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RESENHA DO LIVRO
ENCONTRO MARCADO COM A LOUCURA
DE TÂNIA COCIUFFO
	A autora descreve que foi convidada pelo Dr. José Vilson dos Anjos para ministrar a matéria de psicopatologia, mas com uma nova metodologia para essa matéria, capaz de aferir identidade própria aos estudantes de psicologia na pratica hospitalar, levando em consideração a mestiçagem do povo brasileiro. A conscientização dos alunos, quanto a importância e a urgência de uma formação que não privilegiasse apenas o atendimento em consultório particular voltado para a classe média, seria, assim ampliada.
	Esse trabalho teve como base teórica as obras de psicanalise de Freud, Melanie Klein, Bion e de alguns autores da escola francesa como Fédida, Kaes, Anzieu, Pontalis. A integração entre teoria e pratica, que implica a inclusão das experiências emocionais presentes nas relações paciente-profissional, caracteriza um aprendizado formativo e não simplesmente informativo. O estudo ressalta a questão do encontro com o objeto de investigação, seres humanos em sofrimento psíquico intenso, que provoca angustia ao remeter à natureza humana em sua diversidade e fragilidade, despertando a percepção da importância do processo terapêutico como um dos pilares da formação do psicólogo.
O capitulo 1 começa contando a história de Maria, uma mulher com 26 anos, viúva, venho da Bahia, tem uma filha de seis anos, e que tem uma história comum, como qualquer outra. Sua história psiquiátrica teve início há quatro meses, sem nenhum antecedente anterior. Começou a ficar triste sem vontade de sair, comer, e começou a ouvir vozes frequentemente, dizendo-lhe que deveria se matar. 
Tentou suicídio duas vezes, foi internada, a crise foi contida com os remédios, não pensa mais em se matar, mas tem medo de voltar para casa e começar tudo novamente.
Foi diagnosticada depressiva com sintomas psicóticos. Perdeu seu marido em um acidente, e logo após o fato, começaram os sintomas, segundo os médicos, a descontinuidade da vida, fez com que Maria ficasse perplexa. Segundo Bion, o continente de Maria foi explodido pelo contido impensável da morte súbita, do abandono ilógico. Maria precisa ter alguém que a ajude a pensar nestas questões, pois os remédios não o fazem.
Segundo Pessutti “Se entendermos a loucura como perda das capacidades racionais ou falência do controle voluntario sobre as paixões, uma história da loucura deveria começar, praticamente com a história da espécie humana”.
Na Grécia antiga, segundo Homero, “Todo ato insensato é determinado pela ação dos deuses, ou porque seus caprichas determinam o rumo dos acontecimentos ou porque deliberadamente roubam do homem a razão”. Esta concepção persiste nos dias de hoje. 
Dois séculos depois, encontramos nos textos trágicos de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, descrições de diferentes forma da loucura, onde podemos encontrar, delírios, desvario, mania, etc. A partir destes descritos podemos ver a mudança da perspectiva de Pessotti : Assim, parece legítimo falar-se de uma concepção de loucura, segundo Eurípides, ou Sófocles, ou Ésquilo, mesmo admitindo-se que nenhum deles pretendeu explicar a psicopatologia humana, mas sim, retratar a vida humana com seus dramas e aberrações.
A partir daí muda-se o enfoque deixando de ser místico-religioso, passando para uma concepção psicológica da loucura. Passando pelas obras sobre histeria de Freud, nos pós-freudianos a noção de conflito, a importância das paixões na constituição humana como diz Melanie Klein quando indaga sobre o amor, ódio e reparação.
Para Platão mente e mateia eram fenômenos separados, formando uma concepção dualística. Seguindo a história, a partir de Hipócrates, vemos surgir uma concepção mais organicista da loucura. E a história continua até chegar no século XX. Percebemos que a loucura e a maneira que foi tratada nunca constituíram fonte de unanimidade, isso continua assim até hoje, e não poderia ser de outra forma.
	O capitulo 2 começa com um diálogo socrático arquitetado a partir das instabilidades da clínica, onde o conteúdo assim se demonstra numa das falas: “... atrás do dizer imediato dos sintomas, sempre existe um mais dizer, captável pela escuta e, quando se o descobre, inicia-se um caminho que, penetrado, conduz à troca”. 
No próximo tópico a autora trata assuntos relacionados com a psiquiatria, trazendo para nós a história do desenvolvimento dos fármacos, passando pela clorpromazina, isoniazida, lítio, benzodiazepínicos, clordiazepóxidos e psicossedin. A remissão do sintoma pelo isso dos psicofármacos promove benefícios, mas, como um recurso isolado, não traz mudança de perspectiva.
No último tópico do capitulo Tânia traz um breve histórico de como foi a descoberta, o alcance e a atuação da Psicanálise freudiana.
O capitulo 3 começa com uma carta de um aluno descrevendo sua experiência em uma visita a um hospital psiquiátrico, relata o encontro com um médico que até me emocionei quando li, que fala da valorização do ser humano independente de qualquer fator e fala da importância de caminharmos com o paciente, exercendo a função de resgate de identidade. 
Nos trouxe a compreensão que a comunicação é fundamental em qualquer processo, desmistificando o conceito de doença mental, indo além do diagnóstico. Olhar o ser humano que está ali em uma situação patológica. Resgatar a identidade através da relação social, relação está livre de preconceitos e reservas para com o indivíduo. É gratificante ver restaurada a visão de que o paciente psiquiátrico é um indivíduo que sofre dentro de um quadro psicopatológico, mas não é um código no CID X, é alguém que necessita ser conduzido a encontrar o significado de si mesmo num mundo de incongruências. 
Em seguida a autora traz a psicopatologia sob o viés da Psicanálise. Começa ressaltando a ruptura introduzida por Freud nos conceitos de normalidade e patologia. O pensamento psicanalítico amplia o olhar e a escuta da compreensão do sofrimento psíquico. O fenômeno psíquico adquire, sob esse enfoque, mobilidade suficiente para ser compreendido a partir da experiência de normalidade. Esse é o ponto que a autora quer deixar para seus alunos, a compreensão da psicopatologia, ao invés de categorias descritivas com critérios de suficiência para preencher determinado diagnóstico. 
Melanie Klein é a pioneira na observação de crianças e percebeu que crianças sofrem de angustia nas primeiras fases de seu desenvolvimento, angustias semelhantes as vividas por pacientes adultos em processo de regressão psicótica. Concluindo em seus estudos que o psicótico não conseguiu superar as angustias primitivas da infância e regressou a elas quando sua psicose se tornou manifesta. 
Os trabalhos de Bion são predominantemente clínicos, desenvolvendo em torno de hipóteses sobre a linguagem e o pensamento do esquizofrênico, a personalidade vai se desenvolvendo e ganhando contornos cada vez mais severos devido a uma disposição congênita, a uma disposição destrutiva primaria e uma relação conflitiva com uma mãe que não foi capaz de realizar sua função de compreender, acolher e modificar as emoções manifestadas pela criança. Outro estudo de Bion se refere a personalidade psicótica onde o traço que mais se destaca nessa personalidade é a intolerância à frustração, junto com o predomínio dos impulsos destrutivos que se manifestam como ódio desmedido contra a realidade, tanto interna como externa.
Outro tópico nesse capitulo fala sobre didática, descreve a forma que a disciplina de psicopatologia é trabalhada na universidade. Sobre a carga horária, a importância das aulas teóricas e práticas, do vínculo professor-aluno-paciente. Em seguida fala das expectativas por parte dos alunos no seu primeiro contato com a instituição que irão realizar as aulas práticas. 
Coloca que somos tecidos da mesma matéria-prima, humanos todos e, ao mesmo tempo, tão particulares na nossa forma de expressão. Poder identificar as diferenças, a particularidade de cada indivíduo, implica o estabelecimento de um campo de aproximação e distanciamento que nos permita conhecer epensar. O psicólogo trabalha para além do diagnostico, no encontro do sofrimento do outro e na busca de sentido para esse sofrimento, o que implica a compreensão da realidade psíquica, cultural e econômica dessa população.
O ensino de psicopatologia é pessoal em sua forma superlativa e vai ao encontro dos pressupostos de Pichin-Rivière sobre grupos operativos. Segundo sua definição, o grupo operativo é um conjunto de pessoas com um objetivo comum. Essa disciplina tem como pretensão, em suma, formar alunos conscientes das dificuldades e possibilidades existentes no atendimento em saúde mental. 
No capítulo 4 a autora fala sobre a pesquisa, falando um pouco sobre o desenvolvimento da pesquisa. Discorre a respeito do trabalho que ela desenvolveu com um viés da Psicanálise, e fala sobre o objeto de estudo que é o ensino aprendizagem em psicopatologia. Os participantes desta pesquisa são os estudantes do quarto ano do curso de psicologia de uma universidade particular de São Paulo. A técnica escolhida foi grupo de reflexão, que no meu entendimento foi um grupo terapêutico.
Em seguida a autora começa faz um relato sobre seus alunos, como eles se sentiam e o que esperavam encontrar no hospital psiquiátrico, todos eles se sentiam ansiosos, sem saber o que fazer o que dizer, como agir, uns achavam que os pacientes eram agressivos, outros que eles não falavam. Ainda existe muito preconceito quando se fala em doente mental. Ela conta que quando os alunos ingressam nas aulas práticas, devem se despir das teorias e adentrar o mundo da prática, o encontro não permite mais que não se veja.
Compartilho da mesma opinião da autora, quando ela fala que o contato com os segregados, obriga-nos, de alguma maneira à reflexão, à revisão e a construção gradativa de um pensamento sobre a Saúde Mental no Brasil, as condições de tratamento, os recursos humanos disponíveis e a contribuição de cada um frente a esse quadro árido apresentado diante de todos.
Nos espaços de supervisão é proporcionado um tipo de reflexão que ajuda a integrar os aspectos emocionais com uma prática comprometida com o usuário em Saúde Mental. Pretende assim formar alunos conscientes das dificuldades e possibilidades existentes no atendimento em Saúde mental.
Não é possível olhar para o outro se não temos um mínimo de referência do que é vida mental. E esse conhecimento não passa somente pelo aprendizado de uma teoria em psicopatologia, passa pelo reconhecimento das angustias presentes no contato, pelo conhecimento de si e, principalmente, pela discriminação dos graus de sofrimento psíquico e social presente em cada indivíduo exposto à nossa frente.
A autora alerta para o perigo da projeção, ou seja, projetar seus próprios conflitos sobre o entrevistado, além de uma certa compulsão em encontrar perturbações exatamente nas esferas na qual se nega que se tenham perturbações. Com os relatos que a mesma faz sobre seus alunos fica evidente que os alunos muitas vezes se sentem perdidos na ausência dos professores, há sentimento de desamparo e a necessidade de um “salvador” de alguém que saiba. No entanto ela alerta para o fato que cada um deve vasculhar suas possibilidades, que o aprendizado é dialético que não há conhecimento unilateral.
O contato direto com o paciente, coloca o profissional diante da sua própria vida, saúde ou doença, seus próprios conflitos e frustrações, caso ele não consiga graduar este impacto sua tarefa se torna impossível. Desde o início do curso, somos incentivados a realizar o processo terapêutico, a presença da angustia nos alunos, no contato com os pacientes nos fez perceber a importância de se fazer terapia.
Outro aspecto que chamou minha atenção é a indignação de alguns alunos com a maneira que outros profissionais implicados no atendimento cuidam dos pacientes, gerando revolta e frustração. Trazendo questionamento sobre a ausência de cuidado, da falta de compreensão e tolerância por parte desses cuidadores.  A convivência próxima com o doente mental deixa a experiência do quanto é difícil lidar com essa situação. Atender é muito mais complexo do que sentar-se diante de um paciente.
	No capítulo 5 a autora descreve a experiência que ficou do hospital psiquiátrico. Começa colocando uma frase de pensar a experiência, fazendo um paralelo sobre o que é a capacidade de pensar segundo os pensamentos de Freud e de Bion sobre o assunto. Pensar é fundamental para estabelecer marcas de onde progredimos, marcas a partir das quais outros poderão começar e ir além.
	Em seguida os alunos relatam suas preconcepções, onde a ideia de estudar psicopatologia remetia, desde o começo do curso, à execução de diagnósticos, mas depararam-se com um curso que prioriza, em um primeiro momento, o encontro. Cada paciente que encontraram descortina uma vida, uma história, um sofrimento, são todos seres humanos, por mais estranho que seja esse humano em nós.
	A preconcepção expressa de saber, de controlar, caiu por terra pela experiência. Foi necessária a experiência, o estar lançada no caos, para dar-se conta de que o suposto saber baseava-se em uma defesa diante do desconhecido. Os alunos são constantemente incentivados, desde o início da faculdade, a realizar o processo terapêutico, a presença da angustia no contato com os pacientes foi determinante da descoberta de que, é importante tratar-se.
	O conhecimento foi construído durante um ano, em um espaço de constante reflexão entre teoria e pratica, a partir do encontro com o paciente. Esse tipo de experiência possibilitou, segundo os alunos, a integração entre ambos, relatando que foi uma experiência necessária e enriquecedora. 
	Outro aspecto relevante é a constatação, unanime do grupo, de que o curso foi bom e atingiu seus objetivos. Após o encontro com os pacientes do hospital psiquiátrico, os alunos percebem que o que ocorre lá dentro é bem diferente da concepção que foi criada, pois muitos entram no hospital imaginando o modelo que existia antes da reforma psiquiátrica, e o que eles encontram lá dentro é um modelo mais humanizado de tratar as pessoas com transtornos mentais. Mesmo sendo mais humanizadas as instituições psiquiátricas onde foi realizado as aulas práticas ainda tem um conceito asilar que reforça a exclusão.	
Atualmente vivemos um cenário de transição em que o modelo antigo, manicomial, deixou de ser dominante, mas ainda temos um longo percurso pela frente. O que percebo na minha pratica clinica que aqui em São José essa realidade está sendo mudada a partir desse ano. Onde foi relatado que muitos pacientes já se encontram em suas casas ou em residências terapêuticas. Que o intuito do hospital é a remissão dos sintomas de seus pacientes, e que tem uma pretensão da internação ter um prazo máximo de 28 dias. Claro que temos os casos de moradores no hospital, não consigo saber ainda se todos são aptos a voltar a vida na sociedade, infelizmente, por conta do tempo que estão excluídos desse meio.

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