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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO Coordenação Pedagógica – IBRA DISCIPLINA HEMOTERAPIA E BANCO DE SANGUE Sumário 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 1 2. HISTÓRICO ................................................................................................................................2 2.1 A HEMOTERAPIA NO BRASIL ......................................................................................................5 2.2. A HISTÓRIA DO VOLUNTARIDO NA DOAÇÃO DE SANGUE NO BRASIL .........................................5 3. PRINCIPIOS DE HEMOTERAPIA ...................................................................................................5 3.1. SELEÇÃO DE DOADORES ............................................................................................................3 3.2. REQUISITOS BÁSICOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE .....................................................................3 3.3. COLHEITA ..................................................................................................................................3 3.4. TIPAGEM ..................................................................................................................................3 3.5. FRACIONAMENTO E ARMAZEM DE HEMODERIVADOS ...............................................................3 3.5.1 PROCESSO FABRIL DOS HEMODERIVADOS ...............................................................................3 3.5.2. PRODUÇÃO DE HEMODERIVADOS ..........................................................................................3 4. INTRODUÇÃO A COAGULAÇÃO .....................................................................................................3 4.1 COAGULOPATIA HERDITÁRIAS ....................................................................................................3 4.2. COAGULOPATIAS ADQUIRIDAS ..................................................................................................3 5. DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS TRANSMISSIVEIS POR SANGUE .................................................3 6. REAÇÕES ADVERSAS NÃO INFECCIOSAS E TRANSFUSÃO ...............................................................3 7. REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................3 1. INTRODUÇÃO A doação de sangue é, ainda hoje, considerada uma questão de interesse mundial, uma vez que não há uma substância que possa, em sua totalidade, substituir o tecido sanguíneo tão necessário à vida. Os hemocentros têm enfrentado dificuldades em manter os estoques de sangue regulares para atender às demandas específicas e emergenciais, colocando em risco a saúde e a vida da população (RODRIGUES; REIBNITZ, 2011). Em 1979, a situação das doações de sangue em alguns serviços do Brasil, muitas vezes realizadas por presidiários em troca de cigarros, ou por mendigos em busca de remuneração, culminou com a extinção da doação remunerada de sangue. O Brasil que, naquela época, tinha 80% da doação remunerada, passou a ter exclusivamente doadores voluntários. A proibição da remuneração de doadores de sangue foi estabelecida pela Constituição Federal (CF) de 1988, regulamentada pela lei nº 10.205 de 21 de março de 2001 e mantida até os dias atuais (JUNQUEIRA; ROSENBLIT; HAMERSCHLAK, 2005). Com as mudanças ocorridas no relacionamento entre doadores e bancos de sangue ao longo do tempo, o caráter altruísta do ato de doar passou a ser foco de atenção mundial, assim como a motivação dos doadores. Em campanha lançada em junho de 2011, o Ministério da Saúde (MS) teve como meta aumentar o percentual da população doadora de sangue, que hoje representa 1,9%, para 2,1%. Segundo os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), para manter os estoques regulares é preciso que 1,5% a 3% da população doe sangue regularmente. Dentre os fatores que fazem os hemocentros precisarem cada vez mais do insumo, houve aumento de 65,3% no número de transplantes que necessitam de transfusão no país entre 2003 e 2010 (BRASIL, 2011a). O aumento da complexidade da medicina aumentou a demanda pelo uso do sangue e seus componentes. Cerca de 3 (três) milhões de unidades são coletadas anualmente no Brasil, com consequente consumo de componentes, sendo que frequentemente há problemas de desabastecimento. O país ainda tem uma demanda reprimida de procedimentos de alta complexidade que, se corrigida, levaria a um consumo ainda mais elevado de bolsas de sangue. No momento, no entanto, os esforços devem ser concentrados na criação de grupos de doadores de sangue fidelizados (CLIQUET, 2007). O contexto dos bancos de sangue é complexo, e as identidades que ali estão incluem saberes, crenças, costumes e valores que levam o candidato à doação a se mobilizar pela solidariedade e a criar uma identidade coletiva na busca da valorização pela vida (BENETTI; LENARDT, 2006). A busca constante de alternativas para solucionar problemas que se instalam nos bancos de sangue é uma preocupação principalmente das gerências. Contudo, o que se percebe, geralmente, são intervenções pontuais para ultrapassar dificuldades que vão surgindo com a demanda, mas que muitas vezes são recorrentes, porque foram pensadas de forma isolada (RODRIGUES; LINO; REYBNITZ, 2011). Os atributos dos serviços devem ser considerados para a escolha que a pessoa faz pela doação de sangue. A identificação e avaliação desses atributos orientarão, por consequência, a instituição ao buscar doadores (LUDWIG; RODRIGUES, 2005). As informações sobre suas opiniões e sentimentos são de grande valor para a organização e administração dos serviços, pois permitem conhecer os atributos por eles considerados. Estas informações podem servir de base para a elaboração de um projeto que tenha por objetivo educar, mobilizar, captar e fidelizar um público crescente de doadores, levando-os a participar do processo de doação de sangue de forma ativa, consciente e responsável (GIACOMINI; LUNARDI, 2010). Considera-se fundamental a participação da população na doação de sangue para a manutenção dos estoques, buscando evitar que a demanda de solicitação de bolsas de sangue seja maior que a reposição das mesmas (BORGES et al., 2005). Diante da preocupação em captar um número cada vez maior de doadores, estudos têm sido realizados no mundo buscando identificar os principais motivos que levam as pessoas a doar sangue, assim como os atributos relacionados ao processo de doação (MAGHSUDLU; NASIZADEH, 2011; YUAN et al., 2001). A escassez de estudos nessa área de conhecimento, a identificação dos elementos motivacionais que influenciam na decisão dos doadores e as medidas para possibilitar a captação de um número cada vez maior de doadores justificam a 14importância desse estudo realizado no Distrito Federal (DF), que tem como objetivo principal identificar e explicar os principais motivos e atributos relacionados ao processo de doar sangue que influenciam na decisão da doação. 2. HISTÓRICO A história do sangue, utilizado com finalidade terapêutica, é marcada por acontecimentos ocorridos ao longo dos séculos, evoluindo com a hemoterapia como atividade médica fundamentada na pesquisa científica e não, como no passado, em tentativas empíricas. São de 1492 os primeiros fatos registrados dos quais se tem conhecimento em relação à doação de sangue, quando o Papa Inocêncio VIII, portador de doença renal crônica, recebeu transfusão sanguínea de três jovens, vindo a falecer o receptor e os doadores (SANTOS, 2002). Junqueira (1979) divide a evolução da hemoterapia em 02 períodos: um, empírico (até 1900),e outro científico (de 1900 em diante). No primeiro período, Harvey descreve a circulação, Richard Lower apresenta seus resultados sobre a transfusão de sangue de um animal para outro e o professor Jean Denis relata casos em que o sangue animal foi usado no homem, o que culmina com o primeiro relato de reação hemolítica pós-transfusional. Em 1818, James Blundell relata a transfusão de sangue de um homem para outro e esse processo começa a ser utilizado com algum sucesso, mas com um grande número de insucessos. No segundo período, o sangue passa a ser utilizado com agente terapêutico, passando por etapas importantes de preservação e separação de componentes. Em 1900, Karl Landsteiner e col descobriram o sistema ABO, quando então foi possível diminuir as incompatibilidades verificadas em transfusões, e em 1940 eles descobriram o sistema Rh (CAIRUTAS, 2001). Em 1920 realizavam-se transfusões braço a braço, em que se transfundia sangue diretamente do doador para o receptor. Não havia instituições hemoterápicas e nem técnicas de estocagem de sangue. Os serviços de hemoterapia mantinham um corpo de doadores registrados que eram convocados quando necessário. O primeiro banco de sangue do mundo ocidental foi criado em 1937 nos Estados Unidos. A partir de 1960, a hemoterapia mundial avançou e se sofisticou, com as novas técnicas de conservação e fracionamento do sangue (SANTOS; MORAES; COELHO, 1991). Em 1967, começaram a ser adotadas máquinas fracionadoras de sangue, que permitiam a separação dos componentes do sangue durante a própria doação (aférese). A partir dessa época, desenvolve-se a noção de transfusão seletiva, ou seja, o uso de cada componente para um fim específico, e não mais o sangue total, até então utilizado. Os anos 80 e 90 marcaram o desenvolvimento nos conhecimentos da oncologia, assim como o avanço na tecnologia de cultura de células, dentre outros. A hemoterapia passa a contar com novos componentes importantes para a ampliação do arsenal terapêutico (SANTOS, 2002). Na década de 80, o advento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA) tornou a diminuição dos riscos uma necessidade premente, fortaleceu a segurança transfusional e favoreceu importantes mudanças nas políticas de sangue, principalmente em relação ao controle e segurança das práticas transfusionais (PIMENTEL, 2006). 2.1.A HEMOTERAPIA NO BRASIL Doação de sangue no Brasil começa em 1879, com o primeiro relato acadêmico sobre Hemoterapia no País. A tese de doutorado, apresentada por José Vieira Marcondes, descreve experiências com transfusões de sangue realizadas até a época e discute se a melhor transfusão seria a do animal para o homem ou a entre seres humanos. Primeiras transfusões de sangue no Brasil Não existem relatos precisos de quando a primeira transfusão foi realizada no Brasil. O que se sabe é que os médicos Brandão Filho e Armando Aguinaga foram os pioneiros nesta prática, no Rio de Janeiro, e que umas das primeiras experiências aconteceu por volta de 1900, em Salvador (Bahia) quando o professor de Clínica Médica, Garcez Fróes, usando um aparelho improvisado por ele, transfundiu 129 ml de sangue do doador João Cassiano Saraiva, servente do hospital, em uma paciente operada de pólipo uterino. Outros relatos semelhantes são encontrados na tese de Isaura Leitão, sobre “Transfusão Sanguínea”, defendida em 1916. Também há referências não confirmadas de um procedimento realizado pelo Hematologista Estácio Gonzaga e o cirurgião Fernando Freira de Carvalho Luz, no Hospital Português em Alto do Bonfim, Bahia. Do período Pós –Guerra até os dias de hoje No Brasil, após o término da Segunda Guerra Mundial, com os progressos científicos e o crescimento da demanda por transfusões de sangue, surgiram os primeiros bancos de sangue privados: serviços especializados, de organizações simples, constando de um médico transfusionista e de um corpo de doadores universais (indivíduos do grupo sanguíneo O), que eram selecionados e examinados, para comprovação de suas boas condições de saúde. Na década de 40, a Hemoterapia brasileira começou a se caracterizar como uma especialidade médica, e diversos bancos de sangue foram inaugurados, proporcionando oportunidades de comércio e lucratividade para muitos. A doação de sangue foi remunerada por muitos anos no Brasil. Um artigo dos anos 40, afirma que os doadores de sangue altamente selecionados eram remunerados a 500 réis por centímetro cúbico de sangue doado ou, no caso de doadores imunizados, a 750 réis/mm3. Que não admitiam doadores benévolos, nem de emergência. E que se o paciente não tivesse recursos para pagar os serviços e exames relativos às transfusões, estaria isento de qualquer débito; o pagamento ao doador deveria ser garantido pelo serviço de transfusão. Nos anos 50, o fato mais importante foi a fundação da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (SBHH) e a promulgação da lei nº 1075, de 27 de março de 1950, que dispõe sobre a Doação Voluntária de Sangue. O sistema transfusional brasileiro continuou funcionando totalmente livre de controle governamental, na década de 60. E o Governo brasileiro se viu às voltas com graves problemas devido ao sistema de coleta baseado na remuneração em espécie do doador de sangue e a falta de controle por parte dos serviços de hemoterapia. Apesar da constatação de que o sangue era veículo de transmissão de doenças infecciosas, principalmente a hepatite B, a Sífilis e a doença de Chagas, os exames sorológicos considerados obrigatórios não eram realizados na maioria dos bancos de sangue do país. O quadro no Brasil era negro: doadores profissionais “viciados” em doar sangue, sem observar os preceitos de higiene e os intervalos recomendados entre as doações; sangue coletado e transfundido sem critérios técnicos e higiênicos; nas regiões endérmicas de doença de Chagas, a transfusão de sangue representava um dos mecanismos mais frequentes de transmissão. Diante da situação, em 1964, o Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho para o estudo e a regulação disciplinadora da Hemoterapia no Brasil, que resultou na formação da Comissão Nacional de Hemoterapia, em 1965. A Comissão Nacional de Hemoterapia e o Ministério da Saúde estabeleceram, através de decretos, portarias e resoluções, o primado da doação voluntária de sangue e a necessidade de medidas de proteção a doadores e receptores; e disciplinou o fornecimento de matéria-prima para a indústria de fracionamento plasmático e a importação e exportação de sangue e hemoderivados. Entre as suas atividades destacam-se a implantação do registro oficial dos bancos de sangue públicos e privados, a publicação de normas básicas para atendimento a doadores e para prestação de serviço transfusional e a determinação da obrigatoriedade dos testes sorológicos necessários para segurança transfusional. A Hemoterapia no Brasil tinha legislação e normatização adequadas, porém ainda carecia de uma rígida fiscalização das atividades hemoterápicas e de uma política de sangue consistente. Até a Última Gota Em 1980 foi lançado o filme/documentário “Até a última gota” dirigido por Sérgio Rezende, sobre o comércio de sangue nos países do terceiro mundo. Inspirado na morte do operário Jucenil Navarro de Souza; que desempregado vendia sangue para comprar comida para a família e que morreu na porta de um supermercado logo após ter vendido sangue a uma casa de saúde em Caxias, no Rio de Janeiro. O filme conta com o depoimento da esposa de Jucenil, além de vendedores, compradores e autoridades e pessoas que lutam contra esta prática e recebeu diversos prêmios como o Prêmio de qualidade do Conecine, entre os 12 melhores filmes de 1980; e o prêmio especial do Júri no Festival de Gramado. A doação remunerada foi também temade versos de Chico Buarque de Holanda – que ao contar as aventuras de um típico malandro carioca, em “Vai Trabalhar, Vagabundo”, canta: "Passa o domingo no mangue, segunda-feira vazia, ganha no banco de sangue pra mais um dia". Assim, em meados da década de 70 e início da de 80, o Governo Federal começou a implantar o Programa Nacional do Sangue e Hemoderivados (Pró- Sangue), estimulando a criação de hemocentros estaduais. Em novembro de 1977 foi inaugurado o Centro de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE), primeiro hemocentro do Brasil, construído com recursos dos Governos Estadual e Federal, e do Governo Francês. A este se seguiram outros nas principais cidades do País, tendo como diretrizes a doação voluntária não remunerada de sangue e medidas para segurança de doadores e receptores. Na mesma época a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, iniciou uma cruzada por todo o País, que culminou em junho de 1980 com a extinção da doação remunerada de sangue no Brasil. Naquela ocasião, a estratégia para a obtenção do doador altruísta, a exemplo de países desenvolvidos, era conseguir o chamado doador de reposição (familiares e amigos dos pacientes) que eram sensibilizados e conscientizados para o ato de doar. Aquilo que parecia impossível aconteceu sem qualquer desabastecimento, que era o principal temor dos organizadores da campanha. O Brasil, que naquela época tinha 80% de doação remunerada, passou a ter exclusivamente doadores voluntários. A década de 90 trouxe o fortalecimento da rede brasileira de hemocentros passando o governo a concentrar-se, a partir de 2000, na criação e implantação de um Sistema Brasileiro de Hemovigilância. Iniciado na área de Sangue, outros Tecidos, Células da Anvisa – Agência de Vigilância Sanitária, com a proposta de alcançar todos os serviços de hemoterapia e de saúde que realizam transfusão e procedimentos integrantes do processo do ciclo de sangue no País. Em 2002, a regulamentação do artigo 199 da constituição de 1988, que dispunha sobre a participação da iniciativa privada no sistema de saúde e comercialização de sangue, entre outros, foi finalmente aprovada, ficando proibida a doação remunerada de sangue. Segundo dados da Anvisa, o Brasil possui hoje cerca de 1,8% de doadores de sangue, sendo 50% destes doadores altruístas (doam sem saber para quem) e 50% de reposição. 2.2. A história do Voluntariado na Doação de Sangue no Brasil Os primeiros registros de atividades voluntárias na promoção da doação de sangue pertencem à Cruz Vermelha, organização a que Leonora Carlota Osório, se filiou inicialmente, assumindo como bandeira o combate ao comércio de sangue e o incentivo à doação voluntária e altruísta de sangue, após chegar ao Brasil em 1939. Na década de 50, foi fundada a Associação de Doadores Voluntários do Brasil, cuja primeira presidente foi Nair Aranha. No início dos anos 60, Carlota Osório, fundou a Associação Brasileira de Doadores Voluntários de Sangue (ABDVS), para combater o comércio de sangue e divulgar a doação voluntária. Em 1964, o então presidente Castello Branco, proclamou em homenagem a organização e seu trabalho, o dia 25 de Novembro (data da fundação da ABDVS) como o “Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue”. "Procure um banco de sangue público: nós doamos o sangue que você doou". Foi o slogan criado por Carlota Osório para combater a doação remunerada do sangue, que comparava os serviços públicos com os privados existentes na época. Atualmente, tanto bancos públicos como privados trabalham com a doação voluntária e fornecem gratuitamente o sangue para seus pacientes. Por seu importante trabalho, Carlota Osório, foi condecorada em 30 países e, no 11o. Congresso da FIODS (Federação Internacional das Organizações de Doadores Voluntários de Sangue) que aconteceu no Rio de Janeiro, recebeu o título de presidente de honra, atuando de 1984 a 1987. Em 1997, Márcia Tedesco Dal Secco e Maria Ivone Carraro de Mendonça convocaram antigas voluntárias da ABDVS e participantes do Clube de Serviço da Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo para criarem a Associação Brasileira de Voluntários de Sangue (ABVS) que após dois anos de atividades na Fundação Pró-sangue tornou-se uma Associação independente, ligada a FIODS, e com o objetivo de promover a doação de sangue em todo o país. Em 2000, a ABVS organizou a Assembleia Geral da FIODS em São Paulo reunindo representantes de organizações de doadores de diversos países e aproveitou o momento para homenagear a Leonora Carlota Osório, acrescentando seu nome ao da associação. Passados 07 anos e com o surgimento de outras associações de voluntários do sangue no Brasil, assim como de Clube de Doadores. A Voluntários do Sangue decidiu reestruturar sua atuação de forma estabelecer uma rede para a causa da doação de sangue, conforme solicitado pela própria FIODS. Buscando unir doadores, voluntários e organizações na criação de uma Federação Brasileira, sendo o primeiro passo dado nessa direção a organização do 2o. Encontro Latino Americano de Organizações de doadores de Sangue da FIODS, em Fevereiro de 2007. Entretanto, devido à falta de estrutura e apoio o projeto “Corrente Sanguínea” que previa a criação de Clubes de Doadores e Voluntários do Sangue em parceria com Hemocentros e Bancos de Sangue, em todo o Brasil; a realização de eventos para o fortalecimento da causa e a comemoração do “Dia Mundial do Doador de Sangue” (14 de junho); não chegou a sair do papel. E em 2009, a ABVS encerrou juridicamente suas atividades. No entanto, aqueles apaixonados pela causa da doação de sangue nunca deixaram de acreditar que um dia a segurança transfusional por meio de doações voluntárias será realidade no Brasil. Este livro é a prova disto. Estrutura e participação voluntária Hoje a estrutura da coleta de sangue no Brasil é composta por uma rede de hemocentros públicos responsáveis pelo abastecimento de sangue nos hospitais públicos e alguns particulares e de diversos Bancos de Sangue privados ligados a hospitais particulares, responsáveis por abastecê-los. Essa rede se reporta a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que é o órgão do Governo, responsável por estabelecer os padrões nacionais para a doação de sangue, assim como fiscalizar o cumprimento das mesmas. A coleta e a análise do sangue são de responsabilidade dos hemocentros e dos bancos de sangue. E são normalmente realizadas dentro das dependências dos mesmos, embora a coleta possa acontecer em locais diversos como escolas, empresas, igrejas, etc. A esse tipo de coleta dá-se o nome de “coleta externa”. De forma a cuidar dos interesses dos doadores e promover a doação de sangue voluntária existem diversas organizações de voluntários e clubes de doadores que atuam localmente. Muitos hemocentros e bancos de sangue possuem também uma área própria de captação para cumprir com estes fins. A FIODS – Federação Internacional das Organizações de Doadores de Sangue, tem como principal objetivo promover em todos os países do mundo a doação voluntária, anônima e regular de sangue. No Brasil, a hemoterapia começou a ser utilizada no início da década de 40, com a criação do primeiro Banco de Sangue em Porto Alegre, seguido de Pernambuco e Rio de Janeiro. Dispersos entre si, esses primeiros serviços praticavam uma hemoterapia rudimentar. Em 1950, profissionais da área se mobilizaram criando organizações com o propósito de contribuir para o desenvolvimento da hematologia e da hemoterapia brasileira, mas, mesmo assim, a baixa qualidade dos procedimentos laboratoriais e transfusionais, a deficiência da tecnologia e de pessoal tecnicamente qualificado em todos os níveis era indiscutível. As doações eram remuneradas, com predominância dedoadores de baixa renda; também não havia uniformização nos procedimentos e a produção era insignificante, não atendendo a demanda. À época não havia política governamental, diretrizes e recursos orçamentários (CAIRUTAS, 2001). Em 1949, a recém-organizada Associação de Doadores Voluntários de Sangue do Rio de Janeiro (tornando-se posteriormente nacional) se contrapunha à remuneração de doadores, prática que já era utilizada pelos recém-criados serviços de hemoterapia. Desde que o uso do sangue e seus derivados se difundiu como recurso terapêutico, o sangue humano passou a ter um valor de mercado, contrapondo à idéia do sangue doado, expressão de altruísmo, à do sangue coletado, fonte de lucro. Na época http://2.bp.blogspot.com/-ggqz_wNsr8U/T9Ps1u4uogI/AAAAAAAAFqM/KVpdB1AtwE4/s1600/Fiods_logo_eng.jpg não parecia haver uma consciência da necessidade de uma política estatal para o setor hemoterápico (SANTOS; MORAES; COELHO, 1991). Em 1964 ocorreu um fato que marcou o setor hemoterápico brasileiro: o reconhecimento, por parte do governo, da necessidade de uma política que coordenasse as atividades hemoterápicas. Esta política aconteceu primeiramente através de uma legislação disciplinadora e, em 1980, deu origem a um programa de intervenção direta: o Pró-sangue (Programa Nacional de Sangue e Hemoderivados). Até então, a “doação remunerada” sempre foi combatida, mas nunca proibida legalmente. A doação voluntária, altruísta, embora destacada em princípio nas leis e nos planos, nunca teve o incentivo de uma campanha contínua e geral. Entre os dois extremos, a expansão do sistema como um todo se baseou na doação “de reposição”, em que familiares e amigos dos pacientes são convocados a doar para esses que precisam de sangue (SANTOS; MORAES; COELHO, 1991). O Pró-sangue estabelecia uma organização do sistema hemoterápico do Brasil, criando hemocentros, tendo como direcionamento a doação voluntária não remunerada e medidas para segurança de doadores e receptores. Transformou-se, posteriormente, em Coordenação de Sangue e Hemoderivados, passou do Ministério da Saúde para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e atualmente voltou a ser um programa ministerial. As principais mudanças no sistema hemoterápico brasileiro ocorreram pelo advento da AIDS e por razões econômicas. O surgimento da AIDS introduziu novos procedimentos, tais como: a substituição da doação anônima pela personalizada, o incremento dos métodos de autotransfusão e a disciplina do uso do sangue, de seus componentes e seus derivados através da avaliação de riscos/custos/benefícios. A proibição da remuneração de doadores de sangue foi estabelecida pela Constituição Federal de 1988, regulamentada pela lei nº 10.205 de 21 de março de 2001 e mantida até os dias atuais (JUNQUEIRA; ROSENBLIT; HAMERSCHLAK, 2005). 3- PRINCIPIOS DE HEMOTERAPIA A transfusão sanguínea constitui uma terapia essencial para preservar e salvar vidas. Não existem substitutos sintéticos que desempenhem todas as funções do sangue. Várias pesquisas são desenvolvidas na busca de opções para o sangue, contudo problemas relacionados à toxicidade, dificuldade de produção em larga escala e a falta de estudos clínicos em humanos, entre outros, limitam a utilização dessas alternativas na atualidade. De acordo com os dados do Ministério da Saúde (2008) são realizadas em torno de 3,1 milhões de coletas de sangue por ano no Brasil com perspectiva de crescimento na medida em que aumenta a população idosa, avança o acesso aos serviços e a complexidade da assistência à saúde, demandada em grande parte por procedimentos do tipo hemodiálise, transplantes, cirurgias de grande porte, tratamento de neoplasias e hemoglobinopatias (Cliquet,2007). O sangue e componentes enquanto terapia para manutenção e recuperação da saúde encerra enorme complexidade biológica, tanto pelas características genéticas, próprias de cada indivíduo, afetadas pelos seus modos e condições de vida, quanto pelos riscos inerentes à natureza do próprio produto, capaz de carrear agentes com potencial de transmissão de doenças ou infecções (riscointrínseco).Entretanto,osanguequandocriteriosamentecoletadoeproduzido, e a transfusão desde que bem avaliada e indicada possibilitam tratar os problemas de saúde com um mínimo de eventos adversos. A transfusão é um evento complexo e irreversível que propicia benefícios, mas também acarreta riscos potenciais. Na prática transfusional muitos fatores podem interferir no resultado esperado de uma transfusão implicando em uma relação benefício/custo desfavorável, onde o termo custo leva em consideração inclusive o óbito do receptor. Na categoria de complicações não infecciosas, por exemplo, a American Association of Blood Bank (2005) descreve dezenove reações adversas transfusionais, enquanto no Brasil são descritos dezessete (Anvisa, 2007). Para as reações tardias infecciosas destaca, por sua frequência e gravidade, Hepatites (B e C), HIV, HTLV, sífilis, malária e chagas (Anvisa, 2004). Atualmente, diversas estratégias como a implementação de testes laboratoriais cada vez mais sensíveis, inclusive a utilização de testes de biologia molecular, aliadas ao maior rigor na captação e seleção de doadores impactaram na redução da janela imunológica diminuindo consideravelmente o risco de adquirir doenças/infecções virais transmissíveis por transfusão de sangue (Schreiber, 1996). Segundo a OMS, considerando o risco de infecções transmissíveis por transfusão (TTI), o perfil ideal do doador de sangue é o voluntário (espontâneo), altruísta, não remunerado e de repetição. Além destes, a triagem clínico-epidemiológica de doador, triagem laboratorial de todas as bolsas de sangue, a garantia da qualidade dos processos são as bases para a redução do risco de TTI. Em nosso país, com relação à segurança transfusional, a inaptidão sorológica, em 1997, era de 16,51% sendo que em 2000 encontra-se em torno de 8,3%, (CPNSH/MS,2008). No Brasil, como políticas públicas de segurança transfusional, dois marcos legais na década de 80 foram de grande relevância. A criação do Programa Nacional de Sangue e Hemoderivados – Pró-Sangue, instituído pela Portaria 07 de 30 de abril de 1980, considerado divisor na área da hemoterapia brasileira, pois até então praticava a comercialização do sangue, remuneração do doador, e ainda havia excessiva quantidade de pequenos serviços, com qualidade duvidosa o que constituía em graves problemas, conforme apontado pelo relatório de Pierre Cazal em 1967, consultor da OMS. O Pró-Sangue tinha como objetivos estratégicos a doação voluntária não remunerada, a universalização do atendimento, a garantia da manutenção da qualidade dos hemocentros e produtos, o incentivo ao desenvolvimento de tecnologia nacional, a normalização da distribuição e a utilização do sangue e hemoderivados e ainda a fiscalização da atividade. O segundo marco legal relevante trata da proibição da comercialização do Sangue, Tecidos e Órgãos inscrita na Constituição Federal de 1988, regulamentada pela Lei 10205/2001, conhecida como a Lei do Betinho, Lei do Sangue ou Lei Sérgio Arouca. Estas conquistas são indiscutivelmente fruto de movimentos sociais, iniciados na década de 1970, pelo Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, e reflexos da profunda crise da área de hemoterapia em nível mundial e nacional, desencadeado pela emergência do HIV/AIDS, na década de 1980. Com o advento do HIV/AIDS, e quando finalmente ficou demonstrado que os retrovírus poderiam ser transmitidos pelo sangue, esforços resultaram na reestruturação da área de hemoterapia mundial, com fortes reflexos no Brasil. Em 1998, no âmbito do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Governo Federal é lançada uma meta para o setor Saúde. Esta se constituiu na denominada Meta Mobilizadora Nacional– PMN, referenciada como "Sangue com Garantia de Qualidade em todo o seu Processo até 2003". Foi desdobrada em doze projetos, e estabeleceu um marco importante na estruturação e organização dos Serviços de Hemoterapia e de Vigilância Sanitária de Sangue e inclusive impulsionou a certificação dos Serviços de Hemoterapia (COSAH/MS, 1998). Ao final dos anos 1990, as ações de Vigilância Sanitária principalmente, no contexto da Reforma do Estado, levaram à criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com a missão de garantir a qualidade e segurança sanitária do de produtos, serviços e ambientes, dentre os quais o sangue seus componentes incluindo a participação na construção do acesso a esses produtos e serviços, o que trouxe perspectivas conjunturais favoráveis para o fortalecimento das práticas de Visa. No campo da Vigilância Sanitária o controle sanitário do sangue como função social do Estado, enquanto poder-dever tem se materializado na intensidade e atualização da produção de regulamentos técnicos, na fundamentação metodológica e sistematização dos resultados da inspeção, no licenciamento, na fiscalização, na instituição de controle laboratorial e na instituição da vigilância do pós-uso para garantir os interesses sanitários da coletividade. A normatização de atividade, de processo e do produto tem como princípio assegurar cumprimentos de padrões técnico-legais essenciais no controle dos riscos visando à segurança e qualidade dos produtos e dos serviços de hemoterapia. Por outro lado, as competências pela formulação da Política Nacional de Sangue e hemoderivados, coordenação, gestão, financiamento e normatização da Hemorrede Nacional dos Serviços de hemoterapia e assistência hemoterapia ficam a cargo da Coordenação Nacional de Sangue e hemoderivados da Secretaria de Atenção à Saúde. 3.1. Seleção de doadores A seleção de doadores consiste em uma entrevista com o candidato à doação. Essa entrevista é realizada no dia da doação, em ambiente que garanta a privacidade e o sigilo das informações prestadas pelo doador. Nesse momento, o (a) triagista avaliará os antecedentes históricos e o estado atual de saúde do candidato à doação, para determinar se a coleta pode ser realizada sem causar-lhe prejuízo, e se a transfusão dos hemocomponentes, preparados a partir desta doação, podem vir a causar problemas aos receptores (BRASIL, 2004). Toda a entrevista e a decisão final do triagista é norteada pelo conhecimento prévio que esta profissional deve ter da Resolução da Diretoria Colegiada nº 153, de junho de 2004 (RDC no 153), que determina a regulamentação técnica para os procedimentos hemoterápicos, incluindo o ciclo do sangue, isto é, desde a triagem clínica, coleta, processamento, fracionamento, triagem sorológica, armazenamento e destino final do sangue e hemocomponentes. Nela constam todos os critérios objetivos para avaliação do doador (BRASIL, 2004). Acredito que não basta a triagista saber toda a normatização, se não tiver sua percepção aguçada em captar também o subjetivo que envolve este momento. Na triagem, é possível propiciar uma relação interpessoal triagista/doador, podendo gerar uma relação de confiança desde que o profissional tenha esta habilidade, ou seja, a preocupação em desenvolvê-la, percebendo o doador de modo integral, como ser humano que é, uma vez que a base do cuidar em enfermagem na hemoterapia assenta se em princípios, habilidades e atitudes pautadas na relação de ajuda e na comunicação. A experiência vivida pelo doador em todo o processo de doação deve ser positiva, pois em todas as etapas há alguma forma de interação social. 3.2. Requisitos básicos para doação de sangue Na triagem de doadores, para a doação de Sangue deve se obedecer as normas nacionais e internacionais. O alto rigor no cumprimento dessas normas visa oferecer segurança e proteção ao receptor e ao doador. Abaixo estão listados os requisitos básicos e alguns dos principais impedimentos temporários e definitivos para doação de sangue. No entanto, esta lista não esgota os motivos de impedimentos para doação, de forma que outras informações prestadas pelo doador durante a triagem clínica serão consideradas para definir se está apto para doar sangue nesse momento Requisitos básicos Estar em boas condições de saúde. Ter entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos (menores de 18 anos, clique para ver documentos necessários e formulário de autorização). Pesar no mínimo 50kg. Estar descansado (ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas). Estar alimentado (evitar alimentação gordurosa nas 4 horas que antecedem a doação). Apresentar documento original com foto recente, que permita a identificação do candidato, emitido por órgão oficial (Carteira de Identidade, Cartão de Identidade de Profissional Liberal, Carteira de Trabalho e Previdência Social). http://weboffice.macronetwork.com.br/uploads/pro_sangue/arquivos/Portaria%20n%C3%82%C2%BA%20158%20de%2004%20de%20fevereiro%20de%202016%20(Novo%20-%20Regulamento%20t%C3%83%C2%A9cnico%20de%20procedimentos%20hemoter%C3%83%C2%A1picos).pdf http://weboffice.macronetwork.com.br/uploads/pro_sangue/arquivos/17_03_30%20-%20Menor%20de%20idade%20-%20documentos%20necess%C3%83%C2%A1rios%20mar17.pdf http://weboffice.macronetwork.com.br/uploads/pro_sangue/arquivos/17_03_29%20-%20Autoriza%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20para%20Doa%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20de%20Sangue%20e%20Hemocomponentes%20por%20Menor%20de%20Idade.pdf http://weboffice.macronetwork.com.br/uploads/pro_sangue/arquivos/17_03_29%20-%20Autoriza%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20para%20Doa%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20de%20Sangue%20e%20Hemocomponentes%20por%20Menor%20de%20Idade.pdf Impedimentos temporários Resfriado: aguardar 7 dias após desaparecimento dos sintomas. Gravidez 90 dias após parto normal e 180 dias após cesariana. Amamentação (se o parto ocorreu há menos de 12 meses). Ingestão de bebida alcoólica nas 12 horas que antecedem a doação. Tatuagem / maquiagem definitiva nos últimos 12 meses. Situações nas quais há maior risco de adquirir doenças sexualmente transmissíveis: aguardar 12 meses. Qualquer procedimento endoscópico (endoscopia digestiva alta, colonoscopia, rinoscopia etc.): aguardar 6 meses. Extração dentária (verificar uso de medicação) ou tratamento de canal (verificar medicação): por 7 dias. Cirurgia odontológica com anestesia geral: por 4 semanas. Acupuntura: se realizada com material descartável: 24 horas; se realizada com laser ou sementes: apto; se realizada com material sem condições de avaliação: aguardar 12 meses. Vacina contra gripe: por 48 horas. Herpes labial ou genital: apto após desaparecimento total das lesões. Herpes Zoster: apto após 6 meses da cura (vírus Varicella Zoster). Brasil: estados como Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins são locais onde há alta prevalência de malária. Quem esteve nesses estados deve aguardar 12 meses para doar, após o retorno. EUA: quem esteve nesse país deve aguardar 30 dias para doar, após o retorno. Europa: quem morou na Europa após 1980, verificar aptidão para doação no HEMOCENTRO MAIS PRÓXIMO Viagens internacionais: quem esteve em países com alta prevalência de malária deve aguardar 12 meses após o retorno, para doar. Febre Amarela: quem esteve em região onde há surto da doença deve aguardar 30 dias para doar, após o retorno; se tomou a vacina, deve aguardar 04 semanas; se contraiu a doença, deve aguardar 6 meses após recuperação completa (clínica e laboratorial). Detalhes dos locais podem ser vistos no Portal da Saúde. Impedimentos definitivos Hepatite após os 11 anos de idade. Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças infecciosas transmissíveispelo sangue: Hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas. Uso de drogas ilícitas injetáveis. Malária. * Hepatite após o 11º aniversário: Recusa Definitiva; Hepatite B ou C após ou antes dos 10 anos: Recusa definitiva; Hepatite por Medicamento: apto após a cura e avaliado clinicamente; Hepatite viral (A): após os 11 anos de idade, se trouxer o exame do diagnóstico da doença, será avaliado pelo médico da triagem. Respeitar os intervalos para doação Homens - 60 dias (máximo de 04 doações nos últimos 12 meses). Mulheres - 90 dias (máximo de 03 doações nos últimos 12 meses). Honestidade também salva vidas. Ao doar sangue, seja sincero na entrevista. 3.3. Colheita Relacionam-se a seguir requisitos adicionais para um sistema de coleta de sangue para a doação: • Equipamento: - Todo o equipamento usado na coleta de sangue para doação deve ser regularmente calibrado, verificado e mantido, conforme seja necessário. Esse equipamento inclui monitores de pressão arterial, balanças, sofás ou cadeiras para os doadores, monitores de coleta do sangue ou misturadores, selantes de tubos de bolsas de sangue, caixas para transporte de sangue e refrigeradores de banco de sangue. - O mobiliário e o equipamento da área da doação e processamento de sangue devem ter superfícies desinfetáveis (por exemplo, vinil em vez de tecido). O vasilhame usado para transportar material e espécimes também deve ser passível de limpeza por desinfetantes tais como soluções de alvejante de hipoclorito de sódio. Os invólucros de tecido ou têxteis devem ser laváveis a máquina. - Deve ser usado um sistema fechado de coleta com uma bolsa estéril para colheita de sangue contendo anticoagulante e com tubo e agulha integrada. Algumas bolsas incluem compartimentos para segregar os primeiros 20 ml de sangue coletado, a fim de minimizar a contaminação por flora cutânea e caroço cutâneo[50]. Se for colhido sangue para teste de hemoglobina por punção capilar, deve-se usar uma lanceta estéril de uso único, que é imediatamente posta num receptáculo de segurança. • Local: - Os locais devem ter tamanho suficiente para operações eficientes, com áreas separadas para processos limpos e sujos, água corrente limpa e superfícies que podem ser limpas com desinfetantes. - O chão não deve ser atapetado. - As salas de espera devem estar fora da área de coleta, para minimizar o risco de agentes patogênicos respiratórios para os trabalhadores. - Todos os sítios fixos e móveis para doação de sangue devem ser seguros, limpos, higiênicos e organizados, bem como preencher padrões definidos de segurança ambiental. - Os locais de doação devem ser organizados de uma forma capaz de garantir a segurança dos doadores de sangue, do pessoal e das unidades de sangue doadas, e de prevenir erros no processo de doação. Antes de uma doação de sangue A OMS elaborou um conjunto de requisitos básicos para os serviços de transfusão de sangue, cobrindo os passos a serem dados antes da doação. A doação de sangue deve ser voluntária; não deve envolver coação, coerção ou remuneração. Além disso, os possíveis doadores de sangue devem ser selecionados cuidadosamente, de acordo com os critérios nacionais para esse fim. Antes de uma pessoa doar sangue • possível doador deve receber informação, aconselhamento e orientação sobre o processo da doação de sangue; • deve ser levantada uma história pertinente do doador, compreendendo saúde e comportamento de alto risco e incluindo: - histórico de mastectomia (o sangue deve ser tirado do braço do lado oposto ao da cirurgia) - medicação atual e recente ou infecções crônicas; - antecedentes de hemorragia prolongada ou diagnóstico de transtornos hemorrágicos no passado; - um histórico de doações anteriores, para assegurar que o período de espera seja respeitado; • deve ser feito um check-up físico preliminar do doador, incluindo peso, pressão arterial e sinais de infecção ou cicatrização em possíveis locais; • devem ser oferecidos os líquidos ao doador, para ajudar a reduzir o risco de desmaio após a doação de sangue; • a pessoa deve dar consentimento escrito informado, de acordo com as exigências nacionais. Orientação prática sobre venopuntura para doação de sangue Colheita de sangue Para colheita do sangue para doação, na medida em que seja relevante, e siga os seis passos adiante indicados. Passo 1 – Identificar o doador e etiquetar a bolsa de coleta do sangue e os tubos de ensaio • Peça ao doador que declare seu nome completo. • Certifique-se de que: - a bolsa para colheita do sangue é do tipo correto; - as etiquetas da bolsa de coleta do sangue e todas as bolsas, tubos de amostras e registros de doadores a ela correspondentes têm o nome e o número correto do paciente; e • as informações da etiqueta se conferem com as do doador. Passo 2 – Escolher a veia • lesões cutâneas ou cicatrizes. • Aplique um torniquete ou manguito de pressão arterial inflado a 40– 60 mm de Hg, para tornar a veia mais proeminente. • Peça ao doador que abra e feche a mão algumas vezes. • Uma vez selecionada a veia, solte o dispositivo de pressão ou torniquete, antes de preparar o local da pele. • Selecione uma veia grande e firme, de preferência na fossa ante cubital, em uma área sem Passo 3 – Desinfetar a epiderme • Se a área selecionada para a venopuntura estiver visivelmente sujo, lave-a com sabão e água e enxugue com toalhas de uso único. • Procedimento de um passo (recomendado – leva cerca de um minuto): - use um produto combinando gliconato de clorexidina a 2% e álcool isopropílico de 70%; - cubra toda a região e assegure que a área da epiderme esteja em contato com o desinfetante por pelo menos 30 segundos; e - deixe a área secar completamente ou por um mínimo de 30 segundos no relógio. • Procedimento em dois passos – Se não houver gliconato de clorexidina disponível em desinfetante de álcool isopropílico de 70%, desinfetar o local usando o seguinte procedimento em dois passos (leva cerca de dois minutos): - passo 1– use álcool isopropílico de 70%; - cubra toda a área e assegurar que a região da epiderme esteja em contato com o desinfetante por pelo menos 30 segundos; - deixe a área secar completamente (cerca de 30 segundos); - passo 2 – use tintura de iodo (mais eficaz que iodopovidona) ou clorexidina (2%); - cubra toda a área e certifique-se de que a região da epiderme estará em contato com o desinfetante por pelo menos 30 segundos; e - deixe a área secar completamente (cerca de 30 segundos). • Seja qual for o procedimento usado, NÃO toque o sítio da venopuntura uma vez que a pele tenha sido desinfetada. Venopuntura para doação de sangue: Diretrizes da OMS para a tiragem de sangue: Boas práticas em flebotomia Passo 4 – Fazer a venopuntura Pratique a venopuntura fazendo a agulha penetrar de uma forma suave e limpa, Leve em consideração os pontos dados abaixo, que são específicos para doação de sangue. • Em geral, use agulha de calibre 16, que é geralmente conectada à bolsa de coleta do sangue; caso seja disponível, prefere-se o uso de agulha retrátil ou agulha de segurança com protetor, mas tudo deve ser tirado ao fim do procedimento (conforme se descreve no passo 6, abaixo) em vez de reencapado. • Peça ao doador que abra e feche o punho lentamente a cada 10– 12 segundos durante a colheita. • Remova o garrote quando o fluxo sanguíneo estiver estabelecido ou após 2 minutos, conforme o que ocorra primeiro. Passo 5 – Monitorar o doador e a unidade doada • Monitore estreitamente o doador e o sítio da punção durante todo o processo de doação; – observe se há: - transpiração, palidez ou queixas de fraqueza que podemanteceder um desmaio; - surgimento de hematoma no local da punção; - mudanças no fluxo de sangue, que podem indicar movimento da agulha na veia, tornando necessário reposicioná-la. • A aproximadamente cada 30 segundos durante a doação, misture suavemente o sangue coletado com o anticoagulante, manualmente ou por mistura mecânica contínua. Passo 6 – Retirar a agulha e colher amostras • Corte a agulha usando uma tesoura estéril. • Colete amostras de sangue para exames de laboratório. Após uma doação de sangue Atenção de findos doadores Uma vez colhido o sangue: • Peça ao doador que permaneça na cadeira e repouse por uns minutos. • Inspecione o sítio da venopuntura; se não estiver sangrando, aplique um curativo ao local; se estiver sangrando, aplique mais pressão. • Peça ao doador que se sente devagar e pergunte como se sente. • Antes que o doador deixe o local de doação, certifique-se de que pode manter-se de pé sem vertigem e sem queda da pressão arterial. • Ofereça o doador uma colação ligeira. Unidade e amostras de sangue: • Transfira a unidade de sangue para um recipiente adequado para armazenagem, segundo os requisitos do centro de transfusão de sangue e do produto[55-58]. • Assegure que as amostras de sangue coletadas sejam armazenadas e entregues ao laboratório com documentação completa, na temperatura recomendada e em recipiente estanque fechado. 3.4. Tipagem O sistema sanguíneo ABO é o mais importante grupo sanguíneo na medicina transfusional. Atualmente, a determinação do tipo sanguíneo dos doadores de sangue é feita através de testes sorológicos rotineiros de laboratório, porém outros testes realizados com o DNA humano obtido de amostra de sangue, tornam-se complementos valiosos para a determinação correta do grupo sanguíneo do doador e do receptor, aumentando a segurança transfusional. O Sistema de grupo sanguíneo ABO foi o primeiro a ser descoberto por Karl Landsteiner no começo do século XX (1901) e, até hoje, continua sendo considerado o mais importante sistema de grupo sanguíneo na medicina transfusional. Tem ainda relevância nos transplantes, em especial nos de medula óssea e renal, além de contribuir em estudos antropológicos. Os antígenos do sistema de grupo sanguíneo ABO não estão restritos apenas à membrana dos eritrócitos, podendo ser encontrados em outras células hematopoiéticas (linfócitos e plaquetas), assim como em uma grande variedade de células como as endoteliais, intestinais, sinusoidais, esplênicas, da medula óssea, da mucosa gástrica, das glândulas mamárias, além de secreções e excreções como saliva, leite e urina (Silberstein e Spitalnik, 1991). Os antígenos ABO são oligossacárides gerados em um processo que envolve a atividade de enzimas específicas chamadas glicosiltransferases que são codificadas pelo gene H no cromossomo 19 e pelo gene ABO no cromossomo 9 (Lowe, 1993). O produto do gene H é uma enzima, a fucosiltransferase, que adiciona especificamente fucose à galactose terminal de uma substância precursora, formando a substância H. As enzimas A (a1-3 N-acetilgalactosaminiltransferase) ou B (a 1-3 N- galactosiltransferase) convertem o substrato H em antígeno A ou B, respectivamente (Larsen et al., 1990; Clausen et al., 1990; Yamamoto e Hakomori, 1990; Martinko et al., 1993; Yamamoto e Mac Neill, 1996). As transferases A e B são estruturas com alto grau de homologia entre si e a sua especificidade é determinada pelos aminoácidos localizados próximos ao sítio de ligação entre o substrato H e os Gal ß1-4 Glc NAc ß1-3 Gal ß1-4 Glc Gal a1-3 Gal ß1-4 Glc NAc ß1-3 Gal ß1-4 Glc a1-2 Fuc Gal Fuc Gal NAc a1-3 Gal ß1-4 Glc NAc ß1-3 Gal ß1-4 Glc a1-2 Fuc Gal Glc Glc NAc açúcares receptores (Olsson e Chester, 2001) (Figura 1). O grupo sanguíneo AB apresenta atividade das duas transferases (A e B), enquanto que o grupo sanguíneo O não tem transferases A e B, não convertendo a substância H em antígenos A e B, e portanto, tem quantidades abundantes de antígeno H na superfície dos eritrócitos. ß1-1 Ceramídeo ß1-4 ß1-3 ß1-4 a1-2 ß1-1 Ceramídeo ß1-1 Ceramídeo Figura 1: Estruturas bioquímicas dos antígenos eritrocitários humanos do sistema de grupo sangüíneo ABO (Schenkel-Brunner, 2000). Os genes H e Se/se (secretor) estão localizados no cromossomo 19 (Lowe, 1993; Daniels, 2005), e são herdados independentemente dos genes alélicos A, B, e O, que estão localizados no braço longo do cromossomo 9 (9q34.1- 34.2) (Larsen et al., 1990; Anstee e Mallison, 1994; Watkins et al., 1998). O gene H produz substância H, sobre a qual ocorre a ação de glicosiltransferases específicas. O gene H é expresso tanto no estado homozigoto (H/H) como no heterozigoto (H/h). Neolacto tetra osil ceramídeo (Paraglobosídeo) Substância H Substância A Substância B ß1-1 Ceramídeo hh A e B BB ou BO OO O gene hh é extremamente raro, e nessa situação nenhuma substância H é produzida, sendo este fenótipo chamado de Bombay (Oh) (Watkins et al., 1998). O gene Se, chamado secretor, controla a secreção de substâncias solúveis A, B e H. Cerca de 80% da população caucasóide é constituída de indivíduos secretores. A presença de Se e se determinam presença ou ausência de substância H nas secreções (Mollison e Engelfriet, 1997) (Figura 2). genes substância genes substância HH AA ou AO A Hh H A e B B Substância precursora H substância precursora (fenótipo Bombay) Figura 2: Biossíntese dos antígenos do sistema de grupo sanguíneo ABO, e H nos eritrócitos humanos. A expressão dos antígenos ABO varia conforme a faixa etária, não sendo completa no período neonatal, alcançando somente a expressão plena ao redor de 2 a 4 anos de idade (Mollison e Engelfriet, 1997). Algumas doenças como a leucemia aguda, também podem alterar a expressão fenotípica dos antígenos do sistema de grupo sanguíneo ABO, devido a diversos mecanismos moleculares, que podem resultar em redução das transferases A e/ou B, e consequentemente diminuição da expressão dos antígenos A e B, dificultando a interpretação dos resultados de tipagem ABO (Reid e Bird, 1990; Bianco et al., 2001). A frequência populacional dos antígenos do sistema de grupo sanguíneo ABO varia em diferentes populações, sendo importante ressaltar que estudos realizados em indígenas da América do Sul, demonstraram que a totalidade pertence ao grupo sanguíneo O (Matson et al., 1970), enquanto que em indianos, chineses e em negros, o grupo sanguíneo B é muito mais frequente do que em brancos (Reed, 1968; Grunnet et al., 1997; Cho et al., 2005; Deng et al., 2005; Yip et al., 2006). Na classificação ABO determinada sorologicamente, diferentes níveis de expressão do antígeno A ou B nos eritrócitos podem ser encontrados, sendo chamados de subgrupos de A ou subgrupos de B. A classificação desses subgrupos é baseada nos seguintes critérios: intensidade de aglutinação com soros anti-A, anti-B, anti-AB e anti-H, presença ou ausência de anticorpos contra antígenos ABO e presença ou ausência de substância A e/ou B na saliva. Os dois principais subgrupos de A são A1 e A2 que são diferenciados sorologicamente, pela reatividade das hemácias a serem testadas contra lectina anti-A1 e nos indivíduos secretores, pela presença ou não do antígeno A na saliva (Bird, 1952). Os testes para identificação de substância A, B e H na saliva são importantes na classificação de subgrupos de sistema de grupo sangüíneo ABO (Denomme et al., 2000) (Tabela 1). As hemácias de aproximadamente 80% dos indivíduos A e AB são classificadas sorologicamente como A1 e A1B. As restantes, 19% são A2 e A2B e raramente, de outros subgrupos de A que não o A2.Apenas 1% do total de subgrupos de A não são A2 ou A2B, (A3, A3B, Am, Ax, Ael) (Salmon et al., 1984; Yamamoto et al., 1992; Yamamoto et al., 1993a, b, c, d; Olsson e Chester, 1995; Ogasawara et al., 1996; Hansen et al., 1998; Ogasawara et al., 1998). De modo similar, existem subgrupos de B determinados sorologicamente (B3, Bx, Bm, Bel), porém muito raros. Os subgrupos de A e subgrupos de B, resultam de mutações da estrutura do gene da glicosiltransferase (Yamamoto, 1995; Yamamoto, et al., 1995; Yu et al., 2002). Tabela 1: Interpretação de subgrupos sanguíneos do sistema ABO Reação das hemácias com anti-soros Reações dos soro e/ou plasma com hemácias-teste FENÓTIPO Soro Anti-A Soro Anti-B Soro Anti-AB Lectina Anti-H Lectina Anti-A1 He A1 He A2 He B He 0 Saliva do secretor A1 4+ 0 4+ 0 4+ 0 0 4+ 0 A e H Aint 4+ 0 4+ 3+ 2+ 0 0 4+ 0 A e H A2 4+ 0 4+ 2+ 0 ** 0 4+ 0 A e H A3 2+CM 0 2+CM 3+ 0 ** 0 4+ 0 A e H Am 0 / + - 0 0 / + - 4+ 0 0 0 4+ 0 A e H Ax 0 / + - 0 + / 2 + 4+ 0 2+ / 0 0 / + 4+ 0 H Ael 0 0 0 4+ 0 2+ / 0 0 4+ 0 H B 0 4+ 4+ 0 -- 4+ 4+ 0 0 B e H B3 0 + /CM 2+ /CM 4+ -- 4+ 4+ 0 0 B e H Bm 0 0 0 / + - 4+ -- 4+ 4+ 0 0 B e H Bx 0 0 / + - 0 / 2+ 4+ -- 4+ 4+ 0 0 H Fonte: Vengelen-Tyler V.Technical Manual.14th ed.Bethesda,Maryland:American Association of Blood Banks. + - = intensidade fraca de aglutinação CM = campo misto He = hemácia Os anticorpos anti-A e anti-B são produzidos geralmente após os primeiros meses de vida, com pico de produção dos 5 aos 10 anos de idade e com diminuição progressiva na velhice (Toivanen e Hirvonen, 1969). Os anticorpos anti-A e anti-B podem ser de natureza IgM ou IgG (Issitt e Anstee, 1998), causando aglutinação direta de forte intensidade quando testados com hemácias de grupo sanguíneo A e B respectivamente. Esses anticorpos são clinicamente significantes, podendo causar reações transfusionais hemolíticas graves se sangue incompatível for administrado. A maioria das reações transfusionais fatais são causadas pelo uso inadvertido de sangue ABO incompatível (Honing, 1980). Os anticorpos anti-A e anti- B também podem causar doença hemolítica do recém-nascido com gravidade variável. A tipagem de rotina do sistema de grupo sanguíneo ABO, é realizada com o emprego de testes chamados de tipagem direta e reversa. Na tipagem direta, utiliza-se soros anti-A e anti-B para a determinação da presença ou ausência dos antígenos do sistema de grupo sanguíneo ABO. A tipagem reversa é realizada empregando-se reagentes constituídos por suspensão de hemácias classificadas como de grupo A1 e B para detecção sérica de anti-A e anti-B. A tipagem direta e reversa devem ser realizadas simultaneamente para a classificação do tipo sanguíneo ABO, uma vez que a incompatibilidade ABO pode ser fatal (Widman, 2005). Apesar de os anticorpos monoclonais anti-A e/ou anti-B reconhecerem e aglutinarem a maioria dos subgrupos sanguíneos ABO, a determinação daqueles que apresentam baixíssima expressão de antígenos é laboratorialmente trabalhosa (Novaretti et al., 2000; Olsson et al., 2001; Seltsam et al., 2005; Seltsam et al., 2006). Além de ser uma ferramenta independente no laboratório clínico, a genotipagem do sistema de grupo sanguíneo ABO pode ser usada para confirmar a presença de um antígeno de fraca expressão, como os dos subgrupos A e/ou B (Fischer et al., 1992; Olsson et al., 2001). Assim, podemos afirmar que a genotipagem do sistema de grupo sanguíneo ABO, é um complemento valioso à determinação correta do grupo sanguíneo do doador e do receptor (Fischer et al., 1992; Olsson e Chester, 1995; Zago et al., 1996; Olsson e Chester, 1996; Barjas- Castro e Saad, 1997; Pearson e Hessner, 1998; Barjas-Castro et al., 2000; Novaretti et al., 2000; Yip, 2000; Olsson et al., 2001; Batissoco et al., 2001). 3.5. Fracionamento e armazém de hemoderivados. As terapias com sangue e seus componentes – hemoterapia – são práticas médicas adotadas em variados números de procedimentos médicos e em doenças, dentre as quais: doenças relacionadas ao sistema de coagulação, queimaduras, hipovolemias de causas traumáticas, cirurgias, implantes dentários entre outros (SOERENSEN, 1994; LORENZI, 1999; MATOS;ROZENFELD, 2005.; LAGUNAS, 2006; SEKINE et al., 2008). De acordo com o § 1º do art. 3º da Lei 10.205, de 21 de março de 2001, que regulamenta o § 4º do art. 99 da Constituição Federal (CF) de 1988, a hemoterapia tem a seguinte definição: É uma especialidade médica, estruturada e subsidiária de diversas ações médico-sanitárias corretivas e preventivas de agravo ao bem estar individual e coletivo, integrando, indissoluvelmente, o processo de assistência à saúde (BRASIL, 2001a). De forma didática e prática, com a finalidade de facilitar o entendimento, a hemoterapia pode ser dividida em duas partes: terapia com hemocomponentes e terapia com hemoderivados. Por definição da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 46/2000 editada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): Hemocomponente é a parte de uma unidade de sangue total, separada da mesma por processos físicos (BRASIL, 2000). Hemoderivados são produtos farmacêuticos obtidos a partir do plasma humano, submetidos a processos de industrialização e normatização que lhes conferem qualidade, estabilidade, atividade e especificidade (BRASIL, 2000). A produção de hemoderivados ganhou destaque a partir da década de 40 com a técnica de precipitação alcóolica a frio desenvolvida por Cohn (CAIRUTAS, 2001; AMORIN FILHO, 2013; CURLING; GOSS;BERTOLINE, 2013; MRB, 2014). Usando misturas etanol-água e controlando parâmetros como pH e temperatura, é possível separar as proteínas plasmáticas em frações distintas (CURLING; GOSS;BERTOLINE, 2013). Estas frações depois de separadas passarão por processos de purificação, inativação viral e formulação, dando assim origem aos medicamentos hemoderivados (Figura 1). Figura 1 - Processo de fracionamento do plasma sanguíneo pelo método de Cohn. Adaptado de Sakagami e Tsutani (SAKAGAMI;TSUTANI, 2014) Atualmente, outras técnicas de fracionamento das proteínas plasmáticas, como as cromatografias, também são utilizadas (AMORIN FILHO, 2013). Estes métodos são mais precisos e por isso têm como resultado um produto mais puro, entretanto, esta metodologia encarece o processo produtivo. Deste modo, a utilização de uma combinação de técnicas (precipitação alcóolica e cromatografias) é a escolha mais usual das indústrias farmacêuticas produtoras de hemoderivados (HETZL, 2013). 3.5.1. PROCESSO FABRIL DOS HEMODERIVADOS Matéria Prima O sangue é composto basicamente por: células vermelhas, células brancas, plaquetas que é a parte celular, e plasma, que é parte líquida do sangue, conforme pode ser observado na Figura 2 (LORENZI, 1999; FMH, 2008a). Para a produção de medicamentos hemoderivados é utilizado o plasma (BRASIL, 2000; ADATI, 2006). Figura 2 - Composição do sangue total até a as proteínas de coagulação Adaptado de Cairutas (CAIRUTAS, 2001) e Federação Mundial de Hemofilia (FMH, 2008a). De acordo a legislação brasileira vigente, apenas o plasma excedente das doações voluntárias dos hemocentros brasileiros poderão ser destinados à indústria farmacêutica para a elaboração dos medicamentos derivados do sangue (BRASIL, 2001a, 2013a). Do momento da obtenção do plasma para a indústria produtora dos medicamentos hemoderivados, este passa por inúmeros processos e etapas que vão da seleção do doador até a preparação para a indústria - Figura 3 - (BRASIL, 2001b; ADATI, 2006; BRASIL, 2014; SAKAGAMI;TSUTANI, 2014). Figura 3 - Ciclo do sangue para a produção de Hemoderivados Adaptado do manual de hemovigilância (BRASIL, 2007) Toda doação de sangue noBrasil deve ter o caráter voluntário, altruísta e não remunerada, ou seja, nenhum doador de sangue poderá ser remunerado direta ou indiretamente (BRASIL, 1988, 2001a, 2001b, 2013a, 2014), criando em torno dos medicamentos hemoderivados uma esfera ético-social (SOARES, 2002). Além deste fato, a seleção do doador tem critérios fundamentados para a proteção do receptor dos componentes e derivados deste sangue (BRASIL, 2001b, 2013a). O sangue coletado é rigorosamente avaliado antes de ser liberado para transfusões e ou destinado à indústria de hemoderivados. Todo o sangue coletado nos hemocentros deve ser analisado em laboratório próprio para este fim (ADATI, 2006; ANDRADE, 2009.). A legislação sanitária da Anvisa, a RDC 34/2014 (BRASIL, 2014) determina que o sangue doado deve ser submetido a análise laboratorial de alta sensibilidade, com a finalidade de triagem e de detecção de marcadores de doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue, conforme Tabela 1. O sangue coletado, após passar por todas as etapas de triagem e testes, é considerado apto para ser utilizado nos serviços de hemoterapia, seja em sua forma total ou em na forma do separada de seus componentes. O plasma excedente, ou seja, o que não foi utilizado em transfusões, é destinado à indústria para o fracionamento e purificação de suas proteínas com valor terapêutico e posterior manufatura dos medicamentos derivados do sangue, hemoderivados (BRASIL, 2007, 2013a). Na Farmacopeia Brasileira (FB) 5ª edição, o plasma destinado à indústria farmacêutica para a produção de hemoderivados é denominado Plasma Humano para Fracionamento (BRASIL, 2010b). Este plasma é obtido pelo processo de separação física dos demais componentes do sangue total e subsequente congelamento. Para a preservação de todas as suas proteínas, este plasma deve ser resfriado rapidamente e congelado em até 24 horas após a coleta a uma temperatura igual ou inferior à 25ºC negativos (BRASIL, 2010b). O Plasma Humano para Fracionamento é destinado exclusivamente à produção de hemoderivados (BRASIL, 2000). Contudo, de acordo com a RDC 46/2000, da Anvisa, existem outras classificações para o plasma. Estas classificações estão relacionadas à temperatura de congelamento, ao tempo entre a coleta do sangue e o congelamento e as Proteínas plamáticas que poderão dele ser obtidos (BRASIL, 2000), conforme a Tabela 2. Tabela 1 - Testes necessários para o sangue doado conforme RDC 34/2014 - Anvisa TESTES OBSERVAÇÕES Tipagem do Sistema ABO É obrigatória a realização da prova direta e reversa. Tipagem do Sistema Rh (D) Quando a reação para a presença do antígeno Rh(D) resultar negativa, deve ser efetuada a pesquisa do antígeno D-fraco. Pesquisa de Anticorpos Antieritrocitários Irregulares (PAI) - Investigação da Hemoglobina S Deverá ser realizada pelo menos na primeira doação. Sífilis Um teste para detecção de anticorpo anti- treponema ou não-treponêmico. Doença de Chagas Um teste para detecção de anticorpo para anti- T. cruzi. Vírus da Hepatite B (HBV) Um teste para detecção do antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg) e um teste para detecção do anticorpo contra o capsídeo do vírus da hepatite B (anti-HBV), com pesquisa de IgG ou IgG + IgM. Vírus da Hepatite C (HCV) Dois testes em paralelo: sendo um teste para detecção de anticorpo anti-HCV ou para detecção combinada de antígeno/anticorpo; e um teste para detecção de ácido nucleico do vírus HCV por técnica de biologia molecular. Vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida Tipo 1 (HIV1) e Tipo 2 (HIV2) Dois testes em paralelo: sendo um teste para detecção para anticorpo anti-HIV (que inclua a detecção do grupo O) ou um teste para detecção combinada de antígeno/anticorpo (que inclua a detecção do grupo O); e um teste para detecção de ácido nucleico do vírus HIV por técnica de biologia molecular. Vírus T-linfotrópicos Humano (HTLV) tipo I e II. Um teste para detecção de anticorpo anti-HTLV I/II. Malária Nas regiões endêmicas de malária com transmissão ativa deve ser realizada a detecção de plasmódio ou antígenos plasmodiais. Citomegalovírus (CMV) Deve ser realizado em todas as unidades de sangue destinadas a pacientes nas situações previstas pelo Ministério da Saúde (MS). Tabela 2 - Definições para o plasma conforme a RDC 46/2000 - Anvisa TIPOS DE PLASMA DEFINIÇÃO Plasma Porção líquida remanescente após separação física dos elementos celulares do sangue total, através de processos de sedimentação, centrifugação ou obtida por plasmaferese. Plasma Fresco Plasma obtido de uma unidade de sangue total, em sistema fechado, utilizado ou processado dentro do prazo máximo de 8 horas após a coleta do sangue. Plasma Fresco Congelado (PFC) Plasma fresco cujo processo de congelamento se completou em um prazo máximo de 8 horas após a coleta, devendo ser estocado a temperatura não superior a 20ºC negativos. Plasma Congelado Plasma obtido de uma unidade de sangue total, separado em sistema fechado, cujo processo de congelamento se completou em mais de 8 horas após a coleta, devendo ser estocado a temperatura não superior a 20ºC negativos. Plasma Remanescente Plasma obtido a partir de plasma fresco, plasma fresco congelado ou plasma congelado após a retirada do(s) componente(s), devendo ser recongelado e estocado em temperatura não superior a 20ºC negativos. Plasma Recuperado Plasma que não preenche os requisitos de plasma fresco, plasma fresco congelado, plasma congelado ou plasma remanescente e que se destina exclusivamente à produção de hemoderivados, devendo ser estocado a temperatura não superior a 20ºC negativos. Plasma Humano para Fracionamento Plasma destinado exclusivamente à produção de hemoderivados. 3.5.2. Produção dos Hemoderivados O termo fracionamento é utilizado para denominar a fabricação de medicamentos hemoderivados utilizando-se de processos físicos e/ ou processos químicos a partir do plasma humano (BRASIL, 2000; WHO, 2005). A técnica de fracionamento do plasma consiste na separação das proteínas, sendo necessárias diversas etapas até ser obtido o medicamento pronto. Atualmente, mais de 20 proteínas podem ser extraídas do plasma para fins terapêuticos (BURNOUF, 2007), sendo que as mais comumente utilizadas na fabricação dos medicamentos hemoderivados são: Albumina, Imunoglobulina, Fator VIII da Coagulação (FVIII), Fator de von Willebrand (FvW), Fator IX da Coagulação (FIX) e Complexo Protrombínico (FMH, 2008a; ANDRADE, 2009.). Na moderna indústria fracionadora de plasma, diversas técnicas de fracionamento e purificação são empregadas (BURNOUF, 2007). A técnica de escolha dependerá da proteína plasmática que se pretende extrair e da relação custo-benefício, entretanto, geralmente duas ou mais técnicas de produção são associadas. A Tabela 3 mostra os métodos típicos de purificação das proteínas plasmáticas. Tabela 3 - Métodos típicos de purificação das proteínas plasmáticas. Método Descrição Princípio de Separação Aplicação Crioprecipitação Descongelamento do plasma total a 1ºC até 4ºC Diferença de solubilidade a baixa temperatura Precipitação de FVIII, FvW e fibrinogênio. Precipitação Etanólica Precipitação em etapas sucessivas com etanol, controle de pH e temperatura. Diferença de solubilidade ao etanol em baixas temperaturas Precipitação de fibrinogênio, IgG, α1- Antitripsina (AAT). Cromatografia de Troca Iônica Ligação da proteína ao sólido embalado dentro da coluna. Ligações iônicas devido a afinidade elétrica A maioria dos fatores da coagulação, inibidores de proteasee anticoagulantes. Cromatografia de Afinidade Ligação da proteína ao sólido embalado dentro da coluna. Ligações específicas de afinidade das proteínas por seu ligante. Antitrombina (AT), FIX e FvW. Imunoafinidade Ligação da proteína ao sólido embalado dentro da coluna. Ligação específica do tipo proteína-anticorpo FVIII, FIX e Proteína C. Cromatografia de Exclusão Transposição da proteína em meio ao sólido embalado dentro da coluna. Separação baseada nos diferentes pesos moleculares das proteínas ATT e FVIII Ultrafiltração Processo de fracionamento por membrana baseado na seleção da porosidade da mesma. Concentra a proteína de interesse e permite a remoção dos demais componentes Todos os produtos. Microfiltração Filtração em membrana de fluxo cruzado e em baixa pressão. Separação coloidal das partículas em suspensão no intervalo de 0,2 a 10µm Todos os produtos. Adaptado de Burnouf (BURNOUF, 2007). Albumina De acordo com More e Bulmer (MORE, J.;BULMER, 2013) a albumina plasmática tem como característica marcante a sua multifuncionalidade. Esta característica por eles descrita deve-se ao fato de que esta proteína plasmática participa de inúmeros processos fisiológicos, mostrados no Quadro 1. Quadro 1 - Principais funções fisiológicas da albumina Adaptado de More e Bulmer (MORE, J.;BULMER, 2013) Dentre os hemoderivados, a albumina é considerada o pioneiro destes medicamentos em escala industrial (FARRUGIA;CASSAR, 2012; AMORIN FILHO, 2013; MORE, J.;BULMER, 2013). Grande parte deste pioneirismo deve-se ao fato da técnica de fracionamento alcoólico de Cohn, haja visto que a albumina possui alta Manutenção da pressão oncótica do plasma; Regulação do balanço ácido-base; Ligação / transporte de substâncias endógenas, exógenas e drogas; Proteção contra toxinas exógenas; Influencia na coagulação sanguínea; Manutenção da integridade microvascular e da permeabilidade capilar; Propriedades antioxidantes; Principal fonte extracelular dos grupos sulfidrila. solubilidade e ponto isoelétrico baixo, o que facilita sua separação (MORE, J. E.;HARVEY, 1991; AMORIN FILHO, 2013). A forma farmacêutica mais comumente empregada para a albumina é a solução. Caracterizando-se por líquido translúcido levemente amarelado podendo chegar a tons esverdeados (BRASIL, 2000; ADATI, 2006; MORE, J.;BULMER, 2013). Atualmente, a produção da albumina envolve desde a técnica pioneira de Cohn chegando até técnicas mais modernas como as cromatográficas. Esta evolução, principalmente com a inclusão da cromatografia, proporcionou a obtenção de um produto mais puro além de permitir o aproveitamento de outras proteínas separadas durante o processo fabril (MORE, J. E.;HARVEY, 1991). Na Tabela 4 pode ser observado como as técnicas de produção de albumina são variadas em diferentes países e produtores de albumina plasmática pelo mundo. Tabela 4 - Processos fabris de albumina humana. Tecnologia Processo Produtor Técnica Atualmente Usada Fracionamento com Etanol Fracionamento Etanólico a Frio Fracionamento Etanólico a Frio Modificado Maioria dos Fracionadores Estado Unidenses e Europeus. Cruz Vermelha Suíça (ZLB), agora CSL Behring Método 6 de Cohn Método de Kistler e Nitschmann Processo Cromatográfico para Produção de Albumina Humana Pharmacia, agora GE Fracionamento etanólico nas etapas iniciais seguido de três cromatografias (aniônica, catiônica e exclusão). Cromatografia Fracionamento Cromatográfico de Plasma para Produção de Albumina CSL Bioplasma Processo desenvolvido pela Pharmacia: produção de albumina de propósito fácil e baseado em duas etapas de cromatografia aniônica e uma etapa de gel de filtração. Processo em Cascata de Cromatografia de Afinidade para Fracionamento das Proteínas do Plasma ProMetic Ligantes biomiméticos seletivos para albumina. Híbrido (fracionamento e cromatografia) Fracionamento etanólico convencional com cromatografia de troca iônica para polimento. Fracionamento a quente Bio Products Laboratory Não é conhecido se está em uso atualmente. Método de fracionamento de Kistler e Nitschmann seguido de diafiltração e cromatografia de troca iônica. Método de Scheider – Precipitação com ácido caprílico. Outros Precipitação com Polietilenoglicol (PEG). Precipitação com Rivanol / Sulfato de Amônio Etanol / Ácido Tricoloacético / Desnaturação a quente. Não é conhecido se está em uso atualmente. Behringwerke Institute Merieux (não é sabido se está em uso) Precipitação utilizando PEG 4000 Processo de fracionamento utilizando Rivanol e sulfato de amônio (não é sabido se está em corrente uso) Purificação de albumina da placenta humana. Adaptado de More e Bulmer (MORE, J.;BULMER, 2013) Imunoglobulina As imunoglobulinas, também chamadas de anticorpos, são proteínas plamáticas produzidas pelas células linfocitárias do tipo B, com estrutura molecular formada por polipeptídios e carboidratos (LORENZI, 1999; CATALÃO, 2008; PRICE; GENEREUX; SINCLAIR, 2013; MRB, 2014). As imunoglobulinas podem ser divididas em classes e subclasses e esta divisão tem como base a estrutura molecular de cada uma, ou seja, de acordo com as cadeias peptídicas que as compõem elas podem ser das seguintes classes: Imunoglobulina A (IgA), Imunoglobulina D (IgD), Imunoglobulina E (IgE), Imunoglobulina G (IgG) e Imunoglobulina M (IgM) (BURTON; GREOGORY;JEFFERIS, 1986; LORENZI, 1999; PRICE; GENEREUX;SINCLAIR, 2013). As imunoglobulinas da classe G são as proteínas de interesse para a produção de hemoderivados devido ao fato de estas estarem relacionadas com a defesa humoral, além de terem concentração plasmática elevada e por possuírem um tempo de vida relativamente longo de três semanas (CATALÃO, 2008; FARIA; BATISTA;HENEINE, 2013). Por definição, a RDC nº 46/2000 – Anvisa, traz a relação de três apresentações principais para medicamentos hemoderivados, cujos ativos são imunoglobulinas (Tabela 5). Tabela 5 – Principais apresentações das Imunoglobulinas segundo a RDC nº 46/2000 DENOMINAÇÃO CARACTERISTICA Imunoglobulina Normal de uso Intramuscular (IgGIM) Solução ou pó liofilizado estéril e apirogênico de gamaglobulinas contendo diversos anticorpos, principalmente da classe de imunoglobulina G (IgG), presente no plasma humano. Imunoglobulina Normal de uso Endovenoso (IgGIV) Imunoglobulina Específica Solução ou pó liofilizado estéril e apirogênico de gamaglobulinas que contém alta concentração de anticorpos específicos, derivados do plasma humano provenientes de indivíduos que foram previamente imunizados ou hiperimunizados. As imunoglobulinas têm inúmeras indicações clínicas como: imunodeficiências primárias, terapias de reposição, algumas imunodeficiências secundárias, processos inflamatórios crônicos, síndrome de Guillain-Barré, doença de Kawasaki, neuropatia multifocal motora, trombocitopenia púrpura em adultos e etc (FARRUGIA;CASSAR, 2012; BUCHARCHER;KAAR, 2013). Porém, muitos dos seus usos ainda não são aprovados pelas agências reguladoras (BUCHARCHER;KAAR, 2013). O hemoderivado imunoglobulina pode ser obtido por diferentes técnicas produtivas, desde a técnica de precipitação etanólica de Cohn até as técnicas mais modernas como as cromatográficas (BUCHARCHER;KAAR, 2013). Fator VIII da Coagulação (FVIII) O FVIII da coagulação é uma glicoproteína com peso molecular
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