Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Profa. Giselle Pavanelli Teorias da Administração III Administração São Paulo 2009 UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO ADMINISTRAÇÃO: APOSTILA PARA A DISCIPLINA DE TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO III (G2) - UNISA PROFª. Me. GISELLE PAVANELLI SÃO PAULO, 2009 2 SUMÁRIO 1. A Administração e as Organizações........................................................ 3 2. As Teorias da Administração, suas tendências e perspectivas.............. 11 3. As Funções Organizacionais ................................................................ 21 4. Abordagem estruturalista da administração .......................................... 29 4.1 Modelo burocrático de organização.................................................29 4.2 Teoria estruturalista da administração.............................................32 5. Eficiência, eficácia e competitividade organizacional ......................... 51 5.1 Definições ....................................................................................... 51 5.2 Produtividade ................................................................................... 52 5.3 Qualidade ........................................................................................ 52 5.4 Competitividade............................................................................... 53 6. Bibliografia............................................................................................. 55 3 1. A Administração e as Organizações As mudanças são cada vez mais rápidas e inesperadas, principalmente no campo do conhecimento e da explosão populacional, tais mudanças impõe novas e crescentes necessidades, neste contexto o crescimento das organizações as tornam complexas e sem fronteiras. As diversas Teorias da Administração serão estudadas no decorrer do nosso curso/disciplina onde veremos suas contribuições e diferentes enfoques para a melhoria da gestão nas organizações. Cada teoria surgiu em resposta a algum problema empresarial da sua época. As teorias atenderam e apresentaram soluções às questões encontradas e de certo modo todas as teorias administrativas são aplicáveis às situações de hoje. Segundo Mota (2001), no início do século XX despontaram as primeiras teorias das organizações. As teorias são conhecimentos organizados, produzidos pela experiência e prática nas organizações. Organizações são grupos sociais deliberadamente orientados para a realização de objetivos ou finalidades. A organização burocrática, sistema social dominante nas sociedades modernas, é uma estratégia de administração e de dominação, fruto e berço da burocracia. Weber (1992), argumenta que o entendimento das organizações modernas baseia-se em leis, que as pessoas aceitam por acreditarem que são racionais, isto é, definidas em função do interesse das próprias pessoas e não para satisfazer aos caprichos arbitrários de um dirigente. As pessoas que integram as organizações modernas também aceitam que algumas pessoas representem a autoridade da lei. A autoridade é a contrapartida da responsabilidade que têm essas pessoas de zelar pelo cumprimento da lei. De acordo com Morgan (1996), Weber estava interessado nas conseqüências sociais da proliferação da burocracia e assim preocupou-se com o efeito que isso poderia ter sobre o lado humano da sociedade. O cientista alemão viu que o enfoque 4 burocrático tinha potencial para rotinizar e mecanizar quase cada aspecto da vida humana, corroendo o espírito humano e a capacidade de ação espontânea, o que poderia ter graves conseqüências políticas ao minar o potencial de formas mais democráticas de organização. Em contraste com Weber, teóricos profissionais em administração da América do Norte e da Europa estabeleceram as bases daquilo que é agora conhecido como “a Teoria da administração Clássica” e “Administração Científica”. As Teorias da Administração ganharam outros enfoques ao longo do tempo e procuraram oferecer soluções universais para todos os problemas e situações vividos nas organizações. Os enfoques da produção em massa e eficiência, a Escola do Humanismo e o foco comportamental das relações sociais no trabalho, a Escola da Qualidade e do Processo Administrativo, o enfoque Sistêmico e Contigencial são algumas abordagens desenvolvidas e difundidas pela Administração moderna. Segundo Bergamini (1996), a compreensão das organizações enquanto corporações de trabalho é uma arte. De acordo com a mesma professora, a obra de Morgan caracteriza as organizações por metáforas, que podem ser utilizadas para entender os processos organizacionais, enfatizando que é necessário lançar mão de várias delas e não de uma única para melhorar a nossa habilidade compreensiva de “ler e interpretar” os diferentes aspectos que coexistem e se complementam dentro da realidade organizacional, por mais paradoxal que esta possa parecer. Morgan (1996), interpreta as organizações a partir de metáforas, comparando-as a imagens que permitem vê-las enquanto máquinas, organismos vivos, cérebros, culturas, sistemas políticos, prisões psíquicas, fluxos e transformações e, finalmente, enquanto instrumentos de dominação. O autor busca a integração das metáforas para compreensão da realidade complexa, ambígua e repleta de paradoxos da organização. Segundo o autor, usando diferentes metáforas para entender o caráter complexo e paradoxal da vida organizacional, somos capazes de administrar e planejar organizações de formas não pensadas como possíveis anteriormente. Para o autor, qualquer abordagem realista da análise organizacional deve ser iniciada a partir da premissa de que organizações podem ser muitas ao mesmo tempo. 5 Segundo Wheatley (1999), alguns acreditam que há riscos em brincar com a ciência e em abstrair suas metáforas porque, depois de um certo grau de distensão, as metáforas perdem sua relação com as rigorosas teorias científicas que as originaram. Outros, no entanto, alegam que tudo na ciência é metáfora, uma descrição hipotética de como refletir sobre uma realidade que nunca podemos conhecer plenamente. As metáforas de Morgan nos ajudam a ir além das teorias das organizações, facilitando a análise crítica e a interpretação das faces organizacionais, que não estão restritas a explicações acabadas ou um conjunto de referenciais definidos, mas que transitam entre diferentes maneiras de pensar. Segundo a obra do autor, a metáfora da máquina, ilustra como esse estilo de pensamento alicerçou o desenvolvimento da burocracia. Conforme o autor, quando os administradores pensam nas organizações como máquinas, tendem a administrá-las e planejá-las como máquinas feitas de partes que se interligam, cada uma desempenhando um papel claramente definido no funcionamento do todo. Enquanto algumas vezes isso pode comprovar-se eficaz, outras vezes pode ter muitos resultados desastrosos. Um dos problemas mais básicos da administração moderna é que a forma mecânica de pensar está tão arraigada nas nossas concepções diárias de organização que é freqüentemente muito difícil organizá-la de outra forma. Wheatley (1999), afirma que à medida que deixamos para traz o modelo mecanicista das organizações, e a idéia de trabalhadores como engrenagens substituíveis do maquinário de produção, começamos a ver a nós mesmos em dimensões muito mais ricas, a apreciar a totalidade que somos e, quem sabe, planejar organizações que honrem e façam uso dessa grande dádiva que é aquilo que, na qualidade de seres humanos, todos nós somos. A metáfora dos organismos de Morgan corrobora o pensamento de Wheatley, pois o foco da comparação é sua atenção em compreender e administrar necessidades organizacionais e as relações com o ambiente. Estametáfora pressupõe que diferentes tipos de organizações pertencem a diferentes espécies, das quais a burocrática é apenas uma. 6 O autor afirma que diferentes espécies são mais talhadas para lidar com as demandas de diferentes ambientes e, desta forma, aumenta-se a capacidade de desenvolver interessantes teorias sobre as relações entre as organizações e os seus ambientes. A metáfora analisa a organizações como organismos que nascem, crescem, desenvolvem-se, declinam e morrem, além da capacidade de se adaptarem a ambientes em mutação. Esta imagem está muito ligada às relações entre as espécies e os padrões de evolução encontrados na ecologia interorganizacional e sua perspectiva contribuiu muito para o desenvolvimento da teoria da administração moderna. A metáfora do cérebro foca a importância do processamento de informações, aprendizagem e inteligência nas organizações, permitindo ao leitor uma forma de compreensão e avaliação das organizações modernas sob esta perspectiva. Duas linhas de interpretação das organizações vistas como cérebro, são enfatizadas, uma do tipo computador ou processador de informações, e outra do tipo holograma. Segundo o autor, estas imagens, especialmente a do holograma, ressalta princípios importantes de auto-organização para concepção de organizações nas quais um alto grau de flexibilidade e inovação é necessário. As organizações enquanto culturas são vistas como um lugar onde residem idéias, valores, normas, rituais e crenças que as sustentam como realidades socialmente construídas. Este enfoque tem recebido crescente atenção nos últimos anos, especialmente dos estudiosos em cultura organizacional, que defendem administrar e planejar organizações através de valores, crenças e outros padrões de significados compartilhados que orientam a vida nas organizações. Um conhecido especialista em cultura corporativa, Schein (1985), afirma que não se pode construir um conceito comum se não houver concordância em como defini- lo, como medi-lo, como estudá-lo e como aplicá-lo no mundo real das organizações. Para ele, cultura apresenta aspectos como: estabilidade, compartilhamento, padronização, dinâmica e vida em grupo resultando em um padrão de suposições básicas, inventadas, descobertas ou desenvolvidas por um dado grupo, que aprende a lidar com seus problemas de adaptação externa e integração interna, que foram suficientemente bem trabalhadas para serem consideradas válidas e assim deve ser 7 ensinada aos novos membros do grupo como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. Segundo Schein (1985), a cultura de um dado grupo refletirá o que aquele grupo aprendeu ao resolver os problemas ao longo de sua história. A adaptação externa é realizada com a definição da missão da empresa e suas funções, o estabelecimento das metas, os critérios para a mensuração dos resultados e os ajustes nas estratégias caso as metas não estejam sendo alcançadas e a integração interna é realizada pela definição de uma linguagem comum, a delimitação das “fronteiras” do grupo e os critérios de inclusão, os critérios para a atribuição de status, poder e autoridade, os critérios para a atribuição de recompensas e punições e conceitos para gerenciar o não gerenciável (ideologia e religião). A cultura nas organizações, segundo Motta (2001), é um sistema de símbolos e significados compartilhados, que serve como mecanismo de controle. A ação simbólica necessita ser interpretada, lida ou decifrada para que seja entendida. É essa ação simbólica que ocorre em torno da oposição mais relevante num dado grupo, instituição ou sociedade. A metáfora da política, discutida por Morgan (1996), focaliza diferentes conjuntos de interesses, conflitos e jogos de poder que moldam as atividades organizacionais. As organizações são vistas como sistemas de governo baseados em vários princípios políticos que legitimam diferentes tipos de regras assim como fatores específicos que delineiam a política da vida organizacional. De acordo com Morgan (1996), os seres humanos possuem uma inclinação especial em caírem nas armadilhas criadas por eles mesmos. Através de uma metáfora mais abstrata, o autor, enxerga as organizações enquanto “prisões psíquicas”, nas quais pessoas caem nas armadilhas dos seus próprios pensamentos, idéias e crenças ou preocupações que se originam na dimensão inconsciente da mente. A imagem da visão psíquica convida a examinar a vida organizacional para ver se e de que forma caímos na armadilha dos processos conscientes e inconscientes da nossa própria criação. Assim a metáfora da “prisão psíquica” examina a psicodinâmica e ideologia nas organizações. 8 Em complemento a metáfora das “prisões psíquicas”, a metáfora das organizações como “instrumentos de dominação” é interpretada por Morgan, sob a perspectiva dos aspectos potencialmente exploradores das organizações. O autor mostra como as organizações freqüentemente usam os seus empregados, as comunidades hospedeiras e o mundo econômico para atingirem seus fins e como a essência da organização repousa sobre um processo de dominação em que certas pessoas impõem os seus objetivos sobre as outras. Segundo Freitas (2002), existe uma crise no processo de identificação dos indivíduos das sociedades modernas e essa crise é fator-chave na legitimação das organizações atuais e em especial nas grandes empresas como ator social central. A crise de âmbito social é resultante de mudanças decorrentes das fragilidades apresentadas pela desagregação da família; o fracasso do Estado como provedor de bens e serviços; a descrença na religião como meio para solucionar os problemas; a ausência de clareza sobre o papel da educação; a tecnologia que deixa de ser um modo de fazer para transformar-se em um modo de ser; a presença feminina no mercado de trabalho e a consolidação definitiva do capitalismo como o modo de produção global. Diante deste contexto, que provoca desorientação, dúvida e confusão, e gerando um futuro incerto e crise de identidade, a organização apresenta-se como a “tábua de salvação”. Freitas (2002), afirma que a sedução e o carisma, são formas de poder, que convidam as pessoas a terem lugar em uma fantasia de rara beleza que não se presta a provas da realidade cotidiana nem precisa se justificar. E estes elementos estão presentes nas organizações modernas, que tem uma enorme capacidade de criar ou despertar um mundo de ilusões, de lidar com uma série de signos vazios e fortuitos mas que leva o indivíduo a defendê-la com grande fanatismo. A metáfora do “fluxo de transformação”, segundo Morgan (1996), requer uma mudança de concepção. Para o autor o segredo de compreender a organização a partir dessa perspectiva reside na compreensão lógica de mudança que dá forma à vida social. Três vertentes desta metáfora são discutidas pelo autor, uma enfatiza como as organizações são sistemas auto-produtores que se criam nas suas próprias imagens. Outra enfatiza como são produzidos enquanto resultado de fluxos circulantes de feedback positivo e negativo e a terceira sugere que sejam o produto de uma lógica 9 dialética por meio da qual todos os fenômenos tendem a gerar o seu oposto. As descobertas daí decorrentes podem ajudar a compreender e administrar a mudança organizacional, bem como compreender as forças que moldam a natureza da organização em nível social. De acordo com Wheatley (1999), o nosso conceito de organização esta se afastando das criações mecanicistas que floresceram da era da burocracia. Começamos a falar sério de estruturas mais fluidas e orgânicas e até de organizações como sistemas inteiros, concebendo-as como organizações capazes de aprender, creditando-lhes algum tipo de capacidade de auto-renovação e percebendo que as pessoas têm a capacidade de se organizarsozinhas. As metáforas ou imagens das organizações, apresentadas por Morgan corroboram outros autores mencionados nos parágrafos anteriores e permitem enxergar as organizações de muitas formas ao mesmo tempo. Uma organização do tipo máquina, concebida a partir de objetivos específicos, pode ser simultaneamente uma espécie de organismo capaz de sobreviver em determinados ambientes, mas não em outros; um sistema de processamento de informações que se revela especializado para certos tipos de aprendizagem, mas não para outros; um meio cultural caracterizado por valores, crenças e práticas sociais distintos ou uma prisão psíquica onde várias lutas subconscientes ou ideológicas brigam pela dominação das pessoas; um sistema político no qual as pessoas lutam pelo poder para garantir seus próprios fins; ou ainda a organização pode se apresentar como um sistema aberto e complexo onde as mudanças são constantes e sofrem interferência do ambiente em que estão inseridas, assim como interferem na ecologia social a que pertencem. As discussões sobre os modelos e metáforas organizacionais estão intimamente ligadas ao gerenciamento ou gestão das organizações. Os trabalhos que estudam o processo gerencial são inúmeros e os argumentos de diversas naturezas. Alguns autores defendem a idéia de que se trata de um processo essencialmente objetivo, por outro lado há uma segunda vertente que defende a idéia da gerência como essencialmente dinâmica 10 e subjetiva. Entendemos que o gerenciamento não pode ser inflexível a ponto de adotar uma das duas vertentes excluindo a outra. Conforme Motta (2001), a gerência contemporânea é uma atividade permeada por controvérsias, e portanto, não há uma definição muito precisa do que é, de fato, ser um gerente, principalmente porque as variáveis do processo decisório gerencial estão em constante mutação. Isso faz da gerência uma atividade que requer um aprendizado constante. Motta (2001), faz uma analogia entre uma organização e um grande monstro desconhecido, que precisa ser dominado, evidenciando que para que este monstro seja de fato sobrepujado, é necessário que os grandes dirigentes sintam suas necessidades e indiquem alguns caminhos a serem seguidos. Consideramos um dos caminhos para dominar o monstro da gestão nas organizações, a aplicação dos princípios de liderança, tema que será aprofundado nas próximas seções. Os autores parecem concordar que a organização é um organismo complexo, que precisa ser estudada com profundidade e competência e que simplificações exageradas da realidade prejudicam o entendimento e a aplicação de ferramentas para condução das situações que envolvem as organizações. A ferramenta da metáfora favorece o entendimento e as perspectivas do comportamento organizacional face os diferentes ambientes e sistemas de organização, possibilitando transcender os modelos estereotipados das escolas da administração. 11 2. As Teorias da Administração, suas tendências e perspectivas A atividade administrativa é caracterizada por seu traço multicientífico e multidisciplinar. Quase tudo é administração. Qualquer trabalho que seja realizado por duas ou mais pessoas, que tenham graus de poder diferentes, contém elementos de administração. De nada adianta ter conhecimento, deter ou dominar uma técnica se ao mesmo tempo não estiver disponível uma habilidade de gerenciar essa técnica e esse conhecimento, ou seja, administrá-lo. O que dificulta o enquadramento teórico da Administração é o fato de ela transitar livremente entre o senso comum e as teses de mestrado e doutorado. A Administração é praticada não só entre aqueles que possuem formação acadêmica específica, como também é possível encontrar em diversas organizações administradores que não são formados e contam somente com o prática. Encarar a Administração, como um corpo de conhecimentos dotados de um objeto (próprio) de estudos, é requisito que a qualifica como ciência. O principal meio de acesso a ciência administrativa é através das Teorias da Administração, que resultaram de uma imensa produção de livros sobre a ciência da Administração. Para o entendimento das Teorias da Administração, faremos algumas definições de termos que serão utilizados no conteúdo desta apostila e serão posteriormente aprofundados no estudo da disciplina: Definições: a) Teoria é uma representação abstrata do que se percebe da realidade. b) Teorias são explicações, interpretações ou proposições sobre a realidade. c) Administração é o processo de tomar e colocar em prática decisões sobre objetivos e utilização de recursos. d) Recursos: Pessoas, Informação, Espaço, Tempo, Dinheiro, Instalações. 12 e) Decisões: Planejamento, Organização, Execução e Direção, Controle (também conhecidos como Princípios da Administração). f) Objetivos: Resultados esperados. g) Funções Administrativas: planejamento, organização, execução e controle. h) Teorias da Administração são conhecimentos organizados, produzidos pela experiência prática das organizações. i) Escolas: é uma linha de pensamento ou conjunto de autores que usaram o mesmo enfoque para analisar e tratar a administração. j) Modelos de Gestão: conjunto de doutrinas e técnicas, exemplo modelo japonês de administração. k) Modelos de Organização: produto da adoção de determinado modelo de gestão, exemplo mecanicista, comportamental, etc. l) Técnicas para solução de problemas: metodologia de planejamento, organização, execução, controle. O estudo da administração sofreu forte incremento a partir do início do século XX, muito embora a administração tenha sido sempre objeto de interesse por parte do homem no decurso de sua história. Por este motivo, a evolução das Teorias da Administração serão consideradas também a partir desta época. As abordagens das Teorias de Administração, de forma geral, podem ser classificadas quanto a sua ênfase: I) nas tarefas; II) na estrutura organizacional; III) nas pessoas; IV) no ambiente; e V) na tecnologia. I – A Ênfase nas Tarefas Em termos de teoria moderna, a escola de Administração Científica -1903, foi o marco a partir do qual as organizações e a administração ganharam um cunho científico. 13 A escola de Administração Científica tinha enfoque principal na organização racional do trabalho e seu principal representante foi o engenheiro americano Frederick W. Taylor. Taylor concentrou seus estudos na racionalização do trabalho do operário, procurando descobrir qual o melhor método para torná-lo mais eficiente. A Administração Científica estava fundamentada em dois itens: motivação e organização. A motivação estava relacionada ao dinheiro. O homem trabalhava para a organização porque precisava do dinheiro. Assim, estabeleceram-se os planos de incentivos salariais e prêmios por produção. Podemos chamar de Homo Economicus: concepção da natureza humana segundo a qual o homem, ao tomar uma decisão, conhece todos os cursos de ação possíveis, bem como suas conseqüências, optando sempre por aquela que lhe trouxer melhores e maiores ganhos. Na organização, a preocupação estava na divisão do trabalho operário, de forma tal que se tinha assegurado o controle total dos passos da produção e sua coordenação. Na Administração Científica, o estudo dos tempos e dos movimentos era muito empregado no desenvolvimento do método racional. Em síntese: os estudos de Taylor eram incompletos, uma vez que não abarcavam a TOTALIDADE DA ORGANIZAÇÃO, preocupando-se fundamentalmente, com a racionalização do trabalho do operário. II – A Ênfase na Estrutura Organizacional A abordagem centrada na estrutura organizacional representa um avanço no estudo das organizações, pois propicia uma elevada ampliação, do objeto de estudo. Quatro teoriassão aqui relacionadas: a) Teoria Anatomista e Fisiologista; b) Teoria Burocrática; c) Teoria Estruturalista; e d) Teoria Neoclássica 14 a) Teoria Anatomista e Fisiologista A Teoria Anatomista e Fisiologista – 1906, tinha como enfoque principal a maior eficiência, conseguida através da forma e disposição dos órgãos que compunham a estrutura organizacional, assim como as relações e funções no contexto global. O principal representante desta teoria foi o engenheiro francês Henri Fayol. Coube a Fayol a elaboração dos famosos princípios gerais da administração: divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, disciplina, unidade de comando, unidade de direção, subordinação do interesse individual ao geral, remuneração do pessoal, centralização, cadeia escalar (hierarquia), ordem, eqüidade (igualdade de tratamento), estabilidade do pessoal, iniciativa e espírito de equipe. Em síntese, é uma abordagem essencialmente normativa: o administrador se conduz através do processo administrativo utilizando-se dos princípios gerais para obter a eficiência administrativa. b) Teoria Burocrática A Teoria Burocrática – 1909, teve como pai o sociólogo alemão Max Weber. O termo burocracia, num sentido técnico, significa a existência de certas características da organização formal voltadas exclusivamente para a racionalidade e para eficiência. A burocracia, portanto, não tem o sentido pejorativo de uso popular, mas significa racionalidade e eficiência. Weber definiu um tipo ideal de burocracia, com as seguintes características: • formalização: todas as atividades da organização são definidas por escrito e a organização opera de acordo com um conjunto de leis ou regras que são aplicáveis a todos os casos individuais, sem exceção; • divisão do trabalho: cada participante tem um cargo ou posição definida com esfera específica de competência, com deveres oficiais, atribuições estritamente especificadas e delimitadas; • princípio da hierarquia: a burocracia se assenta em uma hierarquia bem definida de autoridade. Cada funcionário é submetido a ordens impessoais que guiam suas ações 15 de modo a assegurar a sua obediência. Cada função mais baixa está sob o controle e supervisão da mais alta, assegurando unidade de controle: cada funcionário tem apenas um único chefe. Daí o formato de estrutura piramidal da burocracia; • impessoalidade: o funcionário ideal desempenha com impessoalidade no relacionamento com outros ocupantes de cargos. • a burocracia enfatiza os cargos: a burocracia enfatiza os cargos e não as pessoas que os ocupam, pois as pessoas entram e saem da organização, mas os cargos permanecem para garantir sua continuidade e perpetuação; • competência técnica: a seleção e escolha dos participantes têm como base à competência técnica e qualificação profissional dos candidatos e não em preferências de ordem pessoal. Daí a utilização de testes e concursos para preenchimento de cargos ou para promoções. A burocracia se baseia eminentemente no mérito. O sistema também prevê carreiras e as promoções que são feitas de acordo com a antigüidade ou o mérito funcional, dependendo sempre do julgamento superior; • separação entre propriedade e administração: os recursos utilizados pela organização burocrática para a execução das tarefas não são de propriedade dos burocratas. A administração está separada da propriedade dos meios de produção, pois o dirigente ou o burocrata não é necessariamente o dono da organização ou dos seus meios de produção, mas um profissional especializado na sua administração. Daí o gradativo afastamento do capitalista da direção do seu negócio e a democratização do capital através das sociedades anônimas; • profissionalização do funcionário: os funcionários da burocracia são profissionais, pois são especialistas face à divisão do trabalho, são assalariados de acordo com suas funções ou posição hierárquica, seus cargos constituem a sua principal atividade dentro da organização, são nomeados pelo superior imediato, seus mandatos são por tempo indeterminado, seguem carreira dentro da organização e não possuem a propriedade dos meios de produção da organização. c) Teoria Estruturalista A Teoria Estruturalista – 1947, foi desenvolvida a partir das limitações e rigidez do modelo burocrático. Tem proposta de compatibilizar as contribuições clássicas e 16 humanistas na teoria da administração. Representa um avanço em termos da teoria, pois, pela primeira vez, as organizações são analisadas de forma mais ampla, contemplando- se aspectos formais e não formais. Nesta teoria, o ambiente externo recebeu um enfoque especial, sendo considerado uma variável a mais no estudo das organizações. Os objetivos organizacionais adquiriram significativo relevo e o conflito passou a ser considerado como sinal de vitalidade. É o período da Administração Por Objetivos (APO), da teoria da crise e da administração do conflito. A teoria estruturalista representa um período de transição e mudança no estudo das organizações. d) Teoria Neoclássica da Administração A Teoria Neoclássica – 1954, ficou conhecida como escola do processo administrativo. Representa uma retomada da teoria anatomista e fisiologista da administração – Fayol. O enfoque principal reside na prática da administração, retomando os princípios daquela teoria, porém com ênfase nos objetivos e resultados. Destacam-se itens como: descrição de cargos, equivalência entre autoridade e responsabilidade e princípios de linha e “staff”. Sendo que linha de comando referem- se aos órgãos de linha que seguem rigidamente o principio escalar da autoridade de comando, enquanto os de “staff” fornecem à linha serviços, conselhos, recomendações que estes últimos não têm condições de prover a si mesmo. Teremos um tópico dedicado a esta Teoria, para melhor compreensão. III – A Ênfase nas Pessoas É a abordagem que enfatiza as pessoas dentro das organizações, relegando a estrutura e as tarefas a um segundo plano. Distinguem-se duas teorias: das relações humanas e do comportamento organizacional. a) Teoria Humanística ou das Relações Humanas 17 A Teoria Humanística – 1932, se desenvolveu em oposição às teorias centradas nas tarefas e na estrutura das organizações. (Taylor e Fayol). Assim, os conceitos relativos à organização formal, autoridade e responsabilidade, hierarquia, eficiência, princípios gerais da administração, foram substituídos por outros, oriundos do desenvolvimento da psicologia do trabalho e sociologia industrial. Na teoria humanística prevalecem os conceitos de organização informal, motivação, necessidades humanas básicas, dinâmicas de grupo, comunicação, liderança... Autores: ( Maslow, Herzberg e Lewin, Blake e Mouton). A teoria humanística, contudo, ensejou uma visão inadequada das relações humanas, uma concepção ingênua do operário e uma análise simplista das relações entre empresário e trabalhador. Apesar de todos os problemas, a teoria representou uma saudável renovação e a abertura de novas frentes de estudo na Teoria da Administração. Também explicaremos com maiores detalhes esta Teoria, logo mais, ainda nesta apostila. b) Teoria Comportamental da Administração A Teoria Comportamental – 1957, é a retomada da teoria das relações humanas em novas bases. O trabalho e mais fundamentado em pesquisa e há uma tentativa de síntese da teoria anterior. A Teoria Comportamental surge também em oposição às teorias com ênfase na estrutura e nas tarefas, trazendo muitos tópicos da teoria burocrática. A Teoria Comportamental é uma teoria que foca o processo decisório. A tomada de decisão é o ponto fundamental, sendo considerada mais importante do que a execução. Há um esforço nesta teoria para compatibilizar os objetivos individuais e os da organização. O equilíbrioda organização está intimamente relacionado com a proporção da satisfação do indivíduo na organização. IV – A Ênfase no Ambiente 18 O estudo da variável ambiente tornou-se possível graças à influência da Teoria de Sistemas – 1970, na teoria da administração. A organização é entendida como um sistema aberto, isto é, que se caracteriza: a) por fazer parte de um sistema maior; b) pela interdependência dos subsistemas; c) pela existência de fronteiras definidas com capacidade de modificação de si mesma; d) por ser constituída de subsistemas menores; e) por ser mais dirigida ao provável e não ao determinado; A grande vantagem do estudo das organizações como sistemas abertos é a possibilidade de uma visão holística, ou seja, mais ampla da estrutura e dos comportamentos organizacionais. É extremamente importante estudar as variáveis exógenas, ou seja, aquelas situadas fora dos limites da organização e que afetam com maior ou menor intensidade, ao invés de estudar-se apenas as variáveis endógenas, ou seja, intra-organizacionais. O papel da tecnologia na determinação da estrutura e do comportamento organizacional tem sido objeto de estudo na teoria organizacional. Estes estudos são recentes e têm como ponto de partida os trabalhos de Joan Woodward na Inglaterra. O desenvolvimento destes estudos leva à criação da Teoria da Contingência - 1972. De acordo com esta teoria, três variáveis são importantes: tamanho da organização, tecnologia e natureza do ambiente. Na Teoria Contingencial não há tratamento único para a organização. Existe um íntimo relacionamento entre o trabalho, organização e o ambiente. A Teoria Contingencial se dedica ao estudo do clima organizacional e com os diferentes estilos de liderança. O Estágio Atual da Teoria da Administração 19 Procurou-se fornecer uma visão global a respeito do desenvolvimento da teoria administrativa. Este desenvolvimento é recente, do início do século XX. Assim, em aproximadamente 100 anos, pode-se observar um crescimento das teorias. Convém que se enfatize que todas as teorias apresentadas são válidas e utilizadas até hoje. Evidentemente, cada uma delas oferece suporte para a resolução de problemas específicos. A grande mudança reside no fato da teoria atual ser bastante complexa, possibilitando uma grande variedade de abordagens com um número elevado de variáveis a serem consideradas. Atualmente, as Teorias da Administração estudam a interlocução entre as principais variáveis já vistas, ou seja, tarefa, pessoas, ambiente e tecnologia. É certo que cada uma delas influencia e é influenciada pelas demais. Qualquer alteração numa delas, pode provocar alterações nas outras. A integração entre as variáveis é o grande desafio para as Teorias da Administração e para os administradores, em qualquer nível hierárquico. Deles se exigem uma maior capacitação, a fim de corresponderem aos crescentes desafios impostos pela complexidade das organizações modernas. O Futuro das Teorias da Administração, os Temas Emergentes Com base no exposto até agora, cabe indagar a respeito do futuro da teoria da administração. Será possível imaginá-lo? A tarefa é extremamente complexa. Parece razoável esperar que a teoria da administração sofra mudanças e transformações de difícil previsão. Acredita-se que as incertezas acentuar-se-ão, exigindo constantes revisões e, acima de tudo, muita flexibilidade por parte dos administradores. As organizações sofrerão inúmeros impactos, enfrentando períodos prolongados de turbulência, que exigirão a máxima capacidade criativa e todo empenho dos administradores. Kast e Rosenzwieg (1996) assinalam que as empresas dinâmicas e flexíveis prevalecerão no futuro. Algumas das principais causas apontadas por eles: 20 a) as empresas viverão num ambiente turbulento, que delas exigirá alterações e ajustamentos contínuos; b) as empresas continuarão a diferenciar suas atividades, criando maiores problemas de integração e coordenação; c) maior destaque será dado à sugestão e à persuasão, e não à coerção baseada no exercício da autoridade, como meio de coordenação do trabalho de seus membros, e de coordenação das funções e competências no interior da empresa; d) as metas das empresas se ampliarão. Dar-se-á maior ênfase à satisfação de uma série conjunta de objetivos do que à maximização de qualquer um deles isoladamente. Parece evidente que a principal forma para se vencer estes desafios residirá no fato de se contar com administradores, em qualquer nível, capazes e bem preparados. 21 3. As Funções Organizacionais Segundo Maximiano (2004), para entender o que significa Administração, é preciso ir além da interpretação da palavra. É preciso compreender o papel que a administração desempenha para as organizações e para a sociedade. Conforme Maximiano (2004), podemos definir Administração a partir de objetivos, decisões e recursos, estas são palavras-chave. Administração é o processo de tomar e colocar em prática decisões sobre objetivos e utilização de recursos. O processo administrativo abrange quatro tipos principais de decisões, também chamados de processos ou funções: planejamento, organização, execução e controle. As decisões resumem os Princípios de Administração. Acredita-se que, a partir do conhecimento das Teorias da Administração, haja condições para a análise dos Princípios de Administração. Convém destacar, inicialmente, que os princípios fundamentais de administração vieram se consolidando através de todas as teorias já vistas, com o decorrer do tempo. Frederick Taylor, já na escola de Administração Científica, utilizava quatro princípios básicos: planejamento, preparo (hoje, organização), controle e execução. Como foi visto, estes princípios eram considerados em relação à tarefa. Henry Fayol empregava, embora em relação às tarefas administrativas, os princípios previsão, organização, comando, coordenação e controle. A evolução das teorias trouxe, naturalmente, uma evolução na conceituação dos princípios de administração. Assim sendo, hoje, quatro princípios são considerados de fundamental importância nas Teorias da Administração: I) Planejamento II) Organização II) Direção IV) Controle 22 Deve-se destacar, também, que estes princípios, com elevada probabilidade, terão importância cada vez mais acentuada. Detalharemos cada um destes itens para evidenciar a importância de seu conhecimento para a gestão das organizações sob a perspectiva de quaisquer das Teorias da Administração. I – Planejamento Segundo Chiavenato (1995) o planejamento é a função administrativa que determina antecipadamente o que se deve fazer e quais objetivos devem ser alcançados, e visa dar condições racionais para que se organize e dirija a empresa ou seus departamentos ou divisões a partir de certas hipóteses a respeito da realidade atual e futura. A elaboração do planejamento evita a adoção de ações improvisadas, casuais, contribuindo para reduzir o nível de incerteza e possibilitando maior segurança quanto ao desempenho da empresa. O planejamento, segundo Chiavenato (1995) apresenta as seguintes características: a) é um processo permanente e contínuo, pois é realizado de forma sistemática dentro da empresa e não se esgota na simples montagem de um plano de ação; b) é sempre voltado para o futuro e está intimamente ligado com a previsão, embora não se confunda com ela. O conceito de planejamento inclui o aspecto de temporalidade e futuro: o planejamento é uma relação entre coisas a fazer e o tempo disponível para fazê-las; c) se preocupa com a racionalidade da tomada de decisões, pois ao estabelecer esquemas para o futuro funciona como um meio de orientar o processo decisório,dando-lhe maior racionalidade e subtraindo incerteza subjacente a qualquer tomada de decisão; d) visa relacionar, entre várias alternativas disponíveis, um determinado curso de ação, em função de suas conseqüências futuras e das possibilidades de sua execução e realização. O curso de ação escolhido pode ter uma duração variável - desde curto a longo prazo - e pode ter uma amplitude igualmente 23 variável - abrangendo a empresa como um todo até uma determinada unidade de trabalho; e) é sistêmico, pois deve considerar a empresa ou o órgão ou a unidade como uma totalidade. O planejamento deve considerar tanto o sistema como os subsistemas que o compõem, bem como as relações e compromissos internos e externos; e) é interativo. Como o planejamento se projeta para o futuro, ele deve ser suficiente e prudentemente flexível para aceitar ajustamentos e correções. Pressupõe avanços e recuos, alterações e modificações em função de eventos novos, ou diferentes que ocorram tanto no ambiente interno quanto externo da empresa; f) é uma técnica de alocação de recursos de forma antecipadamente estudada e decidida. Deverá refletir a otimização na alocação e dimensionamento dos recursos com os quais a empresa ou o órgão dela poderá contar no futuro para suas operações; g) é uma técnica cíclica. A medida que é executado, passa a ser realizado. Conforme vai sendo executado e realizado, permite condições de avaliação e mensuração para novos planejamentos, com informações e perspectivas mais seguras e corretas; h) é função administrativa que interage dinamicamente com as demais. Está intimamente relacionado com as demais funções administrativas, como a organização, o controle e a avaliação, influenciando e sendo influenciado por elas, a todo o momento e em todos os níveis da empresa; i) é uma técnica de coordenação. Permite a coordenação de varias atividades no sentido da realização dos objetivos desejados e de maneira eficaz; j) é uma técnica de mudança e inovação. O planejamento é uma das melhores maneiras de se introduzir deliberadamente mudança e inovação dentro de uma empresa, sob uma forma previamente definida e escolhida e devidamente programada. O Planejamento pode ser considerado em função do nível da empresa, conforme ilustra a figura a seguir: 24 Nível Institucional Planejamento Estratégico Nível Intermediário Planejamento Tático Nível Operacional Planejamento Operacional O planejamento estratégico, em linhas gerais, é aquele efetuado no nível institucional da empresa, envolvendo a alta administração. É genérico e sintético, direcionado para longo prazo e considera a empresa como uma totalidade. O planejamento tático é efetuado no nível intermediário da empresa, envolvendo a gerência. É menos genérico, e mais detalhado, direcionado para médio prazo e considera cada unidade da empresa. O planejamento operacional é o efetuado no nível operacional da empresa, envolvendo a supervisão. É detalhado e analítico, direcionado para o curto prazo e considera cada tarefa ou operação. O planejamento operacional está voltado para o que fazer, como fazer, e para quem fazer, procurando otimizar e maximizar os resultados. Este tipo de planejamento deve ser intrinsecamente relacionado ao planejamento tático, o mesmo ocorrendo com este em relação ao planejamento estratégico. II - Organização Chiavenato (1995) define a organização como uma função administrativa através da qual a empresa reúne e integra os seus recursos, define a estrutura de órgãos que deverão administrá-los, estabelece a divisão de trabalho através da diferenciação, proporciona os meios de autoridade e de responsabilidade e, assim por diante. A organização representa, no fundo, todos aqueles meios que a empresa utiliza para pôr em prática o planejamento, o controle e a avaliação para atingir os seus objetivos. 25 Como já foi enfatizado, a função administrativa organizacional depende do planejamento, do controle e da direção. Há uma estreita inter relação entre todas estas funções. A função administrativa organizacional normalmente é implementada de acordo com as peculiaridades de cada empresa, que pode considerar seus recursos (humanos, materiais e organizacionais) e sua estrutura. Como ocorre com a função planejamento, a função organização também pode ser analisada em função dos diferentes níveis - institucional, intermediário e operacional - da empresa. III – Direção Do ponto de vista didático, a função administrativa direção vem após o planejamento e a organização. Assim, enquanto o planejamento estabelece o que fazer e como fazer e para quem, a organização estabelece a estrutura, os meios para a execução, a direção se preocupa com a execução das operações propriamente ditas, tendo em vista o alcance dos objetivos. A Direção é, inegavelmente, uma das complexas funções da administração. Isto se deve à sua abrangência e ao fato de estar intimamente relacionado às pessoas. A execução de qualquer ação envolve sempre pessoas e grupos. Toda a implementação do planejamento e da organização é efetuada por um conjunto de pessoas, normalmente, são os recursos mais complexos existentes nas empresas. A Direção é a função que envolve a maior interação humana. Como assegura Chiavenato (1995), “é a função que exige a maior dose de flexibilidade, de amortecimento de impactos e, principalmente, de orientação das pessoas quanto ao rumo certo no alcance dos objetivos pretendidos”. A Direção é extremamente dinâmica, ocorre em todos os níveis da empresa e está relacionada ao planejamento, à organização e ao controle. Como a função Direção 26 diz respeito ao processo de interação entre pessoas, três assuntos inerentes a ela são de capital importância: comunicação, liderança e motivação. Assim sendo, para dirigir pessoas são necessários profundos conhecimentos a respeito do processo de comunicação, das teorias de liderança e da motivação. Como nas funções planejamento e organização, a direção pode ser considerada em função dos níveis da empresa: institucional, intermediário e operacional. IV – Controle O termo controle tem muitos significados e, não raro, se associa a atitudes coercitivas, principalmente quando envolve pessoas. O controle deve ser entendido como uma função administrativa, como o planejamento, a organização e a direção. Os autores Koontz e O’Donnel (1998) especificam que controle é a função administrativa que consiste em medir e corrigir o desempenho de colaboradores para assegurar que os objetivos da empresa e os planos delineados para alcançá-los sejam realizados. É, pois, a função segundo a qual cada administrador, do presidente ao supervisor, certifica-se de que aquilo que é feito está de acordo com o que se tencionava fazer. O controle também está intimamente relacionado com o planejamento, a direção e a organização. Os controles podem ser classificados de acordo com o nível da empresa onde ocorrem. Assim, há o controle estratégico, o controle tático e o operacional. Em termos de controle operacional, Litterer (1990) propõe um modelo básico que compreende três fases: a) coleta de dados sobre o desempenho; b) comparação dos dados com um padrão; c) ação corretiva. Certamente, cada uma destas fases pode ser desenvolvida através de diversas formas, que sempre devem considerar as peculiaridades de cada empresa. 27 A utilidade do estudo das Teorias da Administração para o administrador pode ser estabelecida por diversas razões: a) As Teorias da Administração fornecem o pano de fundo para a compreensão do papel do administrador. Tornar-se-á mais fácil, acredita-se, entender a sua importância e complexidade e como o profissional de administração está inserido neste processo,quais os desafios e as responsabilidades com que se defronta e as perspectivas para a sua atuação futura; b) esclarecer que a tarefa do administrador deverá envolver cinco áreas: tarefas, pessoas, estrutura, ambiente e tecnologia. Evidentemente, cada uma destas áreas terá peso diferente, fazendo com que o administrador concentre-se mais em umas do que outras; c) enfatizar que o administrador deve possuir conhecimentos nessas áreas específicas, a fim de desempenhar adequadamente sua missão; d) mostrar que o trabalho do administrador é complexo, dele exigindo constante aperfeiçoamento; e) que não se pode e nem se deve esperar respostas definitivas, fórmulas para a solução de problemas e respostas para todas as dúvidas; f) que o trabalho do administrador é extremamente importante, rico, desafiador que oferece condições para pleno desenvolvimento de todo o seu potencial humano. g) que não se pode viver sem administrar..., e que não se pode colher frutos inesperados na luz da ciência administrativa. Os autores que estruturaram as primeiras Teorias da Administração e estudiosos especialistas no assuntos definiram os papéis do Administrador sob diferentes enfoques, elaboramos uma lista com estes autores e seu entendimento sobre o papel do Administrador nas Organizações: 28 • Henry Fayol - 1916 - Processo Administrativo Divisão do trabalho / Autoridade e responsabilidade / Disciplina / Unidade de Comando / Unidade de direção / Prevalência dos interesses gerais / Remuneração / Centralização / Hierarquia em linha / Ordem / Equidade / Estabilidade dos funcionários / Iniciativa / Espírito de equipe. • Chester Barnard - 1938 - Funções do Executivo Senso de propósito moral / organização informal / comunicação / processo decisório / aceitação da autoridade • Herbert Simon - 1960 - Processo Decisório Situação problema / alternativas para resolução / decisão / homem econômico / maximização dos ganhos • Henry Mintzberg - 1973 - Papéis do Gerente Decisão - empreendedor, controlador, administrador de recursos e negociador / Interpessoal - líder / Comunicação - disseminador, porta-voz, monitor • Rosemary Stewart - 1982 - Processo decisório esfera da decisão / esfera do desempenho / esfera das restrições • Fred Luthans - 1988 - Desempenho dos gerentes funções gerenciais / comunicação / relações humanas / relacionamento • Andrew Grove - 1983 - alto perfomance produção / trabalho em equipe / competência individual • Edwards Deming – 1990 / Satisfação do cliente • Peter Druker – 1991 / Capacidade de decidir • Mary Parker Follett – 1997 / Clima Organizacional / relações humanas • Igor Ansoff - planejar e executar estratégias • Alfred Sloan - tomada de decisão compartilhada • Robert L. Katz - habilidade técnica, humana e conceitual 29 4. Abordagem estruturalista da administração A abordagem centrada na estrutura organizacional representa um avanço no estudo das organizações, pois propicia uma elevada ampliação do objeto de estudo. Ênfase na estrutura Ênfase na estrutura nas pessoas e no ambiente 4.1 Modelo burocrático de organização Max Weber (1864-1920), sociólogo alemão, foi o criador da Sociologia da Burocracia. Foi professor das Universidades de Friburgo e de Heidelberg e ficou famoso pela teoria das estruturas de autoridade. Com a tradução de alguns de seus livros para a língua inglesa, por Talcott Parsons, tomou corpo nos Estados Unidos a Teoria da Burocracia em Administração. Sua obra é realmente muito vasta. Seu principal livro, para o propósito deste estudo, é "A Ética Protestante e o Espírito de Capitalismo", São Paulo, Livrada Pioneira Editora, 1967. A Teoria da Burocracia desenvolveu-se dentro da Administração ao redor dos anos 40, em função principalmente dos seguintes aspectos: a) A fragilidade e parcialidade tanto da Teoria Clássica como da Teoria das Relações Humanas, ambas oponentes e contraditórias entre si, mas sem possibilitarem uma abordagem global, integrada e envolvente dos problemas organizacionais. Ambas revelam dois pontos de vista extremistas e incompletos sobre a organização, gerando a necessidade de um enfoque mais amplo e completo, tanto da estrutura como dos participantes da organização. b) Tornou-se necessário um modelo de organização racional capaz de caracterizar todas as variáveis envolvidas, bem como o comportamento dos membros dela participantes, e aplicável não somente à fábrica, mas a todas as formas de organização humana e principalmente às empresas. Abordagem Estruturalista Teoria Estruturalista Teoria da Burocracia 30 c) O crescente tamanho e complexidade das empresas passou a exigir modelos organizacionais mais bem definidos. Alguns historiadores verificaram que a "indústria em grande escala depende da sua organização, da Administração e do grande número de pessoas com diferentes habilidades. Milhares de homens e mulheres devem ser colocados em diferentes setores de produção e em diferentes níveis hierárquicos: os engenheiros e administradores no alto da pirâmide e os operários na base. Devem executar tarefas específicas, devem ser dirigidos e controlados. Tanto a Teoria Clássica como a Teoria das Relações Humanas mostraram-se insuficientes para responder à nova situação, que se tomava mais complexa. d) O ressurgimento da Sociologia da Burocracia, a partir da descoberta dos trabalhos de Max Weber, o seu criador. Segundo essa teoria, um homem pode ser pago para agir e se comportar de certa maneira pré-estabelecida, a qual lhe deve ser explicada com exatidão, muito minuciosamente e em hipótese alguma permitindo que suas emoções interfiram no seu desempenho. A Sociologia da Burocracia propôs um modelo de organização e os administradores não tardaram em tentar aplicá-lo na prática em suas empresas. A partir daí, surge a Teoria da Burocracia na Administração. e) Weber notou a proliferação de organizações de grande porte, tanto no domínio religioso (a Igreja) como no educacional (a Universidade) ou no econômico (as grandes empresas), que adotaram o tipo burocrático de organização, concentrando os meios de administração no topo da hierarquia e utilizando regras racionais e impessoais, visando à máxima eficiência. Weber identifica três fatores principais que favorecem o desenvolvimento da moderna burocracia: I) O desenvolvimento de uma economia monetária: a moeda não apenas facilita, mas racionaliza as transações econômicas. Na burocracia, a moeda assume o lugar da remuneração em espécie para os funcionários, permitindo a centralização da autoridade e o fortalecimento da administração burocrática. 31 II) O crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas do Estado Moderno: apenas um tipo burocrático de organização poderia arcar com a enorme complexidade e tamanho de tais tarefas. III) A superioridade técnica - em termos de eficiência - do tipo burocrático de administração: que serviu como uma força autônoma interna para impor sua prevalência. "A razão decisiva da superioridade da organização burocrática sempre foi unicamente sua superioridade técnica sobre qualquer outra forma de organização. O desenvolvimento tecnológico fez com que as tarefas da administração tendessem ao aperfeiçoamento. Assim, os sistemas sociais cresceram em demasia, as grandes empresas passaram a produzir em massa, sufocando as pequenas. Além disso, nas grandes empresas há uma necessidade crescente de cada vez mais se obter um controle e uma maior previsibilidade do seu funcionamento. A seguir temos dois quadros que resumem os trabalhos de Weber no estudo da burocracia e também as disfunções a partir do estudo: CARACTERÍSTICAS DA BUROCRACIA SEGUNDO WEBER 1. Caráter legal das normas e regulamentos 2. Caráter formal das comunicações 3. Caráterracional e divisão do trabalho 4. Impessoalidade nas relações 5. Hierarquia da autoridade 6. Rotinas e procedimentos padronizados 7. Competência técnica e meritocracia 8. Especialização da administração 9. Profissionalização dos participantes Características da Burocracia Disfunções da Burocracia 1. Caráter legal das normas 2. Caráter formal das comunicações 1. Internalização das normas 2. Excesso de formalismo e papelório 32 3. Divisão do trabalho 4. Impessoalidade no relacionamento 5. Hierarquização da autoridade 6. Rotinas e procedimentos 7. Competência técnica e mérito 8. Especialização da administração 9. Profissionalização 3. Resistência a mudanças 4. Despersonalização do relacionamento 5. Categorização do relacionamento 6. Superconformidade 7. Exibição de sinais de autoridade 8. Dificuldades com clientes Previsibilidade do funcionamento Imprevisibilidade do funcionamento As causas das disfunções da burocracia residem basicamente no fato de que a burocracia não leva em conta a chamada organização informal que existe fatalmente em qualquer tipo de organização, nem se preocupa com a variabilidade humana (diferenças individuais entre as pessoas) que necessariamente introduz variações no desempenho das atividades organizacionais. Em face da exigência de controle que norteia toda a atividade organizacional é que surgem as conseqüências imprevistas da burocracia. 4.2 Teoria estruturalista da administração A teoria estruturalista foi desenvolvida a partir das limitações e rigidez do modelo burocrático. Tem proposta de compatibilizar as contribuições clássicas e humanistas na teoria da administração. Representa um avanço em termos da teoria, pois, pela primeira vez, as organizações são analisadas de forma mais ampla, contemplando- se aspectos formais e não formais. Nesta teoria, o ambiente externo recebeu um enfoque especial, sendo considerado uma variável a mais no estudo das organizações. Os objetivos organizacionais adquiriram significativo relevo e o conflito passou a ser considerado como sinal de vitalidade. É o período da administração por objetivos, da teoria da crise e da administração do conflito. A teoria estruturalista representa um período de transição e mudança no estudo das organizações. Surge como um verdadeiro desdobramento da Teoria da Burocracia e uma leve aproximação da Teoria das Relações Humanas, representando uma visão crítica da organização formal. As origens da Teoria Estruturalista na Administração foram as seguintes: 33 • A oposição surgida entre a Teoria Tradicional e a Teoria das Relações Humanas - incompatíveis entre si - tornou necessária uma posição mais ampla e compreensiva que integrasse os aspectos considerados por uma e omitidos pela outra e vice-versa. A Teoria Estruturalista pretende ser uma síntese delas, inspirando-se na abordagem de Max Weber. • A necessidade de visualizar "a organização como uma unidade social complexa na qual interagem grupos sociais" que compartilham alguns dos objetivos da organização (como a viabilidade econômica da organização), mas podem se opor a outros (como a maneira de distribuir os lucros). Seu maior diálogo foi com a Teoria das Relações Humanas. • A influência do estruturalismo nas ciências sociais e sua repercussão no estudo das organizações. O estruturalismo influenciou a Filosofia, a Psicologia (com a Gestalt), a Antropologia (com Claude Lévi-Strauss), a Matemática (com N. Bourbaki), a Lingüística, chegando até a teoria das organizações· com Thompson, Etzioni e Blau. Na teoria administrativa, o estruturalismo se concentra nas organizações sociais. • Novo conceito de estrutura. O conceito de estrutura é antigo. Heráclito; nos primórdios da história da Filosofia, concebia o "logos" como uma unidade estrutural que domina o fluxo ininterrupto do devir e o torna inteligível. É a estrutura que permite reconhecer o mesmo rio, embora suas águas jamais sejam as mesmas devido à contínua mudança das coisas. Estrutura é o conjunto formal de dois ou mais elementos e que permanece inalterado seja na mudança, seja na diversidade de conteúdos, isto é, a estrutura mantém-se mesmo com a alteração de um dos seus elementos ou relações. A mesma estrutura pode ser apontada em diferentes áreas, e a compreensão das estruturas fundamentais em alguns campos de atividade permite o reconhecimento das mesmas estruturas em outros campos. O estruturalismo está voltado para o todo e com o relacionamento das partes na constituição do todo. A totalidade, a interdependência das partes e o fato de o todo ser maior do que a soma das partes são as características do estruturalismo. A Sociedade de Organizações A sociedade moderna e industrializada é uma sociedade de organizações das quais o homem passa a depender para nascer, viver e morrer. As organizações são diferenciadas e requerem de seus membros certas características de personalidade que permitem a participação simultânea das pessoas em várias organizações nas 34 quais os papéis variam. O estruturalismo ampliou o estudo das interações entre os grupos sociais - Teoria das Relações Humanas - para o estudo das interações entre as organizações sociais. Da mesma forma como os grupos sociais interagem entre si, também interagem entre si as organizações. As organizações passaram por um processo de desenvolvimento, a saber: 1. Etapa da natureza. É a etapa na qual os fatores naturais - elementos da natureza - constituíam a base única de subsistência da humanidade. O papel do capital e do trabalho é irrelevante nessa etapa da história. 2. Etapa do trabalho. Surge um fator perturbador que inicia uma revolução no desenvolvimento da humanidade: o trabalho. Os elementos da natureza são transformados por meio do trabalho, o qual conquista o primeiro plano entre os elementos que concorrem para a vida da humanidade. O trabalho passa a condicionar as formas de organização da sociedade. 3. Etapa do capital. É a terceira etapa na qual o capital prepondera sobre a natureza e o trabalho, tornando-se um dos fatores básicos da vida social. 4. Etapa da organização. A natureza, o trabalho e o capital se submetem à organização. Esta, sob uma forma rudimentar, já existia desde o início da evolução humana, do mesmo modo que o capital existira antes da fase capitalista, pois desde quando surgiram os instrumentos de trabalho o capital ali estava presente. A organização tem um caráter independente da natureza, do trabalho e do capital e utiliza- se deles para alcançar seus objetivos. Para chegar à industrialização, a etapa da organização passou por várias fases: •O universalismo da Idade Média e a predominância do espírito religioso. •O liberalismo econômico e social dos séculos XVIII e XIX, e o abrandamento da influência estatal pelo desenvolvimento do capitalismo. •O socialismo, com o advento do século XX, obrigando o capitalismo a enveredar pelo caminho do máximo desenvolvimento possível. •A atualidade, que se caracteriza por uma sociedade de organizações. Essas quatro fases revelam características políticas e filosóficas. Etzioni vê uma revolução da organização com novas formas sociais que emergem, enquanto as antigas modificam suas formas e alteram suas funções. Essa revolução produz uma variedade de organizações das quais a sociedade passa a depender mais intensamente. Daí o aparecimento de empresas de serviços, associações comerciais, instituições 35 educacionais, hospitais, sindicatos etc., resultante da necessidade de integração cada vez maior das atividades humanas em formas organizacionais envolventes. As organizações não são satélites da sociedade, mas fazem parte integrante e fundamental dela. As organizações complexas em todos os campos da atividadehumana não são um fenômeno separado das mudanças sociais: elas fazem parte integrante e fundamental da sociedade moderna. As organizações As organizações constituem a forma dominante de instituição da sociedade moderna: são a manifestação de uma sociedade especializada e interdependente que se caracteriza por um crescente padrão de vida. As organizações permeiam todos os aspectos da vida moderna e envolvem a participação de numerosas pessoas. Cada organização é limitada por recursos escassos e por isso não pode tirar vantagens de todas as oportunidades que surgem: daí o problema de determinar a melhor alocação de recursos. A eficiência ocorre quando a organização aplica seus recursos na alternativa que produz o melhor resultado. As burocracias constituem um tipo específico de organização: as organizações formais. As organizações formais constituem uma forma de agrupamento social estabelecida de maneira deliberada ou proposital para alcançar um objetivo específico. Elas se caracterizam por regras, regulamentos e estrutura hierárquica para ordenar as relações entre seus membros. Reduzem as incertezas decorrentes da variabilidade humana (diferenças individuais entre as pessoas), tiram vantagens dos benefícios da especialização, facilitam o processo decisório e asseguram a implementação das decisões tomadas. Um esquema formal "que regula o comportamento humano para o alcance eficiente de objetivos explícitos torna a organização formal única entre as instituições da sociedade moderna e digna de estudo especial". A organização formal é criada para atingir objetivos explícitos e é um sistema pré- estabelecido de relações estruturais impessoais que resulta no relacionamento formal entre pessoas, permitindo reduzir a ambigüidade e a espontaneidade e aumentar a previsibilidade do comportamento. As organizações formais por excelência são as burocracias. Os estruturalistas se iniciaram na teoria da burocracia. O homem organizacional 36 Enquanto a Teoria Clássica caracteriza o homo economicus e a Teoria das Relações Humanas "o homem social", a Teoria Estruturalista focaliza o "homem organizacional", a pessoa que desempenha diferentes papéis em várias organizações. Na sociedade de organizações, moderna e industrializada, avulta a figura do homem organizacional que participa de várias organizações. O homem moderno, ou seja, o homem organizacional, para ser bem-sucedido em todas as organizações, precisa ter as seguintes características de personalidade: • Flexibilidade, em face das constantes mudanças que ocorrem na vida moderna e da diversidade de papéis desempenhados nas organizações. • Tolerância às frustrações para evitar o desgaste emocional decorrente do conflito entre necessidades organizacionais e necessidades individuais, cuja mediação é feita através de normas racionais, escritas e exaustivas. • Capacidade de adiar as recompensas e poder de compensar o trabalho rotineiro na organização em detrimento de preferências pessoais. • Permanente desejo de realização para garantir cooperação e conformidade com as normas organizacionais para obter recompensas sociais e materiais. As organizações sociais são conseqüências da necessidade que as pessoas têm de relacionar-se e juntar-se com outras a fim de poder realizar seus objetivos. Dentro da organização social, as pessoas ocupam certos papéis. Papel significa um conjunto de comportamentos solicitados a uma pessoa; é a expectativa de desempenho por parte do grupo social e conseqüente internalização dos valores e normas que o grupo, explícita ou implicitamente, prescreve para o indivíduo. O papel prescrito para o indivíduo é reforçado pela sua própria motivação em desempenhá-lo eficazmente. Cada pessoa pertence a vários grupos e organizações, e desempenha diversos papéis, ocupa muitas posições e suporta grande número de normas e regras diferentes. Análise das Organizações O estudo das organizações requer uma análise organizacional mais ampla que as teorias anteriores, pois os estruturalistas pretendem conciliar a Teoria Clássica e a Teoria das Relações Humanas baseando-se na Teoria da Burocracia. A análise das organizações é feita a partir de uma abordagem múltipla que leva em conta os 37 fundamentos da Teoria Clássica, da Teoria das Relações Humanas e da Teoria da Burocracia. Vejamos a seguir os aspectos dessa abordagem múltipla. Abordagem múltipla: organização formal e informal. Os estruturalistas estudam o relacionamento entre a organização formal e a informal dentro de uma abordagem múltipla. O estruturalismo é uma síntese da Teoria Clássica (formal) e da Teoria das Relações Humanas (informal): "Encontrar equilíbrio entre os elementos racionais e não-racionais do comportamento humano constitui o ponto principal da vida, da sociedade e do pensamento modernos. Constitui o problema central da Teoria das Organizações". Essa perspectiva ampla e equilibrada que inclui a organização formal e a organização informal conjuntamente encoraja o desenvolvimento de um estudo não-valorativo - nem a favor da administração nem a favor do operário - e amplia o seu campo a fim de incluir todos os elementos da organização. Abordagem múltipla: recompensas materiais e sociais. Os estruturalistas abrangem todas as recompensas utilizadas pela organização para motivar as pessoas. Tanto a abordagem da Teoria Clássica como a das Relações Humanas são fragmentárias e parciais. O significado das recompensas salariais e sociais e os símbolos de posição (tamanho da mesa ou escritório, carros da companhia etc.) são importantes na vida da organização. Abordagem múltipla: os diferentes enfoques da organização. Para os estruturalistas, as organizações podem ser concebidas segundo duas diferentes concepções: 1. Modelo racional da organização. A organização é um meio deliberado e racional de alcançar objetivos organizacionais. Os objetivos são explicitados - como maximizar os lucros -, e todos os componentes da organização são escolhidos em função de sua contribuição aos objetivos. A estrutura organizacional busca atingir a maior eficiência, os recursos são adequados e alocados de acordo com o plano diretor, todas as ações são apropriadas e seus resultados devem coincidir com os planos. Enfatiza o planejamento e o controle. As partes da organização se submetem a uma rede de controle. A organização funciona como um sistema fechado de lógica que exclui a incerteza. É o caso da Administração Científica, na qual a única incógnita na 38 equação era o operador humano, razão pela qual a administração se concentrava no controle sobre ele. É o caso também do modelo burocrático, no qual toda contingência é prevista e orientada por regras. As influências ambientais sob a forma de clientes são controladas pelo tratamento impessoal da clientela através de regras padronizadas. 2. Modelo natural de organização. A organização é um conjunto de partes interdependentes que constituem o todo: cada parte contribui com algo e recebe algo do todo, o qual é interdependente com um ambiente mais amplo. O objetivo básico é a sobrevivência do sistema: as partes se vinculam mutuamente em interdependência através de processos evolutivos. No modelo de sistema natural tudo é funcional, e equilibrado, podendo ocorrer disfunções. A auto-regulação é o mecanismo que naturalmente governa as relações entre as partes e suas atividades, mantendo o sistema equilibrado e estável frente às perturbações vindas do ambiente externo. Há uma interdependência com um ambiente incerto, flutuante e imprevisível, havendo um equilíbrio das delicadas interdependências dentro do sistema ou entre o sistema e o ambiente. O sistema natural é aberto às influênciasambientais e não pode ser abordado sob o aspecto de completa certeza ou pelo controle. Seu comportamento não é governado por uma rede de controle, pois é determinado pela ação do meio ambiente. Obedece a uma lógica de sistema aberto. O modelo de sistema natural traz como conseqüência o inevitável aparecimento da organização informal nas organizações. Não há nenhuma organização fechada ao ambiente ou inteiramente de acordo com os planos ou, ainda, que consiga completo poder sobre todos os seus membros. Em toda organização podem ser vistos elementos de ambos os sistemas. Abordagem múltipla: os níveis da organização. As organizações caracterizam-se por uma hierarquia de autoridade, isto é, pela diferenciação de poder, como vimos no modelo burocrático de Weber. Para Parsons, as organizações se defrontam com uma multiplicidade de problemas que são classificados e categorizados para que a responsabilidade por sua solução seja atribuída a diferentes níveis hierárquicos da organização. Assim, as organizações se desdobram em três níveis organizacionais: 39 1. Nível institucional. É o nível organizacional mais elevado, composto dos dirigentes e altos executivos. É denominado nível estratégico, pois é o responsável pela definição dos objetivos e estratégias organizacionais, lida com os assuntos relacionados à totalidade da organização e ao longo prazo. É o nível que faz relação com o ambiente externo da organização. 2. Nível gerencial. É o nível intermediário, situado entre o nível institucional e o nível técnico. Cuida do relacionamento e da integração desses dois níveis. As decisões tomadas no nível institucional são transformadas no nível gerencial em planos e programas para que o nível técnico os execute. O nível gerencial detalha os problemas, capta os recursos necessários para alocá-los na organização e cuida da distribuição e da colocação dos produtos e serviços da organização. 3. Nível técnico. É o nível mais baixo da organização. É chamado nível operacional e é onde as tarefas são executadas, os programas são desenvolvidos e as técnicas são aplicadas. Cuida da execução das operações e tarefas. É focado no curto prazo e segue programas desenvolvidos no nível gerencial. Abordagem múltipla: A diversidade de organizações Enquanto as teorias anteriores focalizaram as fábricas, os estruturalistas ampliaram o campo da análise da organização para incluir várias organizações: pequenas, médias e grandes, públicas e privadas, empresas dos mais diversos tipos (indústrias ou produtoras de bens, prestadoras de serviços, comerciais, agrícolas etc.), organizações militares (exército, marinha, aeronáutica), religiosas, organizações filantrópicas, partidos políticos, prisões, sindicatos etc. Abordagem múltipla: análise interorganizacional. Todas as teorias administrativas anteriores preocuparam-se com fenômenos que ocorrem dentro da organização. Tanto que essas teorias são criticadas pelo fato de adotarem uma abordagem de sistema fechado, ou seja, pelo fato de utilizarem o modelo racional de organização como base de seus estudos. Além da análise interna das organizações os estruturalistas se preocuparam com a análise inter-organizacional a partir da crescente complexidade ambiental e da interdependência das organizações. Até então, não havia a preocupação com o ambiente organizacional como unidade de observação e análise. A negligência quanto às relações 40 inter-organizacionais surpreende mais ainda quando se nota que as organizações formais estão envolvidas em um ambiente composto por outras organizações e controlado por um complexo de normas e valores de uma sociedade maior. O relacionamento entre a organização e seu ambiente revela o grau de dependência da organização quanto aos eventos externos. O campo da teoria organizacional foi ampliado com a análise das relações interorganizacionais: a organização funciona na base de transações com outras organizações. Ela interage com seu ambiente externo e com as demais organizações nele contidas. Tipologia das Organizações Não existem duas organizações iguais. Elas são diferentes entre si e apresentam enorme variabilidade. Contudo, existem características que permitem classificá-las em classes ou tipos. As classificações ou taxonomias - denominadas tipologias das organizações - permitem uma análise comparativa das organizações através de uma característica comum ou de uma variável relevante. Para a análise comparativa das organizações, os estruturalistas criam tipologias de organizações para classificá-las de acordo com características distintivas. Tipologia de Etzioni Segundo Etzioni, as organizações possuem as seguintes características: • Divisão de trabalho e atribuição de poder e responsabilidades: de acordo com um plano intencional para a realização de objetivos específicos. • Centros de poder: controlam os esforços combinados da organização e os dirigem para seus objetivos. • Substituição do pessoal: as pessoas são admitidas, promovidas, demitidas ou substituídas por outras. Para Etzioni, os meios de controle utilizados pela organização podem ser classificados em três categorias: 1. Controle físico. É o controle baseado na aplicação de meios físicos ou de sanções ou ameaças físicas. As pessoas obedecem através de ameaças de sanções físicas, coação, imposição, força e medo das conseqüências. A motivação é negativa e baseia-se em punições. É o poder coercitivo. 41 2. Controle material. É o controle baseado na aplicação de meios materiais e de recompensas materiais. As pessoas obedecem com base no interesse, na vantagem desejada e nos incentivos econômicos. 3. Controle normativo. É o controle baseado em símbolos puros ou em valores sociais. As pessoas buscam símbolos normativos (como prestígio e estima) e sociais (como amor e aceitação). É o controle moral e ético, e baseia-se na convicção, na fé, na crença e na ideologia. Cada tipo de controle provoca um padrão de obediência em função do interesse em obedecer ao controle. Existem três tipos de interesse ou envolvimento dos participantes da organização: 1. Alienatório. O indivíduo não está psicologicamente interessado em participar, mas é coagido e forçado a permanecer na organização. 2. Calculista. O indivíduo sente-se interessado na medida em que seus esforços tenham uma vantagem ou compensação econômica imediata. 3. Moral. O indivíduo atribui valor à missão da organização e ao trabalho dentro dela, cumprindo-o da melhor forma possível porque lhe atribui valor. A tipologia de organizações de Etzioni classifica as organizações com base no uso e significado da obediência, a saber: • Organizações coercitivas. O poder é imposto por força física ou controles baseados em prêmios ou punições. O envolvimento dos participantes tende a ser "alienativo" em relação aos objetivos da organização. É o caso de prisões, campos de concentração, instituições penais etc. • Organizações utilitárias. O poder baseia-se no controle dos incentivos econômicos. Utilizam a remuneração como base principal de controle. As pessoas contribuem para a organização com um envolvimento calculativo baseado nos benefícios que esperam obter. É o caso das empresas. • Organizações normativas. O poder baseia-se no consenso sobre objetivos e métodos da organização. Utilizam o controle moral para influenciar os participantes devido ao elevado envolvimento moral. É o caso da Igreja, de universidades, hospitais, organizações políticas e sociais, organizações voluntárias e ONGs. 42 A tipologia de Etzioni enfatiza os sistemas psicossociais das organizações. Sua desvantagem é a omissão à estrutura, à tecnologia e ao ambiente. Trata-se de uma tipologia simples,
Compartilhar