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HEMOTERAPIA-E-BANCO-DE-SANGUE-APOSTILA

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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
Coordenação Pedagógica – IBRA 
 
DISCIPLINA 
 
 
HEMOTERAPIA E BANCO DE SANGUE 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 1 
2. HISTÓRICO ................................................................................................................................2 
2.1 A HEMOTERAPIA NO BRASIL ......................................................................................................5 
2.2. A HISTÓRIA DO VOLUNTARIDO NA DOAÇÃO DE SANGUE NO BRASIL .........................................5 
3. PRINCIPIOS DE HEMOTERAPIA ...................................................................................................5 
3.1. SELEÇÃO DE DOADORES ............................................................................................................3 
3.2. REQUISITOS BÁSICOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE .....................................................................3 
3.3. COLHEITA ..................................................................................................................................3 
3.4. TIPAGEM ..................................................................................................................................3 
3.5. FRACIONAMENTO E ARMAZEM DE HEMODERIVADOS ...............................................................3 
3.5.1 PROCESSO FABRIL DOS HEMODERIVADOS ...............................................................................3 
3.5.2. PRODUÇÃO DE HEMODERIVADOS ..........................................................................................3 
4. INTRODUÇÃO A COAGULAÇÃO .....................................................................................................3 
4.1 COAGULOPATIA HERDITÁRIAS ....................................................................................................3 
4.2. COAGULOPATIAS ADQUIRIDAS ..................................................................................................3 
5. DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS TRANSMISSIVEIS POR SANGUE .................................................3 
6. REAÇÕES ADVERSAS NÃO INFECCIOSAS E TRANSFUSÃO ...............................................................3 
7. REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A doação de sangue é, ainda hoje, considerada uma questão de 
interesse mundial, uma vez que não há uma substância que possa, em sua totalidade, 
substituir o tecido sanguíneo tão necessário à vida. Os hemocentros têm enfrentado 
dificuldades em manter os estoques de sangue regulares para atender às demandas 
específicas e emergenciais, colocando em risco a saúde e a vida da população 
(RODRIGUES; REIBNITZ, 2011). 
 
Em 1979, a situação das doações de sangue em alguns serviços do 
Brasil, muitas vezes realizadas por presidiários em troca de cigarros, ou por mendigos 
em busca de remuneração, culminou com a extinção da doação remunerada de sangue. 
O Brasil que, naquela época, tinha 80% da doação remunerada, passou a ter 
exclusivamente doadores voluntários. A proibição da remuneração de doadores de 
sangue foi estabelecida pela Constituição Federal (CF) de 1988, regulamentada pela lei 
nº 10.205 de 21 de março de 2001 e mantida até os dias atuais (JUNQUEIRA; 
ROSENBLIT; HAMERSCHLAK, 2005). 
 
Com as mudanças ocorridas no relacionamento entre doadores e 
bancos de sangue ao longo do tempo, o caráter altruísta do ato de doar passou a ser 
foco de atenção mundial, assim como a motivação dos doadores. Em campanha lançada 
em junho de 2011, o Ministério da Saúde (MS) teve como meta aumentar o percentual da 
população doadora de sangue, que hoje representa 1,9%, para 2,1%. Segundo os 
parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), para manter os estoques 
regulares é preciso que 1,5% a 3% da população doe sangue regularmente. Dentre os 
fatores que fazem os hemocentros precisarem cada vez mais do insumo, houve aumento 
de 65,3% no número de transplantes que necessitam de transfusão no país entre 2003 e 
2010 (BRASIL, 2011a). 
 
O aumento da complexidade da medicina aumentou a demanda pelo 
uso do sangue e seus componentes. Cerca de 3 (três) milhões de unidades são 
coletadas anualmente no Brasil, com consequente consumo de componentes, sendo que 
frequentemente há problemas de desabastecimento. O país ainda tem uma demanda 
reprimida de procedimentos de alta complexidade que, se corrigida, levaria a um 
consumo ainda mais elevado de bolsas de sangue. No momento, no entanto, os esforços 
devem ser concentrados na criação de grupos de doadores de sangue fidelizados 
(CLIQUET, 2007). 
 
O contexto dos bancos de sangue é complexo, e as identidades que 
ali estão incluem saberes, crenças, costumes e valores que levam o candidato à doação 
a se mobilizar pela solidariedade e a criar uma identidade coletiva na busca da 
valorização pela vida (BENETTI; LENARDT, 2006). A busca constante de alternativas 
para solucionar problemas que se instalam nos bancos de sangue é uma preocupação 
principalmente das gerências. Contudo, o que se percebe, geralmente, são intervenções 
pontuais para ultrapassar dificuldades que vão surgindo com a demanda, mas que muitas 
vezes são recorrentes, porque foram pensadas de forma isolada (RODRIGUES; LINO; 
REYBNITZ, 2011). 
 
Os atributos dos serviços devem ser considerados para a escolha que 
a pessoa faz pela doação de sangue. A identificação e avaliação desses atributos 
orientarão, por consequência, a instituição ao buscar doadores (LUDWIG; RODRIGUES, 
2005). As informações sobre suas opiniões e sentimentos são de grande valor para a 
organização e administração dos serviços, pois permitem conhecer os atributos por eles 
considerados. Estas informações podem servir de base para a elaboração de um projeto 
que tenha por objetivo educar, mobilizar, captar e fidelizar um público crescente de 
doadores, levando-os a participar do processo de doação de sangue de forma ativa, 
consciente e responsável (GIACOMINI; LUNARDI, 2010). Considera-se fundamental a 
participação da população na doação de sangue para a manutenção dos estoques, 
buscando evitar que a demanda de solicitação de bolsas de sangue seja maior que a 
reposição das mesmas (BORGES et al., 2005). 
 
Diante da preocupação em captar um número cada vez maior de 
doadores, estudos têm sido realizados no mundo buscando identificar os principais 
motivos que levam as pessoas a doar sangue, assim como os atributos relacionados ao 
processo de doação (MAGHSUDLU; NASIZADEH, 2011; YUAN et al., 2001). A escassez 
de estudos nessa área de conhecimento, a identificação dos elementos motivacionais 
que influenciam na decisão dos doadores e as medidas para possibilitar a captação de 
um número cada vez maior de doadores justificam a 14importância desse estudo 
realizado no Distrito Federal (DF), que tem como objetivo principal identificar e explicar os 
principais motivos e atributos relacionados ao processo de doar sangue que influenciam 
na decisão da doação. 
 
 
 
2. HISTÓRICO 
A história do sangue, utilizado com finalidade terapêutica, é marcada 
por acontecimentos ocorridos ao longo dos séculos, evoluindo com a hemoterapia como 
atividade médica fundamentada na pesquisa científica e não, como no passado, em 
tentativas empíricas. São de 1492 os primeiros fatos registrados dos quais se tem 
conhecimento em relação à doação de sangue, quando o Papa Inocêncio VIII, portador 
de doença renal crônica, recebeu transfusão sanguínea de três jovens, vindo a falecer o 
receptor e os doadores (SANTOS, 2002). 
 
Junqueira (1979) divide a evolução da hemoterapia em 02 períodos: 
um, empírico (até 1900),e outro científico (de 1900 em diante). No primeiro período, 
Harvey descreve a circulação, Richard Lower apresenta seus resultados sobre a 
transfusão de sangue de um animal para outro e o professor Jean Denis relata casos em 
que o sangue animal foi usado no homem, o que culmina com o primeiro relato de reação 
hemolítica pós-transfusional. Em 1818, James Blundell relata a transfusão de sangue de 
um homem para outro e esse processo começa a ser utilizado com algum sucesso, mas 
com um grande número de insucessos. No segundo período, o sangue passa a ser 
utilizado com agente terapêutico, passando por etapas importantes de preservação e 
separação de componentes. Em 1900, Karl Landsteiner e col descobriram o sistema 
ABO, quando então foi possível diminuir as incompatibilidades verificadas em 
transfusões, e em 1940 eles descobriram o sistema Rh (CAIRUTAS, 2001). 
 
Em 1920 realizavam-se transfusões braço a braço, em que se 
transfundia sangue diretamente do doador para o receptor. Não havia instituições 
hemoterápicas e nem técnicas de estocagem de sangue. Os serviços de hemoterapia 
mantinham um corpo de doadores registrados que eram convocados quando necessário. 
O primeiro banco de sangue do mundo ocidental foi criado em 1937 nos Estados Unidos. 
A partir de 1960, a hemoterapia mundial avançou e se sofisticou, com as novas técnicas 
de conservação e fracionamento do sangue (SANTOS; MORAES; COELHO, 1991). 
 
Em 1967, começaram a ser adotadas máquinas fracionadoras de 
sangue, que permitiam a separação dos componentes do sangue durante a própria 
doação (aférese). A partir dessa época, desenvolve-se a noção de transfusão seletiva, ou 
seja, o uso de cada componente para um fim específico, e não mais o sangue total, até 
então utilizado. Os anos 80 e 90 marcaram o desenvolvimento nos conhecimentos da 
oncologia, assim como o avanço na tecnologia de cultura de células, dentre outros. A 
hemoterapia passa a contar com novos componentes importantes para a ampliação do 
arsenal terapêutico (SANTOS, 2002). Na década de 80, o advento da AIDS (Síndrome da 
Imunodeficiência Adquirida – SIDA) tornou a diminuição dos riscos uma necessidade 
premente, fortaleceu a segurança transfusional e favoreceu importantes mudanças nas 
políticas de sangue, principalmente em relação ao controle e segurança das práticas 
transfusionais (PIMENTEL, 2006). 
 
2.1.A HEMOTERAPIA NO BRASIL 
 
 
Doação de sangue no Brasil começa em 1879, com o primeiro relato 
acadêmico sobre Hemoterapia no País. A tese de doutorado, apresentada por José 
Vieira Marcondes, descreve experiências com transfusões de sangue realizadas até a 
época e discute se a melhor transfusão seria a do animal para o homem ou a entre seres 
humanos. 
 
 Primeiras transfusões de sangue no Brasil 
 
Não existem relatos precisos de quando a primeira transfusão foi 
realizada no Brasil. 
 
O que se sabe é que os médicos Brandão Filho e Armando Aguinaga 
foram os pioneiros nesta prática, no Rio de Janeiro, e que umas das primeiras 
experiências aconteceu por volta de 1900, em Salvador (Bahia) quando o professor de 
Clínica Médica, Garcez Fróes, usando um aparelho improvisado por ele, transfundiu 129 
ml de sangue do doador João Cassiano Saraiva, servente do hospital, em uma paciente 
operada de pólipo uterino. 
 
Outros relatos semelhantes são encontrados na tese de Isaura Leitão, 
sobre “Transfusão Sanguínea”, defendida em 1916. Também há referências não 
confirmadas de um procedimento realizado pelo Hematologista Estácio Gonzaga e o 
cirurgião Fernando Freira de Carvalho Luz, no Hospital Português em Alto do Bonfim, 
Bahia. 
 
Do período Pós –Guerra até os dias de hoje 
 
No Brasil, após o término da Segunda Guerra Mundial, com os 
progressos científicos e o crescimento da demanda por transfusões de sangue, surgiram 
os primeiros bancos de sangue privados: serviços especializados, de organizações 
simples, constando de um médico transfusionista e de um corpo de doadores universais 
(indivíduos do grupo sanguíneo O), que eram selecionados e examinados, para 
comprovação de suas boas condições de saúde. 
 
Na década de 40, a Hemoterapia brasileira começou a se caracterizar 
como uma especialidade médica, e diversos bancos de sangue foram inaugurados, 
proporcionando oportunidades de comércio e lucratividade para muitos. 
 
A doação de sangue foi remunerada por muitos anos no Brasil. 
Um artigo dos anos 40, afirma que os doadores de sangue altamente 
selecionados eram remunerados a 500 réis por centímetro cúbico de sangue doado ou, 
no caso de doadores imunizados, a 750 réis/mm3. Que não admitiam doadores 
benévolos, nem de emergência. E que se o paciente não tivesse recursos para pagar os 
serviços e exames relativos às transfusões, estaria isento de qualquer débito; o 
pagamento ao doador deveria ser garantido pelo serviço de transfusão. 
 
Nos anos 50, o fato mais importante foi a fundação da Sociedade 
Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (SBHH) e a promulgação da lei nº 1075, de 27 
de março de 1950, que dispõe sobre a Doação Voluntária de Sangue. 
 
O sistema transfusional brasileiro continuou funcionando totalmente livre 
de controle governamental, na década de 60. E o Governo brasileiro se viu às voltas com 
graves problemas devido ao sistema de coleta baseado na remuneração em espécie do 
doador de sangue e a falta de controle por parte dos serviços de hemoterapia. Apesar da 
constatação de que o sangue era veículo de transmissão de doenças infecciosas, 
principalmente a hepatite B, a Sífilis e a doença de Chagas, os exames sorológicos 
considerados obrigatórios não eram realizados na maioria dos bancos de sangue do 
país. 
 
O quadro no Brasil era negro: doadores profissionais “viciados” em doar 
sangue, sem observar os preceitos de higiene e os intervalos recomendados entre as 
doações; sangue coletado e transfundido sem critérios técnicos e higiênicos; nas regiões 
endérmicas de doença de Chagas, a transfusão de sangue representava um dos 
mecanismos mais frequentes de transmissão. 
 
Diante da situação, em 1964, o Ministério da Saúde criou um grupo de 
trabalho para o estudo e a regulação disciplinadora da Hemoterapia no Brasil, que 
resultou na formação da Comissão Nacional de Hemoterapia, em 1965. 
 
A Comissão Nacional de Hemoterapia e o Ministério da Saúde 
estabeleceram, através de decretos, portarias e resoluções, o primado da doação 
voluntária de sangue e a necessidade de medidas de proteção a doadores e receptores; 
e disciplinou o fornecimento de matéria-prima para a indústria de fracionamento 
plasmático e a importação e exportação de sangue e hemoderivados. Entre as suas 
atividades destacam-se a implantação do registro oficial dos bancos de sangue públicos 
e privados, a publicação de normas básicas para atendimento a doadores e para 
prestação de serviço transfusional e a determinação da obrigatoriedade dos testes 
sorológicos necessários para segurança transfusional. 
 
A Hemoterapia no Brasil tinha legislação e normatização adequadas, 
porém ainda carecia de uma rígida fiscalização das atividades hemoterápicas e de uma 
política de sangue consistente. 
 
 
Até a Última Gota 
 
Em 1980 foi lançado o filme/documentário “Até a última gota” dirigido 
por Sérgio Rezende, sobre o comércio de sangue nos países do terceiro mundo. 
Inspirado na morte do operário Jucenil Navarro de Souza; que desempregado vendia 
sangue para comprar comida para a família e que morreu na porta de um supermercado 
logo após ter vendido sangue a uma casa de saúde em Caxias, no Rio de Janeiro. O 
filme conta com o depoimento da esposa de Jucenil, além de vendedores, compradores e 
autoridades e pessoas que lutam contra esta prática e recebeu diversos prêmios como o 
Prêmio de qualidade do Conecine, entre os 12 melhores filmes de 1980; e o prêmio 
especial do Júri no Festival de Gramado. 
 
A doação remunerada foi também temade versos de Chico Buarque de 
Holanda – que ao contar as aventuras de um típico malandro carioca, em “Vai Trabalhar, 
Vagabundo”, canta: "Passa o domingo no mangue, segunda-feira vazia, ganha no banco 
de sangue pra mais um dia". 
 
 
Assim, em meados da década de 70 e início da de 80, o Governo 
Federal começou a implantar o Programa Nacional do Sangue e Hemoderivados (Pró-
Sangue), estimulando a criação de hemocentros estaduais. Em novembro de 1977 foi 
inaugurado o Centro de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE), 
primeiro hemocentro do Brasil, construído com recursos dos Governos Estadual e 
Federal, e do Governo Francês. A este se seguiram outros nas principais cidades do 
País, tendo como diretrizes a doação voluntária não remunerada de sangue e medidas 
para segurança de doadores e receptores. 
 
Na mesma época a Sociedade Brasileira de Hematologia e 
Hemoterapia, iniciou uma cruzada por todo o País, que culminou em junho de 1980 com 
a extinção da doação remunerada de sangue no Brasil. 
 
Naquela ocasião, a estratégia para a obtenção do doador altruísta, a 
exemplo de países desenvolvidos, era conseguir o chamado doador de reposição 
(familiares e amigos dos pacientes) que eram sensibilizados e conscientizados para o ato 
de doar. Aquilo que parecia impossível aconteceu sem qualquer desabastecimento, que 
era o principal temor dos organizadores da campanha. O Brasil, que naquela época tinha 
80% de doação remunerada, passou a ter exclusivamente doadores voluntários. 
 
A década de 90 trouxe o fortalecimento da rede brasileira de 
hemocentros passando o governo a concentrar-se, a partir de 2000, na criação e 
implantação de um Sistema Brasileiro de Hemovigilância. Iniciado na área de Sangue, 
outros Tecidos, Células da Anvisa – Agência de Vigilância Sanitária, com a proposta de 
alcançar todos os serviços de hemoterapia e de saúde que realizam transfusão e 
procedimentos integrantes do processo do ciclo de sangue no País. 
 
Em 2002, a regulamentação do artigo 199 da constituição de 1988, que 
dispunha sobre a participação da iniciativa privada no sistema de saúde e 
comercialização de sangue, entre outros, foi finalmente aprovada, ficando proibida a 
doação remunerada de sangue. 
 
Segundo dados da Anvisa, o Brasil possui hoje cerca de 1,8% de 
doadores de sangue, sendo 50% destes doadores altruístas (doam sem saber para 
quem) e 50% de reposição. 
 
2.2. A história do Voluntariado na Doação de Sangue no Brasil 
Os primeiros registros de atividades voluntárias na promoção da doação 
de sangue pertencem à Cruz Vermelha, organização a que Leonora Carlota Osório, se 
filiou inicialmente, assumindo como bandeira o combate ao comércio de sangue e o 
incentivo à doação voluntária e altruísta de sangue, após chegar ao Brasil em 1939. 
 
Na década de 50, foi fundada a Associação de Doadores Voluntários do 
Brasil, cuja primeira presidente foi Nair Aranha. 
 
No início dos anos 60, Carlota Osório, fundou a Associação Brasileira 
de Doadores Voluntários de Sangue (ABDVS), para combater o comércio de sangue e 
divulgar a doação voluntária. Em 1964, o então presidente Castello Branco, proclamou 
em homenagem a organização e seu trabalho, o dia 25 de Novembro (data da fundação 
da ABDVS) como o “Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue”. 
 
 
"Procure um banco de sangue público: nós doamos o sangue 
que você doou". 
 
Foi o slogan criado por Carlota Osório para combater a doação 
remunerada do sangue, que comparava os serviços públicos com os privados 
existentes na época. 
Atualmente, tanto bancos públicos como privados trabalham com a 
doação voluntária e fornecem gratuitamente o sangue para seus pacientes. 
 
 
Por seu importante trabalho, Carlota Osório, foi condecorada em 30 
países e, no 11o. Congresso da FIODS (Federação Internacional das Organizações 
de Doadores Voluntários de Sangue) que aconteceu no Rio de Janeiro, recebeu o 
título de presidente de honra, atuando de 1984 a 1987. 
 
Em 1997, Márcia Tedesco Dal Secco e Maria Ivone Carraro de 
Mendonça convocaram antigas voluntárias da ABDVS e participantes do Clube de 
Serviço da Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo para criarem a 
Associação Brasileira de Voluntários de Sangue (ABVS) que após dois anos de 
atividades na Fundação Pró-sangue tornou-se uma Associação independente, ligada 
a FIODS, e com o objetivo de promover a doação de sangue em todo o país. 
 
Em 2000, a ABVS organizou a Assembleia Geral da FIODS em São 
Paulo reunindo representantes de organizações de doadores de diversos países e 
aproveitou o momento para homenagear a Leonora Carlota Osório, acrescentando 
seu nome ao da associação. 
 
Passados 07 anos e com o surgimento de outras associações de 
voluntários do sangue no Brasil, assim como de Clube de Doadores. A Voluntários do 
Sangue decidiu reestruturar sua atuação de forma estabelecer uma rede para a 
causa da doação de sangue, conforme solicitado pela própria FIODS. Buscando unir 
doadores, voluntários e organizações na criação de uma Federação Brasileira, sendo 
o primeiro passo dado nessa direção a organização do 2o. Encontro Latino 
Americano de Organizações de doadores de Sangue da FIODS, em Fevereiro de 
2007. 
 
Entretanto, devido à falta de estrutura e apoio o projeto “Corrente 
Sanguínea” que previa a criação de Clubes de Doadores e Voluntários do Sangue 
em parceria com Hemocentros e Bancos de Sangue, em todo o Brasil; a realização 
de eventos para o fortalecimento da causa e a comemoração do “Dia Mundial do 
Doador de Sangue” (14 de junho); não chegou a sair do papel. E em 2009, a ABVS 
encerrou juridicamente suas atividades. 
 
No entanto, aqueles apaixonados pela causa da doação de sangue 
nunca deixaram de acreditar que um dia a segurança transfusional por meio de 
doações voluntárias será realidade no Brasil. Este livro é a prova disto. 
 
Estrutura e participação voluntária 
 
Hoje a estrutura da coleta de sangue no Brasil é composta por uma 
rede de hemocentros públicos responsáveis pelo abastecimento de sangue nos 
hospitais públicos e alguns particulares e de diversos Bancos de Sangue privados 
ligados a hospitais particulares, responsáveis por abastecê-los. 
 
Essa rede se reporta a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária, que é o órgão do Governo, responsável por estabelecer os padrões 
nacionais para a doação de sangue, assim como fiscalizar o cumprimento das 
mesmas. 
 
A coleta e a análise do sangue são de responsabilidade dos 
hemocentros e dos bancos de sangue. E são normalmente realizadas dentro das 
dependências dos mesmos, embora a coleta possa acontecer em locais diversos 
como escolas, empresas, igrejas, etc. A esse tipo de coleta dá-se o nome de “coleta 
externa”. 
 
De forma a cuidar dos interesses dos doadores e promover a 
doação de sangue voluntária existem diversas organizações de voluntários e clubes de 
doadores que atuam localmente. Muitos hemocentros e bancos de sangue possuem 
também uma área própria de captação para cumprir com estes fins. 
 
 
 
A FIODS – Federação Internacional das Organizações de Doadores 
de Sangue, tem como principal objetivo promover em todos os países do mundo a 
doação voluntária, anônima e regular de sangue. 
 
 
No Brasil, a hemoterapia começou a ser utilizada no início da 
década de 40, com a criação do primeiro Banco de Sangue em Porto Alegre, seguido de 
Pernambuco e Rio de Janeiro. Dispersos entre si, esses primeiros serviços praticavam 
uma hemoterapia rudimentar. Em 1950, profissionais da área se mobilizaram criando 
organizações com o propósito de contribuir para o desenvolvimento da hematologia e da 
hemoterapia brasileira, mas, mesmo assim, a baixa qualidade dos procedimentos 
laboratoriais e transfusionais, a deficiência da tecnologia e de pessoal tecnicamente 
qualificado em todos os níveis era indiscutível. As doações eram remuneradas, com 
predominância dedoadores de baixa renda; também não havia uniformização nos 
procedimentos e a produção era insignificante, não atendendo a demanda. À época não 
havia política governamental, diretrizes e recursos orçamentários (CAIRUTAS, 2001). 
 
Em 1949, a recém-organizada Associação de Doadores Voluntários 
de Sangue do Rio de Janeiro (tornando-se posteriormente nacional) se contrapunha à 
remuneração de doadores, prática que já era utilizada pelos recém-criados serviços de 
hemoterapia. Desde que o uso do sangue e seus derivados se difundiu como recurso 
terapêutico, o sangue humano passou a ter um valor de mercado, contrapondo à idéia do 
sangue doado, expressão de altruísmo, à do sangue coletado, fonte de lucro. Na época 
http://2.bp.blogspot.com/-ggqz_wNsr8U/T9Ps1u4uogI/AAAAAAAAFqM/KVpdB1AtwE4/s1600/Fiods_logo_eng.jpg
não parecia haver uma consciência da necessidade de uma política estatal para o setor 
hemoterápico (SANTOS; MORAES; COELHO, 1991). 
 
Em 1964 ocorreu um fato que marcou o setor hemoterápico 
brasileiro: o reconhecimento, por parte do governo, da necessidade de uma política que 
coordenasse as atividades hemoterápicas. Esta política aconteceu primeiramente através 
de uma legislação disciplinadora e, em 1980, deu origem a um programa de intervenção 
direta: o Pró-sangue (Programa Nacional de Sangue e Hemoderivados). Até então, a 
“doação remunerada” sempre foi combatida, mas nunca proibida legalmente. A doação 
voluntária, altruísta, embora destacada em princípio nas leis e nos planos, nunca teve o 
incentivo de uma campanha contínua e geral. Entre os dois extremos, a expansão do 
sistema como um todo se baseou na doação “de reposição”, em que familiares e amigos 
dos pacientes são convocados a doar para esses que precisam de sangue (SANTOS; 
MORAES; COELHO, 1991). 
 
O Pró-sangue estabelecia uma organização do sistema 
hemoterápico do Brasil, criando hemocentros, tendo como direcionamento a doação 
voluntária não remunerada e medidas para segurança de doadores e receptores. 
Transformou-se, posteriormente, em Coordenação de Sangue e Hemoderivados, passou 
do Ministério da Saúde para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e 
atualmente voltou a ser um programa ministerial. As principais mudanças no sistema 
hemoterápico brasileiro ocorreram pelo advento da AIDS e por razões econômicas. O 
surgimento da AIDS introduziu novos procedimentos, tais como: a substituição da doação 
anônima pela personalizada, o incremento dos métodos de autotransfusão e a disciplina 
do uso do sangue, de seus componentes e seus derivados através da avaliação de 
riscos/custos/benefícios. A proibição da remuneração de doadores de sangue foi 
estabelecida pela Constituição Federal de 1988, regulamentada pela lei nº 10.205 de 21 
de março de 2001 e mantida até os dias atuais (JUNQUEIRA; ROSENBLIT; 
HAMERSCHLAK, 2005). 
 
3- PRINCIPIOS DE HEMOTERAPIA 
 
 
A transfusão sanguínea constitui uma terapia essencial para preservar 
e salvar vidas. Não existem substitutos sintéticos que desempenhem todas as funções 
do sangue. Várias pesquisas são desenvolvidas na busca de opções para o sangue, 
contudo problemas relacionados à toxicidade, dificuldade de produção em larga escala 
e a falta de estudos clínicos em humanos, entre outros, limitam a utilização dessas 
alternativas na atualidade. De acordo com os dados do Ministério da Saúde (2008) são 
realizadas em torno de 3,1 milhões de coletas de sangue por ano no Brasil com 
perspectiva de crescimento na medida em que aumenta a população idosa, avança o 
acesso aos serviços e a complexidade da assistência à saúde, demandada em grande 
parte por procedimentos do tipo hemodiálise, transplantes, cirurgias de grande porte, 
tratamento de neoplasias e hemoglobinopatias (Cliquet,2007). 
O sangue e componentes enquanto terapia para manutenção e 
recuperação da saúde encerra enorme complexidade biológica, tanto pelas 
características genéticas, próprias de cada indivíduo, afetadas pelos seus modos e 
condições de vida, quanto pelos riscos inerentes à natureza do próprio produto, capaz de 
carrear agentes com potencial de transmissão de doenças ou infecções 
(riscointrínseco).Entretanto,osanguequandocriteriosamentecoletadoeproduzido, e a 
transfusão desde que bem avaliada e indicada possibilitam tratar os problemas de saúde 
com um mínimo de eventos adversos. 
 
A transfusão é um evento complexo e irreversível que propicia benefícios, 
mas também acarreta riscos potenciais. Na prática transfusional muitos fatores podem 
interferir no resultado esperado de uma transfusão implicando em uma relação 
benefício/custo desfavorável, onde o termo custo leva em consideração inclusive o 
óbito do receptor. Na categoria de complicações não infecciosas, por exemplo, a 
American Association of Blood Bank (2005) descreve dezenove reações adversas 
transfusionais, enquanto no Brasil são descritos dezessete (Anvisa, 2007). Para as 
reações tardias infecciosas destaca, por sua frequência e gravidade, Hepatites (B e C), 
HIV, HTLV, sífilis, malária e chagas (Anvisa, 2004). 
 
Atualmente, diversas estratégias como a implementação de testes 
laboratoriais cada vez mais sensíveis, inclusive a utilização de testes de biologia 
molecular, aliadas ao maior rigor na captação e seleção de doadores impactaram na 
redução da janela imunológica diminuindo consideravelmente o risco de adquirir 
doenças/infecções virais transmissíveis por transfusão de sangue (Schreiber, 1996). 
Segundo a OMS, considerando o risco de infecções transmissíveis por transfusão (TTI), 
o perfil ideal do doador de sangue é o voluntário (espontâneo), altruísta, não 
remunerado e de repetição. Além destes, a triagem clínico-epidemiológica de doador, 
triagem laboratorial de todas as bolsas de sangue, a garantia da qualidade dos 
processos são as bases para a redução do risco de TTI. Em nosso país, com relação à 
segurança transfusional, a inaptidão sorológica, em 1997, era de 16,51% sendo que em 
2000 encontra-se em torno de 8,3%, (CPNSH/MS,2008). 
 
No Brasil, como políticas públicas de segurança transfusional, dois marcos 
legais na década de 80 foram de grande relevância. A criação do Programa Nacional 
de Sangue e Hemoderivados – Pró-Sangue, instituído pela Portaria 07 de 30 de abril de 
1980, considerado divisor na área da hemoterapia brasileira, pois até então praticava a 
comercialização do sangue, remuneração do doador, e ainda havia excessiva 
quantidade de pequenos serviços, com qualidade duvidosa o que constituía em graves 
problemas, conforme apontado pelo relatório de Pierre Cazal em 1967, consultor da 
OMS. O Pró-Sangue tinha como objetivos estratégicos a doação voluntária não 
remunerada, a universalização do atendimento, a garantia da manutenção da qualidade 
dos hemocentros e produtos, o incentivo ao desenvolvimento de tecnologia nacional, a 
normalização da distribuição e a utilização do sangue e hemoderivados e ainda a 
fiscalização da atividade. 
 
O segundo marco legal relevante trata da proibição da comercialização do 
Sangue, Tecidos e Órgãos inscrita na Constituição Federal de 1988, regulamentada 
pela Lei 10205/2001, conhecida como a Lei do Betinho, Lei do Sangue ou Lei Sérgio 
Arouca. Estas conquistas são indiscutivelmente fruto de movimentos sociais, iniciados 
na década de 1970, pelo Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, e reflexos da 
profunda crise da área de hemoterapia em nível mundial e nacional, desencadeado 
pela emergência do HIV/AIDS, na década de 1980. 
 
Com o advento do HIV/AIDS, e quando finalmente ficou demonstrado que 
os retrovírus poderiam ser transmitidos pelo sangue, esforços resultaram na 
reestruturação da área de hemoterapia mundial, com fortes reflexos no Brasil. Em 
1998, no âmbito do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Governo 
Federal é lançada uma meta para o setor Saúde. Esta se constituiu na denominada 
Meta Mobilizadora Nacional– PMN, referenciada como "Sangue com Garantia de 
Qualidade em todo o seu Processo até 2003". Foi desdobrada em doze projetos, e 
estabeleceu um marco importante na estruturação e organização dos Serviços de 
Hemoterapia e de Vigilância Sanitária de Sangue e inclusive impulsionou a certificação 
dos Serviços de Hemoterapia (COSAH/MS, 1998). 
 
Ao final dos anos 1990, as ações de Vigilância Sanitária principalmente, 
no contexto da Reforma do Estado, levaram à criação da Agência Nacional de 
Vigilância Sanitária (ANVISA) com a missão de garantir a qualidade e segurança 
sanitária do de produtos, serviços e ambientes, dentre os quais o sangue seus 
componentes incluindo a participação na construção do acesso a esses produtos e 
serviços, o que trouxe perspectivas conjunturais favoráveis para o fortalecimento das 
práticas de Visa. 
 
No campo da Vigilância Sanitária o controle sanitário do sangue como 
função social do Estado, enquanto poder-dever tem se materializado na intensidade e 
atualização da produção de regulamentos técnicos, na fundamentação metodológica e 
sistematização dos resultados da inspeção, no licenciamento, na fiscalização, na 
instituição de controle laboratorial e na instituição da vigilância do pós-uso para garantir 
os interesses sanitários da coletividade. A normatização de atividade, de processo e do 
produto tem como princípio assegurar cumprimentos de padrões técnico-legais 
essenciais no controle dos riscos visando à segurança e qualidade dos produtos e dos 
serviços de hemoterapia. Por outro lado, as competências pela formulação da Política 
Nacional de Sangue e hemoderivados, coordenação, gestão, financiamento e 
normatização da Hemorrede Nacional dos Serviços de hemoterapia e assistência 
hemoterapia ficam a cargo da Coordenação Nacional de Sangue e hemoderivados da 
Secretaria de Atenção à Saúde. 
 
 
 
3.1. Seleção de doadores 
 
A seleção de doadores consiste em uma entrevista com o candidato à 
doação. Essa entrevista é realizada no dia da doação, em ambiente que garanta a 
privacidade e o sigilo das informações prestadas pelo doador. Nesse momento, o (a) 
triagista avaliará os antecedentes históricos e o estado atual de saúde do candidato à 
doação, para determinar se a coleta pode ser realizada sem causar-lhe prejuízo, e se a 
transfusão dos hemocomponentes, preparados a partir desta doação, podem vir a 
causar problemas aos receptores (BRASIL, 2004). 
 
Toda a entrevista e a decisão final do triagista é norteada pelo 
conhecimento prévio que esta profissional deve ter da Resolução da Diretoria 
Colegiada nº 153, de junho de 2004 (RDC no 153), que determina a regulamentação 
técnica para os procedimentos hemoterápicos, incluindo o ciclo do sangue, isto é, 
desde a triagem clínica, coleta, processamento, fracionamento, triagem sorológica, 
armazenamento e destino final do sangue e hemocomponentes. Nela constam todos os 
critérios objetivos para avaliação do doador (BRASIL, 2004). Acredito que não basta a 
triagista saber toda a normatização, se não tiver sua percepção aguçada em captar 
também o subjetivo que envolve este momento. Na triagem, é possível propiciar uma 
relação interpessoal triagista/doador, podendo gerar uma relação de confiança desde 
que o profissional tenha esta habilidade, ou seja, a preocupação em desenvolvê-la, 
percebendo o doador de modo integral, como ser humano que é, uma vez que a base 
do cuidar em enfermagem na hemoterapia assenta se em princípios, habilidades e 
atitudes pautadas na relação de ajuda e na comunicação. A experiência vivida pelo 
doador em todo o processo de doação deve ser positiva, pois em todas as etapas há 
alguma forma de interação social. 
 
 
3.2. Requisitos básicos para doação de sangue 
Na triagem de doadores, para a doação de Sangue deve se obedecer 
as normas nacionais e internacionais. O alto rigor no cumprimento dessas normas visa 
oferecer segurança e proteção ao receptor e ao doador. 
Abaixo estão listados os requisitos básicos e alguns dos principais 
impedimentos temporários e definitivos para doação de sangue. No entanto, esta lista 
não esgota os motivos de impedimentos para doação, de forma que outras 
informações prestadas pelo doador durante a triagem clínica serão consideradas para 
definir se está apto para doar sangue nesse momento 
 
Requisitos básicos 
 
 Estar em boas condições de saúde. 
 Ter entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 
anos (menores de 18 anos, clique para ver documentos necessários e formulário de 
autorização). 
 Pesar no mínimo 50kg. 
 Estar descansado (ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas). 
 Estar alimentado (evitar alimentação gordurosa nas 4 horas que antecedem 
a doação). 
 Apresentar documento original com foto recente, que permita a 
identificação do candidato, emitido por órgão oficial (Carteira de Identidade, Cartão de 
Identidade de Profissional Liberal, Carteira de Trabalho e Previdência Social). 
 
http://weboffice.macronetwork.com.br/uploads/pro_sangue/arquivos/Portaria%20n%C3%82%C2%BA%20158%20de%2004%20de%20fevereiro%20de%202016%20(Novo%20-%20Regulamento%20t%C3%83%C2%A9cnico%20de%20procedimentos%20hemoter%C3%83%C2%A1picos).pdf
http://weboffice.macronetwork.com.br/uploads/pro_sangue/arquivos/17_03_30%20-%20Menor%20de%20idade%20-%20documentos%20necess%C3%83%C2%A1rios%20mar17.pdf
http://weboffice.macronetwork.com.br/uploads/pro_sangue/arquivos/17_03_29%20-%20Autoriza%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20para%20Doa%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20de%20Sangue%20e%20Hemocomponentes%20por%20Menor%20de%20Idade.pdf
http://weboffice.macronetwork.com.br/uploads/pro_sangue/arquivos/17_03_29%20-%20Autoriza%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20para%20Doa%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20de%20Sangue%20e%20Hemocomponentes%20por%20Menor%20de%20Idade.pdf
Impedimentos temporários 
 
 Resfriado: aguardar 7 dias após desaparecimento dos sintomas. 
 Gravidez 
 90 dias após parto normal e 180 dias após cesariana. 
 Amamentação (se o parto ocorreu há menos de 12 meses). 
 Ingestão de bebida alcoólica nas 12 horas que antecedem a doação. 
 Tatuagem / maquiagem definitiva nos últimos 12 meses. 
 Situações nas quais há maior risco de adquirir doenças sexualmente 
transmissíveis: aguardar 12 meses. 
 Qualquer procedimento endoscópico (endoscopia digestiva alta, 
colonoscopia, rinoscopia etc.): aguardar 6 meses. 
 Extração dentária (verificar uso de medicação) ou tratamento de canal 
(verificar medicação): por 7 dias. 
 Cirurgia odontológica com anestesia geral: por 4 semanas. 
 Acupuntura: se realizada com material descartável: 24 horas; se realizada 
com laser ou sementes: apto; se realizada com material sem condições de avaliação: 
aguardar 12 meses. 
 Vacina contra gripe: por 48 horas. 
 Herpes labial ou genital: apto após desaparecimento total das lesões. 
 Herpes Zoster: apto após 6 meses da cura (vírus Varicella Zoster). 
 Brasil: estados como Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, 
Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins são locais onde há alta prevalência de 
malária. Quem esteve nesses estados deve aguardar 12 meses para doar, após o 
retorno. 
 EUA: quem esteve nesse país deve aguardar 30 dias para doar, após o 
retorno. 
 Europa: quem morou na Europa após 1980, verificar aptidão para doação 
no HEMOCENTRO MAIS PRÓXIMO 
 Viagens internacionais: quem esteve em países com alta prevalência de 
malária deve aguardar 12 meses após o retorno, para doar. 
 Febre Amarela: quem esteve em região onde há surto da doença deve 
aguardar 30 dias para doar, após o retorno; se tomou a vacina, deve aguardar 04 
semanas; se contraiu a doença, deve aguardar 6 meses após recuperação completa 
(clínica e laboratorial). Detalhes dos locais podem ser vistos no Portal da Saúde. 
 
Impedimentos definitivos 
 
 Hepatite após os 11 anos de idade. 
 Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças infecciosas 
transmissíveispelo sangue: Hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas 
aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas. 
 Uso de drogas ilícitas injetáveis. 
 Malária. 
 * Hepatite após o 11º aniversário: Recusa Definitiva; Hepatite B ou C após 
ou antes dos 10 anos: Recusa definitiva; Hepatite por Medicamento: apto após a cura 
e avaliado clinicamente; Hepatite viral (A): após os 11 anos de idade, se trouxer o 
exame do diagnóstico da doença, será avaliado pelo médico da triagem. 
 
 
 Respeitar os intervalos para doação 
 
 Homens - 60 dias (máximo de 04 doações nos últimos 12 meses). 
 Mulheres - 90 dias (máximo de 03 doações nos últimos 12 meses). 
 
Honestidade também salva vidas. 
 
Ao doar sangue, seja sincero na entrevista. 
 
 
 
3.3. Colheita 
 
Relacionam-se a seguir requisitos adicionais para um sistema de 
coleta de sangue para a doação: 
 
• Equipamento: 
 
 - Todo o equipamento usado na coleta de sangue para doação deve 
ser regularmente calibrado, verificado e mantido, conforme seja necessário. Esse 
equipamento inclui monitores de pressão arterial, balanças, sofás ou cadeiras para os 
doadores, monitores de coleta do sangue ou misturadores, selantes de tubos de 
bolsas de sangue, caixas para transporte de sangue e refrigeradores de banco de 
sangue. 
 
 - O mobiliário e o equipamento da área da doação e processamento 
de sangue devem ter superfícies desinfetáveis (por exemplo, vinil em vez de tecido). O 
vasilhame usado para transportar material e espécimes também deve ser passível de 
limpeza por desinfetantes tais como soluções de alvejante de hipoclorito de sódio. Os 
invólucros de tecido ou têxteis devem ser laváveis a máquina. 
 
- Deve ser usado um sistema fechado de coleta com uma bolsa estéril 
para colheita de sangue contendo anticoagulante e com tubo e agulha integrada. 
Algumas bolsas incluem compartimentos para segregar os primeiros 20 ml de sangue 
coletado, a fim de minimizar a contaminação por flora cutânea e caroço cutâneo[50]. 
Se for colhido sangue para teste de hemoglobina por punção capilar, deve-se usar 
uma lanceta estéril de uso único, que é imediatamente posta num receptáculo de 
segurança. 
 
• Local: 
 
 - Os locais devem ter tamanho suficiente para operações eficientes, 
com áreas separadas para processos limpos e sujos, água corrente limpa e superfícies 
que podem ser limpas com desinfetantes. 
 - O chão não deve ser atapetado. 
 - As salas de espera devem estar fora da área de coleta, para 
minimizar o risco de agentes patogênicos respiratórios para os trabalhadores. 
 - Todos os sítios fixos e móveis para doação de sangue devem ser 
seguros, limpos, higiênicos e organizados, bem como preencher padrões definidos de 
segurança ambiental. 
 - Os locais de doação devem ser organizados de uma forma capaz 
de garantir a segurança dos doadores de sangue, do pessoal e das unidades de 
sangue doadas, e de prevenir erros no processo de doação. 
 
Antes de uma doação de sangue 
 
 A OMS elaborou um conjunto de requisitos básicos para os serviços 
de transfusão de sangue, cobrindo os passos a serem dados antes da doação. 
 
 A doação de sangue deve ser voluntária; não deve envolver coação, 
coerção ou remuneração. Além disso, os possíveis doadores de sangue devem ser 
selecionados cuidadosamente, de acordo com os critérios nacionais para esse fim. 
 
Antes de uma pessoa doar sangue 
 
 • possível doador deve receber informação, aconselhamento e 
orientação sobre o processo da doação de sangue; 
• deve ser levantada uma história pertinente do doador, 
compreendendo saúde e comportamento de alto risco e incluindo: - histórico de 
mastectomia (o sangue deve ser tirado do braço do lado oposto ao da cirurgia) - 
medicação atual e recente ou infecções crônicas; - antecedentes de hemorragia 
prolongada ou diagnóstico de transtornos hemorrágicos no passado; - um histórico de 
doações anteriores, para assegurar que o período de espera seja respeitado; 
• deve ser feito um check-up físico preliminar do doador, incluindo 
peso, pressão arterial e sinais de infecção ou cicatrização em possíveis locais; 
• devem ser oferecidos os líquidos ao doador, para ajudar a reduzir o 
risco de desmaio após a doação de sangue; 
• a pessoa deve dar consentimento escrito informado, de acordo com 
as exigências nacionais. 
 
 
Orientação prática sobre venopuntura para doação de sangue 
 
Colheita de sangue 
 
Para colheita do sangue para doação, na medida em que seja 
relevante, e siga os seis passos adiante indicados. 
 
 Passo 1 – Identificar o doador e etiquetar a bolsa de coleta do 
sangue e os tubos de ensaio 
• Peça ao doador que declare seu nome completo. 
• Certifique-se de que: - a bolsa para colheita do sangue é do tipo 
correto; - as etiquetas da bolsa de coleta do sangue e todas as bolsas, tubos de 
amostras e registros de doadores a ela correspondentes têm o nome e o número 
correto do paciente; e 
• as informações da etiqueta se conferem com as do doador. 
 
 Passo 2 – Escolher a veia 
• lesões cutâneas ou cicatrizes. 
• Aplique um torniquete ou manguito de pressão arterial inflado a 40–
60 mm de Hg, para tornar a veia mais proeminente. 
• Peça ao doador que abra e feche a mão algumas vezes. 
• Uma vez selecionada a veia, solte o dispositivo de pressão ou 
torniquete, antes de preparar o local da pele. 
 • Selecione uma veia grande e firme, de preferência na fossa ante 
cubital, em uma área sem 
 
 Passo 3 – Desinfetar a epiderme 
• Se a área selecionada para a venopuntura estiver visivelmente sujo, 
lave-a com sabão e água e enxugue com toalhas de uso único. 
• Procedimento de um passo (recomendado – leva cerca de um 
minuto): - use um produto combinando gliconato de clorexidina a 2% e álcool 
isopropílico de 70%; - cubra toda a região e assegure que a área da epiderme esteja 
em contato com o desinfetante por pelo menos 30 segundos; e - deixe a área secar 
completamente ou por um mínimo de 30 segundos no relógio. 
• Procedimento em dois passos – Se não houver gliconato de 
clorexidina disponível em desinfetante de álcool isopropílico de 70%, desinfetar o local 
usando o seguinte procedimento em dois passos (leva cerca de dois minutos): 
 
- passo 1– use álcool isopropílico de 70%; - cubra toda a área e 
assegurar que a região da epiderme esteja em contato com o desinfetante por pelo 
menos 30 segundos; - deixe a área secar completamente (cerca de 30 segundos); 
 
- passo 2 – use tintura de iodo (mais eficaz que iodopovidona) ou 
clorexidina (2%); 
- cubra toda a área e certifique-se de que a região da epiderme estará 
em contato com o desinfetante por pelo menos 30 segundos; e 
 - deixe a área secar completamente (cerca de 30 segundos). 
• Seja qual for o procedimento usado, NÃO toque o sítio da 
venopuntura uma vez que a pele tenha sido desinfetada. 
 
 Venopuntura para doação de sangue: 
 
 Diretrizes da OMS para a tiragem de sangue: 
 Boas práticas em flebotomia 
 
Passo 4 – Fazer a venopuntura 
Pratique a venopuntura fazendo a agulha penetrar de uma forma 
suave e limpa, Leve em consideração os pontos dados abaixo, que são específicos 
para doação de sangue. 
• Em geral, use agulha de calibre 16, que é geralmente conectada à 
bolsa de coleta do sangue; caso seja disponível, prefere-se o uso de agulha retrátil ou 
agulha de segurança com protetor, mas tudo deve ser tirado ao fim do procedimento 
(conforme se descreve no passo 6, abaixo) em vez de reencapado. 
 • Peça ao doador que abra e feche o punho lentamente a cada 10–
12 segundos durante a colheita. 
• Remova o garrote quando o fluxo sanguíneo estiver estabelecido ou 
após 2 minutos, conforme o que ocorra primeiro. 
Passo 5 – Monitorar o doador e a unidade doada 
• Monitore estreitamente o doador e o sítio da punção durante todo o 
processo de doação; 
 – observe se há: - transpiração, palidez ou queixas de fraqueza que 
podemanteceder um desmaio; 
 - surgimento de hematoma no local da punção; 
 - mudanças no fluxo de sangue, que podem indicar movimento da 
agulha na veia, tornando necessário reposicioná-la. 
 • A aproximadamente cada 30 segundos durante a doação, misture 
suavemente o sangue coletado com o anticoagulante, manualmente ou por mistura 
mecânica contínua. 
 
 Passo 6 – Retirar a agulha e colher amostras 
• Corte a agulha usando uma tesoura estéril. 
• Colete amostras de sangue para exames de laboratório. 
 
 
Após uma doação de sangue 
 
 Atenção de findos doadores 
 
Uma vez colhido o sangue: 
 
• Peça ao doador que permaneça na cadeira e repouse por uns 
minutos. 
• Inspecione o sítio da venopuntura; se não estiver sangrando, 
aplique um curativo ao local; se estiver sangrando, aplique mais pressão. 
• Peça ao doador que se sente devagar e pergunte como se sente. 
• Antes que o doador deixe o local de doação, certifique-se de que 
pode manter-se de pé sem vertigem e sem queda da pressão arterial. 
• Ofereça o doador uma colação ligeira. 
 
 Unidade e amostras de sangue: 
 
• Transfira a unidade de sangue para um recipiente adequado para 
armazenagem, segundo os requisitos do centro de transfusão de sangue e do 
produto[55-58]. 
 • Assegure que as amostras de sangue coletadas sejam 
armazenadas e entregues ao laboratório com documentação completa, na temperatura 
recomendada e em recipiente estanque fechado. 
 
 
 
3.4. Tipagem 
 
 
O sistema sanguíneo ABO é o mais importante grupo sanguíneo na 
medicina transfusional. Atualmente, a determinação do tipo sanguíneo dos doadores de 
sangue é feita através de testes sorológicos rotineiros de laboratório, porém outros testes 
realizados com o DNA humano obtido de amostra de sangue, tornam-se complementos 
valiosos para a determinação correta do grupo sanguíneo do doador e do receptor, 
aumentando a segurança transfusional. 
O Sistema de grupo sanguíneo ABO foi o primeiro a ser descoberto por 
Karl Landsteiner no começo do século XX (1901) e, até hoje, continua sendo considerado 
o mais importante sistema de grupo sanguíneo na medicina transfusional. 
 Tem ainda relevância nos transplantes, em especial nos de medula 
óssea e renal, além de contribuir em estudos antropológicos. 
 
Os antígenos do sistema de grupo sanguíneo ABO não estão restritos 
apenas à membrana dos eritrócitos, podendo ser encontrados em outras células 
hematopoiéticas (linfócitos e plaquetas), assim como em uma grande variedade de 
células como as endoteliais, intestinais, sinusoidais, esplênicas, da medula óssea, da 
mucosa gástrica, das glândulas mamárias, além de secreções e excreções como saliva, 
leite e urina (Silberstein e Spitalnik, 1991). Os antígenos ABO são oligossacárides 
gerados em um processo que envolve a atividade de enzimas específicas chamadas 
glicosiltransferases que são codificadas pelo gene H no cromossomo 19 e pelo gene 
ABO no cromossomo 9 (Lowe, 1993). O produto do gene H é uma enzima, a 
fucosiltransferase, que adiciona especificamente fucose à galactose terminal de uma 
substância precursora, formando a substância H. 
 
As enzimas A (a1-3 N-acetilgalactosaminiltransferase) ou B (a 1-3 
N- galactosiltransferase) convertem o substrato H em antígeno A ou B, 
respectivamente (Larsen et al., 1990; Clausen et al., 1990; Yamamoto e Hakomori, 
1990; Martinko et al., 1993; Yamamoto e Mac Neill, 1996). As transferases A e B são 
estruturas com alto grau de homologia entre si e a sua especificidade é determinada 
pelos aminoácidos localizados próximos ao sítio de ligação entre o substrato H e os 
Gal ß1-4 Glc 
NAc 
ß1-3 Gal ß1-4 Glc 
Gal a1-3 Gal ß1-4 Glc 
NAc 
ß1-3 Gal ß1-4 Glc 
a1-2 
Fuc 
Gal 
Fuc 
Gal 
NAc 
a1-3 Gal ß1-4 Glc 
NAc 
ß1-3 Gal ß1-4 Glc 
a1-2 
Fuc 
Gal Glc 
 
Glc 
NAc 
açúcares receptores (Olsson e Chester, 2001) (Figura 1). 
O grupo sanguíneo AB apresenta atividade das duas transferases 
(A e B), enquanto que o grupo sanguíneo O não tem transferases A e B, não 
convertendo a substância H em antígenos A e B, e portanto, tem quantidades 
abundantes de antígeno H na superfície dos eritrócitos. 
 
 
 
ß1-1 Ceramídeo 
 
 
 
 ß1-4 ß1-3 ß1-4 
 
 
a1-2 
 
 
 
 
ß1-1 
Ceramídeo 
 
 
 
 
 
 
 
 
ß1-1 Ceramídeo 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Estruturas bioquímicas dos antígenos eritrocitários humanos do sistema de grupo 
sangüíneo ABO (Schenkel-Brunner, 2000). 
 
Os genes H e Se/se (secretor) estão localizados no cromossomo 
19 (Lowe, 1993; Daniels, 2005), e são herdados independentemente dos genes 
alélicos A, B, e O, que estão localizados no braço longo do cromossomo 9 (9q34.1-
34.2) (Larsen et al., 1990; Anstee e Mallison, 1994; Watkins et al., 1998). O gene H 
produz substância H, sobre a qual ocorre a ação de glicosiltransferases específicas. 
O gene H é expresso tanto no estado homozigoto (H/H) como no heterozigoto (H/h). 
Neolacto tetra osil ceramídeo (Paraglobosídeo) 
 
Substância H 
Substância A 
Substância B 
ß1-1 Ceramídeo 
 
 
hh 
 
A e B 
 
BB ou BO 
OO 
O gene hh é extremamente raro, e nessa situação nenhuma substância H é 
produzida, sendo este fenótipo chamado de Bombay (Oh) (Watkins et al., 1998). 
 
O gene Se, chamado secretor, controla a secreção de 
substâncias solúveis A, B e H. Cerca de 80% da população caucasóide é 
constituída de indivíduos secretores. A presença de Se e se determinam presença 
ou ausência de substância H nas secreções (Mollison e Engelfriet, 1997) (Figura 
2). 
 
genes substância genes substância 
 
HH AA ou AO A 
Hh H 
A e B 
 
B 
Substância 
precursora H 
 
 
substância precursora 
(fenótipo Bombay) 
 
 
 
Figura 2: Biossíntese dos antígenos do sistema de grupo sanguíneo ABO, e H nos eritrócitos 
humanos. 
 
A expressão dos antígenos ABO varia conforme a faixa etária, não 
sendo completa no período neonatal, alcançando somente a expressão plena ao 
redor de 2 a 4 anos de idade (Mollison e Engelfriet, 1997). Algumas doenças como a 
leucemia aguda, também podem alterar a expressão fenotípica dos antígenos do 
sistema de grupo sanguíneo ABO, devido a diversos mecanismos moleculares, que 
podem resultar em redução das transferases A e/ou B, e consequentemente 
diminuição da expressão dos antígenos A e B, dificultando a interpretação dos 
resultados de tipagem ABO (Reid e Bird, 1990; Bianco et al., 2001). 
 
A frequência populacional dos antígenos do sistema de grupo 
sanguíneo ABO varia em diferentes populações, sendo importante ressaltar que 
estudos realizados em indígenas da América do Sul, demonstraram que a totalidade 
pertence ao grupo sanguíneo O (Matson et al., 1970), enquanto que em indianos, 
chineses e em negros, o grupo sanguíneo B é muito mais frequente do que em 
brancos (Reed, 1968; Grunnet et al., 1997; Cho et al., 2005; Deng et al., 2005; Yip et 
al., 2006). 
 
Na classificação ABO determinada sorologicamente, diferentes 
níveis de expressão do antígeno A ou B nos eritrócitos podem ser encontrados, 
sendo chamados de subgrupos de A ou subgrupos de B. A classificação desses 
subgrupos é baseada nos seguintes critérios: intensidade de aglutinação com soros 
anti-A, anti-B, anti-AB e anti-H, presença ou ausência de anticorpos contra antígenos 
ABO e presença ou ausência de substância A e/ou B na saliva. Os dois principais 
subgrupos de A são A1 e A2 que são diferenciados sorologicamente, pela reatividade 
das hemácias a serem testadas contra lectina anti-A1 e nos indivíduos secretores, 
pela presença ou não do antígeno A na saliva (Bird, 1952). Os testes para 
identificação de substância A, B e H na saliva são importantes na classificação de 
subgrupos de sistema de grupo sangüíneo ABO (Denomme et al., 2000) (Tabela 1). 
 
As hemácias de aproximadamente 80% dos indivíduos A e AB são 
classificadas sorologicamente como A1 e A1B. As restantes, 19% são A2 e A2B e 
raramente, de outros subgrupos de A que não o A2.Apenas 1% do total de 
subgrupos de A não são A2 ou A2B, (A3, A3B, Am, Ax, Ael) (Salmon et al., 1984; 
Yamamoto et al., 1992; Yamamoto et al., 1993a, b, c, d; Olsson e Chester, 1995; 
Ogasawara et al., 1996; Hansen et al., 1998; Ogasawara et al., 1998). 
 
De modo similar, existem subgrupos de B determinados 
sorologicamente (B3, Bx, Bm, Bel), porém muito raros. Os subgrupos de A e subgrupos 
de B, resultam de mutações da estrutura do gene da glicosiltransferase (Yamamoto, 
1995; Yamamoto, et al., 1995; Yu et al., 2002). 
 
 
Tabela 1: Interpretação de subgrupos sanguíneos do sistema ABO 
 
 
 
Reação das hemácias com anti-soros Reações dos soro e/ou plasma com hemácias-teste 
 
FENÓTIPO 
Soro 
Anti-A 
Soro 
Anti-B 
Soro 
Anti-AB 
Lectina 
Anti-H 
Lectina 
Anti-A1 
He 
A1 
He 
A2 
He 
B 
He 
0 
Saliva do 
secretor 
A1 4+ 0 4+ 0 4+ 0 0 4+ 0 A e H 
Aint 4+ 0 4+ 3+ 2+ 0 0 4+ 0 A e H 
A2 4+ 0 4+ 2+ 0 ** 0 4+ 0 A e H 
A3 2+CM 0 2+CM 3+ 0 ** 0 4+ 0 A e H 
Am 0 / + - 0 0 / + - 4+ 0 0 0 4+ 0 A e H 
Ax 0 / + - 0 + / 2 + 4+ 0 2+ / 0 0 / + 4+ 0 H 
Ael 0 0 0 4+ 0 2+ / 0 0 4+ 0 H 
B 0 4+ 4+ 0 -- 4+ 4+ 0 0 B e H 
B3 0 + /CM 2+ /CM 4+ -- 4+ 4+ 0 0 B e H 
Bm 0 0 0 / + - 4+ -- 4+ 4+ 0 0 B e H 
Bx 0 0 / + - 0 / 2+ 4+ -- 4+ 4+ 0 0 H 
 
 
Fonte: Vengelen-Tyler V.Technical Manual.14th ed.Bethesda,Maryland:American 
Association of Blood Banks. 
+ - = intensidade fraca de aglutinação CM = campo misto 
He = hemácia 
 
Os anticorpos anti-A e anti-B são produzidos geralmente após os 
primeiros meses de vida, com pico de produção dos 5 aos 10 anos de idade e com 
diminuição progressiva na velhice (Toivanen e Hirvonen, 1969). Os anticorpos anti-A 
e anti-B podem ser de natureza IgM ou IgG (Issitt e Anstee, 1998), causando 
aglutinação direta de forte intensidade quando testados com hemácias de grupo 
sanguíneo A e B respectivamente. Esses anticorpos são clinicamente significantes, 
podendo causar reações transfusionais hemolíticas graves se sangue incompatível 
for administrado. A maioria das reações transfusionais fatais são causadas pelo uso 
inadvertido de sangue ABO incompatível (Honing, 1980). Os anticorpos anti-A e anti-
B também podem causar doença hemolítica do recém-nascido com gravidade 
variável. 
 
A tipagem de rotina do sistema de grupo sanguíneo ABO, é 
realizada com o emprego de testes chamados de tipagem direta e reversa. Na 
tipagem direta, utiliza-se soros anti-A e anti-B para a determinação da presença ou 
ausência dos antígenos do sistema de grupo sanguíneo ABO. A tipagem reversa é 
realizada empregando-se reagentes constituídos por suspensão de hemácias 
classificadas como de grupo A1 e B para detecção sérica de anti-A e anti-B. A 
tipagem direta e reversa devem ser realizadas simultaneamente para a classificação 
do tipo sanguíneo ABO, uma vez que a incompatibilidade ABO pode ser fatal 
(Widman, 2005). 
 
Apesar de os anticorpos monoclonais anti-A e/ou anti-B 
reconhecerem e aglutinarem a maioria dos subgrupos sanguíneos ABO, a 
determinação daqueles que apresentam baixíssima expressão de antígenos é 
laboratorialmente trabalhosa (Novaretti et al., 2000; Olsson et al., 2001; Seltsam et 
al., 2005; Seltsam et al., 2006). Além de ser uma ferramenta independente no 
laboratório clínico, a genotipagem do sistema de grupo sanguíneo ABO pode ser 
usada para confirmar a presença de um antígeno de fraca expressão, como os dos 
subgrupos A e/ou B (Fischer et al., 1992; Olsson et al., 2001). Assim, podemos 
afirmar que a genotipagem do sistema de grupo sanguíneo ABO, é um complemento 
valioso à determinação correta do grupo sanguíneo do doador e do receptor (Fischer 
et al., 1992; Olsson e Chester, 1995; Zago et al., 1996; Olsson e Chester, 1996; 
Barjas- Castro e Saad, 1997; Pearson e Hessner, 1998; Barjas-Castro et al., 2000; 
Novaretti et al., 2000; Yip, 2000; Olsson et al., 2001; Batissoco et al., 2001). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.5. Fracionamento e armazém de hemoderivados. 
 
 
As terapias com sangue e seus componentes – hemoterapia – são 
práticas médicas adotadas em variados números de procedimentos médicos e em 
doenças, dentre as quais: doenças relacionadas ao sistema de coagulação, 
queimaduras, hipovolemias de causas traumáticas, cirurgias, implantes dentários entre 
outros (SOERENSEN, 1994; LORENZI, 1999; MATOS;ROZENFELD, 2005.; LAGUNAS, 
2006; SEKINE et al., 2008). 
 
 De acordo com o § 1º do art. 3º da Lei 10.205, de 21 de março de 
2001, que regulamenta o § 4º do art. 99 da Constituição Federal (CF) de 1988, a 
hemoterapia tem a seguinte definição: 
É uma especialidade médica, estruturada e 
subsidiária de diversas ações médico-sanitárias 
corretivas e preventivas de agravo ao bem estar 
individual e coletivo, integrando, indissoluvelmente, o 
processo de assistência à saúde (BRASIL, 2001a). 
 
 De forma didática e prática, com a finalidade de facilitar o 
entendimento, a hemoterapia pode ser dividida em duas partes: terapia com 
hemocomponentes e terapia com hemoderivados. Por definição da Resolução da 
Diretoria Colegiada (RDC) Nº 46/2000 editada pela Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária (Anvisa): 
 Hemocomponente é a parte de uma 
unidade de sangue total, separada da mesma por 
processos físicos (BRASIL, 2000). 
 
 Hemoderivados são produtos farmacêuticos 
obtidos a partir do plasma humano, submetidos a 
processos de industrialização e normatização que lhes 
conferem qualidade, estabilidade, atividade e 
especificidade (BRASIL, 2000). 
 
A produção de hemoderivados ganhou destaque a partir da década de 
40 com a técnica de precipitação alcóolica a frio desenvolvida por Cohn (CAIRUTAS, 
2001; AMORIN FILHO, 2013; CURLING; GOSS;BERTOLINE, 2013; MRB, 2014). 
Usando misturas etanol-água e controlando parâmetros como pH e temperatura, é 
possível separar as proteínas plasmáticas em frações distintas (CURLING; 
GOSS;BERTOLINE, 2013). Estas frações depois de separadas passarão por processos 
de purificação, inativação viral e formulação, dando assim origem aos medicamentos 
hemoderivados (Figura 1). 
 
 
 
 
 
Figura 1 - Processo de fracionamento do plasma sanguíneo pelo método de Cohn. Adaptado de Sakagami 
e Tsutani (SAKAGAMI;TSUTANI, 2014) 
 
 
Atualmente, outras técnicas de fracionamento das proteínas 
plasmáticas, como as cromatografias, também são utilizadas (AMORIN FILHO, 2013). 
Estes métodos são mais precisos e por isso têm como resultado um produto mais puro, 
entretanto, esta metodologia encarece o processo produtivo. Deste modo, a utilização de 
uma combinação de técnicas (precipitação alcóolica e cromatografias) é a escolha mais 
usual das indústrias farmacêuticas produtoras de hemoderivados (HETZL, 2013). 
 
3.5.1. PROCESSO FABRIL DOS HEMODERIVADOS 
 
Matéria Prima O sangue é composto basicamente por: células 
vermelhas, células brancas, plaquetas que é a parte celular, e plasma, que é parte líquida 
do sangue, conforme pode ser observado na Figura 2 (LORENZI, 1999; FMH, 2008a). 
Para a produção de medicamentos hemoderivados é utilizado o plasma (BRASIL, 2000; 
ADATI, 2006). 
 
 
Figura 2 - Composição do sangue total até a as proteínas de coagulação 
Adaptado de Cairutas (CAIRUTAS, 2001) e Federação Mundial de Hemofilia (FMH, 2008a). 
De acordo a legislação brasileira vigente, apenas o plasma 
excedente das doações voluntárias dos hemocentros brasileiros poderão ser 
destinados à indústria farmacêutica para a elaboração dos medicamentos derivados do 
sangue (BRASIL, 2001a, 2013a). Do momento da obtenção do plasma para a indústria 
produtora dos medicamentos hemoderivados, este passa por inúmeros processos e 
etapas que vão da seleção do doador até a preparação para a indústria - Figura 3 - 
(BRASIL, 2001b; ADATI, 2006; BRASIL, 2014; SAKAGAMI;TSUTANI, 2014). 
 
 
Figura 3 - Ciclo do sangue para a produção de Hemoderivados 
Adaptado do manual de hemovigilância (BRASIL, 2007) 
 
Toda doação de sangue noBrasil deve ter o caráter voluntário, 
altruísta e não remunerada, ou seja, nenhum doador de sangue poderá ser 
remunerado direta ou indiretamente (BRASIL, 1988, 2001a, 2001b, 2013a, 2014), 
criando em torno dos medicamentos hemoderivados uma esfera ético-social 
(SOARES, 2002). 
 
 
 Além deste fato, a seleção do doador tem critérios fundamentados 
para a proteção do receptor dos componentes e derivados deste sangue (BRASIL, 
2001b, 2013a). 
 
O sangue coletado é rigorosamente avaliado antes de ser liberado 
para transfusões e ou destinado à indústria de hemoderivados. Todo o sangue 
coletado nos hemocentros deve ser analisado em laboratório próprio para este fim 
(ADATI, 2006; ANDRADE, 2009.). 
 
A legislação sanitária da Anvisa, a RDC 34/2014 (BRASIL, 2014) 
determina que o sangue doado deve ser submetido a análise laboratorial de alta 
sensibilidade, com a finalidade de triagem e de detecção de marcadores de doenças 
infecciosas transmissíveis pelo sangue, conforme Tabela 1. 
 
O sangue coletado, após passar por todas as etapas de triagem e 
testes, é considerado apto para ser utilizado nos serviços de hemoterapia, seja em 
sua forma total ou em na forma do separada de seus componentes. O plasma 
excedente, ou seja, o que não foi utilizado em transfusões, é destinado à indústria 
para o fracionamento e purificação de suas proteínas com valor terapêutico e 
posterior manufatura dos medicamentos derivados do sangue, hemoderivados 
(BRASIL, 2007, 2013a). 
 
Na Farmacopeia Brasileira (FB) 5ª edição, o plasma destinado à 
indústria farmacêutica para a produção de hemoderivados é denominado Plasma 
Humano para Fracionamento (BRASIL, 2010b). Este plasma é obtido pelo processo 
de separação física dos demais componentes do sangue total e subsequente 
congelamento. Para a preservação de todas as suas proteínas, este plasma deve 
ser resfriado rapidamente e congelado em até 24 horas após a coleta a uma 
temperatura igual ou inferior à 25ºC negativos (BRASIL, 2010b). O Plasma Humano 
para Fracionamento é destinado exclusivamente à produção de hemoderivados 
(BRASIL, 2000). 
 
Contudo, de acordo com a RDC 46/2000, da Anvisa, existem outras 
classificações para o plasma. Estas classificações estão relacionadas à temperatura 
de congelamento, ao tempo entre a coleta do sangue e o congelamento e as 
Proteínas plamáticas que poderão dele ser obtidos (BRASIL, 
2000), conforme a Tabela 2. 
 
Tabela 1 - Testes necessários para o sangue doado conforme RDC 34/2014 - Anvisa 
 
TESTES OBSERVAÇÕES 
 
Tipagem do Sistema ABO 
É obrigatória a realização da prova direta e 
reversa. 
 
Tipagem do Sistema Rh (D) 
Quando a reação para a presença do antígeno 
Rh(D) resultar negativa, deve ser efetuada a 
pesquisa do antígeno D-fraco. 
Pesquisa de Anticorpos Antieritrocitários 
Irregulares (PAI) 
 
- 
 
Investigação da Hemoglobina S 
Deverá ser realizada pelo menos na primeira 
doação. 
 
Sífilis 
Um teste para detecção de anticorpo anti- 
treponema ou não-treponêmico. 
 
Doença de Chagas 
Um teste para detecção de anticorpo para anti- 
T. cruzi. 
 
 
Vírus da Hepatite B (HBV) 
Um teste para detecção do antígeno de 
superfície do vírus da hepatite B (HBsAg) e um 
teste para detecção do anticorpo contra o 
capsídeo do vírus da hepatite B (anti-HBV), com 
pesquisa de IgG ou IgG + IgM. 
 
 
Vírus da Hepatite C (HCV) 
Dois testes em paralelo: sendo um teste para 
detecção de anticorpo anti-HCV ou para 
detecção combinada de antígeno/anticorpo; e 
um teste para detecção de ácido nucleico do 
vírus HCV por técnica de biologia molecular. 
 
 
Vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida 
Tipo 1 (HIV1) e Tipo 2 (HIV2) 
Dois testes em paralelo: sendo um teste para 
detecção para anticorpo anti-HIV (que inclua a 
detecção do grupo O) ou um teste para 
detecção combinada de antígeno/anticorpo (que 
inclua a detecção do grupo O); e um teste para 
detecção de ácido nucleico do vírus HIV por 
técnica de biologia molecular. 
 
Vírus T-linfotrópicos Humano (HTLV) tipo I e II. 
Um teste para detecção de anticorpo anti-HTLV 
I/II. 
 
Malária 
Nas regiões endêmicas de malária com 
transmissão ativa deve ser realizada a detecção 
de plasmódio ou antígenos plasmodiais. 
 
Citomegalovírus (CMV) 
Deve ser realizado em todas as unidades de 
sangue destinadas a pacientes nas situações 
previstas pelo Ministério da Saúde (MS). 
 
Tabela 2 - Definições para o plasma conforme a RDC 46/2000 - Anvisa 
 
 
TIPOS DE PLASMA 
 
DEFINIÇÃO 
 
 
Plasma 
 
Porção líquida remanescente após separação 
física dos elementos celulares do sangue total, 
através de processos de sedimentação, 
centrifugação ou obtida por plasmaferese. 
 
 
Plasma Fresco 
 
Plasma obtido de uma unidade de sangue total, 
em sistema fechado, utilizado ou processado 
dentro do prazo máximo de 8 horas após a 
coleta do sangue. 
 
 
Plasma Fresco Congelado (PFC) 
 
Plasma fresco cujo processo de congelamento 
se completou em um prazo máximo de 8 horas 
após a coleta, devendo ser estocado a 
temperatura não superior a 20ºC negativos. 
 
 
 
Plasma Congelado 
 
Plasma obtido de uma unidade de sangue total, 
separado em sistema fechado, cujo processo de 
congelamento se completou em mais de 8 horas 
após a coleta, devendo ser estocado a 
temperatura não superior a 20ºC negativos. 
 
 
 
Plasma Remanescente 
 
Plasma obtido a partir de plasma fresco, plasma 
fresco congelado ou plasma congelado após a 
retirada do(s) componente(s), devendo ser 
recongelado e estocado em temperatura não 
superior a 20ºC negativos. 
 
 
 
Plasma Recuperado 
 
Plasma que não preenche os requisitos de 
plasma fresco, plasma fresco congelado, plasma 
congelado ou plasma remanescente e que se 
destina exclusivamente à produção de 
hemoderivados, devendo ser estocado a 
temperatura não superior a 20ºC negativos. 
 
Plasma Humano para Fracionamento 
 
Plasma destinado exclusivamente à produção de 
hemoderivados. 
3.5.2. Produção dos Hemoderivados 
 
 
O termo fracionamento é utilizado para denominar a fabricação de 
medicamentos hemoderivados utilizando-se de processos físicos e/ ou processos 
químicos a partir do plasma humano (BRASIL, 2000; WHO, 2005). A técnica de 
fracionamento do plasma consiste na separação das proteínas, sendo necessárias 
diversas etapas até ser obtido o medicamento pronto. Atualmente, mais de 20 
proteínas podem ser extraídas do plasma para fins terapêuticos (BURNOUF, 2007), 
sendo que as mais comumente utilizadas na fabricação dos medicamentos 
hemoderivados são: Albumina, Imunoglobulina, Fator VIII da Coagulação (FVIII), 
Fator de von Willebrand (FvW), Fator IX da Coagulação (FIX) e Complexo 
Protrombínico (FMH, 2008a; ANDRADE, 2009.). 
 
Na moderna indústria fracionadora de plasma, diversas técnicas de 
fracionamento e purificação são empregadas (BURNOUF, 2007). A técnica de 
escolha dependerá da proteína plasmática que se pretende extrair e da relação 
custo-benefício, entretanto, geralmente duas ou mais técnicas de produção são 
associadas. A Tabela 3 mostra os métodos típicos de purificação das proteínas 
plasmáticas. 
 
Tabela 3 - Métodos típicos de purificação das proteínas plasmáticas. 
 
 
Método 
 
Descrição 
 
Princípio de 
Separação 
 
Aplicação 
 
 
Crioprecipitação 
 
Descongelamento do 
plasma total a 1ºC até 
4ºC 
 
Diferença de 
solubilidade a baixa 
temperatura 
 
Precipitação de FVIII, 
FvW e fibrinogênio. 
 
 
Precipitação Etanólica 
 
Precipitação em etapas 
sucessivas com etanol, 
controle de pH e 
temperatura. 
 
Diferença de 
solubilidade ao etanol 
em baixas 
temperaturas 
 
Precipitação de 
fibrinogênio, IgG, α1- 
Antitripsina (AAT). 
 
 
Cromatografia de 
Troca Iônica 
 
Ligação da proteína ao 
sólido embalado dentro 
da coluna. 
 
Ligações iônicas 
devido a afinidade 
elétrica 
 
A maioria dos fatores 
da coagulação, 
inibidores de proteasee anticoagulantes. 
 
 
Cromatografia de 
Afinidade 
 
Ligação da proteína ao 
sólido embalado dentro 
da coluna. 
 
Ligações específicas 
de afinidade das 
proteínas por seu 
ligante. 
 
 
Antitrombina (AT), FIX 
e FvW. 
 
 
Imunoafinidade 
 
Ligação da proteína ao 
sólido embalado dentro 
da coluna. 
 
Ligação específica do 
tipo proteína-anticorpo 
 
 
FVIII, FIX e Proteína C. 
 
 
Cromatografia de 
Exclusão 
 
Transposição da 
proteína em meio ao 
sólido embalado dentro 
da coluna. 
 
Separação baseada 
nos diferentes pesos 
moleculares das 
proteínas 
 
 
ATT e FVIII 
 
 
Ultrafiltração 
 
Processo de 
fracionamento por 
membrana baseado na 
seleção da porosidade 
da mesma. 
 
Concentra a proteína 
de interesse e permite 
a remoção dos demais 
componentes 
 
 
Todos os produtos. 
 
 
Microfiltração 
 
Filtração em 
membrana de fluxo 
cruzado e em baixa 
pressão. 
 
Separação coloidal 
das partículas em 
suspensão no intervalo 
de 0,2 a 10µm 
 
 
Todos os produtos. 
 
Adaptado de Burnouf (BURNOUF, 2007). 
 
Albumina 
 
De acordo com More e Bulmer (MORE, J.;BULMER, 2013) a albumina 
plasmática tem como característica marcante a sua multifuncionalidade. Esta 
característica por eles descrita deve-se ao fato de que esta proteína plasmática 
participa de inúmeros processos fisiológicos, mostrados no Quadro 1. 
 
 
 
 
 
Quadro 1 - Principais funções fisiológicas da albumina 
Adaptado de More e Bulmer (MORE, J.;BULMER, 2013) 
 
 
 
Dentre os hemoderivados, a albumina é considerada o pioneiro destes 
medicamentos em escala industrial (FARRUGIA;CASSAR, 2012; AMORIN FILHO, 
2013; MORE, J.;BULMER, 2013). Grande parte deste pioneirismo deve-se ao fato 
da técnica de fracionamento alcoólico de Cohn, haja visto que a albumina possui alta 
 
 Manutenção da pressão oncótica do plasma; 
 
 Regulação do balanço ácido-base; 
 
 Ligação / transporte de substâncias endógenas, exógenas e drogas; 
 
 Proteção contra toxinas exógenas; 
 
 Influencia na coagulação sanguínea; 
 
 Manutenção da integridade microvascular e da 
permeabilidade capilar; 
 
 Propriedades antioxidantes; 
 
 Principal fonte extracelular dos grupos sulfidrila. 
 
solubilidade e ponto isoelétrico baixo, o que facilita sua separação (MORE, J. 
E.;HARVEY, 1991; AMORIN FILHO, 2013). 
 
A forma farmacêutica mais comumente empregada para a albumina é a 
solução. Caracterizando-se por líquido translúcido levemente amarelado podendo 
chegar a tons esverdeados (BRASIL, 2000; ADATI, 2006; MORE, J.;BULMER, 
2013). 
 
Atualmente, a produção da albumina envolve desde a técnica pioneira de 
Cohn chegando até técnicas mais modernas como as cromatográficas. Esta 
evolução, principalmente com a inclusão da cromatografia, proporcionou a obtenção 
de um produto mais puro além de permitir o aproveitamento de outras proteínas 
separadas durante o processo fabril (MORE, J. E.;HARVEY, 1991). Na Tabela 4 
pode ser observado como as técnicas de produção de albumina são variadas em 
diferentes países e produtores de albumina plasmática pelo mundo. 
 
 
Tabela 4 - Processos fabris de albumina humana. 
 
Tecnologia Processo Produtor 
Técnica Atualmente
 
Usada 
 
 
 
Fracionamento com 
Etanol 
 
Fracionamento Etanólico a 
Frio 
 
 
Fracionamento Etanólico a 
Frio Modificado 
Maioria dos 
Fracionadores Estado 
Unidenses e Europeus. 
 
Cruz Vermelha Suíça 
(ZLB), agora CSL 
Behring 
 
Método 6 de Cohn 
 
 
Método de Kistler e 
Nitschmann 
 
 
Processo 
Cromatográfico para 
Produção de Albumina 
Humana 
 
 
 
Pharmacia, agora GE 
Fracionamento etanólico 
nas etapas iniciais seguido 
de três cromatografias 
(aniônica, catiônica e 
exclusão). 
 
 
 
 
Cromatografia 
 
 
Fracionamento 
Cromatográfico de 
Plasma para Produção 
de Albumina 
 
 
 
CSL Bioplasma 
Processo desenvolvido 
pela Pharmacia: produção 
de albumina de propósito 
fácil e baseado em duas 
etapas de cromatografia 
aniônica e uma etapa de 
gel de filtração. 
 
Processo em Cascata de 
Cromatografia de 
Afinidade para 
Fracionamento das 
Proteínas do Plasma 
 
 
ProMetic 
 
 
Ligantes biomiméticos 
seletivos para albumina. 
 
 
 
Híbrido (fracionamento e 
cromatografia) 
 
Fracionamento etanólico 
convencional com 
cromatografia de troca 
iônica para polimento. 
 
 
 
Fracionamento a quente 
 
 
 
Bio Products Laboratory 
 
 
 
 
Não é conhecido se está 
em uso atualmente. 
Método de fracionamento 
de Kistler e Nitschmann 
seguido de diafiltração e 
cromatografia de troca 
iônica. 
 
Método de Scheider – 
Precipitação com ácido 
caprílico. 
 
 
 
 
Outros 
Precipitação com 
Polietilenoglicol (PEG). 
 
 
Precipitação com 
Rivanol / Sulfato de 
Amônio 
 
 
Etanol / Ácido 
Tricoloacético / 
Desnaturação a quente. 
Não é conhecido se está 
em uso atualmente. 
 
 
 
Behringwerke 
 
 
 
Institute Merieux (não é 
sabido se está em uso) 
Precipitação utilizando 
PEG 4000 
 
Processo de 
fracionamento utilizando 
Rivanol e sulfato de 
amônio (não é sabido se 
está em corrente uso) 
 
Purificação de albumina 
da placenta humana. 
 
 
 
Adaptado de More e Bulmer (MORE, J.;BULMER, 2013) 
 
Imunoglobulina 
 
As imunoglobulinas, também chamadas de anticorpos, são proteínas 
plamáticas produzidas pelas células linfocitárias do tipo B, com estrutura molecular 
formada por polipeptídios e carboidratos (LORENZI, 1999; CATALÃO, 2008; PRICE; 
GENEREUX; SINCLAIR, 2013; MRB, 2014). As imunoglobulinas podem ser 
divididas em classes e subclasses e esta divisão tem como base a estrutura 
molecular de cada uma, ou seja, de acordo com as cadeias peptídicas que as 
compõem elas podem ser das seguintes classes: Imunoglobulina A (IgA), 
Imunoglobulina D (IgD), Imunoglobulina E (IgE), Imunoglobulina G (IgG) e 
Imunoglobulina M (IgM) (BURTON; GREOGORY;JEFFERIS, 1986; LORENZI, 1999; 
PRICE; GENEREUX;SINCLAIR, 2013). 
 
As imunoglobulinas da classe G são as proteínas de interesse para a 
produção de hemoderivados devido ao fato de estas estarem relacionadas com a 
defesa humoral, além de terem concentração plasmática elevada e por possuírem 
um tempo de vida relativamente longo de três semanas (CATALÃO, 2008; FARIA; 
BATISTA;HENEINE, 2013). 
 
Por definição, a RDC nº 46/2000 – Anvisa, traz a relação de três 
apresentações principais para medicamentos hemoderivados, cujos ativos são 
imunoglobulinas (Tabela 5). 
 
Tabela 5 – Principais apresentações das Imunoglobulinas segundo a RDC nº 46/2000 
 
DENOMINAÇÃO CARACTERISTICA 
 
Imunoglobulina Normal de uso Intramuscular 
(IgGIM) 
 
Solução ou pó liofilizado estéril e apirogênico de 
gamaglobulinas contendo diversos anticorpos, 
principalmente da classe de imunoglobulina G 
(IgG), presente no plasma humano. 
Imunoglobulina Normal de uso Endovenoso 
(IgGIV) 
 
 
Imunoglobulina Específica 
Solução ou pó liofilizado estéril e apirogênico de 
gamaglobulinas que contém alta concentração 
de anticorpos específicos, derivados do plasma 
humano provenientes de indivíduos que foram 
previamente imunizados ou hiperimunizados. 
 
As imunoglobulinas têm inúmeras indicações clínicas como: 
imunodeficiências primárias, terapias de reposição, algumas imunodeficiências 
secundárias, processos inflamatórios crônicos, síndrome de Guillain-Barré, doença 
de Kawasaki, neuropatia multifocal motora, trombocitopenia púrpura em adultos e 
etc (FARRUGIA;CASSAR, 2012; BUCHARCHER;KAAR, 2013). Porém, muitos dos 
seus usos ainda não são aprovados pelas agências reguladoras 
(BUCHARCHER;KAAR, 2013). 
 
O hemoderivado imunoglobulina pode ser obtido por diferentes técnicas 
produtivas, desde a técnica de precipitação etanólica de Cohn até as técnicas mais 
modernas como as cromatográficas (BUCHARCHER;KAAR, 2013). 
 
 
 
Fator VIII da Coagulação (FVIII) 
 
O FVIII da coagulação é uma glicoproteína com peso molecular

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