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Estoicismo

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1.1 - O Estoicismo 
O estoicismo foi fundado em Atenas por discípulos de Zenão. O nome é uma homenagem do local onde se encontravam para refletir.
A filosofia cética é dividia nas partes: física, lógica e cética, que tem sua relação explicada pela metáfora da árvore, com a física sendo a raiz, o tronco a lógica e a ética os frutos, com esses sendo a parte mais importante, já que é possível colhê-los da árvore do saber. No entanto sem o resto da árvore ele não existe.
Isso reflete a relação próxima da física e da ética. O homem é apenas um grão de areia no contexto geral, e dessa maneira, sua conduta ética é baseada apenas nos que a physis, o cosmo e a natureza lhe impõem. Sendo em síntese a boa ação uma ação que segue o rumo da natureza. As virtudes estoicas são: Inteligência (conhecer o bem e o mal), a coragem (saber o que temer ou não) e a justiça (saber dar o que é devido a cada um)
O estoicismo preza fortemente o conceito de destino(heimarmené). Dessa maneira, devem-se tomar ações éticas mas ter em mente que os resultados eram imutáveis e premeditados. De forma, o destino é altamente racional, e mesmo que essas não seja compreendida, deve ser aceita pelos humanos. Tomando como exemplo um médico cujo paciente está morrendo, o médico tentará salvá-lo pois é ético, mas se o paciente morrer, é sabido que o mesmo já teria esse fim. E a felicidade(ataraxia), caracterizada pela tranquilidade da alma é atingida exatamente por não se tentar lutar contra o curso dos eventos, além do autocontrole, austeridade e contenção. Não obstante, só o sábio perfeito é capaz da mesma, mas apesar de ser inatingível, deve ser sempre almejada.
Crisipo fez grandes contribuições à lógica proposicional, rival à aristotélica. A proposicional é baseada em inferência, dessa forma, ”Se a rua ficar molhada, choveu. A rua está molhada, logo, choveu”. Já a lógica aristotélica é trabalhada no sentido estabelecido pelos termos em uma frase, os quais estabelecem premissas que juntas levam à uma conclusão, seja ela verdadeira ou não.
Panécio e Posidônio aproximaram o estoicismo do platonismo e aristotelismo ao tomar um rumo mais eclético, tendência clássica do helenismo. Essa fase foi conhecida como “médio estoicismo”
O estoicismo agora era centrado em Roma, originando o “novo estoicismo” com seus principais representantes sendo Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio(que inclusive tem um livro no exercício estoico de autoanálise). Essa corrente latina foca na filosofia prática, numa concepção humanística além da indiferença (apatheia) e autocontrole, tal como o estoicismo clássico
Após esse período, o estoicismo entra em declínio por não ter representantes marcantes. Por seu aspecto eclético passa a ser confundido com o platonismo, mesmo que a lógica estoica tenha influenciado o desenvolvimento do cristianismo por meio da crença de autocontrole, submissão, austeridade e concepção humanista.
1.2 - O Ceticismo e a Tradição Cética 
O ceticismo é tido como sabido de maneira geral apesar de não ser o caso. O Ceticismo, visto mais de perto, não tem apenas um, mas várias concepções. Mesmo considerando a “tradição cética”, ela não tem linearidade, um representante maior ou sequer uma data inaugural específica, sendo mais do que uma só tradição que fora revisitada. A formação dessa tradição são seu sentido, rupturas internas e ramificações.
Tomar o um texto de Sexto Empírcio é essencial para compreender os sentidos do ceticismo, já que é a principal fonte de conhecimento dessa tradição antiga. Em suas Hipotiposes pirrônicas, logo no capítulo de abertura (I. 1), é dito que: 
O resultado natural de qualquer investigação é que aquele que investiga ou bem encontra o objeto de sua busca, ou bem nega que seja encontrável e confessa ser ele inapreensível, ou ainda, persiste na sua busca. O mesmo ocorre com os objetos investigados pela filosofia, e é provavelmente por isso que alguns afirmaram ter descoberto a verdade, outros, que a verdade não pode ser apreendida, enquanto outros continuam buscando. Aqueles que afirmam ter descoberto a verdade são os “dogmáticos”; assim são chamados especialmente, Aristóteles, por exemplo, Epicuro, os estoicos e alguns outros. Clitômaco, Carnéades e outros acadêmicos consideram a verdade inapreensível, e os céticos continuam buscando. Portanto, parece razoável sustentar que há três tipos de filosofia: a dogmática, a acadêmica e a cética. 
Destarte, consoante Sexto, as academias de Clitômacoe e Carnéades diferem fundamentalmente do ceticismo. Os acadêmicos crêem que é impossível encontrar a verdade, enquanto os céticos simplesmente a buscam. Esse ceticismo se suspende de juízo(époche) no que tnge a possibilidade de algo ser verdade ou não., sendo essa a base do ceticismo efético/suspensivo que é o único considerado “ceticismo” e proveniente da filosofia de Pirro de Élis. Daí a reivindicação de equivalência entre ceticismo e pirronismo. Sexto diz que os céticos chamavam-se pirrônicos porque Pirro “parece ter se dedicado ao ceticismo de forma mais completa e explícita que seus predecessores”. 
Embora Pirro de Élis seja considerado o fundador do ceticismo antigo, é possível apontar outros precursores do ceticismo, ou representantes de uma forma de “protoceticismo”, tais como Demócrito de Abdera e os atomistas posteriores como Metrodoro (séc. IV a.C.), mestre do próprio Pirro; os mobilistas discípulos de Heráclito, como Crátilo; e os sofistas, sobretudo um defensor do relativismo como Protágoras. 
Mas mantem-se o fato de Pirro ter iniciado o ceticismo. Sua filosofia é conhecida apenas por parte de seu discípulo Tímon, visto que Pirro nunca escreveu suas ideias. O mesmo considerava essa doutrina um meio de vida tal como Sócrates. Tímon também relata as respostas dadas a três questões fundamentais: 1) Qual a natureza das coisas? Nem os sentidos nem a razão permitem o conhecimento das coisas como elas são, e todas as tentativas resultam em fracasso. 2) Como devemos agir em relação à realidade que nos cerca? Mais exatamente: porque não podemos conhecer a natureza das coisas, devemos evitar assumir posições acerca disto. 3) Quais as consequências dessa nossa atitude? O distanciamento que mantido leva à tranquilidade. O ceticismo, como o estoicismo e o epicurismo se preocupam com a praticidade dela. Dessa forma, o objetivo primordial da filosofia de Pirro é atingir a ataraxia e depois a felicidade.
De acordo com a tradição de Diógenes Laércio, Pirro e seu mestre Anaxarco de Abdera teriam entrado em contato com os gimnosofistas, que teriam influenciado sobretudo quando os céticos levantavam uma dúvida sobre a possibilidade de se adotar um critério de verdade imune ao questionamento, enquanto que os estoicos mantinham a noção de phantasia kataleptiké (termo traduzido em “apreensão cognitiva”) como base de sua teoria do conhecimento. 
A noção de époche (suspensão do juízo) é central à estratégia argumentativa cética. No entanto, ela não se encontra já em Pirro, nele tem as noções de aparaxia(inação), aphasia (ausência de discurso), apathia (ausência de sensações), que levariam à ataraxia. No entanto, a époche parece ser de origem estoica ou no mínimo usada por eles de forma recorrente. É parte também da doutrina que o sábio autêntico deve ausentar seu juízo sobre o que é inapreensível, evitando assim fazer afirmações falsas.
Arcesilau diz que dada a ausência de um critério decisivo devemos na realidade suspender o juízo a respeito de tudo. De frente a questões como paradoxos, o silêncio é a melhor resposta, sendo essa isenção de resposta a époche. Se pelos estoicos o juízo deve ser suspendido, Arcelisau expande para qualquer pretensão ao conhecimento, visto que nenhuma satisfará o critério de validade. Dessa forma, a suspensão é uma característica central do ceticismo
O ceticismo se caracterizaria, portanto, como um procedimento segundo o qual os filósofos em sua busca da verdade se defrontariam com uma variedade de posições teóricas (o dogmatismo). Essas posições encontram-se em conflito (diaphonia), uma vez que são mutuamente excludentes,cada uma se pretendendo a única válida. Dada a ausência de critério para a decisão sobre qual a melhor dessas teorias, já que os critérios dependem eles próprios das teorias, todas se encontram no mesmo plano, dando-se assim a isosthenia, ou equipolência. Diante da impossibilidade de decidir, o cético suspende o juízo e, ao fazê-lo, descobre-se livre das inquietações. Sobrevém assim a tranquilidade almejada. Temos portanto o seguinte esquema, que parece ser um desenvolvimento das respostas de Pirro às três questões fundamentais da filosofia: 
O ceticismo é 
zétesis (busca) → diaphonia → (conflito) → isosthenia (equipolência) → époche (suspensão) → ataraxia (tranquilidade). 
Entretanto, o problema prático permanece. Dada a ausência de critério para a decisão sobre a verdade ou não de uma proposição, como agir na vida concreta? A preocupação moral é fundamental para a filosofia do helenismo de modo geral, e o ceticismo compartilha essa preocupação com o estoicismo e o epicurismo. A filosofia deve nos dar uma orientação para a vida prática, que nos permita viver bem e alcançar a felicidade. É com tal propósito que Arcesilau recorre à noção de eulogon, o razoável. Já que não podemos ter certeza sobre nada, já que é impossível determinar um critério de verdade, resta-nos o “razoável” (Sexto Empírico, Contra os lógicos I, 158). 
Embora provavelmente a époche não se encontre ainda no ceticismo de Pirro, é em torno dessa noção que se dá a caracterização do ceticismo na tradição do helenismo. E é, em grande parte, a diferença de interpretação do papel e do alcance da époche que marcará a ruptura entre ceticismo acadêmico e ceticismo pirrônico. 
Com o advento do cristianismo e sua institucionalização como religião oficial do estado no Império Romano a partir do séc.IV, se dá o progressivo caso das filosofias pagãs, inclusive do ceticismo. Podemos supor assim que, com a hegemonia de um pensamento fortemente doutrinário como a filosofia cristã, não tenha havido espaço para o florescimento do ceticismo. Os argumentos céticos, e sobretudo a noção de diaphonia, foram, entretanto, usados com frequência por teólogos e filósofos cris- tãos como Eusébio (260-340) e Lactâncio (240–320), principalmente nesse período inicial, para mostrar como a filosofia dos pagãos era incerta, marcada pelo conflito e incapaz de alcançar a verdade. Em c.386 santo Agostinho escreveu seu diálogo Contra acadêmicos em que pretende refutar o ceticismo acadêmico. A influência de santo Agostinho no Ocidente em todo o período medieval explica em grande parte o desinteresse pelo ceticismo. Referências ao ceticismo antigo e discussões de questões céticas estão, salvo algumas exceções, ausentes da filosofia medieval. 
A instalação do cristianismo diminui o espaço para surgirem filosofias pagãs tais como o ceticismo, sendo assim, nesse perídod do séc IV não houve oportunidade de por exemplo o ceticismo aflorar. Muitos argumentos foram usados pelos cristãos como forma de provar a incerteza dessas filosofias

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