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Caso Clínico e Discussão de Artigo Científico - Dermatite Atópica

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Apresentação de Caso Clínico
Giovanna Rita 
Milano Marques
APS - Ciclo Clínico
8ª Etapa C 
2020
Subjetivo
J.S.S, 37 anos, operadora de caixa. Mãe de 2 filhos, nega etilismo e tabagismo. Vive com seus filhos e 
esposo em Embu. Mora em casa própria, de alvenaria, com mofo nas paredes do quarto e sala, há 1 
ano. Não tem animais de estimação.
Chega à consulta com queixa de “alergia”, iniciada há quatro meses. Mostra feridas em membros 
superiores e inferiores - mais pronunciadas em parte posterior da coxa e antebraço. Início da alergia foi 
concomitante à “crises de tosse”, que cessaram espontaneamente em pouco tempo.
Toma 10 mL de Loratadina há 01 mês, quando sente a coceira piorar (cerca de 4x na semana).
Subjetivo
Relata histórico de dermatite de contato. Nega histórico familiar de alergias.
Nega ter iniciado uso de novos produtos nos últimos meses (xampu, condicionador, hidratante, etc). 
Usa luvas ao utilizar produtos de limpeza. 
Faz uso de Ciclo 21 regularmente, e Dipirona Sódica esporadicamente. Já tomou medicamento para 
tratar hipercolesterolemia, mas cessou tratamento após consulta médica.
Mãe diabética, hipertensa, tem dislipidemia. Não teve contato com o pai. Irmão é diabético.
Objetivo
Pápulas e crostículas bilateralmente presentes em fossas cubitais e extremidade distal das mãos.
Pele seca, com descamação.
AP: MV+ bilateralmente presentes, sem ruídos adventícios
AC: BRNF2T SS; FC: 88; FR:22
Cadeias linfáticas palpadas sem alterações
Avaliação
Dermatite Atópica
Plano
Tratamento Medicamentoso
Dexametasona creme 1 mg (2x ao dia por 5 dias)
Loratadina 1mg/mL (tomar 10 mL se necessário)
Tratamento Não Medicamentoso
Hidratação com creme hidratante neutro
Utilização, durante o banho, de sabonete glicerinado. Evitar lavagem excessiva de áreas 
lesionadas. Banho rápido morno, 1x ao dia.
Utilização de luvas durante limpeza da casa
Redução do uso de álcool gel no trabalho
Dermatite Atópica - Considerações Gerais
Processo inflamatório cutâneo crônico, pruriginoso e recorrente.
Tipicamente, é uma doença da infância. Metade dos casos se apresenta no primeiro ano de 
vida. Apenas 2% dos casos têm início após os 45 anos.
Participam de sua patogênese:
- Fatores genéticos (História familiar positiva em 70% dos casos)
- Fatores fisiológicos (Prurido, Sudorese, Psicofisiologia com tendência à hiperatividade)
- Fatores imunológicos (Elevação de IgE - correlacionada à gravidade da doença; Depressão 
Imune Celular; Deficiência seletiva de IgA)
Quadro Clínico
- Relacionado à predisposição atópica
- Prurido intenso, piora à noite
- Xerose cutânea
- Liquenificação da pele
- Lesões com mais de 6 semanas, alternando entre exacerbações e remissões.
- Em adultos, predomina o acometimento em superfícies de flexão, com placas liquenoides 
e mais localizadas.
Colonização por Staphylococcus aureus ocorre em 75% a 90% dos pacientes!
Critérios Diagnósticos
Critérios de Hanifin & Rajka - necessária a presença de três 
critérios maiores e três critérios menores para o diagnóstico.
Critérios Diagnósticos
United Kingdom Work Group (Willians e col.):
Presença de prurido cutâneo somado a três ou mais dos critérios a seguir:
1- História de prurido envolvendo áreas flexurais, cervical, palpebral, tornozelos;
2- História de pele seca generalizada no último ano;
3- Início das lesões de pele antes dos dois anos de idade (esse critério somente é aplicado 
para pacientes com quatro anos ou mais);
4- Dermatite atual envolvendo áreas flexurais (ou região malar/fronte/face externa dos 
membros em pacientes menores de quatro anos).
Tratamento
Cuidados gerais
- Ambientais: Materiais de fácil lavagem, para evitar acúmulo de ácaros
- Uso de Emolientes
- Uso de sabonete glicerinado
Tratamento Medicamentoso
- Corticosteroides tópicos e/ou sistêmicos
- Anti-histamínicos, preferencialmente sedativos
- Se lesões extensas, mesmo sem evidência de infecção secundária → ATB sistêmico
- Imunomoduladores, imunossupressores em casos reicidivantes, resistentes à terapia 
convencional
Base de Dados:
Artigo Escolhido:
Introdução
A dermatite atópica é uma doença dermatológica crônica, cujos principais sintomas incluem 
pele seca e coceira intensa. Áreas afetadas são avermelhadas, com crostas e arranhões, e 
podem apresentar extravasamento de fluido.
Hidratantes são considerados importantes no tratamento da doença. 
Materiais e Métodos
Foram avaliados ensaios clínicos randomizados, realizados em pacientes com dermatite 
atópica e vigentes até dezembro de 2015 nos seguintes bancos de dados: Cochrane Skin 
Specialized Register, CENTRAL, MEDLINE, Embase, LILACS e GREAT.
Foram identificados 77 estudos relevantes, com 6603 participantes - principalmente 
portadores de eczema leve a moderado. Dentre estes estudos, 46 foram financiados por 
empresas farmacêuticas.
A idade dos participantes variou entre 04 meses a 84 anos. A média de idade é de 18,6 anos.
A maioria dos estudos durou entre 02 e 06 semanas. Alguns duraram 06 meses.
Materiais e Métodos
Critérios de Inclusão:
- Ensaios Clínicos Randomizados Controlados
- Participantes de qualquer idade com diagnóstico clínico de dermatite atópica, realizado por 
dermatologistas, generalistas ou outros profissionais de saúde utilizando critérios de Hanifin 
and Rajka, critérios de Willians ou outro critério diagnóstico reconhecido.
Critérios de Exclusão:
- Ensaios clínicos que englobassem pacientes portadores de outros tipos de dermatite, 
como dermatite de contato e disidrose.
Materiais e Métodos
Tipos de Intervenção
Todos os tipos de hidratantes isoladamente ou em combinação versus:
● tratamento ativo, por exemplo, corticosteróides tópicos;
● outro hidratante;
● hidratante 'placebo' (hidratante, mas com composição diferente e sem o ingrediente 
efetivo presumido);
● veículo (tem a mesma composição do hidratante com o qual é comparado, mas sem 
o ingrediente efetivo assumido);
● combinação de hidratante e tratamento ativo;
● nenhum tratamento.
Materiais e Métodos
Foram considerados desfechos obtidos entre 01 e 04 semanas após início do estudo.
Considerou-se mudança na gravidade avaliada pelos pacientes do estudo, utilizando escalas 
de classificação reconhecidas e validadas (como a escala visual analógica e a SCORAD); 
satisfação do paciente em relação ao tratamento; ocorrência de efeitos adversos relatados 
pelos pacientes; diferença de tempo até ocorrência do primeiro flare antes e após o início do 
tratamento; alterações na função da barreira de pele; mudanças na qualidade de vida 
relacionada à saúde, utilizando escala de classificação reconhecida ou validada.
Resultados
Foram incluídos 77 estudos. Trinta e seis estudos estavam em alto risco de viés, 34 em risco incerto e 
sete em baixo risco. 
Uso de Hidratante:
- Relacionado a pontuações SCORing mais baixas (SCORAD) do que nenhum hidratante (3 estudos, 
276 participantes; diferença média (MD) -2,42, intervalo de confiança de 95% (CI) -4,55 a -0,28)
- Resulta em menos erupções (2 estudos, 87 participantes; MD 0,40, IC 95% 0,23 a 0,70)
- Prolonga tempo de remissão (mediana: 180 versus 30 dias) 
- Reduz uso de corticosteroides tópicos (2 estudos, 222 participantes; MD ‐9,30 g, IC 95% ‐15,3 a 
‐3,27). 
- Não houve diferença clara nos eventos adversos (1 estudo, 173 participantes; razão de risco (RR) 
15,34, IC 95% 0,90 a 261,64). A evidência para esses resultados foi de baixa qualidade.
Resultados
Atopiclair (hidratante à base de ácido glicirretínico): melhora na gravidade da doença contra usando 
veículo (3 estudos; RR 4,51, IC 95% 2,19 a 9,29).
Ureia: Os participantes relataram melhora da pele com mais frequência com creme contendo ureia do 
que com placebo (1 estudo, 129 participantes; RR 1,28, IC 95% 1,06 a 1,53; evidência de baixa qualidade)
Hidratante Glicerinado: Mais participantes no grupo em uso de glicerol notaram melhora na pele (1 
estudo, 134 participantes; RR 1,22, IC 95% 1,01 a 1,48; evidência de qualidade moderada),que também 
incluiu melhores pontuações SCORAD avaliadas pelo investigador (1 estudo, 249 participantes; RR - 2,20, 
IC de 95% ‐3,44 a ‐0,96; evidência de alta qualidade)
Hidratante a base de aveia: Nenhuma diferença significativa entre os grupos foi relatada para a gravidade 
da doença avaliada pelos participantes (1 estudo, 50 participantes; RR 1,11, IC 95% 0,84-1,46; evidência 
de baixa qualidade)
Resultados
Os participantes consideraram os hidratantes mais eficazes para reduzir o eczema (5 estudos, 572 
participantes; RR 2,46, IC de 95% 1,16 a 5,23) e coceira (7 estudos, 749 participantes; RR -1,10, IC 
95% -1,83 a -0,38) do que o controle. 
O tratamento ativo tópico combinado com hidratante foi mais eficaz do que o tratamento ativo sozinho 
na redução dos escores de gravidade da doença avaliada pelo investigador (3 estudos, 192 
participantes; RR -0,87, IC de 95% -1,17 a -0,57; evidência de qualidade moderada) e exacerbações (1 
estudo, 105 participantes; RR 0,43, IC 95% 0,20 a 0,93), e foi o preferido pelos participantes (ambos 
com evidência de baixa qualidade). Não houve diferença clara no número de eventos adversos (1 
estudo, 125 participantes; RR 0,39, IC 95% 0,13-1,19; evidência de qualidade muito baixa). A gravidade 
da doença avaliada pelo participante não foi abordada.
Discussão
Adicionar hidratantes a um tratamento tópico ativo resultou em melhores resultados clínicos do que o 
tratamento ativo tópico sozinho
O propionato de fluticasona duas vezes por semana adicionado ao uso diário de hidratantes reduziu a 
probabilidade de crises ao longo do tempo e tem implicações importantes para a prática diária, 
particularmente em pessoas com eczema que apresentam crises frequentes. No entanto, o uso de 
hidratantes diminuiu o uso e a necessidade de corticosteroides tópicos,
A maioria dos hidratantes considerados nesta revisão sistemática incluiu uma grande variedade de 
ingredientes, o que tornava impossível distinguir claramente entre hidratantes hidrofílicos e hidrofóbicos, 
ou, na verdade, entre hidratantes umectantes, emolientes e oclusivos. O hidratante ideal deve ser fácil de 
espalhar na pele, não ter cheiro, não conter ingredientes irritantes ou sensibilizantes, ser 
cosmeticamente aceitável sem grudar excessivamente em roupas e roupas de cama e ser acessível 
para pessoas com eczema.
Conclusão
O uso de hidratantes sempre foi parte integrante do tratamento do eczema e havia uma 
necessidade não atendida de resumir as evidências gerais sobre seus efeitos. 
O uso de hidratantes reduziu o número de participantes que experimentaram surto, 
prolongou o tempo de remissão, reduziu a taxa de exacerbação e reduziu a quantidade 
total de corticosteroides tópicos que seriam necessários para reduzir a extensão e 
gravidade da lesão.
Referências 
CASTRO Ana Paula, SOLÉ Dirceu, FILHO Nelson, JACOB Cristina, RIZZO Maria 
Cândida, FERNANDES Maria de Fátima, VALE Solange. Guia Prático para o Manejo 
da Dermatite Atópica – opinião conjunta de especialistas em alergologia da 
Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia e da Sociedade Brasileira de 
Pediatria. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia. São Paulo, 20 de 
dezembro de 2006.
van Zuuren EJ, Fedorowicz Z, Christensen R, Lavrijsen APM, Arents BWM. Emollients 
and moisturisers for eczema. Cochrane Database of Systematic Reviews 2017, 
Issue 2.

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