Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIOMECÂNICA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO AULA 6 Profª Renata Wolf 2 CONVERSA INICIAL A análise biomecânica tem como principais objetivos indicar a forma correta de realizar um exercício, como facilitá-lo ou dificultá-lo sem necessariamente modificar a sobrecarga, o volume ou a frequência, além de apontar os principais riscos de lesão de cada movimento. Portanto, a proposta desta aula é realizar várias análises biomecânicas no intuito de verificar as características de cada exercício e os riscos para as estruturas ósseas – tanto dos membros superiores e inferiores quanto do tronco. TEMA 1 – ANÁLISE BIOMECÂNICA DE EXERCÍCIOS UNIARTICULARES – MEMBROS SUPERIORES Nesta parte da aula, realizaremos uma análise biomecânica detalhada de exercícios uniarticulares de membros superiores. A finalidade é verificar as características de cada exercício e riscos para as estruturas das articulações envolvidas. 1.1 Flexão de cotovelo O exercício de flexão de cotovelo é feito para fortalecer os músculos: bíceps braquial, braquial e braquiorradial. O movimento consiste em aproximar o antebraço do braço. Pode ser realizado com halteres, com uma barra, com elásticos e na polia. Neste caso, será utilizada a flexão de cotovelo com halteres na posição em pé. Posição inicial do movimento: posição anatômica com halteres nas mãos. Plano e eixo de movimento: a flexão ocorre no plano sagital e no eixo transversal. Alavanca: esse movimento representa uma alavanca de terceira classe, em que o antebraço é a barra rígida, a articulação do cotovelo é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelos músculos flexores de cotovelo, sendo o vetor de força para cima. A força de resistência é dada pela gravidade e pelos halteres, sendo o vetor da força para baixo. Braço de torque: na posição inicial, em que a força de resistência passa pela articulação do cotovelo, não é gerado torque. Ao início do movimento, o torque é gerado. O maior braço de torque ocorre quando o cotovelo se 3 encontra em 90°. Ao final do movimento, o braço de torque é menor, gerando menor torque na articulação. Lesões: as principais que podem ocorrer são a epicondilite e outras na região da coluna lombar. A não estabilização da articulação do cotovelo na realização do movimento pode levar a movimentos indesejados, o que pode provocar inflamação dos tendões ao longo do tempo. O uso de sobrecargas muito altas pode ser um motivo para que a articulação não seja estabilizada e ainda sobrecarregar a articulação que realiza o movimento. Ao longo do tempo, os tendões inflamam, causando a epicondilite. A estabilização do core também é essencial para a boa realização do movimento. A sobrecarga na rosca direta é posicionada anteriormente ao corpo do praticante durante sua execução, o que pode aumentar movimentos da coluna lombar usados para compensar a sobrecarga muito alta, principalmente o movimento de hiperextensão da coluna lombar. Assim, há má distribuição de sobrecarga pelos discos intervertebrais, aumentando o risco de lesões (Oliveira et al., 2006). 1.2 Extensão de cotovelo O exercício de extensão de cotovelo serve para fortalecer o músculo tríceps braquial. O movimento consiste em afastar o antebraço do braço e pode ser realizado com halteres, na polia, com elásticos ou com uma barra. Neste caso, será utilizada a extensão de cotovelo na polia alta na posição em pé. Posição inicial do movimento: posição em pé, com os antebraços em pronação, cotovelo flexionado e com a barra da polia nas mãos. Plano e eixo de movimento: a extensão ocorre no plano sagital e no eixo transversal. Alavanca: esse movimento representa uma alavanca de terceira classe, em que o antebraço é a barra rígida, a articulação do cotovelo é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo tríceps braquial, sendo que o vetor é para baixo. A força de resistência é dada pela máquina da polia, sendo que o vetor da força é para cima. Braço de torque: na posição inicial, em que o cotovelo se encontra flexionado em um ângulo de 90°, ocorre o maior braço de torque do exercício. Ao final do movimento, o braço de torque é quase zero, pois o 4 cotovelo está totalmente estendido e a força de resistência passa diretamente na articulação do cotovelo, quase não gerando torque. Lesões: a principal lesão relacionada ao exercício de extensão de cotovelo é a epicondilite. Flexionar o cotovelo em um grau maior que 90° na volta da ação concêntrica do movimento sobrecarrega a articulação do cotovelo, principalmente os tendões. Além disso, uma sobrecarga muito alta também aumenta o estresse sofrido pelos tendões. 1.3 Abdução de ombro O exercício de abdução de ombro é empregado para fortalecer os músculos supraespinhoso e deltoide. O movimento consiste em afastar o segmento do braço da linha mediana do corpo e pode ser realizado com halteres, na polia, com elásticos. Neste caso, será utilizada a abdução de ombro com halteres na posição em pé. Posição inicial do movimento: posição em pé, com braços estendidos ao lado do corpo, as palmas das mãos voltadas para dentro (já em movimento de pronação) e com os halteres nas mãos. Plano e eixo de movimento: a abdução ocorre no plano frontal e no eixo sagital. Alavanca: esse movimento representa uma alavanca de terceira classe, em que o braço é a barra rígida, a articulação do ombro é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo supraespinhoso e o deltoide, e o vetor da força é para cima. A força de resistência é dada pela força de gravidade mais o peso do halter, e o vetor da força é para baixo. Braço de torque: na posição inicial, em que o braço está estendido ao lado do corpo e a força de resistência passa diretamente pela articulação do ombro, não há torque. O maior braço de torque ocorre quando o ombro está a 90° de abdução, ao final do movimento. Lesões: o aumento súbito da sobrecarga pode levar a lesões nos tendões e ligamentos da articulação do ombro. Movimentos repetitivos do braço em abdução pode provocar a síndrome do impacto do ombro, uma das maiores causas geradoras de dor e disfunção em se tratando de ombro, de caráter crônico, cujo principal sintoma a dor, que piora à noite e ao 5 levantar o braço, além de crepitação local, fraqueza e dificuldade nas atividades de vida diária. TEMA 2 – ANÁLISE BIOMECÂNICA DE EXERCÍCIOS MULTIARTICULARES – MEMBROS SUPERIORES Nesta parte da aula, será apresentada uma análise biomecânica detalhada de exercícios multiarticulares de membros superiores. A finalidade é verificar as características de cada exercício e riscos para as estruturas das articulações envolvidas. 2.1 Adução horizontal do ombro A adução horizontal do ombro é empregada para fortalecer, principalmente, a musculatura dos músculos do peitoral. O exercício mais conhecido para este fim é o supino, que envolve a articulação do ombro, a articulação do cotovelo e a cintura escapular e que pode ser realizado com halteres e com uma barra. Neste caso, será utilizado o supino com barra. Posição inicial do movimento: deitado em um banco, com o ombro flexionado a 90°, antebraço em pronação, com as mãos segurando a barra. Plano e eixo de movimento: a adução horizontal do ombro ocorre no plano transversal e no eixo longitudinal. O movimento de extensão do cotovelo ocorre no plano sagital e no eixo transversal. O movimento de retração e protração da escápula ocorre no plano transversal e no eixo longitudinal. Alavanca: os movimentos de todas as articulações envolvidas representam alavancas de terceira classe. A principal articulação envolvida é a do ombro, na qual o braço é a barra rígida, a articulação do ombro é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo peitoral maior e deltoide, e o vetorda força de esforço é para cima. A força de resistência é dada pela força de gravidade mais o peso da barra, e o vetor da força é para baixo. Devido ao movimento de extensão do cotovelo, o tríceps também é muito recrutado nesse exercício. Braço de torque: na posição inicial, em que o ombro está em 90° de flexão e o cotovelo se encontra totalmente estendido, com a barra nas mãos, a força de resistência passa diretamente pelas articulações do ombro e 6 cotovelo; sendo assim, não há torque em nenhuma das articulações. As escápulas estão neutras. O maior braço de torque ocorre ao final do movimento, quando o ombro se encontra em abdução horizontal, e o cotovelo em 90° de flexão. Lesões: o aumento súbito da sobrecarga pode levar a lesões nos tendões e ligamentos da articulação do ombro. Quando sobrecargas muito elevadas são utilizadas, há o risco de ruptura total de tendões. Uma lesão um pouco mais rara é a ruptura do músculo peitoral maior, também devido à alta sobrecarga. Podem ocorrer também a luxação do ombro e a ruptura do manguito rotador. 2.2 Retração das escápulas A retração das escápulas serve para fortalecer, principalmente, a musculatura da parte posterior do tronco. Um dos exercícios mais conhecidos para esse fim é a remada horizontal, a qual envolve as articulações da cintura escapular, do ombro e do cotovelo. Ele é realizado principalmente em máquinas, mas também pode ser feito com elásticos. Neste caso, será utilizada a remada horizontal fechada na máquina. Posição inicial do movimento: sentado, com os joelhos semiflexionados a frente. O ombro flexionado a 90°, o cotovelo quase totalmente estendido, com a palma da mão voltada para dentro segurando as alças do equipamento. Plano e eixo de movimento: a retração das escápulas ocorre no plano transversal e no eixo longitudinal. O movimento de flexão do cotovelo acontece no plano sagital e no eixo transversal, e o de extensão do ombro, no plano sagital e no eixo transversal. Alavanca: os movimentos de todas as articulações envolvidas nesse exercício representam alavancas de terceira classe. A principal articulação envolvida é a do ombro; nela, a própria escápula é a barra rígida, a articulação acromioclavicular é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo trapézio e os romboides, e o vetor da força de esforço é para dentro. A força de resistência é dada pela força da própria máquina, e o vetor da força é para fora. Devido ao movimento de flexão do cotovelo, os músculos da flexão dele também são muito exigidos nesse 7 exercício. Além disso, por causa do movimento de extensão do ombro, o latíssimo do dorso também é muito ativado. Braço de torque: o maior braço de força ocorre no início do movimento para a articulação da escápula, e logo depois para a articulação do ombro. Para o cotovelo, o maior torque ocorre a 90° de flexão. Lesões: o aumento súbito da sobrecarga pode levar a lesões nos tendões e ligamentos da articulação do ombro. Assim como ocorre no exercício de rosca direta, a sobrecarga é posicionada anteriormente ao corpo do praticante durante sua execução, o que pode aumentar movimentos da coluna lombar usados para compensar a sobrecarga muito alta, principalmente o de hiperextensão da coluna lombar. Assim, há má distribuição de sobrecarga pelos discos intervertebrais, elevando o risco de lesões (Oliveira et al., 2006). TEMA 3 – ANÁLISE BIOMECÂNICA DE EXERCÍCIOS UNIARTICULARES – MEMBROS INFERIORES Nesta parte da aula, faremos uma análise biomecânica detalhada de exercícios uniarticulares de membros inferiores. O intuito é identificar as características de cada exercício e riscos para as estruturas das articulações envolvidas. 3.1 Extensão de joelho O exercício de extensão de joelho é empregado para fortalecer os músculos do quadríceps (reto femoral, vasto lateral, vasto intermédio e vasto medial). O movimento, que consiste em voltar o joelho para a posição anatômica, pode ser realizado em máquinas e com caneleiras. Neste caso, será utilizada a extensão de joelho na máquina sentado. Posição inicial do movimento: sentado, com os joelhos em flexão; a sobrecarga é aplicada na parte mais distal da perna. Plano e eixo de movimento: a extensão ocorre no plano sagital e no eixo transversal. Alavanca: esse movimento representa uma alavanca de terceira classe, em que a perna é a barra rígida, a articulação do joelho é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo quadríceps, e o vetor da força 8 é para cima. A força de resistência é dada pela máquina, e o vetor da força é para baixo. Braço de torque: na posição inicial, em que o joelho se encontra flexionado em um ângulo de 90°, não há torque. O maior braço de torque ocorre a 45° de flexão de joelho. Lesões: durante o movimento de extensão do joelho, ocorrem forças de cisalhamento, principalmente na região anterior da tíbia em relação ao fêmur, as quais são estabilizadas principalmente pelo ligamento cruzado anterior. Altas sobrecargas nessa articulação podem forçar demasiadamente esse ligamento e gerar alguma lesão. Se mal executado, o exercício pode provocar, em longo prazo, a síndrome patelofemoral. Praticantes que desenvolveram condromalácia patelar devem evitar realizar o movimento em máxima amplitude e com altas sobrecargas. 3.2 Flexão plantar O exercício de flexão plantar é empregado para fortalecer os músculos gastrocnêmio lateral, gastrocnêmio medial e sóleo. O movimento consiste em levar a ponta dos pés em direção ao solo. Pode ser realizado em pé ou sentado, em máquinas ou apenas com um estepe, com sobrecarga adicional ou apenas com o próprio peso do corpo com halteres. Neste caso, será utilizada a flexão plantar em pé no estepe sem sobrecarga adicional, chamado de panturrilha em pé. Posição inicial do movimento: posição em pé, joelho estendido e tornozelo em leve dorsiflexão, com a ponta dos pés no estepe. O corpo deve permanecer verticalizado o tempo todo, e as articulações, alinhadas entre elas. Plano e eixo de movimento: a flexão ocorre no plano sagital e no eixo transversal. Alavanca: esse movimento representa uma alavanca de segunda classe, em que os segmentos da coxa e da perna são a barra rígida, a articulação do tornozelo é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada principalmente pelo gastrocnêmio medial e lateral, e o vetor da força é 9 para cima. A força de resistência é dada pela força da gravidade, ou seja, o próprio peso corporal, e o vetor da força é para baixo. Braço de torque: o maior braço de torque ocorre quando a articulação do tornozelo fica em 90° de flexão. Lesões: o desalinhamento corporal pode levar a lesões. Projetar a pelve para frente, executando o movimento de retroversão dela e fazendo com que se perca a lordose lombar, pode gerar maior sobrecarga nos discos intervertebrais devido à má distribuição da sobrecarga na coluna vertebral. O desalinhamento do corpo pela flexão do tronco aumenta a sobrecarga na coluna lombar, podendo ocasionar lesões nessa região. TEMA 4 – ANÁLISE BIOMECÂNICA DE EXERCÍCIOS MULTIARTICULARES – MEMBROS INFERIORES Nesta parte da aula, será realizada uma análise biomecânica detalhada de exercícios multiarticulares de membros inferiores. O objetivo é verificar as características de cada exercício e riscos para as estruturas das articulações envolvidas. 4.1 Agachamento O exercício de agachamento serve para fortalecer os músculos do quadríceps femoral, glúteo médio, glúteo máximo, isquiotibiais, abdômen e lombar. O movimento, que consiste em agachar, começa pelo quadril e pode ser realizado sem sobrecarga adicional, com peso livre e em máquinas. Neste caso, será utilizado o agachamento com peso livre. Posição inicial do movimento: em pé, pés paralelos na largura dos ombros,joelhos estendidos. A coluna vertebral, o quadril, os joelhos e os tornozelos devem estar alinhados. Plano e eixo de movimento: o movimento de flexão e extensão do quadril ocorre no plano transversal e no eixo longitudinal; o de flexão e extensão do joelho também acontece no plano sagital e no eixo transversal. A coluna vertebral permanece neutra durante o exercício. Alavanca: os movimentos de todas as articulações envolvidas nesse movimento representam alavancas de terceira classe. Na articulação do quadril, o segmento da coxa é a barra rígida, a articulação coxofemoral é 10 o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo glúteo máximo, glúteo médio e os músculos do quadríceps. O vetor da força é para cima, e a força de resistência é dada pela força da gravidade mais a sobrecarga na barra. Na articulação do joelho, o segmento da perna é a barra rígida, a articulação do joelho é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo quadríceps. O vetor da força é para cima e a força de resistência é dada pela força da gravidade mais a sobrecarga da barra. Braço de torque: na posição inicial, a linha da força de resistência passa por todas as articulações, assim não é gerado torque. Ao início do movimento, começa a ser criado um braço de torque para a articulação do quadril, e o maior braço de torque é no final da fase excêntrica e no início da fase concêntrica. O braço de torque gerado para a articulação do joelho é pequeno, no entanto muitas forças de cisalhamento se dão nessa articulação. Ocorre um braço de torque também na região lombar da coluna vertebral. Lesões: o aumento súbito da sobrecarga pode levar a lesões na articulação do joelho e na coluna vertebral, principalmente na região lombar. A não estabilização da articulação do joelho durante o exercício pode provocar lesões graves. A fraqueza da musculatura dessa articulação pode ocasionar um movimento em valgo (valgismo dinâmico) durante a fase concêntrica do agachamento. O movimento em valgo dos joelhos é o deslocamento medial do joelho, uma combinação de adução do fêmur e rotação interna da tíbia. Joelho valgo tem sido associado à limitada mobilidade de tornozelo limitado e fraqueza dos abdutores e rotadores externos (obturador interno e externo, piriforme, quadrado lombar, glúteo mínimo e glúteo médio). Medidas corretivas devem ser implementadas para recuperar a mobilidade de tornozelo e a estabilidade do quadril no processo do valgismo dinâmico. Esse movimento pode causar dores patelofemorais e lesões no ligamento cruzado anterior. Movimentos compensatórios da coluna vertebral também podem ocorrer. Indivíduos com deficiência na mobilidade, estabilidade articular ou controle neuromuscular muitas vezes geram compensações de movimento. O avanço do joelho além da ponta dos pés no agachamento pode ser perigoso para praticantes iniciantes ou com pouca força muscular no quadríceps. Esse movimento aumenta o braço de torque da 11 articulação e aumenta as forças de cisalhamento, podendo gerar lesões. A compensação de movimento é a maneira de o corpo buscar o caminho de menor resistência para executar um movimento em particular. Por exemplo, se a pessoa executa um agachamento com inclinação de tronco excessiva, este é um sinal de que ela não possui amplitude na flexão de quadril. Para realizar o padrão de movimento desse praticante, o tronco se inclina à frente na tentativa de “ajudar” os flexores de quadris a realizarem a flexão. A retificação da coluna lombar também é um movimento incorreto durante o agachamento. A retificação muda a estrutura da coluna vertebral, diminuindo a capacidade de geração de força e de distribuição dela da maneira correta, com risco de lesões sérias na coluna, como a hérnia de disco. 4.2 Afundo O exercício afundo é empregado para fortalecer os músculos do quadríceps femoral, glúteo médio, glúteo máximo e isquiotibiais. O movimento, que consiste em flexionar o joelho da perna da frente, enquanto a de trás acompanha o movimento, pode ser realizado sem sobrecarga adicional, com peso livre e em máquinas. Neste caso, será utilizado o afundo sem sobrecarga adicional. Posição inicial do movimento: o exercício é realizado de maneira unilateral. Uma perna estará à frente do corpo, e a outra, posterior ao corpo. A perna anterior está com o pé inteiro em contato com o chão e o joelho estendido. A perna posterior está com a ponta do pé em contato com o solo. Os braços podem estar ao lado do corpo ou as mãos podem ser apoiadas na cintura, para dar maior estabilidade. Plano e eixo de movimento: o movimento afundo envolve as articulações do quadril e do joelho. O movimento de flexão e extensão do quadril ocorre no plano sagital e no eixo transversal O movimento de flexão e extensão do joelho também acontece no plano sagital e no eixo transversal. Alavanca: os movimentos de todas as articulações envolvidas representam alavancas de terceira classe. Na articulação do quadril, o segmento da coxa é a barra rígida, a articulação coxofemoral é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo glúteo máximo, glúteo médio 12 e os músculos do quadríceps. O vetor da força é para cima, e a força de resistência é dada pela força da gravidade mais a sobrecarga na barra. Na articulação do joelho, o segmento da perna é a barra rígida, a articulação do joelho é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelo quadríceps. O vetor da força é para cima e a força de resistência é dada pela força da gravidade mais a sobrecarga da barra. Braço de torque: o braço de torque é diferente para a perna anterior e para a perna posterior. Na perna anterior, o maior braço de torque para o joelho ocorre no fim do movimento excêntrico e no início do movimento concêntrico, quando a flexão de joelho atinge 90°. Há um pequeno braço de torque para a articulação do quadril. O glúteo é ativado para a extensão de quadril, porém tem menor ativação comparado com o quadríceps. Na perna posterior, o maior braço de momento para a articulação do joelho é a mais ou menos 45° de flexão. Há um pequeno braço de momento para o quadril da perna posterior. Também há um braço de torque para a articulação do tornozelo da perna posterior, e ele é maior quando a articulação se encontra a 90° de flexão. Lesões: uma amplitude de movimento exagerada no afundo é capaz de provocar problemas graves nos joelhos. Encostar o joelho no chão, sem o controle de movimento adequado, pode irritar os fluidos da patela, causando dor, inchaço, hematomas e até fraturas. O aumento súbito da sobrecarga pode levar a lesões nos joelhos e na coluna vertebral, se a sobrecarga for axial, ou seja, em uma barra nas costas ou na máquina Smith. Nesse caso, uma sobrecarga muito alta pode gerar uma força de compressão patelofemoral muito alta, além de compressão nas vértebras. Movimentos do tronco durante a execução do exercício também podem gerar braços de força para a região lombar da coluna vertebral e ocasionar lesões. TEMA 5 – ANÁLISE BIOMECÂNICA DE EXERCÍCIOS DO TRONCO Nesta parte da aula, realizaremos uma análise biomecânica detalhada de exercícios para o tronco. O objetivo é conhecer as características de cada exercício e riscos para as estruturas das articulações envolvidas. 13 5.1 Flexão lateral do tronco O exercício de flexão lateral do tronco tem como finalidade fortalecer unilateralmente os músculos oblíquos do abdômen e os músculos extensores da coluna, como o quadrado lombar e os eretores espinhais (espinhais, longuíssimo do dorso e iliocostal). Por isso, pode ser utilizado para o fortalecimento dos músculos da parte posterior do tronco, principalmente quando o praticante não tem condições de realizar exercício de extensão da coluna. Pode ser feito em pé, com halteres ou na polia, no banco delombar ou deitado lateralmente, com ou sem sobrecarga adicional. Neste caso, o exercício escolhido foi flexão lateral do tronco com halter. Posição inicial do movimento: posição em pé, joelho estendido, quadril alinhado com a coluna e com o joelho. Os braços devem estar estendidos ao lado do corpo. Apenas um halter é necessário, e ele deve ser segurado pela mão do mesmo lado que a flexão lateral ocorrerá. Plano e eixo de movimento: a flexão lateral ocorre no plano frontal e no eixo sagital. Alavanca: esse movimento representa uma alavanca de terceira classe, em que o próprio tronco é a barra rígida, a articulação intervertebral da lombar é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada pelos oblíquos abdominais e pelos extensores da coluna, e o vetor da força é para cima. A força de resistência é dada pela força da gravidade, ou seja, o próprio peso corporal, e o vetor da força é para baixo. Braço de torque: o maior braço de torque ocorre no maior grau de flexão lateral do tronco. Lesões: esse exercício gera compressão do disco intervertebral desigual na coluna lombar. Ocorre um deslizamento das apófises articulares: do lado da convexidade, a apófise articular da vértebra superior se eleva, enquanto do lado da concavidade ela desce. Por isso, os músculos do tronco devem ser fortes para poder realizar o exercício. Se uma sobrecarga muito alta for utilizada, pode gerar uma hérnia de disco. 14 5.2 Flexão de tronco O exercício de flexão de tronco é feito no intuito de fortalecer, principalmente, o músculo reto abdominal. Pode ser realizado deitado, sem sobrecarga ou com adição de sobrecarga, com acessórios, como o bosu e a bola suíça, e em máquinas. Neste caso, o exercício escolhido foi o abdominal deitado sem sobrecarga adicional. Posição inicial do movimento: deitado, quadril semiflexionado, joelho semiflexionado com os pés apoiados no chão. Os braços podem estar cruzados no peito ou as mãos podem ser apoiadas atrás da cabeça. Plano e eixo de movimento: a flexão ocorre no plano sagital e no eixo transversal. Alavanca: esse movimento representa uma alavanca de terceira classe, em que o segmento do tronco é a barra rígida, a articulação intervertebral da coluna lombar é o eixo de rotação, a força de esforço é realizada principalmente pelo reto abdominal, e o vetor da força é para cima. A força de resistência é dada pela força da gravidade, ou seja, o próprio peso corporal, e o vetor da força é para baixo. Braço de torque: o maior braço de torque ocorre quando no início do movimento, logo que as escápulas começam a sair do contato com o solo. Lesões: o exercício provoca compressão do disco intervertebral na coluna lombar, na sua parte anterior, além de gerar maior sobrecarga no músculo da lombar, podendo ocasionar lesões. Esse movimento é limitado pela tensão máxima dos ligamentos, assim muita sobrecarga conduz ao risco de alguma lesão nos ligamentos da coluna lombar. A região cervical da coluna vertebral deve ser estabilizada, para que não ocorra hiperextensão ou flexão dessa região, o famoso movimento chicote, que pode ocasionar lesões nas vértebras cervicais. NA PRÁTICA Por meio da análise biomecânica bidimensional, como você, profissional de educação física, identificaria quais músculos são os principais acionados em cada exercício? E qual a importância de identificá-los? 15 FINALIZANDO A análise biomecânica bidimensional é essencial para um profissional de educação física, uma vez que mostra a execução correta do movimento, o posicionamento do corpo na parte inicial e final do exercício, quais forças agem sobre as articulações e como os músculos agem em resposta a elas. A prática de exercícios físicos – tanto os de recreação quanto os de treinamento físico – precisa da orientação de professores de educação física; sem que isso ocorra, há um grande risco de lesões nas articulações. Por isso, é necessário utilizar a biomecânica em todos os exercícios (os de baixa complexidade e os de alta complexidade, os uniarticulares e os multiarticulares). Portanto, nesta aula foi possível entender que a análise biomecânica bidimensional pode ser realizada de maneira mais simples, mas já efetiva, para garantir melhor execução do movimento, menor risco de lesão e maiores ganhos relacionados ao treinamento como força, condicionamento físico, estética ou performance. 16 REFERÊNCIAS HAMIL, J.; KNUTZEN, K. M.; DERRICK, T. R. Bases biomecânicas do movimento humano. 4. ed. Barueri: Manole, 2016. KAPANDJI, A. I. Fisiologia Articular 3 – Tronco e coluna vertebral. 5. ed. Barueri: Manole, 2000. OLIVEIRA, A. et al. Exercício rosca bíceps: influência do tempo de execução e da intensidade da carga na atividade eletromiográfica de músculos lombares. Rev Port Cien Desp., v. 6, n. 2, p. 170-178, 2006.
Compartilhar