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Psicologia Comunitária: Saberes e Práticas

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Disciplina: Psicologia Comunitária 
MATERIAL DE APOIO I 
Professora: Jorgelina Ines Brochier 
Caros alunos e alunas: Esta coletânea de textos aborda as principais temáticas a serem abordadas no início 
do semestre. Trata-se de um material de apoio que está articulado com os planos de aula, com os slides 
propostos para cada aula, além dos artigos que serão indicados de acordo com as demandas. Assim, convido 
a cada um de vocês a ler e, especialmente, analisar os textos propostos. Espero, portanto, que esta análise 
promova reflexões que potencializem novos saberes e horizontes! 
 
 
TEXTO 1 
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: considerações iniciais 
COMUNIDADE: um lugar imprevisível no qual as pessoas vivem seu cotidiano (CAMPOS, 1992) e se relacionam, 
traduzindo os modos de vida contemporâneos, tanto na fragmentação e naturalização da vida quanto na 
possibilidade de desejar, conviver e criar. 
A comunidade se expressa como espaço de construção de cidadania, no qual todas as falas são legítimas 
(GUARESCHI, 2003 apud COSTA; BRANDAO, 2005). Esse conceito, que pode parecer utópico, é tomado nessa 
perspectiva para que marque o desafio de atuarmos focando as relações entre indivíduos, e entre estes e a 
sociedade, em uma busca de valorização das relações comunitárias que visem o bem comum (RICCI, 2003 apud 
COSTA). TRATA-SE DE UMA UTOPIA? Talvez seja apenas um sonho que precisa ser sonhado e, como disse Galeano 
(1944), o sonho, as utopias estão no horizonte, são inatingíveis, mas nos levam a caminhar!!! 
A expressão “Psicologia social comunitária” designa um conjunto de saberes e práticas da psicologia que 
visam “contribuir para a melhoria na qualidade de vida das pessoas e grupos distribuídos nas inúmeras 
aglomerações humanas que compõem a grande cidade” (ANDREY, 2001, p.201). 
Góis (1993) define a psicologia social comunitária como sendo uma área da psicologia social que estuda a 
atividade do psiquismo decorrente do modo de vida da comunidade . Nessa perspectiva, o termo 
comunidade corresponde a um lugar “em que grande parte da vida cotidiana é vivida” (CAMPOS, 1998, 
p.9). Esse lugar, ainda de acordo com a autora, pode ser geográfico, como um bairro, por exemplo, ou 
psicossocial, constituído, por exemplo, por colegas de trabalho. 
Embora as intervenções do psicólogo que atua no âmbito sócio comunitário não estejam restritas aos grupos 
populares, observa-se uma tendência para privilegiar aqueles que vivem em condições precárias (ou 
inviabilizadas) de trabalho, saúde, saneamento básico, educação escolar, lazer, dentre outras. 
Ao atuar com grupos que estão em condição ou muito próximo da condição de marginalizados dos serviços 
e obrigações da sociedade e do Estado, o psicólogo busca contribuir para o desenvolvimento da CONSCIÊNCIA 
CRÍTICA, da ÉTICA DA SOLIDARIEDADE, das PRÁTICAS COOPERATIVAS e AUTOGESTIONÁRIAS do GRUPO 
CLIENTE. 
Para alcançar essas metas, as ações do psicólogo são estruturadas, preferencialmente, através de equipes 
interdisciplinares. Tais ações, inicialmente, partem do levantamento das demandas dos grupos-clientes. A 
partir da análise das necessidades e das possibilidades concretas de ações, “procura-se trabalhar com os 
grupos para que eles assumam seu papel de sujeitos de sua própria história, conscientes dos determinantes 
sócio-políticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados” (FREITAS, 1998, 
57). 
Nesse sentido, o psicólogo não atua como um profissional que, por deter um saber específico, toma as 
iniciativas para a solução dos problemas enfrentados pelo grupo-cliente. O psicólogo atua como um 
ANALISTA FACILITADOR que, a partir de um saber específico, pretende contribuir para a melhoria da 
qualidade de vida da comunidade. Sendo assim, o trabalho está norteado por um processo de reflexão 
fundamentado em duas premissas: 
- Todos os grupos comunitários possuem um saber-fazer, que a priori não pode ser considerado nem melhor, 
nem pior do que o conhecimento construído nas Universidades. Ao compartilhar saberes com o grupo, o 
psicólogo contribui com novos saberes para este grupo que, por sua vez, também contribui com a produção 
de saberes no âmbito da psicologia. 
- O trabalho comunitário deve incluir, além do diálogo e da partilha de saberes, a garantia da autogestão das 
próprias comunidades. A autogestão é básica para que existam relações efetivamente democráticas, 
pautadas na participação de todos os envolvidos. Quem vai “por um tempo para partilhar um saber, não 
pode retirar da comunidade essa prerrogativa fundamental de liberdade autonomia” (GUARESCHI, 
op.cit.p.99). A formação de recursos humanos da própria comunidade assegura, não apenas a autonomia 
do grupo para gerir a sua vida, mas, especialmente, a continuidade e multiplicação dos projetos de melhoria 
da qualidade de vida. 
Em síntese: “A Psicologia (Social) Comunitária utiliza o enquadre teórico da psicologia social (crítica), 
privilegiando o trabalho com os grupos, colaborando para a formação da consciência crítica e para a 
construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos. ” (1996, 
p.73). 
A comunidade é mais do que uma categoria científico-analítica, é categoria orientadora da ação e da reflexão 
e seu conteúdo é extremamente sensível ao contexto social em que se insere. • A Psicologia Social ao 
qualificar-se de comunitária, hoje, explicita o objetivo de colaborar com a criação desses espaços relacionais, 
que vinculam os indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalidades partilhadas. 
A busca do desenvolvimento da consciência crítica, da ética da solidariedade e de práticas cooperativas ou 
mesmo autogestionárias, a partir da análise dos problemas cotidianos da comunidade, marca a produção 
teórica e prática da psicologia social comunitária. 
TEXTO COMPLEMENTAR A 
DEFINIÇÃO E FINALIDADES DA PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA 
Definição e finalidade: A psicologia comunitária é definida como uma área da psicologia social que estuda a 
atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade. Estuda o sistema de relações e 
representações, identidade, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao 
lugar/comunidade e aos grupos comunitários (GÓIS, 1993). 
A ORIGEM: remonta a uma psiquiatria social e preventiva, bem como a dinâmicas e psicoterapias grupais. O 
desenvolvimento de movimentos que se manifestaram contra a falta de atenção social, no que diz respeito 
à participação coletiva no processo de tomada de decisões se tornou expressivo para o surgimento da 
psicologia comunitária. (teremos uma aula sobre essa temática) 
NO BRASIL: Uma revisão da psicologia comunitária no Brasil não pode ser feita fora do contexto econômico 
e político do Brasil e da América Latina. Sem dúvida, o golpe militar de 1964 tem muito a ver como seu 
surgimento, pois se num primeiro momento, vivemos um período de extrema repressão e violência, quando 
uma reunião de cinco pessoas já era considerada subversão, ele fez com que, individualmente, os 
profissionais de psicologia se questionassem sobre a atuação junto à maioria da população, e de qual maneira 
seria o seu papel na sua conscientização e organização. (CAMPOS, 2009). 
Bonfim (1994) faz uma retrospectiva da história da psicologia social no Brasil, nas décadas de oitenta e 
noventa. Nos anos oitenta, surgiram os primeiros cursos de pós-graduação na área da Psicologia Social e foi 
criada a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). Novas práticas emergiram como, por 
exemplo, os trabalhos em favelas, com meninos de rua, com os sem-terra e com pessoas da terceira idade, 
além de práticas em comunidades, organizações e instituições. A partir dos anos noventa, em uma s ociedade 
ainda mais pobre, foi constatado um aumento significativo da população. Ao mesmo tempo, ocorria o 
fortalecimento da democracia e a criação de instituiçõesem defesa dos direitos humanos; por exemplo, as 
que foram criadas com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, que entrou em vigor em 1990. 
Decorrentes desse contexto surgiram demandas de novas formas de trabalho do psicólogo, voltadas para 
práticas psicossociais. Por conta dessas demandas, o quadro conceitual precisou também ser revisto e 
ampliado. 
No início dos anos 90, em nível nacional, presencia-se a expansão dos trabalhos dos psicólogos junto aos 
diversos segmentos da população. Entretanto, cabe salientar que essa expansão acontece dentro de um 
quadro variado de práticas, envolvendo diferentes pressupostos filosóficos e referenciais teóricos. (CAMPOS, 
2009). 
Nesse caso, começam a se desenvolver práticas nos diferentes setores públicos da sociedade, bem como em 
postos de saúde, secretaria do bem-estar social, ou em algum órgão ligado à família e aos menores. Essa 
atuação tem o objetivo de expandir e democratizar os serviços psicológicos em diversas áreas para a 
população em geral, esse trabalho tem continuidade e perpassa os dias atuais. 
Conceito de Comunidade: Podemos dizer que uma comunidade se caracteriza por: a) ser um grupo de 
pessoas, não um agregado social, com determinado grau de interação social;**b) repartir interesses, 
sentimentos, crenças, atitudes; **c) residir em um território específico; e **d) possuir um determinado grau 
de organização”. (SANCHEZ; WIESENFELD apud Gomes,1999). 
Comunidade é conceito ausente na história das ideias psicológicas. Aparece como referencial analítico 
apenas nos anos de 1970, quando um ramo da psicologia social se autoqualificou de comunitária. Assim 
fazendo, definiu intencionalidades e destinatários para apresentar-se como ciência comprometida com a 
realidade estudada, especialmente com os excluídos da cidadania. (SAWAIA, 1994). 
Importante salientar que o conceito de comunidade não é mérito exclusivo da psicologia social. Esse conceito 
introduziu a incorporação de um corpo técnico e epistemológico da psicologia social, pois, representou a 
criação de um campo teórico que visa transformar o homem no contexto em que vive, levando em 
consideração a sua subjetividade. 
- As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são relações igualitárias, que se dão 
entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Essas relações implicam que todos possam ter vez e 
voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças sejam respeitadas. E mais: as 
relações comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva, implicam que as pessoas 
sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009). Entretanto, isto não significa que o conflito não 
exista. 
UM PEQUENO TEXTO PARA REFLEXÃO1 Movimento e transformação: uma identidade profissional para os 
psicólogos. 
[...] Tenho resistido um pouco a discussões sobre a identidade da Psicologia, porque, em geral, essas 
discussões buscam uma cara para a Psicologia pensando em poder mantê-la depois de encontrada. 
QUERO UMA PSICOLOGIA QUE SE METAMORFOSEIE o tempo todo, acompanhando as mudanças da 
realidade social de nosso país. Não podemos querer uma Psicologia que seja a cristalização de uma mesmice 
de nós mesmos. Se ENTENDERMOS QUE A IDENTIDADE É MOVIMENTO, É METAMORFOSE, devemos 
entender que a identidade profissional nunca estará pronta; nunca terá uma definição. Estará sempre 
 
1Extraído de: BOCK, Ana Mercês Bahia. A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso 
social. Estud. psicol. (Natal),Natal , v. 4, n. 2, p. 315-329, Dec. 1999 . Disponivel em: http://www.scielo.br/scielo.php? 
. Acesso em: 3 set. 2015. 
acompanhando o movimento da realidade. Penso que nos enganamos quando falamos que não temos 
identidade profissional. Temos sim. Temos uma identidade profissional que reflete a prática importante que 
temos tido, porém elitista, restrita, pouco diversificada e colada às necessidades e demandas de setores 
dominantes de nossa sociedade. Uma minoria que, possuindo condições de comprar nossos serviços, foi por 
muito tempo a única usuária deles. QUEREMOS AGORA DAR A VOLTA POR CIMA E CONSTRUIR UMA 
PROFISSÃO IDENTIFICADA COM AS NECESSIDADES DA MAIORIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, UMA MAIORIA 
QUE SOFRE E QUE LUTA DADAS AS CONDIÇÕES DE VIDA QUE POSSUI. 
Identificar-se com as necessidades de nosso povo e acompanhar o movimento destas necessidades, sendo 
capazes de construirmos, sempre e permanentemente, respostas técnicas e científicas. É este o nosso 
desafio. QUEREMOS ESTAR EM BUSCA PERMANENTE, EM MOVIMENTO SEMPRE. QUEREMOS QUE O 
MOVIMENTO SEJA A NOSSA IDENTIDADE E QUE A INQUIETAÇÃO SEJA NOSSO LEMA. 
 
TEXTO 2 
A PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA E A CRÍTICA À PSICOLOGIA SOCIAL 
TRACIDIONAL 
Conforme já comentado, a Psicologia Comunitária implica em formas de pensar e fazer psicologia voltada 
para a facilitação da conscientização dos grupos com quem trabalha para que eles assumam 
progressivamente seu papel de protagonistas de sua própria história, conscientes dos determinantes 
sociopolíticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados. 
Para refletir: A Psicologia Social Comunitária busca contribuir com a construção da consciência crítica, da 
ética da solidariedade e de práticas cooperativas e autogestionárias a partir da análise dos problemas 
cotidianos da comunidade. 
Mas, para que vocês compreendam essa dinâmica, INICIALMENTE VAMOS ABORDARALGUNS CONCEITOS: 
A psicologia social comunitária emerge da crítica à psicologia social tradicional (também identificada por 
psicologia social psicológica). 
A PSICOLOGIA SOCIAL TRADICIONAL aborda, especialmente, pequenos grupos tendo como principais focos 
de investigação e de intervenção questões relacionadas com o ajustamento social, com as atitudes e os 
estereótipos, assim como as relações interpessoais sem, no entanto, vincular tais processos com seus 
contextos históricos e culturais. Assim, concebe o homem como um ser abstrato e a-histórico e, portanto, 
descontextualizado das condições concretas de vida. 
O distanciamento da Psicologia Social tradicional dos problemas sociais e sua incapacidade de dar respostas 
a estes problemas levaram um grupo de Psicólogos Sociais a questioná-la em seus objetivos, concepções, 
ações e resultados. 
Esse movimento na Psicologia Social defendia a diversidade cultural e enfocava o contexto e a ideologia como 
questões que deveriam ser centrais na área. Preocupava-se também com uma relação mais ativa e 
comprometida dos Psicólogos com os problemas da sociedade. 
Como representantes dessa corrente, temos Martín-Baró (de origem espanhola, mas que viveu muitos anos 
na América Central, em El Salvador), Sílvia Lane (brasileira) e Maritza Montero (venezuelana). Suas obras 
estão voltadas para a construção de uma Psicologia Social crítica, preocupadas com a realidade dos povos da 
América Latina e com os caminhos de mudança dessa mesma realidade. Nessa perspectiva se evidencia a 
participação social e o desenvolvimento da consciência crítica. Atualmente, esta perspectiva é identificada 
por Psicologia Social Crítica ou Psicologia Social Sociológica. Entre as abordagens do âmbito da Psicologia 
Social Crítica, destaca-se a Psicologia Sócio Histórica. 
TEXTO COMPLEMENTAR B 
SUBJETIVIDADE, SUBJETIVAÇÃO E SINGULARIZAÇÃO2 
No imaginário social a subjetividade é algo interior, está dentro de cada um. Com esta concepção fica 
definido um espaço interno, tomado pela subjetividade, e um espaço externo, tomado pelo que não é 
subjetivo, o objetivo, o espaço da vida social. Tem-se uma oposição entre interno (subjetivo) e externo 
(mundo social) e, consequentemente, uma separação entre as experiências sociais e as experiências 
subjetivas, de modo dicotômico. No entanto, pensar na dicotomia interno x externo implicar em 
desconsiderar que a subjetividade é produzida por instâncias individuais, coletivase institucionais, ou seja, 
“a subjetividade é plural”. Dessa forma, não existe uma instância que domine ou determine a outra. Por 
conseguinte, pode-se compreender que a subjetividade não é constituída somente pelo campo pessoal, mas 
é construída, significada e ressignificada no campo dos processos de produção social e material. 
“A subjetividade não é exclusivamente individual e nem exclusivamente coletiva, ela se desenvolve para além 
do indivíduo, junto ao social. Abordar a subjetividade humana desconectada de suas dimensões sociais, 
históricas e culturais pode produzir práticas eivadas de artificialismos” (MENDONÇA, 2007). 
Pensar em subjetividade fomenta a necessidade de refletir sobre processos de subjetivação e de 
singularização. Assim, convido você a pensar sobre tais processos: 
 SUBJETIVIDADE:3é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos 
desenvolvendo e vivenciando experiências da vida social e cultural. É uma síntese que nos identifica, de um 
lado por ser única e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são 
 
2 Extraído de: MENDONÇA, Valquíria Lúcia Melo de. Produção de subjetividade e exercício de cidadania: efeitos da 
prática em psicologia comunitária. Pesquisa e práticas psicossociais, 2(1), São João del-Rei, mar-abr., 2007. Disponível 
em: www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/.../5artigoword.doc. Acesso em: 11 fev. 2016. 
3 Extraído de: BOCK, A.M.B; FURTADO, O.; TEIXIERA, M.S.T. Psicologias: uma introdução à psicologia. São Paulo: 
Saraiva, 2004. 
 
experienciados no campo comum da objetividade social. A Subjetividade é a maneira de sentir, pensar, 
fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. 
É o que constitui o nosso modo de ser: “sou filho de japoneses e militante de um grupo ecológico, detesto 
Matemática, adoro samba e blackmusic, pratico ioga, tenho vontade mas não consigo ter uma namorada. 
Meu melhor amigo é filho de descendentes de italianos, primeiro aluno da classe em Matemática, trabalha 
e estuda, é flamenguista fanático, adora comer sushi e navegar pela Internet.” Ou seja, cada qual é o que é: 
sua SINGULARIDADE E, AO MESMO TEMPO, É PLURAL porque somos influenciados e influenciamos as outras 
pessoas com as quais convivemos ou ainda, em função do momento histórico que singulariza cada grupo. 
EM SÍNTESE: Subjetividade é o mundo das ideias, significados e emoções construídos internamente pelo 
sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é também, fonte 
de suas manifestações afetivas e comportamentais. 
SUBJETIVAÇÃO: é, um modo de ser que é fabricado, produzido, modelado. (subjetividade/indivíduo; 
subjetividade social.***SINGULARIZAÇÃO: como processos de singularização ou ainda novos modos de 
subjetivação. A principal característica do processo de singularização é que ele seja auto modelador, isto é, 
ao invés de ficar na dependência de um poder exterior, globalizado, construir seus próprios tipos de 
referências e práticas. Se os grupos adquirem essa liberdade, têm a capacidade de autogerir sua própria 
situação, com a possibilidade de criação, sendo possível desenvolver sua autonomia. Importante é realçar 
que, alienação ou criação são processos, nunca aquisições definitivas. Isso significa que um indivíduo ou 
coletivo pode alternar momentos-processos de alienação ou criação – nada é definitivo 
O indivíduo é “uma realidade histórico social que se encontra fortemente enraizado em um processo cultural 
que lhe é próprio, em um modo de vida social peculiar, em uma estrutura social de classes e em um 
determinado espaço histórico, geográfico, social, cultural, econômico, simbólico e ideológico”; compreende 
o indivíduo vivendo em uma dada realidade concreta, físico-social, participando de uma rede de relações 
sociais complexas (mais além do interpessoal e do grupal) de uma sociedade de classes historicamente 
determinada. 
O ENTORNO SOCIAL E CULTURAL É FONTE TANTO DE CONFLITOS COMO DE SOLUÇÕES. ISTO É, IMPÕE 
LIMITAÇÕES, MAS TAMBÉM APORTA RECURSOS. (MUSITU 2004, p.19) 
É essencial que não nos centrarmos mais unicamente no indivíduo (MUSITU, 2004), mas sim é fundamental 
voltar o olhar para o entorno social e cultural, pensando de que forma este contexto contribuiu para a 
formação daquele indivíduo em particular. ENTENDENDO QUE É EXATAMENTE ESTE ENTORNO QUE IRÁ DAR 
OS SUPORTES NECESSÁRIOS E TAMBÉM AS DIFICULDADES INEVITÁVEIS PARA A FORMAÇÃO DE UMA PESSOA 
ENQUANTO CIDADÃO. 
- Ao se fazer ciência, é necessária a participação da comunidade. A prática do psicólogo comunitário está 
mais voltada para o desenvolvimento de potencialidades e recursos do que em sanar déficits, buscando, 
sempre a potencialização da comunidade. Tem como meta, a transformação social. Sobre isso diz Lane (1996) 
“desenvolver grupos que se tornem conscientes e aptos a exercer um autocontrole de situações da vida 
através de atividades cooperativas e organizadas” (2004, p. 25). 
Diferentemente das intervenções participativas e dirigidas, uma perspectiva situada de intervenção social 
não “encara” os problemas sociais a partir de um conhecimento especializado, mas sim implica em ações 
coletivas em prol de um objetivo comum, socialmente definido. Essas ações envolvem as vidas das pessoas, 
as relações, discursos e práticas sociais, com uma visão do social mais anarquista (MONTENEGRO, 2001). 
TEXTO COMPLEMENTAR C: APESAR DE COMPLEMENTAR -> VALE A PENA LER 
Ações assistencialista e a perpetuação da população assistida na situação de “assistidos”4 
[...] Temos que salvá-los. Salvá-los da bebida, da preguiça, da desorganização, da ignorância, do 
subdesenvolvimento, da desnutrição, das pestes, da falta de higiene, da desinformação, da rua, das drogas, 
da morte. Nos regozijamos com nossa bondade e solidariedade. Até os tratamos de igual para igual, não é 
mesmo? Somos como gênios da lâmpada: "Faça seu pedido e ele será satisfeito!!!" E eles pedem e nós 
oferecemos: pedem comida, roupas, passagens de ônibus, consultas em hospital, remédios, dinheiro... 
Nós oferecemos porque a ideia básica é não deixar ninguém totalmente desamparado e, portanto, aliviar a 
sua miséria, a sua falta de esperança. E, partindo dos nossos valores e estilos de vida, nos deduzimos que 
necessitam de um bom banho, de um médico, de educação, de um emprego…. 
Mas, com o tempo constatamos: eles não reconhecem a importância de nossa ajuda: não querem mudar e, 
por isso, cada vez pedem mais coisas. E, perguntamos: Por que não aproveitam as oportunidades que 
oferecemos? Para essa pergunta, emergem diferentes respostas, como por exemplo, “são ingratos!” ou “são 
preguiçosos”: preferem esperar que alguém resolva os seus problemas. 
No entanto, caberia perguntar: Será que ao oferecer coisas e serviços, atendemos apenas a nossa demanda 
de ofertar? Será que ao “fazer de nosso desejo, o desejo deles, produzimos (e, naturalizamos) a passividade 
e por isso, eles não aproveitam as oportunidades que lhes oferecemos? ” 
Para sair desse impasse que tal refletir acerca da seguinte dinâmica: Ao querer levar nossos ideais até outros, 
fazemos da demanda, além de invertida, infinita - pois ninguém conseguirá sustentar este lugar de provedor 
incondicional.... Enquanto se pensar em assistência social como repasse de recursos, sempre estaremos 
lidando com recursos finitos para uma demanda infinita. 
Quando encerram-se os recursos, àqueles que nos procuram, nada temos a dar - a não ser um sorriso 
amarelo, e uma esperança: "volta daqui um tempo, vou colocar teu nome na lista de espera..." Assim, 
novamente, cabe perguntar: as nossas intervenções provocaram mudanças significativas na qualidade de 
vida das pessoas assistidas ou apenas fortaleceram no imaginário destas pessoas que, elas devem esperar 
que alguém as ajude? 
 
4 Texto extraído de: RAMMINGER, Tatiana. Psicologia comunitária X assistencialismo: possibilidades e limites.Psicol. 
cienc. prof., Brasília , v. 21, n. 1, p. 42-45, Mar. 2001 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci. 
Acesso em: 17 mar. 2017. 
 
TEXTO 3 
INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO ÂMBITO COMUNITÁRIO5: considerações históricas 
 
-Na década de 40 e 50 do século XX, o Brasil passava por transformações em seu modelo produtivo, saindo 
do agropecuário e passando para o agroindustrial. Essa mudança demandava um rearranjo na mão-de-obra 
e para isso ‘trabalhos em comunidades’ precisaram ser realizados visando preparar a população para a 
realização de tarefas adequadas ao novo modelo econômico. A intenção era educativa, buscando um 
trabalho em comunidades, com o objetivo de integrar a população ao programa de modernização que o 
contexto econômico demandava. 
Essa primeiras experiências práticas estiveram associadas, portanto, à educação popular, à medicina 
psiquiátrica comunitária e sempre sob a proteção e orientação do Estado. Sua tese sociológica central era a 
crença na modernização cultural e econômica, como via de progresso, através de reformas de base na 
agricultura, indústria e nos valores e atitudes da população. (SAWAIA, 1996, p. 45) 
Naquele momento histórico, esses trabalhos em comunidade, sem dúvida, ATENDIAM A INTERESSES 
GOVERNAMENTAIS(embora fosse uma prestação de serviços do governo junto à população, atendia, antes 
de tudo, à preocupação do governo quanto ao desenvolvimento econômico do país, tendo, portanto, um 
caráter PREDOMINANTEMENTE ASSISTENCIALISTA E PATERNALISTA). 
- A década de 1960 foi marcada por FORTES CONFRONTOS ENTRE ESTADO E POPULAÇÃO, tendo de um lado 
o recrudescimento dos mecanismos de controle repressivo e, de outro, reivindicações de necessidades 
básicas, que se davam via manifestações populares. 
Em OPOSIÇÃO AO REGIME MILITAR, A EDUCAÇÃO, COMO FOI PENSADA POR AUTORES COMO PAULO FREIRE, 
foi a via utilizada para que fosse possível promover o desenvolvimento DE UMA CONSCIÊNCIA CRÍTICA DA 
POPULAÇÃO, para que esta pudesse se posicionar no quadro social que o país apresentava, reivindicando de 
forma consistente e consciente os direitos que julgava necessários para o exercício de sua cidadania. 
Embora tais mudanças tenham ocorrido em pequenas proporções, foi o suficiente para que despertasse na 
população e nos acadêmicos, estudiosos das questões sociais - dentre eles o psicólogo, o interesse por 
mudanças políticas e sociais. Tratava-se de demandas sociais causadas a partir de um movimento sócio 
histórico. Neste contexto, MUITOS PSICÓLOGOS SAEM DOS CONSULTÓRIOS (onde atendiam, de forma 
individual e curativa a uma pequena clientela (composta por grupos economicamente privilegiados) e são 
 
5 FREITAS, Maria de F. Quintal de. Inserção na comunidade e análise de necessidades: reflexões sobre a prática do 
psicólogo. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 11, n. 1, p. 175-189, 1998.Disponivel em: 
http://www.scielo.br/scielo. Acesso em:3 set. 2015. 
fomentadas novas práticas VOLTADAS PARA O ATENDIMENTO DA POPULAÇÃO EXCLUÍDA EM ASSOCIAÇÕES 
DE BAIRROS, CRECHES COMUNITÁRIAS E SINDICATOS. 
Especialmente na década de 1970, havia um trabalho voltado para a militância e participação políticas. Não 
havia, por parte dos profissionais, uma preocupação “com o crescimento das práticas educativas e de 
conscientização e libertação” (ANDERY, 1994, p. 209), pois, ‘como’ e ‘com que’ instrumentos o trabalho seria 
realizado, era uma preocupação secundária. Preocupavam-se com recrutamento de pessoas em apoio a um 
determinado ideal partidário. Tratava-se de um ativismo político. 
Assim, nesse período encontramos duas vertentes: Ativismo político e filantropia (benefício, amparo, 
assistencialismo). 
A PARTIR DAS CRÍTICAS DIRIGIDAS TANTO À VERTENTE “MILITÂNCIA” QUANTO À “FILANTRÓPICA”, OUTRA 
POSSIBILIDADE FOI SENDO CONCEBIDA: Uma proposta orientada pela preocupação de possibilitar mudança 
na realidade cotidiana da população, que caracteriza uma nova forma de inserção na comunidade. Esta nova 
forma de saber-fazer psicologia comunitária defende a subjetividade não seria somente do campo pessoal, 
mas do campo dos processos de produção social e material. 
Tal proposta aponta para uma organização da própria população para criar e buscar em torno de si, suas 
próprias condições (seu próprio poder e saber) para se autogestionar. A população não é vista nem como 
desamparada nem como desvalida. A proposta aqui “significa descobrir que a população é diferente sim, 
diferente dos padrões e previsões tradicionalmente científicas, sendo mais lutadora e sobrevivente do que 
tem sido considerada pelos centros de investigação” (Freitas, 1998, p. 183). Em outas palavras: defende que 
o problema nunca é somente individual, mas causado pela estrutura social, econômica e política. 
 
EM SÍNTESE: A inserção do psicólogo na comunidade pode ser orientada por diferentes motivos: militância, 
curiosidade, assistencialismo/filantropia e compromisso social direcionado para mudanças nas condições de 
vida. 
a) Militância (especialmente na década de 1970) os profissionais inseriram-se nos bairros de periferia e nas 
favelas dos grandes centros, tentando negar a sua origem cultural e de classe. Era importante fazer algo, 
colaborar para a organização e mobilização dos setores oprimidos. Como e com que instrumentais 
constituíam-se em questões, na época, de importância secundária. Tratava-se de uma inserção guiada por 
uma preocupação de que o trabalho estivesse voltado para a militância e participação políticas. 
Surgem: Os centros comunitários de saúde mental. ** Educação popular: Paulo Freire – alfabetização de 
adultos como instrumento de conscientização. Assim, sobre rótulo de psicologia social comunitária, 
emergem práticas voltadas para: (A) prevenção da saúde mental, unindo psicólogos, psiquiatras e assistentes 
sociais. (B) educação popular com a participação de pedagogos, psicólogos, sociólogos e assistentes sociais. 
b) Filantropia e fornecimento de assistência psicológica mais acessível ou gratuito: voltado para a melhoria 
das problemáticas das pessoas. De um lado, estaria a população que necessita de tratamento e/ou 
orientação psicológica e, de outro, o psicólogo oferecendo sua ajuda, preocupado em implantar serviços e 
estratégias psicológicas, para que a população melhor se adapte às exigências societais ou que, pelo menos, 
aprenda a minimizar seus problemas e sofrimentos. 
c) Curiosidade em conhecer “as populações desfavorecidas”. Universitários passaram a caminhar nos bairros 
populares fazendo entrevistas, questionários, aplicando escalas e vários outros instrumentos importados de 
outros contextos e modelos. A inserção acontece com uma preocupação da ordem da curiosidade científica. 
d) INSERÇÃO ORIENTADA PELO COMPROMISSO DE QUE O TRABALHO DEVE POSSIBILITAR MUDANÇA DAS 
CONDIÇÕES VIVIDAS cotidianamente pela população, ao mesmo tempo em que esta população é quem 
estabelece os caminhos e aponta as suas necessidades prementes. Trata-se de uma inserção que se dá na 
dependência de a população comprometer-se com a possibilidade de mudança social e construção de 
conhecimento. 
As comunidades surgem do simples fato de vivermos em simbiose, isto é, de viverem juntos num mesmo 
habitat indivíduos tanto semelhantes quanto diferentes e da ‘competição cooperativa’ em que se 
empenham. As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são relações igualitárias, 
que se dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Essas relações implicam que todos possam 
ter vez e voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade, onde as diferenças sejam respeitadas. E 
mais: as relações comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva, implicam que as 
pessoas sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009). 
A psicologia social ao qualificar-se de comunitária, hoje, explicita o objetivo de colaborar com a criação desses 
espaços relacionais,que vinculam os indivíduos a territórios físicos ou simbólicos e a temporalid ades 
partilhadas num mundo assolado pela ética do “levar vantagem em tudo” e do “é dando que se recebe”. 
Esses espaços comunitários se alimentam de fontes que lançam a outras comunidades e buscam na 
interlocução da fronteira o sentido mais profundo da dignidade humana. Enfim ela delimita seu campo de 
competência na luta contra a exclusão de qualquer espécie. (SAWAIA, 1994). 
Para reflexão: o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, 
com relações grupais – vínculo essencial entre o indivíduo e a sociedade – e com as emoções e afetos próprios 
da subjetividade, para exercer sua ação à nível de consciência, da atividade e da intensidade dos indivíduos 
que irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade. 
Estratégias de inserção do psicólogo no âmbito comunitário 
Duas modalidades de inserção: (1) Com objetivos do trabalho definidos a priori(a partir dos objetivos, 
motivos e preocupações que orientam o psicólogo - antes mesmo deste conhecer a realidade em que 
pretende trabalhar- . (2) Com objetivos definidos aposteriori: o contato e a entrada que o psicólogo 
constrói na comunidade acontecem orientados pelas necessidades que a população vive. 
Possíveis consequências de cada tipo de inserção: 
(1) A priori: torna-se mais fácil e menos incerto identificar os fenômenos psicossociais e os instrumentais que 
devem ser utilizados. O papel do psicólogo não é questionado e a comunidade é vista e se assume como 
imutável, tendo uma vida e uma dinâmica de relações já dadas e prontas, fortalecendo assim o conformismo 
e a passividade, adotando uma posição de mera receptora dos serviços e benefícios fornecidos pelo 
psicólogo. 
(2) A posteriori: uma inserção que lida com o domínio das incertezas e poderá acontecer de duas maneiras: 
(a)A incerteza sobre o quê e como fazer e o desconhecimento sobre as necessidades e a vida da população 
existem apenas nos primeiros contatos. À medida que tais informações vão sendo obtidas,vão se 
delimitando aspectos e fenômenos, tais como temáticas possíveis para o desenvolvimento do trabalho de 
intervenção. Neste momento, cessa a participação da população, minimizam-se as incertezas para o 
profissional e, consequentemente, garantindo uma especificidade da sua atuação. (b) Os objetivos são 
delimitados dentro de um processo decisório participativo, em que tanto profissional como comunidade e 
seus representantes, estabelecem relações horizontais de discussão, análise e definição sobre as 
problemáticas a serem consideradas e as possibilidades de resolução e/ou enfrentamento para as mesmas. 
TEXTO COMPLEMENTAR D6 
INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NA COMUNIDADE: instrumentos e estratégias (leitura facultativa) 
- O trabalho de entrada do psicólogo na comunidade depende de: Momento inicial: contatos e 
conhecimentos que faz quando se depara com a realidade concreta dos setores populares;intermediários, 
individuais e/ou coletivos, que procuram o profissional de psicologia, geralmente com uma expectativa de 
que ele faça algum tipo de atendimento individual para as problemáticas vividas no contexto comunitário; 
 tentativas em que o próprio psicólogo faz de se fazer conhecer junto à comunidade ou aos seus 
representantes, orientadas pela preocupação de que é necessário colocar seus serviços à disposição desses 
setores. Neste tipo de contato, está implícita a aceitação de se submeter à avaliação sobre a necessidade do 
seu trabalho, com o risco de haver algum tipo de recusa. Depois de estabelecida a entrada: inicia-se um 
processo contínuo de obtenção de informações e de interações, em que o profissional está, de um lado, 
exercendo atividades que derivam da sua especif icidade profissional, e de outro, sendo, de alguma maneira, 
também observado, registrado e avaliado pelos moradores daquele lugar. 
- Instrumentos utilizados e/ou construídos nas situações que se apresentam quando do desenvolvimento 
do trabalho:  entrevistas que muitas vezes são realizadas de maneira coletiva com um número variável de 
participantes do início ao fim;  conversas informais acontecidas em estabelecimento comerciais, pontos 
de ônibus, caminhando nas ruas, cujos conteúdos vão fornecendo indícios sobre a dinâmica existente na 
comunidade e sobre o tipo de interação e vínculo que os moradores vão criando; visitas às casas e 
participação em alguma festividade/evento; registros de acontecimentos e/ou episódios significativos em 
diários de campo, acompanhados de apreciações sobre as interações, as problemáticas vividas e as 
 
6 FREITAS, Maria de Fatima Quintal de. Inserção na comunidade e análise de necessidades: reflexões sobre a prática 
do psicólogo. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 11, n. 1, p. 175-189, 1998 . Disponível 
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script>. Acesso em: 20 set. 2015. . 
alternativas de ações encontradas pelas pessoas; recuperação da história de constituição da comunidade 
através de fontes vivas, como pessoas significativas, lideranças formais e informais, representantes de 
entidades, igrejas e templos, entre outros; resgate de documentos do saber popular e uso de fotografias 
e/ou objetos e/ou produções oriundas da produção cultural local; encontros não programados, reuniões 
imprevistas e debates repentinos acontecidos no seio dos grupos formais e informais. Tais estratégias 
objetivam: coleta de informações sobre a vida, condições de moradia e sobrevivência, recuperação histórica 
da construção daquela comunidade; identificação de necessidades e problemáticas vividas pela população 
na esfera do seu cotidiano, em termos de processos psicossociais que afetam as pessoas;  detecção dos 
modos alternativos de enfrentamento e resolução, encontrados pelos moradores no seu cotidiano e nas 
relações estabelecidas;  discussão conjunta, com a comunidade e seus representantes, sobre as 
alternativas, e decisão sobre aquela a serem adotadas, assim como sobre as estratégias para sua viabilização; 
 constituição dos grupos para a execução das alternativas; e  avaliação contínua e reformulação dos 
caminhos adotados, em função das necessidades e impedimentos que se apresentarem ao longo do trabalho. 
TEXTO 4 
O TRABALHO DO PSICÓLOGO NA COMUNIDADE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA 
Kairon Pereira de Araújo Sousa7 
 
O TRABALHO DO PSICÓLOGO NA COMUNIDADE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA 
Kairon Pereira de Araújo Sousa8 
RESUMO: Este artigo tem como objetivo expor um relato de experiência no campo da psicologia comunitária, 
servindo para contribuir com as discussões sobre o fazer do psicólogo na comunidade. Para tanto, serão 
apontados os trabalhos que realizamos em uma comunidade na cidade de Floriano-PI durante o mês de 
novembro a dezembro de 2011. 
PALAVRAS-CHAVE: Comunidade, Psicologia Comunitária, Relato de Experiência. 
Introdução 
A psicologia comunitária, no Brasil, tem como contexto o período marcado pela ditadura militar. Com a 
oficialização da psicologia como profissão por volta do ano de 1962, pouco tempo antes da instalação do 
regime militar propriamente dito, a psicologia, nessa fase, tem sua prática voltada para um atendimento 
individual, mantendo o status da ideologia dominante, sendo caracterizada como uma práxis elitista. Como 
destaca Scarparo e Guareschi (2007, p.100), “na época, as práticas psicológicas se consolidaram sob a 
influência de ideologias desenvolvimentistas [...]”. Nesse sentido, como ainda apontam as autoras, “o 
 
7 Bacharel em psicologia (UESPI), com especialização em saúde da família (CEAD/UFPI). 
8 Bacharel em psicologia (UESPI), com especialização em saúde da família (CEAD/UFPI). 
trabalho do psicólogo era definido a partir da clínica individual, da tarefa de avaliação psicológica e do 
acompanhamento de dificuldades de aprendizagem nas escolas” (SCARPARO; GUARESCHI, 2007, p.100). 
Como se pode notar,o fazer psicologia, nesse contexto, atendia as necessidades estabelecidas pelo regime, 
através de uma atuação tradicional baseada no modelo da clínica médica, cujo foco era o atendimento 
individualizado, desconectado do contexto sociocultural. Senso assim, as reflexões acadêmicas acerca do 
social eram muito restritas. Somente por volta da década de setenta, começam a surgir às primeiras 
intervenções da psicologia abrangendo o contexto comunitário. Segundo Scarparo e Guareschi (2007, p.101): 
Tais registros referiram-se à participação de psicólogos em trabalhos associados à esfera 
da educação e da saúde mental, especialmente no âmbito da prevenção. As ações eram 
inspiradas na psiquiatria comunitária, um ramo da psiquiatria social voltado para o 
atendimento à saúde mental de integrantes de comunidades 
Com o enfraquecimento do movimento militar e mobilização da população pelo fim da repressão, no cenário 
da psicologia, também surgiram manifestações de intelectuais que buscavam repesar a forma de se fazer 
psicologia, questionando sua atuação centralizada, que se ausentava das responsabilidades sociais. 
Conforme refere Campos (1996, p.17), “esta preocupação é mais sentida na universidade, quando a partir 
do movimento de 1968, questionando o ensino e a academia, é desenvolvida uma reflex ão crítica sobre seu 
papel”. Dessa maneira, a psicologia comunitária, como verifica Ornelas (1997, p.375), surge “[...] no decurso 
de um período de grandes transformações, não somente na área da Saúde Mental, mas também na 
sociedade em geral”. Assim, tomando como base os conhecimentos da psicologia social, “a Psicologia 
Comunitária dedica-se a estudar, compreender e intervir no cenário de questões psicossociais que 
caracterizam uma comunidade” (SCARPARO; GUARESCHI, 2007, p. 103). A psicologia comunitária pode ser 
definida, como aponta Góis (1993 apud CAMPOS, 1996, p.11) como: 
uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de 
vida do lugar/comunidade, estuda o sistema de relações e representações, identidade, 
níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos 
grupos comunitários [...]. 
O trabalho do psicólogo comunitário em uma comunidade visa sobremaneira à formação de uma consciência 
crítica da própria população, que nesse processo, participa de forma ativa na identificação e na resolução de 
suas necessidades principais. Campos (1996, p.10) destaca que: 
tipicamente os trabalhos comunitários partem de um levantamento das necessidades e 
carências vividas pelo grupo-cliente [...]. A seguir, utilizando-se métodos e processo de 
conscientização, procura-se trabalhar com os grupos populares para que eles assumam 
progressivamente seu papel de sujeitos de sua própria história, conscientes dos 
determinantes sócio-políticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os 
problemas enfrentados 
Com base nesse exposto, o presente trabalho descreve todas as etapas da atividade de extensão 
desenvolvida, no campo da psicologia comunitária, em uma comunidade residente no final da Rua 7 de 
Setembro, bairro São Cristóvão, na cidade de Floriano-PI, durante o mês de novembro e dezembro de 2011. 
Para tanto, iniciaremos apontando a descrição do local de intervenção (localização, histórico do local), e logo 
em seguida as atividades desenvolvidas (contato inicial: apresentação à comunidade; levantamento das 
necessidades; discussão das problemáticas do local- apresentação de sugestões; encontros seguinte - Ação - 
identificação de novas demandas; realização de dinâmica; último encontro). 
2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DA INTERVENÇÃO 
2.1 Localização: A comunidade, na qual foi realizado o trabalho está situada na Rua 7 de Setembro, no bairro 
São Cristovão, Floriano- PI, CEP: 64800-000, tendo como ponto de referência o pesque pague. É um trecho 
final dessa rua, composto pelo total de 20 casas. 
2.2 Histórico do local: Esse bloco de casas, no final da Rua 7 de Setembro, começou a ser construído por 
volta de abril de 2010, por uma empresa de construções, que comprou a área de cerca de 150 metros, 
construindo inicialmente duas casas que serviram de base para a construção das demais. As primeiras casas 
foram entregues no mês de novembro do mesmo ano. As outras foram concluídas no começo da primeira 
metade de 2011. A venda dessas residências foi efetuada em parceria com a Caixa Econômica Federal, 
através do Programa Minha Casa Minha Vida. São casas compostas pelo total de 7 cômodos, algumas com 
cômodos a menos, devido modificações realizadas a pedido dos moradores. Além disso, possuem quinta e 
um espaço para um jardim. 
Por ser uma comunidade nova, não dispunha ainda de calçamento e iluminação pública. 
3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: Foram desenvolvidas atividades variadas nessa comunidade. Para tanto, 
partimos de uma observação sobre o local de estágio. Procuramos conhecer um pouco da história desse 
lugar: como surgiu a comunidade? Quantas famílias moram na mesma? Nesse sentido, conversamos, com 
um dos moradores que há onze anos vive na região, e a partir das informações fornecidas por ele, tivemos 
uma visão mais detalhada da comunidade. Como se tratava de uma parte nova, formada ao todo por 20 
casas, foi por meio do morador que obtivemos acesso aos demais. Assim, a primeira etapa desse trabalho 
consistiu em uma análise do lugar. Posteriormente, fomos dando início aos trabalhos com encontros 
periódicos que variavam em decorrência das ocupações dos moradores e, como forma de mantermos os 
encontros, fomos adaptando as reuniões de acordo com as necessidades do coletivo. 
3.1 Contato inicial: Apresentação a comunidade Nosso primeiro encontro ocorreu no dia 12 de novembro 
de 2011, às 14 horas da tarde, sendo realizado na casa de um dos moradores da comunidade, tendo 09 
participantes, com duração de 1 hora e 30 min. Iniciamos a atividade nos apresentando ao grupo e pedindo 
a eles que também se apresentassem, como forma de gerar interação entre os participantes. Logo após 
falamos um pouco sobre nossos objetivos em relação à comunidade, explicando do que se trata a psicologia 
comunitária e como funcionaria as ações desenvolvidas com eles. Expomos um pequeno vídeo (7 min) da 
própria comunidade, fazendo um resgate da história do lugar. 
Também apresentamos outro vídeo (7min) com o tema “O problema não é meu”, produção American Media, 
que apesar de ser em forma de desenho animado, continha uma mensagem muito rica para o propósito da 
atividade. Esse vídeo mostrava uma comunidade que tinha um problema, representado por um pequeno 
fogo que começou após alguém atirar um instrumento com fogo no mato que cercava a comunidade (uma 
organização). As pessoas viram o problema, mas ninguém tomava a iniciativa de solucioná-lo, desse modo, 
o problema foi crescendo, enquanto um e outro de afastava da responsabilidade. Finalmente, quando o fogo 
já estava para destruir a comunidade, enquanto eles brigavam entre si a respeito de quem deveria ou era o 
responsável por solucionar a dificuldade, um cachorrinho solta um assobio e mostra a eles um cartaz “assuma 
sua responsabilidade”. Nesse momento, pararam e perceberam que o problema era de todos e que somente 
cada um fazendo sua parte, assumindo a sua responsabilidade, poderiam juntos solucionar o problema e 
assim o fizeram. Foi a partir dessa temática “assuma sua responsabilidade”, que refletimos com os moradores 
a respeito da função de cada um na comunidade, ou seja, que eles são agentes transformadores da realidade 
do lugar em que vivem. Em seguida, iniciamos a discussão das necessidades da comunidade. 
3.2 Levantamento das necessidades: Percebemos durante as discussões o entusiasmo dos moradores que 
foram expondo seus pontos de vista acerca das problemáticas do lugar. Deixamo-los à vontade para 
discutirem essas necessidades, fazendo intervenções apenas quando necessário. Às vezes, fazíamos feedbackutilizando o vídeo. Nesse momento de levantamento das necessidades da comunidade, eles apontaram 
como problemas a serem trabalhados: o calçamento da rua, a iluminação (problema com uma das lâmpadas 
dos postes), o lixo (logo ao lado da comunidade, caminhos despejam lixo em um terreno, o que gera mau 
cheiro e atraia animais, até mesmo mosquito da dengue), presença de mato ao redor das casas (que serve 
de esconderijo para animais) e a circulação de caminhões carregados de areia, de uma empresa, que 
danificava ainda mais a rua, além da possível instalação de um depósito dessa me sma firma próximo às casas, 
que com o peso dos caminhões que passariam mais próximo das residências, colocaria a estrutura das 
mesmas em risco. Algumas das casas, segundo os moradores, com a circulação diária de caminhões e 
tratores, estavam com rachaduras nas paredes. 
3.3 Discussão das problemáticas do local - apresentação de sugestões: Ainda no primeiro encontro, 
discutimos com os moradores planos estratégicos para a solução das demandas destacadas. Utilizando o 
vídeo anterior, demonstramos que a identificação de um problema não costuma ser difícil (como verificado 
no filme), porém, precisaríamos, já que foram mencionadas as dificuldades, que agora eles formulassem 
possíveis respostas ao problema. A comunidade começou a buscar os meios para vencer suas problemáticas. 
Verificamos que essa parte foi a mais difícil. Perguntamos a eles se tinham compreendido o que estávamos 
pedindo. E, para ajudarmos voltamos a utilizar cenas do vídeo, explicando como a comunidade mencionada 
no filme fez para contornar sua problemática. Feito o esclarecimento, diversas opiniões começaram a surgir, 
e a própria comunidade foi fazendo, a partir da análise dos prós e contras, a seleção dos meios mais precisos 
de se atingir os resultados almejados. O quadro abaixo contém as estratégias elaboradas: 
Tabela 1 – Estratégias elencadas como forma de solucionar os dilemas da comunidade. 
PROBLEMA SOLUÇÃO 
CALÇAMENTO Comunicar às autoridades acerca das dificuldades que os moradores atravessam 
(poeira, lama etc.) devido a falta de calçamento. Solicitar a pavimentação da rua. 
LIXO Pedir à prefeitura que tome providência em relação ao despejo incorreto de lixo 
naquele lugar. Fiscalização pelos moradores para não deixar outras pessoas 
depositarem lixo no local 
ILUMINAÇÃO Como apenas um dos postes, há alguns meses, estava com a lâmpada queimada 
e a prefeitura havia informado aos moradores que estava aguardando a chegada 
de várias lâmpadas com outros equipamentos para fazer a troca em toda a 
cidade. Os moradores das quatro primeiras casas, que são os mais prejudicados 
com a falta da iluminação, decidiram comprar as lâmpadas juntos e pedir à 
prefeitura que realizasse a instalação. 
MATO EM FRENTE ÀS 
CASAS 
O mato em frente às residências, ao mesmo tempo em que era um problema 
individual (de cada morador), também se tornava coletivo, porque nele residiam 
vários animais (mosquitos, sapos, aranhas etc), representando um perigo para a 
coletividade. Dessa forma, eles decidiram que cada um faria a limpeza de sua 
área, tendo assim, no final um resultado coletivo. 
CIRCULAÇÃO DE 
VEÍCULOS PESADOS 
COM DANIFICAÇÃO 
DAS RUAS 
Como na comunidade, diariamente passam caminhões carregados de areia 
subtraída do rio, prejudicando ainda mais a rua (em função do peso dos veículos, 
várias vezes o cano de água foi quebrado, deixando os moradores sem água). Foi 
sugerido uma conversa com o proprietário dos veículos para que ele utilizasse 
sua frota e no final de semana tampasse os buracos, fazendo o planeamento. 
 
3.3 Encontros seguintes: 
3.3.1 Ação no segundo encontro (19/11/2011/ às 14 horas): revisamos com os moradores, agora em um 
número maior, as atividades desenvolvidas na reunião anterior. Depois, pedimos para eles que relatassem o 
que a comunidade havia realizado tendo como base as estratégias elaboradas. 
Em relação à iluminação, os moradores próximos ao poste com a lâmpada queimada, não precisaram 
comprá-la, porque, o secretário de infraestrutura da prefeitura enviou uma equipe de funcionários para fazer 
a instalação. 
No caso do lixo, a prefeitura executou a limpeza do lugar, afastando o lixo próximo às residências, colocando 
uma placa com o aviso “proibido jogar lixo”. 
A respeito do mato, cada morador fez a limpeza da frente da casa, deixando a área mais limpa. 
Quanto à circulação dos veículos, o proprietário cooperou com a comunidade tampando os buracos da rua. 
Continuamos o encontro fazendo a exposição de uma minipalestra sobre o lixo depositado em lugares 
incorretos. Finalizamos com um vídeo que mostrava a superação das dificultadas em conjunto (trechos do 
filme: Desafiando Gigantes). 
3.3.2 Identificação de novas demandas: Nesse encontro (26/11/2011/ às 15 horas), iniciamos com o 
feedback sobre o vídeo anterior e discutimos com a comunidade novas demandas que porventura eles 
queriam trabalhar. Foi mencionada a possibilidade de a comunidade buscar o saneamento básico, uma vez 
que o esgoto das casas não tem por onde escorrer. Além, da questão de normalizar o serviço de coleta do 
lixo, que no início passava duas vezes por semana no lugar (terças e quintas), entretanto, há alguns dias o 
carro do lixo estava passando apenas durante as terças e sábados (um prazo muito extenso que gerava 
acumulação de lixo). 
 Diante desse exposto, pedimos a eles que novamente tentassem formular solução para essa nova 
problemática. 
Terminamos o encontro, com a proposta dos moradores de procurarem os responsáveis pela limpeza e 
solicitarem a disponibilização do serviço durante os dias da semana propostos por eles. 
 3.3.3 Realização de dinâmica: No quarto encontro (3/12/2011/ às 17 horas), realizamos uma dinâmica com 
os moradores. Dividimo-los em duas equipes, e pedimos que utilizando os materiais fornecidos (cartolina, 
cola, lápis de cor e tesoura), tentassem montar um castelo em tempo mínimo, tendo no máximo 10 minutos 
para concluir a tarefa. Cada grupo recebeu material, porém, um dos grupos recebeu cartolina, lápis de cor e 
tesoura, enquanto o outro, cartolina, cola e lápis de cor. O objetivo da tarefa era fazer com que ao 
perceberem a falta de determinado instrumento, que o outro grupo dispunha, eles, de modo a concluir a 
tarefa, cooperassem entre si, fornecendo um ao outro o instrumento que estava faltando. 
Após a realização da dinâmica, realizamos o feedback, mostrando novamente a importância de se trabalhar 
em grupo, destacando aspectos importantes, como a liderança, o trabalho colaborativo etc. Falamos da 
possibilidade de convidar o secretário de infraestrutura para conversar com a comunidade. 
3.3.4 Último encontro: Nosso último encontro com a comunidade (13/12/2011/ às 17 horas) foi marcado 
por uma conversa entre moradores e o secretário de infraestrutura do município, sobre algumas 
necessidades da comunidade. O assunto tratado foi à questão do calçamento. 
Os moradores apontaram as dificuldades em relação à falta de calçamento na rua, e sobre a questão do lixo 
e da ação da empresa que estava se instalando de forma inadequada na área, executando desmatamento de 
uma região de reserva florestal. Logo em seguida, o secretário, apresentou as propostas de intervenção, 
estipuladas pela secretária de infraestrutura do município. 
Sobre o calçamento, afirmou que em reunião com o prefeito municipal, ficou estabelecido que essa região 
seria a primeira a receber o calçamento a partir do ano seguinte. Ele estabeleceu um prazo com a 
comunidade para terminar a obra (até junho de 2012), mas enquanto a pavimentação não era iniciada, o 
secretário se dispôs a enviar uma equipe com máquinas, para fazer o planeamento da rua, restaurando os 
buracos, além disso, comprometeu-se de entrar em contato com a secretária do meio-ambiente para 
denunciar o desmatamento ilegal, executado pela empresa na região. Em relação ao lixo,solicitou a 
participação dos moradores, para que ao verem algum veículo depositando lixo na área próxima às casas, 
anotassem a placa do veículo, informando as autoridades municipais, já que a prefeitura colocou um anúncio 
na área pedindo as pessoas para não jogarem lixo no lugar. 
Depois de revisarmos todos os trabalhos desenvolvidos ao logo desses encontros com os moradores, 
apontando as conquistas que os mesmos tiveram durante o processo. Solicitamos a eles que fizessem um 
feedback sobre o trabalho realizado: o que esses encontros tiveram de positivo para a comunidade? O que 
gostariam que tivesse sido trabalhado e que não foi realizado durante nosso trabalho no lugar? 
Depois de ouvi-los, finalizamos o trabalho agradecendo aos moradores pela colaboração e destacando que 
o trabalho iniciado poderia ser continuado pela comunidade, que nós apenas tivemos uma iniciativa, mas 
que eles agora como verificado no trabalho, são sujeitos ativos no desenvolvimento e conquistas de novos 
objetivos para a comunidade. 
4. CONCLUSÃO 
O trabalho de intervenção, na comunidade, ocorrido durante a disciplina de psicologia social-comunitária do 
curso de psicologia da UESPI, Campus de Floriano-PI, permitiu um contato mais próximo com o ambiente de 
atuação do profissional da psicologia comunitária (a comunidade). Momento em que foi possível estabelecer, 
não apenas uma postura crítica, mas também uma reflexão de como ocorre à prática profissional nesse setor 
da psicologia. Ao mesmo tempo, foi possível relacionar teoria e prática itens indispensáveis a uma formação 
mais sólida. 
 A realização desse trabalho na comunidade nos levou a um questionamento a respeito da própria ciência 
psicológica que se trata de uma área muito ampla, com diversas secções, e a psicologia comunitária surge 
como uma nova forma do fazer psicologia, e apesar de ser um setor novo, vem crescendo muito no país, 
sobretudo, com as novas formas de trabalho com as comunidades. 
Ficamos deslumbrados por ter contribuído, através de intervenções baseadas nos conhecimentos da 
psicologia, com a construção de uma comunidade melhor, mostrando aos moradores desse local que eles 
mesmos poderiam trabalhar suas problemáticas, buscando soluções em conjunto. Dessa forma, acreditamos 
termos preparado a comunidade com instrumentos necessários para eles darem continuidade a esse 
processo, que não se esgota nessa intervenção que realizamos. 
 Fomos apenas orientadores, mas não os responsáveis pelas transformações que ocorreram na comunidade. 
Assim, demonstramos para eles, desde o início, que somente os mesmos poderiam modificar a realidade em 
que estão inseridos. Houve, portanto, uma reciprocidade, organizamos um trabalho com eles, orientando-os 
sobre como desenvolverem formas de atuação em prol da comunidade, e ao mesmo tempo eles nos 
forneceram a oportunidade de praticarmos, ou seja, de por em prática os conhecimentos que adquirimos na 
universidade. 
5. REFERÊNCIAS CAMPOS, R. H. F. Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis – 
RJ: Vozes, 1996. DESAFIANDO GIGANTES. Produção Alex Kendrick. Estados unidos, Sherwood Pictures, 2006 
(111 min). O PROBLEMA NÃO É MEU. Disponível em < http://www.youtube.com/watch?v=ORr3uyzz_Z8> 
Acesso em: 12 novembro. 2011. ORNELAS, J. Psicologia comunitária Origens, fundamentos e áreas de 
intervenção. Análise Psicológica, Lisboa, v.15, n.3, p.375-388, set. 1997. SCARPARO, H. B. K, GUARESCHI, N. 
M. F. Psicologia social comunitária e formação profissional. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v.19 n.2, 
p.100-108, 2007. 
TEXTO EXTRAÍDO DE: SOUSA, Kairon Pereira de Araújo. O TRABALHO DO PSICÓLOGO NA COMUNIDADE: 
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA. Cadernos Cajuína, V. 3, N. 2, 2017, p.41 - 50. ISSN: 2448-0916 
 
 
TEXTO 5 
RELAÇÕES COMUNITÁRIAS, RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO: um pequeno recorte 
Relação e relações sociais: O termo relação significa que uma coisa não pode existir se não houver outra. 
Essa outra é uma parte essencial: se ela não existir, não existe relação. Então essa outra passa a fazer parte 
da definição de relação. As relações sociais implicam em um direcionamento de uma pessoa em relação à 
outra. As pessoas precisam de outra(s) para serem elas mesmas. Exemplo: Maria somente pode ser chamada 
de mãe porque tem um filho. 
As relações sociais envolvem: união, conflito, rejeição, exclusão, inclusão. 
Relações sociais e grupos: o que constitui um grupo são as relações sociais. As relações são dinâmicas. Por 
isso, possíveis mudanças nas relações sociais implicam em transformações do grupo. 
Multidão: pessoas que estão juntas em um mesmo lugar. As pessoas não se conhecem. A única relação que 
existe, pode ser comum dirigente, um líder. A multidão e o efeito do contágio: as pessoas podem se deixar 
guiar pelas emoções. A certeza da impunidade (pela dificuldade de identificar quem faz o quê) aumenta a 
irresponsabilidade. 
Público: constituem multidões, mas podem estar em lugares diferentes. Por exemplo: o público do Jornal 
Nacional. As pessoas que compõem esse público tem algo em comum: assistem ao programa (mesmo 
horário, mesmo dia). Neste caso, a relações são unidirecionais: partem de uma fonte para todos esses 
indivíduos. 
As relações podem ser de diferentes tipos que, por sua vez, podem ser alocados em duas categorias: relações 
de dominação, relações comunitárias. 
Diferença entre pode e dominação: Pode r capacidade de uma pessoa ou um grupo de executar uma ação 
qualquer ou desempenhar uma prática. Nesse sentido todos tem poder porque possuem capacidade para 
executar alguma coisa. Dominação  configura uma relação entre pessoas grupos ou pessoas e grupos, na 
qual uma parte se apropria do poder de outras. É uma relação assimétrica, desigual. 
Ideologia: uso de formas simbólicas (significados, sentidos) para criar, sustentar, reproduzir determinados 
tipos de relações. É o que dá sentido e significado as coisas. A Ideologia pode sustentar relações justas e 
éticas, mas também injustas, desiguais, como as relações de dominação. 
Cotidianamente damos significados às experiências e aos objetos buscando simplificar e agilizar a nossa 
compreensão sobre os fatos sociais. Para tanto, frequentemente, são criados estereótipos. POR EXEMPLO: 
os argentinos são metidos, os cariocas não gostam de parar no sinal de transito. Os judeus são inteligentes. 
Assim, vamos criando juízos de valor, discriminações, estereótipos, ligando qualidades às pessoas e aos 
grupos. Os estereótipos quando negativos geram relações de dominação. 
Diferença entre estereótipos e preconceito 9 (conceitos científicos): O preconceito perpetua uma atitude 
hostil ou negativa para com determinado grupo, baseada em generalizações deformadas ou incompletas 
(ARONSON, 1999). Esta generalização (ou representação mental) é chamada estereótipo e significa atribuir 
características pessoais ou motivos idênticos a qualquer pessoa de um grupo, independentemente da 
variação individual. Os estereótipos são, ao mesmo tempo, a causa e a consequência do preconceito. No 
entanto, os estereótipos podem ter valência positiva ou negativa, enquanto o preconceito sempre está 
pautado em estereótipos que apresentam valência negativa. Exemplos: Os cariocas são simpáticos 
(estereótipo com valência positiva). Uma pessoa, usando roupas simples ou desgastadas entra em uma loja 
de joias e o vendedor chama o segurança com medo de possível assalto (estereótipo negativo em relação à 
classe social). 
FORMAS DE DOMINAÇÃO 
Dominação Econômica. Exploração do trabalhador.Dominação política: relações entre pessoas em uma 
sociedade, entre Estado, governo e cidadãos. Quando não são democráticas, desrespeitam os direitos dos 
cidadãos. Dominação cultural: relações entre pessoas e grupos, que se cristalizam de tal modo que podem 
ser pensadas como se fizessem parte das pessoas. EXEMPLO: Racismo. O racismo é materializado através de 
práticaspolíticas e econômicas. EXEMPLO: Institucionalismo: quando uma instituição é colocada como a 
mais importante ou verdadeira em relação às outras, que pode legitimar repressões ou ações injustas aos 
que estão ligados em outras instituições. EXEMPLO: Patriarcalismo: A presença e, em inúmeros contextos, a 
banalização da violência doméstica dirigida à mulher denuncia que ocorrem situações de dependência 
(dominação) no interior do espaço familiar, particularmente das mulheres com relação aos homens. 
 
9Fonte: Definindo preconceito. Disponível em: http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/9652/9652_5.PDF. Acesso em: 3 set. 2015. 
Relações comunitárias: definida a partir das relações que são estabelecidas em grupo. Neste caso constituem 
relações que potencializam a participação profunda dos membros de um grupo. “Um tipo de vida em 
sociedade onde todos se conhecem pelo nome, ou seja, uma sociedade onde o indivíduo participa se 
expressa e mantém sua identidade (singularidade)”. Comunidades que exercitam a democracia garantem 
uma sociedade democrática, pois envolve a participação e a garantia do exercício de direitos. 
TEXTO 6 
CONCEITOS BÁSICOS10: atividade, consciência e identidade 
Conforme já descrito, a subjetividade humana surge do contato entre os homens e dos homens com a 
natureza, isto é, esse mundo interno que possuímos e suas expressões são construídas nas relações sociais. 
O objeto da psicologia social → compreender como se dá a construção desse mundo interno a partir das 
relações sociais vividas pelo homem. O mundo objetivo passa a ser visto não como fator de influência para o 
desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo. Para tanto apresenta três conceitos básicos 
de análise: ATIVIDADE, CONSCIÊNCIA E IDENTIDADE. 
CONCEITOS BÁSICOS DE ANÁLISE: 
ATIVIDADE: É a unidade básica fundamental da vida do sujeito material. É através da atividade que o homem 
se apropria do mundo, ou seja, é a atividade que propicia a transição daquilo que está fora do homem para 
dentro dele. Pense na criança, onde isso tudo fica mais evidente. Ela se apropria do mundo engatinhando, 
andando ou percorrendo com os olhos o mundo circundante. Ela manuseia os objetos, desmonta-os 
(infelizmente, nós compreendemos isso, às vezes, como destruição), monta-os, balança, lambe, ouve, vê, 
enfim, do PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA SOCIAL, COLOCA-OS PARA DENTRO DE SI, TRANSFORMA-OS EM 
IMAGENS E EM IDEIAS QUE PASSAM A HABITAR SEU MUNDO INTERNO. 
A atividade humana é a base do conhecimento e do pensamento do homem. Estamos considerando que os 
indivíduos apresentam uma necessidade de manter uma relação ativa com o mundo externo. PARA 
EXISTIRMOS, PRECISAMOS ATUAR SOBRE O MUNDO, TRANSFORMANDO-O DE ACORDO COM NOSSAS 
NECESSIDADES. AO FAZER ISSO, ESTAMOS CONSTRUINDO A NÓS MESMOS, 
O homem constrói o seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo. Mundos 
externo e interno são, portanto, imbricados, pois são construídos num mesmo processo, e a existência de 
um depende da do outro. 
CONSCIÊNCIA: A consciência humana expressa a forma como o homem se relaciona com o mundo objetivo. 
As aranhas constroem suas teias e reagem à vibração nelas produzida por insetos que ali ficam presos. Essa 
 
10 Extraído de: BOCK, A.M.B; FURTADO, O.; TEIXIERA, M.S.T. Psicologias: uma introdução à psicologia. São Paulo: 
Saraiva, 2004. (capítulo: Psicologia Social). 
é a forma como as aranhas reagem ao mundo externo. As abelhas, os pássaros, os peixes e todos os an imais 
apresentam uma maneira específica de relação com o mundo. O homem também apresenta o seu modo de 
reagir ao mundo objetivo: ELE O COMPREENDE, ISTO É, TRANSFORMA- O EM IDEIAS E IMAGENS E 
ESTABELECE RELAÇÕES ENTRE ESSAS INFORMAÇÕES, DE MODO A COMPREENDER O QUE SE PRODUZ NA 
REALIDADE AMBIENTE. A CONSCIÊNCIA É, ASSIM, UM CERTO SABER. NÓS REAGIMOS AO MUNDO 
COMPREENDENDO-O, “SABENDO-O”. 
A consciência não se limita apenas ao saber lógico. Ela inclui o saber das emoções e sentimentos do homem, 
o saber dos desejos, o saber do inconsciente. 
A consciência do homem é produto das relações sociais que os homens estabelecem. E esse estabelecer 
está diretamente implicado com condições externas, tais como trabalho, a vida social e a linguagem. 
O homem encontra um mundo de objetos e significados já construídos pelos outros homens. Nas relações 
sociais, ele se apropria desse mundo cultural e desenvolve o “sentido pessoal”. Produz, assim, uma 
compreensão sobre o mundo, sobre si mesmo e os outros, compreensão construída no processo de produção 
da existência, compreensão que tem sua matéria-prima na realidade objetiva e na realidade social, mas que 
é própria do indivíduo, pois é resultado de um trabalho seu. 
Estuda-se a consciência através de suas mediações. No mundo observável, vamos encontrar, por exemplo, 
as representações sociais, veiculadas pela linguagem, que são expressões da consciência. Quando alguém 
discursa ou simplesmente fala sobre algum assunto, está se referindo ao mundo real e expressa sua 
consciência através das representações sociais. 
A representação social é a denominação dada ao conjunto de ideias que articula os significados sociais, isto 
é, o sentido construído coletivamente para o objeto com o sentido pessoal. Envolve crenças, valores e 
imagens que os indivíduos constroem, no decorrer de suas vidas, a partir da vivência na sociedade. 
IDENTIDADE: é a denominação dada às representações e sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito 
de si próprio, a partir do conjunto de suas vivências. 
A identidade é a síntese pessoal sobre o si mesmo, incluindo dados pessoais (por exemplo: cor, gênero e 
idade), biografia (trajetória pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo uma representação a 
respeito de si. 
Estamos nos transformando a cada momento, a cada nova relação com o mundo social e sabemos disso. A 
consciência que desenvolvemos sobre “quem sou eu” acompanha esse movimento do real, às vezes com 
mais facilidade, às vezes com menos, mas acompanha. 
A mudança nas situações sociais, a mudança na história de vida e nas relações sociais determinam 
um processar contínuo na definição de si mesmo. 
A análise de três categorias fundamentais - ATIVIDADES, CONSCIÊNCIA E IDENTIDADE – só se faz pelo registro 
de mediações com a linguagem (e o pensamento), ferramenta essencial para as relações com os outros e que 
irá constituir os conteúdos da consciência. 
E são também estas relações que se desenvolvem através de atividades que, por sua vez, sofrem a mediação 
das emoções, individuais, possivelmente constituindo conteúdos inconscientes presentes tanto na 
consciência como na atividade e na identidade. 
O profissional de psicologia na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, 
com relações grupais e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para exercer sua ação em nível 
da consciência, da atividade e da identidade dos indivíduos que irão, algum dia, viver em verdadeira 
comunidade (LANE, 2013). 
TEXTO COMPLEMENTAR E 
Consciência, Cultura, abordagem interacionista e representações sociais11 
- De modo geral, os trabalhos em Psicologia Comunitária focalizam: CONSCIÊNCIA: trabalho de 
conscientização, ou seja, desvelamento junto ao grupo, os determinantes de sua condição de vida. 
**CULTURA: descrição de práticas específicas de determinadas populações e dos significados 
compartilhados pelos membros do grupo em relação a sua prática. 
A problemática do convívio e do diálogo em grupos de diferentes inserções socioculturais e com histórias 
diversas ocupa lugar de destaque entre as preocupações de psicólogos que atuam em comunidades. 
As publicações da área divulgam estudos em que é analisada a psicossociologia de diferentes grupos e 
caracterizados por similaridades em termos de classe ou lugar social, gênero e etnia, em interação com a 
sociedade inclusiva. • Os conceitos utilizadospara descrever essas interações decorrem das principais teorias 
utilizadas em psicologia social: cognitiva, representações sociais e interacionismo. 
Cognição social: Enfatizam o estudo da consciência e exploram o efeito do pensamento e da interpretação 
dos sujeitos sobre a atividade social; • Inspirados na Gestalt, estes teóricos se interessam especialmente pelo 
modo como os processos mentais internos às pessoas impõem formas ao mundo externo. • Nesse sentido, 
acreditam que a percepção dos eventos é a principal variável que influencia a conduta do sujeito social. 
Abordagem sociointeracionista: O conhecimento se constrói na interação social. • Vygotsky é o principal 
representante dessa abordagem. Para ele, o conhecimento seria social antes de ser individual, e os artefatos 
criados pela atividade humano, bem como a linguagem, seriam os principais mediadores no processo de 
internalização da cultura. 
Para o sócio interacionistas, os seres humanos vivem em um ambiente em constante transformação, pois os 
artefatos culturais e a linguagem são transformados pela própria atividade dos grupos humanos em 
 
11Texto elaborado pela Profa. Natália Rodrigues e extraído do “Material do Acervo, SIA, Universidade Estácio de Sá, 
2016 
interação; • Cada artefato cultural contém, além de sua forma física, o código de condutas e de interações 
que o tornou possível, e que condiciona a ação das novas gerações que o utilizam. 
Representações sociais: Estuda a maneira como as representações sociais são hegemônicas em determinada 
formação social; • A ênfase será o estudo do aspecto social, isto é, interindividual, das representações; •A 
construção da representação deixa de ser individual, e passa a ser uma função simbólica do grupo social em 
seu conjunto. 
A interpretação da cultura como empreendimento intersubjetivo: 
•O campo de estudo delimitado pela psicologia social que norteia possibilidades de intervenção em 
comunidades é constituído pela análise da cultura. 
• O conceito de cultura refere-se, precisamente, a este conjunto de significados compartilhados que 
orientam a conduta dos indivíduos. 
 • Estes significados, se por um lado apresentam as características de homogeneidade e a duração, tendo em 
vista suas origens na tradição e na história do grupo, são também questionados pelo movimento de 
construção de novas práticas, que por sua vez, na interação, produzem novos significados. 
•A psicologia social trabalha com conceitos que permitem trabalhar as relações culturais em situações de 
diálogo, contribuindo para desenvolver a capacidade de análise de novas interpretações. Esta é precisamente 
a situação na qual se encontram muitos dos trabalhos comunitários com os quais se envolvem os psicólogos 
sociais. 
• E assim se movimenta o estudo psicossociológico dos grupos multiculturais: de uma abordagem centrada 
no indivíduo passamos à história do grupo social como fonte de representações que os indivíduos se fazem 
uns com os outros, para chegar a uma abordagem em que a própria análise das representações se torna um 
empreendimento intersubjetivo. 
A interpretação dos sujeitos imersos na cultura é resultante de um processo de reflexão no qual a análise 
focaliza precisamente os diferentes pontos de vista envolvidos na definição da situação. 
→ Para a psicologia social comunitária, estas contribuições são relevantes, na medida em que apontam para 
os aspectos cruciais do processo de conscientização: a cultura, como construção intersubjetiva de 
significado, e o diálogo, como contexto para a problematização e reconstrução cultural. 
TEXTO COMPLEMENTAR F 
PSICOLOGIA SÓCIO HISTÓRICA: breve reflexão sobre o compromisso profissional e social do psicólogo 
Entre os principais referências, encontra-se Vygotsky e, portanto, fundamenta-se no marxismo e adota o 
materialismo histórico e dialético como filosofia, teoria e método. Nesse sentido, conforme já assinalado, 
concebe o homem como ativo, social e histórico. A sociedade, como produção histórica dos homens que, 
através do trabalho, produzem sua vida material. As ideias, como representações da realidade material. A 
realidade material, como fundada em contradições que se expressam nas ideias. E a história, como o 
movimento contraditório constante do fazer humano, no qual, a partir da base material, deve ser 
compreendida toda produção de ideias, inclusive a ciência. 
A Psicologia Sócio Histórica não trabalha com a concepção liberal de homem e de fenômeno psicológico. 
Acredita que o fenômeno psicológico se desenvolve ao longo do tempo. Assim: o FENÔMENO 
PSICOLÓGICONÃO PERTENCE À NATUREZA HUMANA• o fenômeno psicológico NÃO PRÉ EXISTE AO HOMEM• 
o fenômeno PSICOLÓGICO REFLETE A CONDIÇÃO SOCIAL, ECONÔMICA E CULTURAL EM QUE VIVEM OS 
HOMENS. 
Falar da subjetividade humana é falar da objetividade onde vivem os homens. A compreensão do “mundo 
interno” exige a compreensão do “mundo externo”, pois são dois aspectos de um mesmo movimento, de 
um processo no qual o homem atua e constrói/ modifica o mundo e este, por sua vez, propicia os 
elementos para a constituição psicológica do homem. 
A psicologia não tem sido capaz de, ao falar do fenômeno psicológico, falar de vida, das condições 
econômicas, sociais e culturais nas quais se inserem os homens. A psicologia tem, ao contrário, contribuído 
significativamente para ocultar estas condições. Fala-se da mãe e do pai sem falar da família como instituição 
social marcada historicamente pela apropriação dos sujeitos; fala-se da sexualidade sem falar da tradição 
judaico-cristã de repressão à sexualidade; fala-se da identidade das mulheres sem se falar das características 
machistas de nossa cultura; fala-se do corpo sem inseri-lo na cultura; fala-se de habilidade e aptidões de um 
sujeito sem se falar das suas reais possibilidades de acesso à cultura; fala-se do homem sem falar do trabalho; 
fala-se do psicólogo sem falar do cultural e do social. Na verdade, não se fala de nada. Faz-se ideologia! 
Ideologia: “criação de universais abstratos, isto é, a transformação das ideias particulares da classe 
dominante em ideias universais de todos e para todos os membros da sociedade. Essa universalidade das 
ideias é abstrata porque não corresponde a nada real e concreto, visto que no real existem concretamente 
classes particulares e não a universalidade humana. As ideias da ideologia são, pois, universais abstratos”. 
(Chauí, 1981, p.95). A ideologia é, assim, uma representação ilusória que fazemos do real. O ilusório da 
ideologia está em que parte da realidade fica ocultada nas constituições ideais. 
NA PSICOLOGIA, AO CONSTRUIRMOS AS NOÇÕES E TEORIZAÇÕES SOBRE O FENÔMENO PSICOLÓGICO TEM 
FICADO OCULTADA A SUA PRODUÇÃO SOCIAL.Com isto, as consequências são danosas do ponto de vista das 
possibilidades da psicologia contribuir para a denúncia e a transformação das condições de vida 
constitutivos do fenômeno. 
A psicologia histórica parte da premissa de que o mundo social e o mundo psicológico caminham juntos em 
seu movimento e a psicologia para compreender o mundo psicológico terá obrigatoriamente que trazer para 
seu âmbito a realidade social na qual o fenômeno psicológico se constrói; e por outro lado, ao estudar o 
mundo psicológico estará contribuindo para a compreensão do mundo social . Tal dinâmica possibilitará e 
exigirá do psicólogo um posicionamento ético e político sobre o mundo social e psicológico. 
Conforme já comentado, o fenômeno psicológico não preexiste no homem. Se desenvolve conforme o 
homem se insere na sociedade, nas relações e na cultura. Ali estão as possibilidade do homem se tornar 
humano. A humanidade do homem está na cultura, nas relações sociais e nas formas de produção da vida. 
É lá que o homem vai buscar os elementos para sua constituição. 
A concepção histórica do fenômeno psicológico permite que se pense o homem e o mundo em permanente 
movimento; permite que se construa uma prática

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