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DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO INTRODUÇÃO • O Código Penal de 1890 foi o primeiro diploma legal brasileiro a prever o crime contra o atentado à liberdade de trabalho (art. 203). • O legislador de 1940, do atual Código Penal, não apenas manteve a criminalização da conduta como a inseriu em Título autônomo, denominado Crimes contra a Organização do Trabalho. • A Constituição Federal protege os direitos dos trabalhadores, urbanos e rurais, assim como o direito de greve, ou seja, a organização do trabalho (arts. 7º, 8º e 9º). 1- DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO • Atentado contra a liberdade de trabalho • Art. 197. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça: • I — a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias: • Pena — detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência; • II — a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de atividade econômica: • Pena — detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à violência • O bem jurídico protegido é a liberdade de trabalho, isto é, a liberdade de escolher o trabalho, a profissão, arte, ofício ou indústria que o indivíduo deseja exercer e de decidir quando abrir ou fechar seu próprio estabelecimento de trabalho. • Em sentido mais abrangente, pode-se afirmar que o bem jurídico tutelado é a liberdade individual ou pessoal de autodeterminação, ou seja, a liberdade do indivíduo de fazer ou não fazer o que lhe aprouver, dentro dos limites da ordem jurídica. • No artigo 197 o constrangimento está relacionado à liberdade de trabalho, tanto do trabalhador, quanto do produtor, comerciante ou industrial. • O mesmo acontece em relação àquele que é constrangido a abrir ou a fechar seu estabelecimento ou a participar de greve ou paralisação econômica, sempre mediante violência ou grave ameaça. • O valor protegido, nesse caso, é a liberdade individual e, de forma secundária, a organização do trabalho. • Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa • Sujeito passivo: • Inciso I pode ser qualquer pessoa, desde que na condição de trabalhador, empregado ou patrão, conforme o caso; • Inciso II, primeira parte, o sujeito passivo só pode ser o proprietário do estabelecimento. • Para Cezar Bitencourt a pessoa jurídica não poderá fazer parte do polo passivo, dada à expressão "alguém" utilizada pelo legislador, o que configura poder ser somente pessoa natural • Adequação típica • Atentado contra a liberdade de trabalho é uma espécie do gênero constrangimento ilegal. • A diferença fundamental deste último, no entanto, reside na finalidade específica que motiva o sujeito ativo do crime de atentado pois o agente pretende constranger a vítima a ter um dos comportamentos descritos no art. 197. • A conduta típica pode apresentar-se sob duas modalidades: constranger alguém • “I — a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias; • II — a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de atividade econômica • O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de constranger. • O tipo penal é exclusivamente doloso, não admite a modalidade culposa. • A consumação ocorre no momento que a vítima constrangida: a) exerce, ou não, arte, ofício, profissão ou indústria (inciso I); b) trabalha, ou não, durante certo período ou em determinados dias (inciso I); c) abre ou fecha seu estabelecimento de trabalho (inciso II). • A tentativa é aceita em todas as ocasiões • Ementa: • Processual penal. Conflito de competências.Atentado contra liberdade de trabalho (CP,art .197). Competência da justiça comum do estado. I - os indiciados jogavam pedras em caminhões de entrega e ameaçavam empregados que se dirigiam ao trabalho, incitando-os a aderirem a movimento grevista. Foram enquadrados no art . 197, II, do código penal, como se vê, trata-se de lesão individual, logo, o ato delitivo não pode ser tachado de "crime contra a organização do trabalho", que tem como objeto, direitos trabalhistas como um todo. Precedentes da turma. II - competência do juízo suscitado (juízo estadual). (STJ - CONFLITO DE COMPETÊNCIA CC 9130 SP 1994/0016412-2 (STJ) 28/11/1994.) http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10613114/artigo-197-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10613035/inciso-ii-do-artigo-197-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 • ART. 198, CP: ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO E BOICOTAGEM VIOLENTA • Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta • Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola: • Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612997/artigo-198-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 • Assim como no art. 197, o tipo é o constrangimento mediante violência ou grave ameaça, nas formas de atentado contra a liberdade de contrato e boicotagem violenta. • O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa que pratique o crime. • O sujeito passivo poderá ser qualquer pessoa cuja liberdade de contratação for inibida, ou no caso de boicotagem violenta, todas as pessoas naturais e jurídicas cuja atividade for impedida. • Na primeira modalidade, o constrangimento objetiva a celebração de contrato de trabalho, coletivo ou individual. • Somente se configurará o crime se o constrangimento for para a celebração do contrato de trabalho • Na segunda figura, pune-se a “boicotagem violenta”; nessa hipótese, o constrangimento é para não fornecer ou não adquirir matéria-prima ou produto industrial ou agrícola. • Essa figura é também conhecida como boicotagem violenta. Somente o boicote violento — mediante violência ou grave ameaça — é adequado ao modelo descrito no tipo penal. • O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de constranger. • O tipo penal é exclusivamente doloso, não admite a modalidade culposa. • ART. 199, CP: ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO. • Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação profissional: • Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612963/artigo-199-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 • Constrangimento mediante violência ou grave ameaça, com incidência na liberdade de associação. • O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa que pratique o crime, sendo ela membro ou não de entidade classista ou da associação sindical. • O sujeito passivo poderá ser qualquer pessoa coagida a participar ou deixar de participar de entidade classista ou da associação sindical. • O elemento subjetivo é o dolo, constituído pela vontade livre e consciente de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação. • O tipo penal é exclusivamente doloso, não admite a modalidade culposa. • ART. 200, CP: PARALISAÇÃO DE TRABALHO, SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU PERTURBAÇÃO DA ORDEM • Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violênciacontra pessoa ou contra coisa: • Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. • Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612902/artigo-200-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 • No direito brasileiro, a criminalização do exercício da greve ocorreu, pela vez primeira, com o Código Penal de 1890, na contramão do espírito filosófico-econômico que animava os proclamadores da República. • A Constituição de 1937 considerou toda greve e todo lockout condutas antissociais, incompatíveis com os interesses nacionais (art. 139), postura adequada, diga-se de passagem, ao período ditatorial do Estado Novo. • O Código Penal de 1940, no entanto, proibiu somente a greve violenta ou aquela em que houvesse interrupção de serviço de interesse coletivo (art. 201). A Constituição Federal, símbolo de outros tempos, ao contrário daquela do Estado Novo, assegura aos trabalhadores o direito de greve (art. 9º), nos limites de um Estado Democrático de Direito. • Esse descompasso político-filosófico levou a rápida alteração, nesse particular, do primeiro Código republicano. • Aqui, a conduta incriminadora consiste na participação da suspensão do trabalho (o lockout, ou abandono de trabalho pelos empregadores) ou o abandono coletivo de trabalho (conhecido como greve), com a pratica de violência contra a pessoa ou coisa. • O sujeito ativo no caso de greve, serão os empregados que participando do movimento, pratiquem ato violento ou concorram para ele, em no mínimo 3 empregados e no caso de lockout, os empregadores, neste caso não havendo mínimo de pessoas. • O sujeito passivo poderá ser qualquer pessoa natural quando houver violência contra a pessoa, ou pessoa jurídica quando houver dano à coisa. • . • Objeto Material e Objeto Jurídico • O objeto material é a paralisação do trabalho. • Já o objeto jurídico é a liberdade de trabalho. • O elemento subjetivo é o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar a suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando durante a paralisação violência contra a pessoa ou contra a coisa. • O tipo penal é exclusivamente doloso, não admite a modalidade culposa. • Paralisação de trabalho de interesse coletivo • Art. 201 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo: • Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. • Consubstancia-se em "praticamente" no mesmo comportamento nuclear previsto no artigo anterior, ou seja, a conduta incriminadora consiste na participação da suspensão do trabalho (o lockout, ou abandono de trabalho pelos empregadores) ou o abandono coletivo de trabalho (conhecido como greve), porém, não havendo necessidade de pratica de violência contra a pessoa ou coisa. • Invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola. Sabotagem • Art. 202. Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor: • Pena — reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. • Análise do Tipo • É a conduta de invadir, ou seja, ingressar de forma violenta, hostil ou clandestinamente, ou ocupar, ou seja, tomar posse indevidamente estabelecimento industrial, comercial ou agrícola. • O objeto material é o estabelecimento industrial, comercial ou agrícola. Há duas figuras distintas: • 1ª) invasão ou ocupação de estabelecimento; • 2ª) sabotagem. As condutas, alternativas, tipificadas são invadir, que significa entrar à força, arbitrária ou hostil; e ocupar, que tem o sentido de apossar-se arbitrariamente de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola. A invasão ou ocupação tem a finalidade de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho. A ausência dessa finalidade desclassifica o crime para simples invasão de domicílio. Impedir é obstaculizar, não permitir, tornar inviável o curso normal do trabalho. • Embaraçar tem o sentido de obstar, criar dificuldades, opor óbices etc.Figura ainda a sabotagem que consiste em danificar (destruir, danificar) o estabelecimento ou as coisas nele existentes o que delas dispor (vender, trocar, locar), com o fim de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho. • O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa por se tratar de crime comum, podendo ser cometida por uma ou mais pessoas em concurso. • O sujeito passivo é o titular do estabelecimento e a coletividade. • O elemento subjetivo é o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de ocupar por meio de invasão estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, ou dispor das coisas nele existentes. • É necessário que o sujeito ativo realize uma das condutas com o fim de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, pois sem essa finalidade a conduta será atípica e poderá configurar outro crime. • ART. 203, CP: FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA • Frustração de direito assegurado por lei trabalhista • O crime se dá com o ato de frustrar alguém, ou seja, privar, direitos trabalhistas assegurados. • Para que haja o ilícito penal, a frustração deverá correr mediante emprego de fraude - ação e/ou comportamento que, sendo desonesto e ardiloso, tem a intenção de enganar ou ludibriar alguém - ou violência. • A exemplo, podemos citar o agente que paga ao empregado salário inferior ao mínimo legal, mas o faz assinar recibo de valor correspondente ao piso. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612731/artigo-203-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 • Exercício de atividade com infração de decisão administrativa • Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa: • Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. • Aliciamento para o fim de emigração • Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território estrangeiro. • Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa • Recrutar”, que, como sentido semelhante, exige a iniciativa do agente para atrair, seduzir ou angariar trabalhadores para fim de emigração. Exige a lei, agora, que haja, fraude, ou seja, que o agente induza ou mantenha em erro os trabalhadores, por exemplo, com falsas informações ou promessas, convencendo-os a levá-los para territórios estrangeiro. • O sujeito ativo é a qualquer pessoa que recrute trabalhadores mediante fraude para trabalhar no estrangeiro. • O sujeito passivo é o Estado de forma primária e de forma secundária os trabalhadores aliciados e a quem interessar a permanência do trabalhador nacional no país. • O dolo do crime de recrutamento de trabalhadores é a vontade de atraí-los para a sua transferência para outro país. Exige-se, porém, que o agente queira iludir os trabalhadores por meio de fraude, para induzi-los ou instigá-los a ida para outro país. • O tipo penal é exclusivamente doloso, não admite a modalidade culposa. • ART. 207, CP: ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA OUTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL • Aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional • Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional: • Pena - detenção de um a três anos, e multa. • § 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. • § 2º A pena éaumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10612402/artigo-207-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 • A conduta é aliciar, ou seja, seduzir, convencer, atrair, trabalhadores para que exerçam labor em outro local do território nacional, de modo a desguarnecer o local de origem de sua mão de obra. • Não há necessidade da ida dos trabalhadores, basta que esses sejam aliciados a ir para outro local no território nacional.
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