etapa do processo produtivo, por exemplo, mas é importante que os colaboradores tenham conhecimento de toda a cadeia produtiva, de modo a se comprometerem e se engajarem mais. Os colaboradores são essenciais na condução da gestão dos negócios, mas outros fatores também são fundamentais, como o capital, tecnologia, equipamentos e materiais. Por fim, mas não menos importante, o cliente é a razão de existir de um negócio e as organizações que não o conheçam estão propensas a falhar na gestão dos processos. 10 Referências ALBERTIN, Marcos Ronaldo; PONTES, Heráclito L. J. Gestão de processos e técnicas de produção enxuta. Curitiba: InterSaberes, 2016. CAVALCANTI, Rubens. Modelagem de processos de negócio: roteiro para a realização de projetos de modelagem de processos de negócio. Brasport: Rio de Janeiro, 2017. LAGE JUNIOR, Murís. Mapeamento de processos de gestão empresarial. Curitiba: InterSaberes, 2016. SILVA, Leandro Costa da. Gestão e melhoria de processos: conceitos, práticas e ferramentas. Brasport: Rio de Janeiro, 2015. STADLER, Adriano. Gestão de processos com suporte em tecnologia da informação. Curitiba: InterSaberes, 2013.
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