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EDUCAÇÃO EM ESPAÇO NÃO ESCOLAR E d u ca çã o E D U C A Ç Ã O E M E S P A Ç O N Ã O E S C O L A R M ôn ic a C ris tia ne D av id Mônica Cristiane David Curitiba 2019 Educacao em Espaco não Escolar çã ç Mônica Cristiane David Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. D249e David, Mônica Cristiane Educação em espaço não escolar / Mônica Cristiane David. – Curitiba: Fael, 2019. 152 p.: il. ISBN 978-85-5337-062-7 1. Educação I. Título CDD 370 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/wavebreakmedia Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Educação em espaço não escolar | 7 2. Educação não formal: conceito e função socioeducacional | 31 3. Pedagogia social | 49 4. Pedagogia empresarial | 65 5. Pedagogia hospitalar | 81 6. Pedagogia no sistema prisional | 95 7. A educação não formal dos povos indígenas e afrodescendentes | 107 8. O papel do pedagogo e a liderança | 121 Gabarito | 137 Referências | 145 Prezado(a) aluno(a), A educação é um fator de importante relevância na evolu- ção pessoal e profissional do ser humano, promovendo uma vida digna, de direitos, conforme promulga a Constituição de 1988. Por essa razão, é sine qua non que o profissional da edu- cação, em parceria com o poder público, compreenda, entenda, promova, aluda e realize ações e atividades que corroborem com as diversas demandas educacionais. Porém, muitas pessoas, em virtude de dificuldades singula- res, não conseguiram concluir seus estudos no tempo conside- rado “normal”. Carta ao Aluno – 6 – Educação em Espaço não Escolar Nesse sentido, em razão das diversas situações alheias, muitas pes- soas que deveriam estar matriculadas nas escolas, postergam seus ideais, seus planos de vida, seus sonhos, para priorizarem o trabalho em detri- mento aos estudos, pela necessidade de contribuir ou, até mesmo, susten- tar a família. Por mais que existam políticas públicas que assessorem uma educa- ção de qualidade, ainda existe, no Brasil, um número considerado signi- ficativo de pessoas analfabetas. Por essas razões, muitas se sentem inca- pazes, inúteis e indefesas diante da realidade em que vivem, não atuando como cidadãos de direitos e deveres. Sendo assim, é imprescindível que o pedagogo, o educador social, perceba as demandas advindas das realidades existentes e resgate “ o que há de humano no homem, no sentido radical da palavra; é preciso sensibi- lizá-lo sobre o outro e fazê-lo perceber-se nesse outro que já se esqueceu humano e hoje vaga pela vida, sem sentido e vontade e só se faz vivo por um razão biológica” (GRACIANI, 2014, p. 12). Para tanto, o papel do pedagogo tem como propósito viabilizar e esclarecer as diversas funções do pedagogo nos ambientes não escolares, tanto como agente de transformação para pessoas que advêm de situações precárias, como também para auxiliar o trabalho em empresas, promo- vendo atividades de desenvolvimento e treinamento em áreas específicas; o pedagogo hospitalar, que tem como propósito auxiliar nos estudos de crianças e adolescentes que estão, por alguma razão, temporariamente afastados do ambiente escolar; a educação de afrodescendentes, quilom- bolas e indígenas; e em ambientes penitenciários. Durante a leitura da obra, procure perceber em cada capítulo a ver- tente respeitável do pedagogo e suas atuações importantes e de relevância na vida do ser humano. Desejo ótima leitura e bons estudos! Abraços, Profa. Ms. Mônica Cristiane David. 1 Educação em espaço não escolar “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem apren- der a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar.” Paulo Freire Figura 1.1 – A caminhada Fo nt e: S hu tte rs to ck .c om /S an go iri . Educação em Espaço não Escolar – 8 – O ser humano, durante sua caminhada, desenvolve, aprimora e reflete sobre suas ações, concepções, princípios e valores, compondo, nessa tra- jetória, sua história de vida. Diante desse preceito, podemos compreen- der que cada indivíduo tem singularidades e especificidades, tornando-se único. Assim, percebe-se que as pessoas têm sua história, com uma ori- gem que alavancou seu percurso de vida. Nesse primeiro capítulo abordaremos o processo histórico da peda- gogia, como era considerada e compreendida em cada época e como é contemplada hoje nas diversas áreas do conhecimento. Iremos, também, expor as Leis que respaldam a profissão do peda- gogo em conformidade com as necessidades políticas e socioeducacionais. 1.1 A pedagogia e a educação nas civilizações orientais A escola como nós a conhecemos hoje nem sempre existiu, mas nem por isso as crianças ficavam sem receber educação, pois, nos tempos primitivos, quando a sociedade era organizada em tribos, o aprendizado ocorria por meio da prática, da imitação, da experiência e do conheci- mento transmitido pelas pessoas mais velhas ou pela família. Segundo Aranha (2006), nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os gestos dos adultos nas atividades diárias e nos rituais. Tanto nas tribos nômades como naquelas que já se sedentarizaram, para se ocupar com a caça, a pesca, o pastoreio ou a agricultura, as crianças apren- dem “para a vida e por meio da vida”, sem que ninguém esteja especialmente destinado para a tarefa de ensinar (ARANHA, 2006, p. 35). Com as palavras da autora, podemos inferir que a educação acon- tecia de maneira informal e, segundo Aranha (2006), a formação era integral e universal – integral, pois abrangia todo o saber da tribo; e universal, pois todos podiam ter acesso ao conhecimento e ao fazer apro- priados pela comunidade. – 9 – Educação em espaço não escolar Saiba mais Comunidades tribais Segundo uma explicação literal e, portanto, simplificadora, costuma-se caracterizar a vida tribal, marcada pela tradição oral dos mitos e ritos, como pré-histórica, por ter ocorrido “antes da história”, quando os povos ainda não tinham escrita e, por conseguinte, não registravam os acontecimentos. A Pré-História constitui um período extremamente longo, em que ins- trumentos utilizados para a sobrevivência humana se transformaram muito lentamente. É bom lembrar que as mudanças não ocorreram de forma igual em todos os lugares. Também não há uniformidade no tempo, uma vez que o modo de vida das tribos nos primórdios não desapareceu de todo, tanto que ainda há tribos que vivem dessa maneira na Austrália, na África e no interior do Brasil. A Idade da Pedra Lascada (Paleoltico) e a Idade da Pedra Polida (Neo- lítico) representam momentos diversos, em que as tribos passam de hábitos de nomadismo – sustentado pela simples coleta de alimentos – para a fixação ao solo, com o desenvolvimento de técnicas de agri- cultura e pastoreio. A Terra pertencia a todos, e o trabalho e seus produtos eram coletivos, o que definia um regime de propriedade coletiva dos meios de produção. Em decorrência, a sociedade é homogenia, indivisível. Com o tempo, a metalurgia, a utilização da energia animal e dos ventos e a invenção da roda e dos barcos a vela ampliam a produção e estimulam a diversificação de ofícios especializados dos camponeses, artesãos, mer- cadores e soldados, tornando as comunidades cada vez mais complexas. Trecho do livro História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Comunidades tribais: a educação difusa. In: ______. História da Educação e da Pedagogia: Geral e do Brasil. 3º Edição. São Paulo: Moderna, 2006. Educação em Espaço não Escolar – 10 – Com a evolução do hominídeo e na medida em que a sociedade se transformava, tornando as atividades de produção mais complexas, gerandohierarquias, foram surgindo também os privilégios de classe e a escravidão. Quando as sociedades se tornaram mais complexas, [...] a divisão se instalou no seio delas: as mulheres, confinadas no lar, passaram a ser dependentes dos homens, os segmentos sociais se especializaram entre os governantes, sacerdotes, mercadores, produtores e escravos, criando-se uma hierarquia de riqueza e poder (ARANHA, 2006, p.45). Todas estas mudanças ocorridas na sociedade exigiram que hou- vesse também uma mudança significativa na educação. Ou seja, o saber, que antes era de todos, agora se torna um privilégio da classe dominante, Segundo Aranha (2006, p. 36), “[...] nesse momento surgiu à necessidade da escola, para que apenas alguns iniciados tivessem acesso ao conheci- mento.” A educação passou então a ser diferenciada para o povo e para os filhos dos nobres, iniciando, assim, o dualismo escolar. “A grande massa era excluída da escola e submetida à educação familiar informal” (ARA- NHA, 2006, p. 45), que remetia à educação tribal. Nesse sentido, a educação começou a apresentar dois saberes distin- tos: um voltado ao saber intelectual, acesso ao conhecimento, aos conte- údos formais desenvolvidos nas escolas, e outro, o saber manual, que era voltado aos saberes informais, prevalecendo o trabalho braçal. As civilizações orientais (egípcios, mesopotâmios, indianos, chineses e hebreus) tinham uma educação tradicional dividida em classes, sendo assim, uma forma de controle da sociedade e de manter instituída a cultura da classe dominante, e, de acordo com Aranha (2006), pode-se afirmar que ainda não havia uma reflexão pedagógica sobre como educar. Nas civilizações orientais não havia propriamente pedagógica. As orientações sobre como educar permeiam livros sagrados, que ofe- recem regras ideais de conduta, segundo prescrições religiosas e morais, a fim de perpetuar os costumes e evitar a transgressão das normas. Daí o caráter religioso dos compromissos impostos e não discutidos (ARANHA, 2006, p.45). Nesse período as escolas orientais funcionavam em templos e em casas. A aprendizagem era por transcrições de hinos e livros sagrados e, além da escrita, aprendia-se aritmética, geometria, botânica, zoologia, minerologia e geografia. – 11 – Educação em espaço não escolar As escolas eram frequentadas por pouco mais de vinte alunos cada uma [...]. Apesar de já se perceber a institucionalização das esco- las, elas não funcionavam em prédios especialmente construídos para essa função, mas sim nos templos e em algumas casas. Os mestres sentavam-se em uma esteira e os alunos ao redor dele, muitas vezes ao ar livre [...]. Os textos eram aprendidos mediante a repetição mnemônica, isto é, pela leitura me voz alta, em conjunto, para facilitar a memorização (ARANHA, 2006, p. 46). Além dos ensinamentos supracitados, apreendidos nas escolas, havia ainda a educação informal, realizada pela família, para ensinar aos filhos a arte do oficio. Neste período, já se dava atenção à educação física, que era destinada aos nobres e guerreiros, pois os populares eram excluídos da ginástica e da música. A escola dos ofícios era especializada para formar artesãos e para o treinamento de guerreiros, separando “[...] a escola nos seus objetivos “intelectuais” ou “práticos” (profissionais). [...]” (ARANHA, 2006, p. 47). 1.2 A pedagogia na Grécia Antiga Assim como a educação das antigas civilizações orientais, no início da Grécia Antiga a educação era realizada pela própria família, seguindo a tradição religiosa e, em seguida, os jovens da elite tinham sua formação confiada aos preceptores. Com o surgimento das póleis1, por iniciativa particular surgiram as primeiras escolas para atenderem a demanda de educação. Mesmo que o surgimento de escolas significasse uma ascensão cultural, a educação ainda permanecia para atender principalmente os filhos da elite, pois não era obrigatória e nem gratuita. Os gregos já ensaiavam uma educação integral, que buscava for- mar o intelectual e o físico, focando na ginástica, na música e no ensino da gramática. Diferentemente das civilizações orientais, a educação física, antes voltada para a guerra, passou a ser orientada para a prática de esportes, 1 As cidades-estados (póleis) surgiram por volta dos séculos VIII e VII a.C., e provocaram grandes alterações na vida social e nas relações humanas. (ARANHA, 2006, p. 59) Educação em Espaço não Escolar – 12 – principalmente para a prática do hipismo, considerado um esporte caro, e para o atletismo, que ampliou a possibilidade de participação de um número maior de pessoas. Na Grécia, a transmissão da cultura não era realizada somente na escola e na família, mas também era realizada de maneira informal nas inúmeras atividades coletivas, tais como teatro, festivais, jogos olímpicos, banquetes e até nas assembleias políticas que aconteciam nas praças públicas. A ênfase que se dava para a formação integral e constante fez com que surgisse o conceito e2, considerada um modelo ideal de educação, que, além de formar o homem, afirmava que a educação tinha como função, também, a formação do cidadão. Enquanto as meninas permaneciam junto às demais mulheres da casa para aprender os afazeres domésticos, aeducação dos meninos se iniciava aos 7 anos de idade, quando eram liberados da autoridade materna para serem acompanhados por um escravo, denominado paidagogos3, para ini- ciar a alfabetização, a educação física e musical. Com o passar do tempo, o sentido da palavra paidagogos tornou-se mais ampla e passou a ser utilizada para denominar as teorias sobre a edu- cação; “ao discutir os fins da paidéia, os gregos esboçaram as primeiras linhas da ação pedagógica e assim influenciaram por séculos a cultura ocidental” (ARANHA, 2006, p. 68). Para a autora “[...] As questões: o que é melhor ensinar?, como é melhor ensinar? E para que ensinar? enriquece- ram as reflexões dos filósofos e marcaram tendências [...] que até hoje são fundamentais para a pedagogia.” (ARANHA, 2006, p.68) Perpassando a Antiguidade Romana, a Idade Média e o Renasci- mento, a pedagogia firmou-se como uma ciência do ensino, que associa 2 *Paideia: nas suas origens e na sua acepção comum, indica o tipo de formação da criança (pais), mais idôneo a fazê-lo crescer e tornar-se homem, assume pouco a pouco nos filósofos o significado de formação, de perfeição espiritual, ou seja, de formação do homem no seu mais alto valor. Portanto, podemos dizer que a Paidéia, entendida ao modo grego, é a formação da perfeição humana. Disponível em: http://www.pedagogia. com.br/historia/grego3.php 3 A palavra Pedagogia tem origem na Grécia Antiga, paidós (criança) e agogé (condução). Disponível em: <https://pedagogiaaopedaletra.com/pedagogia-origem/>. Acesso em: – 13 – Educação em espaço não escolar um saber teórico específico à prática do ensino, que envolve uma função reflexiva e investigativa do processo educativo. 1.3 Contexto histórico e educacional da pedagogia no Brasil No Brasil, durante o período Colonial (1500-1822) a educação era uma competência dos padres Jesuítas, fundadores das primeiras esco- las e seminários. Quando os jesuítas chegaram ao Brasil, não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia, mas também os métodos pedagógicos. A ordem dos jesuítas, denominada Companhia de Jesus, nasceu como reação à possibilidade de expansão do protestantismo. Por isso, os objeti- vos iniciais foram catequéticos, mas não tardou para que o principal traba- lho que ficaria a cargo destes, em todo o mundo, se tornasse a educação. Importantes ao longo de toda a história brasileira e absolutamente fundamentais em seu princípio, os jesuítas desembarcaram no Brasil em 1549 e quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola elemen- tar brasileira, em Salvador. Além dessa, abriram escolas de ler e escrever (casas de bê-á-bá) e também de prática agrícola, marcenaria e ferraria. Assim começou a educação no Brasil,os padres jesuítas, que, se dedicando à pregação da religião e ao trabalho educativo, perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que eles apren- dessem a ler e escrever. Como os índios, adultos, já tinham sua própria cultura, era mais adequado iniciar pelas crianças, pois elas ainda estavam em processo de formação. Os jesuítas mostraram uma grande capacidade de adaptação aden- trando com igual facilidade na casa-grande dos senhores, nas senzalas e nas aldeias indígenas, para orientar na fé jovens e adultos e ensinar as primeiras letras às crianças, adaptando-se às necessidades específicas de cada grupo. O estudo do ensino elementar no período colonial pode ser dividido em: primeiro século, o de adaptação e construção; e o segundo século, de desenvolvimento e de extensão do sistema educacional. Devido a isso, Educação em Espaço não Escolar – 14 – observaremos um pensamento comum a esse período: construir uma escola onde quer que se edifique uma igreja. No Brasil a obra jesuítica estendeu-se para vários lugares, sendo que todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de Loyola, chamado abreviadamente de Ratio Studiorum (1599). No período de 1500 a 1599, a educação era a nível internacional e após o Ratio pode-se dizer que se iniciou uma educação propriamente brasileira. Conforme Saviani (2008), o plano contido no Ratio era de caráter universalista e elitista. Uni- versalista porque se tratava de um plano adotado indistintamente por todos os jesuítas, qualquer que fosse o lugar onde estivessem. Elitista porque acabou destinando-se aos filhos dos colonos e excluindo os indígenas (SAVIANI, 2008, p.56). Esse documento era um manual básico que continha um único con- teúdo programático que abrangia todo país, além da metodologia a ser trabalhada, o número de aulas, os conteúdos a serem passados, etc. Existia um único método, que era o dedutivo, ou seja, se partia de uma questão geral, tida como verdadeira pois já havia sido validada pela ciência, para uma questão particular. O Ratio Studiorum preceitua a formação intelectual clássica estreitamente vinculada à formação moral embasada nas virtudes evangélicas, nos bons costumes e hábitos saudáveis, explicitando detalhadamente as modalidades curriculares; o processo de admissão, acompanhamento do progresso e a promoção dos alunos; métodos de ensino e de aprendizagem; condutas e posturas respeitosas dos professores e alunos; os textos indicados a estudo; a variedade dos exercícios e atividades escolares; a frequência e seriedade dos exercícios religiosos; a hierarquia organizacional; as subordinações... (NEGRÃO, 2000, p. 155). O método descrito no Ratio Studiorum não levava em conta a ques- tão do regionalismo, do ritmo e do tempo de cada um. Tanto os discentes quanto os docentes tinham que se adequar a este documento. No século XVII, [...] o ensino jesuítico manteve a escola conserva- dora alheia à revolução intelectual representada pelo racionalismo cartesiano e pelo renascimento cientifico. Centrada no nível secun- dário, a educação visava à formação humanística, privilegiando o estudo do latim, dos clássicos e da religião. Não faziam parte do – 15 – Educação em espaço não escolar currículo escolar as ciências físicas ou naturais, bem como a téc- nica ou as artes (ARANHA, 2006, p.164). Hoje, pode-se analisar que o Ratio Studiorum trouxe questões que ainda são utilizadas no contexto atual, como a retórica, pelo fato de o pro- fessor utilizar constantemente a oralidade e recitação, em que é necessário utilizar a memorização e imitação. Como podemos perceber, o ensino jesuítico mantinha um método conservador, porém não se limitava ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar, eles mantinham os cursos de Letras e Filosofia, con- siderados secundários, e o curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gra- mática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Segundo Aranha (2006), ainda no século XVII, os núcleos urbanos ainda eram pobres e depen- dentes das atividades do campo, onde se concentrava a maior parte da população. Por se tratar de uma sociedade agrária e escravista, não havia interesse pela educação elementar, daí a grande massa de iletrados. As mulheres encontravam-se excluídas do ensino, do mesmo modo que os negros, cujos filhos nunca despertaram o inte- resse dos padres [...] (ARANHA, 2006, p.165), Portanto, segundo a mesma autora, “a educação interessava apenas a poucos elementos da classe dirigente e, ainda assim, como ornamentação e erudição [...]” (ARANHA, 2006, p. 164). Com os anos a Companhia de Jesus passou a ter grande influência sobre todas as camadas sociais, e o governo passou a temer o poder polí- tico e econômico exercido pelos jesuítas. Após dois séculos de sua che- gada no Brasil e apesar de serem os únicos responsáveis pela educação, tiveram de deixar a colônia cerca de quinhentos padres jesuítas, expulsos por Marquês de Pombal, Ministro de D. José I, paralisando colégios, mis- sões, seminários menores e escolas. [...] O governo temia o seu poder econômico e político, exercido maciçamente sobre todas as camadas sociais ao modelar-lhes a consciência e o comportamento. Ainda mais, desde os tempos de Nóbrega, a Coroa se comprometera a destinar-lhe uma taxa Educação em Espaço não Escolar – 16 – especial de 10% da arrecadação dos impostos, além da doação de terras. A Companhia tornara-se então muito rica, com todos estes benefícios, sem contar a produção agrária das missões, altamente lucrativa (ARANHA, 2006, p.191). Portanto, além dos motivos supracitados, a expulsão dos jesuítas aconteceu devido aos diferentes objetivos da igreja e do estado. Portugal queria garantir seu espaço geográfico e a igreja, manter seus seguidores. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo, ou seja, conver- ter as pessoas a sua religião, costumes e valores, Pombal pensava em reer- guer Portugal da decadência que se encontrava diante de outras potências europeias da época. Assim, a educação jesuítica não convinha aos interes- ses comerciais de Pombal, que “[...] atribuiu à Companhia o interesse de formar um império temporal cristão” (ARANHA, 2006. p.191). Com a expulsão, saíram do Brasil jesuítas de vários lugares e com eles levaram também a organização monolítica baseada no Ratio Studiorum. Quando foi decretada a expulsão dos jesuítas em 1759, só na Colônia a Companhia tinha “25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, sem contar os seminários menores e as escolas de ler e escrever, instaladas em quase todas as aldeias e povoações onde existiam cada Companhia” (ARANHA, 2006. p. 191). Após a sua expulsão, as escolas construídas pelos Jesuítas foram trans- formadas em escolas laicas, e o século XVIII foi chamado o Século das Luzes, pois passou a ser defendido que a razão deveria falar mais alto que a fé. Por isso, os médicos, matemáticos e outros profissionais eram cha- mados de filósofos. Começava uma ênfase muito grande na Ciência, que estava ligada à criação do novo. As respostas eram dadas através do conhecimento da Ciência e não mais da Igreja. Para suprir o Ratio Studiorum, Marquês de Pombal criou as aulas régias4 de Latim, Grego e Retórica. Cada aula régia era autônoma e iso- 4 As aulas régias compreendiam o estudo das humanidades, sendo pertencentes ao Es- tado e não mais restritas à Igreja - foi a primeira forma do sistema de ensino público no Brasil. .[...] Na prática o sistema das Aulas Régias pouco alterou a realidade educacional no Brasil, tampouco se constituiu numa oferta de educação popular, ficando restrita às eli- tes locais [...]. Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/ verb_c_aulas_regias.htm>. Acesso em:17 de dezembro de 2018 – 17 – Educaçãoem espaço não escolar lada, com professor único e uma não se articulava com as outras. Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava estagnada e era preciso oferecer uma solução, visto que os professores eram, geralmente, mal preparados para a função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se tornavam “proprietários” vitalícios de suas aulas régias, ou seja, não tinham conhe- cimento didático e nem formação para ministrar aulas. De acordo com a historiografia tradicional, o marques de Pombal não conseguira de imediato introduzir as inovações de sua reforma no Brasil, após ter desmantelado a estrutura jesuítica, o que teria provocado o retrocesso de todo o sistema educacional brasileiro [...] (ARANHA, 2006, p. 192). Neste sentido, o resultado da decisão de Pombal foi que a educação brasileira se reduziu a praticamente nada. O sistema jesuítico foi desman- telado e, durante muito tempo, nada que pudesse chegar próximo ao que eles previamente haviam estabelecido foi organizado para dar continui- dade a um trabalho de educação, resultando assim, no retrocesso no pro- cesso educacional brasileiro. Mesmo com a reforma Pombalina no Brasil, no século XVIII, o país “continuava com a sua aristocracia agrária escravista, a economia agroex- portadora dependente e submetido à política colonial de opressão” (ARA- NHA, 2006, p. 192). Com a vinda da família real para o Brasil (1808), a organização da sociedade passou por importantes transformações e as ruas das pequenas cidades, antes pacatas, passaram agora a ser frequentadas por cortesãos. Surgiram também exigências administrativas, tais como a abertura de por- tos e a instalação de manufaturas, comércios portugueses e a cobrança de altos impostos, Segundo Aranha (2006), “medidas econômicas adotadas beneficia- vam a aristocracia rural, que, no entanto, se achava excluída das decisões políticas, esfera em que os ricos comerciantes portugueses tinham melhor trânsito.” Todo este cenário econômico e político criou o clima de inimi- zade que viabilizou a independência do Brasil. Esse movimento significou a vitória do partido brasileiro, dos moderados, constituído pelos grandes proprietários de terra, defen- Educação em Espaço não Escolar – 18 – sores da manutenção do escravismo, bem como de liberais con- servadores. Assim, enquanto na Europa o liberalismo caminhava a passos largos para a industrialização, no Brasil a reforma polí- tica não propiciou mudanças econômicas e sociais significativas (ARANHA, 2006, p. 220). Assim, no Brasil, o modo de produção capitalista estava preparando a manufatura. A materialização da ciência era o pensamento. Com isso, precisava colocar em prática a liberdade de pensamento e de expressão. Todas as pessoas precisavam participar de forma igualitária e com isso todos trabalhavam arduamente; os operários tiveram o progresso e con- sequentemente suas propriedades. Porém, no momento que a burguesia assumiu o poder, começaram com as diferenças individuais. Não estaria mais formando o súdito e sim o burguês. Para ele viver nessas condições tinha que ser produtivo, tanto na manufatura quanto no processo cientí- fico. Desta forma, criaram-se laboratórios para as pessoas manusearem as máquinas e, consequentemente, precisavam de pessoas no século XVIII para mantê-las funcionando. A intensificação das atividades econômicas, o crescimento das vilas e núcleos urbanos, ao longo do litoral, e a necessidade de defesa da colônia fizeram aumentar a importância, nas cidades, da burocracia do Estado (a administração, o Exército, a Justiça). Gerou-se, assim, uma nova demanda de artesãos de todos os tipos para a construção e reparação de equipamentos e prestação de serviços aos funcionários do Estado, comerciantes e seus empre- gados. [...] Instalaram-se olarias, caieiras para a fabricação de cal a partir das ostras de sambaquis, cerâmicas para a fabricação de ladrilhos, e artefatos domésticos (moringas e louças), curtumes e oficinas para a fabricação dos mais diferentes produtos necessá- rios às atividades de cultivo, da mineração, transporte, comércio, construção de edifícios rurais e urbanos, e artefatos para a vida cotidiana nas fazendas e cidades (CUNHA, 2006, p.195). Portanto, era um momento em que se necessitava de pessoas com conhecimento, quando a educação era o fator primordial para a ascensão social, ou seja, se a pessoa quisesse ter uma qualidade de vida, precisava ser alguém culto e que tinha o conhecimento. Porém, a massa popular não estava integrada nesse sistema educacional, pelas suas condições de vida, pois não tinham riqueza e status. Essas pessoas não eram ameaça para o estado, porém, era necessário controlá-las. – 19 – Educação em espaço não escolar Assim, o estado utilizou de estratégias para integrar as classes subal- ternas a um trabalho em que as pessoas fossem valorizadas, mas, para isso, era importante dar as primeiras instruções. Aconteceu o início da educa- ção primária. Porém, questionava-se: como instruir uma população que, na visão das elites, não reconheciam a importância da educação? Para auxiliar nesta educação, foi primordial instruir a população ensi- nando o básico: leitura, escrita e operações fundamentais. Para sustentar a proposta, utilizaram o Método Lancasteriano, que foi o primeiro método pedagógico de instrução pública. Iniciaram o método Lancasteriano com os soldados, por eles serem da massa popular e disciplinadores, tornando-se multiplicadores de conheci- mento. Assim, as primeiras escolas lancasterianas aconteceram no interior do espaço militar. Saiba mais Método Lancasteriano Também conhecido como ensino mútuo ou sistema monitoral, esse método pregava, dentre outros princípios, que um aluno treinado ou mais adian- tado (decurião) deveria ensinar um grupo de dez alunos (decúria), sob a orientação e supervisão de um inspetor. Ou seja, o alunos mais adiantados deveriam ajudar o professor na tarefa de ensino. Essa ideia resolveu, em parte, o problema da falta de professores no início do século XIX no Bra- sil, pois a escola poderia ter apenas um educador. Esse método, baseado na obra de Joseph Lancaster, entendia também que se deveria repartir os alunos em classes segundo a ordem de seus conhecimentos e que o pro- cedimento educacional de castigo físico deveria acabar, instituindo uma nova forma de pensar a disciplina escolar. Foi implantado oficialmente no Brasil pela Lei de 15 de outubro de 1827, que definia, em linhas gerais, as diretrizes do ensino geral. Disponível em: <http://www.educabrasil.com. br/metodo-lancasteriano/>. Acesso em: 17 de dezembro de 2018. Como disseminadores, os soldados, eram estimulados a aprender e repassar o que aprendiam e para tal, recebiam um valor muito significativo Educação em Espaço não Escolar – 20 – na época. Por ser um método “barato”, pois era um projeto civilizador, de moral, espalhou-se por todo território brasileiro e também se difundiu pela França, Portugal, Itália e países da América do Sul. Basicamente, o ensino consistia de: ensino oral, repetição de conhecimento, memoriza- ção, autodisciplina, autorregulação e, para manter a ordem, utilizavam-se de modelos padrões simples. Esse método foi, na época, o mais adequado, após a expulsão dos jesuítas, pois trabalhava com elementos totalmente disciplinadores. Porém, todas as atitudes de ensino eram pautadas em questões pontuais e imediatistas e as soluções, concepções e modelos eram trazidas de outros países para serem incorporados no Brasil, não relevando a reali- dade brasileira. Hoje, a Instituição Escolar é concebida como um espaço social, um espaço de ações alternativas que contribui para que haja transformações sociais positivas aos cidadãos. 1.4 A pedagogia no Brasil As reflexões pedagógicas somente irão chegar ao Brasil no final do Império, e intensificaram-se após a proclamação da República. Porém, pode se afirmar que, atéo século XIX, ainda não havia uma pedagogia brasileira, pois o que existia eram algumas ideias implantadas por intelec- tuais que foram influenciados pelo ideário europeu e norte americano, que não apresentavam resultados satisfatórios, principalmente pela atuação irregular e fragmentada, que distanciava a teoria e prática. Tratava-se de uma história com pressupostos teoreticistas5, sem vínculo à realidade dos alunos e da família, sem a preocupação de trazer conteúdos relacionados à prática dos alunos. As primeiras ideias que influenciaram as reflexões da pedagogia bra- sileira são vindas da Europa e dos Estados Unidos com a divulgação e implantação do método intuitivo e depois com o contraste entre a pedago- gia tradicional e o positivismo, que defendia a laicidade do ensino. 5 Teoreticistas – pessoas que se embasam, somente, em teorias e não colocam as ideias em prática. – 21 – Educação em espaço não escolar No início da Republica, as reflexões pedagógicas, também sofreram fortes influencias do ecletismo e, Nas primeiras décadas do século XX também houve a difusão de ideias anarquistas e comunistas, que criticavam a repartição injusta dos benefícios culturais reservados a um pequeno núcleo de privi- legiados e defendiam a escola única, universal. [...]” (ARANHA, 2006, p. 332). Nesse período da educação brasileira, buscava se suprir as necessi- dades do país, que se tornava cada vez mais urbano e industrializado, se contrapondo à educação tradicional, orientadas por diferentes tendências teóricas como os escolanovistas, a pedagogia do oprimido, pedagogia his- tórico crítica e as teorias construtivistas. O movimento Escola Nova influenciou os debates sobre a educação na Primeira República e teve como um dos seus principais colaboradores Anísio Teixeira (1900-1971), que era pedagogo, filósofo e educador, e foi responsável pela difusão das ideias pragmatistas de John Dewey no Brasil e tinha como meta a democratização da educação. Para tanto, John Dewey defendia “[...] a instalação da escola pública, universal, leiga, gratuita e unitária. [...]” (ARANHA, 2006, p. 334) como um direito de todos. Anísio Teixeira buscava ainda a reformulação dos princípios do ensino tradicional pela didática progressiva. Ou seja, em sua opinião era necessária uma escola que permitisse a apropriação dos conhecimentos científicos, porém, de maneia que permitisse aos alunos a elaboração de projetos que exigiriam reflexão e que levaria a conquista da autonomia e da responsabilidade do educando. Outro grande pedagogo da atualidade que influenciou e ainda influen- cia a educação popular brasileira e no mundo é Paulo Freire (1921-1997), cristão que se embasava em uma teologia libertadora e que se preocupava “[...] com o contraste entre a pobreza e a riqueza resultante de privilégios sociais” (ARANHA, 2006, p. 336). Uma das obras de Paulo Freire que teve grande importância para a pedagogia no Brasil foi o livro Pedagogia do Oprimido, em que o autor “parte do princípio de que vivemos em uma sociedade dividida em clas- ses, no qual os privilégios de uns impedem a maioria de usufruir os bens Educação em Espaço não Escolar – 22 – produzidos” (ARANHA, 2006, p. 337), sendo um desses bens necessá- rios a própria educação, da qual uma grande parte da população periférica tem sido excluída. Por isso, Freire refere-se a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, na qual a educação é utilizada como prática da dominação e a pedagogia do oprimido, na qual a educação é utilizada como prática da liberdade (ARANHA, 2006). Outra tendência teórica que influenciou a pedagogia no Brasil foi a pedagogia histórico- crítica, formada por um grupo de filósofos e pedago- gos voltados à educação popular. Os principais componentes deste grupo foram: Dermeval Saviani (1944), José Carlos Libâneo, Guiomar Namo de Mello, Carlos Roberto Jamil Cury, entre outros, que tinham a tarefa de tentar reverter “a desorganização que gera uma escola excludente, com altos índices de analfabetismo, evasões, repetência e, portanto, de seletivi- dade.” (ARANHA, 2006, p.342) E por fim, a última tendência a se destacar na influência da pedagogia brasileira, são os teóricos construtivistas, sobretudo nas escolas particulares, levando em consideração a teoria de Piaget, Vygotsky e Emilia Ferreiro. Segundo Aranha (2006), o construtivismo também influenciou a ela- boração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, aprovados após a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n.9394/96). Como podemos perceber, foram várias as tendências teóricas que influenciaram o desenvolvimento da Pedagogia no Brasil e que em perí- odos diferentes transformaram-se em suporte para o estudo da educação brasileira. Veremos a seguir, como surgiu à formação do pedagogo. 1.5 A formação do pedagogo Na década de 1930, mais especificamente em 1939, o governo federal criou o curso de pedagogia, através do decreto-lei n. 1.190/39, que pro- mulgou a organização da Faculdade Nacional de Filosofia. Ao ser criado, o curso de Pedagogia, visava à formação de bacharéis que atuariam em cargos técnicos de educação, e de licenciados, que pode- riam atuar como professor nas escolas secundárias e nas escolas normais, ou seja, em instituições responsáveis pela formação de professores primários. – 23 – Educação em espaço não escolar Em 1962, foi estabelecido um novo currículo mínimo e uma nova duração para o curso, aprovado pelo parecer CFE n. 251/62, mas ainda se manteve a dualidade do curso. Segundo Silva (2006) a partir de 1962 o pedagogo era identificado como um profissional que personifica a redução da educação à sua dimensão técnica – o técnico de educação-, o currículo previsto para formá-lo era de cunho predominantemente generalista [...] (SILVA, 2006, p. 53-54). Em 1968, o Congresso Nacional aprovou a Reforma Universitária, pela Lei n. 5.540, fixando normas de organização e funcionamento do ensino superior. Assim, conforme as necessidades do mercado, a Univer- sidade era dicotomizada em duas vertentes. De acordo com Brasil (1999): 1. faculdade de educação ou unidade acadêmica – relacionada ao curso de pedagogia e a formação pedagógica dos licenciados; 2. institutos de conteúdos específicos – local onde formavam bacharéis e licenciados. Em 1969, houve outra alteração no currículo mínimo e na duração do curso, através da aprovação do parecer CFE n. 252/69 e da resolu- ção CFE n. 2/1969. Esta última alteração dividiu o curso de pedagogia em habilitações técnicas que formavam especialistas para os trabalhos de planejamento, supervisão, orientação educacional e administração. Para Silva (2006), O parecer n. 252/69, ao reconhecer as tarefas referentes à adminis- tração, supervisão, orientação educacional e inspeção no conjunto das atividades escolares e prever, para exercê-las, a formação de profissionais em habilitações distintas, regulamentando-as inclu- sive, acabou por determinar a necessidade de vários pedagogos em cada escola: o responsável pelas tarefas administrativas [...], o res- ponsável pelas tarefas pedagógicas e o responsável pelas tarefas de organização educacional [...] (SILVA, 2006, p. 40). De acordo com Libâneo (2005), esta fragmentação do curso de peda- gogia refletia também o sistema capitalista de produção, tal como na fábrica, também na escola ocorreria a divisão técnica do trabalho, levando à fragmentação do trabalho pedagógico, isto é, dividindo as tarefas escolares entre os que pensam e o que fazem, entre os que controlam e os que executam, instaurando a desigualdade na escola (LIBÂNEO, 2005, p. 05). Educação em Espaço não Escolar – 24 – Para mudar esse cenário, em 1978, aconteceu o I Seminário de Edu- cação Brasileira, que tinha como maior objetivo analisar os conteúdos programáticos dos cursos de pedagogia com a intenção de adequar os currículos à realidade escolar, de acordo com as necessidades vigentes da educação. Desta forma, a Movimentação dos Educadores teve um marco histó- ricoe trouxe uma mudança significativa para o curso de Pedagogia, que passou a fazer parte da Faculdade de Educação. Em 2006 foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, através da Resolução CNE/CP n.1, de 15 de maio de 2006. De acordo com o disposto na Resolução, Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia apli- cam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educa- ção Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educa- ção Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. § 1º Compreende-se a docência como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, prin- cípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e esté- ticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo. § 2º O curso de Pedagogia, por meio de estudos teórico-práticos, investigação e reflexão crítica, propiciará: I – o planejamento, execução e avaliação de atividades educativas; II – a aplicação ao campo da educação, de contribuições, entre outras, de conhecimentos como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental-ecológico, o psicológico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural (BRASIL, 2006, p. 1). Desde a aprovação das Diretrizes, o pedagogo passa a ter o papel de um profissional apto a atuar em instituições de ensino em diferentes con- textos escolares e não escolares. Mesmo com todas as alterações no currículo, o curso de pedagogia era e ainda é uma junção de diversas áreas do conhecimento, tais como: a psicologia, a sociologia, a antropologia, a filosofia e outras disciplinas emergentes, não tendo um currículo próprio com suas peculiaridades. – 25 – Educação em espaço não escolar Pode-se considerar que a história do Curso de Pedagogia, no Brasil, e seu percurso histórico foi acompanhado pela dificuldade de encontrar a sua identidade e a sua destinação profissional (SILVA, 1999, p. 64). Nas páginas seguintes, vamos compreender como está o pedagogo na atual configuração. Saiba mais 1939 O curso de Pedagogia é regulamentado. Os bacharéis podem atuar na administração pública e na área de pesquisa. Os licenciados, com um ano de estudos em Didática e Prática de Ensino, podem lecionar no ginasial. 1961 Cria-se um currículo mínimo para o bacharelado em Pedagogia, com sete disciplinas determinadas pelo Conselho Federal de Educação, além de outras duas abertas, definidas a critério das próprias instituições de ensino. 1962 O estágio supervisionado e o currículo da licenciatura em Pedagogia são regulamentados. O curso passa a ter entre as disciplinas obrigató- rias Psicologia da Educação e Didática e Prática de Ensino. 1968 É aprovada a Lei da Reforma Universitária, que possibilita aos cursos de Pedagogia oferecer as habilitações Inspeção Educacional, Administração, Orientação e Supervisão Escolar e Magistério. 1969 Acaba a divisão entre licenciatura e bacharelado na Pedagogia. As ins- tituições são obrigadas a formar no mesmo curso os professores que vão lecionar nas Escolas Normais e os “especialistas”, como supervi- sores e inspetores. 1971 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) unifica o Ensino Educação em Espaço não Escolar – 26 – Médio, antes dividido em Clássico, Científico e Normal. A Escola Nor- mal passa a se chamar Magistério e os que nela se formam mantêm o direito de lecionar da 1ª à 4ª série. 1982 Surgem os Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magis- tério (Cefams), criados pelo governo federal para aprofundar a formação de professores em nível Médio com carga horária em período integral. 1986 O Conselho Federal de Educação cria uma resolução que permite aos cursos de Pedagogia, além de formar os técnicos em Educação, oferecer habilitação para a docência de 1ª a 4ª série, antes limitada ao Magistério em nível Médio. 1996 Com a nova LDB, institui-se a exigência de nível superior para os pro- fessores da Educação Básica. Redes públicas e privadas e profissionais da Educação têm prazo de dez anos para se adaptar à nova legislação. 1997 O ano marca o início de uma disputa: de um lado, Institutos Superiores de Educação e Escolas Normais Superiores e, do outro, Faculdades de Pedagogia. Professores de 1ª a 4ª série são formados sem diretrizes claras. 2003 O Conselho Nacional de Educação emite resolução e nota de esclare- cimento confirmando a obrigatoriedade do diploma em nível superior para a docência na Educação Infantil e séries iniciais, o que já fora ins- tituído na LDB de 1996. 2006 Saem as Diretrizes Nacionais para a Pedagogia, de caráter vago. E as Diretrizes Nacionais da Educação delegam ao curso a formação de pro- fessores de 1º a 5º ano, Educação Infantil, Ensino Médio na Modalidade Normal e EJA. – 27 – Educação em espaço não escolar 1.6 O pedagogo na atualidade O processo educativo não pode mais ser uma mera transmissão do conhecimento, mas uma prática reflexiva voltada aos interesses do estu- dante buscando uma formação cidadã e transformadora da realidade. Para tanto, o pedagogo deverá ter uma postura de mediador diante do processo de ensino, apresentando metodologias dialógicas que contemplem os conteúdos atitudinais e procedimentais no processo de ensino, contri- buindo para uma formação global do aluno nos aspectos biopsicossociais. Saiba mais Para compreender com mais profundidade sobre os conteúdos atitudi- nais e procedimentais, acesse o link: http://www.portaleducacao.com. br/educacao/artigos/32203/os-conteudos-conceituais-em-correlacao- -com-os-eixos-tematicos-dos-pcn. Você terá mais informações sobre o assunto e verificará o quão são importantes para o processo de ensino e aprendizagem. Portanto, o pedagogo deve ter uma postura ética, voltada à emanci- pação do cidadão, na intenção de colaborar com a sua autonomia apre- sentando uma atitude adequada diante do contingente de situações que permeiam seus locais de trabalho, seja na sala de aula, como professor; na escola, como gestor; ou em empresas, como. profissional de treinamento e desenvolvimento de pessoas. O pedagogo é o profissional que trabalha diretamente com pessoas e, durante seu percurso, irá encontrar outros profissionais, que também têm suas percepções, individualidades, concepções, emoções e sentimentos. Em relação a isso, Moscovici (2002) afirma: Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, há uma base interna de diferenças que englobam conhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes, experiência anterior, gostos, crenças, valores e estilo comportamental, o que traz inevitáveis diferenças de percepções, opiniões, sentimentos em relação a cada situação com- partilhada. Essas diferenças passam a construir um repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como essas diferenças são encaradas Educação em Espaço não Escolar – 28 – e tratadas determina a modalidade de relacionamento entre membros do grupo, colegas de trabalho, superiores e subordinados. Por exem- plo: se no grupo há respeito pela opinião do outro, se a ideia de cada um é ouvida e discutida, estabelece-se uma modalidade de relacio- namento diferente daquela em que não há respeito pela opinião do outro, quando ideias e sentimentos não são ouvidos, são ignorados ou não há troca de informações (MOSCOVICI, 2002, p. 32). Por essas situações que o pedagogo precisa ter uma consciência intrapessoal, que permita compreender as diversas reações dos indivíduos perante as situações que acontecem no trabalho. Isso porque, também com essa diversidadede pessoas, o pedagogo precisa manter-se conectado com o universo de informações que permeiam as redes sociais e repercutem, muitas vezes, diretamente, no seu campo de atuação. É importante que realize cursos, palestras, que participe de várias atividades com objetivos voltados ao seu desempenho profissional. A competência técnica e a competência interpessoal devem caminhar juntas, para que esse novo profissional tenha uma visão holística em relação ao processo de ensino-aprendizagem; independente do setor que esteja atuando. Portanto, essa dimensão do pedagogo exige do curso de Pedagogia um currículo voltado para dimensões que remetem às disciplinas relacio- nadas aos contextos não escolares. De acordo com o Parecer n. 5 de 2005, o curso de licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de profissionais que podem atuar em diferentes contextos escolares e não escolares. O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. As atividades docen- tes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: – planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e ava- liação de tarefas próprias do setor da Educação; – planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e ava- liação de projetos e experiências educativas não-escolares; – 29 – Educação em espaço não escolar – produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não-escolares (BRA- SIL, 2005, p.7). Portanto, essa dimensão vai além daquelas que eram praticadas em anos anteriores, quando o pedagogo poderia, somente, trabalhar em insti- tuições de ensino, como professor, orientador ou gestor. O que vemos hoje é uma amplificação do currículo do curso de Pedagogia, que desenvolve no profissional competências e habilidades para exercer funções voltadas à área educacional, proveniente de ambientes escolares e também para outros contextos, designados não formais, como: empresas, hospitais, penitenciárias e Organizações Não Governamentais. Síntese Esse capítulo retratou um pouco da história da pedagogia e do peda- gogo desde épocas remotas até os tempos atuais. Anos atrás, o pedagogo era considerado um profissional que trabalhava somente em ambientes formais, ou seja, em instituições de ensino. Devido às necessidades da sociedade, esse profissional foi ampliando seus conhecimentos, em con- sonância com um novo currículo do curso de Pedagogia, prevendo a inser- ção do trabalho do Pedagogo e outros setores voltados aos ambientes não formais. Diante deste novo cenário, o pedagogo começa a ampliar seu campo de trabalho, não se restringindo somente as escolas, mas também podendo atuar em empresas, em hospitais e outros locais que demandam o trabalho pedagógico. Atividade 1. Qual era a função do curso de pedagogia ao surgir no Brasil? 2. Quais foram as tendências pedagógicas que influenciaram e ainda influenciam os debates sobre a educação? 3. O que mudou a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia de 2006? 4. Qual é a postura que se espera de um pedagogo na atualidade? 2 Educação não formal: conceito e função socioeducacional “A educação é o grande motor do desenvolvimento pes- soal. É através dela que a filha de um camponês se torna médica, que o filho de um mineiro pode chegar a chefe de mina, que um filho de trabalhadores rurais pode chegar a presidente de uma grande nação”. Nelson Mandela Figura 2.1 – A importância da educação Fonte: Shutterstock.com/ ESB Professional Educação em Espaço não Escolar – 32 – Figura 2.2 – Processo socioeducacional Fonte: Shutterstock.com/Monkey Business Images. Figura 2.3 – Educação não formal Fonte: Shutterstock.com/Monkey Business Images. Nesse capítulo, retrataremos a definição de educação não formal que, muitas vezes, é utilizada na mesma intencionalidade que a educação infor- mal. Porém, ambas têm suas respectivas considerações e significados dis- tintos e, também, em alguns momentos se imbricam. Nessa perspectiva, veremos que a educação formal, a não formal e a informal, no decorrer da história, contribuíram para o desenvolvimento educacional. Corroborando com o processo, as leis se instauraram para fortalecer essa relação e com- preender suas singularidades. – 33 – Educação não formal: conceito e função socioeducacional 2.1 Educação formal, não formal e informal Educação, em latim, significa educare, formada pelo prefixo “ex”, que significa fora, e “ducere”, que tem como significado “guiar”. Portanto, em latim, a educação é compreendida como o ato de conduzir. Assim, podemos compreender que a educação é ação da pessoa se preparar para o mundo, para a vida, para viver na sociedade. Porém, cada cultura apresenta sua nuance em relação à educação, delineando-a com suas particularidades e singularidades. Brandão (1986, p. 4) salienta: A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos gru- pos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas de educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam e aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar — às vezes a ocul- tar, às vezes a inculcar — de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem. Diante do exposto, percebemos que a educação exerce uma função sine qua non na vida das pessoas, pelo fato de transmitir cultura e conhe- cimentos necessários para a mudança na sociedade. Assim, pode-se dizer que temos três possibilidades específicas de educação, que é a formal, a não formal e a informal. Portanto, como já discorrido, a educação formal é aquela que está dentro da escola, em conformidade com o currículo programático e em consonância com as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, enquanto que a educação não formal está vinculada à potencializa- ção da educação formal e a educação informal é aquela que faz parte da cultura familiar. Na educação formal, entre outros objetivos destacam-se os relati- vos ao ensino e aprendizagem de conteúdos historicamente siste- Educação em Espaço não Escolar – 34 – matizados, normalizados por leis, dentre os quais destacam-se o de formar o indivíduo como um cidadão ativo, desenvolver habi- lidades e competências várias, desenvolver a criatividade, percep- ção, motricidade etc. A educação informal socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crenças de grupos que se frequenta ou que pertence por herança, desde o nascimento Trata-se do processo de socialização dos indivíduos. A educação não- formal capacita os indivíduos a se tornarem cida- dãos do mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir janelas de conhe- cimento sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais. Seus objetivos não são dados a priori, eles se constroem no processo interativo, gerando um processo educativo... (GOHN, 2006, p. 2). Portanto, cabe ressaltar que cada uma das três possibilidades de edu- cação é fundamental para o pleno desenvolvimento do indivíduo, em seu aspecto físico, cognitivo, motor, social etc. e cada uma delas tem o seu valor, mas é importante esclarecer que existeuma tripartição em relação à educação. Vejamos o esquema seguinte: Figura 2.4 – Tripartição da educação Fonte: Arantes (2008, p. 34). O esquema anterior nos mostra a tripartição da educação formal, da educação não formal e da informal. Podemos perceber que a educação formal e a não formal podem ser categorias de um mesmo tipo de educa- ção, que podemos pontuar como sistemático, mais regrado, com métodos – 35 – Educação não formal: conceito e função socioeducacional próprios e adequado para aquele sistema. Já a informal, podemos carac- terizar como assistemática. Nosso foco, nessa obra, está na educação que compreende de A (educação informal) a B (educação formal/não formal) do esquema. A educação não formal sempre teve o objetivo de estender a edu- cação formal, e “engloba os saberes e aprendizados gerados ao longo da vida, principalmente em experiências via a participação social, cultural, ou política em determinados processos de aprendizagens como em proje- tos sociais, movimentos sociais”. (GOHN, 2008, p. 13). A educação não formal é atuante na medida em que as pessoas agem em prol da cidadania. Ela relaciona experiências de vida da pessoa com o que aprendeu e o que ela fará à sociedade. As instituições, os locais, e os programas que recebem a educação não formal são inúmeros, mas, para elucidar, segue alguns em termos gerais: a) âmbito da formação ligada ao trabalho – é um fato bastante óbvio que o sistema educacional formal nem sempre soube resolver satisfatoriamente sua relação com o mundo do trabalho. Mas, mesmo que o velho e recorrente problema de formação profissional regrada estivesse em via de solução, ainda assim continuaria existindo um largo espaço para a atuação não for- mal. Formação ocupacional, formação na empresa, programas de formação para a reciclagem profissional, escolas-oficinas, formação para o primeiro emprego etc. são termos que designam ações educativas geralmente situadas fora das margens do setor formal e que dão conta da extensão desse âmbito. b) âmbito do lazer e da cultura – o tempo livre e o desejo de acesso e usufruto da cultura num sentido nem acadêmico nem utilitarista geraram também uma importante oferta educacional não formal, já que contempla pessoas de todas as idades, desde a infância mais precoce até a terceira idade. Pedagogia do lazer ou educação em tempo livre, animação sociocultural etc. são deno- minações já consolidadas no discurso educacional contemporâ- neo, que por sua vez designam um amplo leque de instituições e atividades. Educação em Espaço não Escolar – 36 – c) âmbito da educação social – outro mundo educacional não formal que nossa sociedade tem feito crescer de forma muito notável é o composto por todas aquelas instituições e programas destinados às pessoas ou coletivos que se encontram em alguma situação de conflito social: centros de acolhida, centros abertos, educadores de rua, programas pedagógicos em centros peniten- ciários etc. d) âmbito da própria escola – é inevitável mencionar aqui e também vastíssima variedade de propostas educacionais sur- gidas do setor não formal ou apresentadas em formato de educação não regrada, mas que, no entanto, se localizam na própria escola (atividades extracurriculares) ou servem de esforço para sua atuação (visitas e outras atividades organi- zadas por empresas, instituições culturais, organizações não governamentais, administrações públicas etc.) (ARANTES, 2008, p. 43-44). Saiba mais A educação formal caracteriza-se por ser altamente estruturada. Desen- volve-se no seio de instituições próprias — escolas e universidades — em que o aluno deve seguir um programa predeterminado, semelhante ao dos outros alunos que frequentam a mesma instituição. A educa- ção não formal processa-se fora da esfera escolar e é veiculada pelos museus, meios de comunicação e outras instituições que organizam eventos de diversas ordens, tais como cursos livres, feiras e encontros, com o propósito do ensinar ciência a um público heterogêneo. A apren- dizagem não formal desenvolve-se, assim, de acordo com os desejos do indivíduo, num clima especialmente concebido para se tornar agradá- vel. Finalmente, a educação informal ocorre de forma espontânea no cotidiano por meio de conversas e vivências com familiares, amigos, colegas e interlocutores ocasionais. Fonte: CHAGAS, I. Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docen- tes/ichagas/>. Acesso em: 20 fev. 2019. – 37 – Educação não formal: conceito e função socioeducacional 2.2 Definição e surgimento da educação não formal Quando falamos em educação, num primeiro momento, pensamos na educação que os pais oferecem aos filhos, depois, num segundo momento, o que a escola proporciona, e, em terceiro, a educação do mundo. De acordo com essa premissa, os pais sempre foram os grandes responsáveis pela educação dos filhos, interferindo e auxiliando também na educação escolar e na educação do mundo. Diante desse contexto, desde o século XVIII, já se pontuava a relação desse tripé com a educação. A escola, desde o século XIX, sempre foi reconhecida como única instituição responsável pela educação formal, ou seja, a escolarização de crianças e adolescentes. Esse pensamento ainda perpetua até os dias de hoje, pelo fato de a escola ser enxergada como a propulsora para uma vida melhor, mais digna, em que as pessoas possam ter acesso ao mundo e condições de uma vida mais promissora. Há educação em vários segmentos, como, por exemplo: nos museus, no teatro, assistindo televisão, jogando futebol, acessando a internet, em reuniões, nas brincadeiras e outras situações do dia a dia. Mesmo que não fazendo parte de algo didático e formal, automaticamente, ocorrem pro- cessos educativos. Contudo, Brandão (1986, p.10- 11) pontua: [...] da família à comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis práticas dos mistérios do aprender [...]. A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida [...]. A cultura é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade [...]. Através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar – às vezes a ocultar, às vezes a inculcar-se de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem [...]. Ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso, ela ajuda a criá-los, através de passar de uns para outros o saber que os constitui e legitima. Mais ainda, a educação Educação em Espaço não Escolar – 38 – participa do processo de produção de crenças e ideias, de qualifi- cações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedade. E esta é sua força. Portanto, a educação tem uma importante função na vida das pessoas, pois ela exerce grande influência na cultura de um grupo e de uma sociedade, a qual deve ter intencionalidade em relação ao que se pretende. E são esses grupos que transmitem os valores culturais que se perpetuam na história. Para compreender o conceito de educação não formal, temos o posi- cionamento de Gohn (2008, p. 12) explicitando que: a educação não formal não tem caráter formal dos processos esco- lares, normatizados por instituições superiores oficiais e certifi- cadoras de titularidades. Difere da educação formal porque essa última possui uma legislação nacional que normatiza critérios e procedimentos específicos. A educação não formal lida com outra lógica nas categorias espaço e tempo, dada pelo fato de não ter um curriculum definido a priori, seja quanto aos conteúdos, temas ou habilidades a serem trabalhadas. Como podemos perceber, a educação não formalnão tem um currículo próprio e não tem uma legislação reguladora de sua prática e, por não estar voltada às questões de aprendizagens em âmbito escolar, não é caracterizada pelo senso comum e pela mídia como algo relacionado à educação. De acordo com Gohn (2008, p. 12) a educação não formal designa um processo com várias dimensões, como: a) a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; b) a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da apren- dizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; c) a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indi- víduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; d) a aprendizagem de conteúdos que possibilitem que os indivíduos façam uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor; – 39 – Educação não formal: conceito e função socioeducacional e) a educação desenvolvida na mídia e pela mídia. Diante dos itens citados, as ações da educação não formal são desen- volvidas fora dos muros da escola, ou seja, são trabalhadas na sua grande parte em organizações não governamentais, com atividades voltadas à cidadania e práticas de inclusão social. Assim, a educação não formal parte do pressuposto de que a educa- ção, propriamente dita, é um conjunto, uma somatória que inclui a articu- lação entre a educação formal e a educação informal, tópicos que serão retratados nos próximos subtítulos. 2.3 Evolução histórica da educação não formal Em meados do século XX, a educação formal começa a passar por crises educacionais pedagógicas por não corresponder, de forma satisfa- tória, às demandas da sociedade vigente. Diante dessa situação, o termo “educação não formal” começa a aparecer para suprir as necessidades da educação formal. Então, surge, a partir da conferência sobre a crise mun- dial da educação, em 1967, a educação não formal, impulsionando a aber- tura para movimentos sociais que foram auxiliadores do processo formal. De acordo com Gohn (2008, p. 13) os movimentos sociais foram os pioneiros na utilização dos processos de educação não formal, anteriores aos programas e projetos sociais das ONGs, dos anos de 1980 para cá. Já nos anos de 1970, quando havia movimentos ligados às pastorais religiosas, ou às comunidades eclesiais de base, a educação não formal estava presente. Um dos exemplos de movimentos sociais precursores da educação não formal ocorreu na década de 70, quando mulheres, mães e donas de casa, reuniam-se em paróquias católicas para discutir e verificar questões voltadas à política, para analisarem e compreenderem seu papel na socie- dade e se os salários das famílias eram distribuídos de forma adequada. Esses movimentos tinham a intenção de ponderar se a população era explorada ou não pelo governo. Essa reunião, só de mulheres, foi chamada de Clube das Mães. Tam- bém, neste ínterim, levou ao chamado “Movimento do Custo de Vida”, Educação em Espaço não Escolar – 40 – que tinha a intenção de rebaixar os valores dos alimentos que estavam altíssimos na época. Devido à situação, confrontos começaram a surgir, greves e desemprego eram crescentes, aumentando o custo de vida da população. Portanto, esses movimentos, surgem com o objetivo de desen- volver projetos para uma “consciência crítica na população, a fim de que essa pudesse recuperar seu lugar no processo social do qual fazia parte” (FREITAS, 1996, p. 57-58). Ainda, de acordo com Gohn (2014, p. 44), a educação não formal operacionalizava-se em discussões e repre- sentações teatrais. A parte da cultura entrava via áreas das artes, tais como a dança, o teatro, a música de protesto. Tudo isso atuava como forma educativa, no campo da educação não formal. Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, não se usa mais as cartilhas, assim como os estudantes não escrevem tanto nos muros para protestar, são os blogs e as comunicações via internet que acabam tendo esse papel de mediação e interlocução entre os movimentos sociais. Saiba mais Para compreender mais sobre o Movimento do Custo de Vida que acon- teceu na década de 70, em pleno regime militar, leia o artigo A saga do Clube de Mães da Zona Sul, no link <http://www.unesp.br/aci/jornal/257/ ciencias-humanas.php>. Como já citado, na década de 1980, foram várias as transformações sociais e econômicas ocorridas na sociedade brasileira e, de acordo com Parreira e José Filho (2010, P. 242), [...] vários foram os ganhos nos aspectos sociopolíticos com a organização e reivindicações da sociedade, através dos Movimen- tos “Diretas Já”, da organização de diversas categorias profissio- nais em sindicatos e associações, Movimento Constituinte e Cons- tituição, Movimentos pela elaboração e efetivação de leis sociais (Lei Orgânica da Assistência Social, Estatuto da Criança e do Ado- lescente, Implantação dos Conselhos de Gestores) nas diversas políticas sociais, como processo de descentralização e municipali- zação do poder. Enfim, essa década expressou o acúmulo de forças sociais represadas pela ditadura militar brasileira, que começou, então, a se manifestar. – 41 – Educação não formal: conceito e função socioeducacional Nessa intempérie, surgem também os movimentos de educação popular embasados na concepção de Paulo Freire, que tinham como objetivo respaldar as classes populares que eram exploradas e domina- das pelo capitalismo. Paulo Freire teve importante contribuição na educação não formal, pois suas convicções sobre a educação foram sempre claras e renovadoras e pontuava na educação social, na necessidade do aluno, em conhecer-se e conhecer o mundo que o rodeava, os problemas sociais que o afligiam, e não somente a educação voltada aos padrões formais de escolarização, mas sim uma educação que pudesse “estimular o povo a participar do seu processo de emersão na vida pública engajando-se no todo social” ( GADOTTI, 1996, p.36), divulgando uma prática social emancipatória e democrática ao invés do autoritarismo e o assistencialismo. Saiba mais Para conhecer um pouco mais sobre Paulo Freire e seu método de alfabeti- zação acesse site <https://www.youtube.com/watch?v=urjnUBm2eFA>, que é um documentário do autor e também o Instituto Paulo Freire : <http://www.paulofreire.org/>. Portanto, o educador social precisa ter uma competência técnica para ensinar, pois isso é imprescindível no processo e, também, habilidades práticas e pedagógicas que contemplem a aprendizagem significativa e, para tanto, precisa conhecer a realidade do educando. Para Freire, conhecer, na dimensão humana, [...] não é o ato através do qual um sujeito, transformado em objeto, recebe, dócil e passivamente, os conteúdos que outro lhe dá ou impõe. [...] O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o ‘como’ de seu conhecer e os condicionamentos a que está sub- metido seu ato. [...] Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito, e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer (FREIRE, 1992, p. 27). Educação em Espaço não Escolar – 42 – Nessa perspectiva, Freire pontua que o ensino não é transmissão de conhecimentos, em que o educador repassaria as informações de forma verticalizada, mas ocorre de forma horizontal, em que todos participam do processo, tanto educador quanto educando. Nessa perspectiva, o conheci- mento é adquirido por meio das opiniões, manifestações, pesquisas, par- tindo das necessidades dos educandos a partir da realidade presente. Saiba mais O educador popular, exílio e retorno Paulo Freire, extrapolando a área acadêmica e institucional, engajou-se também nos movimentos de educação popularno início dos anos 60. Foi um dos fundadores do Movimento de Cultura Popular (M.C.P.) do Recife, e nele trabalhou ao lado de outros intelectuais e do povo, no sentido de, por meio da valorização da cultura popular, contribuir para a presença participativa das massas populares na sociedade brasileira. Esse primeiro Movimento de Cultura Popular no Brasil marcou profundamente a forma- ção profissional, política e afetiva do educador pernambucano. Paulo Freire esteve no exílio por quase dezesseis anos, porque, na época, era transcrito como opositor e revolucionário, pois, com seu método de alfabetizar jovens e adultos, tiraria várias pessoas da submissão e os colo- caria frente ao ato de ler a palavra, lendo então o mundo. Sua pedagogia continha a percepção clara da continuidade discriminatória da nossa socie- dade, até então preponderantemente patriarcal e elitista. Apontava solu- ções de superação das condições vigentes, avançadas para a época, dentro de uma concepção mais ampla e progressista: a da educação como ato polí- tico. Tudo isso era novo para o Brasil, que ainda reproduzia, impiedosa e secularmente, a interdição dos corpos dos desvalorizados socialmente, que assim, viviam proibidos de ser, ter, saber e poder (GADOTTI, 1996, p. 36). Naquela época, quando surgiram os movimentos de educação popu- lar, utilizavam “cartilhas com desenhos e ilustrações para as ações edu- cativas, nos processos de aprendizagem e produção dos saberes, porque grande parte da população era analfabeta” (GOHN, 2008, p. 15). – 43 – Educação não formal: conceito e função socioeducacional Para contrapor essa realidade, muitas campanhas iniciaram na inten- ção de minimizar o percentual de analfabetos, que até então era preocu- pante, como: Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), incentivada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); Campanha Nacional de Educação Rural (CNER); e outras campanhas que tinham a mesma intenção: favorecer os jovens e adultos em relação à educação. (PAIVA, 2003). Assim, muitos projetos iniciaram e tinham como premissa, segundo Graciani (2014, p. 139), envolver os jovens e adultos a construírem e par- ticiparem de forma efetiva na produção social e cultural, sendo que os eixos básicos consideravam o alfabetizando como sujeito social, exercitando a democracia e implementando a organização, o respeito às dife- renças e o multiculturalismo através de várias linguagens lúdicas como o teatro, a música, a dança, o canto dentre tantas outras, com vistas à interação e ao diálogo entre os saberes, estimulando a investigação permanente e promovendo a visão coletiva cujo o escopo se constituía na melhoria de qualidade de vida frente à mudanças e desafios do contexto socioeconômico e político do cidadão (GRACIANI (2014, p.139). Nessa perspectiva, métodos foram surgindo no objetivo de emancipar esses jovens e adultos para enxergarem o mundo sob diversas óticas. Outros movimentos surgiram na intenção de auxiliar as pessoas de acordo com suas necessidades. É o caso também dos movimentos das APAEs, que são Associações dos Pais e Amigos dos Excepcionais, e outras ONGs, que tinham como finalidade trabalhar com as necessidades oriundas de cada comunidade e cidadão. 2.4 Movimentos sociais, Organizações Não Governamentais e redes solidárias: projetos e ações Os movimentos sociais instituíram-se de ações coletivas, como forma de reivindicações e transformações sociais, advindas de situações de injustiças e desigualdades aos Direitos Humanos. Esses movimentos Educação em Espaço não Escolar – 44 – são pautados no anseio de luta coletiva, em prol de políticas públicas ali- cerçadas à cidadania. Figura 2.5 – Movimentos sociais Fonte: Shutterstock.com/Ververidis Vasilis. Os movimentos sociais são organizados por pessoas, homens e mulheres, que vivem em regiões urbanas e rurais, os quais apresentam visão mais globalizada em relação à política, economia , cultura e outros segmentos da sociedade à qual estão inseridos, objetivando lutar por uma sociedade mais justa, digna, fraterna e solidária, conforme revela o Artigo 22° da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitima- mente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país”. Portanto, quando esse direito é violado, esses movimentos pro- curam agir de forma organizada, por meio dos movimentos populares, sindicais, organizações não governamentais (ONGs) e redes de apoio, apresentando uma base fundamental de ideologia, que caracteriza-se pelo grau de conscientização dos participantes das diferentes ações. Normal- mente, possui um corpo de doutrinas (princípios, pressupostos e concepções, crenças, mitos e conhecimentos elaborados pelos participantes com o apoio de intelectuais orgânicos (GRACIANI, 2014, p. 150). – 45 – Educação não formal: conceito e função socioeducacional Assim, cada movimento possui objetivos específicos, valores e prin- cípios que identificam e personalizam cada movimento. Saiba mais Segundo Semeraro (2006), intelectuais orgânicos são aqueles que estão entrelaçados nas relações sociais pertencentes a uma classe. Para esse autor, os intelectuais orgânicos fazem parte de um organismo vivo e em expansão. Por isso, estão conectados ao mundo do trabalho, às orga- nizações políticas e culturais mais avançadas que o seu grupo social desenvolve para dirigir a sociedade. Os intelectuais orgânicos são responsáveis por construir o projeto da sua classe. No caso da classe operária, são responsáveis em dar respaldo à revolução. Para compre- ender melhor o papel dos intelectuais orgânicos, leia o artigo Gramsci e o papel dos intelectuais nos movimentos sociais, de Jordana Souza Santos, acessando o link: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/Espa- coAcademico/article/viewFile/7128/4819>. Os movimentos podem ser classificados de duas formas: reformistas e revolucionários. Os reformistas consistem em modificar algo mais preciso e específico; algo que acontece no momento e exige mudança. Os revolu- cionários pensam em mudanças mais radicais, mudar totalmente, ou seja, “os reformistas buscam modificações específicas e pontuais, preservando o código de ético-moral e os revolucionários desejam uma nova ordem social, lutando por novos valores morais” (GRACIANI, 2014, p. 151). Pensando em padronizar algumas ações dos movimentos sociais, são apresentadas algumas características em comum, de acordo com Graciani (2014, p. 153): 2 a luta por objetivos bem delineados. 2 o envolvimento de um conglomerado de pessoas com obje- tivo comum. 2 o processo participativo e democrático. 2 uma ideologia comum aos seus membros. Educação em Espaço não Escolar – 46 – 2 os processos de formação sistemáticos e continuados, práticos e teóricos. 2 uma proposta política sobre determinado aspecto (saúde, educa- ção, infância, mulher, reforma agrária, meio ambiente, trabalho dentre outros) com reivindicações específicas. 2 lideranças eleitas e constituídas pelos próprios grupos e protago- nizam diferentes formas de representação. Geralmente, os movimentos sociais transformam a sociedade e pela força que apresentam em conjunto, formam redes solidárias na “perspec- tiva de valorizar a liberdade dos atores, agentes sociais e organizações e incentiva, também, o planejamento e a busca de resultados coletivos para seus projetos de intervenção e ação” (GUARÁ, 2010, p. 42). Portanto, cada rede objetiva sua organização em conformidade com seus objetivos, metas, missão e visão. Os projetos sociais em rede não são realizações isoladas, ou seja, não mudam o mundo sozinhos. Estão sempre interagindo, por meio de dife- rentes modalidades de relação, com políticas e programas voltados
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