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DA RELAÇÃO DO HPV COM O USO DE ANTICONCEPCIONAIS HORMONAIS ORAIS Eliane do Nascimento Duarte Torres Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais elianetorres@hotmail.com VECHIAA, La Carlo; BOCCIAC, Estefania. Oral contraceptives, human papilloma virus and cervical cancer. Milano: Lippincott Williams & Wilkins, 2014. 110-112. ADHIKARI, Indira et al. The risk of cervical atypia in oral contraceptive users. Helsinki: Taylor & Francis Group, 2018. 1-8. Nos artigos supracitados é tratada a relação entre contraceptivo hormonal oral e a presença de lesões induzidas pelo vírus do palpiloma humano (HPV), assim como a interferência disso no agravamento dessas lesões no colo uterino. Vecchia e Bocciac (2014), em “Oral contraceptives, human papillomavirus and cervical cancer”, realizaram uma revisão quantitativa de artigos sobre a ligação entre contraceptivos orais e câncer cervical, ao passo que Adhikari et all. (2018) em seu estudo de coorte “The risk of cervical atypia in oral contraceptive users” vão por uma linha aprofundada de pesquisa de coorte em mulheres não vacinadas com HPV originalmente de 16 a 17 anos de idade que participaram do estudo PATRICIA (PApilloma TRIal against Cancer In young Adults) por 4 anos, com a maior parte delas já estavam com 22 anos ao final deste estudo. Ambos concordam que há diversos outros fatores de risco como tabagismo e quantidade de parceiros sexuais para o surgimentos das lesões ou neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC), mas que o uso do anticoncepcional hormonal oral tem alguma influência sobre isso. Numa linha que advoga fortemente a influência do uso dos anticoncepcionais orais como adjuvantes que favorecem a progressão das lesões para tipificações mais avançadas após infecção pelo HPV, Vecchia e Bocciac (2014) se fundamentam em diversos estudos, realizados em mulheres positivadas, os quais corroboram sua linha de pensamento. Num deles, realizado pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC), segundo os autores, nenhum risco excessivo foi observado entre as mulheres que usaram anticoncepcional por 5 anos ou menos, mas o risco relativo (RR) foi aumentado para 2,8 para as que o usaram por 5 a 9 anos; e 4 para as que o usaram por 10 anos ou mais. Reforçando isso, citam metanálise de 28 estudos em que se apresenta um excesso de risco de câncer de cervical associado ao uso prolongado de anticoncepcional hormonal, com RR duas vezes maior quando se comparam 5 a 9 anos contra 10 anos ou mais de uso, com RR semelhante também observado nas mulheres que receberam somente progestagênio injetável. Além disso, citam estudo robusto de Colaboração Internacional de Estudos Epidemiológicos de Câncer Cervical mostrando RR diminuído para 1,3 após 5 a 9 anos de interrupção do uso de anticoncepcional oral e nenhum risco residual de excesso após isso em 10 anos. Já Adhikari et all. (2018) vão por uma linha de realização de investigação em pesquisa de campo investigando a associação entre história de uso de contraceptivos hormonais orais e anormalidades citológicas ou histopatológicas em uma coorte de mulheres não vacinadas com HPV, originalmente de 16 a 17 anos de idade, que participaram do estudo PATRICIA. Nele amostras citológicas cervicais foram obtidas em conjunto com o exame pélvico a cada 6 meses durante o ensaio de 4 anos, com achados de células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS), lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LSIL) e lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (HSIL) registrados como casos incidentes índice para a análise estatística. E ao final do ensaio as mulheres responderam a um questionário de pesquisa de saúde onde se realizou a coleta. Nessa investigação de Adhikari et all. (2018), entretanto, contrariamente aos resultados do artigo anterior em análise, mostrou no resultado final ausência de associações positivas ou negativas significativas entre o início do uso de CO e achados citológicos anormais. E ainda evidenciou risco relativo diminuído de NIC 1 (NIC de Grau 1) associado ao uso de anticoncepcionais orais. Resta uma questão quanto a se esse resultado do estudo de Adhikari et all teria tanta força de validade dado que foi realizado em país de primeiro mundo onde o grau de educação é elevado, ou seja, pode haver outros fatores influenciando essa proteção ainda que para NIC1, como o uso correto de preservativo (como camisinhas). Isso porque como citado nos estudos o o grau de escolaridade e instrução das mulheres é um dos fatores de risco consideráveis para a infecção pelo HPV bem como para a evolução disso para o câncer de útero. Desse modo, entendo que isso seja uma limitação de aplicação desse estudo para situação das mulheres dos países subdesenvolvidos, em que o nível de escolaridade é muito baixo, e a investigação foi realizada na Finlândia (um país desenvolvido. E também como se coloca no próprio estudo, na Finlândia as mulheres dessa idade que usam anticoncepcionais é porque estão em parceria sexual estável, ou seja, há aí também a possibilidade de redução de outro fator de risco que é o da ocorrência de parceiros múltiplos. Ademais a pesquisa desses autores não levou em consideração idades mais avançadas onde o câncer de colo é mais prevalente, uma vez que as tipificações NIC 2 e NIC 3 levam às vezes até uma década para surgir. Todavia, apesar das fortes evidências no artigo de Vecchia e Bocciac (2014), ainda não é totalmente conclusiva a confirmação da relação de interferência dos anticoncepcionais hormonais orais com o agravamento das lesões pela infecção por HPV, sendo necessários mais estudos de investigação nessa linha de abordagem para a essa confirmação efetiva. 1