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HISTÓRIA E MEMÓRIA DO ENSINO NORMAL EM PARNAÍBA MEIRELES, Ísis (1); RODRIGUES, M. S. M. (2) 1. Universidade Federal do Piauí – UFPI. PPHGB/UFPI Rua Alayde Marques nº 967, ap 08, Ininga, Teresina- PI isismeireles@ufpi.edu.br 2. Universidade Federal do Piauí – UFPI. PPGED/UFPI Rua Riachuelo, 586. Centro, Parnaíba-PI Socorro_cnsg@hotmail.com RESUMO No presente trabalho pretende-se analisar o caminho percorrido na formação dos professores parnaibanos reconstituindo, por meio da historiografia, o processo de criação das escolas normais que se dedicaram a formar esses profissionais disseminadores do saber. A Escola Normal em sua singularidade é uma agência de transformação, responsável pela transmissão do saber e das normas e técnicas da formação de professores. Diante da nova realidade, o Brasil recebeu uma injeção de desenvolvimento na tentativa de modernizar as antiquadas estruturas coloniais. A institucionalização foi de grande importância para a Escola Normal, uma vez que a formação do professor encontra-se fortemente articulada com suas práticas profissionais. Palavras-chave: Escola Normal. Formação de Professores. Parnaíba. Educação. Ensino. II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013 INTRODUÇÃO Para compreender os problemas inerentes relacionadas à formação de docentes, é imprescindível a realização de uma releitura da história das escolas normais que por sua vez, deve partir de questionamentos que direcionem os caminhos para a compreensão das contradições dos discursos e dos posicionamentos de quem escreveu esta história. No presente trabalho pretende-se analisar o caminho percorrido na formação dos professores parnaibanos a partir do conhecimento do processo de formação dos docentes piauienses e brasileiros de forma mais abrangente, reconstituindo por meio da historiografia o processo de criação das escolas normais que se dedicaram a formar esses profissionais disseminadores do saber. Reconstruir o passado educacional pode corroborar para aprimorar os atos do presente, ajudando a planejar o futuro uma vez que “é a partir dos textos escritos no passado, ou memorizados no presente, que procuramos descobrir o que se passou,dando forma a fragmentos dispersos que restaram, buscando seus possíveis sentidos” (Jenkins, 2007, p. 10). Buscou-se realizar um trabalho de reconstrução da história da educação, memória historiográfica do ensino normal brasileiro, piauiense e parnaibana, através dos fragmentos encontrados nas leituras. A realização desse estudo partiu das várias leituras efetuadas dentro de cada segmento estudado. Sobre a historiografia brasileira trabalhou-se com: Dias (2008), Mendonça (2005), Veiga(2007) e Villela (2000 e 2008). Na historiografia piauiense teve-se como referencia: Brito (1996), Costa Filho (2006), Ferro (1996), Lopes (1996 e 2008), Pinheiro (2007) e Soares (2004) e na historiografia parnaibana optou-se por dialogar com: Mendes (2001 e 2007), Silva (1985), Silva (2007), Oliveira (1993). O ENSINO NORMAL NO BRASIL Pelo Ato Adicional à Constituição em 1934, a cidade do Rio de Janeiro é desmembrada da Província Fluminense transformando-se em Município e ampliando sua autonomia administrativa. Nesse momento desponta “a preocupação de incutir normas” (Villela, 2008, p. 30), ou seja, nasce o estabelecimento de regras que motivarão a institucionalização das escolas normais em todo o país, buscando uniformizar, qualificar e profissionalizar a atividade docente. A falta de preparo dos professores era citada como uma das causas dos problemas sociais existentes. “Tal instituição, pelo seu potencial organizativo e civilizatório, foi imaginada como uma das principais alavancas da expansão e consolidação da supremacia daquele segmento da classe senhorial que chegara ao poder” (Vilella, 2008, p. 31). De acordo com Mendonça (2005) a criação da primeira Escola Normal na cidade de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, em 1834, aconteceu neste contexto de mudanças organizadas por um grupo político que importou da França todas as características metodológicas e se esqueceu de adaptá-las à realidade brasileira. Assim, surgem as primeiras escolas normais no Brasil: em 1834, no Rio de Janeiro; em 1836, na Bahia; em 1837, em Mato Grosso;e, em 1843, em São Paulo. Em 04 de abril de 1835 é sancionada a Lei nº 10 que trata da criação da Escola Normal na Província do Rio de Janeiro, na cidade de Niterói, objetivando preparar de forma adequada o docente para trabalhar nas “escolas de primeiras letras”. Nesse sentido Mendonça comenta: A Escola Normal foi fundada no Brasil para cumprir a função de formadora de docentes para o ensino primário. Porém, os docentes, através de conteúdos e ações, deveriam colaborar para classificar e hierarquizar a sociedade além de também contribuir para solucionar problemas de ordem social, sem gerar custos ao Estado e sem romper com a ideia colonialista e patriarcal que caracterizava todas as relações sociais econômicas e políticas do Brasil. (2005, p. 49) A Lei de criação da Escola Normal estabelecia algumas exigências para integrar o quadro de professores tais como “ser cidadão brasileiro, maior de dezoito anos, com boa morigeração; e saber ler e escrever.” (Vilella. 2008. p. 32). Observa-se claramente no texto da Lei o rigor moral exigido e que a nacionalidade e a idade eram critérios excludentes, preocupação esta com a posição ideológica dos futuros disseminadores do saber. Também se percebe que a intenção maior não era a instrução, visto a exigência do nível mínimo de conhecimento, comprovado pela precariedade dos programas e propostas pedagógicas.O currículo das escolas primárias não se diferenciava, a não ser pela metodologia, pois, aos futuros mestres era cobrado também, o conhecimento do método lancasteriano como definia a Lei, além da formação moral e religiosa, o que nos leva a conclusão que a intenção maior dos governantes era o do controle e da disciplina e não a instrução em si. (Villela, 2008) De acordo com Villela “o método lancasteriano procurava desenvolver principalmente os hábitos disciplinares de hierarquia e ordem, exercia um controle pela suavidade, uma vigilância sem punição física” (2000, p. 108). No entanto, observou-se que esse método não se adequava à realidade brasileira, pois o número de matriculas era pequeno e o custo muito grande. Como a formação para a profissão não despertou o interesse dos jovens, o governo distribuiu bolsas de estudo objetivando custear os estudos de rapazes carentes. Quem determinava se o aluno-mestre estava pronto ou não era o diretor, esse, único professor existente nas escolas(Villela, 2008).Situação essa muito criticada pelos governantes que optavam por uma formação ainda mais rápida que dois ou três anos, embora ineficiente (Mendonça, 2005). Nesse momento observa-se que a Escola Normal não conseguia cumprir a função para a qual fora criada, se encontrava com grandes problemas quanto à contratação de professores primários pela falta de interesse no magistério. Dez anos passaram-se e o panorama educacional não sofreu alteração nenhuma, o que leva a escola normal a fechar suas portas, ficando desativada por mais de uma década (Villela, 2008). Dias (2008) destaca que a razão principal para que tantas escolas normais passassem por longos períodos de extinção era a precariedade na estrutura organizacional, além de possuir apenas um professor para todas as disciplinas do curso, sendo tão deficiente quanto às escolas primárias. Nessa primeira fase de sua existência, a escola normal contribui para a educação brasileira e entra para história da educação como a instituição que deu início,no Brasil, à formação do professorado fluminense estabelecendo a diferença entre “os antigos mestre- escolas sem formação e os novos professores primários” (Villela, 2008, p.34). Em 1847 ocorreu uma reforma na instrução pública na província cuja ideia principal era aumentar o número de escolas, desconsiderando a necessidade de qualificar. Assim,“dividiram-se as escolas em dois grupos: de 1ª classe e de 2ª classe. Estas, com padrão mais elevado, teriam professores formados enquanto que as primeiras funcionariam com adjuntos”(Villela, 2008, p. 34). De acordo com Mendonça (2005) os “professores adjuntos” era a solução encontrada para o problema da falta de professores formados. Esse novo método chamado de “método austríaco-holandês” consistia em trabalhar com aprendizes no lugar de professores. Observa-se então que nesse momento a profissão de docente foi mal remunerada e tratada como sinônimo de desprestígio social. Diante do estado em que a educação encontrava-se e da nova conjuntura econômica, política e social que se implantava fez-se necessário um repensar educacional. A educação passou a ser vista como trampolim para progresso. Em 1859 uma lei provincial autorizou a recriação da Escola Normal de Niterói. Nessa perspectiva foi inaugurada em 1862 a 2ª fase da Escola Normal da Província.Surge nesse momento as primeiras mulheres que começam a interessar-se pela profissão e passam a frequentar a Escola Normal. Em 1868 é nomeado para o cargo de Diretor da Escola o bacharel José Carlos de Alambary Luz e com ele uma fase de modernização que perdurou até 1876, quando o mesmo pediu demissão. O novo diretor acreditava que a verdadeira missão do professor era elevar o nível intelectual das nações e para realização desse feito necessitava contar com professores qualificados. Nada conseguiu junto à província que melhorasse de imediato a educação.Começou então a mudar seu discurso e a apresentar o problema educacional por outro ângulo: o econômico. Tarefa difícil de ser cumprida: sensibilizar os educadores da necessidade de uma educação de qualidade. Ao final de oito anos de gestão conseguiu o feito de transformar a Escola Normal em Escola Modelo e que a mesma funcionasse em dois prédios vizinhos, uma para os homens e outra para as mulheres. No final do Império advieram importantes alterações na legislação das escolas normais por meio do decreto de 19 de abril de 1879, a chamada reforma Leôncio de Carvalho, que segundo Veiga “tiveram como causa entre outras, o acúmulo de conhecimento e a circulação de informações por meio de periódicos nacionais e estrangeiros” (2007, p. 167). Praticamente, as Escolas Normais só se desenvolveram no início da República, apesar de todos os problemas enfrentados como: a utilização do professor leigo, a falta de professores qualificados, as precárias condições do ensino e a ausência de espaço físico entre outros problemas.Frente ao processo de expansão, remodelação e reformas que aconteceram nesse período, novas exigências à formação do professor aparecem e com eles a necessidade de repensar o ensino. O ENSINO NORMAL NO PIAUÍ Em 2010 a Escola Normal completou um século de existência no Estado do Piauí. Cem anos desde aquele dia em que o então governador Antonino Freire e o Secretário de Estado do Governo Dr. Mathias Olympio assinaram a Lei nº 548 de 30 de março, reformando a Instrução Pública que pelo Decreto de 19 de abril do mesmo ano determinou que o “ensino ministrado pelo Estado seria leigo, gratuito e dividido em primário, normal, profissional e secundário” (Soares, 2004, p. 56). Era mais uma das tentativas de implantação do Ensino Normal no Piauí. De acordo com Lopes “a Escola Normal surgiu, então, como desejo de superação daquele que, na concepção de seus membros, era o maior empecilho para a ação eficaz da educação: o professorado” (2000, p.107). A Escola Normal no Piauí vivenciou três tentativas de implantação: a primeira em 1864, quando então era presidente da Província Franklin Américo de Meneses Doria que promove uma reforma de ensino. Nesse momento as escolas são reclassificadas de acordo com o conteúdo a ser ensinado;continuam divididas pelo sexo de professores e alunos, ou seja, nesse momento é proposto “a criação de duas Escolas Normais: uma para cada sexo, ou de acordo com as finanças provinciais, uma primeira para o sexo masculino”(Lopes, 2008, p.107). Assim, nasce à primeira Escola Normal Piauiense por meio da Resolução nº 565, assinada em 05 de agosto de 1864, na capital da Província, Piauí, no entanto essa escola seria em regime de externato, mista e paga. Talvez por essas características e localização a população do Piauí não se sentiu atraída. A parcela masculina da elite poderia procurar instrução em outras cidades,não optando pelo ofício de professor. Quanto ao grupo composto pelas mulheres, estas, ainda não haviam despertado para a escolaridade, por conta da estrutura social, patriarcal e rural da sociedade.Lopes comenta que “assim, essa Escola Normal funcionou quase sem alunado interessado em realizar a sua completa escolarização, apesar do relativo sucesso da matrícula inicial” (2008, p. 110). Em 1868, é elaborado o princípio da proposta para criação dessa Escola Normal, efetivando-se como curso anexo ao Liceu e não com uma escola independente, não existindo professores específicos para a formação normalista. “[...] esse novo ensino normal teve curta existência sendo extinto por resolução em1874” (Brito, 1996, p. 34). Nova tentativa de implantação do Ensino Normal na Província do Piauí acontece em 1882,com a Resolução nº 1062 que faz ressurgir a antiga Escola Normal. O Colégio passou a funcionar no prédio do Liceu de forma autônoma em relação ao mesmo. Em 1884, novo processo educacional é implantado na escola, mas logo é encerrado. Lopes afirma que essa nova escola “teve como parâmetro a experiência francesa proporcionada por Guizot e seu projeto de reformulação do ensino elementar, de 1833 [...]” (2008, p. 113). Como a Escola Normal Oficial não aconteceu, um grupo de intelectuais constituiu uma sociedade e criou a Escola Normal Livre em 1909. Em 15 de maio de 1910, no governo de Antonino Freire, a Escola Normal é autorizada a reiniciar suas atividades. Brito (1996) em seu livro História da Educação no Piauí: Enfoque Normativo, Estrutura Organizacional, Processo de privilegia três aspectos do Piauí: o normativo, onde apresenta as legislações básicas do ensino; o organizacional, que enfatiza os aspectos administrativos e didáticos, assim como a estrutura curricular e o de sistematização, que acompanha a evolução do processo desde a implantação do ensino. Encontra-se dividida em Período de Implantação (1733-1845) quando se verifica as primeiras tentativas de organização de um estabelecimento de Ensino na Província do Piauí, Período de Estruturação (1846- 1910), período em que ocorrem as três tentativas de implantação da Escola Normal no Piauí; Período de Consolidação(1910-1961) que inicia-se com a implantação da Lei que rege a estrutura administrativa didática e disciplinar até meados de 1961 quando é promulgada a Lei de Diretrizes Bases da Educação e para finalizar o Período de Sistematização (1962 - ...),que se inicia com o advento da Lei 4.024 de 20/12/1961 e se estende até os nossos dias. Apresenta um quadro completo de nossa evolução educacional, desde os primeiros atos oficiais até os dias atuais. Costa Filho(2006) em seu livro A escola do sertão, apresenta um material historiográfico que nos permite analisar o sistema oficial de ensino, buscando compreender o processo educacional piauiense e o desenvolvimento das formas alternativas de ensino que surgiram com o objetivo de atenuaro problema da falta de escolas oficiais. Buscou-se compreender as relações sociais e de trabalho estabelecidas no período oitocentista, demonstrando que o desenvolvimento urbanista da Província do Piauí definiu-se a partir do mundo rural. Lopes (1996) em sua dissertação de mestrado intitulada Beneméritas da Instrução:A feminização do magistério primário piauiense analisa como o Estado do Piauí e a Escola Normal gestaram essa ocupação, no período de 1864 a 1930, como sendo tipicamente feminina. Discute as conjecturas sobre o ofício de mestre, tratando das representações relativas ao magistério exercido pela mulher.Também em seu artigo Um Viveiro muito especial: Escola Normal e profissão docente no Piauí,(2008) publicado no livro As escolas normais, o autor analisa inicialmente as tentativas de implantação da Escola Normal no século XIX no Piauí frente aos docentes não preparados para o exercício profissional e debate também o papel da mulher frente a essa nova realidade e sua inserção no mundo social e profissional. Soares (2004), em seu livro Escola Normal em Teresina: reconstruindo uma memória da formação de professores – 1864-2003, busca sistematizar e compreender como se constituiu a História da Escola Normal em Teresina, hoje denominada Instituto de Educação “Antonino Freire” (IEAF), criada em 1864 e, modificada através de várias legislações. O ENSINO NORMAL EM PARNAÍBA O Intendente municipal na década de 20, preocupado em realizar uma reforma de ensino municipal, fato comum por todo Brasil, convida o educador paulista Luis Galhanoni para implementar essa reforma juntamente com os professores parnaibanos. Sentia-se falta de uma escola para formação de professores eorganizaram-se então para trazer à cidade esta instituição, fato que realmente concretizou-se em pouco tempo. Criaram no mesmo ano da criação do Ginásio Parnaíba a Escola Normal de Parnaíba. Assim, surge na cidade o ensino normal ministrado na “Escola Normal de Parnaíba” fundada em 11 de julho de 1927, na mesma época do Ginásio Parnaibano, funcionando inicialmente no prédio do grupo Escolar Miranda Osório, que encontrava-se recentemente construído, “visando à formação de professores para atender ao crescente número de escolas que se verificava em 1930, no período do final da década de vinte” (Mendes, 2007, p.85). Essa escola surge no governo de José Narciso da Rocha Filho como resultado dos esforços e das lutas de muito professores. Estes se encontravam sob a liderança de José Pires de Lima Rebelo, Edison da Paz Cunha e José de Lima Couto, que, iniciou na instituição como professor em 1927 e mais tarde, no período de 1949 a 1967, foi nomeado como diretor. (Oliveira, 1993). A escola foi reconhecida e regularizada em 1928, com um currículo de três anos. Forma sua primeira turma, em 1932, composta de 11 alunas e 01 aluno, momento vivenciado com grandes festividades. Na década de 30, o Ginásio Nossa Senhora das Graças, conhecido como “Colégio das Irmãs” ampliando suas atividades educacionais passava a trabalhar a modalidade de “Ensino Normal” ao criar o “Curso Pedagógico Normal”, para atender às reivindicações das famílias parnaibanas e oferecer um curso voltado para as mulheres. O Ensino Normal do Colégio das Irmãs iniciou seu funcionamento com 16 alunas1 mais tarde, em 1933, esse curso é equiparado à Escola Normal de Teresina (Mendes, 2007). A estadualização do Ensino Normal em Parnaíba foi um marco histórico, pois a “Escola Normal de Parnaíba” deixa de ser uma instituição privada e ganha o status de escola pública, portanto gratuita, garantindo o acesso da clientela menos favorecida a esse tipo de instituição. A esse respeito Oliveira comenta: 21 de novembro de 1959 marca uma era promissora para a Escola Normal de Parnaíba com a sua oficialização pela Lei 1892, no governo de Francisco das Chagas Caldas Rodrigues. Este foi, sem dúvida, um grande passo na vida educacional de Parnaíba, rumo à democracia com a educação gratuita favorecendo a clientela pobre que nação podia pagar escolas. A Escola normal de Parnaíba passou a denominar-se Escola normal Francisco Correia numa justa homenagem ao intelectual, jornalista, advogado que sempre soube defender as causas da Educação em Parnaíba, além de mestre-escola. [...] A Escola normal tornou-se um centro de treinamento e aperfeiçoamento de professores no norte do estado, tendo realizado vários cursos (1993, p. 22-23). A partir da década de 30, Ensino Normal em Parnaíba era oferecido: como escola mantida pelo Estado na “Escola Normal de Parnaíba” que com a estadualização passa a denominar-se de “Escola Normal Francisco Correia”, e pelo Ginásio Nossa Senhora das Graças, conhecido como Colégio das Irmãs, localizada ainda hoje na Praça Santo Antonio, entidade particular de cunho filantrópico e confessional. A Escola Normal Francisco Correia com o auxilio de seu Diretor, José de Lima Couto, de seus funcionários, professores e alunos, que sempre lutaram para que a escola funcionasse em prédio mais adequado, fato esse que se concretiza no governo de Petrônio 1 Dados gerais do ginásio nossa senhora das graças – alusivos ao curso pedagógico, 1973, p. 1 Portela, no ano de 1967, ao ser entregue, um prédio recém construído situado na Av. Miguel Roda, hoje, Avenida das Normalistas, local onde ainda hoje, funciona a escola. Ao aposentar-se da direção, o professor José de Lima Couto apresenta ao então governador da época Dr. Helvídio Nunes, uma lista tríplice para a escola do novo diretor. Dentre os nomes enviados encontrava-se o da professora Maria Cristina de Moraes Souza Oliveira, que foi a escolhida pelo governador e muito bem aceita pelo corpo docente e discente. A professora Maria Cristina dirigiu com maestria a escola no período compreendido entre 1968 a 1987, quando por motivos políticos é substituída no cargo. No período de sua direção a Escola Normal cresceu muito. Nessa época foi instalado o Serviço de Orientação Pedagógica por meio de uma equipe especializada, além de um auditório para suas apresentações e aplicação de mini-cursos. Nesse momento a historiografia se faz presente, ao dialogar com os autores conhecedores do tema em análise, tais como:Francisco Iweltman Vasconcelos Mendes em seus dois livros: Parnaíba Educação e Sociedade: da colonização à primeira república (2001) e Parnaíba Educação e Sociedade: da colonização ao fim do Estado Novo (2007) trabalha a história da educação parnaibana, discutindo as características da vida econômica e social bem como a escassez de recursos. Faz um panorama rápido em cima do perfil geográfico e dos antecedentes históricos na busca de compreender melhor a região. Trabalha o império, as lutas e a República situando a educação no tempo e no espaço; também, analisa o método lancasteriano adotado como correto, observado suas vantagens e desvantagens. Silva (2007) em sua Dissertação de Mestrado denominada À Luz dos Valores Religiosos: Escolas confessionais católicas e a escolarização das mulheres piauienses (1906 – 1973) realiza um estudo da História da Educação Piauiense abordando especificamente a história das instituições confessionais católicas. Discute o processo de escolarização das mulheres piauienses nos colégios religiosos além de buscar compreender cotidiano desses estabelecimentos de ensino. O foco da pesquisa se deu sobre os Colégios administrados pelas irmãs Catarinas, particularmente, o Colégio Sagrado Coração de Jesus em Teresina e o Colégio Nossa Senhora das Graças em Parnaíba. Esse estudo procurou desvendar a constituição e estruturação dessas escolas destinadas às mulheres no Estado do Piauí, além da atuação das mesmas na formação educacional dasociedade. Silva (1985) em seu artigo intitulado Escola Normal Francisco Correia publicado no Almanarque da Parnaíba de 1985 na60ª edição - fala da trajetória da Escola Normal da sua fundação aos dias atuais (até 1985). Oliveira (1993) em seu livro Parnaíba, das primeiras escolas aos cursos universitários trata sobre a educação parnaibana desde as primeiras escolas primárias de iniciativa particular, para um segundo momento quando surgem os grupos escolares à presença do majestoso Campus Ministro Reis Veloso da Universidade Federal do Piauí. Ressalta nomes e feito importantes na área educacional e levanta quatro questões cruciais na educação do futuro. O livro encontra-se dividido em quatro fases: a primeira fase, de 1898 a 1914, a segunda de 1915 a 1942, a terceira de 1942 a 1970 e finalmente a última de 1970 aos dias atuais. Discute de forma objetiva e clara sobre a educação parnaibana. CONCLUSÃO O final do século XIX e início do século XX trouxeram muitas transformações para a sociedade brasileira que se encontram diretamente entrelaçadas com o papel que a mulher desenvolveu nesse período, quebrando a estrutura patriarcal dominante e implantando uma estrutura mais liberal, que lhe permitiu sair à busca de um emprego diferente do doméstico.A instituição que avalizou essa transformação foi a Escola Normal. Mesmo com todas as dificuldades, aberturas e fechamentos pode-se afirmar que a primeira escola normal foi um marco importante na formação dos professores no período imperial, uma vez que “funcionou como um laboratório de práticas que eram estendidas a todo o país” (Villela, 2000, p. 104) e que o ensino normal ficou adormecido durante todo o Império, só ganhando notoriedade na Primeira República, tornando-se indiscutível a relevância dessa instituição para o país, para o estado e para o município. Foi pela interferência das Escolas Normais que se definiram os saberes as formas de fazer dos futuros professores, além de fornecer o alimento base para diferenciar o professor de escola, e o velho mestre-escola. Concluí-se corroborando com a informação de o quão foi importante essa institucionalização para a Escola Normal, uma vez que a formação do professor encontra-se fortemente articulada com suas práticas profissionais, bem como para a mulher que consegue quebrar as amarras que as prendiam ao passado e ingressam na vida profissional, reescrevendo a história das mulheres. REFERÊNCIAS BRITO, Itamar Sousa. História da Educação no Piauí. Teresina: EDUFPI. 1996. COSTA, Filho. Alcebíades. A escola do sertão: ensino e sociedade no Piauí, 1850-1889. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 2006. DIAS, Márcia Hilsdorf. Escola Normal de são Paulo do Império entremetáfora das luzes e a história republicana. In: Araújo, José C. S.; FREITAS, Ana Maria G. B. e LOPES, Antônio de P. C. (Org.). As escolas normais no Brasil – do Império à República. Campinas, SP: Alínea, 2008. FERRO, Maria do Amparo Borges. Educação e Sociedade no Piauí Republicano. Teresina: EDUFPI, 1996. JENKINS, Keith. 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