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POLITICAS PUBLICAS 5

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INTRODUÇÃO A REGULAÇÃO ECONÔMICA
DEFINIÇÃO
O funcionamento dos mercados de concorrência perfeita e monopólio. As formas de regulação e experiências de agências reguladoras no Brasil.
PROPÓSITO
Compreender a relação entre estrutura de mercado e as formas de regulação do Estado.
Descrever aspectos teóricos e a experiência brasileira de regulação econômica
INTRODUÇÃO
Você já deve ter visto várias manchetes de jornal como essas duas – que são hipotéticas, mas são bastante realistas! Vamos estudar neste tema por que encontramos questões assim quase todos os dias no noticiário econômico.
A regulação é uma política pública comum, e é bastante usada no domínio econômico. Ao identificar uma situação com preços muito altos, qualidade ruim ou produção aquém do necessário, o governo pode intervir para tentar melhorar a situação.
A teoria econômica desenvolveu diversos modelos para estudar quando e como essa intervenção deve ser feita.
· MÓDULO 1
ESTRUTURAS DE MERCADO
Entre os produtos que podemos comprar, existem aqueles que são vendidos por inúmeras empresas e outros que são oferecidos por poucas empresas ou somente por uma. A quantidade de empresas é um dos fatores mais relevantes para entender o funcionamento de um mercado.
Outro fator diz respeito à capacidade que as empresas têm de diferenciar os seus produtos.
Podemos observar no mercado uma diferença entre bens:
Por último, a existência de barreiras à entrada ou à saída de empresas também é um fator que determina a estrutura de um mercado.
Atenção
Barreiras são constituídas por um conjunto de aspectos que dificultam o início ou o fim da atuação de uma empresa num determinado mercado. Essas barreiras podem ser financeiras (investimento inicial elevado), técnicas (tecnologia difícil de dominar) ou legais (burocracia ou patentes). É difícil ou até impossível entrar no mercado na presença dessas barreiras.
No que diz respeito a esses fatores determinantes das estruturas de mercado, existem dois casos extremos que serão observados na sequência.
MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA
De forma simplificada, dizemos que um mercado está atuando em concorrência perfeita se:
· Existem várias empresas produzindo
· Os bens são homogêneos
· Não há nenhuma barreira à entrada e à saída de empresa
Esse é, por exemplo, o caso de uma feira livre em que as empresas são representadas por diversos produtores de cenoura.
Nessa feira, não é possível diferenciar as cenouras vendidas, pois o produto é homogêneo – portanto, pouco importa quem produziu cada cenoura.
Qualquer um pode levar suas cenouras até essa feira e vendê-las, pois não existe nenhuma barreira que dificulte a entrada ou a saída de um feirante.
A principal característica desse tipo de mercado é que nenhuma empresa consegue ter influência sobre o preço de mercado, ou seja, as empresas são tomadoras de preços, pois, quando chegam ao mercado, os vendedores têm de seguir os preços que estão vigorando.
Um feirante não conseguiria vender suas cenouras por um preço mais alto, pois, na barraca ao lado, as mesmas cenouras estariam sendo vendidas a preços de mercado. Esse feirante também não venderia suas cenouras mais barato, visto que seria possível vender a mesma quantidade de cenouras a preços de mercado, obtendo assim mais receita. Dessa forma, a única forma de aumentar a receita de uma empresa está associada à quantidade do bem que ela produzirá.
Nessa estrutura de mercado, dizemos que o bem será vendido a preço de mercado. Isso significa que a empresa vai preocupar-se apenas com a quantidade de produção, que é a quantidade eficiente tanto para a empresa quanto para os consumidores, ocorrendo quando o preço é igual ao chamado “ custo marginal”. O custo marginal é uma variação nos custos, diante de uma produção extra em uma unidade. Se a produção de uma cenoura a mais custa ao produtor R$ 2,00, esse é o custo marginal. No mercado competitivo, esse também será o preço: ninguém vai cobrar menos (porque teria prejuízo) nem mais (porque um concorrente poderia cobrar um pouco menos e roubar o mercado).
Atenção
O custo marginal inclui todos os custos relevantes - por exemplo, o tempo e o esforço do vendedor. Quando dizemos que o preço é igual ao custo de mercado, significa que a remuneração não é extraordinária, mas está dentro do que se pode obter no mercado. Formalmente, incluímos na nossa medida de custo o chamado custo de oportunidade.
MONOPÓLIO
Uma estrutura de mercado monopolista apresenta três características principais:
· Uma única empresa produtora do bem ou serviço
· Não existem outros produtos semelhantes
· Existem barreiras à entrada de empresas
Alguns fatores dificultam ou impedem a entrada de competidores:
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MONOPÓLIO NATURAL
Dificulta que uma nova empresa ofereça um produto com preço equivalente ao da empresa já estabelecida porque exige um grande investimento inicial. Por exemplo: distribuição de energia elétrica.
PROTEÇÃO DE PATENTES
Confere à empresa a exclusividade dos direitos de propriedade e uso de determinado produto. Por exemplo, medicamentos tipicamente são vendidos por apenas uma empresa por algum período de tempo.
TRADIÇÃO NO MERCADO
Ocorre nos casos que certa empresa ou região domina implicitamente determinado mercado, à exemplo da Suíça na produção de relógios.
No caso de um monopólio, a empresa escolhe a quantidade a ser produzida com um preço que maximiza o seu lucro – ao contrário de uma firma no mercado competitivo, a firma monopolista não toma os preços como dados. Quanto mais os consumidores estiverem dispostos a pagar, maior será o preço que o monopólio poderá cobrar.
A capacidade que uma empresa tem de manter o preço acima do que teríamos em concorrência perfeita chama-se poder de mercado.
Um exemplo é a patente. Veja um pouco mais:
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Exemplo – A duração ótima de uma patente
A patente oferece aos inventores o direito exclusivo de beneficiar-se de suas invenções por um período limitado de tempo. A patente oferece, pois, uma espécie de monopólio limitado. Tal proteção à patente visa encorajar a inovação. Na ausência de um sistema de patentes, é provável que tanto as pessoas quanto as empresas não se dispusessem a investir muito em pesquisa e desenvolvimento, uma vez que as descobertas que fizessem seriam copiadas pelos concorrentes.
Nos Estados Unidos, a patente é válida por dezessete anos. Durante esse período, os proprietários da patente têm o monopólio da invenção; quando expirado o prazo de validade, qualquer um estará livre para utilizar a tecnologia descrita na patente. Quanto maior a duração da patente, mais ganhos que os inventores podem obter e, portanto, mais incentivos terão para gastar em pesquisa e desenvolvimento. Entretanto, quanto maior a duração do monopólio, maior será a geração de ônus. A vida longa para a patente tem como benefício encorajamento da inovação e com um custo incentivo ao monopólio. A vida “ótima” de uma patente é o período que equilibra esses dois efeitos conflitantes.
(VARIAN, 2015 p. 640-641)
UNIÃO INDEVIDA DAS EMPRESAS
Outra ação que pode prejudicar a concorrência de um mercado ocorre quando empresas se unem de maneira indevida.
A colusão ocorre quando as empresas de um mesmo setor – com bens homogêneos – se unem, com o intuito de restringir a produção de cada empresa para aumentar os preços e o lucro.
A colusão entre empresas, mais conhecida como cartel, corresponde a uma prática restritiva de concorrência. Ela se dá por meio de acordo entre empresas que possuem atividades concorrentes e têm como objetivo obter maior controle daquele mercado. Em geral, isso se relaciona com o preço de venda ou com o aumento dos preços, com a restrição de vendas e produção e com a partilha de consumidores e mercado.
Por meio dessa prática, coordenam-se as decisões para restringir ou falsear a concorrência, gerando ganhos superiores ao que se obtém em livre-concorrência. Ganhos que, posteriormente, podem ser repartidos, direta ou indiretamente, entre as empresas envolvidas.
A existênciade colusão acaba interferindo na autonomia na determinação de preços e nas condições de venda. Portanto, por meio do cartel, as empresas visam favorecer-se, criando condições mais vantajosas para elas do que teriam caso atuassem concorrencialmente, prejudicando, assim, terceiros – especialmente os consumidores.
MONOPÓLIO NATURAL: QUANDO O MERCADO SÓ COMPORTA UM PRODUTOR
Vamos olhar com mais atenção para o caso do monopólio natural, particularmente importante para regulação econômica. Caso você pesquise qual a distribuidora de eletricidade da sua cidade, é bem provável que você descubra que há apenas uma.
Para que uma empresa distribua eletricidade é necessário que seja feito um grande investimento em fios de transmissão, postes, caixas de luz, subestações de energia, entre tantas outras infraestruturas e tecnologias que possibilitem a utilização de energia elétrica. Cada infraestrutura representa um custo fixo, ou seja, independentemente da quantidade de eletricidade que uma residência consome, o custo envolvido nessa instalação é o mesmo.
Os custos fixos de uma empresa de distribuição de energia elétrica são extremamente altos. Por outro lado, uma vez que toda a infraestrutura foi construída, o custo de distribuir energia é baixo.
Em outras palavras, os custos marginais, que dependem da quantidade de energia fornecida por mês, são baixos.
Agora, imagine se o mercado de distribuição de energia elétrica fosse composto por diversas empresas concorrentes. Cada empresa precisaria instalar seus próprios postes, fios de transmissão e subestações de energia, tornando todo o fornecimento mais custoso. Dessa forma, fica evidente que uma única empresa seria capaz de fornecer o serviço a um custo menor do que qualquer concorrente, e no volume necessário para atender todo o mercado.
Existem tipos de mercado que impossibilitam ou dificultam que mais de uma empresa atue na exploração ou prestação de serviço. Em geral, isso ocorre quando há altos custos fixos e baixos custos marginais. Denominamos esse tipo de mercado como monopólio natural.
Para impedir que, em um monopólio natural, uma empresa pratique preços abusivos, é comum que haja atuação ou controle total de operação por parte do governo.
Atenção
O controle total pelo governo ocorre quando o Estado assume o papel de provedor daquele bem, atuando como uma empresa (empresa estatal). Alternativamente, o estado pode criar uma agência regulatória (órgão estatal) para auxiliar no controle desse tipo de monopólio através de medidas regulatórias.
No caso da eletricidade, uma agência regulatória é criada para garantir que haverá uma quantidade de energia suficiente para todos a um preço adequado. Além disso, a agência também pode atuar controlando a entrada de distribuidoras no mercado, de forma a garantir que nenhuma enfrente prejuízos, dado os altos custos fixos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. Qual é a principal característica do Mercado de concorrência perfeita?
Os bens não são homogêneos
Nenhuma empresa consegue ter influência sobre o preço do mercado
Existem barreiras à entrada e à saída das empresas no mercado
Não há outros produtos
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
Um mercado em concorrência perfeita é caracterizado por agentes econômicos (consumidores e firmas) tomadores de preço. Isso significa que ninguém consegue influenciar o preço de mercado.
Parte superior do formulário
2. A colusão é uma prática empresarial que busca:
Gerar um monopólio por meio da fusão de empresas
Estimular a concorrência
Aumentar o lucro, por meio de um comportamento pouco competitivo de todos os participantes
Gerar patentes
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
A colusão entre empresas (cartel) corresponde a uma prática restritiva de concorrência. Ela se dá por meio de acordo entre empresas que possuem atividades concorrentes e tem como objetivo obter um maior controle daquele mercado. Dessa forma, é possível aumentar os preços e obter maiores lucros.
· MÓDULO 2
REGULAÇÃO DE MERCADO E A INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL
Regulação de mercado é uma forma de influenciar as práticas das empresas. Pode se dar por meio da autorregulação, quando os próprios agentes econômicos formulam a ordem que devem seguir, ou por meio da intervenção do Estado na economia, seja por tributação, concessão de subsídios, controle de acesso ao mercado ou até pelo tabelamento de preços.
Na estrutura de mercado de concorrência perfeita, não vislumbramos necessidade de interferência governamental. No entanto, em casos nos quais as estruturas de mercado se aproximam de um monopólio, é necessário que o estado interfira para que a concorrência seja garantida. Boa parte da ação estatal de regulação em defesa da concorrência se dá por meio de agências reguladoras.
O papel das agências de regulação
Agência reguladora é o órgão governamental que normatiza as atividades de interesse público, sendo responsável por fiscalizar e legislar sobre como um setor da economia deve operar. De forma mais específica, determina os parâmetros mínimos de funcionamento das empresas de certo setor.
Ou seja, as agências reguladoras possuem poder normativo, ao regulamentar e normatizar diversas atividades de interesse coletivo, respeitando os limites das legislações existentes naquele território.
Elas atuam para incentivar a concorrência e para evitar práticas abusivas das empresas com poder de mercado.
A Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações - é um exemplo de agência reguladora.
Dentre as suas principais funções encontram-se:
· minimizar os efeitos dos monopólios naturais;
· desenvolver mecanismos de suporte à concorrência;
· defesa dos direitos do consumidor;
· elaboração de normas para o setor regulado;
· realizar a fiscalização dessas normas; e
· gerir os contratos de concessão de serviços públicos delegados.
Os principais mecanismo de atuação se dão da seguinte forma:
 
Tipos de regulação
Para garantir que os preços operados em um mercado sejam competitivos, a ação regulatória pode operar de diversas maneiras.
Duas perspectivas são:
Custos
Para estimar o preço a ser praticado pela empresa regulada, a agência reguladora toma como base todos os custos que a firma possui para produzir. Dessa forma, a agência define os preços garantindo que sejam geradas receitas suficientes para que esses custos sejam compensados, garantindo uma taxa de retorno razoável. Em outras palavras, esse método baseia-se na regulação da taxa de retorno. Com esse tipo de regulação, porém, a empresa pode não ter incentivos para incorporar melhorias em sua linha de produção e reduzir o seu custo. Esse desincentivo de redução de custo pode gerar problemas, como veremos na próxima seção.
Incentivos
Uma das principais formas de regulação por incentivo é chamada de preço-teto. Nesse caso, para que os consumidores tenham acesso a um preço adequado, a agência reguladora estabelece um preço máximo permitido. Logo, resta à empresa regulada adequar-se, de forma que seja possível obter algum tipo de lucro. Essa forma de regulação cria um incentivo para a redução de custos, pois quanto menores eles forem maiores serão os ganhos da empresa em questão.
TEORIA ECONÔMICA DA REGULAÇÃO
Vamos aprofundar um pouco a discussão sobre ferramentas regulatórias que começamos anteriormente. Em 1945, Ronald Coase (vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 1991) observou que problemas informacionais são centrais para a regulação econômica.
Dentre esses problemas, vamos destacar um que está presente em toda a literatura acadêmica e na discussão de política pública:
O regulador não conhece os custos de produção tão bem quanto a firma regulada.
Agora, vamos nos concentrar no caso de um mercado com uma única firma – ou seja, o regulador está lidando com um monopolista, e precisa escolher o preço que permitirá que ele cobre dos consumidores.
Pense, por exemplo, em uma estrada administrada por uma empresa concessionária:
Qual deve ser o valor do pedágio?
Será que devemosdar algum tipo de subsídio à empresa e
exigir que ela cobre um valor menor?
Quais são os custos de cada tecnologia à disposição desse monopolista?
Será que, se os administradores da firma se esforçarem,
é possível reduzir esses custos?
Se ignorarmos essas questões, podemos dar subsídios exagerados, fazer uma política de preço equivocada, ou comprometer a produtividade das firmas.
Ao longo da história, os reguladores sempre usaram regras simples para lidar com esse problema. Frequentemente se determina uma taxa de retorno aceitável: a firma tem o direito de colocar um preço acima de seu custo marginal, de forma a compensar seus custos fixos e garantir uma remuneração adequada. Esse tipo de regulação, porém, tem um problema grave: não gera qualquer incentivo para que a firma busque reduzir seus custos, dado que o governo compensa quaisquer aumentos de custo.
Se a regulação baseada em taxas de retorno é problemática, o que devemos adotar? O regulador deve ter sempre dois objetivos em mente:
Comentário
É difícil, porém, alcançar esses dois objetivos simultaneamente. Já vimos que a regulação baseada em taxa de retorno evita retornos exagerados à firma (ou seja, atende o objetivo 2), mas não gera incentivo para redução de custos (e, portanto, não atende o objetivo 1).
Podemos pensar em um tipo de regulação diametralmente oposto: o governo paga um valor fixo à firma, que deve garantir a provisão do serviço. Agora, há um grande incentivo para que a firma reduza custos, pois qualquer redução se transforma em lucro: atendemos o objetivo 1. Mas há um problema: se o governo acha que o custo da firma é alto, o valor fixo também precisará ser alto, o que significa que uma empresa com custos baixos terá uma remuneração exagerada! Dessa forma, não atendemos o objetivo 2.
Como lidar com esse dilema?
Para simplificar a exposição, vamos considerar que a firma não cobra nenhum valor aos consumidores, e recebe diretamente do governo todos os recursos necessários para financiar sua operação: no nosso exemplo, não há pedágio, e o governo faz os pagamentos acordados à firma. Esse é o caso de uma licitação: por exemplo, quando o governo compra respiradores para hospitais públicos.
O governo observa os custos da firma, por meio de relatórios contábeis, mas não sabe quanto os seus administradores se esforçaram para reduzir esses custos – e não é possível dizer o custo pessoal desses administradores para obter alguma redução: eles podem ser eficientes e capazes de obter grandes reduções de custos, ou podem não ser tão competentes assim. Ou seja, temos o problema que Coase (1945) identificou: há assimetria informacional entre o regulador e a firma regulada.
A solução para esse dilema envolve a possibilidade de um reembolso parcial para ao menos uma parte das firmas. Ou seja, o pagamento tem duas partes. Primeiro, temos um pagamento fixo, que não depende do custo reportado pela firma. Segundo, o governo transfere à firma uma parte dos seus custos reportados. Por exemplo, o governo paga à firma um valor fixo de R$ 500,00, e reembolsa 30% dos custos que ela reporta em seus relatórios contábeis.
Mas isso não é tudo. Para concluir a descrição do contrato, vamos pensar que há dois tipos de firma: uma eficiente e outra ineficiente:
O regulador não sabe distingui-las.
O regulador deve então disponibilizar um tipo de contrato para cada firma:
 Clique nas barras para ver as informações.
PREÇO FIXO
O primeiro contrato é chamado de preço fixo: o governo faz apenas uma transferência fixa à firma, sem qualquer reembolso adicional por custos reportados. Esse tipo de contrato atrairá apenas a firma eficiente, que é capaz de reduzir custos, e é portanto devidamente incentivada a trabalhar para obter essa redução.
REEMBOLSO PARCIAL
O segundo contrato permite o reembolso parcial, e atrairá a firma ineficiente, que não seria capaz em qualquer hipótese de obter grandes reduções de custo.
Você pode se perguntar:
Por que o regulador não oferece o mesmo tipo de contrato para as duas firmas – eficiente ou ineficiente?
Resposta
A resposta é simples: a transferência fixa para a firma ineficiente precisaria ser muito alta, exatamente para compensar sua ineficiência! Para piorar, a firma eficiente poderia abrir mão de trabalhar pela redução de custos e reportar custos altos, passando-se assim por uma firma ineficiente para obter lucro ainda mais alto. Para evitar isso, a transferência para as firmas eficientes seria ainda mais alta, o que tornaria a provisão do serviço extremamente cara para a sociedade. O regulador deve oferecer à firma ineficiente um contrato que não seja atraente para a firma eficiente!
No fim das contas, a firma ineficiente é submetida a um esquema regulatório em que não há grande incentivo à redução de custos, mas também não há grandes lucros: é o reembolso parcial de custos. É comum dizer que esse tipo de esquema tem ‘baixo poder’, no sentido de não promover grande incentivo à redução de custo. A firma eficiente, por usa vez, recebe uma transferência fixa, o que gera incentivo para redução de custo mas permite um lucro mais alto – é um contrato de ‘alto poder’.
Em suma, o esquema regulatório ideal não deve se limitar a soluções extremas: seja uma transferência fixa de recursos a qualquer empresa regulada, que gera incentivo à redução de custos, mas permite lucros muito altos; seja um reembolso completo, que não permite lucro exagerado mas também não gera incentivo para a redução de custos.
Observe que, tecnicamente, consideramos na discussão que o regulador oferece um ‘menu’ de contratos regulatórios para que a firma escolha um deles – como o regulador não conhece todos os custos da firma regulada, ele desenha esses contratos para induzir a autosseleção desejada.
Ou seja, cada firma deve escolher o contrato ‘desenhado’ para ela: a firma eficiente escolhe o contrato de preço fixo, e a firma ineficiente escolhe o contrato com reembolso.
Comentário
No mundo real, o regulador não disponibiliza exatamente um menu de contratos em um processo regulatório ou em uma licitação. Na prática, há negociações do governo com as firmas, em que cada uma (eficiente ou ineficiente) faz propostas diferentes e obtém tipicamente um contrato distinto, o que acaba por emular a oferta de um menu por parte do governo.
Por último, é importante registrar que a teoria desenvolvida nessa seção possui uma implicação importante: qualquer fator que diminua a incerteza do regulador a respeito da eficiência das firmas permite que o regulador opte por contratos de ‘alto poder’ – esse é o contrato ideal para gerar redução de custo, e a única coisa que impede sua adoção generalizada é a assimetria informacional.
Uma maneira de reduzir essa incerteza é o uso de leilões por uma posição de monopolista – por exemplo, um leilão para concessão de uma rodovia. No leilão, as firmas mais eficientes, que são capazes de obter maiores lucros na operação, têm um incentivo claro a dar lances maiores, o que acaba por revelar informação ao regulador. O uso de leilões, seja em regulação de monopolista ou em licitações, é bastante comum, exatamente por ser uma ferramenta útil para lidar com assimetria informacional.
REGULAÇÃO NO BRASIL
No Brasil, existem algumas agências reguladoras, como:
O governo federal regula diferentes áreas da economia. Vamos olhar para o serviço postal, um setor que nos ajudará a entender diversas ferramentas regulatórias.
O serviço postal, no Brasil, deve ser prestado diretamente pelo governo federal, que autoriza eventuais ajustes nas tarifas postais. De acordo com o Ministério da Fazenda, esse processo deve cobrir custos operacionais, além de buscar a expansão e a melhoria dos serviços. Ou seja, encontramos as preocupações que vimos anteriormente: o governo quer aumentar a qualidade, cobrir custos, evitando prejuízo ou lucros excessivos; mas também deve buscar uma alocação eficiente de recursos.
A estrutura desse serviço, no Brasil, envolve uma empresa pública: a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que atua como monopolista em alguns serviços,e compete com empresas privadas em outros.
Ao governo federal, cabe a regulação de preços nos serviços sujeitos a monopólio: como vimos, a falta de concorrência é um dos principais fatores que pode prejudicar a alocação de recursos pelo setor privado.
A ECT é sujeita a um regime regulatório de teto de preços, mas a legislação admite a compensação de alguns custos extraordinários: há ênfase na busca pela eficiência, mas o regulador reconhece que é necessário proteger a firma de riscos. Especificamente, admite-se um reajuste extraordinário se “ficar comprovado que circunstâncias supervenientes e inimputáveis à ECT passaram a afetar de forma significativa a exploração dos serviços postais” (BRASIL, 2018).
Comentário
A ideia é simples: o teto de preços busca incentivar a empresa regulada a implementar esforços para reduzir custos, e, portanto, não faz sentido penalizá-la (ou premiá-la) por uma variação de custo ‘inimputável’ a ela. Em resumo, temos uma parte do contrato que busca incentivar a empresa a reduzir custos, e outra parte que busca apenas cobrir custos que não podem ser reduzidos.
Observe que o governo usa então uma série de mecanismos distintos para lidar com imperfeições de mercado. Primeiro, o governo faz a provisão de parte dos serviços postais por meio de uma empresa pública. Segundo, busca-se usar um mecanismo de concorrência para parte dos serviços. Terceiro, as ferramentas regulatórias são aplicadas para os serviços prestados de forma exclusiva (monopolista) pela própria empresa pública.
Preste atenção ao segundo ponto indicado no parágrafo anterior: o governo busca usar mecanismos de promoção da concorrência. Trata-se de uma ferramenta complementar à regulação que estudamos neste módulo.
No Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) é a autoridade responsável por estimular a competição. Mas isso é assunto para outro tema!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. Estipular o preço da empresa regulada baseada na Regulação da Taxa de Retorno (RTR) pode trazer algumas vantagens e desvantagens. Semelhantemente, o estabelecimento de preços-tetos traz vantagens e desvantagens. Dessa forma, vemos que em ambos os tipos de regulação, existem fatores positivos e negativos.
Selecione uma alternativa correta sobre os tipos de regulação, com relação a vantagens ou desvantagens.
Basear-se na RTR traz a vantagem de garantir que os consumidores pagam um valor de produto mais próximo aos custos da empresa.
Basear-se nos custos, nos moldes de RTR, induz que a empresa atue de forma a se tornar altamente produtiva.
Independentemente dos preços-tetos, a empresa regulada sempre estipulará um preço acima daquele estipulado pela agência reguladora.
Os preços-tetos inibem o ambiente de promoção da produtividade.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "A" está correta.
A RTR considera os custos das empresas para calcular o preço, e limita o retorno que elas podem obter. Dessa forma, impede que o preço fique distante do custo que a empresa tem para prestar o serviço.
Parte superior do formulário
2. Dentre as alternativas abaixo, assinale a que não representa uma função das Agências de Regulação:
Atuar a gestão de contratos de concessão de serviços públicos delegados
Elaborar normas para o setor regulado
Buscar a defesa dos direitos do consumidor
Maximizar os efeitos dos monopólios naturais
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
Os monopólios naturais geram distorções no mercado, e as Agências de Regulação buscam minimizar essas distorções, através de diferentes ferramentas regulatórias.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que mercados de concorrência perfeita possuem preços competitivos, ao passo que monopólios se valem de seu poder de mercado para operar com preços mais elevados.
Existem casos nos quais uma única empresa sozinha é capaz de operar melhor: são os chamados monopólios naturais. Para garantir o bom funcionamento dos mercados onde a competição não é perfeita, o Estado entra na figura de regulador.
Para isso, são criadas agências reguladoras, que têm como objetivo minimizar as distorções geradas por empresas com poder de mercado. Além disso, o tipo de regulação pode variar, buscando ao mesmo incentivar a firma a reduzir seus custos e evitar lucros exagerados. Por último, estudamos algumas práticas regulatórias no Brasil.

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