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1 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – UMESP FACULDADE DE HUMANIDADE E DIREITO PROGRAMADE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO EMANUEL RUBENS DE CARVALHO DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA DA TEOLOGIA E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO SOLO PAULISTANO - Estudo da PIBSP. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2015 2 EMANUEL RUBENS DE CARVALHO DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA DA TEOLOGIA E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO SOLO PAULISTANO - Estudo da PIBSP. Dissertação apresentada à Universidade Metodista de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião, sob a orientação do Prof. Dr. Nicanor Lopes SÃO BERNARDO DO CAMPO 2015 3 FICHA CATALOGRÁFICA C253d Carvalho, Emanuel Rubens de Desenvolvimento e justiça na missão integral: uma análise crítica da presença da teologia e práxis da missão integral no solo paulistano-Estudo da PIBSP./ São Bernardo do Campo, 2015. 235fl. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) –Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. Bibliografia Orientação de: Nicanor Lopes 1.Igreja e problemas sociais2.Missão integral3. Justiça social – Aspectos religiosos4. Igreja Batista - Missões I. Título CDD 261.8 4 A dissertação de mestrado sob o título “DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA DA TEOLOGIA E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO SOLO PAULISTANO – Estudo da PIBSP.”, elaborada por Emanuel Rubens de Carvalho foi apresentada e aprovada em 17 de setembro de 2015, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Nicanor Lopes (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera (Totular/UMESP) e Prof. Dr. Lourenço Stélio Rega (Titular/ FTBSP). ___________________________________________________________ Professor Dr. Nicanor Lopes Orientador e Presidente da Banca Examinadora ___________________________________________________________ Professor Dr. Helmut Rendres Coordenador do Programa de Pós-Graduação Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Religião Sociedade e Cultura Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Sócio culturais 5 Ao Deus, Senhor e sustentador da minha vida. À minha amada esposa Jéssica Evelyn Papi Silva, motivadora e fiel companheira. À Igreja de Cristo. 6 “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem- aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.” Mateus 5. 6.-10 7 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por não ter desistido de mim, por me sustentar e capacitar, não só na realização deste trabalho, mas em toda a minha vida. Até aqui me ajudou o Senhor. À minha esposa, Jéssica Evelyn Papi Silva, por todo amor, compreensão, apoio e incentivo. Aos meus pais e irmãos, José Rubens de Carvalho, Maria Aparecida de Carvalho (pais), Juliana Rúbia de Carvalho e Mateus Alexandre de Carvalho (irmãos), por todo amor e cuidado que sempre tiveram comigo. À Igreja Batista do Ipiranga, na pessoa de seu pastor titular Nelson Pacheco, e todos os seus membros, por toda compreensão e incentivo durante todo o curso. À Primeira Igreja Batista de São Paulo, na pessoa de seu pastor titular Paulo Eduardo G. Vieira, e a todos os seus membros, por abrirem as portas da igreja para mim e por me receberem de uma forma extremamente fraterna e calorosa. Ao Prof. Nicanor Lopes por sua dedicação e excelência no processo de orientação. Ao Prof. Lourenço Stélio Rega, por aceitar meu convite. Ao pastor Irland P. Azevedo, pela amizade e pelas inúmeras horas de conversa. Agradeço-o por ser um referencial para mim, de amor e labor ao Senhor, à família, ao ministério e aos estudos. Ao meu sogro, Enéas Papi, e à minha sogra Márcia Papi, por todo apoio e compreensão. A todos que oraram por mim, e com palavras de motivação, abraços e gestos de cuidado, foram instrumentos de Deus para abençoar minha vida durante todo esse curso. A todos vocês minha eterna gratidão e reconhecimento. Obrigado! 8 CARVALHO, Emanuel Rubens. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL: uma análise crítica da presença da teologia e práxis da Missão Integral no solo paulistano - Estudo da PIBSP. 233p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião – Religião, Sociedade e Cultura) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2015 RESUMO No presente estudo sobre o tema: “Desenvolvimento e Justiça na Missão Integral: Uma análise crítica da presença da Teologia e Práxis da Missão Integral no Solo Paulistano” procura-se analisar a presença do conceito de desenvolvimento e justiça da Missão Integral no solo paulistano. Para tal análise tomou-se como sujeito de pesquisa a Primeira Igreja Batista de São Paulo. Esta dissertação foi desenvolvida no Programa de Pós- Graduação em Ciências da Religião, e pertence à linha de pesquisa “Religião, Sociedade e Cultura”. A metodologia adotada na coleta de dados foi de uma revisão bibliográfica e pesquisa de campo por meio de um roteiro de entrevista. Os questionamentos que nortearam a pesquisa foram: O que é desenvolvimento e Justiça na Missão Integral? É possível notar a presença desses conceitos na práxis e na teologia da Primeira Igreja Batista de São Paulo? Após uma análise da Missão Integral e da Igreja pesquisada, foi possível verificar as aproximações e distanciamentos, assim como hipóteses que justificassem esses fatos. No primeiro capítulo foi apresentada a Missão Integral, sua história, teologia e método. No segundo capítulo os conceitos de desenvolvimento e justiça foram trabalhados. O último capítulo apresentou a Primeira Igreja Batista de São Paulo; buscou estabelecer diálogo entre o conceito de Desenvolvimento e Justiça da Missão Integral e a teologia e práxis da Primeira Igreja Batista de São Paulo. Palavras-chave: Desenvolvimento, Justiça, Missão Integral, Contexto, PIBSP. 9 CARVALHO. Emanuel Rubens. Development and Justice in Integral Mission: A critical analysis of the presence of Theology and Praxis of Integral Mission on Paulistano Soil- Study about PIBSP. 233p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião – Religião, Sociedade e Cultura) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2015 ABSTRACT In the present study on the theme: "Development and Justice in Integral Mission: A critical analysis of the presence of Theology and Praxis of Integral Mission on PaulistanoSoil". I tried to analyze the presence of the concept of development and justice of Integral Mission on São Paulo soil, and for such analysis was taken as a research subject the First Baptist Church of São Paulo. This work was developed in the Post-Graduation Program in Religious Studies, and belongs to the line of research "Religion, Society and Culture". The methodology used in data collection was a bibliography review and field research through interviews. The questions that guided the research were: What is development and justice in Integral Mission? Is it posible to notice the presence of these concepts in thepractice and theology of the First Baptist Church of São Paulo?After an analysis of Integral Mission and the researched church, we found the similarities and differences, as well as assumptions that justify these facts. In the first chapter it was presented the Integral Mission, History, Theology, and Method. In the second chapter the concepts of development and justice were developed. The last chapter presented the First Baptist Church of Paulo, and sought to establish a dialogue between the concept of Development and Justice of Integral Mission and theology and praxis of First Baptist Church of São Paulo. Key words: Development, Justice, Integral Mission, context. PIBSP 10 Sumário Lista de Mapas ................................................................................................................ 12 Lista de Desenhos ........................................................................................................... 12 Listas de Tabelas ............................................................................................................ 12 Lista de Gráficos ............................................................................................................. 12 Lista de Quadros ............................................................................................................. 12 Abreviações .................................................................................................................... 14 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15 1. MISSÃO INTEGRAL ................................................................................................ 19 1.1. Sua trajetória histórica via suas vertentes formadoras ..................................... 19 1.1.1. As vertentes formadoras do protestantismo Norte-Americano ................ 19 1.1.2. A cisão do protestantismo norte-americano ............................................. 24 1.1.3. O movimento evangélico .......................................................................... 28 1.1.4. Evangélicos e evangelicais no Brasil ....................................................... 29 1.2. Sua trajetória histórica via Congressos ............................................................ 33 1.2.1. A origem dos CLADEse da Fraternidade Teológica Latino-Americana, e o CLADE I ................................................................................................................. 33 1.2.2. Segundo Congresso de Evangelização Mundial, em Lausanne .................... 34 1.2.3. CLADE II ...................................................................................................... 37 1.2.4. CLADE III..................................................................................................... 48 1.2.5. CLADE IV .................................................................................................... 51 1.2.6. CLADE V ...................................................................................................... 52 1.2.7. CLADEs: Continuidades e Novidades .......................................................... 55 1.3. Seu Método: O Círculo hermenêutico ................................................................. 59 1.4.Sua Máxima: As três totalidades .......................................................................... 62 2. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL ......................... 65 2.1. Desenvolvimento e Justiça ................................................................................... 65 2.1.1. A Justiça ........................................................................................................ 66 2.1.2. O Desenvolvimento ....................................................................................... 72 2.1.3. De quem é a responsabilidade de promover a justiça e o desenvolvimento? E como promovê-los?.............................................................................................. 77 2.2. Evangelização e Discipulado &Desenvolvimento e Justiça ............................ 82 2.2.1. Evangelização & Desenvolvimento e Justiça................................................ 83 2.2.2. Discipulado & Desenvolvimento e Justiça ................................................... 94 11 2.3. Colaboração e Unidade & Desenvolvimento e Justiça. ................................... 99 3. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NOS SOLOS PAULISTANOS: ENTRE CLAMORES E RESPOSTAS ...................................................................................... 105 3.1. O Contexto que clama por desenvolvimento e Justiça ...................................... 106 3.2. A Primeira Igreja Batista de São Paulo ............................................................. 114 3.2.1 O Passado ..................................................................................................... 115 3.2.2 O Presente da PIBSP .................................................................................... 117 3.3.A origem da Missão na PIBSP ........................................................................... 142 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 151 ANEXOS ...................................................................................................................... 160 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 231 12 Lista de Mapas MAPA 1 – MAPA HISTÓRICO VIA VERTENTES FORMADORAS DA M.I. ........................................................................................................ 32 MAPA 2- MAPA HISTÓRICO DA MISSÃO INTEGRAL VIA CONGRESSOS ..................................................................................... 58 Lista de Desenhos DESENHO 1 - CÍRCULO HERMENÊUTICO ............................................................. 61 DESENHO 2- ESTRUTURA DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO DA M.I. 77 Listas de Tabelas TABELA 1- TABELA DE DADOS DEMOGRÁFICOS DOS DISTRITOS PERTENCENTES À SUBPREFEITURA DO CENTRO (SÉ) ............................ 107 TABELA 2- QUANTIDADE E PORCENTAGEM DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA POR DISTRITO DA ÁREA CENTRAL ................................................... 112 Lista de Gráficos GRÁFICO 1 - PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS EM SITUAÇÃO DE RUA NA CIDADE DE SÃO PAULO EM 2011 POR REGIÃO ........................................ 112 GRÁFICO 2- O QUE É MISSÃO DA IGREJA PARA OS MEMBROS DA PIBSP? 120 GRÁFICO 3- O QUE É AÇÃO MISSIONÁRIA PARA OS MEMBROS DA PIBSP? ............................................................................................................................... 121 GRÁFICO 4- AS 4 AÇÕES MISSIONÁRIAS DA PIBSP MAIS CITADAS PELOS ENTREVISTADOS .............................................................................................. 127 GRÁFICO 5- AÇÕES MISSIONÁRIAS COM NÚMERO DE PARTICIPAÇÃO DOS ENTREVISTADOS .............................................................................................. 139 GRÁFICO 6- PARTICIPANTES QUE CONHECEM A M.I. .................................... 143 Lista de Quadros QUADRO 1- TEMPO DE MEMBRESIA DOS ENTREVISTADOS ....................... 118 QUADRO 2- AÇÕES DA PIBSP FRENTE AO CONCEITO DE LESSA ................ 125 QUADRO 3- PROBLEMAS SOCIAIS DA REGIÃO CENTRAL VISTOS PELOS PARTICIPANTES ................................................................................................ 130 QUADRO 4- ANÁLISE DOS AVISOS PUBLICADOS NOS BOLETINS ............... 135 file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/FINAl%202.docx%23_Toc426118747 file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/FINAl%202.docx%23_Toc426118747 file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/FINAl%202.docx%23_Toc426118748 file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/FINAl%202.docx%23_Toc426118748file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/dissertação/versão%20FINAL%20-%20corrigindo%201.docx%23_Toc424763986 13 QUADRO 5- RESPOSTAS SOBRE QUAIS AS AÇÕES MISSIONÁRIAS DE QUE PARTICIPARAM ................................................................................................. 137 QUADRO 6- CONHECIMENTO DOS PARTICIPANTES DA M.I. POR ANOS DE IDADE .................................................................................................................. 143 QUADRO 7- COMPARAÇÃO ENTRE A METODOLOGIA DA M.I. E A DA TDL ............................................................................................................................... 149 14 Abreviações PIBSP Primeira Igreja Batista de São Paulo M.E. Movimento Evangélico M.I. Missão Integral TdL Teologia da Libertação CLADE Congresso Latino-Americano de Evangelização COMIN PL Conselho Missionário Internacional Pacto de Lausanne 15 INTRODUÇÃO Em uma das maiores cidades do mundo, possuidora do maior mercado financeiro do Brasil, encontram-se também os maiores contrastes e problemas sociais do país. Estes fatos dão à Cidade de São Paulo o título de “a cidade que não dorme”, quando os assuntos são trabalho, lazer e consumo. E de “a cidade que ainda desperta” em se tratando de justiça aos injustiçados, e de desenvolvimento dos oprimidos. Frente a esse contexto, pergunta-se se a Igreja teria alguma contribuição para transformar essa realidade, se frente a essa convulsão social a sua melhor postura seria ouvir os clamores desse contexto, ou continuar abafando com cânticos ensurdecedores os gritos por justiça vindos das ruas. Não seria chegada a hora de abrir o leque de visão da Igreja, para que os olhos que, antes fitados no céu, apenas contemplavam o eterno e glorioso “porvir”, passem também a olhar para a terra e enxergar o não tão glorioso “aqui e agora”? Enfim, pergunta-se se a igreja teria a Missão de trabalhar por sociedades mais justas e desenvolvidas. A Missão Integral (leia-se M.I.) nasce dessa efervescência de perguntas vindas do contexto latino-americano; de um incômodo com as teologias importadas, norte- americanas, européias, que não respondiam às perguntas e dores de seu povo. A M.I. emerge desse diálogo, que fora silenciado nos solos latino-americanos durante muito tempo, entre texto (Bíblia) e contexto (realidade sociocultural). Referenciais como René Padilla, Samuel Scobar, Juan Stam, Valdir R. Stuernagel, entre outros membros que compõem a formação do quadro teórico da M.I., se lançam a refletir sobre a missão da igreja latino-americana frente ao seu contexto, dando origem assim à M.I. Padilla (1994) conclui que a M.I. da igreja é composta por três enfoques, a saber: Evangelização e discipulado; Colaboração e unidade; e Desenvolvimento e Justiça. Frente a esse conceito, que é basilar dentro da M.I., o enfoque que possui maior escassez de material produzido é o terceiro (desenvolvimento e Justiça). E a partir daí questiona-se: uma vez que desenvolvimento e justiça são parte da missão da igreja, de qual justiça e de qual desenvolvimento a M.I. está falando? Será que é aquela justiça que seleciona por cor, sexo e classe social suas vítimas, ou uma que se baseia em princípios que enxergam a todos como possuidores da imago Dei? Quando se fala de 16 desenvolvimento, a qual se refere? Àquele desenvolvimento capitalista, consumista, egocêntrico que se resume a bens financeiros? Ou fala-se de uma valorização daquilo que é vital ao ser humano e à sua existência como um ser social? O que é desenvolvimento e Justiça na M.I? E qual é a sua relação com os outros aspectos que compõem a missão da igreja? Visando responder a esses questionamentos, o presente trabalho se dedicará em seu primeiro capítulo a traçar a trajetória histórica da M.I., via suas vertentes formadoras e congressos. Feito isso será esboçada a metodologia do fazer teológico da M.I., e posteriormente uma análise de sua máxima, que se origina desta forma de aprender a missão. Esse trajeto será percorrido para a compreensão da matriz histórica, metodológica e conceitual da M.I., de onde emerge o conceito de desenvolvimento e justiça. O segundo capítulo se prestará de maneira específica a responder às perguntas: O que é justiça? O que é desenvolvimento? Qual é a relação de ambos com os demais aspectos da teologia da M.I.? Dentro desse capítulo não serão apresentados e desenvolvidos apenas esses conceitos, mas também caminhos que respondem ao “como cumprir essa missão”. Para a elaboração desses dois primeiros capítulos foi adotada a metodologia de pesquisa bibliográfica. Entre as principais obras utilizadas para essa parte do trabalho destacam-se como essenciais: “Pacto de Lausanne” (STOTT, 2003); “Missão Integral: Ensaios sobre o Reino” (Padilla, 1992), “Missão Integral: em busca de uma identidade evangélica” (GONDIM, 2010); “Teologia da Missão Integral: História da Teologia evangélica Latino-Americana” (SANCHES, 2009); ‘O novo rosto da Missão: Os movimentos ecumênicos evangelicais no protestantismolatino-americano “(LONGUINI, 2002) “Jardim da Cooperação: Evangelho, redes sociais e Economia Solidária” (BRITO, 2008) “Missão como Com-paixão” (ZWETSCH, 2008); “Missão Transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão” (BOSCH, 2009); entre outros. A Missão Integral tem como seu marco inicial o Segundo Congresso de Evangelização Mundial, ocorrido na cidade de Lausanne, em 1974. A partir desse congresso, muitos livros, artigos e encontros foram organizados tratando o tema da M.I. Passados seus 40 anos de existência pergunta-se o que desta teologia chegou ao solo paulistano nas igrejas batistas. Ao olhar para o contexto paulistano é possível ver ações de desenvolvimento e justiça promovidas pela Igreja? 17 Por se tratar de um universo muito amplo, o presente trabalho tomará como sujeito de sua pesquisa a Primeira Igreja Batista de São Paulo (leia-se PIBSP) e o contexto no qual ela está inserida; a saber, o bairro de Campos Elíseos, localizado na região central de São Paulo. Esse campo de pesquisa foi escolhido devido à sua localização histórica e sociogeográfica. Sendo a PIBSP uma instituição de cento e dezesseis anos, temos a possibilidade de analisar uma igreja que já existia antes da realização dos congressos que se configuraram como fundadores da M.I., possibilitando inclusive registrar participações desta igreja nesses congressos. Sua relevância histórica pode ser observada também pelo fato de a PIBSP ser a primeira igreja batista formada nos solos paulistanos e por ter ela trabalhado de maneira significativa para a implantação de novas igrejas em São Paulo e em outras cidades, o que lhe confere o status de “mãe” e “avó” de muitas outras igrejas. Quanto à sua relevância sociogeográfica, afirma-se esse fato por estar a PIBSP localizada em uma região que possui muitos desafios sociais; um local onde os extremos se tocam e se chocam diariamente. Uma localidade que grita nas calçadas, marquises e cracolândias, por meio das vozes de mendigos, dependentes químicos e crianças pedindo justiça e desenvolvimento. E é nesse contexto que se pergunta: Qual tem sido a resposta da Igreja a esse grito desesperado por justiça e desenvolvimento? Ela tem ouvido esse clamor? Tem respondido a ele? E, se sim, seria essa uma herança da M.I.? Perguntas como essas nortearam o último capítulo deste trabalho intitulado “Desenvolvimento e Justiça nos solos paulistanos: entre clamores e respostas”, que será dividido em três partes, a saber: “O contexto que clama por desenvolvimento e justiça”, “A PIBSP”, e “A origem da Missão na PIBSP”. Para fazer essa análise será utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica, e pesquisa de campo, que foi realizada na PIBSP, por meio de roteiro de entrevista, com seus membros e pastor. Essa pesquisateve como participantes 12 pessoas, que foram qualificadas em 3 grupos, e o pastor titular. Estes grupos foram organizados por faixa etária. O primeiro grupo foi formado por jovens entre 18 a 34 anos de idade, o segundo, por adultos de 35 a 58 anos, e o último grupo por pessoas de 64 a 76 anos de idade. Cada grupo foi formado por quatro pessoas (duas mulheres e dois homens). Também foi realizada a análise dos boletins e das publicações no Jornal Comunhão. 18 Sendo o pesquisador um pastor, essa dissertação possui um viés que toca na práxis pastoral; ela nasce tendo como alvo a profundidade acadêmica sem se esquecer das questões que estão na superfície dos solos clamantes nos quais as igrejas atuam. Assim sendo, essa dissertação objetiva também servir a teólogos e pastores como uma ferramenta que desperte os olhares e os ouvidos para a importância da igreja no processo de desenvolvimento e justiça na sociedade, para que ela possa cada vez mais exercer sua Missão Integral em seu contexto. 19 1. MISSÃO INTEGRAL Neste primeiro capítulo será apresentada a Missão Integral a partir de um recorte histórico que trilhará o caminho das vertentes formadoras da M.I. e dos congressos que fizeram parte de sua origem. Também será apresentado o método e um breve esboço da teologia da M.I. a partir de sua máxima. Deve-se destacar que este capítulo serve ao trabalho como uma plataforma de contextualização e aproximação do objeto principal, a saber, “Desenvolvimento e Justiça”; por essa razão seus subtópicos não objetivam esgotar os temas neles abordados, mas apenas apresentar esboços e linhas gerais, mas que se configuram como fundamentais para a compreensão do objeto principal. 1.1. Sua trajetória histórica via suas vertentes formadoras A M.I. não nasce em um vácuo histórico, mas surge em meio a um desenvolvimento contextual da igreja protestante. Por isso, entender a história ajuda a compreender a M.I. Sanches (2009) acredita que a Teologia da M.I. nasceu a partir de uma revisão da história e de uma percepção da situação concreta da América Latina. Portanto, conhecer a história da M.I ajuda a entendê-la melhor. Porém, como o objetivo deste trabalho não é oferecer um estudo aprofundado da história do protestantismo, este ponto do trabalho se limitará a esboçar desde as influências recebidas pelo Protestantismo norte-americano do séc. XIX até o movimento evangelical latino-americano, onde a M.I. é apresentada ao universo protestante. 1.1.1. As vertentes formadoras do protestantismo Norte-Americano O protestantismo norte-americano é tido como uma figura multifacetada que pode ser compreendida a partir de sua formação e influências recebidas. Ao voltar os olhos para as raízes desse protestantismo, Gondim (2010) e Sanches (2009) apresentam as três principais vertentes que compuseram a base desse movimento. São eles: Puritanismo Inglês, Pietismo Moraviano e Avivamentos (despertamentos religiosos). Para melhor compreender este protestantismo será apresentado cada um desses movimentos influenciadores, buscando esboçar suas principais características, que contribuíram para a formação da identidade protestante norte-americana. 20 O Puritanismo Inglês O Puritanismo Inglês chegou à América em 1620, com os separatistas ingleses, que tinham como objetivo formar em Massachusetts um Estado em que as leis refletissem suas crenças religiosas, ligando assim a religião ao Estado. Segundo Bosch: As colônias puritanas pretendiam ser manifestações do reino de Deus sobre a terra e que o governo de Cristo deveria tornar-se visível tanto na sociedade quanto na igreja. O Estado tinha a incumbência divina de funcionar como um agente auxiliar. Almejava-se uma harmonia perfeita entre igreja e Estado (BOSCH, 2002, p.316). Essa cosmovisão desencadeou uma rigidez disciplinar, uma espiritualidade profunda, zelosa e severa, que permeava todos os setores da vida, tanto da social como da individual. Essa postura era essencial para eles, pois se entendiam como a manifestação do Reino de Deus sobre a terra. Esse movimento era calvinista, e possuía dentro de sua teologia a doutrina da predestinação, que, por sua vez, era em alguns momentos compreendida em termos muito radicais e rígidos. Este fato pode ser visto na ideia da dupla predestinação, que acredita que Deus predestina alguns para o céu e outros para o inferno. Esta compreensão paralisou os impulsos missionários, pois acreditava-se que Deus salvaria conforme a vontade própria; por isso, seriam desnecessárias ações humanas. Bosch comentando este fato afirma que: Essa concepção foi efetivamente sustentada por alguns puritanos, que se consideravam eleitos de Deus, enviados para plantar e cultivar um jardim nos ermos da América do Norte, onde deveriam fomentar o Reino de Deus expulsando a população nativa. De quando em quando o Pastor puritano chegava a agradecer a Deus por ter enviado uma doença mortífera aos índios, que destruiu multidões deles e abriu espaço para nossos Pais. (BOSCH, 2002, p. 315). Porém, houve alguns puritanos que decidiram começar um trabalho missionário entre esses mesmos índios, e receberam o apoio dos colonos. Esse fato gerou uma mudança na forma de os puritanos entenderem sua relação com os povos nativos, pois passaram a acreditar que o reinado de Deus deveria ser propagado por meio de conversão, e não de extermínio da população nativa. Bosch diz que: “é possível detectar-se, repetidas vezes, essa “mudança de curso” 1 em grupos calvinistas. A ênfase na predestinação leva a um envolvimento ativo na 1A mudança no curso a qual Bosch se refere diz respeito a essa transformação da postura de grupos CALVINISTAS com relação à propagação do evangelho. 21 missão; os eleitos de Deus não podem permanecer de braços cruzados.” (BOSCH, 2002, p.315). Gondim fala sobre essa mudança ocorrida no calvinismo usando as seguintes palavras: Os calvinistas, para não emperrar o avanço missionário, necessitaram abrir mão do rigor puritano que acredita que Deus não só conduz a história como determina a priori os que vão para o céu bem como os que vão para o inferno, como explica a doutrina da dupla predestinação, apregoada pelos puritanos. Desse modo, a marca distintiva dos que evangelizavam era procurar “fazer valer a vontade de Deus na história” e “reverter o avanço da maldade”, mas tudo para aumentar o número dos salvos. (GONDIM, 2010, p.34). Outra marca do Puritanismo foi a renovação da liturgia. Sanches afirma que: Outro elemento próprio deles foi a ênfase na renovação da liturgia [...] eles não aceitavam o uso da cruz no culto, de certos tipos de roupas dos sacerdotes, do serviço da ceia em altares ou de qualquer tipo de ostentação (SANCHES, 2009, p.74). A influência exercida pelo Puritanismo no Protestantismo norte-americano foi extremamente profunda. Resultou em muito mais do que algumas impressões no pensamento teológico protestante. Este movimento se configurou como gerador de um espírito caracteristicamente legalista que evidenciava o lado moral da fé. Segundo Sanches, o puritanismo “serviu de alicerce para a construção da nação norte-americana e configuração do seu protestantismo de base”.(SANCHES, 2009, p.75). O Pietismo Moraviano O Pietismo que chegou à America foi o Pietismo Moraviano. Ele se diferenciava dos demais por incentivar uma profunda devoção por Jesus Cristo, entrega e consagração totais à vontade d’Ele, e por seu empenho na evangelização dos povos em missões transculturais. Neil, comentando sobre essa característica missionária, diz que: Os moravianos tenderam a partir para os pontos mais remotos, desfavoráveis e abandonados da Terra. Muitos destes missionários foram pessoas bastante simples, camponeses e artesãos. O seu objetivo era vivero Evangelho e mostrá-lo àqueles que nunca ouviram falar dele. (NEIL, 1989, p.242). Outra marca deste pietismo era sua ênfase na experiência de fé. A conversão era mais que uma adesão às doutrinas; era uma experiência pessoal da totalidade do convertido. Segundo Bosch: 22 No pietismo, a fé formalmente correta, fria e cerebral da ortodoxia deu lugar a uma união cálida e devota com Cristo. Conceitos como arrependimento, conversão, renascimento e santificação receberam significados novos. Uma vida disciplinada, e não a autoridade eclesiástica, a prática, e não a teoria – essas eram as marcas distintivas do novo movimento. (BOSCH, 2002, p.309). Outra característica distintiva deles era a sua obra missionário-social. Esta era marcada por sua prática solidária na evangelização. Sanches afirma que: “Os moravianos eram pobres. Por isso desenvolveram um modelo de missão não somente para os pobres, mas a partir da pobreza.” (SANCHES, 2009, p.73). Gondim pontua a influência que o Pietismo teve sobre o Protestantismo norte- americano chegando até o Movimento Evangélico (leia-se M.E.), na seguinte afirmação: O notório encontro de João Wesley, com um segmento religioso que se difundiu pela Europa, conhecido como os Irmãos Morávios, no dia 13 de agosto de 1727, não é apenas importante para a história da Igreja Metodista, como pode servir de marco para a influência que o metodismo vai exercer na formação do M.E. norte-americano (GONDIM, 2010, p. 31). Os Avivamentos O terceiro movimento que compõe o Protestantismo Norte-americano são os Avivamentos. Latourette (2006) acredita que a origem dos evangélicos está entrelaçada com o que ele chama de “reavivamento britânico” que ocorreu no século XVIII dentro da Igreja da Inglaterra: Na Igreja da Inglaterra, o reavivamento fortaleceu o elemento protestante que estivera ali desde a Reforma. Aqueles que eram comprometidos com ele ficaram conhecidos como evangélicos. Em geral, eles eram calvinistas em sua teologia. Eles enfatizavam a conversão, a moral estrita, uma vida de serviço ativo a outros, e simplicidade na adoração. (LATOURETTE, 2006, p.194). Este avivamento teve como seus principais líderes João e Carlos Wesley. Sanches (2009) considera este movimento como um “fenômeno moderno”, pois eles inauguraram a forma moderna de evangelização, o que ficou conhecido como “conversionismo”. Sobre este fato, Wilton M. Nelson afirma: Pregaram para as massas com fervor intenso sobre os temas do pecado e suas consequências, a obra expiatória de Cristo, a necessidade do arrependimento e a confiança em Cristo, e que esta fé deve ser uma experiência pessoal do coração e não uma mera aceitação do credo ortodoxo. (NELSON, 1973, p.166). 23 Os integrantes desses avivamentos davam uma grande ênfase na experiência individual da fé, no arrependimento e conversão, mas as características mais distintivas deles eram “necessidade da disciplina religiosa, experiência característica, envolvimento dos cristãos na sociedade e de pregadores leigos na tarefa missionária e pastoral” (SANCHES, 2009, p.77). Eles desenvolveram uma compreensão sobre missão na qual estava inserida tanto a evangelização e conversão pessoal como a responsabilidade social, na qual cada indivíduo tinha o dever de trabalhar para a transformação da sociedade. Desta visão resultaram ações de melhoria das condições sociais da época. Dentre seus feitos pode- se citar: a redução da jornada de trabalho de doze para dez horas; a criação de agências de empregos; a constituição dos primeiros sindicatos de trabalhadores e a luta contra a escravidão. Lopes afirma que: “Para a tradição wesleyana, responsabilidade social, pregação e educação são ações essenciais no desenvolvimento do projeto missionário e elementos indissociáveis.” (LOPES, 2013. p.31). Os avivamentos foram além da Grã-Bretanha; estenderam-se para a América do Norte chegando até treze colônias, que experimentaram uma série de avivamentos. Jonathan Edwards, George Whitefield e Charles Finney se configuram como personagens de grande destaque dentro desse período. Edwards era um excelente pregador, com um forte embasamento filosófico e científico, e por meio de suas pregações arrebanhava multidões. Seu contemporâneo Whitefield também atraiu multidões com seus sermões. Em suas inúmeras viagens pelos Estados Unidos ele produziu um “fenômeno de massa que já no final do século desencadeou o que ficou conhecido como o “Segundo Grande Despertamento”. (GONDIM, 2010, p.36) Na mesma época Finney surge como uma figura importante para a identidade protestante. Vindo da igreja presbiteriana, advogado e um pregador itinerante, Finney escreveu uma teologia sistemática, mas teve como sua obra principal o livro “Lectureson Revival”. Nesta obra ele propunha novas práticas para o culto protestante. Segundo Gondim: Finney foi inovador para a época. Criou o “banco dos ansiosos”, um lugar reservado para as pessoas que, à medida que pregava, sentissem o coração “ansioso”. Obviamente trazia o conceito de Wesley que falava no coração ardente quando exposto à verdade do Evangelho. Depois que terminava de pregar, Finney conduzia as pessoas que se sentavam no “banco dos ansiosos” para mais instruções, conduzindo- 24 as assim à salvação. Finney foi copiado ferozmente por evangélicos e pentecostais ao redor da terra e seu “banco de ansiosos” tornou-se o precursor do “apelo” (GONDIM, 2010, p.39). Foi dentro desses avivamentos que se desenvolveu o protestantismo de missão, que foi responsável por implantar várias “representações das denominações na América Latina, África, Ásia e Caribe” (SANCHES, 2009, p.78). Este Protestantismo de Missão mobilizou centenas de estudantes para a dedicação da vida às missões que aconteciam principalmente em países subdesenvolvidos. Sanches afirma que: “de todos os movimentos que nasceram dentro do protestantismo, os avivamentos foram os mais significativos para o surgimento e desenvolvimento do evangelicalismo, especialmente o latino-americano.” (SANCHES, 2009, p.76). Essas três vertentes influenciadoras (puritanismo/ pietismo/ avivamentos) possuíam em comum o rigor dogmático, o ascetismo, uma teologia elaborada a partir do milenarismo, o reconhecimento da importância da experiência pessoal, e um vigoroso movimento missionário. Esses fatores se tornaram marca distintiva do protestantismo norte-americano. O protestantismo norte-americano é, usando as palavras de Gondim, “uma colcha de retalhos” e pode ser comparado a um “guarda-chuva onde se abrigaram tendências teológicas díspares e muitas vezes conflitantes.” (GONDIM, 2010, p.39). 1.1.2. A cisão do protestantismo norte-americano O protestantismo que se espalhou pelas treze colônias tinha como diferencial as Igrejas filiadas às diversas denominações, no lugar das igrejas do Estado. Este fato ficou conhecido como denominacionalismo. Sanches explica esse fenômeno da seguinte forma: Os grupos ou ‘igrejas’ não pretendiam ser ‘a igreja’, mas somente ‘denominações’ que os cristãos davam a si mesmos. A Igreja era, de fato, conforme orientação da própria reforma, uma entidade invisível acima das organizações denominacionais e institucionais, composta por cristãos verdadeiros. As denominações na realidade eram vistas como instituições humanas, para fins de vivência comunitária da fé cristã protestante no mundo em sua organização social. (SANCHES, 2009, p.79). 25 Ao denominacionalismo pode-se vincular uma característica do protestantismo norte-americano, o Voluntarismo. Esta é a prática de, por meio de contribuições voluntárias, manter o sustento das igrejas, pois uma vez que elas não recebiam os recursos do estado precisavam, portanto, se sustentar por meio da contribuição direta dos seus membros. O protestantismo norte-americano caracterizou-se tambémpelo impulso vigoroso do avivamento e do esforço abnegado dos voluntários na obra missionária, como já expresso nas páginas anteriores. Porém, juntamente com esse labor missionário nasceu o espírito do chamado “Destino manifesto” que acompanhou as empreitadas desses movimentos missionários. Juntamente com o evangelho e as denominações, as ações missionárias buscavam levar aos países não alcançados e não desenvolvidos, o progresso experimentado pelo povo norte-americano, que entendiam como a manifestação do destino desejado por Deus a todos os convertidos (daí o nome Destino manifesto). Entre os séculos XVIII e XIX, quando se falava em protestantes norte- americanos, a imagem que se tinha era de um grupo com características puritanas, pietistas e avivalistas, mas que não possuía uma divisão e embates institucionalizados. Não se fazia diferenciação entre protestantes e evangélicos; todos eram concomitantemente evangélicos e protestantes. Porém, a ruptura começou a acontecer logo no início do século XX, quando a teologia alemã começou a crescer e um grupo expressivo de protestantes começou a se posicionar como contrário a essas tendências liberais. A partir disso o protestantismo foi aos poucos se polarizando em fundamentalistas e liberais. Segundo Gondin: A identidade do movimento evangélico é complexa e a tarefa de defini-lo, colocá-lo em “seus justos limites”, por demais complicada. O movimento não possui uma fronteira institucional, marcos teológicos claros e sequer uma experiência, um rito de passagem comum. O historiador norte-americano, Mark A. Noll percebeu a fluidez do movimento que se reconfigurou várias vezes durante o século XX, desde o famoso litígio jurídico chamado de Scopes Trial (Julgamento de Scopes) 2 . Devido ao conflito entre o ensino da Evolução e da Criação nas escolas públicas de um estado sulista, aconteceu o julgamento que estigmatizou os crentes que se alinhavam 2 ScopesTrial (Julgamento de Scopes) aconteceu por ter sido aprovada no Tennessee uma lei que proibia o ensino da teoria de Darwin nas escolas. Grupos de defesa dos direitos civis protestaram. John T. Scopes, professor na pequena cidade de Dayton, no Estado do Tennessee, não concordando com a decisão, ensinou para seus alunos a teoria da evolução. Como consequência ele foi levado a julgamento. O tribunal o condenou a pagar uma multa simbólica e o proibiu de voltar a ensinar as teorias de Darwin. 26 com o movimento fundamentalista. Alguns protestante que não concordavam com a teologia liberal, buscaram distanciar-se dos fundamentalistas e procuraram se identificar como “neo-evangelicos” ou apenas evangélicos. Esse grupo deu nova identidade ao fundamentalismo, depois se tornou mais ecumênico, com alianças pontuais e esporádicas com católicos e pentecostais. (GONDIM, 2010, p.25). A face menos simpática do fundamentalismo apareceu para a sociedade americana, pois este caso ganhou uma notoriedade nacional. Segundo Gondim: Depois do julgamento de Scopes, ser fundamentalista passou a ser sinônimo não apenas de dogmático, conservador ou milenarista, acreditando em um retorno triunfal de Cristo para resgatar a sua igreja de um mundo condenado ao fogo, mas também de anti-intelectual e intolerante. (GONDIM, 2010, p.51). Dentro dessas reconfigurações o protestantismo chegou ao ponto da cisão, polarizando-se em dois grupos extremos: o dos protestantes (liberais) e o dos fundamentalistas. Os protestantes passaram a ser identificados como o grupo que simpatizava com o ecumenismo, com o evangelho social e com o liberalismo; que colocava em dúvida a autoria dos livros sagrados, e trazia suspeita sobre a pregação do retorno de Cristo para implementar o seu reino milenar dentro da história. Os fundamentalistas, por sua vez, eram o grupo que não concordava com as posições do liberalismo e se colocava como o opositor a esta corrente. Uma das formas de oposição e reação foi a elaboração do documento chamado “Os Fundamentos da fé cristã”. Neste eram apresentados cinco pressupostos do evangelho que eram entendidos pelos fundamentalistas como inegociáveis. São eles: “a inspiração, infalibilidade e inerrância das Escrituras, a divindade de Cristo, o sacrifício propiciatório de Cristo e sua ressurreição literal e física, bem como o seu retorno.” (SANCHES, 2009, p.84). A cisão foi tomando proporções maiores, a ponto de no final do século XX o fundamentalismo ter ganhado uma conotação pejorativa. A ele eram associadas as ideias de obscurantismo e intolerância. Essa adjetivação negativa do movimento não se deu por ele possuir uma reação anti-intelectual à modernidade, ou por um retrocesso acadêmico, mas, segundo Gondim, esse fato se deu porque o fundamentalismo tinha: Suas raízes nos despertamentos de Whitefield e Finney [...] e para continuar a se expandir e manter grandes multidões, os evangélicos precisaram manter o discurso simplificado. Assim as hermenêuticas foram gradativamente perdendo conexão literária e as fundamentações acadêmicas, substituídas por aplicações práticas. (GONDIM, 2010, p.41). 27 O pós-tribulacionismo era uma das principais visões escatológicas do fundamentalismo; devido a este fato acreditavam no avanço gradual do Reino de Deus até que o mundo inteiro fosse transformado por meio das ações da igreja.Porém, segundo Gondim: O fundamentalismo deu uma guinada nesse milenarismo; guinada que passou a conceber o mundo transformado não como o resultado de ações da igreja, mas por meio de Cristo. Portanto, finalmente aconteceria a justiça sem haver necessidade de práxis. Ela viria de cima para baixo, com a chegada do messias que retornaria para vingar sua própria morte, julgar os pecados do mundo e impor a nova ordem (GONDIM, 2010, p.42). Sendo assim a igreja via-se na posição de apenas espectadora de toda a ação transformadora de Cristo, despreocupando-se das ações de transformação social, e livre para centrar todos os seus esforços na salvação de almas. Com isso, questões que estavam relacionadas com os problemas sociais eram entendidas apenas como sinais do fim, e à igreja cabia apenas alertar a humanidade para esse fato. Para exemplificar essa postura dos fundamentalistas, pode-se citar o posicionamento dos mesmos com referência à escravidão. Gondim afirma que: “A escravidão para eles só revelava a degeneração do mundo, cuja redenção aconteceria com o arrebatamento da igreja”. (GONDIM, 2010, p.49) A cosmovisão dos fundamentalistas fez com que eles se distanciassem cada vez mais dos protestantes (liberais). Enquanto, para os fundamentalistas, responsabilidade social não era assunto para a igreja, cuja tarefa era ganhar almas e prepará-las para o arrebatamento, os Protestantes trabalhavam à luz do evangelho social, que entendia as demandas da sociedade como uma responsabilidade da igreja. Enquanto para os fundamentalistas a modernidade era vista com maus olhos, para o protestantismo a modernidade era bem-vinda, assim como seus métodos e análise crítica bíblica. Enquanto para o primeiro grupo, a Bíblia devia ser interpretada de maneira literal, e ela mapeava com detalhes a cronologia do fim, de forma milenarista, dispensacionalista, o segundo grupo questionava a literalidade e a autoria da Bíblia. Com todo esse distanciamento, a cisão entre protestantes e fundamentalistas se institucionalizou e solidificou. 28 1.1.3. O movimento evangélico No meio dessa cisão surge um terceiro grupo, que tinha como anseio desvincular-se do fundamentalismo, e encontrar uma síntese entre o sufocante rigor fundamentalista e a relativização dos liberais; este grupo era o dos evangélicos. Ele se formou para sobreviver ao desgaste do fundamentalismo versus o protestantismo. Segundo Longuini Neto,“A expressão evangélicos 3 passou a ser usadaabertamente como uma diferenciação entre o novo grupo que buscava distanciar-se dos fundamentalistas no final da década de 1940” (LONGUINI, 2002,p.53). Embora este grupo buscasse um distanciamento do fundamentalismo, isso aconteceu apenas no âmbito da práxis isolacionista que os fundamentalistas possuíam, pois quanto à sua teologia e cosmovisão os evangélicos a mantiveram. Pode-se notar esse fato a partir do escrito de Karl Henry e Harold John Ockenga, homens que trabalhavam a favor do movimento evangélico, que denunciavam que as forças motivadoras do fundamentalismo eram fragmentação, segregação, separação, crítica, censura, suspeita, solecismo (GONDIM,2010, p.54). Porém, toda a crítica de Henry e Ockengaao ao fundamentalismo se limitava às atitudes do movimento, não às suas doutrinas e missiologia. Este fato se evidencia na afirmação de Ockenga sobre os evangélicos, a qual diz que: “são conservadores, só não requerem o isolacionismo dos fundamentalistas” (apud GONDIM,2010, 54). Dentro dessa perspectiva, pode-se chamar os evangélicos norte-americanos de fundamentalistas, uma vez que as doutrinas constituídas como inegociáveis eram o pressuposto teológico desse novo movimento. Os pressupostos “fundamentais” permaneciam até mesmo nos que se opunham à intolerância que os fundamentalistas mostravam em relação à sociedade, ao exclusivismo denominacional e à piedade moralista. Para ganhar espaço no universo religioso, Gondim (2010) acredita que o movimento precisava de uma pessoa que fosse seu porta-voz e que repetisse o sucesso dos antigos avivalistas, Como Jonathan Edwards, Charles Finney, DwightMoody e Billy Sunday. 3 No texto original de Longuini Neto, a palavra “evangélico” aparece como “evangelical”. Esta é uma transliteração do inglês; foi feita a tradução para que este fosse diferenciado do movimento evangelical que iniciou no Brasil posteriormente, sobre o qual será falado mais adiante. 29 Nessa busca, encontraram um garoto prodígio com um grande potencial no Wheaton College, e seu nome era Billy Graham. Dotado de uma boa aparência, um casamento exemplar e com uma eloquência invejável, este jovem tornou-se o porta-voz ideal para o movimento. A escolha por Billy Graham considerou sua formação no Wheaton, pois isso garantia ao movimento que a ortodoxia desejada seria mantida, por ter esta faculdade fortes marcas do fundamentalismo. Graham comentando esta instituição afirma que: Embora não incluísse a palavra fundamentalismo no nome, aquela respeitável instituição de ensino exigia rígido cumprimento a um código de conduta que proibia funcionários e alunos de fumar, ingerir bebida alcoólica de qualquer natureza, dançar, jogar baralho e participar de sociedades secretas. A faculdade também se fundamentava nas doutrinas bíblicas, adotando uma declaração de fé teológica e conservadora dos meados da década de 1920. Com todas essas exigências, a faculdade Wheaton passou a ser conhecida no mundo acadêmico como retrógrada e puritana, mas a integridade do ensino em todas as disciplinas tornou-se respeitada (GRAHAM,1998, p.54e55). Graham ganhou visibilidade mundial. Organizou a Associação Evangelística Billy Graham, que recolhia grande valor financeiro e possuía uma administração admirável. Ele também participou de forma ativa da fundação da revista ChristianityToday, e foi responsável por inúmeras cruzadas evangelísticas ao redor de todo o mundo. Dessa forma, possuindo um grande financiamento de empresários, e com forte articulação das bases missionárias em outros países ao redor do mundo, os evangélicos, segundo Gondim: “se fortaleceram como a mais visível e mais crescente expressão do cristianismo protestante do Ocidente. Billy Graham tornou-se uma espécie de embaixador, o ícone mais copiado e mais admirado dos evangélicos que se firmavam por todo o globo.” (GONDIM,2010,p.56). 1.1.4. Evangélicos e evangelicais no Brasil O protestantismo evangélico chega na América Latina como fruto do projeto missionário norte-americano. Este trouxe consigo, além do espírito evangélico, as grandes denominações. Latourette afirma que chegaram nos solos latino-americanos: 30 Metodistas, batistas, presbiterianos, episcopais, congregacionais e discípulos de Cristo – as também de alguns movimentos entusiásticos jovens, notadamente os adventistas do sétimo dia, os cristãos da Aliança Missionária, a igreja do Nazareno e a Missão da América Central. (LATOURETTE, 2006,p.1747). Porém este projeto missionário implantou na América Latina, segundo Sanches (2009), representações afiliadas de várias Igrejas norte-americanas e europeias. Neste projeto os aspectos formais e teológicos das igrejas de origem eram mantidos, tais como: Arquitetura dos templos, liturgia, sistema educacional, organização eclesiástica e ministerial. Acrescenta-se a isso a literatura teológica importada e traduzida tanto para servir ao ministério das denominações e igrejas locais, quanto às de caráter propriamente teológico para servir aos seminários. Também restringiam a liderança das denominações e organizações a elas vinculadas, aos missionários estrangeiros representantes das instituições enviadoras. (Sanches, 2009,p.87). Os evangélicos norte-americanos trouxeram juntamente com sua teologia um repúdio quanto à responsabilidade da igreja para com as questões sociais, e um evangelho cultural que era embasado na crença do destino manifesto. Como reação a este fato, alguns teólogos e pastores viram a necessidade de se fazer uma conversão deste protestantismo evangélico que chegou à América Latina, entendendo como necessário que esta mudança fosse feita a partir da realidade sociocultural latino-americana e respondesse a esta realidade. Segundo Sanches: “Esta árdua tarefa foi assumida principalmente pela teologia da missão em sua luta pela autonomia e identidade da igreja evangélica latino-americana.” (Sanches, 2009,p.87). Com isso inicia-se no Brasil uma nova divisão, que naquele momento estava acontecendo entre os evangélicos, dando origem a um novo grupo chamado evangelicais. Gondim comentando sobre a origem do termo “evangelical” diz: Teólogos brasileiros que se identificaram com as propostas do Congresso de Lausanne tentaram cunhar o neologismo “evangelicais”, porque viram a necessidade de se distinguirem dentro do contexto evangélico. (GONDIM,2010,p.58). Na busca por essa diferenciação, os evangelicais tiveram uma atitude semelhante à que os evangélicos norte-americanos tiveram com relação ao fundamentalismo, em sua autointitulação. Como objetivavam conquistar espaço na sociedade, e liberdade para produzirem uma teologia que se distinguisse da feita pelos evangélicos, se nomearam evangelicais; dessa forma, eles se diferenciariam dos que seguiam a teologia norte- 31 americana evangélica fundamentalista e manteriam a identidade latina. Segundo Gondim: A palavra “evangelical” no contexto norte-americano apenas descreve o movimento que procurou distanciar-se do fundamentalismo, com teólogos que buscavam um meio termo entre o liberalismo teológico alemão e o fundamentalismo que se isolara culturalmente nos Estados Unidos. Já no contexto da América Latina, alguns procuraram a expressão como forma de evidenciar que os teólogos que propunham a Missão Integral não poderiam alinhar-se aos notórios evangélicos norte-americanos, que embora mostrassem disposição para ser mais receptivos culturalmente, permaneciam com o dogmatismo dos fundamentalistas. (GONDIM, 2010,p.59). Os evangelicais se configuraram como um novo meio termo, porém agora entre os evangélicos e a teologia da libertação. Eles formaram um grupo alinhado que possuía um olhar holístico para a Bíblia, para o ser humano e a humanidade; a este olhar deram o nome de Missão Integral.Os evangelicais se opuseram, de forma veemente, em congressos e publicação, contra o posicionamento dos evangélicos que desconsideravam questões de cunho social como parte da missão da igreja. Este fato foi objeto das principais divergências entre estes dois grupos. Para os evangelicais, tanto as questões “espirituais” com as físico- sociais devem ser contempladas no agir missional da igreja, pois as duas realidades são entendidas por eles com igual importância, configurando-se como as duas asas de um pássaro, que possuem igual valor para que o voo seja realizado; a ausência de uma asa resultaria na impossibilidade de voar. Aplicando essa lógica à realização da missão da Igreja, a desvalorização de um dos aspectos, seja o espiritual ou físico-social, resultaria na impossibilidade de a Igreja realizar sua missão de maneira integral. Sobre essa questão Padilla faz a seguinte afirmação, de que: Tanto a ação social como a evangelização são aspectos essenciais da missão da igreja; que a proclamação do evangelho é inseparável da manifestação concreta do amor de Deus. O reconhecimento de que os cristãos devem partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão; de que “a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão e de que a mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação. (PADILLA, 2009,p. 37e38). O evangelicalismo é tido como o berço da M.I., pois ela é gerada e nutrida dentro desse movimento. Evangelicais como José Míguez Bonino, Orlando Costa, Justo 32 González, Pedro Arana, Samuel Escobar, René Padilla, entre outros, serviram e servem à M.I. como porta-vozes dessa teologia e das lutas que esta tem enfrentado. A partir do que foi aqui apresentado pode-se visualizar essa trajetória histórica4 no seguinte quadro: Quadro de autoria própria Com base nesse panorama da trajetória histórica, pode-se constatar que a M.I. em nenhum momento desse percurso, via vertentes, formadoras está relacionada a uma postura que pretendesse abrir mão dos princípios cristãos protestantes. Há, entretanto, uma constante busca por um diálogo dos princípios bíblicos com as realidades contextuais, que em muitos momentos foram ignoradas por uma teologia conversionista, 4 Deve-se destacar que no mesmo período outras propostas teológicas surgiram no solo latino americano, como por exemplo a Teologia de libertação. Para aprofundar nesse tema veja: GUTIÉRREZ,G.A.Teologia da Libertação: Perspectivas . São Paulo: Loyola.2000. e LONGUINI NETO, Luiz: O Novo Rosto da Missão- Os movimentos ecumênico e evangelical no protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002. Mapa 1 – Mapa histórico via vertentes formadoras da M.I. 33 espiritualizada e desencarnada. Por esse motivo, a M.I. deve ser considerada uma teologia evangélica protestante latino-americana. 1.2. Sua trajetória histórica via Congressos A trajetória da formação da teologia da M.I. passa pelos Congressos Latino- Americanos de Evangelização (leia-se CLADEs) e pelo Segundo Congresso mundial de evangelização em Lausanne. Estes possuem uma grande importância no processo de formação dessa teologia. E à investigação do desenvolvimento da M.I. dentro desses congressos é que este subtópico do trabalho se dedicará. 1.2.1. A origem dos CLADEs e da Fraternidade Teológica Latino- Americana, e o CLADE I Em 1966 aconteceu em Berlim o Congresso mundial de Evangelização, que é tido como “fundamental para o desenvolvimento do movimento de missão evangelical” (SANCHES, 2009,p.96) porque neste evento foi decidido que seriam realizados congressos continentais de evangelização na África, na Ásia e na América Latina. Como consequência dessa decisão,foram organizados, na América Latina, os CLADEs. O CLADE I foi realizado em novembro de 1969, em Bogotá, Colômbia, organizado e dirigido pela Associação Evangelística Billy Graham. O tema deste primeiro encontro foi: “Ação em Cristo para um continente em crise”. Em sua plenária, estavam presentes representantes fundamentalistas norte-americanos e teólogos latino- americanos que buscavam desenvolver uma teologia nativa que conciliasse a reflexão teológica e a evangelização com as demandas sociais da América Latina e com os anseios de liberdade do povo. Essa característica mista e contextual do CLADE I é explicitada em seu relatório final com a seguinte afirmação: Os aqui reunidos, crentes em Cristo, membros das diferentes comunidades denominacionais que trabalham em nosso continente entre o povo latino-americano, congregamo-nos neste Primeiro Congresso Latino-Americano de Evangelização no nome de Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. Cremos que o próprio Espírito Santo tem nos guiado a este encontro, com a finalidade de examinar de novo nossa missão evangelizadora à luz do ensino bíblico e da atual situação latino-americana. Nossa presença neste congresso tem sido manifestação de nossa unidade em Cristo, cuja natureza espiritual e não organizacional aprofunda suas raízes em nossa comum herança evangélica, fundamentada na verdade da Bíblia, cuja autoridade como 34 Palavra de Deus iluminada pelo Espírito Santo afirmamos categoricamente. Como consequência, esta declaração que apresentamos ao povo evangélico latino-americano é expressão de um consenso no qual existe acordo no fundamental; porém, existe também lugar para a diversidade que provém da multiforme graça de Deus ao dar seus dons ao seu povo: diversidade dentro da unidade. (LONGUINI, 2002,p.165e166). Neste primeiro congresso surgiu o anseio por um grupo latino-americano que representasse a América Latina teologicamente, e como resposta a esse anseio, em dezembro de 1970, em uma consulta realizada em Cochabamba, Bolívia, foi criada a Fraternidade Teológica Latino-Americana (leia-se FTL).Segundo Longuini, falando sobre a importância do CLADE I, este “foi um marco porque serviu como ‘útero’ para gestão de uma Fraternidade de teólogos latino-americanos” (LONGUINI, 2002, p.158). A FTL surgiu de forma embrionária liderada por Pedro Savage, um descendente inglês com formação em teologia na Inglaterra, e foi composta inicialmente por vinte e cinco evangélicos latino-americanos.Este grupo era composto por pastores, missionários, professores de seminários e institutos bíblicos e líderes leigos, porém com uma característica comum: todos tinham um envolvimento prático e vivencial com a igreja; não eram apenas teóricos.Segundo Longuini,“A FTL nasce militante, crítica, polêmica e apologética”(2002,p.169).A formação da FTL se configurou como um grande passo rumo à formação da identidade da igreja, e da teologia evangélica latino- americana. 1.2.2. Segundo Congresso de Evangelização Mundial, em Lausanne Outro encontro que marcou profundamente a formação da M.I. foi o Congresso Mundial de Evangelização, em Lausanne.Realizado em 1974, em Lausanne, na Suíça, teve a participação de 2.700 congressistas, de mais de 150 nações,com o objetivo de orar, estudar, debater e planejar a respeito da evangelização mundial. (STOTT, 2003, p.25) O tema deste congresso foi: “Para que o mundo ouça a voz de Deus”. O grande questionamento que se tentou responder ali, segundo Stott, foi: “como anunciar a Palavra de Deus num mundo tão injusto” (2003, p.94). Quanto aos participantes desse congresso, pode-se dizer que Lausanne possuiu duas faces. A primeira era conservadora; para esta, a evangelização era entendida dentro do aspecto conversionista, que considera e busca apenas o fator individual escatológico 35 espiritual da conversão, ignorando os fatores físico-sociais. Esta face foi expressa pelas inúmeras agências de missãonorte-americana de cunho fundamentalista, e pelos participantes que comungavam desta visão. A segunda face foi expressa por participantes do Terceiro Mundo5, que, segundo Longuini (2002), representavam a metade do número total dos que ali estavam. E entre estes foram alguns latino-americanos os responsáveis, segundo Rocha, por uma “guinada na matriz teológica orientadora do congresso” (2002, p.93), pois estes colocaram na pauta a necessidade de uma reflexão sobre as estruturas sociais e os contextos culturais dos povos onde a missão se realiza. Essa influência pode ser constatada em diversos momentos do congresso, mas destacam-se aqui as principais, que são as duas palestras proferidas por latino-americanos; a saber: “A evangelização e o mundo” de René Padilla e “A evangelização e a busca de liberdade, justiça e de realização pelo homem” de Samuel Escobar. A questão da Integralidade da missão da igreja se tornou a característica mais marcante desse congresso. Não é sem motivos que a teologia de Lausanne, segundo Rocha, “é tão conhecida como teologia da Missão Integral” (2002, p.95), a qual tem como principal lema “o evangelho todo, para todo homem e o homem todo”.Grellert apresenta esse rosto da M.I.com a seguinte afirmação: Holismo cristão ocorre quando a Igreja toda, totalmente comprometida com toda a vontade de Deus, leva o evangelho todo ao homem todo e a todos os homens, por todos os métodos éticos possíveis, através de homens e mulheres totalmente engajados na missão integral. (1987, p.61) O mesmo autor, ao comentar sobre o Congresso de Lausanne e sua influência, afirma: O magno e frutescente Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado em 1974 em Lausanne, Suíça, não foi somente um evento marcante (...) Ele desencadeou um movimento de evangelização de grupos humanos concretos, que antes não contavam com a presença cristã significativa, como também deu impulso a uma reflexão teológica sobre os assuntos relacionados com a evangelização do mundo. Na verdade, o movimento de Lausanne é um interessante experimento de convívio entre peritos em estratégia missionária (os práticos) e peritos em teologia (os teóricos) convívio; aliás, por vezes tenso, mas frutífero e criativo. (apud LONGUINI, 2002, p.77) 5Quanto ao termo terceiro mundo ver BUARQUE, Cristóvam. O pensamento em um mundo Terceiro Mundo, pg. 57- 82. In BURSZTYN, Marcel. Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo; Brasiliense. 1993 36 Como fruto do congresso, foi redigido o Pacto de Lausanne (leia-se PL)6, que foi aceito e assinado por todos os 2.700 participantes e teve como relator o líder anglicano, John Stott. A palavra “pacto” é usada aqui não em um sentido técnico ou bíblico, mas sim com um significado ordinário de um contrato, onde são colocadas as obrigações. Stott ressalta esse aspecto ao dizer: A razão pela qual se escolheu a expressão “Pacto de Lausanne”, ao invés de “Declaração de Lausanne”, é que desejávamos fazer mais do que simplesmente encontrar uma fórmula verbal que fosse objeto de um acordo. Havíamos decidido que não nos limitaríamos a declarar alguma coisa, mas fazer alguma coisa, a saber, comprometer-mo-nos com a tarefa de evangelização mundial. (2003, p.20). O PL aborda os seguintes temas: o propósito de Deus; a autoridade e o poder da Bíblia; a unicidade e a universalidade de Cristo; a natureza da evangelização; a responsabilidade social cristã; a igreja e a evangelização; a cooperação na evangelização; o esforço conjugado de igrejas na evangelização; a urgência da tarefa evangelística; evangelização e cultura; educação e liderança; conflito espiritual; liberdade e perseguição; o poder do Espírito Santo; e o retorno de Cristo. Na apresentação do livro Pacto de Lausanne, o PL é exposto da seguinte forma: Referência para iniciativas que representam importantes contribuições na construção de sociedades mais justas e igualitárias, contextos em que a presença e a atuação das igrejas evangélicas se singularizavam pela busca em atender efetivamente ao chamado que o Pai nos faz, na esperança de que o nosso clamor pela vinda do Reino de Deus seja ouvido [...] O Pacto de Lausanne é um documento fruto da reflexão de diversos líderes evangélicos de todo o mundo, guiados pela Palavra, a fim de relembrar a Igreja quanto ao seu chamado de viver a plenitude do Evangelho com “todos os santos” nestes “dias maus”” (STOTT.2003.p.5-6) Em síntese,pode-se dizer que o Congresso de Lausanne se configura como uma mola propulsora da teologia da M.I., pois foi neste congresso que seus questionamentos foram expostos para o mundo protestante evangélico; nele foi vivenciado, com intensidade, o conflito existente entre as compreensões sobre a missão da igreja frente a um mundo injusto. E quanto ao PL, este serviu como parte do alimento que nutria as reflexões em torno do tema. Segundo Sanches (2009) ele se tornou um referencial para o evangelicalismo histórico mundial. Por apresentar também as questões do compromisso 6 Ver anexo 1: Pacto de Lausanne 37 sociopolítico e cultural que a igreja deve ter, o Pacto proveu a abertura da discussão de forma mais abrangente. Gondim(2010) apresenta o PL como o marco da Missão Integral.Ele explicita este pensamento na seguinte afirmação: “No final do congresso foi escrito o Pacto de Lausanne, que se firmou como marco da Missão integral [...] O Pacto de Lausanne (PL) tornou-se, portanto, uma das principais marcas para diferenciar evangelicais de evangélicos.”(GONDIM, 2010,p.83). Almeida resume a importância deste momento com as seguintes palavras: No que me concerne, a maior relevância do movimento de Lausanne foi o aprofundamento da discussão teológica sobre a instaurada dicotomia entre evangelização e ação social. [...] naquele tempo ela (a discussão) foi de extrema importância para o ramo evangélico que exercia seu ministério em países pobres do então Terceiro Mundo.Importantes representantes de países latino-americanos ofereceram sua contribuição para o debate demonstrando a integralidade do evangelho tanto como salvação do pecado espiritual como do pecado estrutural. O evento promoveu o surgimento de uma geração de pastores e teólogos defensores da missão integral ou do evangelho holístico que se fizeram representar por grupos como a Fraternidade Teológica Latino-Americana.(ALMEIDA,2005, p.203) Um fator que deve ser destacado sobre o Congresso de Lausanne é que ele influenciou de maneira significativa o evangelicalismo latino-americano e seus ecos foram escutados nos CLADEs posteriores. 1.2.3. CLADE II Após a realização do Congresso de Lausanne,os membros da FTL organizaram o CLADE II, que foi realizado em Huampani, um bairro da cidade de Lima, no Peru, de 31 de outubro a 9 de novembro de 1979. O evento teve como tema: “Para que a América Latina ouça a voz de Deus.” Este congresso foi convocado pela FTL, esta que,ao longo de dez anos de trabalho,conseguiu estabelecer um ambiente propício para o diálogo, por haver tratado com idoneidade a tensão existente entre evangelicais e evangélicos fundamentalistas. Essa convocação feita por parte da FTL foi um diferencial, pois o CLADE I, como se pode constatar, foi convocado e dirigido por missionários norte-americanos; já no CLADE II a iniciativa por uma reflexão autóctone começa a ganhar força. O auditório deste congresso foi composto por delegações de 21 países da América Latina e Caribe. Do total de 220 participantes, 22 eram mulheres.As palavras 38 de abertura proferidas por Samuel Escobar revelavam os objetivos visados para o evento: 1.Estimular a mobilização dos evangélicos do continente para uma evangelização autêntica e eficaz. 2. Considerar os desafios e oportunidadesque a América planeja para a missão evangelizadora da igreja às vésperas de uma nova década. 3. Tomar consciência dos recursos humanos e espirituais com que conta o povo evangélico latino-americano para a realização de sua missão evangelizadora. 4. Traçar linhas diretrizes para uma comunicação profunda e eficaz do evangelho no contexto latino-americano. 5. Servir de agente catalisador para uma melhor cooperação entre os cristãos evangélicos na comunicação e vivência do evangelho nos diferentes setores do continente. (apudLONGUINI, 2002, p.185) O CLADE II adotou um método para a participação dos congressistas que possibilitou uma maior relevância do conteúdo elaborado no congresso. Inicialmente houve um período preparatório, no qual os participantes tiveram um tempo de leitura e análise detalhada da realidade latino-americana de cada região, observando aspectos políticos, socioeconômicos, culturais, religiosos, morais e espirituais da evangelização. Cada região teve liberdade para apresentar e organizar seu relatório, trabalhando assim a multifacetada realidade de cada contexto. O material que foi preparado por esses grupos serviu de base para a reflexão teológica, de amostragem da situação da América Latina e do papel das Igrejas nesses contextos. O objetivo dos organizadores com isso era refletir sobre algo concreto; tomar a realidade como ponto de partida. Segundo Longuini,“O tema da evangelização foi tratado procurando abranger o trabalho já realizado das igrejas ou instituições paraeclesiásticas, buscando, também, apontar os desafios para o futuro.” (2002, p.186). Ao olhar para a metodologia que o congresso adotou para a reflexão dos temas, pode-se dizer que é eminente o fato de que o caminho escolhido não visava a imposição de uma teologia estranha ao terreno que a receberia, mas buscava promover a participação e reflexão de todos. Esta forma como foi realizado o congresso contribuiu muito para a notável produção dos grupos de trabalho. Outro fator digno de nota sobre o CLADE II é que este não produziu um: “Superdocumento” como pacto, compromisso ou declaração; firmou- se uma pequena carta, simples, porém rica em conteúdo. A atenção voltou-se para os Documentos de Projeção e Estratégia, que registram a visão teológica, a teologia da missão, as propostas para o movimento evangelical em particular, e para o protestantismo em geral na América Latina. (LONGUINI, 2002, p.186). 39 Ao analisar o CLADE II, pode-se encontrar fatores que denominamos pontos de contato e ecos Lausanne. Denominam-se pontos de contato elementos que aparecem de maneira convergente nos congressos sem ter havido necessariamente influência de um sobre outro. Por se tratar de congressos cristãos protestantes, sobre a temática da evangelização, possuem conceitos comuns a ambos, por isso denominados pontos de contato. Os Ecos7 de Lausanne são os elementos, características e abordagens que foram tratados no Congresso Mundial de Evangelização, em Lausanne, e que por influência deste nos participantes que tiveram acesso a esse conteúdo, foram levados à pauta do CLADE II. Ao encontrar esses pontos de contato e esses ecos se poderá mensurar, mesmo que de maneira introdutória, a proximidade conceitual entre esses dois congressos e a influência de Lausanne sobre o CLADE II. Para fazer essa análise serão comparados o PL e a carta final elaborada pelo CLADE II, pois estes documentos resumem as resoluções e conteúdos de ambos os congressos. O primeiro ponto de contato que se destaca entre ambos os congressos é o objetivo deles, que era trabalhar a questão da evangelização. No ponto intitulado Antecedentes da carta do CLADES II vê-se a seguinte afirmação: “nosso propósito tem sido considerar juntos a tarefa evangelizadora que somos chamados a cumprir nas próximas décadas” (LONGUINI,2002, p.192). Em consonância a esta afirmação pode- se ver as palavras introdutórias do PL ao dizer: “Acreditamos que o evangelho são boas novas de Deus para todo o mundo e, por sua graça, decidimos obedecer aos mandamentos de Cristo e proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos em todas as nações.” (STOTT, 2003, p.24). Deve-se, porém, ressaltar que ao se referirem à evangelização e à proclamação, ambos partem de uma perspectiva que rompe com a visão conversionista, mas que baseia-se em um paradigma holístico do ser humano, que enxerga a necessidade de sua conversão não apenas nos aspectos espirituais e religiosos, mas também sociais, culturais, políticos e socioeconômicos. Um segundo ponto de contato que se pode notar entre os dois congressos é a compreensão que o PL e o CLADE II apresentam sobre a Bíblia, sua autoridade e poder. A visão de ambos sobre este tema é totalmente convergente. No PL está escrito: 7Utiliza-se aqui uma figura da física que expressa a reverberação das ondas sonoras emitidas em um local, mas que são “ecoadas” em lugares mais distantes, e o lugar distante que aqui nos referimos é o CLADE II 40 Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma; é a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje.(STOTT, 2003.p.89e90) Em uma porção menor, o CLADE II reafirma os mesmos valores presentes na citação anterior, dizendo: “Procuramos deliberar sobre nossa missão submetendo-nos à autoridade suprema da Bíblia, a Palavra de Deus, à direção soberana do Espírito Santo”(LONGUINI, 2002, p.192). O entendimento expresso em ambos sobre a origem divina da Bíblia baseia-se na compreensão de que ela é inspirada; isso significa que Deus foi aquele que soprou aos homens o conteúdo que nela consta. Por acreditar que ela é a Palavra de um Deus verdadeiro que não mente, e consequentemente verdadeira, é autoridade, regra de fé e prática, tendo assim autoridade sobre o pensar e agir dos que nela creem. Stott, em seus comentários sobre o PL, ao abordar o tema referente à Bíblia, afirma: “trata-se de sua única Palavra escrita, porque não podemos aceitar as escrituras supostamente sagradas de outras religiões (por exemplo, o Corão ou o Livro Mórmon) como se tivessem sido ditadas pelo Espírito e proferidas pela boca de Deus.” (STOTT, 2003, p.32). Nos dois documentos nota-se um fator de exclusividade e generalidade sobre a Bíblia. São exclusivistas ao afirmarem que a Bíblia é a única Palavra de Deus, e sua generalidade está presente na sua propagação, pois nota-se, em ambos os congressos, que a mensagem bíblica é destinada a todos os povos. O PL afirma: “A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade”. (STOTT, 2003, p.89) O CLADE II afirma: “Sentimos que devemos responder ao desafio missionário que em nível mundial representam as milhões de pessoas que não conhecem a Jesus Cristo com Senhor e Salvador”. (apud LONGUINI, 2002, p.192). Outro ponto de contato que podemos notar nos documentos é a cristologia. Os dois apresentam Cristo como o caminho para a salvação, aquele sobre o qual toda a missão evangelizadora se fundamenta. O CLADE II afirma: “Ao mesmo tempo sentimos que devemos responder ao desafio missionário que, em nível mundial, representa as milhões de pessoas que não conhecem a Jesus Cristo como Senhor e 41 Salvador.” (LONGUINI, 2002, p.192). O PL apresenta essa mesma compreensão, porém de forma mais clara e detalhada: Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu a si mesmo como único resgate pelos pecadores, é o único mediador entre Deus e os homens.
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