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Gestão da Educação Básica Gestão da Educação Básica Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2015 Diva Maria Caramori Peter Maria Inês Borsa Rejane Sittoni Schutz Laino Alberto Schneider Luciana Peixoto Cordeiro Olgaires Domingues Schneider Lauraci Donde da Silva Hellen Callegari Cardia Lorenzoni Italo Nunes Ogliari Cosme Luiz Chinazzo Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Astomiro Romais, Claudiane Ramos Furtado Dóris Cristina Gedrat Kauana Rodrigues Amaral Luiz Carlos Specht Filho Mara Lúcia Salazar Machado Maria Cleidia Klein Oliveira Thomas Heimann Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Dados técnicos do livro Diagramação: Jonatan Souza Revisão: Ane Sefrin Arduim A razão de ser deste livro é propiciar elementos para uma reflexão sobre a gestão da educação básica com a intenção de colaborar para que estes estudos orientem o seu fazer e dos demais educadores que preten- dem tornar a escola o lócus da cooperação e do comprometimento com a qualidade educacional. Os textos apresentados pelos autores nos remetem a uma análise re- flexiva acerca da organização e administração da escola e também de sua complexidade, buscando entender seu contexto através dos princípios da gestão democrática e da ética nas interfaces com as políticas públicas. A estrutura deste livro, em linhas gerais, contempla dez capítulos, sendo que o primeiro capítulo, Gestão Escolar: concepções e tendências atuais, procura dar visibilidade a algumas abordagens possíveis sobre as concepções de gestão, partindo de um relembrar histórico da administra- ção. Seu foco é a caminhada da gestão escolar democrática agregada às tendências da gestão na contemporaneidade. O segundo capítulo contempla as Política Públicas, Limites e Perspec- tivas da Gestão da Educação Básica, e objetiva apresentar os limites e as perspectivas da gestão educacional sob a luz das políticas públicas, especi- ficamente quanto às políticas e gestão da educação básica no Brasil. No terceiro capítulo, a Gestão Compartilhada, ao buscar as instâncias colegiadas da escola aborda aspectos relacionados ao processo de des- centralização das tomadas de decisões na gestão, no contexto das políticas educacionais. Assim, também, analisa as concepções de gestão e as pos- sibilidades na construção da autonomia. Apresentação Apresentação v O quarto capítulo se refere à Gestão Democrática: qualidade da edu- cação e avaliação do processo de ensino e aprendizagem, com o objetivo de incentivar a ação participativa. Encontra-se no capítulo cinco o tema Planejamento: construção e orga- nização do trabalho pedagógico, na busca de auxiliar o fazer escolar e de demonstrar os aspectos que emergem em consequência. Este tema tem por finalidade abordar a função do planejamento como ferramenta de gestão, tendo em vista que a mesma possibilita, viabilizar caminhos para a geração de resultados positivos. No capítulo seis apresenta-se a Ação gestora no âmbito escolar; ética, competência e liderança, esta abordagem tem a preocupação de navegar sobre a ética, competência e a liderança no espaço escolar permeando constantemente entre os diversos profissionais da educação, sendo estes significativos e imensuráveis para o bom andamento da escola. No capítulo sete é destacada A Gestão escolar e a formação continua- da de professores, tema este que tem como finalidade propor uma discus- são referente às questões que abordam a gestão escolar e a formação con- tinuada de professores. Como ocorre o processo formativo de educadores para qualificar ainda mais a sua prática no desenvolvimento do ensino e de aprendizagem, pois hoje não é suficiente apenas a formação inicial, é preciso estar em constante busca para fazer frente aos avanços na área da informação, da comunicação, das tecnologias e, principalmente, para auxiliar os alunos neste mundo globalizado. A abordagem sobre A gestão docente no espaço da sala de aula, no oitavo capítulo, enfatiza que o professor gerencia a sua sala de aula, ob- jetivando a participação de todos os envolvidos e estimulando trocas de aprendizagens. No capítulo nove se encontra A escola como uma realidade em discus- são: novos olhares e novas tendências, onde se tem um breve panorama histórico-social de nosso tempo, para se compreender um pouco mais so- bre cada um como ator e a época em que vive. Fazendo isso, tais questões vi Apresentação mostram-se fundamentais e inevitáveis de serem pensadas dentro da esco- la, essa instituição que deve ser formadora não apenas de cidadãos, mas de sujeitos éticos, justos e que reflitam criticamente sobre sua condição e sua própria existência. Por fim, tem-se, no capítulo dez, Interdisciplinaridade: um trabalho in- tegrado refletindo parcerias, que versa sobre a interdisciplinaridade como uma proposta que visa superar os limites dos modelos tradicionais de edu- cação, que se caracterizam pela fragmentação dos saberes e ações peda- gógicas, entre os profissionais da educação, visto que as novas exigências da sociedade atual requerem novas modalidades de ensino. O livro contempla uma argumentação didática sobre a gestão escolar, as políticas públicas, a democratização da escola de educação básica, os princípios da gestão fundamentados em documentos legais e referenciais teóricos. Tem-se o cuidado de direcionar tal reflexão de maneira articulada com a realidade da gestão escolar e da prática pedagógica, objetivando sua estruturação, integração e apropriação dos conhecimentos, que devem ser mediatizados pelo gestor na busca de uma educação de qualidade. Diva Maria Peter/ Lauraci Dondé da Silva e Olgaires Schneider Sumário 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais...................1 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica ..........29 3 Gestão Compartilhada: buscando as instâncias colegiadas da Escola ...........................................................49 4 Gestão Democrática: Qualidade de Educação e Avaliação do Processo de Ensino e Aprendizagem ...............67 5 Planejamento: Construção e Organização do Trabalho Pedagógico .........................................................................92 6 Ação Gestora no Âmbito Escolar: Ética, Competência e Liderança.......................................................................105 7 A Gestão Escolar e a Formação Continuada de Professores .......................................................................130 8 A Gestão Docente no Espaço da Sala de Aula ...................158 9 A Escola como uma Realidade em Discussão: Novos Olhares e novas Tendências ...................................173 10 Interdisciplinaridade: um Trabalho Integrado Refletindo Parcerias ..........................................................190 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais1 1 Diva Maria Peter: Pedagoga, Especialista em Inspeção Escolar, Mestrado em Psi- cologia Educacional, Professora do curso de graduação em Pedagogia na modali- dade presencial e EAD (ULBRA). Diva Maria Peter1 Capítulo 1 2 Gestão da Educação Básica Introdução Atualmente, vive-se num período de inúmeras mudanças, onde a globalização e a informatização provocaram grandes transformações e, em consequência, novos desafios se apre- sentam para os seres humanos. Há uma crise de paradigmas na sociedade,os quais atingem também a escola. Nas últimas décadas, têm ocorrido várias discussões na área político-pedagógica, sendo a questão principal a demo- cratização da escola e a autonomia, que protegem a descen- tralização da educação e da escola, portanto, alça a liberdade da escola e a precisão de ter uma gestão que assegure a qua- lidade do ensino. Neste momento, a escola também sofre os reflexos sociais e se indaga sobre seu papel e função como estabelecimento social. Identifica-se o impacto destas transformações na edu- cação e no ensino, o que a leva a reavaliar as funções, no aspecto organizacional, métodos e conteúdos, mantendo-a democratizada no contexto social. Hoje a marca significativa, desse tempo histórico, é a multiplicidade de culturas e estas reivindicam em altos brados pela participação, autonomia e inovação. Os traços de globalização estão marcados na política so- ciocultural da escola e o gestor possui habilidade suficiente para realizar uma ligação coletiva, construindo uma verdadei- ra democratização do espaço escolar. Estas mudanças inter- ferem na organização da escola, bem como, nos papéis dos envolvidos com o processo escolar. Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 3 Um dos grandes desafios da escola é trilhar a caminhada da mudança e encontrar respostas inovadoras e criativas para os problemas educacionais, sem esquecer a história, visua- lizando meios de superação com foco na independência do ser humano. A escola é o local de compromisso com o de- senvolvimento social, cultural e cognitivo para a formação do cidadão. O presente artigo procura dar uma visibilidade a algumas abordagens possíveis sobre as concepções de gestão, partin- do de um relembrar histórico da administração, bem como a caminhada da gestão escolar e democrática com sua malea- bilidade, baseando-se na prática da comunicação entre pro- fessores, alunos e comunidade, nas tomadas de decisão na escola. Pontua-se, aqui, de uma forma sutil, as tendências da gestão na contemporaneidade. 1 Uma visão histórica O percurso da concepção de gestão se apoia nas teorias da Administração, visto não ser uma abordagem nova. Todo fun- cionamento gira em torno das solicitações da política educa- cional e das exigências da pedagogia moderna, sendo que alguns teóricos têm enfocado a formação humana, e, por con- seguinte, a mudança. A primeira influência se deu com a teoria da Administração Científica, de Taylor, que “preocupava-se com a eliminação dos desperdícios e a elevação do nível de produtividade atra- 4 Gestão da Educação Básica vés da aplicação de métodos e técnicas da engenharia indus- trial” (CHIAVENATTO, 2001, p.58). Segundo Taylor, o operário deveria produzir cada vez mais, portanto deveria se especializar no que fazia e seu salá- rio seria baseado na sua produção. Outro ponto importante na administração científica, é que Taylor “defendia as tarefas individualizadas em vez de tarefas em grupo. Ele acreditava que o trabalho em grupo e as recompensas em grupos aca- bavam minando a produtividade individualmente” (in SILVA, 2001, p. 134). Uma das fortes características da Administração Científi- ca era o trabalho fragmentado, pois quanto mais fracionado, mais o operário se especializava, significando maior rapidez, o que beneficiava a produtividade. Trabalho esse supervisio- nado que fiscalizavam o desenvolvimento de produção, sendo realizado de forma hierárquica, deixando clara a existência da autoridade na Administração Científica. Posteriormente Fayol, ao lado de Taylor, contribuiu de for- ma significativa para o desenvolvimento do conhecimento ad- ministrativo moderno. Pontua seu foco na administração ge- ral, dizendo que “o sucesso organizacional depende mais das habilidades administrativas dos seus lideres do que das suas habilidades técnicas” (SILVA, 2001, p.144). Para ele, dentro de uma organização, a atividade mais importante era a admi- nistrativa. Compreendia que independentemente do tipo, qual- quer “organização necessitava de administração, fosse do tipo de comércio, indústria, política, religião, militar ou filantrópica, em qualquer condição, existe uma função administrativa a ser desempenhada” (SILVA, 2001, p.145). Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 5 Para Fayol, toda organização precisa de administração, portanto de administradores, com domínio na área, em que seus cooperados necessitam de ordens para saber realizar o que tem a fazer e que suas atividades precisem de controle e gerenciamento. Afirma Maximiano (2007, p.34) que Fayol definiu a admi- nistração como “processo de planejar, organizar, dirigir e con- trolar”, em que este conceito na teoria administrativa de forma geral, independe da finalidade da organização o processo de administração é sempre o mesmo. Desta forma, diretor, ge- rente, chefe ou supervisor, cada um executa a sua função de acordo com seu padrão hierárquico. Segundo Maximiano (2007, p.34), Fayol foi o “pioneiro no reconhecimento de que a administração deveria ser vista como uma função separada das demais funções da empresa”. Nesse momento inicia a difícil função do gerente, pois quando ele não entendia bem o seu papel na administração, ficava a fazer detalhes técnicos da produção e fazendo pequenos servi- ços, uma vez que sua função seria administrar toda a empresa. Para fazer esta diferença, Fayol clarificou o papel dos adminis- tradores quanto à hierarquia administrativa. Max Weber foi o autor da Teoria da Burocracia, que se baseia na racionalidade das leis, que são regras sistemáticas, dependentes de lógica e, ausentes de vantagens pessoais. É uma maneira de submeter as pessoas à dominação, com rigor e disciplina. Faz-se necessário acrescentar que as organiza- ções burocráticas são máquinas impessoais e trabalham com sistemas de método que Weber denominou de racional. 6 Gestão da Educação Básica Reunindo as ideias dos grandes estudiosos da administra- ção, pode-se dizer que as preocupações de Taylor, Fayol e Weber, encontravam-se na execução dos recursos e proces- sos de uma organização. Para eles as pessoas ficavam num plano inferior, levando em conta como recurso de produção que faziam parte apenas como peças de uma engrenagem. O principal era a produção em ampla escala, aproveitando a ocasião oportuna do mercado. Elenca-se à ideia anterior que a administração empresarial visava descartar desperdícios, melhorar o desenvolvimento de produção e aperfeiçoar a lucratividade do seu produto. No entanto, a escola objetiva a formação da pessoa, preocupa-se com o lado humano e com a construção do conhecimento. A escola na sua caminhada histórica fez uso de ideias oriundas das teorias administrativas aplicadas e expandidas nas empresas. Apesar de haver algumas trocas entre teorias administrativas e escola, alterações que se fizeram necessárias, pois seus papéis são distintos para a história social. De acordo com Libâneo (2009, p.316) “a instituição esco- lar caracteriza-se por ser um sistema de relações humanas e sociais com fortes características interativas, que a diferenciam das empresas convencionais”. É o espaço como processo de produção, com vistas à obtenção de lucros, por meio do pro- duto. No social, reúne pessoas que estabelecem relações entre elas, trabalhando numa estrutura com sua própria organiza- ção com a finalidade educativa. Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 7 2 O percurso da concepção de gestão Existem muitas discussões no cenário nacional sobre a ges- tão da educação partindo de várias propostas, como também concepções e espaços ligados ao sistema de ensino, sob esse ângulo, é necessário fixar os eixos que perpassam o estudo sobre gestão no que diz respeito à concepção. A concepção de educação écompreendida como uma ação social, que constrói e forma as relações sociais na sua amplitude, despontando das dificuldades em concorrência e traduzindo as diferentes concepções de homem, mundo e so- ciedade. Para Dourado (2007, p. 923), [...] a educação é entendida como processo amplo de socialização da cultura, historicamente produzida pelo homem, e a escola como lócus privilegiado de produ- ção e apropriação do saber, cujas políticas, gestão e processos se originam, coletivamente ou não, em prol dos objetivos de formação. A concepção de gestão, segundo Lück (2011), vem supe- rando a expectativa da visão arcaica de administração, onde, hoje, observa-se que os problemas educacionais se resolvem trabalhando em equipe e com competência, visando à quali- dade da educação. A gestão desponta objetivando superar a inexistência de uma boa liderança e, também, de um satisfató- rio referencial teórico-metodológico, norteando a organização do trabalho educacional. 8 Gestão da Educação Básica Ainda de acordo com os autores citados, deve-se levar em conta o contexto vivencial, garantindo a qualidade da educa- ção agregada às políticas educacionais. A gestão escolar deve levar em conta, principalmente, as necessidades do contexto social e cultural, determinar o caminho e colocar em prática ações capazes de apoiar e dinamizar os processos dos siste- mas de ensino e das escolas. Então, encontra-se respaldo em Heloisa Lück, quando essa autora afirma que A partir da perspectiva de visão de conjunto, mediante uma figura de quadrantes, é possível visualizar objetiva- mente a distribuição em eixos, à medida que são reali- zadas ou atendidas demandas diárias complementares entre si, no exercício da gestão, como é o caso da estru- tura e do funcionamento (eixo horizontal) e das condi- ções materiais e das humanas (eixo vertical) no trabalho da gestão educacional (LÜCK, 2011, p. 26/27). Para que ocorra a verdadeira prática da gestão, pensa- -se que estes eixos deverão estar equilibrados. A gestão deve ser entendida como um compromisso de todos os envolvidos atrelados aos diferentes sistemas de ensino, cada um com suas próprias características, com sua organização e fins político- -pedagógicos a serem alcançados. Nesta perspectiva, Dourado e Lück, convergem ideias quanto às diversas discussões sobre ações e programas rela- cionados à gestão educacional. A concepção de gestão, na sua amplitude, deve adotar práticas participativas e democrá- ticas, tendo como base as políticas educacionais e os projetos Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 9 pedagógicos da escola, levando em conta também a partici- pação de todos os envolvidos no que tange o direito social à educação, com plena autonomia e decisão. É necessário clarificar os termos: Gestão educacional e Gestão escolar, os quais possuem sentido semelhante. Mas, é possível, de forma geral, realizar uma distinção, colocando a gestão educacional referindo-se ao conjunto de políticas atribuídas ao modo de planejamento e gestão da educação, organizada pelo governo em nome do Estado. Já o termo ges- tão escolar é parte (está contida na) da gestão educacio- nal. A corporeidade da gestão escolar se efetiva através de aspectos técnicos e políticos, em que são movimentados os conhecimentos administrativos e pedagógicos envolvendo pla- nejamento e organização da escola, responsável pela educa- ção formal do cidadão. Assevera Lück (2011, p.28): A gestão educacional constitui, portanto, uma área im- portantíssima da educação, uma vez que por meio dela se observa a escola e se interfere sobre as questões edu- cacionais globalmente, mediante visão de conjunto, e se busca abranger, pela orientação com visão estratégica e ações interligadas tal como em rede, pontos de atenção que de fato funcionam e se mantêm interconectados en- tre si, sistematicamente, reforçando-se reciprocamente. Diante desta demanda que a escola enfrenta e responde, delineia-se um novo panorama nos quais são analisados, de forma conjunta, os aspectos primordiais que envolvem a ges- tão educacional, tais como: unidade, direção, impulso, solidez 10 Gestão da Educação Básica e coesão à ação educacional da escola. Portanto, essa rede de interligação abrange professores, especialistas, alunos, pais e integrantes da comunidade. Faz-se necessário o entendimento das concepções de edu- cação que orientam as ações cotidianas entremeando as rela- ções. Com isso, declara-se que as concepções não são isola- das, e as peculiaridades de uma podem estar unidas à outra concepção. Na realidade brasileira, isso ocorre, exemplifican- do-se com a história da formação profissional e política dos profissionais, que poucas vezes deu a liberdade de escolha para os indivíduos. Libâneo (2009, p. 323) é quem explica tais concepções quando afirma que: “se situássemos as concepções de gestão em uma linha contínua, teríamos em um extremo a concepção técnico-científica (também chamada científico–racional) e, no outro, a concepção sociocrítica”. E se referindo ao que tange à concepção técnico-científica, o autor afirma que [...] prevalece uma visão burocrática e tecnicista da es- cola. A direção é centralizada em uma pessoa, as deci- sões vêm de cima para baixo e basta cumprir um plano previamente elaborado sem a participação de profes- sores, especialistas, alunos e funcionários (LIBÂNEO, 2011, p. 26/27). A realidade é coisa objetiva, em que, nessa concepção a procura era por maiores números de eficiência e eficácia. No entanto, o autor citado coloca que a concepção sociocrítica, contrária à técnico-científica, apresenta a organização escolar como Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 11 [...] concebida como um sistema que agrega pessoas, considerando o caráter intencional de suas ações e in- terações sociais que estabelecem entre si e com o con- texto sociopolítico, nas formas democráticas de tomada de decisões. A organização escolar não é algo objetivo, elemento neutro a ser observado, mas construção so- cial levada a efeito pelos professores, alunos, pais e até por integrantes da comunidade próxima. O processo de tomada de decisões dá-se coletivamente, possibilitando aos membros do grupo discutir e deliberar, em uma re- lação de colaboração (LIBÂNEO, 2009, p.324). A organização escolar nessa concepção visa atingir obje- tivos comuns, apesar de enfrentar uma complexidade de pro- blemas, ao mesmo tempo compete a ela analisar e responder as questões que estão relacionadas diretamente à gestão es- colar, alguns destes problemas enraizados, os quais a socieda- de educacional anseia por sua resolução. A ideia é que seja resolvida a problemática através de ações conectadas, com caráter de coletividade e, exercendo cada indivíduo o direito de expressão, assumindo o seu papel dentro da comunidade. Num cenário democrático, vê-se a divisão da concepção sociocrítica em diversas formas de gestão coletiva: a autoges- tionária, a interpretativa e a democrático–participativa, for- mando uma lista de concepções de gestão escolar no panora- ma educacional. A concepção autogestionária assume tarefas com autono- mia para administrar os recursos e espaços participativos para 12 Gestão da Educação Básica tomar decisões e buscar alternativas de trabalho. A escola pos- sui um grau de autonomia para decidir e inovar. Diferentremente, a concepção interpretativa centra-se nos aspectos da subjetividade, nas práticas sociais e experiências dos indivíduos da escola. Portanto, a gestão é realizada a par- tir de uma construção social e coletiva. A gestão democrático-participativa reúne atividades, pla- nejamento comum e democrático, prevendo a divisão de tare- fas com pensamento pautado em metas, reunindo toda equipe escolar em tornode objetivos e compromissos comuns num caráter político-participativo. Esta gestão contempla trabalho coletivo, compartilhamento de poderes, participação da co- munidade, sendo a mais indicada para o momento histórico atual. Pode-se afirmar que a escola define a concepção de ges- tão, as ações que serão desenvolvidas, recebem força desta postura, incluindo as relações de poder, bem como o sustentá- culo pedagógico, político e organizacional. 3 Democracia versus Autonomia: uma ação de gestão a ser refletida A educação que a escola oferece atualmente pode ser enten- dida como ação humana introduzida na totalidade da estrutu- ra social. O professor deve se unir na luta pela humanização, encontrando uma nova adequação do seu papel dentro deste contexto. Isso envolve o repensar na sua prática, redimensio- Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 13 nando o seu fazer, socializando o saber sem perder o caminho do conhecimento e da dimensão político-social. Em Libâneo (2009, p.308) encontra-se Na maior parte das vezes, a realidade das escolas ain- da é de isolamento do professor. Sua responsabilidade começa e termina na sala de aula. A mudança dessa si- tuação pode ocorrer pela adoção de práticas participa- tivas, em que os professores aprendam nas situações de trabalho, partilhem com os colegas conhecimentos, me- todologias e dificuldades, discutam e tomem decisões sobre o projeto pedagógico curricular, sobre currículo, sobre as relações internas, sobre as práticas de avalia- ção internas, sobre as práticas de avaliação. É necessário um novo repensar. Exige-se uma articulação entre o saber individual e o próprio mundo. Trata de uma si- tuação que se expõe ao cidadão e à escola, quando as várias partes passem a ouvir, observar, analisar e se entenderem mu- tuamente, buscando o compartilhamento das reflexões. Isso resulta em práticas participativas, em que fica clarificado uma aprendizagem comunitária e democrática. No contexto educacional brasileiro, muito se tem falado em gestão democrática, associada ao aprimoramento da qua- lidade da educação, significa, no senso comum, administrar em conjunto, construindo um desejo igual para todos, ou seja, um aglomerado de regras, às quais as pessoas se submetem. O sistema educacional político está centrado, basicamente, na ideia de participação. 14 Gestão da Educação Básica A gestão democrática do ensino regular tem como base os aspectos legais institucionais e a organização de ações que resultam na participação social quando envolve: a elaboração de políticas educacionais; o planejamento, a tomada de reso- luções; a escolha dos recursos e investimentos; o cumprimento de decisões coletivas; o instante de avaliação da escola, assim como a política educacional. A busca pelo entendimento da gestão democrática implica em desvendar a perspectiva social, salienta Cóssio (2006, p.31) quando diz que os sujeitos possam “participar no processo de formulação e avaliação da política de educação e na fiscali- zação de sua execução”, em que a gestão democrática deve estar alicerçada na edificação de um espaço para todos, criando condições de igualdade, proporcionando um local de trabalho comunitário, abandonando o individualismo e a exclusão, opor- tunizando a mesma condição de igualdade para todos, objeti- vando um convívio com dignidade no exercício da cidadania. Encontra-se, em Andrade (2004, p.11), a explicação plau- sível de que a: [...] gestão escolar veio substituir a administração esco- lar, ocasionando uma alteração de dentro para fora na postura, um recente enfoque de organização, um novo paradigma de encaminhamento das questões escolares, ancorados nos princípios da participação, de autono- mia, de autocontrole e de responsabilidade. No entanto, a gestão escolar não deve fazer pouco caso da administração, “mas superar as suas limitações de enfoque Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 15 dicotomizado, simplificado e reduzido para atender as exigên- cias de uma realidade cada vez mais complexa e dinâmica”, assegura Lück (in ANDRADE, 2004, p.11). Dessa forma, o conceito pontua a importância de que todos os gestores te- nham uma formação baseada na liderança, com possibilida- des de ensinar e aprender. Agregando a esse conceito, a gestão democrática deve es- tar sedimentada na participação da comunidade em que a prática deve ser exercida, pois segundo Paro (2002, p.16) “a democracia só se efetiva por atos e relações, nível da realidade concreta”, donde o exercício desta forma de gestão encontra diversos percalços que devem ser superados pelos sujeitos que fazem parte da escola para transformá-la num espaço partici- pativo e democrático. Os termos: gestão democrática, gestão compartilhada e gestão participativa, apesar de não fazerem parte exclusiva- mente da educação, também são usados para se referirem sobre à luta de educadores e movimentos sociais, com a fina- lidade de argumentar em favor de uma educação pública de qualidade e democrática. As lutas por uma educação democrática vêm acontecendo há muito tempo, mas tornaram-se mais fortes a partir de 1980, década em que tiveram êxito, pois resultou na aprovação da gestão democrática na educação, sendo seu instrumento a Constituição Federal de 1988, no art. 206, em seu inciso VI, que salienta a gestão democrática do ensino público como um dos princípios que norteiam o ensino no país. 16 Gestão da Educação Básica A democratização despontou com a Constituição Federal de 1988, a qual foi denominada como a Constituição Cidadã, que alicerçou o movimento de gestão democrática até meados da década de 90, sendo posteriormente promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) – LDB, que em seu artigo 3º, inciso VII, ressalta que o ensino público será ministrado com base no princípio da gestão democrática. Já no artigo 14 está descrito que os sistemas de ensino defi- nirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, destacando em seus incisos, a participação dos profissionais da educação e da comunidade. A Lei 13.005 de 25 de junho de 2014 aprovou o Plano Nacional de Educação–PNE, que em seu artigo 2º, inciso VI, contempla o princípio da gestão democrática da educação publica. O PNE, conforme seu texto legal, estabelece 20 me- tas para a educação e indica uma série de estratégias. Sendo que uma das metas assegura condições para efetivação da gestão democrática da educação. A autonomia é contemplada na LDBEN, em seu artigo 15, que assegura progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e financeira às escolas públicas. Conforme Libâ- neo (2009 p.333) “autonomia é a faculdade das pessoas de autogovernar-se, de decidir sobre seu próprio destino”. Então, numa instituição, a autonomia quer dizer que a mesma possui poder para decidir as formas de organização, ser independen- te nos seus objetivos, administrar os seus recursos financeiros livremente. No entanto, as escolas públicas não existem isola- damente, elas pertencem e dependem de um sistema central, Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 17 das políticas, e também da gestão pública, possuindo desta forma uma autonomia relativa. A partir dos textos legais, o exercício da autonomia passou a ser executado para construir uma escola realmente demo- crática. Ela vai sendo construída no seu dia-a-dia, pela equipe gestora: professores, funcionários, alunos e comunidade, bus- cando a participação na tomada de decisões, no planejamen- to, exercitando a avaliação dos resultados nas atividades a serem desenvolvidas pela escola. Ela é o ponto de equilíbrio, na interação de todos. O diálogo construído entre escola e sociedade reforça a concepção de gestão democráticae participativa das institui- ções. Pois, favorecer a gestão da escola significa fundar novas relações entre a sociedade e a escola. A conquista da autono- mia politico-pedagógica é condição para fomentar a qualida- de da educação e constitui-se em um meio na construção de uma cidadania. 4 Tendências atuais em gestão escolar A educação sendo uma responsabilidade social necessita des- pontar nas mudanças e alterações que ocorrem na atualidade, como responsável pelo desenvolvimento das capacidades físi- cas, intelectuais e morais do indivíduo, e deverá ser exercida num ambiente onde ele encontre conexão com o mundo que o rodeia. 18 Gestão da Educação Básica Alterar o cenário, conhecer profundamente a realidade é a chave para um gestor abrir a porta da inovação. É neces- sário, nas escolas, um repensar na forma de administrar, pois a velocidade dos acontecimentos mediante a globalização, a diversidade, valorização da competitividade, comportamentos éticos e sociais exigem uma gestão com vistas a e para a nova proposta. No Brasil, a partir da Constituição de 88, da LDB 9.394/96 e o novo PNE, estamos vivendo um novo cenário. Deixa-se de lado a atenção para o processo de ensino e volta-se para a aprendizagem, valoriza-se o conhecimento adquirido pelo aluno em diferentes fontes. E, diante dos olhos, ao alcance da mão, o mundo apresenta-se repleto de informações para quem não resiste à aventura do conhecimento. Para isto, necessita-se regular as ações educacionais com a finalidade de atender ao novo mundo de saberes, concorrência e competitividade. A grande maioria das escolas vive uma conjuntura de in- certezas, que mostra sinais no seu dia a dia da ineficiência administrativa, todavia, se a gestão se torna eficiente e eficaz, ou seja, são inúmeras as questões que encaminham a uma discussão sobre inovação, todas elas direcionam a uma nova gestão, com ampla abertura de visão, contribuindo significa- tivamente para um resultado positivo na organização educa- cional. A educadora Lück (2010, p.115) afirma: “compete ao ges- tor escolar, responsável pela gestão e influência intencional e sistemática sobre a atuação da escola como um todo e suas realizações”. De acordo com essa autora, se deve esquecer a Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 19 gestão do passado, embora com bons quesitos, hoje se tor- nou arcaica frente a tantas mudanças do mundo moderno e torna-se imprescindível um movimento inovador para suprir as necessidades da gestão escolar. É possível que este movimento inovador seja uma constan- te na educação, início de uma organização que aprende con- tinuamente, ajustando-se com criticidade ao novo momento com novos modelos, novas propostas e ideias atuais para gerir a escola. Para Bezerra (2011), é importante discutir sobre inovação, porém isenta de definições radicais, mas deve ser algo possível de alcançar. Diz ainda que é muito fácil falar em inovação, difícil é fazê-la acontecer. Inovar refere-se a criar, buscar algo novo, que seja seguido e aprovado por outros. A inovação tem sido muito discutida, tornando-se o foco principal no século XXI no exercício das funções gestoras, mas o mais significativo não são as ferramentas, mas sim o desejo e a capacidade que direciona. Acrescenta Bezerra [...] “não adianta comprar máquinas, processos, sistemas, e não trabalhar o indivíduo. Trata-se da tarefa mais importante para os líderes hoje. Em inovação não existem fórmulas. Antes de criar as inovações, precisamos criar os inovadores” (2011, p.71). Pode-se observar através deste autor, que se uma escola pretende realizar algo novo, alterações, ou mesmo, ajustar-se ao mundo globalizado, deverá ter a preocupação em preparar o seu corpo docente e administrativo, realizar uma formação 20 Gestão da Educação Básica continuada para que os processos sejam desenvolvidos com unidade e coesão. Nas escolas, é importante abrir espaços de discussão para um debate sobre a gestão educacional e escolar com o objeti- vo de superar o que se lhe apresenta, para romper com as bar- reiras e gerir a escola dentro deste novo mundo globalizado, impulsionado pela tecnologia da informação e pelas comuni- cações, realidade para todos e da qual não podemos evitar. Neste sentido o conhecimento é o grande aliado, é um valioso recurso para a vida das pessoas e quando aliado à gestão, ele faz a sua diferença, cabendo à escola organizar a renovação, aproveitando a riqueza de informações. Ela deverá oferecer uma formação geral direcionando-se para a forma- ção integral do profissional. Pois na sociedade do conheci- mento se depara com múltiplas oportunidades de aprendiza- gem e a escola não poderá alienar-se, implica, então, em criar um ambiente participativo, que seja o centro da inovação. Por outro lado, a inovação gera também uma resistência por parte daqueles que não desejam sair da zona de confor- to, e isso prejudica as mudanças no ambiente escolar, pois a inovação atinge a estrutura organizacional, bem como as políticas, a prática participativa e a formação continuada com foco na competência. Toda essa mudança chamada inovação inclui os aspec- tos tecnológicos, políticos e culturais e necessita de alterações metodológicas, de recursos e técnicas, mas também gera uma situação perigosa, porque envolve os sentimentos das indivi- Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 21 dualidades frente ao novo e, ao mesmo tempo, também, en- coraja de maneira construtiva. Uma escola flexível se torna mais fácil tanto para vencer suas dificuldades como para implantar as mudanças, as quais devem passar pela tecnologia e pelos meios de comunicação e, estes geram amplas possibilidades de aprofundar o conhe- cimento porque contém recursos didáticos modernos, estando ao alcance dos alunos como de professores e gestores. Nesta dinâmica, a inovação não está somente alicerçada nesse aparato de contribuições, mas também na conscientiza- ção as quais são absorvidas pela solidariedade do ser humano conjuntamente, tecidas pela rede de comportamentos, influen- ciando no movimento da escola e seus resultados, lastreando e convertendo o espaço educativo em uma escola aprendente. Recapitulando A escola se encontra, atualmente, no centro das atenções, isto porque se reconhece que a educação na sociedade globaliza- da constitui grande valor estratégico para o desenvolvimento da humanidade, sendo necessário buscar novas práticas de gestão e alterar as ultrapassadas, visando à melhoria da qua- lidade na educação. Os desafios devem ser enfrentados, tendo em vista, inevita- velmente, a inovação para superação dos problemas, através de um trabalho participativo que valorize as ideias, sugestões 22 Gestão da Educação Básica de toda comunidade escolar, com a finalidade de se sentirem parte integrante do processo educativo. Diante de novas concepções administrativas, as atividades gestoras de uma escola não se resumem somente em ações burocráticas e legais, como, também, deve levar em conside- ração os aspectos emocionais, que interferem nas ações peda- gógicas e na falta de comprometimento. Reavaliar os procedimentos, alargar os horizontes e redefi- nir os conceitos não minimiza o primordial, que é a formação do indivíduo em sua complexidade. As relações do sistema empresarial com o sistema educacional se assemelham em suas intenções de organização, no entanto, divergem em seus interesses epistemológicos. No ambiente escolar, o processo de gestão não fica apenas restrito à vida profissional dos professores, diretores, alunos, ele é muito mais. A gestão no espaço escolar, eminentemente politico-educativo, se efetiva com o conceito de comunidade, uma vez que envolve valores que se traduzem como orienta- ção da relação entre aspessoas. A gestão escolar envolve conhecimento, realização huma- na e contentamento cultural. Na atribuição de suas compe- tências, designa o pensar e o refletir sobre o que se executa, enquanto que as habilidades estão presentes na capacidade de realizar. É no espaço escolar que as competências e as habilidades andam próximas, pois as atividades ali realizadas devem ser pensadas, planejadas e executadas com responsa- bilidade, de forma participativa e num trabalho de conjunto. Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 23 A escola com forte potencial de liderança é o diferencial para uma gestão de qualidade. Sendo essa responsabilidade de todos que fazem a educação, mesmo que o gestor seja o articulador do processo, cabe a cada um intensificar sua participação e progredir na sua atuação como agente de mu- dança. O desejo por uma gestão de qualidade, que desponte a eficácia da gestão escolar, é o que vem ativando o desenvolvi- mento das políticas públicas educacionais. Enaltecer a lideran- ça em meio às habilidades que envolvem o gerir educacional leva a pensar na instituição de ensino como espaço singular, autêntico, que compartilha, que congrega e que forma. Neste sentido, a escola torna-se democrática para sua essência pedagógica, conduzida por seu caráter público das relações sociais estabelecidas pela democratização das deci- sões, e, essencialmente, pela formação da cidadania. Deve-se salientar que o gestor escolar é o principal peda- gogo, residindo nele a responsabilidade do gerenciamento do processo ensino-aprendizagem, numa perspectiva democráti- ca, realizado de forma conjunta e participativa e construído diariamente. Referências ANDRADE, R.C. de. A gestão da escola. Porto Alegre: Art- med, 2004. 24 Gestão da Educação Básica BEZERRA, C. A máquina de inovação: mentes e organiza- ções na luta por diferenciação. Porto Alegre: Bookman, 2011. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 e outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais 1/92 a 56/2007 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técni- cas, 2008. BRASIL. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Bra- sília/DF, 1996. BRASIL. Lei 13.005 de 25 de junho de 2014. Aprova o Pla- no Nacional de educação. Brasília/ DF, 2014. CÓSSIO, M. de F. Gestão democrática da educação: retórica política ou prática possível. In CAMARGO, Ieda de. Ges- tão e políticas da Educação. Santa Cruz do Sul: EDU- NISC, 2006. CHIAVENATO, Idalberto. Teoria da Administração Geral. Rio de Janeiro: Campus, 2002. DOURADO, L. F. Educação e sociedade. Campinas, v. 28, nº 100 – Especial, out. 2007, p. 921-946. LÜCK, Heloisa. Perspectivas da Gestão Escolar e Impli- cações quanto à Formação de seus Gestores. In: em aberto nº 72 (Gestão Escolar e Formação de Gestores), junho 2000. Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 25 ______. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. Petrópolis: Vozes, 2010. ______. Concepções e processos democráticos de gestão educacional. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 2011. LIBÂNEO, J. C. A escola com que sonhamos é a que as- segura a todos a formação cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã. In COSTA, M. (org.) A escola tem futuro? Rio de janeiro: DP & A, 2004. ______. OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2009. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à Administração. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2007. PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2002. SANTOS, Boaventura Sousa. Introdução a uma ciência pós- -moderna. Rio de Janeiro: Graal, 2002. SILVA, Reinaldo O. Teoria da Administração. São Paulo: Pio- neira, 2001. Atividades Assinale a alternativa correta: 26 Gestão da Educação Básica 1) O autor que “preocupava-se com a eliminação dos des- perdícios e a elevação do nível de produtividade através da aplicação de métodos e técnicas da engenharia indus- trial” na administração científica refere-se a: ( ) Silva ( ) Chiavenatto ( ) Fayol ( ) Taylor ( ) Maximiano 2) Segundo Paro (2002), “a democracia só se efetiva por atos e relações” que sinalizam a prática de uma gestão demo- crática: ( ) A estrutura organizacional da instituição de ensino de forma tecnicista. ( ) Normas de gestão regulamentadas pela minoria. ( ) Inteligibilidade das informações. ( ) Inexistência de debates e votação nas decisões coletivas. ( ) Competitividade e individualismo da equipe gestora. ( ) Coerência da gestão com o processo de participação da comunidade. 3) A função do gestor escolar necessita assegurar a qualida- de e a excelência educacional, no entanto, considera-se que deverá ser mantido no seu perfil: Capítulo 1 Gestão Escolar: Concepções e Tendências Atuais 27 ( ) A capacidade de subordinação ao processo político. ( ) O fato de que ele é, antes de tudo, um pedagogo. ( ) A consciência da importância econômica de sua função. ( ) O desconhecimento da política educacional. ( ) A irresponsabilidade em todo processo participativo. 4) A concepção de Gestão está alicerçada nas teorias admi- nistrativas e os seus principais estudiosos foram: ( ) Libâneo, Lück e Fayol ( ) Max Weber, Paro e Dourado ( ) Taylor, Maximiano e Lück ( ) Fayol, Taylor e Max Weber ( ) Dourado, Maximiano e Fayol 5) Sobre a gestão da escola no mundo globalizado, pode-se afirmar que: I. Sua função principal é organizar o setor administrativo da escola. II. Abrir espaços para discussão sobre a gestão educacio- nal e escolar. III. Deve assegurar apenas o controle das práticas educa- tivas. IV. Preparar o seu corpo docente e administrativo, realizar formação continuada. 28 Gestão da Educação Básica V. Restringe-se à elaboração do projeto político-pedagó- gico. Estão corretas as alternativas: A) I, II e III apenas. B) I, III e IV, apenas. C) II, III e V, apenas. D) II e IV, apenas. E) V e I, apenas Gabarito 1.Taylor. 2. Coerência da gestão com o processo de participação da comunidade. 3. O fato de que ele é, antes de tudo, um pedagogo. 4. Fayol, Taylor e Max Weber. 5. Letra D – II e IV, apenas. Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica1 1 Advogada, Professora Universitária. Graduada em Letras e Direito pela PUC/RS. Especialista em Administração e Planejamento para Docentes. Mestre em Gestão Empresarial pela UCES – Argentina. Mestranda em Educação pela ULBRA/RS. Maria Inês Borsa1 Capítulo 2 30 Gestão da Educação Básica Introdução A abordagem sobre as políticas públicas na gestão educacio- nal nos conduz a cenários complexos de disputas nos âmbitos nacional e internacional. As alterações das ações políticas, sob o enfoque orgânico ou não, constituem-se nos marcos funda- mentais para as implantações dos regulamentos, compromis- sos e perspectivas na esfera educacional. Os processos pedagógicos pós-modernos extrapolam as dinâmicas intraescolares e exigem o destaque da escola no contexto sociocultural. A dinâmica dos projetos político peda- gógicos é materializada na gestão educacional, onde merece destaque a educação básica e a sua política de gestão. A gestão educacional não deve ficar adstrita a meros pro- cessos descritivos de organização e de execução. As relações sociais, fundamentalmente numa época em que há desta- que para as pedagogias culturais, deverá ser a tônica para a propositura educacional, sendo levados em consideração os tipos diferenciados dos destinatários, que da educação se apropriam. A discussão sobre a gestãoda educação básica encontra-se articulada com os programas e as estratégias do governo federal. Nesse contexto, este capítulo objetiva apresentar os limites e as perspectivas da gestão educacional sob as luzes das po- líticas públicas e, para tanto, valho-me das lições de Luiz Fer- nando Dourado, especificamente quanto às políticas e gestão da educação básica no Brasil. Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 31 1 Gestão e Ação Política A gestão da educação básica não se encontra pautada ape- nas nos tradicionais e já superados projetos de transmissões de conhecimentos. Atualmente, várias proposições e concepções são articuladas nos complexos cenários do sistema de ensino. A educação deve ser entendida como sendo uma prática social construtiva e constituinte das relações sociais em toda a sua amplitude. A socialização cultural é a fonte basilar da edu- cação e a escola é um dos locais privilegiados para o alcance da cultura, visto que as pedagogias culturais estão a apon- tar outras formas e locais de assimilação cultural. Todavia, a formação em prol dos objetivos sociais permanece sendo em grande parte buscada no tradicional “lócus” escolar. As técnicas da gestão educacional diferenciam-se das exis- tentes na gestão administrativa, dadas as suas especificidades. A escola, diante de seus objetivos didático-pedagógicos apon- ta horizontes que se afastam do mero custo e benefício, dita- dos pela administração. Como consectário, os planejamentos e os desenvolvimentos educativos devem ser fundamentados e estreitamente dirigidos para as suas finalidades. Os projetos educacionais relacionados à sua gestão de- vem ser articulados com as políticas educacionais e aos pro- jetos pedagógicos das escolas, assim como com os ditames do MEC e com o envolvimento da sociedade civil organizada. Inobstante, o perfil de gestão deverá estar coadunado com uma base de formação sólida, não ficando adstrito às meras disseminações de metodologias e estratégias de aprendiza- 32 Gestão da Educação Básica gem. Impõe-se a articulação das políticas educacionais com os processos de construção coletiva e com as experiências vi- venciadas pelos municípios, para que as ações do MEC se sagrem fortalecidas e legitimadas. A gestão educacional não deverá descurar das especifici- dades das cidades, dos estudantes, da formação dos professo- res, sob pena de sofismar a lógica educacional. Ademais, as políticas de financiamento e regulação da educação trazem consigo nuances próprios, decorrentes das características de cada Estado e os trânsitos desenvolvidos entre o público e o privado. Assim, a conjugação dos fatores extraescolares com os in- traescolares propicia a democratização na organização dos processos de gestão escolar. 2 As políticas e a gestão da educação básica no Brasil As políticas educacionais no Brasil têm sido, ao longo da histó- ria, marcadas pela lógica da descontinuidade e pela carência de planejamento de longo prazo que evidenciem as políticas de Estado em substituição às políticas conjunturais do Estado. Em grande número são visualizadas ações sem articulações com os sistemas de ensino, em especial com a educação bá- sica. A partir do processo de redemocratização do país e em grande parte com a edição da Constituição Federal de 1988, Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 33 a educação passou a ocupar o destacado espaço de direito social inalienável, tocando aos entes federados a responsabi- lidade pela sua implantação, vinculados aos recursos educa- cionais previstos constitucionalmente. Visando coadunarem-se com esses contextos, o governo federal e alguns governos estaduais, na década de 1990, implementaram novos modelos de gestão com objetividades produtivas e capitalistas. Esse modelo era indicativo de uma gestão centralizada e de pouco aderência pedagógica para as aguardadas mudanças substanciais nos sistemas de ensino. Algumas alterações foram recepcionadas com hibridismo, visto que umas acarretaram suspensões de ações consolidadas na prática escolar e outras interferiram em pequenos ajustes no cotidiano escolar. Vivenciava-se um conjunto de ações pouco produtivo, gestores da desestabilização do já instituído e sem fôlego político para a instauração de novos padrões orgânicos da prática educativa. As políticas focadas fizeram emergir programas e orienta- ções oriundos do governo federal e destinados aos estados e municípios. Com isso, disseminaram-se os Parâmetros Curri- culares Nacionais (PCN), o Plano de Desenvolvimento da Es- cola (PDE), a criação do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e implantação da política de avaliação centralizada. Como consectário, ocorreram desarticulações de experi- ências e dos projetos em andamento associados às políticas federais para a educação básica. O centro das atenções vol- tava-se para as buscas de fontes complementares de recursos. Apenas a lógica e a natureza das escolas sofreram alterações 34 Gestão da Educação Básica no âmbito do cumprimento e prestação de contas das obriga- ções “contratuais” com o governo federal. O cenário educacional ressentia-se da elaboração de uma lei complementar que definisse o regime de colaboração recí- proca entre os entes federados. As políticas educacionais fo- ram mantidas pelos programas e ações prioritárias da esfera federal, sem, contudo, adotar o Plano Nacional de Educação (PNE) como fonte de referência para tais políticas. O Plano Nacional de Educação (PNE) da época, não foi fundamentado técnico-pedagogicamente nas ações de arti- culação entre os diferentes programas e ações desenvolvidas pelo MEC e suas respectivas propostas políticas. Carecia-se de planejamentos sistêmicos que garantissem a organicidade entre as políticas e os diversos órgãos do MEC. Transitava-se em cenários ambíguos. Havia direção de po- líticas de inclusão e de democracia, ladeadas por ênfases ge- renciais tecnicistas e produtivistas; essas últimas de essência desigualitária. Sob esse prisma, as ações governamentais con- viviam com concepções diferenciadas e antagônicas, exigindo organicidade entre as políticas, as ações e os programas. A reorientação das políticas educacionais passaram a ser observadas a partir de 2003 por meio de alterações nos mar- cos regulatórios na educação básica e na educação superior. O binômio orientador restou centrado na inclusão e na demo- cratização, sem descurar da educação com qualidade. Diante disso, foi implementada a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos e estruturalmente houve a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 35 e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), o qual representou um avanço na dinâmica dos financiamentos desse segmento educacional. O FUNDEF, que surgiu antes do FUNDEB, foi implantado por meio da Emenda Constitucional nº 14, de 1996, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, passando a vigorar a partir de 1998 e com duração de 10 anos, tendo expirado em 2006. Em 2007, no governo Lula, o FUNDEB ocupou o lugar do FUNDEF estando com previsão de validade por 14 anos, incluindo não apenas o ensino fundamental, mas também o ensino médio e a edu- cação infantil. O FUNDEB apresenta os seguintes objetivos: 1. pagar os docentes e outros funcionários que atuem diretamente na ministração do ensino, como diretores e vice-diretores, coordenadores pedagógicos e orienta- dores educacionais; 2. pagar encargos sociais devidos pelo Poder Público; 3. investimento na melhoria dos professores que se encaixam nessa faixa, como cursos de especialização, ensino superior ou “reciclagem”; 4. elaboração de planos de carreira e remuneraçãopara docentes para a melhoria da qualidade do ensino públi- co; 5. outras despesas voltadas para a manutenção do ensino fundamental público. (Wikipédia.org/wiki). Inobstante isso, foram implantados os Planos Nacionais de Educação (PNE), os Planos Estaduais de Educação (PEE) e os Planos Municipais de Educação (PME). Todavia, ainda que en- tendidos como planos de Estado, os mesmos não guardaram articulação lógica de descentralização educacional. O PNE, 36 Gestão da Educação Básica que estipula metas, não foi integrado ao processo de elabo- ração do Plano Plurianual (PPA). A ausência de organicidade orçamentária extraiu a efetividade das metas do PNE. Ainda que tais cenários indicassem reformulações na esfera da gestão educacional, vários foram os programas mantidos, como o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), coexistin- do os Planos de Democratização das Escolas (PDE), responsá- veis pelo fortalecimento dos Conselhos Escolares. 3 Planos e Programas Federais no âmbito da Gestão Escolar Tendo como objetivo precípuo a democratização da escola, ainda que com essências ambíguas, foram criados o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e o Programa de Fortalecimento de Conse- lhos Escolares. Esses, sem uma abordagem exaustiva, serão alvo de algu- mas observações. 4 Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) O PDE é um dos programas centrais do FUNDESCOLA. O FUNDESCOLA é oriundo do MEC e por meio de parcerias com as secretarias municipais e estaduais das regiões norte, nordeste e centro-oeste promoveu ações voltadas para as es- Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 37 colas do ensino fundamental. A partir de 2002, observado o processo de universalização, tornou-se prática a programação de todos os recursos do PDE, ainda que não sejam contempla- dos todos os municípios (AMARAL SOBRINHO, 2005, p. 130). Por meio do FUNDESCOLA, almejou-se a busca da eficá- cia, da eficiência e da equidade no ensino fundamental públi- co, tendo como foco o PDE. A escola, tida como a responsável pela melhoria da qualidade de ensino, deve ser abastecida na modernização da sua gestão, bem como deverá haver o forta- lecimento de sua autonomia. O planejamento para o alcance desses objetivos deverá ser estratégico e participativo. De acordo com FREITAS (2004, p. 71) o planejamento de- verá estar centrado “numa cultura organizacional firmada so- bre princípios de gestão estratégica e do controle da qualidade total, orientada pela e para a racionalização, a eficiência e a eficácia”. Nesse contexto, o PDE tem como escopo a melhoria da educação, adotando os parâmetros de mercado com a apli- cação das estratégias da empresa privada na gestão da escola pública. Essa ressignificação é efetivada com a participação e a decisão coletiva centrada na educação como um bem público. O PDE concede a viabilidade de autonomia, restrita à di- mensão financeira, o que fez incrementar a proliferação das empresas de consultoria e de capacitação docente por meio de cursos ofertados pelas mesmas. Essas empresas fazem um trabalho de gerenciamento e de planejamento, tocando à es- cola apenas a escolha dos cursos que almeja, embasadas na oferta mercantil. 38 Gestão da Educação Básica O âmbito abraçado por essas empresas extirpa o prin- cípio da gestão democrática dos processos de participação subjacentes, bem como a efetivação do projeto pedagógico da gestão democrática dos sistemas de ensino. Apesar desse distanciamento, a Secretaria de Educação Básica (SEB), houve a busca pelo ideal editado. A partir de 2004, o FUNDESCOLA passou a ser denominado de FNDE. Com isso, ampliou-se a linha divorcista existente entre o Fundo, o PDE e as ações e programas do SEB, sendo sentida a sobreposição de ações e planos político-pedagógicos, distantes do âmbito do governo federal. As ações do Fundo são desenvolvidas sem a interlocução com as demais políticas das Secretarias do MEC, e o PDE se encontra envolto na concepção gerencial, ignorando o esfor- ço desenvolvido pelo MEC para a ampla democratização da gestão escolar. 5 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) Por meio do FNDE, o PDDE faz uso predominantemente do “salário-educação”, destinando-o à aquisição de material permanente e de consumo para o funcionamento da esco- la. Os limites desse programa estão contidos na estruturação das unidades executoras nas escolas e isso tem resultado, em muitos casos, na instituição de entes privados na condição de gestores dos recursos das escolas públicas. Esse programa pa- dronizou o formato institucional, delegando responsabilidades Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 39 quanto à gestão dos recursos públicos descentralizados para a instituição de natureza privada. Nesse cenário, os Conselhos Escolares passam a ter par- ticipação e deliberação como unidade executora. Por meio desse perfil, há a assunção de disputa política entre diferentes segmentos educacionais. Ademais, observa-se o fortalecimen- to do Círculo de Pais e Mestres (CPM), que possui caracterís- ticas menos democrática e não subordinada ao controle do colegiado gestor. Como regra geral, o PDDE tem resultado no desrespeito ao pacto federativo, uma vez que há estabelecimento de relações diretas entre as escolas beneficiárias e o FNDE sem que ocor- ra a intervenção de instâncias governamentais locais sobre a definição e execução dos gastos. Com tais ações, inexiste a efetivação da democratização dos processos de deliberação coletiva, restringindo a autonomia para a gestão financeira da escola. 6 Programa de Fortalecimento dos Conselhos Escolares Os Conselhos Escolares têm em sua constituição a participa- ção de professores, funcionários, pais, alunos, diretores e a comunidade das unidades escolares. Em alguns casos, assu- mem a função de corresponsável pela gestão administrativa e pedagógica e em outras ocasiões, tornam-se unidades execu- toras do PDDE. 40 Gestão da Educação Básica Esse Programa foi normatizado pela Secretaria de Edu- cação Básica do MEC por meio da Portaria Ministerial nº 2.896/2004. Teve como objetivo precípuo o fortalecimento dos Conselhos Escolares nas escolas públicas de educação básica nas cinco regiões do país, abraçando os sistemas de ensino público nos âmbitos federais, estaduais e municipais, recebendo apoio técnico, pedagógico e financeiro do Ministé- rio da Educação. A Portaria estabelece que o Programa seja de responsabi- lidade da SEB, que ressalta a efetivação dos objetivos preco- nizados. O Programa se encontra organizado em cinco eixos fundamentais: conselhos escolares, democratização da escola e construção da cidadania; conselho escolar e o respeito e valorização do saber e da cultura do estudante e da comu- nidade; conselho escolar e o aproveitamento significativo do tempo pedagógico; conselho escolar e a aprendizagem na escola; conselho escolar, gestão democrática na educação e escolha do diretor. Esses eixos foram ampliados, sendo agregada a discussão sobre a qualidade da educação e a estratégia dos Conselhos Escolares na gestão democrática da educação pública. Apesar da centralidade desse Programa, os eixos da gestão democrática e a centralidade dos órgãos deliberativos coleti- vos, como os Conselhos Escolares, esbarram nos limites de outros programas do governo federal. Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 41 7 Os Programas e os seus Limites nas Políticas de Gestão da Educacional Desde logo, sinaliza-se a existência de descompasso entre o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escola- res com o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE). O PDDE tem o objetivo de agilizar a assistência financeira do FNDE, garantindoo cumprimento do artigo 211, da Constituição Fe- deral, especificamente quanto ao apoio técnico e financeiro da União. E isso aponta para a falta de organicidade das políticas de gestão e de organização das unidades escolares, gestadas pelo MEC. Diante desse quadro, é possível asseverar a existên- cia de contradições estruturais. De um lado, a centralidade da gestão democrática e, de outro, a concepção gerencial como aporte pedagógico. O pragmatismo do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, ainda que se constitua num avanço, disputa espaço com os programas de financiamento do Banco Mundial, sedimentados na égide gerencial. Essa contradição é refletida na dificuldade da efetivação das políticas de âmbito nacional. Com a transferência de competências de um ente federado para outro, estruturado na manutenção de ações pontuais, há prejudicialidade da ampla política de planejamento, financia- mento e gestão da educação básica. Vários são os processos de regulação do cotidiano dos sistemas de ensino das escolas públicas sob a política de financiamento de ações e progra- mas governamentais. Paralelamente, são visualizadas práticas 42 Gestão da Educação Básica de desenvolvimento de processos formais e informais de regu- lamentação nos territórios e nas organizações. A educação infantil, o ensino fundamental e o ensino mé- dio possuem estrutura complexa e heterogênea, orientadas pelas múltiplas formas de controle, inclusive sob as normativas do MEC e dos sistemas de ensino das escolas. Como consectário, há contradições no bojo das políticas adotadas, contribuindo para o aumento das fragmentações políticas dos sistemas e das unidades escolares. Por tais razões, impõe-se a necessidade de rediscussão das regulamentações do regime de colaboração entre os en- tes federados, buscando-se o estabelecimento de novas ba- ses de financiamento para a educação básica e o maior in- cremento nos percentuais de recursos destinados a esse nível educacional. 8 Políticas e Gestão da Educação Básica Algumas políticas, programas e ações têm propiciado nas es- feras federal, estadual e municipal, a ampliação das oportuni- dades educacionais da educação básica. O financiamento, as ações e os programas nem sempre são realizados de maneira orgânica. Há discursos voltados para a descentralização do ensino, nem sempre articulados com os estados e os municí- pios, deixando clara a desconexão com as prioridades estabe- lecidas pelos seus respectivos sistemas de ensino. Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 43 Frise-se que as políticas para assegurar as condições polí- ticas de gestão com a participação da sociedade civil é tare- fa dos poderes públicos. A essência patrimonialista brasileira deixa claro que muito há de ser feito para assegurar essas participações. Inobstante, há de se ter clara a dimensão da democratiza- ção do ensino, visto que essa não se dá apenas na qualida- de social para a otimização da permanência dos estudantes, contribuindo para a melhoria dos processos formativos e a participação com cidadania. Há de ser imprimida a gestão de políticas públicas, otimizando o acesso, a permanência e a gestão com qualidade social na educação básica. 9 Políticas para a Gestão da Educação Básica com Qualidade A busca pela qualidade na gestão da educação básica com qualidade constitui-se num grande desafio para o país, em especial para as políticas e gestão de nível de ensino. A busca por essa melhoria de qualidade não deve se restrin- gir apenas às medidas de ingresso e de permanência. Requer ações para a reversão da baixa qualidade da aprendizagem na educação básica. Para tanto, faz-se mister a identificação dos condicionantes políticos e a reflexão sobre a construção de estratégias para a alteração do contexto atual. Qualidade não é sinônimo de rendimento escolar, nem de posições no ranking das instituições de ensino. A qualidade de 44 Gestão da Educação Básica ensino envolve vários fatores intra e extraescolares em diversas dimensões. Ela envolve a relação entre os recursos materiais e humanos, bem como a relação que ocorre entre a escola e a sala de aula. Diante desse contexto, vislumbra-se a expectativa de me- lhorias na educação democrática com qualidade social para todos. Recapitulando A gestão da educação, assim como na educação básica, deve ser pautada nas políticas democráticas, bem como valer-se das habilitações dos professores e das linhas de financiamento para o alcance da qualidade do ensino. As formas de financiamento educacional, contudo, de forma geral, apresentam desconexão com os seus sistemas de ensino, sendo valorizada a esfera gestacional. Diante disso, proliferam as consultorias educacionais em detrimento dos objetivos tra- çados. A democratização cede espaço para a formatação do modelo educacional, conforme as regras mercadológicas. Vários financiamentos são disponibilizados, ainda que seus objetivos não sejam totalmente alcançados ou mesmo desvir- tuados. Nesse contexto, ainda que dificuldades sejam as tônicas, busca-se a eficácia das sistematizações sinalizadas pelos pro- gramas governamentais. Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 45 Referências AMARAL SOBRINHO, J. O PDE e a gestão escolar no Brasil. Brasília, DF: MEC/BIRD/FUNDESCOLA, 2001.146 Educ. Soc., Campinas, v. 26, n. 90, p. 127-147, Jan./Abr. 2005 Disponível em http://www.cedes.unicamp.br Acesso em: 20 set. 2014. DOURADO, Luiz Fernandes. Políticas e Gestão da Educação Básica no Brasil: Limites e Perspectivas. In: Educação e Sociedade. Campinas, v. 28, nº 100 – Especial, p. 921- 946, outubro de 2007 Disponível em http://www.cedes. unicamp.br Acesso em: 15 ago. 2014. FREITAS, H. C. L. et al. PDE: evidências no município de Du- rados. In: FONSECA, M.; TOSCHI, M. S.; OLIVEIRA, J. F. (Org.) Escolas gerenciadas: planos de desenvolvimento e projetos político-pedagógicos em debate. Goiânia: UCG, 2004, p. 55-80. FUNDO DE MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO EN- SINO FUNDAMENTAL E DE VALORIZAÇÃO DO MAGIS- TÉRIO. Disponível em: http://WWW.ptwikipedia.org/wiki/ Fundo_de_Manutenção_e_Desenvolvimento_do_Ensino_ Fundamental_e_de_Valorização_do_Magistério Acesso em 20 set. 2014. Atividades 1) Marque a resposta CORRETA. 46 Gestão da Educação Básica Sobre a escola: a) É o único local para o alcance da cultura. b) É um “lócus” privilegiado para o alcance da cultura. c) Cedeu espaço totalmente para as pedagogias cultu- rais, deixando de existir. d) Deve ser organizada dentro dos padrões da adminis- tração, visto ter o mesmo objetivo. e) É a fonte essencial do alcance lucrativo. 2) Marque o conjunto de assertivas CORRETO. As assertivas: I – Deverá estar adstrita às meras disseminações de meto- dologias e estratégias. II – Deverá estar articulada com as práticas educacionais e com os processos de construção coletiva. III – Deverá conjugar os fatores extraescolares com os in- traescolares. As respostas: a) Todas as assertivas estão corretas. b) Nenhuma assertiva está correta. c) Apenas a assertiva II está correta. d) Estão corretas as assertivas II e III. e) apenas a assertiva I está correta. Capítulo 2 Limites e Perspectivas na Gestão da Educação Básica 47 3) Marque a reposta CORRETA. A educação, a partir da Constituição de 1988: a) Passou a ocupar lugar secundário no contexto social; b) Tornou-se alienável; c) Tornou-se direito social; d) Passou a ser integrante das políticas de saneamento básico; e) Deixou de ser financiada. 4) Marque o conjunto de assertivas CORRETO. São objetivos do FUNDEB. As assertivas: I – Pagar os docentes e outros funcionários que atuem di- retamente na ministração do ensino, como diretorese vice-diretores, coordenadores pedagógicos e orienta- dores educacionais. II – Investir apenas em cursos de “reciclagem”. III – Desocupar-se com a qualidade do ensino público. As respostas: a) Todas as assertivas estão corretas. b) Nenhuma assertiva está correta. c) Apenas a assertiva II está correta. 48 Gestão da Educação Básica d) Estão corretas as assertivas II e III. e) Apenas a assertiva I está correta. 5) Marque o conjunto de assertivas CORRETO. Sobre as políticas e gestão de ensino básico. As assertivas: I – Devem buscar a democratização do ensino. II – São aplicadas apenas pela esfera federal. III – São desconexas com as prioridades estabelecidas pe- los seus respectivos sistemas de ensino. As respostas: a) Todas as assertivas estão corretas. b) Nenhuma assertiva está correta. c) Apenas a assertiva II está correta. d) Estão corretas as assertivas II e III. e) Apenas a assertiva I está correta. Gabarito 1) B 2) D 3) C 4) E 5) D Gestão Compartilhada: Buscando as Instâncias Colegiadas da Escola1 Gestão Compartilhada: buscando as instâncias... 1 Graduação em Pedagogia – Supervisão Escolar, Especialista em Gestão e Pla- nejamento Escolar e Mestre em Educação. Professor da Universidade Luterana do Brasil e Supervisor Escolar da Rede pública de Ensino. Rejane Sittoni Schutz1 Capítulo 3 50 Gestão da Educação Básica Introdução Neste capítulo, abordaremos aspectos relacionados ao proces- so de descentralização das tomadas de decisões na gestão, no contexto das políticas educacionais. Analisamos as concepções de gestão e as possibilidades na construção da autonomia. Espera-se que este estudo contribua para a reflexão e o entendimento do processo de gestão compartilhada. 1 Gestão Educacional: reflexões para uma Gestão Compartilhada A expressão “gestão educacional” passou a ganhar corpo no contexto educacional, na década de 90, com maior visibilidade neste cenário. A construção deste termo ocorre principalmente em função das atribuições ao cargo de base organizacional dos processos educativos, buscando a melhoria da qualidade do ensino. O conceito de gestão está associado fortemente ao processo pedagógico e às relações interpessoais na organiza- ção da instituição. O estudo e a reflexão se tornam fundamentais para o en- tendimento do papel do gestor. Neste segmento, pensando na prática de uma gestão voltada aos processos democráticos, Lück (2011a) escreve sobre a participação nas tomadas de decisão: Em linhas gerais, a lógica da gestão é orientada pelos princípios democráticos e é caracterizada pelo reco- Capítulo 3 Gestão Compartilhada: buscando as instâncias... 51 nhecimento da importância da participação consciente e esclarecida das pessoas nas decisões sobre a orien- tação, organização e planejamento de seu trabalho e articulação das várias dimensões e dos vários desdo- bramentos de seu processo de implementação. (LÜCK, 2011a, p.36). Portanto, cabe no campo da educação trabalhar com base nos princípios democráticos e também formar para a demo- cracia, conforme definido na legislação, no artigo 14 da Lei de Diretrizes e Base (LDB) 9.394/96, que segue: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação bá- sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elabo- ração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. No artigo 14, da LDB, os princípios democráticos mencio- nados na legislação tornam-se essenciais para o alicerce na organização dos processos de gestão, buscando concepções voltadas à participação de todos os envolvidos. Este processo se dá desde a base no sistema de ensino, por parte da equipe de gestão. Com relação à participação dos dirigentes das instituições de ensino, pontuo o trabalho afirmado entre UNESCO e MEC, e me amparo em Valérien, 1993: 52 Gestão da Educação Básica O dirigente escolar é cada vez mais obrigado a levar em consideração a evolução da ideia de democracia, que conduz o conjunto de professores, e mesmo os agentes locais, a maior participação, a maior implicação nas to- madas de decisão. (VALÉRIEN, 1993, p.15). Para tanto, modificações nas organizações que envolvam concepções de gestão voltadas à participação de toda a co- munidade escolar precisam ser consideradas, descobrindo alternativas e novos caminhos que possibilitem autonomia e soluções para atingir os objetivos propostos. A Gestão compartilhada, através da participação e das re- lações estabelecidas, busca contribuir no planejamento edu- cacional. Trago algumas características de gestão participati- va, segundo Lück, Freitas, Girling e Keith, 2012: Características da gestão participativa Compartilhamento de autoridade e de poder. Responsabilidades assumidas em conjunto. Valorização e mobilização da sinergia de equipe. Canalização de talentos e iniciativas em todos os segmentos da organização. Compartilhamento constante e aberto às informações. Comunicação aberta e ampla disseminação de informações. Fonte: Lück, Freitas, Girling e Keith (2012, p.30). Conforme a legislação brasileira, os dirigentes das institui- ções têm o compromisso, também, de cada vez mais promover Capítulo 3 Gestão Compartilhada: buscando as instâncias... 53 a participação de toda a comunidade escolar, com o propósito de firmar as tomadas de decisões no coletivo. Ocorrem alterações no cenário dos movimentos dos fatos na atualidade que exigem uma dinâmica mais intensa nos di- ferentes campos, como saúde, tecnologia, entre outros. No contexto da educação não é diferente, pois antigos conceitos de administração educacional que fundamentavam o trabalho destes administradores em décadas passadas não parecem ser o suficiente para a exigência da demanda atual na dimensão de gestão compartilhada. Contudo, ainda percebemos proce- dimentos centralizadores que ainda imperam em muitos locais. Nesta direção, a modificação do termo de administração para gestão educacional com algumas nuances na sua prática. Nota-se, no decorrer da história do sistema de ensino da educação brasileira e também nos tempos atuais, ações isola- das que são pensadas como alternativas de melhoria na quali- dade do ensino. Ações estas na metodologia do professor e nas estruturas físicas da escola, que trago como exemplo ocorren- do como efeito paliativo. Na educação o que se observa são os problemas globais que exigem uma ação efetiva e coletiva. Trazendo aspectos relacionados aos recursos, de modo geral, ressalta-se que há algumas instituições de ensino com boas condições em relação a recursos materiais, quadro de professor completo e com boa formação acadêmica e, no en- tanto, outros com carências extremas tanto em recursos ma- teriais como em humanos e também as articulações pedagó- gicas, fazendo com que refletimos sobre os desafios para os gestores destes locais. 54 Gestão da Educação Básica Outro aspecto para pensarmos são os locais com recursos suficientes ou o oposto, sem eles, mas com algumas desarticu- lações entre as equipes e até mesmo falta de motivação que ficam no mesmo patamar. Estes se tornam ineficazes por falta de ações conjuntas. A ausência de articulação entre as partes envolvidas se destaca como um dos fatores para os casos de insucessos na educação. Este trabalho motivacional deveria ser pensado e posto em prática pela equipe gestora. A seguir, quadro com exemplos de ações que obtiveram êxito com ges- tão escolar participativa. Para que optar pela participação na gestão escolar A gestão escolar participativa é fundamental para: Melhorar a qualidade
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