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Autismo TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO. SUMÁRIO MÓDULO I – TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO 1.1 – Caracterização: aspectos sociais, físicos, biológicos e educacionais...............05 1.1.1 – Autismo...................................................................................15 1.1.2 - Síndrome de Rett.............................................................................19 1.1.3 - Síndrome de Asperger ......................................................................21 1.1.4- Transtorno Desintegrativo da Infância....................................................22 1.1.5 – Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação...............24 1.2 – Os alunos com TGD e políticas públicas................................................25 1.3 – A formação dos alunos com TGD: teorias e práticas.................................29 MÓDULO II – ADAPTAÇÃO CURRICULAR E AVALIAÇÃO MULTIDISCIPLINAR 2.1 - Aspectos teóricos e práticos da avaliação diagnóstica e multidisciplinar na educação especial inclusiva. ........................................ .......................................34 2.2 – Os processos formativos de avaliação educacional.....................................36 2.3 - Avaliação de ingresso e promoção...........................................................39 2.4 - Adaptação de metodologias, programa curricular e avaliação do aluno com TGD......................................................................................................................41 2.5 - Seleção e planejamento de atividades complementares específicas para o aluno com TGD. ....................................................................................................44 MÓDULO III – ESTÍMULO E ESCOLARIZAÇÃO DE ALUNOS COM TGD 3.1 - A importância da estimulação precoce em casos de TGD. .........................47 3.2 - Escolarização de alunos com TGD na modalidade de educação especial e às formas de interlocução com a educação básica............................................................48 3.3 - Alunos com TGD na educação infantil, no Ensino Fundamental e na EJA.....50 3.4 - O papel da família e da escola................................................................52 MÓDULO IV – DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE 4.1 – TDAH: Conceitos básicos........................................................................54 4.2 – Outros transtornos.....................................................................................58 4.2.1 – Transtorno de conduta..............................................................................58 4.2.2 – Transtorno Desafiador Opositivo...........................................................62 4.2.3 – A educação de alunos com Transtorno de Déficit de Atenção....................63 4.4 – A educação de alunos com outros transtornos de conduta...........................66 MÓDULO V – ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO 5.1 – Altas habilidades/superdotação: Conceitos básicos......................................67 5.2 – Altas habilidades/superdotação e os testes de inteligência...........................74 5.3 – Aspectos comportamentais e sociais dos portadores de altas habilidades/superdotação..............................................................................75 5.4 – O Atendimento Educacional dos alunos com altas habilidades/superdotação..............................................................................78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................82 Apresentação Prezado aluno, Ao receber a apostila Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) você entrará em contato com os conceitos básicos sobre a TGD, o processo histórico, filosófico, político e pedagógico e refletirá que a inclusão social tem sido um desafio para as esferas tanto da educação quanto para a saúde, dentre eles psicólogos, educadores e psicopedagogos e principalmente para as pessoas portadoras de necessidades especiais que, muito além de poderem exercer a cidadania, deparam com a dificuldade de acesso em todos os sentidos. A apostila tem por objetivo oferecer novos conhecimentos aos profissionais que lidam com os diversos sujeitos e sua aprendizagem e objetiva ainda proporcionar uma formação ampla que passa pelos conceitos de estímulo e adaptação desse sujeito no ambiente escolar e na sociedade. A nossa intenção com este trabalho é fazer com que os profissionais estejam aptos a lidar com o desenvolvimento, comportamento e a aprendizagem dos públicos citados. A leitura e os estudos contínuos desta apostila, a participação nos encontros presenciais o levará a aprender mais, a repensar práticas pedagógicas e o preparará para melhor entender o seu aluno, bem como será capaz de realizar um trabalho educacional a altura. Aproveite os conhecimentos aqui apresentados, discuta com seus colegas e seja muito bem vindo a nossa disciplina. Um bom trabalho, Prof. Esp. em Educação: Kellermann dos Santos E Psicóloga e Professora Esp. em Gestão de Pessoas: Michele Fernandes Vantini MODULO I – TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO 1.1. Caracterização: aspectos sociais, físicos, biológicos e educacionais. Segundo VASQUES (2012) o diagnóstico dos transtornos globais do desenvolvimento tem uma história ainda recente e complexa. A classificação dos transtornos mentais teve início fim do XVII e inicio do sec. XX. Emil Kraepelin (1856 – 1926) foi o primeiro a classificar as doenças mentais conhecidas na época em um “Tratado de psiquiatria”. Figura 1: Emil Kraepelin Fonte: http://altmentalities.wordpress.com/2011/02/08/ Em 1913, Karl Jaspers publicou sua obra “Psicopatologia geral”, que até os dias atuais ainda serve de base para exames diagnósticos. Figura 2: Karl Jaspers Fonte: http://www.friedenspreis-des-deutschen-buchhandels.de/445722/?aid=537628 Outra grande contribuição para a compreensão dos transtornos mentais de uma forma geral foi dada por Sigmund Freud (1856 – 1939), que laçou em 1900 seu livro “Interpretação dos sonhos”, revelando a existência do inconsciente, a importância dos sonhos e do desenvolvimento da psicossexualidade infantil. Figura 3: Sigmund Freud Fonte: http://www.veteranstoday.com/2013/12/24/sigmund-freud-psychoanalysis-and-the-war-on-the-west/ Somente no final dos anos 60 surgiu o conceito de Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), derivado especialmente dos trabalhos de M. Rutter e D. Cohen. O autismo, hoje considerado um dos Transtornos globais do desenvolvimento, era classificado até então como uma psicose infantil. (BELISÁRIO FILHO e CUNHA, 2010). São considerados portadores de TGD pela Política Nacional de Educação Especial “aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo.” (BRASIL, 2008). De acordo com a Resolução n ° 4, de 2009 que institui as diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica, são considerados alunos com TGD: “(...) alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação.” (BRASIL, 2009). A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, frequentemente designada pela sigla CID (em inglês: International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems), publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), visa padronizara codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. Foi publicado pela primeira vez em 1948 e sua versão eletrônica é atualizada anualmente desde 2000. Os transtornos globais do desenvolvimento encontram-se definidos no CID-10, como um (OMS, 2003): “[...] grupo de transtornos caracterizados por alterações qualitativas das interações recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de interesse e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Estas anomalias qualitativas constituem uma característica global do funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões.” O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM, publicado Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association - APA), teve sua 1ª edição 1952, também tem como objetivo a classificação nosológica oferecendo para profissionais da área da saúde mental um manual que lista as diferentes categorias de transtornos mentais e os critérios para diagnosticá-los. Os TGD no DSM-IV são classificados como Transtornos Invasivos do Desenvolvimento e tem como características (APA, 2002): “[...] um comprometimento grave e global em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação ou presença de estereotipias de comportamento, interesses e atividades. Os prejuízos qualitativos que definem essas condições representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade mental do indivíduo.” Os TGD em geral se manifestam nos primeiros anos de vida e frequentemente estão associados com algum grau de Retardo Mental ou com outras condições médicas gerais como anormalidades cromossômicas, infecções congênitas e anormalidades estruturais do sistema nervoso central (APA, 2002). Ambas as classificações, do CID-10 e do DSM-IV, apontam a existência da desordem de algumas funções do desenvolvimento infantil como característica principal dos transtornos do desenvolvimento, embora apresentem entidades clínicas diferenciadas. No CID-10 os Transtornos globais do desenvolvimento são descritos no capítulo V que compreende todos os Transtornos mentais e comportamentais. Tabela 1: Comparação de entidades clínicas dos Transtornos globais do desenvolvimento (CID-10 e DSM-IV-TR) TGD no CID-10 TGD no DSM-IV-TR Autismo Infantil Transtorno autista Síndrome de Rett Transtorno de Rett Outros transt. desintregativos da infância Transtorno desintregativo da infância Síndrome de Aspeger Transtorno de Aspeger Transt. global do desenvolvimento sem outra especificação – TGD SOE Transt. global do desenvolvimento sem outra especificação – TGD SOU (incluindo autismo atípico) Autismo atípico --------- Transt. com hipercinesia associada a retardo mental --------- Outros transt. globais do desenvolvimetno --------- Fonte: RAMOS, 2012 A causa dos quadros dos TGD é multifatorial dependendo de fatores genéticos e ambientais. As estatísticas mais recentes, realizadas em várias partes do mundo, referem prevalência dos TGD como sendo de 1:160 indivíduos, também apontam que esses transtornos afetam mais os meninos na proporção de 4 meninos para 1 menina. (SCHWARTZMAN, 2010). De acordo com RAMOS (2012) o modelo primordial utilizado pelos diversos estudiosos para a compreensão dos Transtornos globais do desenvolvimento centra-se no conceito de espectro do autismo, que inclui transtorno autístico (autismo), transtorno de Asperger, transtorno desintegrativo da infância, e transtorno global ou invasivo do desenvolvimento sem outra especificação. O Espectro Autista é um contínuo, não uma categoria única, e apresenta-se em diferentes graus. Há, nesse contínuo, os Transtornos Globais do Desenvolvimento e outros que não podem ser considerados como Autismo, ou outro TGD, mas que apresentam características no desenvolvimento correspondentes a traços presentes no autismo. (BELISÁRIO FILHO e CUNHA, 2010). Os transtornos do espectro autista surgem antes dos três anos de idade e apresentam um conjunto de sintomas que pressupõem um desvio no curso normal do desenvolvimento. Os transtornos do espectro autista têm em comum (PONTES, 2014): O comprometimento da interação social recíproca; O comprometimento da comunicação verbal e não verbal e Manifestação de comportamentos repetitivos e estereotipados, variando num conitinuum, desde as formas mais graves até as formas mais leves. Figura 4: Tríade do espectro autista Fonte: http://ueevboim.blogspot.com.br/2010/12/o-que-sao-pea-perturbacoes-do-espectro.html “Os três sintomas principais, que são uma espécie de marcadores para a presença do autismo, são: prejuízo grave do desenvolvimento de interações sociais recíprocas, prejuízo grave do desenvolvimento da comunicação - não só a linguagem falada, mas também expressões faciais, gestos, postura corporal, etc. E, finalmente, ocorre uma importante limitação da variabilidade de comportamentos, de modo que as pessoas com autismo não podem fazer muitas coisas. Eles não conseguem mudar seu padrão de comportamento de acordo com a situação social, sempre vão se comportar à sua maneira: serão sempre eles mesmos e não mudarão de acordo com as demandas sociais ou o ambiente social. Todos concordam que esses sintomas devem estar presentes para que um diagnóstico seja feito e que os problemas devem ser muito importantes.” (GILLBERG, 2005). GILLBERG (2005) afirma que a deficiência no campo social pode ser observada através da manifestação clínica dos seguintes sintomas: Falha no contato visual nas interações sociais; Falha no desenvolvimento de interações com crianças da mesma idade ou ausência de brincadeiras sociais; Falta de reciprocidade sócio emocional ou falta de empatia; Ausência de procura espontânea de compartilhamento prazer. Pode-se verificar que na forma mais grave dos transtornos do espectro autista existe o isolamento e a indiferença às pessoas. Uma forma mais atenuada pode ser vista naqueles que não procuram espontaneamente o contato social, mas aceitam ser procurados sem oferecer resistência. Nesses casos, há a busca de contato social de forma inadequada e unilateral. Além disso, pode-se observar uma pobreza na capacidade de aprender as regras mais sutis da interação social e falta de empatia. (PONTES, 2014). PONTES (2014) lista uma série de comportamentos que servem como sinais de alerta em relação aos sintomas da perturbação da interação social nos Transtornos do espectro autista, são eles: Não sorrir socialmente; Preferir brincar sozinho; Não pedir algo que deseja, pegando sozinho o que quer, mostrando assim muita independência; Apresentar pouco contato com o olhar; Viver em seu próprio mundo e ignorar as pessoas que o cercam; Não mostrar interesse em outras crianças. Figura 4: O comportamento social no espectro autista Fonte: SOUZA, 2010. CUNHA (2012) aponta nesses transtornos a alteração da função executiva do pensamento, que permite a utilização de estratégias adequadas para se alcançar um objetivo e está diretamente relacionada à capacidade humana de antecipar, planificar, controlar impulsos, inibir respostas inadequadas, flexibilizar pensamento e ação. Esta função do pensamento é fundamental para o enfrentamento de situações-problema, de situações novas, para a condução das relações sociais, para o alcance dos objetivos ou para a satisfação de necessidades e alcance de propósitos, em diferentes contextos, sempre que esteja presente uma intenção, um objetivo ou uma necessidade a ser atendida. Em relação à comunicação GILLBERG (2005) ressalta os seguintes sintomas: Ausência ou dificuldades na linguagem falada; Falha para manter conversação; Discurso repetitivo, incluindo a ecolalia (repetição de palavras ou frases). PONTES (2014)listou uma série de comportamentos que servem como sinais de alerta em relação aos sintomas da perturbação da comunicação nos Transtornos do espectro autista, são eles: Não responder ao próprio nome; Não conseguir dizer o que quer; Atraso na linguagem; Não atender ordens; Aparentar ser surdo algumas vezes; Não apontar, nem acenar tchau; Falar poucas palavras ou não falar. Em relação ao comportamento em geral GILLBERG (2005) ressalta os seguintes sintomas: Preocupação circunscrita a um interesse especial; Dependência compulsiva de rotinas; Estereotipias motoras; Preocupação com partes de objetos. Nos transtornos do espectro autista a atenção pode estar circunscrita a um interesse especial ou ficar compulsivamente ligadas a determinadas rotinas, e há a necessidade de que aquela rotina seja seguida no mesmo horário do dia, exatamente no mesmo local e com as mesmas pessoas. (GILLBERG, 2005). PONTES (2014) também listou uma série de comportamentos que servem como sinais de alerta em relação aos sintomas da perturbação do comportamento nos Transtornos do espectro autista, são eles: Apresentar crises de raiva; Apresentar comportamento hiperativo, opositivo e não cooperador; Não saber como brincar com brinquedos; Andar na ponta dos pés; Se interessar demasiadamente por determinados objetos; Gostar de enfileirar objetos; Mostrar muito sensibilidade a determinadas texturas ou sons Apresentar movimentos estranhos e/ou repetitivos. Figura 5: Sintomas do espectro autista Fonte: http://www.lincabrasil.com.br/autismo.htm Existem alguns filmes que ilustram com maestria o transtorno do espectro autista, como: Rain Men (1988); Meu filho, meu mundo (1979); Missão Especial (2004), entre outros. Figura 6: Filmes – espectro autista Fonte: http://www.google 1.1.1 Autismo Segundo BELISÁRIO FILHO e CUNHA (2010) o termo autismo foi utilizado pela primeira vez em 1911, por Bleuler, tendo como principais características a perda de contato com a realidade e consequente dificuldade ou impossibilidade de comunicação. Em 1943 o Dr. Leo Kanner descreve o autismo em seu artigo “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”. Em 1944, Hans Asperger escreve um artigo com o título “Psicopatologia Autística da Infância”, onde também descreve as características do autismo. Atribui-se tanto a Kanner como a Asperger a identificação do autismo, como entidade clínica (MELLO, 2007). Autismo é um dos transtornos globais do desenvolvimento, caracterizado por alterações presentes antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e variável nas áreas de comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação (MELLO, 2007). Todas as características anteriormente definidas no Transtorno do espectro autista são sintomas que podem ser apresentados nessa entidade clínica. Geralmente descreve-se o portador de autismo como alguém que vive em um mundo próprio, alheio os demais, apresentando assim dificuldades de relacionar até com sua própria família. Tabela 2: Autismo Fonte: BELIZÁRIO e CUNHA, 2010 Segundo a ASA (Autism Society of American) indivíduos com autismo exibem pelo menos metade das características listadas na tabela abaixo: Dificuldade de relacionamento com outras crianças; Riso inapropriado; Pouco ou nenhum contato visual; Aparente insensibilidade à dor; Preferência pela solidão, recusa colo ou afagos e apresenta modos arredios; Inapropriada fixação em objetos e na rotação dos mesmos; Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade; Ausência de resposta aos métodos normais de ensino; Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina; Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo); Procedimento com poses bizarras; Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal); Age como se estivesse surdo; Dificuldade em expressar necessidades - usa gesticular e apontar no lugar de palavras; Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente; Irregular habilidade motora - pode não querer chutar uma bola, mas pode arrumar blocos. Em relação às causas do autismo MELLO (2007) afirma que: “As causas do autismo são desconhecidas. Acredita-se que a origem do autismo esteja em anormalidades em alguma parte do cérebro ainda não definida de forma conclusiva e, provavelmente, de origem genética. Além disso, admite-se que possa ser causado por problemas relacionados a fatos ocorridos durante a gestação ou no momento do parto.” De acordo com estudos recentes o autismo é 4 vezes mais frequente em pessoas do sexo masculino e incide igualmente em famílias de diferentes raças, credos ou classes sociais. O diagnóstico de autismo é feito basicamente através da avaliação do quadro clínico, pois não existem testes laboratoriais específicos para a detecção do autismo. Raramente o diagnóstico conclusivo é feito antes dos 24 meses (MELLO, 2007). Além dos critérios diagnósticos estabelecidos pelo CID-10 e pelo DSM-IV a aplicação de um inventário ou questionário junto aos pais pode ajudar o médico a entender melhor o quadro clínico apresentado. No Reino Unido, é bastante utilizado o CHAT (Checklist de Autismo em Bebês), desenvolvido por Baron-Cohen, Allen e Gillberg, 1992, que é uma escala de investigação de autismo que pode ser aplicado em crianças aos 18 meses de idade. Apresenta um conjunto de nove perguntas a serem feitas aos pais com respostas tipo sim/não. O tratamento e o prognóstico do autismo são tão variáveis quanto são variáveis às manifestações clínicas dos sintomas. Não existe cura para o autismo, embora o tratamento possa produzir benefícios significativos e duradouros. O tratamento adequado é realizado em função das características particulares de cada indivíduo e deve levar em consideração a existência ou não de outros transtornos. Não há medicação específica para o autismo, mas outros problemas associados podem demandar uma medicação particular. “O autismo intriga e angustia as famílias nas quais se impõe, pois a pessoa portadora de autismo, geralmente, tem uma aparência harmoniosa e ao mesmo tempo um perfil irregular de desenvolvimento, com bom funcionamento em algumas áreas enquanto outras se encontram bastante comprometidas.” (MELLO, 2007). O individuo com autismo pode apresentar ao longo do tempo diversos graus de comprometimento da cognição e linguagem, variando desde o retardo mental e linguístico severo até os níveis de desenvolvimento normal dessas competências. (PONTES, 2014). A família e a escola tem um papel primordial no tratamento do autismo. Em primeiro lugar a família precisa ser orientada a respeito do autismo e de todas as possibilidades de tratamento e mudança do quadro clínico. É importante também que a família busque o apoio para lidar com essa realidade, pois a angústia e outras emoções não elaboradas podem intervir em qualquer forma de tratamento. A escola também necessita desse conhecimento e apoio para que junto com a família possam oferecer constantemente oportunidades de socialização para o autista ajudando-os a lidar com suas dificuldades nas áreas da comunicação e interação social, aprendizado e capacidade de adaptação. No dia 2 de abril é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Essa data foi criada pela ONU no fim de 2007, iniciando a campanha em 2 de abril de 2008. Desde então, várias organizações de diferentes países realizam eventos nessa data. Figura 6: Símbolo do Dia Mundial da Conscientização do Autismo Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_de_Conscientiza%C3%A7%C3%A3o_do_Autismo Figura ?: Cartaz do Dia do autismo no Brasil Fonte: http://www.revistaautismo.com.br/diamundialhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_de_Conscientiza%C3%A7%C3%A3o_do_Autismo http://www.revistaautismo.com.br/diamundial 1.1.2 Síndrome de Rett Andreas Rett identificou, em 1966, uma condição caracterizada por deterioração neuromotora em crianças do sexo feminino com um quadro clínico bastante singular. A prevalência da doença está estimada entre 1:10.000 e 1:15.000 ,atingindo apenas a população feminina, sendo uma das causas mais frequentes de deficiência mental severa que afeta esse sexo (SCHWARTZMAN, 2002). A doença evolui em estágios de forma previsível (MERCADANTE; GAAG e SCHWARTZMAN, 2007): 1. Estagnação precoce: Dos 6 aos 18 meses, caracterizando-se pela estagnação do desenvolvimento, desaceleração do crescimento do perímetro cefálico e tendência ao isolamento social. 2. Rapidamente destrutiva: Entre o primeiro e o terceiro ano de vida, com regressão psicomotora, choro imotivado, irritabilidade, perda da fala adquirida, comportamento autista e movimentos estereotipados das mãos. Podem ocorrer irregularidades respiratórias e epilepsia. 3. Pseudoestacionária: Entre os dois e dez anos de idade, podendo haver certa melhora de alguns dos sintomas como, por exemplo, o contato social. Presença de ataxia (falta de coordenação de movimentos musculares voluntários e de equilíbrio), apraxia (perda da habilidade para executar movimentos e gestos precisos), espasticidade (aumento do tônus muscular), escoliose (desvio da coluna vertebral) e bruxismo (ranger os dentes de forma rítmica durante o sono). Podem ocorrer episódios de perda de fôlego, aerofagia (engolir ar em excesso enquanto fala ou come), expulsão forçada de ar e saliva. 4. Deterioração motora tardia: Inicia-se em torno dos dez anos de idade, com desvio cognitivo grave e lenta progressão de prejuízos motores, podendo levar a necessidade do uso de cadeira de rodas. Figura : Portadora de síndrome de Rett Fonte: www.mimundorett.com Tabela 3: Síndrome de Rett Fonte: BELIZÁRIO e CUNHA, 2010 A sobrevida na Sindrome de Rett pode ser limitada em decorrência de quadros infecciosos. “Outro fator que pode limitar tanto a qualidade de vida como o tempo de sobrevida, consiste nos problemas respiratórios crônicos decorrentes de problemas secundários à escoliose, que pode chegar a comprometer seriamente a expansão pulmonar.” (SCHWARTZMAN, 2002). 1.1.3 Síndrome de Asperger A Síndrome de Asperger é considerada como uma forma branda de autismo, diferente desse, quem tem Asperger não apresenta comprometimento intelectual e retardo cognitivo. “Por isso os primeiros sinais e sintomas do distúrbio costumam ser ignorados pelos pais, que os atribuem a características da personalidade da criança.” (PEREIRA, 2013). De acordo SONZA (2010) muitos portadores da Síndrome de Rett possuem QI acima dos índices normais, apresentando habilidade verbal muito desenvolvida, com um vocabulário amplo, diversificado e rebuscado. “Os sinais e sintomas da síndrome de Asperger podem aparecer nos primeiros anos de vida da criança, mas raramente são valorizados pelos pais como algo negativo, especialmente se as manifestações forem leves. A grande maioria dos diagnósticos da síndrome de Asperger é feita a partir da fase escolar, quando a dificuldade de socialização, considerada a característica mais significativa do distúrbio, manifesta-se com maior intensidade, juntamente com o desinteresse por tudo que não se relacione com o hiperfoco de atenção.” (PEREIRA, 2013). Quando adultos, podem ter problemas com a empatia e modulação da interação social (BELIZÁRIO e CUNHA, 2010). Tabela 4: Síndrome de Asperger Fonte: BELIZÁRIO e CUNHA, 2010. Segundo GARCIA (2012) a Síndrome de Asperger é mais comum no sexo masculino. E já foi identificada em indivíduos que são considerados os maiores gênios da humanidade, como Einstein, Newton, Van Gogh e Bill Gates. Figura : Famosos portadores de síndrome de Asperger Fonte: www.google.com 1.1.4 Transtorno Desintegrativo da infância A característica essencial do Transtorno Desintegrativo da Infância de acordo com o DSM-IV é uma regressão pronunciada em múltiplas áreas do funcionamento, após um período de pelo menos 2 anos de desenvolvimento aparentemente normal, manifestado pela presença de comunicação verbal e não-verbal, relacionamentos sociais, jogos e comportamento adaptativo apropriados à idade. Outro critério diagnóstico é a perda clinicamente significativa de habilidades já adquiridas (antes dos 10 anos) em pelo menos duas das seguintes áreas: Linguagem expressiva ou receptiva; Habilidades sociais ou comportamento adaptativo; Controle intestinal ou vesical; Jogos; Habilidades motoras. Além disso, é constatado o prejuízo qualitativo em pelo menos duas das seguintes áreas (APA, 2002): Interação social (por ex., prejuízo nos comportamentos não-verbais, fracasso para desenvolver relacionamentos com seus pares, falta de reciprocidade social ou emocional); Comunicação (por ex., atraso ou ausência de linguagem falada, incapacidade para iniciar ou manter uma conversação, uso estereotipado e repetitivo da linguagem, falta de jogos variados de faz-de-conta; Comportamento (padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, incluindo estereotipias motoras e maneirismos). Tabela 5: Transtorno Desintegrativo da infância Fonte: BELIZÁRIO e CUNHA, 2010 1.1.5 Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação De acordo com CUNHA (2014) o diagnóstico de Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação somente é dado quando não são satisfeitos os critérios diagnósticos para os demais transtornos do desenvolvimento global. Ocorre um prejuízo severo no desenvolvimento de uma das seguintes áreas: Interação social recíproca; Habilidades de comunicação verbal e não-verbal; Comportamentos, interesses e atividades estereotipados. Tabela 6: Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação Fonte: BELIZÁRIO e CUNHA, 2010 1.2. Os alunos com TGD e políticas públicas Os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação são o público alvo da Educação Especial que “se organizou tradicionalmente como atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino comum.” (BRASIL, 2008). Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com deficiência passou ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à educação, que deve ser realizado preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. A Constituição Federal de 1988; o Estatuto da Criança e do Adolescente instituído pela Lei nº. 8.069/90; e outros documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), passaram a influenciar a formulação das políticas públicas para uma educação inclusiva. Em 1996 foi publicada a lei nº 9.394 estabelecendo as novas diretrizes e bases da educação nacional. A educação especial é entendida nessa lei como a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para os alunos com deficiência, TGD e altas habilidades ou superdotação. Também prevê que o atendimento educacional feito em classes, escolas ou serviços especializados, será realizado sempre que não for possível a integração desses alunos nas classes comuns de ensino regular em função de suas condições específicas (BRASIL, 1996). Em 2001 foi publicada a Política Nacional de Saúde Mental que assegura os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e dispõe sobre a necessidade de proteção das mesmas.“Artigo 1º - Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.” (BRASIL, 2001) O Programa Educação Inclusiva foi criado em 2003, pelo Ministério da Educação, visando transformar os sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, promovendo um amplo processo de formação de gestores e educadores para garantir “o direito de acesso de todos à escolarização, a organização do atendimento educacional especializado e a promoção da acessibilidade” (BRASIL, 2008). “A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas.” (BRASIL, 2008). De acordo com os dados do Censo Escolar/2006 entre 1998 e 2006, houve um crescimento de 640% das matriculas em escolas comuns (inclusão) e de 28% em escolas e classes especiais. (BRASIL, 2008). Figura 7: Dados do Censo Escolar/2006 Fonte: BRASIL, 2008. O artigo 1º da Resolução nº 4 de 2009, que institui as diretrizes operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, obriga os sistemas de ensino a matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), que deve ser ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. Sendo que o AEE deve ser realizado no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns. O AEE tem como função “complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.” (BRASIL, 2009). “Os professores comuns e os da Educação Especial precisam se envolver para que seus objetivos específicos de ensino sejam alcançados, compartilhando um trabalho interdisciplinar e colaborativo. As frentes de trabalho de cada professor são distintas. Ao professor da sala de aula comum é atribuído o ensino das áreas do conhecimento, e ao professor do AEE cabe complementar/suplementar a formação do aluno com conhecimentos e recursos específicos que eliminam as barreiras as quais impedem ou limitam sua participação com autonomia e independência nas turmas comuns do ensino regular.” (ROPOLI, 2010). De acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, publicada pela Secretaria de Educação Especial - SEESP/MEC, em abril de 2009, o Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola deve contemplar o AEE como uma de suas dimensões. São atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado (BRASIL, 2009): “Identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos de forma que funcione como um plano visando eliminar as dificuldades encontradas; Organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais; Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola. Sendo que o professor de sala de aula deve informar e avaliar juntamente com o professor do AEE se os serviços e recursos estão garantindo participação do aluno nas atividades escolares. Orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno, em especial a tecnologia assistiva, tais como: as tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens (como Braile e Libras), as atividades de orientação e mobilidade, de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e participação.” 1.3. A formação dos alunos com TGD: teorias e práticas É indispensável contar com salas de apoio e professores especializados para que a inclusão de alunos com TGD na escola regular seja realizada com êxito. O primeiro passo para a inclusão desse aluno consiste na avaliação feita pelo professor do AEE, envolvendo várias áreas do desenvolvimento: imitação, performance cognitiva, cognitiva verbal, coordenação olho-mão, percepção, coordenação motora grossa e fina (BRASIL, 2003). Não é fácil a tarefa de iniciar o processo de inclusão de uma criança com necessidades educacionais especiais associadas ao autismo ou TGD de uma forma geral, na sala de aula comum. “A sensação é de que a criança apenas se recusa a interagir com o professor e a aprender qualquer coisa proposta por ele.” Mas na verdade faltam a essas crianças habilidades para a aprendizagem, centradas na tríade de dificuldades presentes na criança com autismo: comunicação, interação social e uso da imaginação. A criança autista, por ter deficiência na interação social, precisa de ajuda para interagir com o professor e socializar-se. (BRASIL, 2003). “No nível da sala de aula e das práticas de ensino, a mobilização do professor e/ou de uma equipe escolar em torno de uma mudança educacional como a inclusão não acontece de modo semelhante em todas as escolas. Mesmo havendo um Projeto Político Pedagógico que oriente as ações educativas da escola, há que existir uma entrega, uma disposição individual ou grupal de sua equipe de se expor a uma experiência educacional diferente das que estão habituados a viver.” (ROPOLI, 2010). A inclusão escolar tem início na educação infantil, e é justamente na infância que se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e para o seu desenvolvimento global, seja a criança “normal” ou portadora de TGD. Quanto mais precoce a intervenção educacional para crianças com TGD, maior será a oportunidade que elas terão em seu desenvolvimento, embora essas possibilidades de desenvolvimento sejam distintas para cada criança. “A inserção dessas crianças na creche deve ser cuidadosamente planejada por que: a criança tem problemas de interação social que não se resolvem simplesmente por estar cercada de outras crianças; a criança não aprende por exploração do ambiente ou por observação voluntária, e o tempo é um elemento crucial e irreversível.” (BRASIL, 2003). A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva ressalta que: “Nessa fase o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivênciacom as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança.” (BRASIL, 2008). Há basicamente seis áreas que devem ser trabalhadas a fim de se estimular e desenvolver competências nas crianças portadoras de TGD: socialização, linguagem (emissão e compreensão), cognição, cuidados próprios, motricidade. (DUARTE, 2012). Segundo DUARTE (2012) a aprendizagem dos portadores de TGD se dá através de uma abordagem vivencial. Assim, todos os momentos e ambientes devem ser utilizados como objetos de estudo. Na Escola, primeiro deve ser explorada a própria sala de aula e depois os demais ambientes. A autora ressalta que é fundamental dar importância ao que mais agrada a criança para se iniciar um trabalho de adaptação/familiarização professor X aluno, garantindo assim o estabelecimento de um relacionamento mínimo onde possa ocorrer a aprendizagem. “Os alunos com TGD costumam procurar pessoas que sirvam como 'porto seguro' e encontrar essas pessoas na escola é fundamental para o desenvolvimento.” Nesse sentido cabe ao professor identificar os potenciais dos alunos, estimular sua autonomia e assim conquistar a confiança da criança. Nesse sentido é preciso levar em conta que a rotina diária é muito importante para os alunos com TGD, assim ela não deve ser alterada, pois qualquer mudança na rotina pode ter reflexos no comportamento da criança. (LOPES, 2005). A tendência da maioria dessas crianças é de ficar preso em repetições infindáveis. “O professor deve ter consciência de seu papel, compreendendo que é por meio do aprendizado que a criança pode adquirir consciência do mundo e dela própria, e que esse aprendizado passa pelo desenvolvimento da comunicação.” Para tanto é importante estabelecer um sistema de comunicação com as crianças portadoras de TGD. (BRASIL, 2008). As crianças com TGD tem maior facilidade de relacionar com o universo concreto do que com o de ideias abstratas, assim um sistema de cartões ou figuras pode constituir-se em recurso fundamental no desenvolvimento da comunicação. Por exemplo, realizar o planejamento das atividades de rotina com figuras que repressentem essas atividades, dá à criança familiaridade e previsibilidade em relação a essas atividades, proporciona segurança e reduz sua ansiedade. (DUARTE, 2012). Figura ?: Cartões de comunicação Fonte: http://www.assistiva.com.br/ca.html Os sentimentos e emoções devem ser trabalhados com muito cuidado visando uma melhor interação tanto com o professor quanto com os demais alunos. “O primeiro passo é ajudar essa criança a se organizar e se desenvolver, para que ela possa relacionar-se consigo mesma, perceber que existe alguma consistência em seus gostos e que há coisas que a agradam e coisas que a desagradam. O próprio caminho do desenvolvimento cognitivo é o caminho do desenvolvimento da consciência.” (BRASIL, 2008). As atividades devem ser estruturadas e organizadas de forma que as crianças consigam realizá-las. Como exemplos de elementos de apoio à organização e estrutura podemos citar o uso de: Referências: pequenas orientações possíveis de serem compreendidas pela criança com indicações visuais de onde colocar a mão, o pé, o copo, o prato, etc.; Limites: barreiras físicas para delimitar a direção do movimento da criança. Por exemplo, podemos colocar cordas limitando o espaço no qual a criança deve andar; Contadores: moedas ou pedras coloridas que ajudem a criança a contabilizar o número de repetições de determinada atividade, dando uma indicação visual da duração da atividade. As crianças com TGD também possuem dificuldade no estabelecimento das relações de causa e consequência e necessitam de ferramentas de apoio para desenvolver essa habilidade, como por exemplo, através do aprendizado das comparações (BRASIL, 2008). A educação de crianças portadoras de TGD é uma experiência única e que exige muito do educador, que deve sempre manter uma postura de calma e continência diante das possíveis crises ou problemas apresentados por essas crianças. Compreender o portador de TGD em sua individualidade é o primeiro passo para que esse trabalho tenha bons resultados. Não é fácil, mas é muito gratificante vivenciar o que é possível na educação dessas crianças tão especiais. MODULO II - AVALIAÇÃO MULTIDISCIPLINAR E ADAPTAÇÃO CURRICULAR PARA ALUNOS COM TGD 2.1. Aspectos teóricos e práticos da avaliação diagnóstica e multidisciplinar na educação especial inclusiva D‟ANTINO (2008) afirma que a definição de modelos de diagnóstico e intervenção dirigidos a pessoas com quadro de transtornos globais de desenvolvimento devem ser realizados em uma perspectiva multidisciplinar. Assim, deve envolver não só o diagnóstico médico, imprescindível para avaliação clinica dos sintomas apresentados, como também o diagnóstico de outros profissionais. “À medida que o diagnóstico, o planejamento de intervenções especializadas de caráter clínico e/ou terapêutico e o atendimento social e educacional são compatíveis com as necessidades especiais e específicas de cada sujeito e as ações a eles destinadas são definidas a partir de diálogo efetivo interáreas, acredita-se que a melhoria da qualidade de vida desses sujeitos e seus familiares se apresente como possível.” (D‟ANTINO, 2008). O diagnóstico feito pelo médico se estabelece a partir dos critérios clínicos apresentados pelo CID-10 ou pelo DSM-IV, que envolvem a identificação de anormalidades em três domínios do desenvolvimento: interação social recíproca, comunicação e presença de um repertório comportamental de interesses restritos, repetitivo e estereotipado. (MECCA, 2011). Por se tratar de um quadro complexo e de grande variabilidade de caso para caso, além da avaliação dos sintomas de TGD com base nos manuais citados, é muito importante uma avaliação de outros domínios do desenvolvimento que deve ser realizada por equipe multidisciplinar com psicólogos e outros profissionais treinados em avaliações especificas. Esta avaliação mais detalhada é importante para o conhecimento aprofundado de cada caso e, consequentemente, para o planejamento de intervenções adequadas segundo as características individuais. VELLOSO (2011) aponta que é preciso avaliar a linguagem, a cognição social e os aspectos neuropsicológicos dos alunos com TGD. A avaliação neuropsicológica é realizada por um psicólogo e tem como objetivo avaliar as funções cerebrais superiores através de testes padronizados, no caso de TGD a avaliação centra-se nas seguintes funções cerebrais: inteligência; memória verbal e visual; atenção concentrada, seletiva e dividida; funções executivas e percepção. “O indivíduo com Transtorno Global do Desenvolvimento apresenta características peculiares quanto ao funcionamento cognitivo e tal avaliação pode auxiliar no processo diagnóstico” (VELLOSO, 2011). A avaliação fonoaudiológica deve ser realizada pelo fonoaudiólogo para avaliar os aspectos relacionados à linguagem, onde são avaliadas: a fonologia, a sintática, a semântica, o vocabulário, a habilidade pragmática, as competências metalinguísticas (incluindo leitura, escrita, interpretação de inferência, ambiguidade e metáfora, dentre outras), a maturidade simbólica e a atenção compartilhada (VELLOSO, 2011). Figura ?: Avaliação fonoaudiológica Fonte: www.sac.org.br A Avaliação de caráter interdisciplinar proporciona uma melhor investigação de todos os aspectos envolvidos na tríade que caracteriza os TGD, especialmente quando levamos em conta a variabilidade de graus de comprometimento que cada portador de TGD pode demonstrar (VELLOSO, 2011). 2.2. Os processos formativos de avaliação educacional O processo de avaliação educacional tem como objetivo servir de base para a tomada de decisões acercado que é preciso fazer para atender às necessidades específicas identificadas em cada aluno com TGD (SEESP/MEC, 2006). A avaliação dos alunos com TGD deve ser formativa, porque é informativa e dá subsídios para as mudanças necessárias que garantem o sucesso da aprendizagem desses alunos e do próprio processo educativo. Esse tipo de avaliação informa o professor dos efeitos reais de sua intervenção pedagógica, possibilitando que ele regule sua ação a partir disso e permite ao aluno perceber onde estão suas dificuldades para poder tentar corrigir seus erros. A avaliação formativa tem como finalidade “detectar os pontos fracos da aprendizagem, mais do que determinar quais os resultados obtidos com essa aprendizagem.” (JORBA e SANMARTÍ, 2003). “A avaliação formativa pode ser entendida como uma prática de avaliação contínua que objetiva desenvolver as aprendizagens.” Ela não é uma ação pontual no tempo, é um processo contínuo de busca informações e de transformações da pratica pedagógica, um processo cíclico e contínuo de análise e ação (CASEIRO e GEBRAN, 2008). “A avaliação, enquanto processo, tem como finalidade uma tomada de posição que direcione as providências para a remoção das barreiras identificadas, sejam as que dizem respeito à aprendizagem e/ou à participação dos educandos, sejam as que dizem respeito a outras variáveis extrínsecas a eles e que possam estar interferindo em seu desenvolvimento global.” (SEESP/MEC, 2006). Assim a avaliação deve ocorrer em diferentes contextos, ao longo do período letivo e não deve ficar restrita ao uso de testes, previamente marcados. É importante que essa coleta de informação dentro da sala de aula ocorra por intermédio de instrumentos variados como: trabalho individual, em pequeno grupo, em grande grupo, interpares, simulação de conferências, apresentações, leituras etc. E fora do espaço da sala de aula são inúmeras as oportunidades vividas pelo professor nessa busca por informações, como nos momentos em que são realizados os trabalhos de campo (visitas aos museus, mercados, indústrias etc.) FERNANDES (2005) apresenta as seguintes características da avaliação formativa: “Ativam os processos mais complexos do pensamento (Ex. analisar, sintetizar, avaliar, relacionar, integrar, selecionar); As tarefas refletem uma estreita relação e a avaliação é deliberadamente organizada para proporcionar um feedback inteligente e de elevada qualidade tendo em vista melhorar as aprendizagens dos alunos; O feedback é determinante para ativar os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos, que, por sua vez, regulam e controlam os processos de aprendizagem, assim como para melhorar a sua motivação e auto-estima; A natureza da interação e da comunicação entre professores e alunos é absolutamente central porque os professores têm de estabelecer pontes entre o que se considera ser importante aprender e o complexo mundo do aluno; Os alunos são deliberados, ativa e sistematicamente envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, responsabilizando-se pelas suas aprendizagens e tendo amplas oportunidades para elaborarem as suas respostas e para partilharem o que, e como, compreenderam; As tarefas propostas aos alunos que, desejavelmente, são simultaneamente de ensino, de avaliação e de aprendizagem, são criteriosamente selecionadas e diversificadas, representam os domínios estruturantes entre as didáticas específicas das disciplinas, que se constituem como elementos de referência indispensáveis, e a avaliação, que tem um papel relevante na regulação dos processos de aprendizagem; O ambiente de avaliação das salas de aula induz uma cultura positiva de sucesso baseada no princípio de que todos os alunos podem aprender.” Como processo a avaliação tem características predominantemente pedagógicas e para entender as necessidades dos alunos com TGD devem contemplar todos os elementos que intervêm no processo de ensino aprendizagem: o aluno, o contexto escolar (escola e sala de aula) e o contexto familiar. Figura ?: Elementos que intervêm no processo de ensino aprendizagem Fonte: do próprio autor A avaliação como processo para a identificação das necessidades especiais dos alunos com TGD tem como base a premissa de que os processos de desenvolvimento e de aprendizagem são resultantes da interação do sujeito com pessoas significativas nos diversos contextos de vida (família, escola e sociedade) e com os objetos do conhecimento. Tabela?: Modelo para subsidiar a identificação de necessidades educacionais especiais ÂMBITOS DIMENSÕES DE ANALISE ASPECTOS Contexto educacional Instituição educacional escolar - Filosóficos (crenças e valores); - Estruturais; - Funcionais. A ação pedagógica - O professor; - A sala de aula; - Os recursos de ensino e de aprendizagem; - As estratégias metodológicas usadas para o ensino dos conteúdos curriculares; - Estratégias avaliativas. Aluno Nível de desenvolvimento - Características funcionais (habilidades básicas que permitem, de modo mais ou menos eficaz, que o aluno enfrente as demandas das diferentes etapas do fluxo da educação básica); - Competências curriculares (referem-se ao aprendizado e à utilização dos conteúdos das diferentes áreas de conhecimento que compõem os currículos). Condições pessoais - A natureza das necessidades educacionais que apresenta. Família As características do ambiente familiar - Condições físicas da moradia; - Cultura, valores em que acredita e atitudes frente à vida; - Expectativas de futuro. O convívio familiar - Pessoas que convivem com o aluno; - Relações afetivas; - Qualidade das comunicações e - Oportunidades de desenvolvimento e de conquista da autonomia. Fonte: (SEESP/MEC, 2006). 2.3. Avaliação de ingresso e promoção “A legislação é explícita, quanto à obrigatoriedade em acolher e matricular todos os alunos, independente de suas necessidades ou diferenças.” (FRIAS e MENEZES, 2009). A avaliação de ingresso visa fornecer ao professor informações que o ajudem a planejar sua forma de atuação com esses alunos. Na inclusão dos alunos com TGD em uma sala do ensino regular, três pontos devem ser observados (BRASIL, 2003): 1. O aluno deve ser inserido, preferencialmente, em uma sala que tenha alunos cuja média de idade seja a mesma de sua idade cronológica, não ultrapassando no máximo dois anos em relação à idade média dos outros alunos da sala; 2. O aluno deve ser inserido em uma sala com nível de desenvolvimento semelhante ao dele; 3. Deve se evitar, no ambiente de sala de aula, o aparecimento de problemas de comportamento que comprometam a convivência dessa criança com as demais. Ao longo da história a avaliação educacional tem sido utilizada como instrumento de aferição e julgamento do aluno, “atribuindo-se „valores‟ que, supostamente, „medem‟ o que ele aprendeu, ou não, e que o promovem ou que o reprovam.” Dentro da perspectiva de uma educação inclusiva essa forma de avaliação deve ceder espaço a avaliações de caráter formativo, que sirvam de instrumentos para a regulação do processo ensino- aprendizagem, conforme já discutido em capitulo anterior (SEESP/MEC, 2006). Nesse sentido os processos de avaliação servirão para acompanhar os progressos dos alunos. A avaliação não deve ser um instrumento para a comparação do aluno com TGD com os demais alunos. O desenvolvimento desse aluno poderá ser observado quando essa avaliação servir para comparar os diferentes resultados alcançados por esse aluno ao longo desse processo, ou seja, comparando-o com ele mesmo. A avaliação dos progressos alcançados pelos alunos com TGD “está intimamente ligada à oferta educativa, nela incluídos os apoios de que necessita”. Devem ser consideradas na avaliação: o rendimento (entendido comoo que o aluno aprendeu na escola) e todas as suas aquisições (desenvolvimento de habilidades). O professor deve ter o cuidado para que o conteúdo da avaliação corresponda ao conteúdo escolar, observado não só em provas ou exames, mas no que o aluno demonstra no dia-a-dia. (SEESP/MEC, 2006). 2.4. Adaptação de metodologias e programas curriculares para alunos com TGD “O aluno com TGD apresenta uma forma diferenciada de perceber o mundo, de compreendê-lo e de se inserir no contexto escolar/social. No entanto, considerando estes aspectos, respeitando o seu modo singular de ser e buscando interagir com ele, podemos ofertar novas formas de percepção, compreensão, expressão e, consequentemente, possibilitar a sua participação efetiva nas atividades pedagógicas.” (GUIMARÃES, 2010). De acordo com o MEC as adaptações curriculares são: “Respostas educativas que devem ser dadas pelo sistema educacional, de forma a favorecer a todos os alunos e dentre estes, os que apresentam necessidades educacionais especiais: a) de acesso ao currículo; b) de participação integral, efetiva e bem sucedida em uma programação escolar tão comum quanto possível. (BRASIL, 2000).” GUIMARÃES (2010) ressalta que é essencial ao professor compreender que as propostas pedagógicas deverão ser adaptadas para o aluno e que não se pode esperar que o aluno com TGD se adapte às propostas pedagógicas. Figura ?: TGD e suas potencialidades Fonte: musicoterapianopiaui.blogspot.com De acordo com FRIAS e MENEZES (2009) dentre essas adaptações que visam garantir a inclusão e a permanência do aluno com necessidades educacionais especiais no ensino regular, estão: A criação de condições físicas, materiais e ambientais na sala de aula; Favorecer o melhor nível possível de comunicação e interação do aluno com toda a comunidade escolar; Permitir e favorecer a participação do aluno em toda e qualquer atividade escolar; Lutar pela aquisição de equipamentos e materiais específicos necessários; Realizar adaptações em materiais de uso comum em sala de aula; Permitir sistemas alternativos de comunicação, tanto no decorrer das aulas como nas avaliações, para alunos que não utilizam a comunicação oral; Colaborar na eliminação de sentimentos de baixa autoestima, inferioridade, menos valia ou fracasso. É importante sempre amparar as ações pedagógicas na tríade de sintomas apresentados pelos portadores de TGD nas áreas de interação social, de comunicação e comportamento, de interesses repetitivos e estereotipados. Assim, a estruturação da rotina e o uso de estratégias pedagógicas variadas tornam-se obrigatórias. Em relação à forma de ajudar os alunos portadores de TGD a terem acesso ao conteúdo curricular, FRIAS e MENEZES (2009) destacam as seguintes estratégias: Posicionar o aluno de forma que possa obter a atenção do professor; Estimular o desenvolvimento de habilidades de comunicação interpessoal; Encorajar a ocorrência de interações e o estabelecimento de relações com o ambiente físico e de relações sociais estáveis; Estimular o desenvolvimento de habilidades de autocuidado; Estimular a atenção do aluno para as atividades escolares; Estimular a construção de crescente autonomia do aluno, ensinando-o a pedir as informações de que necessita, a solicitar ajuda, enfim, a se comunicar com as demais pessoas de forma que estas sejam informadas de sua necessidade e do que esteja necessitando; Oferecer um ambiente emocionalmente acolhedor para todos os alunos. “As pessoas com TGD beneficiam-se de um método que preconize a organização, intervenção contínua, adaptação do ambiente rotina e tarefas estruturadas, que envolvem intervenções específicas baseadas em suas necessidades e que através de sua constituição possibilite: desenvolvimento, aquisição de autonomia, ganho de competências para vida prática e diária, e independência.” (FERNÁNDEZ e MISSAGLIA, 2013). 2.5. Seleção e planejamento de atividades complementares específicas para o aluno com TGD Um das dificuldades encontradas nos alunos com TGD está relacionada à comunicação. CORMEDI (2009) destaca que “(...) o desenvolvimento da linguagem e comunicação deve ser considerado como eixo central do processo educativo e comunicação é a base necessária para a transmissão da informação e para oportunidade de interação”. Quando há a ausência de comunicação oral a Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA) pode ser utilizada com o aluno com TGD com o objetivo de dar alternativas de comunicação ou ajudá-lo no desenvolvimento dessa competência. “A comunicação é considerada alternativa quando o indivíduo não apresenta outra forma de comunicação e, considerada ampliada quando o indivíduo possui alguma comunicação, mas esta não é suficiente para suas trocas sociais” (REILY, 2004). O uso da CAA envolve gestos, expressões faciais e as diversas formas gráficas. SARTORETTO e BERSCH (2014) afirmam que um dos sistemas simbólicos mais utilizados em todo o mundo é o PCS - Picture Communication Symbols, criado em 1980 pela fonoaudióloga Roxanna Mayer Johnson. No Brasil o PCS foi traduzido como Símbolos de Comunicação Pictórica e está disponível por meio do software Boardmaker, que é um programa de computador desenvolvido especificamente para criação de pranchas de comunicação alternativa. O PCS possui as seguintes características: Desenhos simples, claros e de fácil reconhecimento, Adequados para usuários de qualquer idade, Podem ser combinados com outras figuras e fotos para a criação de recursos de comunicação individualizados. Figura ?: Prancha com símbolos PCS Fonte: http://www.assistiva.com.br/ca.html Outra necessidade dos alunos com TGD está relacionada à rotina e estruturação de atividades. GUIMARÃES (2010) sugere o uso de um “varal de atividades” (cartões com desenhos ou figuras, fotos ou objetos reais para mostrar as diversas atividades que estão planejadas para o dia) e a construção de um “cartaz de Rotina da turma”. Figura ?: Cartaz de Rotina Fonte: http://comunicacaoeinteratividae.blogspot.com.br/2011/02/encontro-pedagogico-2011.html O professor também precisa considerar que as convenções sociais e suas regras não são facilmente percebidas ou entendidas pelo aluno com TGD. Essas regras precisam ser ensinadas e a melhor forma de ensinar também se dá através da comunicação alternativa. Figura ?: Regras de convívio Fonte: http://comunicacaoeinteratividae.blogspot.com.br/2011/02/encontro-pedagogico-2011.html Para finalizar é importante que o professor sempre busque o apoio e a cooperação dos demais alunos da turma para a integração do aluno com TGD. Dinâmicas de reflexão e discussões sobre o respeito as diferença em sala de aula podem ser instrumentos importantes. MODULO III – ESTÍMULO E ESCOLARIZAÇÃO DE ALUNOS COM TGD 3.1. A importância da estimulação precoce em casos de TGD Quanto mais precoce a intervenção educacional com os alunos com TGD maior a oportunidade a criança terá no desenvolvimento da comunicação, da sociabilização, dos comportamentos adequados e do seu próprio aprendizado (BRASIL, 2003). A estimulação precoce, oferecida desde o nascimento até os 6 anos de idade, tem como objetivo desenvolver e potencializar através de exercícios, jogos, atividades, técnicas e outros recursos o desenvolvimento da criança com TGD, beneficiando seu lado intelectual, físico e afetivo (PERIN, 2010). Geralmente os programas de estimulação precoce envolvem atividades de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. É essencial a participação da família nessas atividades visando a estimulação da criança não só na escola, mas também no ambiente familiar de uma forma contínua e natural. Figura ?: Estimulação precoce e a família Fonte: www.nutep.org.br As atividades são destinadasa proporcionar à criança o seu pleno desenvolvimento, por isso devem ser de caráter global. A estimulação visual, auditiva, a percepção do seu corpo, do corpo do outro e sua relação, do espaço e do tempo, e de seus movimentos, devem estar incorporados aos objetivos das atividades de estimulação precoce. Figura ?: Estimulação precoce Fonte: http://leandrafono.blogspot.com.br/2012/04/estimulacao-precoce-e-linguagem-em.html 3.2. Escolarização de alunos com TGD na modalidade de educação especial e as formas de interlocução com a educação básica De acordo com o artigo 2º da resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009, que instituiu as diretrizes operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica: “O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.” (BRASIL, 2009). O AEE visa a autonomia dos alunos com TGD na escola e fora dela, constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. É realizado, de preferência, nas escolas comuns, em um espaço físico denominado Sala de Recursos Multifuncionais. Essas salas são organizadas com mobiliários, materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para o atendimento aos alunos com TGD. (ROPOLI, 2010). O AEE dever ser realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização na sala de aula regular e não pode ser um substitutivo às classes comuns. De acordo com a resolução nº 4/2209 o AEE pode ser realizado, também, em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios. O atendimento feito no AEE deve ser baseado em um plano individual elaborado pelo professor que atua na sala de recursos multifuncionais em articulação com os demais professores do ensino regular, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares em geral. “Os professores comuns e os da Educação Especial precisam se envolver para que seus objetivos específicos de ensino sejam alcançados, compartilhando um trabalho interdisciplinar e colaborativo. As frentes de trabalho de cada professor são distintas. Ao professor da sala de aula comum é atribuído o ensino das áreas do conhecimento, e ao professor do AEE cabe complementar/suplementar a formação do aluno com conhecimentos e recursos específicos que eliminam as barreiras as quais impedem ou limitam sua participação com autonomia e independência nas turmas comuns do ensino regular.” (ROPOLI, 2010). A articulação entre o professor de AEE e os professores do ensino comum é imprescindível para que os alunos com TGD possam atuar com autonomia na escola e em outros espaços de sua vida social. 3.3. Alunos com TGD na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no EJA Os alunos com TGD se apresentam de forma singular no universo escolar, com uma forma própria de estar no mundo. As singularidades desses sujeitos, pautada na tríade de sintomas já tão mencionada, podem muitas vezes angustiar o professor e levá-lo a crer que não saberá trabalhar com esses alunos ou mesmo que esses sujeitos não se beneficiarão da escola. O professor deve combater essas crenças, pois elas interferem diretamente no fazer pedagógico. Para ter sucesso com alunos com TDG o professor deve estar disposto a reconhecer e valorizar a singularidade e a forma de aprender não padronizada apresentada por esses alunos. O primeiro passo recomendado pelo MEC para a inclusão desse aluno consiste na aplicação pelo professor especializado, do PEP-R (ou Perfil Psicoeducacional Revisado) desenvolvido pelo Centro TEACCH, que avalia o nível de desenvolvimento em 7 áreas do desenvolvimento: imitação, performance cognitiva, cognitiva verbal, coordenação olho- mão, coordenação motora grossa, coordenação motora fina e percepção. A aplicação do PEP-R dá como resultado a idade cronológica correspondente ao nível de desenvolvimento apresentado pelo aluno, para melhor planejar a sala na qual o aluno com TGD será inserido (BRASIL, 2003). A inserção de crianças com TGD, na creche ou na educação infantil, deve ser cuidadosamente planejada, pois as mesmas encontram dificuldades muito acentuadas em áreas fundamentais para o seu desenvolvimento, que são: interação social, comunicação, comportamento e interesses repetitivos e estereotipados. Essa tríade que caracteriza as crianças com TGD devem sempre ser levadas em consideração no planejamento das atividades que serão desenvolvidas durante todo o percurso da criança no sistema de ensino, da educação infantil até os níveis superiores da educação. Na educação infantil a dimensão do lúdico deve estar presente no planejamento das estratégias que serão utilizadas para a aprendizagem dos alunos com TGD. “A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de intervenção precoce que objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e assistência social.” (BRASIL, 2008). Em todas as etapas e modalidades da educação básica, os alunos com TGD e seus professores do ensino regular devem contar com o apoio do AEE, que deve ser organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos. A oferta desse serviço especializado é obrigatória e deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou centro especializado que realize esse serviço educacional (BRASIL, 2008). Na modalidade de educação de jovens e adultos (EJA) e educação profissional, as ações da educação especial devem possibilitar aos alunos com TGD a ampliação de suas oportunidades de escolarização, a formação para sua inserção no mundo do trabalho e sua efetiva participação social (BRASIL, 2008). 3.4. O papel da família e da escola O envolvimento dos pais no processo de integração de crianças com TGD é imprescindível. A parceria entre pais e a escola é um elemento fundamental para que se tenha sucesso na integração dessa criança no ambiente escolar (PERIN, 2010). A família precisa reconhecer a escola como espaço de desenvolvimento de aprendizagens e que como tal funciona como um espaço para o desenvolvimento da própria autonomia da criança. A criança com TGD, em geral, se apresenta muito dependente dos familiares até para as tarefas mais simples que envolvam interação e comunicação. A família precisa acreditar que a escola pode exercer este papel junto à criança com TGD e estabelecer um vínculo de confiança com a mesma. Para sustentar a permanência da criança na escola desde o início essa parceria será fundamental. “Desde o início, é importante que tanto a escola quanto a família tenham a compreensão de que nem todos os dias tudo vai dar certo (...) Tanto a família quanto a escola precisam compreender que, mesmo quando a criança supera as dificuldades iniciais e abandona determinadas atitudes ou estereotipias, eventualmenteelas podem se manifestar novamente, não significando por isso que o trabalho da escola está sendo mal sucedido. A escola precisa estar em permanente interlocução com a família. Além de todos os benefícios inerentes a essa interlocução, isso poderá contribuir para que, juntos, a família e os profissionais da escola possam compreender mais rapidamente os motivos para eventuais retomadas pela criança de reações que já haviam sido superadas” (BELISÁRIO FILHO e CUNHA, 2010). Para que haja sucesso na parceria entre a escola e a família a comunicação entre ambos deve ser constante. Os profissionais da escola devem entender que os pequenos avanços são extremamente significativos para a família e assim devem buscar sistematicamente dar retorno à família sobre todo e qualquer progresso apresentado pela criança no ambiente escolar, evitando relatar apenas as dificuldades vividas com a criança. “Pais e mães são os primeiros, os principais e mais duradouros educadores de suas crianças. Quando pais e profissionais trabalham juntos durante a infância, os resultados têm um impacto positivo no desenvolvimento da criança e na sua aprendizagem. Então, cada etapa do desenvolvimento deve buscar uma parceria efetiva com os pais” (MITTLER, 2003). Família e escola possuem papéis e missão distintos, mas é a parceria entre ambos e a soma de seus esforços que resultam no sucesso da formação integral do aluno com TGD. MODULO IV - DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE 4.1. TDAH: Conceitos básicos O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) está classificado no CID-10 no capitulo XVIII relacionado aos sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte (OMS, 2003). No DSM-IV o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade consta no capitulo relacionado com os Transtornos de conduta, que além do TDAH, envolve o Transtorno de conduta, o Transtorno desafiador opositivo e Transtornos de comportamento disruptivo sem outra especificação (APA, 2002). O TDAH tem como característica essencial um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais frequente e severo do que aquele tipicamente observado em indivíduos na mesma idade. A desatenção, a hiperatividade e a impulsividade afetam negativamente o desempenho escolar, os relacionamentos familiar e social e o ajustamento psicossocial. Figura ?: As dificuldades no relacionamento familiar e a TDAH Fonte: http://www.centropsicopedagogicoapoio.com.br/como-saber-se-a-crianca-e-hiperativa/ A desatenção se apresenta com frequência tanto em casa quanto na escola. A criança esquece-se de coisas ou deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares ou em atividades em geral, podendo apresentar inclusive dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas, pois é facilmente distraído por estímulos alheios às tarefas que executa. Podem não seguir as instruções e não terminar seus deveres escolares e tarefas domésticas, por causa da desatenção e às vezes parece que não estão escutando quando outras pessoas lhe dirigem a palavra (APA, 2002). Figura ?: A desatenção na TDAH Fonte: www.clinicasomar.com.br http://www.centropsicopedagogicoapoio.com.br/como-saber-se-a-crianca-e-hiperativa/ Esses indivíduos com frequência têm dificuldade para organizar tarefas e atividades. As tarefas que exigem um esforço mental constante, como as tarefas escolares, são vivenciadas como desagradáveis, e por isso, são evitadas. Quando precisam se realizar essas atividades são desorganizados e os materiais necessários para a realização da tarefa com frequência são espalhados, perdidos ou manuseados com descuido e danificados (APA, 2002). De acordo com o DSM IV a hiperatividade pode manifestar-se por inquietação ou remexer-se na cadeira, por não permanecer sentado quando deveria, por correr ou subir excessivamente em coisas quando isto é inapropriado, por dificuldade em brincar ou ficar em silêncio em atividades de lazer, por frequentemente parecer estar "a todo vapor" ou "cheio de gás" ou por falar em excesso. Figura ?: A hiperatividade em sala de aula Fonte: www. foelkelpsicologia.blogspot.com A impulsividade é comum no TDAH e manifesta-se como impaciência, dificuldade para protelar respostas, responder precipitadamente, antes de as perguntas terem sido completadas, dificuldade para aguardar sua vez e interrupção frequente ou intrusão nos assuntos de outros, ao ponto de causar dificuldades em contextos sociais, escolares ou profissionais. A impulsividade pode levar a acidentes, como por exemplo, derrubar objetos, colidir com pessoas, segurar inadvertidamente uma panela quente, entre outros e ao envolvimento em atividades potencialmente perigosas, sem consideração quanto às possíveis consequências, como andar de skate ou patins em um terreno extremamente irregular (APA, 2002). Estima-se que 3% a 6% das crianças em idade escolar apresentem TDAH (ROHDE, 2004). Em mais de 50% dos casos de TDAH diagnosticados existe comorbidade com transtornos do aprendizado, transtornos do humor e de ansiedade, transtornos disruptivos do comportamento e transtornos do abuso de substância e de álcool. É importante a avaliação criteriosa de todos os sintomas, visto a particularidade de cada individuo e da possibilidade das comorbidade com outros transtornos, que também deverá ser levada em consideração na intervenção psicofarmacológica (ROHDE, 2004). Mais nem sempre a presença de sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade são sinais de TDAH. Se esses sintomas aparecem por curtos períodos (dois a três meses) e iniciam claramente após um desencadeante psicossocial, como por exemplo, a separação dos pais, a presença desses sintomas pode estar acontecendo por outros motivos que não o TDAH, como a situação familiar no exemplo citado (ROHDE, 2004). AMORIM (2012) afirma que o TDAH é um transtorno que possui uma base orgânica, pois está associado a uma disfunção em uma área do córtex cerebral conhecida como Lobo Pré-Frontal. Quando essa área está comprometida, surgem dificuldades com concentração, memória, hiperatividade e impulsividade, dando origem assim aos sintomas do TDAH. A hiperatividade pode ocorrer em diferentes graus de intensidade, com sintomas variando entre leves a graves e nem sempre é acompanhada dos sintomas específicos do déficit de atenção. Há três tipos principais de TDAH, de acordo com a classificação atual do DSM-IV: Tipo Desatento, Tipo Hiperativo-Impulsivo e Tipo Misto (AMORIM, 2012). No TDAH é necessário um tratamento integrado, que atenda tanto os problemas de base orgânica quanto os comportamentais. A medicação mais comumente utilizada no TDAH são os psicoestimulantes, como o metilfenidato, conhecidos no mercado nacional com as marcas Ritalina e Concerta. O efeito dessa medicação é o controle de curto prazo dos sintomas, assim o uso da medicação não dispensa os outros tratamentos comportamentais e pedagógicos, que de fato podem garantir mudanças mais consistentes e de longo prazo. (AMORIM, 2012). Figura ?: Ritalina Fonte: www.buscaremedio.com.br http://www.buscaremedio.com.br/ 4.2. Outros Transtornos de conduta 4.2.1. Transtorno de conduta Segundo o DSM-IV a característica essencial do Transtorno da Conduta é um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados os direitos básicos dos outros, normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade. Figura ?: Transtorno da Conduta Fonte: http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=136 O padrão comportamental das crianças e adolescentes com Transtorno de Conduta inclui (APA, 2002): 1. Conduta agressiva que causa ameaça ou danos a outras pessoas
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