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CIÊNCIAS_DO_LÉXICO_E_FILOLOGIA_EM_FOCO_CONTRIBUTOS_PARA_A_HISTÓRIA

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Ciências do léxico e Filologia em foco: 
contributos para a história da língua portuguesa 
 
 
 
Conselho Editorial Técnico-Científico Mares Editores e Selos Editoriais: 
 
Renato Martins e Silva (Editor-chefe) 
http://lattes.cnpq.br/4416501555745392 
 
Lia Beatriz Teixeira Torraca (Editora Adjunta) 
http://lattes.cnpq.br/3485252759389457 
 
Ilma Maria Fernandes Soares (Editora Adjunta) 
http://lattes.cnpq.br/2687423661980745 
 
Célia Souza da Costa 
http://lattes.cnpq.br/6191102948827404 
 
Chimica Francisco 
http://lattes.cnpq.br/7943686245103765 
 
Diego do Nascimento Rodrigues Flores 
http://lattes.cnpq.br/9624528552781231 
 
Dileane Fagundes de Oliveira 
http://lattes.cnpq.br/5507504136581028 
 
Erika Viviane Costa Vieira 
http://lattes.cnpq.br/3013583440099933 
 
Joana Ribeiro dos Santos 
http://lattes.cnpq.br/0861182646887979 
 
Marcia Tereza Fonseca Almeida 
http://lattes.cnpq.br/4865156179328081 
 
Ricardo Luiz de Bittencourt 
http://lattes.cnpq.br/2014915666381882 
 
Vitor Cei 
http://lattes.cnpq.br/3944677310190316 
http://lattes.cnpq.br/4416501555745392
http://lattes.cnpq.br/3485252759389457
http://lattes.cnpq.br/2687423661980745
http://lattes.cnpq.br/6191102948827404
http://lattes.cnpq.br/7943686245103765
http://lattes.cnpq.br/9624528552781231
http://lattes.cnpq.br/5507504136581028
http://lattes.cnpq.br/3013583440099933
https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=F53926B302D68D4EEFD8275CA7A47362
http://lattes.cnpq.br/4865156179328081
http://lattes.cnpq.br/2014915666381882
http://lattes.cnpq.br/3944677310190316
 
 
Ciências do léxico e Filologia em 
foco: contributos para a história 
da língua portuguesa 
 
 
1ª Edição 
 
 
 
 
Mayara Aparecida Ribeiro de Almeida 
Maiune de Oliveira Silva 
Maria Gabriela Gomes Pires 
(Organizadoras) 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Mares Editores 
2020 
 
 
 
Copyright © da editora, 2020. 
 
Capa e Editoração 
Mares Editores 
 
 
Todos os artigos publicados neste livro sob a forma de capítulo de coletânea 
foram avaliados e aprovados para sua publicação por membros de nosso 
Conselho Editorial e/ou colaboradores pós-graduados da Mares Editores, 
assim como pelos organizadores da obra. 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação (CIP) 
 
Ciências do léxico e Filologia em foco: contributos para 
a história da língua portuguesa/ Mayara Aparecida 
Ribeiro de Almeida; Maiune de Oliveira Silva; Maria 
Gabriela Gomes Pires (Organizadoras). – Rio de Janeiro: 
Mares Editores, 2020. 
253 p. 
ISBN 978-65-87712-04-8 
doi.org/10.35417/978-65-87712-04-8 
 
1. Língua Portuguesa. 2. Filologia 3. Ciências do léxico 
I. Título. 
 
CDD 469 
CDU 811.134.3/49 
 
 
Os textos são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam 
necessariamente a opinião da editora. 
 
2020 
Todos os direitos desta edição reservados à 
Mares Editores 
CNPJ 24.101.728/0001-78 
Contato: mareseditores@gmail.com 
http://doi.org/10.35417/978-65-87712-04-8
mailto:mareseditores@gmail.com
 
 
Sumário 
 
 
Apresentação ................................................................................ 9 
Políticas linguísticas do português no Brasil: uma análise das 
marcas de uso em dicionários escolares .................................... 16 
Culinária, uma relação franco-portuguesa no português do Brasil
 ..................................................................................................... 49 
DMRV, DBFJ e DLAP: um decênio de pesquisas lexicográficas ... 78 
Mudanças semânticas do termo família na legislação brasileira de 
1890 a 2017 ............................................................................... 114 
Miscigenação e relações interculturais: elementos constitutivos 
de uma língua variada ............................................................... 146 
Toda posse, jus e domínio: estudo lexical acerca das relações de 
poder sobre os escravos ........................................................... 169 
Os nomes de lugar presentes no relato de viagem dos irmãos 
Nunes: marcas toponímicas do sertão ..................................... 198 
Interfaces entre Filologia e Toponímia: uma análise de topônimos 
registrados em inventários oitocentistas de Catalão (GO) ....... 224 
Sobre os autores ....................................................................... 248 
 
 
 
 
 
- 9 - 
Apresentação 
 
A coletânea que ora se apresenta teve como intuito reunir 
textos de pesquisadores que se debruçam sobre duas ciências que nos 
são tão caras e sempre subsidiaram nossos estudos: as Ciências do 
Léxico – aqui apresentadas em formas de textos que versam sobre 
Lexicologia, Lexicografia, Terminologia, Terminografia, e Toponímia; e 
a Filologia – disciplina que tem como foco o estudo de documentos 
manuscritos como fonte primária para acessar a língua de outrora. Os 
documentos aqui reunidos, sobretudo nos trabalhos de cunho 
filológico, anunciam fatos históricos setecentistas e oitocentistas que 
muitas vezes estão guardados em igrejas, museus, cartórios, entre 
outros espaços que buscam preservar, especialmente, a sobrevida 
desses materiais para que pesquisas nos mais diversos níveis 
linguísticos possam ser realizadas, sejam elas pelos prismas 
sincrônicos ou diacrônicos. 
Observar a interface feita entre Filologia e Ciências do léxico 
através desses oito textos apresentados é, de certa forma, 
compreender alguns caminhos pelos quais transitou a Língua 
Portuguesa na atualidade e em épocas remotas. Não podemos 
esquecer que o léxico, aqui compreendido como conjunto de unidade 
lexicais de uma língua, é a pedra de toque que embasa todos os textos 
que aqui estão reunidos. 
 
- 10 - 
Cabe salientar que os textos, por uma questão metodológica, 
serão organizados em dois blocos: o primeiro irá tratar do Léxico e sua 
inter-relação com dicionários pedagógicos, com dicionários gerais de 
língua, com a Terminologia e, ainda, sob a perspectiva da Linguística 
Histórica. O segundo grupo irá abordar estudos que tiveram como 
fontes documentos manuscritos setecentistas e oitocentistas 
buscando, sobretudo, descrever e explicar fatos linguísticos e 
históricos que foram encontrados neles. 
O primeiro texto intitulado “Políticas linguísticas do 
português no Brasil: uma análise das marcas de uso em dicionários 
escolares”, de Cacildo Galdino Ribeiro, Ivonete da Silva Santos e 
Nayara Capingote Serafim da Silva Arruda, busca destacar conceitos 
básicos acerca das políticas linguísticas da Língua Portuguesa (LP) do 
Brasil e apresentar alguns exemplos das marcas de uso nos dicionários 
escolares que compõem o acervo lexicográfico enviados às escolas 
públicas brasileiras, referentes ao Programa Nacional do Livro Didático 
(PNLD) do ano de 2012. Para tanto, os autores embasaram nos estudos 
de Calvet (2007), Mariani (2011), Bagno (2007), Ribeiro (2018), entre 
outros. Deste modo, foi possível verificar no material consultado e 
analisado que os dicionários configuram a materialização de políticas 
linguísticas assentadas em ideologias de estratificação social, as quais 
determinam os modelos que devem ou não serem utilizados pela 
comunidade de falantes, segundo aquilo que está marcado ou não 
está marcado nas obras lexicográficas. 
 
- 11 - 
Seguindo na interface com a Lexicografia, Jaciara Mesquita 
Rosa Bertossi apresenta o capítulo “Culinária, uma relação franco-
portuguesa no português do Brasil”, no qual reflete sobre a ocorrência 
dos galicismos culinários no português do Brasil. Nesse sentido, a 
autora utilizou o dicionário Houaiss (2009), em sua versão eletrônica, 
para identificar e analisar essas unidades lexicais da língua francesa no 
português do Brasil. Como corpus de exclusão, a autora utilizou 
também o dicionário geral de língua Le Grand Robert de la Langue 
Française (2001) para cotejar as 1.005 ocorrências de galicismos. Após 
esta etapa, o material foi organizado em campos lexicais, com base nasteorias de Geckeler (1976) e Coseriu (1979). Em seguida, comparou e 
analisou todos os 146 galicismos, nos três campos, com maior número 
de itens lexicais, evidenciando uma relação sistemática entre a adoção 
desse léxico francês e sua influência na cultura brasileira. 
Na mesma interface, mas focando especificamente em 
dicionários bilíngues elaborados na IBILCE/UNESP, Fábio Henrique de 
Carvalho Bertonha, em “DMRV, DBFJ e DLAP: um decênio de pesquisas 
lexicográficas”, apresenta uma reflexão sobre o aniversário de uma 
década de trabalhos lexicográficos desenvolvidos pela linha de 
pesquisa Lexicologia e Lexicografia do PPGEL, na UNESP-IBILCE, sob a 
orientação da Profa. Dra. Claudia Zavaglia. Desta feita, o autor pondera 
sobre o percurso de elaboração de três obras lexicográficas, a saber: 
DMRV, DBFJ e DLAP. Segundo ele, esses dicionários foram constituídos 
a fim de otimizar as buscas dos consulentes, assim, foram evidenciados 
 
- 12 - 
os percursos metodológicos nos quais as pesquisas foram embasadas 
para encontrar os equivalentes, na direção português-italiano, que 
passaram a compor essas obras. No entanto, por não ser o escopo do 
trabalho, não foram abordadas discussões sobre os resultados 
alcançados em cada pesquisa. 
Já na linha da Terminologia e da Terminografia Diacrônica, 
Beatriz Curti-Contessoto e Ieda Maria Alves apresentam o capítulo 
“Mudanças semânticas do termo família na legislação brasileira de 
1890 a 2013”. Como o próprio título sugere, as autoras fizeram uma 
análise semântico-conceitual diacrônica do termo família no contexto 
jurídico brasileiro entre os anos 1890 e 2013. O intuito foi o de verificar 
de que modo o conceito desse termo se alterou ao longo dos anos e 
qual é a relação entre essa evolução e aspectos socioculturais e 
históricos do Brasil. Para tanto, foram constituídos dois corpora, um 
com leis publicadas entre 1890 e 2013 referente à matéria (chamado 
de LBCorpus) e outro com uma bibliografia especializada no assunto 
(chamado de Corpus de ApoioBR). A análise foi baseada em 
constructos teórico-metodológicos da Socioterminologia, da Teoria 
Comunicativa da Terminologia e da Terminologia Diacrônica e em 
aspectos da História do Brasil, no propósito de observar qual foi a 
evolução semântica do termo família no domínio do Direito e o reflexo 
dos aspectos socioculturais nessa evolução. 
Encerrando esse primeiro bloco, as autoras Eliane Miranda 
Machado e Raiane dos Santos Nascimento apresentam o texto 
 
- 13 - 
“Miscigenação e relações interculturais: elementos constitutivos de 
uma língua variada”. Nesse trabalho, são discutidos sobre o processo 
de Colonização do Brasil, que foi um grande difusor para a definição da 
identidade linguística da nação. Nesse contexto, o processo de 
miscigenação e das relações estabelecidas entre povos distintos foram 
responsáveis pela construção da identidade linguística do Brasil. Desta 
feita, as trocas culturais estabelecidas, contribuíram também para a 
peculiaridade da Língua Portuguesa do Brasil, que são as 
heterogeneidades lexicais, fonéticas e semânticas que enriquecem o 
idioma nacional. Nesse sentido, no intuito de mostrar a importância da 
interculturalidade e da miscigenação linguísticas na formação do 
português brasileiro, foram realizadas leituras bibliográficas 
interdisciplinares. Especificamente, utilizaram-se teóricos da 
Linguística e da História para que fossem compreendidas as influências 
dessas duas ciências na constituição da Língua portuguesa. 
O Segundo bloco versa especificamente sobre Filologia e sua 
inter-relação com as Ciências do léxico. No primeiro texto, das autoras 
Mayara Aparecida Ribeiro de Almeida e Maiune de Oliveira Silva, sob o 
título “Toda posse, jus e domínio: estudo lexical acerca das relações de 
poder sobre os escravos”, é empreendido um estudo lexical e filológico 
sobre as relações de poder firmadas sobre os negros escravos em 
Catalão (GO) nos oitocentos. Para tanto, foram selecionados três 
documentos manuscritos que integram o acervo digital do Laboratório 
de Estudos do Léxico, Filologia e Sociolinguística (LALEFIL), a saber: 
 
- 14 - 
duas escrituras públicas de compra e venda de escravos (fólios 23v a 
25r; 55r a 55v) e uma escritura pública de hipoteca de escravo (fólios 
57v a 58v). O contato prévio com esses documentos possibilitou que as 
autoras identificassem lexias que apontam para os vínculos de poderio 
assentados sobre os negros escravos, sendo elas: cede, posse, jus, 
domínio, transpassa, senhor, possuidor, poder e em mãos. Assim, com 
base nas teorias da Filologia e da Lexicologia e a partir das definições 
de Silva (1813), Bluteau (1728) e Houaiss (2009), buscaram 
compreender o que essas lexias apontam sobre a realidade desses 
homens e mulheres vítimas da escravidão. 
O segundo texto, sob o viés Filológico, faz conexão com a 
Toponímia, outra subárea do léxico. Sob o título “Os nomes de lugar 
presentes no relato de viagem dos irmãos Nunes: marcas toponímicas 
do sertão”, Marcus Vinícius das Dores versa sobre os nomes de lugares 
– acidentes geográficos, cidades etc. – registrados com o objetivo de 
mapear o caminho, no século XVIII, entre as regiões que hoje 
conhecemos como Bahia e Minas Gerais, tendo como corpus o 
documento manuscrito Noticias das minas da America chamadas 
Geraes pertencentes à el rei de Portugal, relatada pelos três irmãos 
chamados Nunes os quais rodarão muytos annos por estas partes. A 
documentação em questão apresenta diversas peculiaridades 
históricas e linguísticas, por isso são apresentadas também as edições 
fac-similar e diplomática de dois fólios do manuscrito de onde, após a 
edição, compilaram-se 64 topônimos. 
 
- 15 - 
Fundamentas nas mesmas Ciências, a Filologia e a Toponímia, 
as autoras Maria Gabriela Gomes Pires e Rayne Mesquita de Rezende, 
no texto “Interfaces entre Filologia e Toponímia: uma análise de 
topônimos registrados em inventários oitocentistas de Catalão (GO)”, 
procuram cumprir dois almejos: (a) mostrar a proficuidade dos 
manuscritos, em especial os inventários, como fontes para estudos na 
vertente da toponímia, através de (b) uma breve apresentação e 
discussão de topônimos arrolados em inventários exarados nos idos 
oitocentistas na região de Catalão (GO). Os dados nos mostram que os 
itens lexicais que nomeiam os lugares são, na maioria, fazendas 
motivadas por intervenções religiosas. 
Os textos aqui reunidos apresentam a confluência que pode ser 
realizada entre Ciências do Léxico e Filologia e mostram um pouco dos 
estudos sobre essas temáticas que estão sendo realizadas em algumas 
instituições do país. Além disso, esses estudos, de fato, contribuem 
para a história da língua portuguesa, seja com documentações antigas 
que permitem o resgate de memórias silenciadas, seja com 
documentações modernas que também servirão de suporte para as 
gerações que, posteriormente, virão estudar a língua que ora estamos 
registrando. 
 
Maiune de Oliveira Silva 
Julho/2020 
 
 
- 16 - 
Políticas linguísticas do português no Brasil: uma análise das 
marcas de uso em dicionários escolares 
 
Cacildo Galdino Ribeiro1 
Ivonete da Silva Santos2 
Nayara Capingote Serafim da Silva Arruda3 
 
Introdução 
As políticas linguísticas são temas bastante discutidos em 
diversos campos da linguística, porque lidam com assuntos 
relacionados à ampliação lexical, às normas e à oficialização das 
línguas, em seus respectivos territórios. Sob essa perspectivava 
estamos a falar do planejamento de corpus e do planejamento de 
status. Por conseguinte, tratam dos aspectos sociais inerentes ao 
funcionamento da língua, objetos de muita discussão e que revelam a 
classificação dos grupos sociais pela própria língua que utilizam. As 
políticas linguísticas tanto podem conceber normas à língua a partir de 
uma perspectiva conservadora e excludente, ou seja, à línguaé 
atribuída o papel de instituição distintiva e de estratificação social, 
quanto reclamar a valoração de determinadas línguas ou normas 
inerentes ao próprio sistema linguístico. 
 
1 Doutorando em Estudos da Linguagem, UFG. 
2 Doutoranda em Estudos da Linguagem, UFG. 
3 Doutoranda em Estudos da Linguagem, UFG. 
 
- 17 - 
Vale ressaltar que nem sempre as políticas linguísticas se 
ocupam da legislação da língua de modo explícito, como observamos 
nos programas responsáveis por a elaboração de dicionários, livros 
didáticos (LDs) e gramáticas, e sua aplicação na sociedade. É preciso 
checar as políticas implícitas também. No processo de normatizar a 
língua é possível a inclusão de algumas palavras e a exclusão de outras, 
de acordo com a conveniência atribuída pelos seus decisores, a 
propósito das marcas de uso descritas nos dicionários escolares. 
O dicionário é um instrumento capaz de fornecer àquele que o 
consulta informações sobre a língua, assim, favorecer o uso de 
determinadas palavras em detrimento de outras, pois no dicionário 
também é possível encontrar informações sobre o uso de 
determinadas lexias/lexemas. 
Observa-se assim a amplitude desse tipo de obra e por isso 
cabe nos questionarmos, principalmente se àqueles que estão à 
frente, na linha de batalha no ensino sistematizado da língua 
portuguesa, os professores/educadores, conhecem esse tipo de 
informação acerca dos dicionários, principalmente, os escolares e 
sabem utilizar essa ferramenta para o ensino. É evidente que para 
muitos, estudantes e até para educadores, o dicionário se resume em 
apenas um livro em que se pode consultar a forma correta de grafar 
as palavras. 
Ademais, o dicionário de língua portuguesa também não é um 
mero instrumento para compreender o significado das palavras e suas 
 
- 18 - 
formas de utilização. É mais do que isso, uma ferramenta que reflete 
a política linguística da Língua Portuguesa, já que vemos isso refletir 
até nas marcações do que é considerado como linguagem formal e o 
que não é. 
Este texto pretende então refletir sobre as políticas linguísticas 
do Português no Brasil e além disso, discorrer sobre a forma que essas 
políticas se instauram, sendo o dicionário um dos expedientes 
didáticos normatizadores da língua. 
 
Planejamento de corpus: decisões que afetam o uso da língua 
Quando refletimos sobre as políticas linguísticas é preciso 
considerá-las sob dois pontos de vista: o planejamento de status, que 
diz respeito às intervenções que afetam diretamente as funções da 
língua em determinada comunidade linguística e o planejamento de 
corpus correspondente às ações que afetam o uso da língua (CALVET, 
2007). De modo geral, as intervenções que incidem tanto nas funções 
quanto nos usos da língua são resultantes de determinações, advindas 
de decisões importantes pautadas na dicotomia língua/sociedade. 
As intervenções podem ser decididas pelos próprios falantes 
comuns, usuários de determinada língua e, principalmente, pelo 
Estado. Intervenções perpetradas por este são normativas, cujas 
aplicações são coercitivas. Alguns exemplos desse tipo de intervenção 
são: regras ortográficas, leis, decretos etc. Na base dessas decisões 
está o privilégio a esta ou àquela língua, a esta ou àquela norma dentre 
 
- 19 - 
as várias regidas pelo sistema linguístico em uso. A escolha implica 
naturalmente a inclusão ou a exclusão de línguas ou normas 
linguísticas. 
Para que as decisões sejam implementadas parte-se do 
princípio do planejamento linguístico, o qual pode ser entendido como 
a aplicação das escolhas que devem afetar diretamente o uso da 
língua, por exemplo. Nesse sentido, o planejamento linguístico é a 
expressão da vontade do poder público que pode ou não impactar 
positivamente na vida dos usuários da língua, pois “na língua há 
também política e que as intervenções na língua ou nas línguas têm 
um caráter eminentemente social e político” (CALVET, 2007, p. 36). 
Ao decidir pelo uso de determinada língua no âmbito nacional, 
os decisores escolhem também como e onde essa língua deve ser 
usada. Por exemplo, a LP, no Brasil, é a língua nacional, materna para 
a maioria dos brasileiros e é oficial. As escolhas que implicaram a sua 
implementação como tais são resultados da política da LP decorrente 
do planejamento de status, uma vez que os rótulos que recebe uma 
língua têm a ver com a lógica funcional que deve reger o seu uso. 
Outros exemplos disso são as escolhas que incidem sobre o uso da 
norma padrão do português nas instituições de ensino e instituições 
oficiais. A política, nesse caso, corresponde a escolha de uma das 
normas regidas pelo sistema LP, bem como a sua equipação (léxico e 
a escrita) para justificar a sua implementação na escola (CALVET, 
2007). Então, estamos diante de um planejamento de corpus, porque 
 
- 20 - 
as intervenções, nesse contexto, incidem sobre o uso desta ou daquela 
norma. 
A questão da padronização interessa aos estudos sobre 
políticas linguísticas, especialmente do português porque se ao 
privilegiar uma norma, em detrimento das várias outras, existentes no 
uso diário, afetar a funcionalidade da língua no cotidiano do falante, 
por haver vínculos entre norma e o uso, o problema poderá ser 
resolvido com a conscientização dos usuários da língua. 
De acordo com Calvet (2007), o caráter mutável da língua, seja 
no seu uso ou na sua função, é devida às gestões que a operam desde 
sempre. Para ele a gestão promovida pelos falantes (in vivo) e a gestão 
de poder (in vitro) são fundamentais na mudança da língua. Contudo, 
“é por essa razão que o planejamento linguístico agirá sobre o 
ambiente, para intervir no peso das línguas, na sua presença simbólica. 
Mais uma vez, a ação in vitro utiliza os meios da ação in vivo, inspira-
se nela, mesmo que dela se diferencie ligeiramente” (CALVET, 2007, p. 
73). 
Lembremos que a inclusão e/ou exclusão, sob a perspectiva 
das políticas linguísticas, são provenientes das escolhas e/ou divisões 
que atingem materialmente o uso da língua (GUIMARÃES, 2002; 
MARIANI, 2011). Desta forma, não podemos negar o caráter político 
imposto sobre a língua. O planejamento linguístico, no âmbito interno, 
isto é, o planejamento de corpus, afeta o ensino do português, haja 
 
- 21 - 
vista que as escolhas políticas na língua se tornam evidentes e são 
concretizadas. Nesse caso, 
 
[...] as diferentes políticas oficiais de ensino 
(sobretudo as de âmbito federal) vêm gerando um 
acervo cada vez mais volumoso de reflexões 
teóricas, consubstanciadas em documentos da 
mais diversa natureza (leis, paramentos 
curriculares, diretrizes, matizes curriculares, 
princípios e critérios para avaliação de livros 
didáticos, etc.). (BAGNO; RANGEL, 2005, p. 64, 
grifos dos autores). 
 
Aliado ao debate dos autores sobre a politização do ensino da 
língua, estão os programas de avaliação, seleção e distribuição de 
expedientes didáticos às escolas públicas brasileiras. Por isso as 
intervenções que afetam a língua, seja na sua função ou no uso, 
incidem este capítulo uma vez que elas são materializadas ou 
aplicadas, primeiramente, na escola. Tratam-se de instrumentos, 
principalmente oficiais, que regulam a sua aplicação que, por vezes, é 
coercitiva e conflitante. 
O conflito é inevitável às escolhas, porquanto o político é da 
ordem do conflito (MARIANI, 2011), fato observado na realidade 
linguística imposta ao aluno pela escola e à realidade linguística 
comum, ao seu grupo de pertença, uma vez que toda língua 
normalizada por uma das suas normas tende a ser vista, apenas, sob a 
perspectiva do padrão, apesar que ambas são regidas por um mesmo 
sistema. Mas a incoerência está no ensino sem a menor pretensão de 
 
- 22 - 
adequação linguística, bem como o distanciamento entre as 
intervenções in vivo (falante) e in vitro (poder), conforme apontado 
por Calvet (2007). 
Em todo caso,é notável, no Brasil, reflexões e ações 
interventivas que afetam a linguagem, isto é, o uso do português no 
Brasil e suas variedades, porém essas abordagens emergem dos 
estudos linguísticos (SAVEDRA; LAGARES, 2012). Na maioria desses 
estudos o foco principal é o planejamento de corpus, ou seja, o uso da 
língua no âmbito nacional, bem como as consequências da 
normatização dela para o ensino. E uma dessas consequências é o 
próprio preconceito linguístico que há muito tempo se traduz na 
dicotomia certo/errado. E ao que Faraco (2011) prefere chamar de 
norma curta. Sem sombra de dúvidas, o preconceito linguístico é uma 
das consequências que acometem aqueles que não estão no ciclo da 
norma padronizada. E percebemos, mais uma vez, que o processo de 
normatização de uma língua é fruto de algum planejamento 
linguístico, cujo intuito nem sempre oferece ao usuário um retorno 
positivo ao impactar o seu cotidiano. 
Em todo caso, as intervenções na língua são pautadas sempre 
no uso, embora a gestão in vitro queira se distanciar do uso real 
(CALVET, 2007) dessa língua. Nesse sentido, 
 
[...] um capítulo marcante na história política da 
língua portuguesa no Brasil, e na reflexão sobre os 
limites da intervenção na realidade dinâmica da 
 
- 23 - 
linguagem por parte dos poderes públicos, foi a 
apresentação no congresso do projeto de lei 
1676/1999, do deputado Aldo Rebelo, sobre “a 
promoção, a proteção, a defesa e o uso da língua 
portuguesa”. Esse projeto, que pretendia, entre 
outras coisas, punir o uso de estrangeirismos no 
Brasil, provocou uma reação imediata da 
Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN) e 
uma série de reflexões sobre políticas linguísticas, 
norma-padrão e estrangeirismos. (SAVEDRA; 
LAGARES, 2012, p. 18). 
 
É possível perceber que a ação perpetrada pelo poder tem 
como base o uso da LP, porém este uso deve ser regido por ações 
oficiais que regulam o modo como a língua deve ser praticada. Mas é 
verificável que as reações provocadas por tal ação oficial resultam em 
atuações não normativas que influenciam, de igual modo, no uso 
dessa língua no Brasil. Em outras palavras, a gestão in vitro se baseia 
sempre na gestão in vivo, porém seguem caminhos inversos. É preciso 
ter em atenção que qualquer intervenção na língua, seja para regular 
o seu uso, defender a valoração da sua utilização ou determinar a sua 
funcionalidade, afeta a liberdade de uso de seus falantes. Lembrando 
que os membros do poder também são usuários dessa língua e, por 
isso, optam por este ou aquele modelo, pois o Estado é resultado de 
uma ideia ideológica, cuja intenção é a unificação e esta se torna 
negativa quando passa a excluir uns para incluir outros sem que haja 
uma conscientização deste ou daquele uso. 
 
- 24 - 
A questão da diversidade linguística é um tema caro aos 
estudos das políticas linguísticas, porque o poder sempre a vê como 
sinônimo de desvio. Fator esse que leva qualquer plano de unificação 
ao fracasso. Assim, a variação linguística é um fenômeno inerente a 
qualquer língua (BAGNO, 2011; LABOV, 2008), por isso as mudanças 
na língua sofrem intervenções de todos os lados, uma vez que por mais 
que o seu uso seja regulado oficialmente, a sua aplicação pode ou não 
ser aceita pelos usuários da língua. Exemplo disso é que ninguém fala 
o tempo todo a norma de prestígio, isso justifica que as situações 
cotidianas exigem de nós uma postura linguística adequada ao 
momento. 
Nesta perspectiva, o que temos tentando objetivar nesta seção 
centra-se na ideia de que o termo política linguística deve ser 
entendido por dois vieses: o singular e o plural, visto que as ações que 
o envolvem não dizem respeito a uma única política linguística, mas a 
várias políticas linguísticas. As políticas linguísticas, como a arte de 
conduzir reflexões em torno da língua, como bem afirma Rajagopalan, 
(2013), são também intervencionistas, porque visam tanto aos 
debates, às reflexões e às discussões em torno da língua quanto à 
mudança de uma determinada situação linguística. O que nos revela 
que as intervenções podem ser positivas ou negativas, uma vez que os 
decisores e/ou intervencionistas são o Estado e os próprios falantes. 
Aqueles determinam, por meio de leis e decretos, o que deve ou não 
deve ser usado na língua, bem como o status que a ela deve ser 
 
- 25 - 
conferido, e estes atuam fazendo escolhas conscientes ou não do seu 
uso. Na seção a seguir, as ponderações prosseguem abordando alguns 
instrumentos normatizadores da língua: o livro didático e o dicionário, 
expedientes resultantes das atividades das políticas linguísticas. 
 
Dicionários escolares: expedientes didáticos normatizadores da 
variante padrão 
No campo da educação básica temos avançado o suficiente 
para equiparmos as escolas com expedientes didáticos constituídos a 
partir de muitos esforços de educadores, pesquisadores e produtores 
de saberes e estratégias de ensino de LP no Brasil. Historicamente 
pontuam-se marcos que desenham os caminhos em que as políticas 
linguísticas foram assentadas no intuito de produzir instrumentos de 
normatização da LP e o ensino de uma variante oficial nas escolas 
brasileiras. Neste sentido, focaremos nesta seção nas perspectivas 
apontadas no capítulo anterior sobre políticas linguísticas in-vitro, 
caracterizadas por normas instituídas pelos poderes públicos para a 
padronização do falar, impostas aos falantes nos expedientes 
didáticos, resultantes de programas organizados pelo governo e 
designados ao ensino da LP nas escolas públicas. 
O dicionário e a gramática são instrumentos resultantes das 
ações que constituem as políticas linguísticas (BAGNO, 2011). Estas 
regulam o funcionamento da língua e aqueles descrevem o uso da 
língua, mas nem sempre foi uma descrição com foco na iteração 
 
- 26 - 
verbal. O que é, hoje, uma notável mudança, ainda que não simboliza 
uma prática geral, não sendo, ainda, capaz de atingir todas as camadas 
da sociedade. A criação de um dicionário, por exemplo, que apresenta 
o fenômeno da variação é importante, principalmente, no âmbito 
escolar. 
Os principais instrumentos elaborados pelas políticas 
linguísticas para o aprendizado artificial da língua, como a gramática, 
os LDs e os dicionários atendem às demandas de ensino da língua 
padrão, em oposição ao aprendizado natural da língua. De acordo com 
Rey-Debove (1984), o ensino sistematizado da língua padrão ocorre no 
ambiente institucionalizado, diferentemente do ambiente da 
aquisição da língua materna, promovida naturalmente no ambiente 
familiar, sem o auxílio de materiais didáticos institucionalizados. No 
grupo de expedientes listados anteriormente, ressalta-se o dicionário 
como o modelo de obra mais antiga e tradicional, a tratar do léxico, no 
intuito de reforçar e perpetuar os modelos definidos como corretos a 
serem seguidos pela comunidade linguística a que refrata. 
Dada a impossibilidade de apenas um dicionário abarcar todos 
as informações lexicais de alguma língua, tornou-se necessária a 
elaboração de diferentes obras lexicográficas para públicos de 
variados setores da sociedade, como estudante, profissionais da 
saúde, historiadores etc. Atualmente há muitos tipos de dicionários 
produzidos para diferentes públicos, podemos citar o dicionário 
padrão da língua, o dicionário ideológico ou analógico, o dicionário 
 
- 27 - 
histórico, o dicionário especial, o dicionário especializado e o 
dicionário escolar. Cada dicionário tem suas características próprias e 
atendem a propostas lexicográficas distintas, as quais levam em conta 
aspectos da macroestrura e microestrutura das obras, portanto, estão 
relacionados, respectivamente, à nomenclatura, ou ao modo que o 
conjunto de entradas está organizado no dicionário, por exemplo se 
está em ordem alfabética ou ordenado por temas, ao número de 
palavras-entrada que a obra terá; e ao conjuntode informações que 
compõem cada palavra-entrada (RIBEIRO, 2018, p. 39). 
Os aspectos observados na macro e microestrutura dos 
dicionários configuram políticas linguísticas específicas relacionadas 
tanto ao conteúdo e/ou escopo lexical que será contemplado como 
também às metodologias de trabalho e o público que utilizará a obra. 
Neste sentido, 
 
Não é exagero afirmar que a política geral 
empreendida por qualquer poder de qualquer 
Estado ou sociedade inclui sempre uma 
determinada política linguística. Seja por ação ou 
por omissão, por vontade consciente ou por inércia 
inconsciente, todos os poderes políticos executam 
políticas linguísticas que favorecem determinada 
língua (ou uma variedade específica dessa língua) 
no seio da comunidade em que tais poderem 
atuam” (BAGNO, 2017, p. 350. 
 
É salutar ainda destacar que a própria aceitação de uma palavra 
no dicionário pressupõe políticas de uso, de aceitação social. Sempre 
 
- 28 - 
há o exercício de poder daqueles que conhecem a língua do ponto 
vista estrutural, semântico e também os impactos que ela causa na 
sociedade, tanto no sentido positivo, como negativo. 
Partindo disso, entende-se que a criação de um programa para 
a avaliação, a seleção e a distribuição gratuita do LD às escolas públicas 
brasileiras seja de reconhecida importância para o ensino de LP no 
Brasil, uma vez que o referido expediente é basilar no letramento dos 
brasileiros. Anteriormente à criação do Programa Nacional do Livro 
Didático (PNLD), em 1985, conforme Mantovani (2009, p. 26), marcam 
nossa história a instituição do Instituto Nacional do Livro (INL), em 
1929, o qual legislava sobre o tema; a criação no ano de 1930 do 
Decreto-lei nº 19.402 de “uma nova Secretaria de Estado e Saúde 
Pública. Era o início do Ministério da Educação (MEC)”. Ainda neste 
mesmo período foi estruturada a Comissão Nacional do Livro Didático 
(CNLD), responsável pela regulamentação da política do LD. Deste 
modo, 
 
[...] a CNLD tinha como tarefa fazer o controle da 
adoção dos livros, de forma que estes 
possibilitassem o desenvolvimento de um espírito 
de nacionalidade. Esse fato fica claro quando se 
analisaram os critérios para as avaliações dos 
livros, que valorizavam muito mais os aspectos 
político-ideológicos do que os pedagógicos. 
(WITZEL, 2002, p. 18 apud Mantovani, 2009, p. 28) 
 
A pouca qualidade, o fracasso na escolha e a distribuição dos 
livros receberam, diversas críticas, ocasionando a inauguração do 
 
- 29 - 
PNLD. Contudo, as obras distribuídas, no formato de manuais, com 
atividades inócuas, para serem realizadas pelos professores nas salas 
de aulas foram alvo de muitas críticas da imprensa, obrigando o 
governo a se preocupar mais com o material. Assim, criou-se uma 
comissão de mestres e doutores para avaliarem as obras de maneira 
que estivessem alinhadas com as necessidades de ensino e 
aprendizado dos professores e alunos (RANGEL, 2011). 
Notadamente, arrolaram muitas discussões e estudos sobre os 
LDs, favorecendo a inclusão de acervos de dicionários no PNLD/2000 
para serem enviados às escolas públicas brasileiras. Embora as obras 
lexicográficas não fossem adequadas ao público destinado, foi o início 
da implementação das políticas linguísticas do governo federal no 
setor de expedientes didáticos. 
Nas edições do PNLD 2002 e 2004 o MEC adotou-se para a 
seleção de dicionários o mesmo critério de avaliação realizado com os 
LDs. Portanto, uma comissão formada por especialistas selecionou as 
obras que foram incluídas no Guia do Livro Didático. Neste processo, 
constatou-se que muitas obras lexicográficas consideradas dicionários 
escolares, não eram apropriadas aos alunos e tratavam-se 
simplesmente de materiais reduzidos de dicionários gerais 
(CARVALHO, 2012). 
Partindo deste contexto, em 2006 o MEC adotou novos 
métodos de avaliação, organização e distribuição dos dicionários, 
compondo uma nova política que sistematizaria o chamado PNLD-
 
- 30 - 
Dicionários, configurado em três acervos, com obras de diferentes 
autores, com propostas lexicográficas compatíveis ao público do 
Ensino Fundamental I e II (RANGEL, 2011). Mais tarde, na última 
distribuição de dicionários, no PNLD de 2012, o público do Ensino 
Médio também foi contemplado com um acervo de dicionários e 
ocorreu o amadurecimento do processo de avaliação dos dicionários 
e na elaboração das obras pelas editoras. De acordo com Ribeiro 
(2018, p. 74-75), 
 
A inclusão de dicionários no PNLD/2006, bem como 
sua reprodução no PLND/2012 foram ações 
notáveis e tiveram muitas implicações no mercado 
editorial. Sabendo dos critérios de avaliação, os 
editores tiveram que adequar os dicionários às 
demandas levantadas pelo MEC e elevar a 
qualidade de seus materiais, o que favoreceu muito 
não só os alunos das escolas públicas, mas também 
das escolas particulares. Deste modo, foi possível 
estabelecer parâmetros que definem quais tipos de 
dicionários são adequados a cada faixa escolar e, 
também excluir os títulos que não são. 
 
Por outro lado, ao contrário dos avanços do PNLD acerca da 
disponibilização de dicionários de qualidade às escolas públicas, temos 
a falta de programas de aperfeiçoamento dos professores para a 
utilização adequada dos acervos de obras lexicográficas. Estudos 
referendados por Ribeiro (2018) evidenciam que a falta de 
conhecimento do professor sobre as Ciências do Léxico, como a 
 
- 31 - 
Lexicografia ou a Lexicologia é um dos motivos do pouco uso dos 
dicionários nas salas de aulas. De acordo com o autor, 
 
Os educadores, os maiores responsáveis pela 
melhoria das técnicas e metodologias de ensino de 
LP nas escolas, em geral, não compreendem ainda 
a variabilidade de serviços que o dicionário oferece 
aos seus alunos e, de modo particular, aos alunos 
em processo de ampliação dos conhecimentos 
linguísticos (RIBEIRO, 2018). 
 
Embora o governo tenha desenvolvido ações de avaliação e 
distribuição das obras lexicográficas na perspectiva de equipar as 
escolas com expedientes apropriados, o mesmo não aconteceu em 
relação a estruturação de programas de qualificação dos professores 
para a exploração adequada dos LDs e dicionários, estruturados a 
partir de políticas linguísticas, ocasionadas por demandas originadas 
nas próprias escolas. Nas palavras de Krieger e Rangel (2011, p. 140) o 
dicionário é pouco aproveitado inclusive nas atividades com o uso do 
LD, pois elas não propõem aos alunos recorrerem às obras 
lexicográficas como uma maneira de complementar o aprendizado. 
Neste sentido, as políticas linguísticas materializadas no PNLD 
devem ser sistematizadas tendo em vista três aspectos norteadores e 
fundamentais no processo de ensino de LP no Brasil: os tipos de 
expedientes didáticos apropriados aos seus respectivos públicos; ao 
diálogo entre cada tipo de expediente utilizado na realização das 
atividades; e a metodologia/didática que será praticada nas aulas. 
 
- 32 - 
Pois, conforme verifica-se nas pesquisas consultadas, não se trata 
apenas de equipar as escolas com livros, são necessárias outras 
medidas. 
Para ilustrar algumas das potencialidades do dicionário, 
destacamos a seguir alguns exemplos de marcas de uso, aspecto 
destacado em obras lexicográficas do PNLD/2012, distribuídas às 
escolas públicas brasileiras, que pode ser explorado no ensino de LP 
nas salas de aula. 
 
Marcas de uso nos dicionários escolares – o que elas nos revelam? 
Nas seções anteriores foram abordadas as políticas linguísticas 
de implantação do Português no Brasil e vimos também que o 
dicionário é um expediente didático que compõe as obras avaliadas 
pelo MEC e são disponibilizados aos alunos nas escolas públicas. Sendo 
assim, um expediente normatizador da língua e que, por isso, também 
está embebecido por políticas linguísticas. Nesta seção, trataremos 
sobre essa obra lexicográfica, observando que a política linguísticaestá até mesmo nas pequenas abreviações que a mesma traz, as quais 
prometem explicar os contextos de uso do léxico: as marcas de uso. 
O dicionário descreve e instrumentaliza a língua e é 
considerado um dos pilares do saber metalinguístico (PONTES, 2012. 
p. 93 apud AUROUX, 1992, p. 65). Apesar desse utensílio necessário 
para aprendizagem da língua não ser classificado como LD stricto 
sensu, Krieger (2006, p. 236) afirma ter o dicionário um grande 
 
- 33 - 
potencial pedagógico “[...] oferecendo-lhes informações 
sistematizadas sobre o léxico, seus usos e sentidos, bem como sobre o 
componente gramatical das unidades que o integram”. 
Ezquerro (2001) acrescenta que o dicionário é uma 
“ferramenta de ensino”. Em outras palavras, a autora diz ser 
necessário conhecer e praticar todos os aspectos que um dicionário de 
língua contém, pois isso permitirá ao aluno, assim como também a 
todos os usuários da língua, um melhor manejo do léxico4. 
Nessa perspectiva Rey-Debove (1984) já anunciava a 
importância do dicionário para a aquisição da língua pelo falante. 
Citado por Ribeiro (2018), Rey-Debove (1984) afirma que além da 
gramática, o dicionário é um tipo de obra artificial, metalinguística e 
descritiva que permite conhecer e aprender uma língua. 
Dada a importância de conhecer o dicionário e os elementos 
nele contidos, para a aprendizagem eficaz do léxico de uma língua é 
preciso acautelar que se trata de uma obra lexicográfica heterogênea, 
de caráter poliédrico e por isso exige olhares atentos, uma vez que é 
possível examinar um dicionário sobre várias perspectivas, conforme 
aconselha Pontes (2012). 
Para Borba (2003, p. 315) o dicionário deve apresentar e 
instruir quanto aos diferentes usos da língua, ou em outros termos, 
 
4“[...] conocer y practicar todos estos aspectos permite utilizar el diccionario de una 
forma más completa y, además, aporta seguridad al alumno porque ahora sí sabe 
usar esta herramienta que, además, le proporciona una interesante información 
lingüística” (EZQUERRO, 2001, p. 86). 
 
- 34 - 
deve orientar quanto ao registro do léxico de uma língua, 
considerando os “[...] diferentes registros utilizados pelas pessoas nas 
diferentes situações da vida social” e as variações lexicais que existem 
tanto relacionadas ao espaço geográfico quanto social. 
Hausmann & Wiegand (1989, p. 341) apud (Welker, 2004, p. 
108) listam informações importantes que podem aparecer nos 
dicionários e dentre elas nota-se as marcas de uso. Elas então 
compõem a microestrutura de um dicionário. Já incorporada na 
produção lexicográfica moderna, as marcas de uso aparecem nos 
dicionários de língua há algum tempo, sobretudo nos dicionários 
escolares, registradas de forma adequada ou não, revela Pontes 
(2011). Borba (2003) também diz sobre as marcas de uso nos 
dicionários e as chama pelo nome de “rótulos”. 
Adverte Fajardo (1996-1997) que apesar de algumas 
marcações serem representadas por abreviaturas, nem toda 
abreviação que antecede a definição, no verbete de um dicionário, 
caracteriza-se como uma marca de uso. Para tal, é necessário que a 
marcação contenha informações concretas sobre em que condições 
podem ser utilizadas determinada unidade lexical, bem como as suas 
restrições5. 
 
5“La marcación cumple una función fundamental: caracterizar a un elemento léxico 
señalando sus restricciones y condiciones de uso y tiene su expresión en el empleo 
de distintos tipos de marcas”. (FAJARDO, 1996-1997, p. 32). 
 
- 35 - 
Não se pode dizer que a indicação gramatical contida no 
verbete após o lema seja um tipo de marca de uso, uma vez que está 
fora do conceito de marca tudo o que é regular e constante no 
dicionário. Destarte: “Queda fuera del concepto de marcación todo lo 
que es regular y constante en cada uno de los artículos del diccionario” 
(FAJARDO, 1996-1997, p. 49). 
Destaca Hausmann (1977, p. 112-143) apud Welker (2004, p. 
131) que a metalexicografia propõe a divisão das marcas mediante aos 
seguintes adjetivos, sendo um total de onze: diacrônicas; diatópicas; 
diaintegrativas; diamediais; diastrásticas; diafásicas; diatextuais; 
diatécnicas; diafrequentes; diaevolutivas e dianormativas, conforme 
explica a seguir: 
 
 diacrônicas (por exemplo, antiquado, 
envelhecido, neologismo) 
 diatópicas (aplicadas a acepções restritas a certas 
regiões ou países) 
 diaintegrativas (usadas para assinalar 
estrangeirismos) 
 diamediais (diferenciam entre as linguagens oral 
e escrita) 
 diastráticas (por exemplo, chulo, familiar, 
coloquial, elevado) 
 diafásicas (diferenciam entre as linguagens 
formal e informal) 
 diatextuais (assinalam que o lexema – ou acepção 
– é restrito a determinado gênero textual; por 
exemplo, poético, literário, jornalístico) 
 diatécnicas (informam que a acepção pertence a 
uma linguagem técnica, a um tecnoleto) 
 diafreqüentes (em geral: raro, muito raro) 
 
- 36 - 
 diaevaluativas (mostram que o falante, ao usar o 
lexema, revela certa atitude; por exemplo, 
pejorativo, eufemismo) 
 dianormativas (indicam que o uso de certa 
acepção – ou lexema – é errado pelas normas da 
língua padrão). (HAUSMANN, 1977, p. 112-143 
apud WELKER, 2004, p. 131). 
 
No tocante ao registro das marcas de uso, há unanimidade 
entre os lexicógrafos ou aqueles que se ocupam do “fazer dicionário” 
de que é um árduo e difícil trabalho. Sobre este tema Borba (2003, p. 
315) ressalta que abranger os diferentes usos da língua e apontar no 
dicionário, assegurando ao leitor a forma correta de utilização, seria 
“[...] tarefa complicada e feita de forma muito irregular em nossos 
dicionários”. 
É por isso que vários autores, como Gonçalves (2015) e Ribeiro 
(2018) reforçam a importância de o lexicógrafo estabelecer critérios 
claros, definidos e sistemáticos para padronizar as informações do 
dicionário, a fim de favorecer a consulta à obra pelo consulente. O 
profissional da lexicografia deve ao fazer isso, apresentar logo na 
introdução do dicionário, nas partes pré-textuais, a proposta 
lexicográfica adotada. Gonçalves (2015, p. 78) corrobora ainda ao dizer 
que “Para nós, o lexicógrafo, deve esclarecer ao usuário o que são as 
marcas de uso, qual é o seu papel, qual o critério adotado para o seu 
registro e, com base em exemplos, contextualizar essas marcas[...]”. 
Com o propósito de refletir acerca de os conceitos acima 
apresentados, avaliaremos o verbete da palavra-entrada abacaxi 
 
- 37 - 
contido nas obras lexicográficas aprovadas no PNLD-Dicionários/2012, 
do tipo 4, destinadas aos alunos na etapa do Ensino Médio. 
Sublinhamos que a escolha do lexema em questão, abacaxi, foi 
feita de forma aleatória e na intenção de exemplificar alguns pontos 
discutidos até aqui. Destacamos que os verbetes a seguir foram 
transcritos das obras lexicográficas pesquisadas, procurando 
aproximar a formatação da cor da fonte, negrito, itálico ao que está 
contido nos dicionários. 
Na Tabela 1, encontramos a abreviação de Fig. e Pop. 
referindo-se a “Figurado” e “Popular”. Além dessas marcas, no Guia de 
Uso do dicionário em questão também são constatadas outras, a 
saber: antigo; antiquado, familiar, gíria, infantil, irônico, jocoso, 
pejorativo, popular, tabuísmo e vulgar. Todas essas estão sob o 
“rótulo” de “Níveis de Linguagem”. 
 
Tabela 1 - Verbete abacaxi no Dicionário da Língua Portuguesa Evanildo 
Bechara 
abacaxi (a.ba.ca.xi) sm. 1 Fruto comestível do abacaxizeiro, de casca 
grossa e cheia de espinhos. 2 Fig. Pop. Tarefa difícil. O chefe só lhe passa 
abacaxis. [Do tupi] 
Fonte: Bechara (2011) adaptado por Arruda (2020) 
 
Na sequência passemos para a análise do léxico abacaxi no 
Dicionário Houaiss Conciso, Tabela 2. Nesse, há abreviatura “infrm.”, 
referindo-se à marcação de linguagem informal. Essa obra ainda 
registra na sua proposta lexicográfica outras marcações de uso tais 
como: linguagem formal (frm.); gíria (gír.); tabuísmos, expressões- 38 - 
consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas (gros.); linguagem 
pejorativa (pej.); palavra, locução ou acepção jocosa (joc.) e linguagem 
infantil (l. inf.), e dá a eles o nome de “Níveis de Uso”. 
 
Tabela 2 - Verbete abacaxi no Dicionário Houaiss Conciso 
a.ba.ca.xi s.m. 1 planta terrestre da fam. Das bromeliáceas, nativa do 
Brasil, que traz uma coroa de folhas com beirada espinhosa sobre seus 
frutos comestíveis, que chegam a 15 cm 2 o fruto dessa planta 3 fig. 
infrm. Problema, complicação [ETIM: tupi *ïwaka’ti’ fruta que recende’] 
Fonte: Instituto Antonio Houaiss (2011), adaptado por Arruda (2020) 
 
No dicionário da Unesp, Tabela 3, encontramos o registro da 
abreviação “Coloq” para referir-se à Coloquial. O dicionário expõe 
também em outros verbetes marcações de uso sob o rótulo “chulo”, 
“grosseiro”, “popular”, “gíria”, conforme está apontado na proposta 
lexicográfica desse dicionário E, além disso, assinala que as variantes 
com baixa frequência são identificadas com as expressões: “mais 
usado do que”, “pouco usado” ou “muito pouco usado”. 
 
Tabela 3 - Verbete abacaxi no Dicionário Unesp do Português 
Contemporâneo 
ABACAXI a.ba.ca.xi (Tupi) Sm 1 infrutescência composta por bagas 
carnosas grudadas umas às outras formando uma polpa branca ou 
amarelada, aromática e suculenta, envolvida por uma casca grossa de 
sulcos simétricos e em forma cônica ou arredondada e curta, terminando 
por uma coroa espinhosa 2 abacaxizeiro: Feriu-se numa folha de abacaxi. 
3 (Coloq) tudo o que é indesejável e perigoso; coisa complicada e 
trabalhosa: O ministro afirmou estar assumindo um abacaxi muito 
grande. 
Fonte: Borba (2011), adaptado por Arruda (2020) 
 
 
- 39 - 
Por fim, no Novíssimo Aulete, Tabela 4, há marcação com o uso 
de abreviações Pop; Fig, Pej e Gír., pertencentes ao grupo “Níveis de 
Uso”, e referindo-se à popular; figurado; pejorativo e gíria. Além 
dessa, na introdução da obra são elencadas outras marcas 
empregadas nesse dicionário, em outros verbetes, para referir-se às 
seguintes situações: antigo; antiquado, depreciativo, desusado, 
familiar, infantil, irônico, jocoso, por extensão, pouco usado, coloquial, 
restrito, tabuísmo e vulgar. 
 
Figura 4 - Verbete abacaxi no Novíssimo Aulete Dicionário Contemporâneo 
da Língua Portuguesa 
abacaxi (a.ba.ca.xi) Bras. sm 1 Planta bromeliácea (Ananas comosus), 
nativa do Brasil, de casca grossa e espinhenta e fruto muito suculento 2 
O fruto dessa planta; ANANÁS (2) 3 Pop. Situação ou coisa que encerram 
complicações ou que podem trazer efeitos desastrosos: resolver um 
abacaxi. 4 Fig. Pej. Alcunha que se dava depreciativamente aos 
portugueses 5 Coisa ou pessoa chata, desagradável 6 PE AL Pessoa que 
dança desajeitadamente [F.: Do tupi iwaka’ti.] Descascar um ~ Bras. Gír. 
Resolver problema ou enfrentar situação difícil ou desagradável 
Fonte: Aulete (2011), adaptado por Arruda (2020) 
 
Na tabela abaixo podemos visualizar de forma evidente as 
marcas de uso empregadas no verbete da palavra-entrada abacaxi nas 
obras lexicográficas em questão. 
 
Tabela 1 - Marcas de uso no verbete abacaxi nos dicionários aprovados pelo 
PNLD 2012 
Nome do Dicionário 
Marca 
usada 
Acepção 
Dicionário da Língua 
Portuguesa Evanildo 
Bechara 
Fig. 
Pop. 
Tarefa Difícil 
 
- 40 - 
Dicionário Houaiss 
Conciso 
infrm. problema, complicação 
Dicionário Unesp do 
Português 
Contemporâneo 
Coloq 
tudo o que é indesejável e perigoso; 
coisa complicada e trabalhosa: O 
ministro afirmou estar assumindo um 
abacaxi muito grande. 
Novíssimo Aulete 
Dicionário 
Contemporâneo da 
Língua Portuguesa 
Pop. 
Situação ou coisa que encerram 
complicações ou que podem trazer 
efeitos desastrosos: resolver um 
abacaxi. 
Fig. Pej. 
Alcunha que se dava 
depreciativamente aos portugueses. 
Gír. 
Resolver problema ou enfrentar 
situação difícil ou desagradável 
Fonte: elaboração própria 
 
Para referir-se ao uso com o sentido de “ser complicado, 
difícil”, foram encontradas cinco marcas: Tabelado (Fig); Popular (Pop. 
); Informal (infrm.); Coloquial (Coloq); Gíria (Gír.). Mas ainda 
encontramos abacaxi com a marca de Pejorativo (Pej.), quando 
utilizado para apelidar os portugueses. Com isso novamente 
comprovamos a irregularidade na marcação conforme já havia sido 
adiantado pelos vários autores revisitados nesse trabalho. 
Retomando a classificação proposta Hausmann (1977), 
observamos que nesse verbete analisado, estamos diante de marcas 
de uso diafásicas, diastrática e diaevaluativas. Assim, entendemos que 
as marcas Tabelado (Fig.); Popular (Pop. ); Informal (infrm.) e Gíria 
(Gír.) se enquadrariam em marcas diafásicas; Coloquial (Coloq) em 
marcas do tipo diastrática e por fim Pejorativo (Pej.) no grupo das 
marcas diaevaluativas. 
 
- 41 - 
Nesta seção foi possível verificar que as marcas de uso 
utilizadas pelos dicionaristas/lexicográficos em suas obras objetivam 
retratar a língua em exercício, uma vez que para a elaboração de um 
arranjo lexical tão vasto, é necessário ao pesquisar, contabilizar e 
analisar os modos e contextos de uso do léxico da língua. E, assim, não 
somente assinalando as diversas acepções existentes para um mesmo 
lexema, mas referindo-se ao uso que a população faz da língua. Por 
isso, encontramos as marcações tais como: informal, pejorativo, gíria, 
chulo, dentre tantas outras citadas anteriormente. 
Estamos diante de uma situação desconfortável ao entender 
que o que não é considerado como variante padrão da língua, é 
rotulado com uma marca de uso, que diz em que situação determinada 
acepção é utilizada. E, assim, ilustram explicitamente que o “não 
marcado” é considerado o modelo ideal a ser usado e que o “marcado” 
é inadequado no uso da língua. 
Isto posto, ainda observando os verbetes em questão, é 
notório que as acepções não marcadas são apresentadas em primeiro 
plano. Somente após isso, são introduzidas aquelas que escapam à 
normatização e refletem também o uso da língua pelos falantes. Logo, 
acerca do verbete de palavra-entrada abacaxi, entende-se que 
“abacaxi” para se referir a uma situação difícil, complicada, 
problemática só se deve utilizar em situações de informalidade. 
Assim sendo, as marcas de uso podem ser vistas como um 
distintivo de classes sociais ou de pessoas pertencentes a lugares 
 
- 42 - 
classificados entre bons ou ruins, uma vez que as variantes do modelo 
são adjetivadas com palavras depreciativas, como chulo, pejorativo, 
coloquial, popular, gíria etc. De acordo com Bagno (2017, p. 270), 
 
De fato, prevalece na maioria das sociedades uma 
oposição entre elementos que constituem pares 
onde um deles é tido como a norma (o não 
marcado), enquanto o outro se situa fora da norma 
(o marcado, o anormal). Assim, em pares como 
homem/mulher, branco/não branco, vidente/cego, 
ouvinte/surdo, heterossexual/homossexual, 
destro/canhoto, fértil/infértil [...], a estrutura social 
vigente tende a fazer considerar o primeiro 
elemento de cada um desses pares como o 
“neutro”, o “óbvio”, o “normal”, o “natural”. 
(Grifos do autor) 
 
Destarte, marcar variantes com adjetivos depreciativos é o 
mesmo que atribuir qualidades negativas aos seus falantes e ainda 
exercer sobre eles políticas linguísticas de restrição e de poder. 
Partindo disso, o que parece estar explícito, no sentido de marcar os 
usos, expor as variantes da LP, demonstra que implicitamente ocorre 
a estratificação social/linguística por meio dos equipamentos da 
língua, ou seja, a escrita materializada nos dicionários. 
 
Considerações Finais 
Compreendemos que os dicionários escolares, assim como 
todos os expedientes didáticos normatizadores da língua padrão, não 
são livres/isentos de um posicionamento político, ideológico. Pelo 
 
- 43 - 
contrário, visam reforçar posicionamentos preconceituosos sem levar 
em consideração a fertilidade da língua e a diversidade cultural 
daqueles que a falam. 
E, por isso, enquantoaparelho do Estado para impor a política 
da língua, o dicionário passou a ser um material avaliado pelo 
Ministério da Educação e posteriormente disponibilizado aos 
estudantes da língua. Haja vista que era necessário analisar o que 
essas obras diziam da língua e principalmente os seus usos. 
Vimos, portanto, nesse estudo que um dicionário escolar serve 
muito mais do que se espera a maior parte dos estudantes e/ou 
consulentes e a ele recorrem para consultas. É capaz de ser 
instrumento para difundir as políticas linguísticas de um país, e assim, 
preferenciar formas de uso de determinado léxico em detrimento de 
outros, de acordo, com àquilo que o poder define como forma “certa” 
de uso da língua. 
As marcas de uso deveriam ser destaques que apresentassem 
de modo positivo as comunidades que adotam estas ou aquelas 
variantes, de maneira que os dicionários expusessem a diversidade 
linguística presente no Brasil e valorizassem a cultura de seus falantes. 
Tendo em vista a variedade cultural, social geográfica neste país, é 
impossível que todos estes fatores não impliquem em uma rica 
variedade linguística também, seja na criação de novas palavras, na 
atribuição de novos significados a elas ou nos seus usos. 
 
- 44 - 
Em suma, as ações que regulamentam o uso da língua e o seu 
registro em instrumentos normatizadores, por exemplo os dicionários, 
são escolhas políticas influenciadas pela gestão in vitro cuja base é a 
gestão in vivo. Não podemos negar que os falantes, principalmente, 
decidem pelo uso real da língua, embora as decisões normativas se 
traduzem em imposições, muitas vezes, desnecessárias à realidade 
dos falantes. 
 
 
- 45 - 
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INSTITUTO ANTONIO HOUAISS (org.). Dicionário Houaiss Conciso. São 
Paulo: Moderna, 2011. 
 
- 49 - 
Culinária, uma relação franco-portuguesa no português do 
Brasil 
 
Jaciara Mesquita Rosa Bertossi6 
 
Introdução 
Trataremos, neste capítulo, sobre as inter-relações entre língua 
e cultura, tema bastante recorrente aos estudos lexicais e há muito 
consensual entre os estudiosos da língua, como Lyons (1981), Bosi 
(2004), Coseriu (1979) e Câmara Jr. (2004), que ratificam, noinício do 
século XX, quão importante é conhecer a língua para se entender um 
povo, seus hábitos e costumes. 
Nessa perspectiva, os estudos da linguagem relacionam-se com 
os do campo da antropologia, sociologia, psicologia, filosofia e outros, 
sendo essenciais para a compreensão dos seres humanos dentro de 
uma comunidade de fala e tudo o que gira em torno dela: como um 
povo nomeia o mundo em que vive, quais são seus ritos religiosos e 
hábitos alimentares, para entendermos a cultura de um povo. 
Considerada como recorte da realidade, a língua é uma 
interpretação calcada nas experiências de cada um para compreendê-
la. Assim, discutir cultura e, consequentemente, língua, exige 
enveredar-se pela memória, sem a qual não há raiz. É impossível falar 
 
6 Mestra em Estudos da Linguagem, UFG. 
 
- 50 - 
de cultura sem falar de memória, pois sem ela não há passado; essa 
capacidade que temos de lembrar e conservar os acontecimentos 
ocorridos dentro de uma comunidade é o fio condutor da memória de 
um povo, que a associa a práticas linguístico-culturais. 
Segundo Halbwachs (2003, p. 30), “nossas lembranças 
permanecem coletivas e nos são lembradas por outros, ainda que se 
tratem de eventos em que somente nós estivemos envolvidos e 
objetos que somente nós vimos”. Essa reminiscência coletiva acontece 
porque estamos em constante interação com outras pessoas, o que 
faz a memória poder ser recriada e representar os hábitos culturais de 
uma comunidade que, por sua vez, são representados na língua que se 
fala, que se escreve, que se gesticula. Eis o escopo desse estudo: 
entender língua e cultura como interfaces da vida em sociedade, em 
relação de interdependência constante. 
Ao tratar a língua como um sistema abstrato elaborado pela 
sociedade, Coelho (2006) diz que ela só resiste sob a forma de 
memória coletiva. Ou seja, a forma como os indivíduos vivem, 
constroem e nomeiam objetos enquanto sociedade é mantida em um 
arquivo geral coletivo, que representará a língua em suas formas de 
expressão fala, escrita, desenhos, gestos. 
Para situar o corpo linguístico, é importante considerar, além 
da língua e da fala, a norma, que tem um espaço social e cultural, pois 
representa o que é usual, regular, costumeiro, regula o nosso 
comportamento e podemos encontrar a regularidade nessa variante. 
 
- 51 - 
Coseriu (1979, p. 69) nos lembra que essa é “[...] a norma que 
seguimos necessariamente por sermos membros duma comunidade 
linguística, e não daquela segundo a qual se reconhece que ‘falamos 
bem’ ou de maneira exemplar, na mesma comunidade”. 
Diferentemente do sistema, que limita o nosso arbítrio, é a escolha dos 
falantes de uma comunidade que provoca mudanças na parole, que 
contempla a realização individual da norma, contém a originalidade 
expressiva dos indivíduos falantes e pode, por vezes, ser adotada e até 
dicionarizada, ou não, e cair em desuso. 
De acordo com os pressupostos teóricos de Coseriu (1979, p. 
75), “[...] o que se emprega no falar não é própria e diretamente o 
sistema, mas formas sempre novas que no sistema encontram apenas 
sua condição, seu molde ideal”, ou seja é dizer que as diferentes 
realizações fonéticas, por exemplo, em grupos mais ou menos amplos, 
são tratadas como diferenças no modo de falar constantes e normais, 
não individuais, nem momentâneas, mas que caracterizam certas 
comunidades profissionais e culturais, ainda que não resultem em 
mudanças funcionais no sistema da língua, ou seja, não resultem em 
mudanças gramaticais. 
Tomemos o caso da influência do idioma francês no português 
do Brasil, em fins do século XIX e início do XX, a Belle Époque tropical, 
que ditou aos habitués da elite carioca costumes, hábitos de se vestir, 
andar, falar, portar-se, bem como o que ler, o que dizer e como fazê-
lo. O status de nobreza e a superioridade estavam atrelados a quem 
 
- 52 - 
se arriscava a pronunciar os galicismos, as unidades lexicais originárias 
da França. Essa era a norma utilizada pela elite carioca, falar o 
português do Brasil, recheado com francesismos, o que denotava 
naquele momento, além da notoriedade e superioridade, como já 
dissemos, a influência europeia no cotidiano carioca. O autor Needell 
(1987, p. 53) diz que, na educação para meninos e meninas da elite 
carioca, sob a influência francesa, 
 
[...] os professores eram, frequentemente, do 
Velho Mundo (provavelmente franceses ou 
influenciados por franceses); os textos eram 
franceses ou traduzidos do Francês; e a intenção 
era de que os alunos adquirissem conhecimento da 
cultura europeia7. 
 
Não queremos dizer que existia uma língua diferente falada na 
capital federal, na época, o Rio de Janeiro; havia um falar carioca 
burguês com suas diferenças, que afirmavam sua cultura e seus 
valores. Nas escolas, ensinava-se a norma da cultura letrada 
portuguesa, mas o idioma francês logo foi ganhando espaço nas 
escolas dos mais abastados e era uma finesse aprendê-lo. 
Ao contrário do que muitos puristas como Frei Francisco de São 
Luís (1766-1845) e Almeida Garret (1799-1854), para citar alguns 
nomes, pensavam naquela época com a chegada dos francesismos, a 
 
7 Nossa tradução do original: The teachers were often from the Old World (probably 
French, or French influenced); the texts were often French or translations from the 
French; and the acknowledged presumption was that the acquisition of European 
culture was intended (NEEDEL, 1987, p. 53). 
 
- 53 - 
língua portuguesa, ao receber os galicismos, não perdeu sua 
autenticidade e identidade. Com novas lexias, a língua só se 
enriqueceu porque houve um aumento em seu acervo lexical. Cabe 
tratar aqui do conceito de lexia que, segundo Biderman (2001, p. 212), 
são aquelas palavras que não foram dicionarizadas, que fazem parte, 
ainda, da parole, “[...] o dicionário como depositário físico do tesouro 
léxico abstrato da língua atua como arquivo fixador das lexias orais que 
poderiam morrer facilmente, se não fosse esse arquivo que as recolhe 
e preserva [...]”. É certo que o uso e a adoção das unidades lexicais 
estrangeiras mudaram ao longo dos anos: inicialmente, logo se 
aportuguesavam as unidades lexicais estrangeiras, hoje, há 
preferência por manter a sua grafia e incluí-las dessa maneira nos 
dicionários. 
Na pesquisa sobre os galicismos na Língua Portuguesa do Brasil, 
que fundamenta este capítulo, tomamos por base dois dicionários 
como objetos de estudo, uma edição eletrônica da obra brasileira 
Houaiss (2009) e a edição eletrônica do dicionário monolíngue francês-
francês, Le Grand Robert de la Langue Française (2001). Inicialmente, 
fizemos uma coleta inicial de mais de dois mil itens lexicais 
dicionarizados, que seriam originários da França. Após outro 
refinamento, chegamos ao resultado de 1.005 galicismos, sendo 765 
empréstimos e 240 estrangeirismos. Esses não nos deixam dúvidas 
quanto à sua “esquisitice” em relação à língua portuguesa, fazendo-se 
 
- 54 - 
assim, de fácil reconhecimento, já que sua grafia se aplica bem 
diferente da adotada pelo nosso sistema gráfico. 
Por um lado, de acordo com Carvalho (1989, p. 44), “[...] um 
termo estrangeiro perde essa condição quando não é mais percebido 
como tal. Se ele permanece escrito na sua forma de origem, será 
sempre sentido como elemento estrangeiro ao sistema linguístico 
[...]”. Por outro lado, consideraremos como empréstimos as palavras-
entrada que sofreram algum tipo de modificação ao serem adotadas 
pela língua portuguesa e foram, dessa maneira, dicionarizadas. 
Para Nelly Carvalho (1989), os estrangeirismos fazem parte da 
parole e os empréstimos da langue, ou seja, para essa autora, todas as 
unidades lexicais depositadas em nossos dicionários são consideradas 
empréstimos e os estrangeirismos são aqueles ainda não relacionados 
nas obras lexicográficas. Mas não é o que nos mostra, porém, o 
dicionário Houaiss (2009)em seu repertório. Os estrangeirismos estão 
muito bem representados nessa obra lexicográfica, isto é, já não fazem 
parte apenas da fala, diante da abordagem teórica de Carvalho (1989), 
eles também fazem parte da escrita, da língua, pois estão 
dicionarizados. 
Em se tratando de uma abordagem lexicográfica, os dados 
encontrados em Houaiss (2009) nos direcionaram para um cotejo, 
imprescindível neste estudo, com o dicionário monolíngue Le Grand 
Robert de la Langue Française (2001), obra que nos permitiu traçar um 
perfil de como os galicismos registrados no Houaiss se comportam, e 
 
- 55 - 
de como representam a inter-relação entre a língua e a cultura de 
origem dessas unidades lexicais importadas, no caso, a francesa, com 
a língua e a cultura tida como importadora, a brasileira. 
Para dar cabo ao nosso intento, o de inventariar no Houaiss 
todos os galicismos e estabelecer neles a relação entre língua e 
cultura, utilizamos alguns procedimentos, como a relação de todos os 
galicismos no Houaiss (2009), que corresponde à versão integral 
impressa, de acordo com dados do expediente da referida obra 
lexicográfica. Todas as unidades lexicais foram organizadas em 
empréstimos e estrangeirismos; depois, recorremos ao Le Grand 
Robert de la Langue Française (2001) para verificar se o item lexical 
registrado como galicismo no Houaiss tem registro no dicionário 
francês; quando confirmamos o registro, comparamos a definição, 
observando ampliação ou redução ou total disparidade de significados 
entre as duas obras; o próximo caminho foi agrupar essas unidades 
lexicais por rubricas temáticas dos galicismos confirmados em ambas 
as obras; por fim, de posse dos campos mais recorrentes, 
estabelecemos a relação entre a língua, em especial os galicismos no 
português do Brasil, e os matizes que a cultura francesa adquiriu nas 
terras brasileiras. Produzimos uma leitura que desse conta da inter-
relação entre o que os verbetes registram no Houaiss (2009) e o que o 
Le Grand Robert (2001) registra para o mesmo verbete, na língua de 
origem. 
 
 
- 56 - 
Aquisição e influência dos itens lexicais franceses no Português do 
Brasil 
O léxico pode ser entendido como o conjunto de unidades 
lexicais que fazem parte de um determinado sistema linguístico e suas 
relações. Além disso, consideramos que, em nosso cérebro, existe uma 
parcela do outro léxico que não é, exatamente, aquele que utilizamos 
todos os dias. Em determinado contexto de interação comunicativa, 
também somos expostos a outras unidades lexicais que nos permitem 
entender o discurso do outro, naquele instante. Segundo Biderman 
(1987), esse léxico é o passivo e permanece em nosso cérebro por um 
tempo indeterminado e, quando necessário, o utilizamos para a 
construção de certos enunciados, quando se torna ativo. Ainda de 
acordo com a Biderman (1987, p. 83): 
 
[...] o cérebro organiza uma estruturação dos itens 
lexicais de grande funcionalidade para que, em 
milésimos de segundo, possa recuperar não só o 
significado de uma palavra, mas também todas as 
suas características gramaticais e os usos que lhe 
são adequados conforme o contexto do discurso, o 
tipo de discurso, a situação momentânea e o 
registro linguístico requerido pela situação, pelo 
interlocutor e pelo assunto. 
 
A competência lexical do indivíduo se dá a partir dos léxicos 
ativo e passivo, ambos possibilitam a interação entre os falantes de 
uma mesma comunidade, sendo que o primeiro compreende os itens 
lexicais mais utilizados diariamente e o segundo, mesmo que não o 
 
- 57 - 
utilizemos cotidianamente, representa as unidades lexicais 
armazenadas em nosso cérebro e nos permite entender um 
vocabulário diferente quando o ouvimos. 
Portanto, entendemos que qualquer sistema léxico representa 
a junção das experiências acumuladas e vividas por uma sociedade e 
do acervo de sua cultura (BIDERMAN, 2001). Os participantes dessa 
sociedade são os sujeitos-agentes no processo de manutenção e 
recriação constante do léxico de sua língua e, nesse processo em 
frequente expansão e dinamicidade, o léxico aumenta, se altera e, às 
vezes, se contrai, reformulando-se (BIDERMAN, 2001, p. 179). As 
transformações sociais e culturais têm importância fundamental nesse 
processo, embora, não sejam percebidas pelos falantes de uma 
determinada língua, pois ocorrem de forma inconsciente e lenta. 
Assim, é o galicismo resultado do processo de constante expansão e 
mudança do léxico de qualquer língua. 
Os galicismos são apenas um dos muitos exemplos como uma 
alusão à chegada dos itens lexicais franceses trazidos pela elite carioca, 
que foi buscar na Belle Époque de Paris, na França, em fins do século 
XIX e início do XX, modos de viver franceses, de forma a ajudar essa 
elite a encontrar uma identidade de nobreza, status e elevado nível 
cultural, importante para os abastados naquele momento, visto que 
entendiam que lhes teriam restado sobras de outrora na cultura local. 
Ressalto aqui que essa não é a opinião da autora, visto que uma cultura 
não deve ser colocada em detrimento à outra, pelo contrário, devem 
 
- 58 - 
ser respeitadas em suas diferenças e idiossincrasias. Assim, não é de 
se estranhar o grande número de estrangeirismos franceses na língua 
que se fala e se escreve no Brasil. 
A criatividade lexical que esse momento instaurou no 
Português usado no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, 
demonstra que o sistema linguístico não passa incólume às evoluções 
e transformações da dinâmica social. A riqueza e a vitalidade do léxico 
se mostraram nos estrangeirismos, na tentativa de nomear os vários 
segmentos ou práticas culturais influenciadas pela Belle Époque 
tropical ou carioca, tais como a culinária, os transportes, o local de 
trabalho, a habitação, os hábitos e os costumes da época. 
 
Percurso etimológico e os campos lexicais 
Um dos pontos principais neste trabalho, ao analisar os 
verbetes é, justamente, ater-nos à etimologia indicada, porque vamos 
relacionar a Língua Portuguesa no Brasil e seus galicismos às suas 
possíveis influências provenientes da cultura francesa. Para entender 
as relações de interação da língua e da cultura do Brasil com as de 
tantos países, atentarmos para o étimo dessas palavras é essencial. Os 
pontos principais analisados em cada vocábulo nesse trabalho são: 
• etimologia; 
• acepção. 
Quanto à etimologia, trabalharemos com o que Houaiss (2009) 
traz em cada verbete, se o étimo é apontado como francês ou não e 
 
- 59 - 
se, na maioria das vezes, apresenta a redução “id”, considerando que 
a palavra foi trazida ao português do Brasil de forma idêntica, e que 
reconheceremos como estrangeirismo. 
Esse percurso, no entanto, não nos isenta de dúvidas porque, 
em muitas ocorrências, não há datações específicas sobre a vinda de 
tais palavras e quais seriam, realmente, as suas origens. No nosso 
estudo, em particular, interessa informar se são palavras originárias da 
França ou não. Vejamos a seguir um exemplo de como Houaiss registra 
o percurso histórico-etimológico de um item lexical: 
 
cabriola s.f. (1668) 1 salto de cabra 2 salto ou 
saltito ágil, leve, desembaraçado, esp. quando 
dado por brincadeira ou como manifestação de 
contentamento, alegria etc. 3 salto ágil ou 
acrobático em que o corpo se dobra ou vira no ar 
3.1 m.q. cambalhota 4 DNÇ salto em que o 
dançarino, com o corpo em posição oblíqua em 
relação ao solo, bate com os pés ou calcanhares um 
de encontro ao outro quando está no ar 5 
movimento em que o animal (esp. cavalo) salta 
com as quatro patas no ar e o corpo em posição 
horizontal, desferindo um coice violento 6 fig. 
mudança, súbita e perceptível ou significativa, de 
opinião ou atitude, esp. em política 7 p. ext. 
mudança repentina de uma situação; reviravolta, 
esp. no terreno político 7.1 golpe de Estado, 
revolução 8 fig. m.q. cabra (‘mulher lasciva’) ETIM 
fr. cabriole ‘salto

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