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Meta da aula Tendo finalidade introdutória, esta aula propõe-se a discutir a interseção da Psicologia com a Educação de uma forma crítica. Pretende-se apresentar ao aluno, a partir de uma análise crítica, algumas contribuições da Psicologia que dão sustentação ao campo da Educação. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. conceituar a Psicologia; 2. relacionar a Psicologia como um dos fundamentos da Educação; 3. identificar algumas das principais teorias que compõem o campo da Psicologia, conforme descritas na literatura específica de um modo geral. 1AULAPsicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional ob jet ivo s Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 8 CEDERJ INTRODUÇÃO PsIcOlOgIa E EDUcaÇÃO: Um NOvO camPO DO cONhEcImENTO O termo “psicologia” vem da junção das palavras gregas psyché, alma, e logos, palavra, razão ou discurso. Desta forma, no rigor semiológico, a Psicologia seria o “discurso sobre a alma”. Na Grécia Clássica, quase todo filósofo interessava-se pelos produtos da alma, a razão entre eles. Compreender as paixões humanas vem sendo objeto de interesse e estudos da humanidade desde que o homem alçou à consciência de sua existência. Já o termo educação provém do latim educatione que significa a ação de criar (animais), cultivar (plantas); ele diz respeito também aos termos criação (de ovelhas, porcos etc.), culturas (como a da cana-de-açúcar etc). No sentido figurado, deu origem aos termos educação ou instrução. Originalmente vem do verbo educo que tem duas vertentes: 1) educ-are: com os sentidos de: a) criar, amamentar; b) educar, instruir, ensinar; c) produzir; 2) educ-ere: com os sentidos de: a) levar para fora, fazer sair, tirar de; b) criar, educar; c) dar à luz, produzir; d) em sentido figurado, elevar, exaltar; e) esgotar, esvaziar, absorver; f) passar o tempo (FARIA, 1967). Diante dessas possibilidades de sentidos, não haveria vários modelos de educador? No correr dos séculos, no contexto dos campos de saberes que se apresen- taram em decorrência da fundação da ciência moderna, a Psicologia, herdeira legítima do campo de pesquisa inaugurado pelo pensamento cartesiano (que veremos mais à frente) com o estudo da consciência pela dúvida e pela indagação do homem sobre quem é, surgiu para situar a dimensão subjetiva no âmago das ocorrências da vida. Não obstante, teve como pretensão edificar-se como saber científico, segundo os preceitos da época: observar, mensurar, comprovar e repetir, aderindo desse modo ao método das ciências exatas que se fundamentava no processo de quantificação e matematização dos fenômenos naturais. Sem dúvida, as ciências humanas ou ciências do sujeito (FARIAS; DUPRET, 1998) adotaram como paradigma os parâmetros de validação das ciências naturais, como bem o demonstra a criação por Wilhelm Wundt (WOLMAN, 1970; SCHULTZ, 1994), no final do século XIX, do primeiro laboratório de Psicologia na cidade de Leipzig. A fundação desse espaço de análise e mensuração dos fenômenos psíquicos é tomada equivocadamente como o marco de cientificidade da Psicologia. W i l h e l m W u n d t Nasceu na Alemanha em 16 de agosto de 1832 e morreu em 31 de agosto de 1920. Foi médico, filósofo e psicólogo. Foi professor de Filosofia da Universidade de Leipzig por quarenta e cinco anos. Ali fundou o primeiro Laboratório de Psicologia Experi- mental em 1879, o que rendeu-lhe o título de pai da Psicologia moderna. Fonte: http://upload. wikimedia.org/wikipedia/ commons/1/13/ Wundt.jpg CEDERJ 9 Não obstante, o acontecimento que funda um campo de saber equivale a um corte epistemológico (BACHELARD, 1977), ou seja, uma ruptura que indica transformação fundamental, desvinculando um saber de seu passado ideológico, marcando o momento em que se produz um novo objeto de estudo. Esse novo objeto confere o caráter de cientificidade a um dado campo de saber. Eis o tempo, sem retorno, de um acontecimento que marca o início da cientificidade de um saber. Em certo sentido, no que concerne à Psicologia, ainda não se pode afirmar que houve a passagem de um modo de pensar que viesse no lugar das concepções de classes e categorizações, baseadas em fundamentos do método positivista. Isso quer dizer que “a elaboração de conceitos na Psicologia acha-se dominada pelo problema da regularidade, no sentido de freqüência” (GARCIA-ROZA, 1972, p. 10). Sendo assim, um dos enganos freqüentemente cometidos nessas análises é o de supor que a Psicologia teria surgido como ciência a partir do momento em que um conjunto de saberes puramente empírico recebeu uma quantificação matemática. Desse modo, compreende-se que a Psicologia não tenha, no campo dos saberes, um lugar definido, circulando desde o interior da cientificidade até o campo de práticas ideológicas. Sem dúvida, o momento de corte epistemológico ainda não aconteceu no âmbito do saber psicológico. No entanto, o esforço dos pioneiros do laboratório de Leipzig teve desdobramentos importantes, no século XX, no emprego tecnicista do saber psicológico que produziu uma espécie de coisificação do homem como objeto analisável, decifrável e previsível. Eis as amarras que marcam a presença da Psicologia no campo da Educação, principalmente, pelo uso de instrumentos psicométricos considerados procedimentos válidos para a decisão sobre o destino de um aprendente numa dada circunstância. Assim, tem-se a presença marcante da Psicologia nas práticas educativas, mas, sobremodo, retratando a visão de coisificação, além de, também, individualizar o processo educativo como uma ocorrência localizada apenas no aluno, que poderia encontrar-se afetado pela estrutura das relações familiares quando os problemas escolares se evidenciavam. No campo da prática educativa, esse tipo de compreensão incidiu no processo de disciplinamento do aluno para depois cair numa espécie de subjetivismo. Então, temos como conseqüência da presença da A palavra epistemologia é derivada da palavra grega epistheme, que é o conhecimento fundamentado. Pode ser contrastada com o termo, também grego, doxa, que é a mera opinião, sem compromisso com a verdade. A epistemologia é o estudo do processo de criação do conhecimento científico, considerado como verdadeiro. O termo psicometria – do grego psyché, alma, e metron, medida, medição – indica uma área da Psicologia que se dedica ao estudo das medidas psicológicas, utilizando-se, para isso, da Estatística. O psicólogo psicometrista manuseia os testes psicológicos de acordo com alguns critérios básicos que são validade, fidedignidade e padronização. Atualmente, no Brasil, os testes psicológicos passam por periódicas avaliações feitas pelo Conselho Federal de Psicologia. A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 10 CEDERJ Psicologia na Educação duas amarras: a instauração de procedimentos disciplinares e o subjetivismo, como resultados da leitura sobre a conduta e suas causas. No tocante ao processo disciplinar, o alvo era a normatização e, para consegui-la, a Psicologia Escolar encarregava-se de apontar os alunos necessitados de ajustes para promover a esperada adequação necessária. Para realizar esse empreendimento, era utilizada a mensuraçãode fenômenos de cunho psicológico e em seguida era prescrita toda uma série de tratamentos clínicos especializados com o objetivo de corrigir os possíveis desvios nos aprendentes estigmatizados como portadores de distúrbios de comportamento e de aprendizagem. Assim, alimentava-se ilusoriamente a possibilidade de decifrar o mundo psíquico daquele que está em posição de aprender para que, em seguida, tivesse lugar o processo de correção psicológica. No tocante ao subjetivismo, historicamente surgido após a prática disciplinar e de correção, temos a apresentação de um movimento crítico, mas só aparentemente, ao conservadorismo na Educação, visto que o papel da Psicologia continuou sendo o mesmo: decifrar o aluno. Tal idéia sustentava-se na necessidade de entender subjetivamente o aprendente para ensiná-lo em melhores condições. Assim, temos a prática pautada no pressuposto que se configurou numa máxima absoluta e suficiente que ditava as coordenadas de como o ensino deveria se processar, conforme veremos adiante. Atendem ao Objetivo 1 1. O que significa a palavra “Psicologia”? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 2. Qual era o objetivo da Psicologia Escolar? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ATIVIDADES CEDERJ 11 Respostas comentadas 1. Etimologicamente, a palavra Psicologia significa “discurso sobre a alma”. Corresponde a uma disciplina do campo das ciências humanas composta por um conjunto de teorias que buscam explicar, entender, predizer, modificar, relacionar as manifestações do psiquismo humano. 2. A Psicologia Escolar buscava adaptar o aprendente aos métodos utilizados no processo de aprendizagem, utilizando-se, para isso, a mensuração de fenômenos de cunho psicológico para prescrever os procedimentos necessários. Geralmente, eram tratamentos clínicos que tinham por objetivo corrigir os possíveis distúrbios de comportamento e de aprendizagem, visando à correção psicológica. as DImENsõEs hIsTóRIcas DO DIálOgO ENTRE a PsIcOlOgIa E a EDUcaÇÃO Ao longo do século XX, as relações entre o saber psicológico e o campo das práticas educativas tornaram-se cada vez mais estreitas. Mas nem todos os psicólogos que pensam a prática educativa têm as mesmas opiniões. Aliás, existem discrepâncias profundas em relação à possibilidade de utilização e aplicação do conhecimento psicológico para explicar a dinâmica do ato educativo. Essas discrepâncias têm gerado diversas vertentes nas concepções que se referem ao diálogo entre a Psicologia e a Educação, assumindo posições teóricas extremas. Por um lado, existem defensores de que a relação entre ambos os campos de práticas sociais teorizadas consiste na utilização dos resultados oriundos das diversas áreas da Psicologia que explicam aspectos da constituição psíquica e da constituição do sujeito, relevantes para o processo educativo e para o ensino. Nesse caso, a interseção desses campos de saber não pode ser compreendida como um âmbito específico de conhecimento, mas sim como a Educação sendo o campo prático de aplicação da Psicologia. Por outro lado, existem aqueles que advogam que o diálogo entre esses campos não pode se restringir à situação de aplicação do saber psicológico aos fenômenos educativos. Nesse sentido, a finalidade da Psicologia, voltada para o processo de transmissão de saber e de construção do conhecimento, consiste na criação de um conhecimento A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 12 CEDERJ específico, utilizando, para tanto, os princípios e as explicações fornecidas pela Psicologia como instrumentos de indagação e de análise. Assim, esse diálogo adquire o estatuto de uma problemática epistemológica, sendo um campo de saber crítico, estruturado numa área que compreende a dinâmica dos processos psíquicos e a internalização de limites referidos às restrições decorrentes do ato educativo. As oscilações que ocorrem no campo da Psicologia em função de suas heranças filosóficas, refletem-se, sistematicamente, no campo da Educação, principalmente se considerarmos as duas correntes estruturadas em torno da definição circunscrita no objetivo da Psicologia: a) explicações teóricas de fenômenos empíricos que se valem do modelo das ciências naturais como padrão, detendo-se no estudo dos processos sensoriais e atividade reflexa; b) discussões de natureza filosófica que se preocupavam com o estudo do psiquismo, pensado como equivalente à consciência. Obviamente, cada linha de raciocínio traçada na Psicologia repercutiu de forma diferenciada na Educação, mas na perspectiva de que o campo das práticas educativas se constitui como o espaço privilegiado de aplicação do saber psicológico. Sendo assim, a Psicologia é definida como disciplina responsável pelas explicações de questões originadas no cotidiano da sala de aula. O resultado de tal empreendimento fez com que a Psicologia fosse considerada como o discurso competente, que apenas validaria posições ideológicas na Educação, vinculadas a um “poderoso instrumento de julgamento e de discriminação” (VASCONCELOS; VALSINER, 1995, p. 11). Assim, a partir dessa forma de entendimento formou-se uma corrente de opinião que resultava num tipo de funcionamento quando questões da prática educativa se evidenciavam. Quer dizer: quanto maior fosse a dificuldade encontrada na prática pedagógica, tanto menor seria a busca, nesse mesmo campo de prática, para decifrar os significados das circunstâncias encontradas, uma vez que havia a expectativa de que a Psicologia fornecesse as soluções para os significados das situações difíceis. Nesse sentido, a pedagogia permitiu que a Psicologia invadisse a sala de aula, destituindo o professor da posição de saber e colocando-o no lugar de incapaz de buscar soluções próprias. CEDERJ 13 Sendo assim, a Psicologia, ao invés de contribuir significativamente no andamento das questões no campo da prática educativa, tornou-se um grande empecilho à evolução do conhecimento e à reflexão mais clara de seu objeto de estudo. Em certo sentido, houve uma submissão da prática educativa aos princípios psicológicos, mas sem uma reflexão crítica, o que acabou implicando o surgimento de práticas educacionais tecni- cistas com conseqüências graves para a prática pedagógica, ocasionando a desvinculação dessas práticas das necessidades educacionais. ATIVIDADES Atendem ao Objetivo 2 3. Quais limitações a Psicologia impôs à prática educativa? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 4. Que reflexos da Filosofia sobre a Psicologia influenciam o campo da Educação? _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ Respostas comentadas 3. Os saberes psicológicos não digeridos, apenas reproduzidos sem análise crítica e tomados como verdades absolutas, acabaram por impedir que pais e mestres aceitassem e valorizassem o conhecimento oriundo de suas próprias experiências, cimentados às teorias. A teoria é fundamental por nos poupar trabalho de partir do zero. Contudo, deverá estar sempre aberta a modificações caso a prática demonstre o contrário ou traga novos achados. 4. Entre esses reflexos, destacam-se as explicações teóricas de fenômenos empíricos que se valem do modelo das ciências naturais como padrão, detendo-se no estudo dos processos sensoriais e atividade reflexa, e as discussões de natureza filosófica que se preocupam com o estudo do psiquismo, pensado como equivalente à consciência. A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 14 CEDERJ Os PERíODOs DO DIálOgO ENTRE a PsIcOlOgIa E a EDUcaÇÃO a contribuição da Psicologia filosófica A história do relacionamento entre esses dois campos de saber confunde-se, nas suas origens, com a história do surgimento do saber psicológico a partir da criação do laboratório de Psicologia Experimental e com a evolução do pensamento sobre a prática educativa. Até o final do século XIX, não havia fronteiras nítidas, sendo que as relações entre a Psicologia e a Educação eram mediadas por premissas estabelecidas no campo da Filosofia. Assim, temos as influências do saber psicológico, de cunho filosófico, nas explicações das ocorrências no âmbito da prática educativa, como bem ilustra a teoria das faculdades mentais em suas três grandes áreas: intuição, volição e emoção. Essa teoria parte da premissa de que o conhecimento consiste na investigação da verdade por meio da compreensão dos nexos existentes entre os acontecimentos temporais. Remonta assim à teoria platônica que postulava a correspondência entre pensamento e realidade a partir do entendimento acerca da existência de um mundo divino onde se encontravam as idéias perfeitas. No modo de entendimento aristotélico, observa-se uma mudança: o conhecimento se origina nas evidências oferecidas pelos sentidos, no processo de aprendizagem que decorre das leis de associação, interferindo o papel da memória, bem como a influência da experiência sobre o ato de conhecer: a sensação, a memória e a imaginação são identificadas como funções cognitivas que representam a possibilidade de ação do homem. O modo de explicação aristotélico perdura até o século XVII, quando pensadores, como Bacon, Descartes e Locke (veja os verbetes), realizaram novos estudos sobre o conhecimento em duas vertentes: o empirismo e o racionalismo. Nas explicações de cunho empirista, postulava-se que as sensações são a fonte de conhecimento. Daí a importância dos sentidos e do papel da experiência como fonte de conhecimento. Nas explicações de cunho racionalista, desacreditavam-se os sentidos como fontes fidedignas em que apoiar o conhecimento, já que eles podem apenas fornecer uma visão confusa e provisória da verdade. Apostava-se na razão, da qual se originaria todo o conhecimento pro- veniente de princípios irrecusáveis (LALANDE, 1992). em p i r i s m o Doutrina que reconhece a experiência como única fonte válida de conhecimento, em oposição à crença racionalista, que se baseia, em grande medida, na razão. Para o empirismo, nenhuma certeza é possível, ne- nhuma verdade é absoluta, já que não existem idéias inatas e o pensamento só existe como fruto da experiência sensível. Defende o conhecimento da razão, da verdade e das idéias racionais por meio da experiência. A partir da criação da ciência moderna por Francis Bacon, o maior representante do empirismo na modernidade foi John Locke. Francis Bacon nasceu em Londres, em 22 de janeiro de 1561, e faleceu na mesma cidade em 9 de abril de 1626. Foi eminente político, filósofo e ensaísta. Como filósofo, destacou-se com uma obra em que exalta a ciência como benéfica para o homem. Em suas investigações, ocupou-se especialmente com a metodologia científica e com o empirismo. É reconhecido por muitos como o fundador da ciência moderna. Também inglês, John Locke nasceu na Inglaterra em 29 de agosto de 1632 e lá faleceu em 28 de outubro de 1704. Estudou medicina, ciências naturais e Filosofia em Oxford, debruçando-se principalmente sobre as obras de Bacon e Descartes. É considerado o representante principal do empirismo na Inglaterra. Propôs que a experiência é a fonte do conhecimento, que depois se desenvolve por esforço da razão. Figura 1.1: Francis Bacon. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:Frans_Hals_-_Portret_van_ Ren%C3%A9_Descartes.jpg CEDERJ 15 ra c i o n a l i s m o Doutrina que afirma que tudo que existe tem uma causa inteligível, mesmo que não possa ser demonstrada de fato, como a origem do Universo. Privilegia a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao conhecimento. É baseada nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento a priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão. Seu representante maior na modernidade foi René Descartes. Nascido em 31 de março de 1596, em La Haye en Touraine, na França, e falecido em 11 de fevereiro de 1650, em Estocolmo, na Suécia, Descartes foi um grande filósofo, cientista e matemático. Reconhecido por muitos como “o fundador da Filosofia moderna” e “pai da matemática moderna”, é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. No entender de Locke (WOLMAN, 1970), o psiquismo seria o equivalente a um mapa plano, uma espécie de folha em branco, que recebe as impressões provenientes do meio que chegam aos sentidos e que geram, com a ajuda da atividade reflexiva, todo o conhecimento. Esse princípio serviu de base para a explicação da dinâmica psíquica a partir da teoria das faculdades mentais formulada nos seguintes postulados: • A realidade pode ser reduzida a algumas estruturas primordiais que podem ser identificadas pela observação e são estas estruturas constituintes do conhecimento verdadeiro da realidade. Podem ser descritas como uma linguagem simbólica. Considerando essa visão, a tarefa do aprendente, cujo psiquismo possui a capacidade de manipular sím- bolos e de realizar operações com esses símbolos de maneira adequada, consiste em apreender essas representações simbólicas que descrevem as estruturas da realidade. • Os alunos são bem diferentes entre si na capacidade de utilizar esses símbolos, o que deve ser tomado como parâmetro para explicar os diferentes ritmos, tempos e rendimentos no processo de aprendizagem. • O projeto político-pedagógico é formado por um conjunto de representações simbólicas da realidade, organizado de maneira lógica e ordenado no sentido de facilitar a sua captação pelos aprendentes. • A teoria das faculdades mentais oferece justificativas para a utilização do método da disciplina formal, ou seja, a prática pedagógica deve exercitar tais faculdades nos aprendentes. Por esse motivo, a esco- la deve selecionar e dar prioridade aos conteúdos que contribuam para o desenvolvimento da atenção, da concentração, do raciocínio, da memória ou de quaisquer outras faculdades que se deseje suadinâmica. A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 16 CEDERJ Desse modo, a influência da Psicologia filosófica constata-se principalmente no pensamento de herbart, sem dúvida “o autor mais influente na teoria educativa do século XIX, para quem, a Educação é a aplicação prática da Filosofia” (SALVADOR, 1999, p. 20). Isso se for considerado que a Filosofia moral tem a responsabilidade de estabelecer os objetivos da Educação e do ensino, cabendo à Psicologia proporcionar os meios necessários para atingir esses objetivos. Nesse contexto, temos uma Psicologia constituída como método de análise reflexiva que contribuiu para a explicação da aprendizagem a partir das leis da associação propostas por Locke e das teorias das faculdades mentais. Essa explicação partia do pressuposto de que o psiquismo tem a capacidade de conservar as imagens recebidas, organizá-las com objetivo de serem utilizadas posteriormente no processo de aprendizagem, visto que as idéias e imagens formam uma massa de representações que exercem uma influência considerável nas experiências subseqüentes quanto maior for o nível de conscientização produzido. Um de seus maiores críticos foi o educador estadunidense, John deWey, para quem o aluno tinha iniciativa, originalidade e ação cooperativa, quando permitido. Dewey considerava a criança “(...) um ser vivo de funções ativas e especiais que se desenvolvem pela redireção e combinação em que entram quando se põem em contacto ativo com o seu ambiente” (DEWEY, 1959, p. 77). A defesa desta posição serviu de base para a criação do conceito de Escola Ativa (que será explicada em capítulos posteriores), contrapondo-se à idéia herbartiana de um aluno passivo no processo de aprendizagem. Para Ghiraldelli (2000), Herbart e Dewey foram responsáveis por duas das maiores revoluções no âmbito da teoria educacional: em Herbart, a emergência da mente, em Dewey, a emergência da democracia. A terceira delas, de acordo com o autor, seria a de Paulo Freire, pela emergência do oprimido. Jo h a n n F. he r b a rt Nasceu em Oldenburgo, na Alemanha, em maio de 1776, vindo a falecer em agosto de 1841. Trouxe grandes contribuições para a pedagogia, emprestando rigor e uma certa cientificidade ao seu método. Foi o precursor de uma Psicologia experimental aplicada à pedagogia, além de o primeiro a elaborar uma pedagogia que pretendia ser uma ciência da Educação. John deWey Nasceu em 20 de outubro de 1859, em Vermont, nos Estados Unidos, e faleceu em 1o de junho de 1952. Filósofo, psicólogo, crítico social, ativista político e reformador educacional, Dewey ficou conhecido como um dos fundadores da escola filosófica do pragmatismo. Para ele, a chave do desenvolvimento intelectual era a escolarização. CEDERJ 17 ATIVIDADES Atendem ao Objetivo 3 5. Para Locke, o que é o psiquismo? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 6. Considerando os trechos de textos a seguir, responda: a) No que consiste o início do processo de ensino-aprendizagem para cada um dos autores mencionados?; b) qual a importância da escolarização para Dewey?; c) Qual a principal crítica de John Dewey à teoria herbartiana? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ________________________________________________________________ Para Dewey, a chave do desenvolvimento intelectual, e conseqüentemente do progresso social, era a escolarização, sobretudo numa época em que as influências educacionais de outras instituições (o lar, a igreja, etc.) decresciam tão drasticamente. Dewey destacou a natureza moral e social da escola e acreditava que esta poderia servir como uma “comunidade em miniatura, uma sociedade embrionária”, particularmente uma sociedade que dinamizava ativamente o crescimento da democracia que havia sido minimizado pela sociedade urbano-industrial. (...) Assim, não só a escolarização universal era crucial na rápida transformação social, como também a “nova Educação” era vital, uma Educação que era guiada pela perspectiva de que a escola é a vida e não uma preparação para a vida. Desta forma, a melhor preparação para a democracia consistia em proporcionar oportunidades aos[às] estudantes (e também aos[às] professores[as]), por forma a engajarem-se ativamente na vida democrática (TEITELBAUM; APPLE, 2001, p. 198). O processo de ensino-aprendizagem, para Herbart, começa com a preparação, que consiste na atividade que o professor desenvolve recordando ao aluno o assunto anteriormente ensinado ou algo que o A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 18 CEDERJ aluno já sabe. Dewey, por sua vez, não vê necessidade de tal procedimento, pois acredita que o processo de ensino-aprendizagem tem início quando, pela atividade dos estudantes, eles se defrontam com dificuldades e problemas, tendo então o interesse aguçado (GHIRALDELLI, 2000). A crítica de Dewey a Herbart recai sobre a omissão do aspecto ativo da aprendizagem da criança. Dewey discordava da forma exagerada de conceber a influência da matéria apresentada do exterior sobre a formação do espírito, já que considerava a criança “(...) um ser vivo de funções ativas e especiais que se desenvolvem pela redireção e combinação em que entram quando se põem em contacto ativo com o seu ambiente (DEWEY, 1959, p. 7, apud CARVALHO, 2002, p. 53). Respostas comentadas 5. Para Locke, o psiquismo seria o equivalente a uma folha em branco, livre para receber as impressões provenientes do meio. Estas chegam aos sentidos e geram, com a ajuda da atividade reflexiva, todo o conhecimento. Esse princípio serviu de base para a explicação da dinâmica psíquica a partir da teoria das faculdades mentais e seus postulados: 6. Ao considerar os textos, as respostas serão: a) Para Herbart, o início de um o processo de ensino-aprendizagem consiste em relembrar ao aluno um assunto ou tema que ele já saiba, enquanto para Dewey tal procedimento é desnecessário pois os alunos colocarão questões e isso permitirá ao professor rever os pontos problemáticos do ensino. b) A escolarização era, para Dewey, a chave do desenvolvimento intelectual e conseqüentemente do progresso social, uma vez que a escola, em suanatureza moral e social, poderia servir como modelo da comunidade, proporcionando acesso à democracia. c) A principal crítica de John Dewey à teoria herbartiana, mesmo considerando a grande contribuição de Herbart para a compreensão dos processos psicológicos em ação em um educando e sua influência no processo de aprendizagem, recai contra a pretensão de controle absoluto dos processos mentais do aluno. Ele argumenta que Herbart não valoriza a ação do próprio aluno no processo, sua capacidade reflexiva, que acaba conduzindo a uma auto-educação. O sURgImENTO Da cIENTIFIcIDaDE Na PsIcOlOgIa Nas duas últimas décadas do século XIX, pela influência do advento da ciência moderna em que o mundo deixa de ser referido pelas qualidades para ser expresso em termos de quantificação, a Psicologia CEDERJ 19 centra-se na grande preocupação de se estabelecer como disciplina científica separada do âmbito das especulações filosóficas. Para tanto, seria preciso produzir um “sujeito distinto de toda forma de individualidade empírica” (MILNER, 1996, p. 28). Assim, há uma mudança de foco na Psicologia e o surgimento de uma tendência que pretendia fundar esse campo de saber em termos de cientificidade. Para isso, recorreu-se ao método experimental das ciências naturais, acreditando ser esse o caminho de desligamento da Filosofia. Sua intenção com esse empenho era transformar-se numa disciplina científica autônoma. A partir desse movimento, surgem os trabalhos que pretendiam demonstrar a cientificidade da Psicologia a partir de investigações para mensurar as diferenças individuais desenvolvidas por James mcKeen cattell, que influenciou o uso de testes no estudo dos processos mentais (SCHULTZ; SCHULTZ, 1994, p. 184). Paralelamente, William James, considerado por muitos como o primeiro grande psicólogo estaduni- dense, ocupa-se de questões psicológicas, desenvolvendo estudos para estabelecer as bases da Psicologia funcional, idéia que foi trabalhada no campo das práticas educativas por claparède, pioneiro no entendimento e na criação de uma Psicologia da criança. Ainda nesse contexto, stanley hall, fundador do American Journal of Psychology, centrou seus estudos no campo da Psicologia educacional, defendendo a idéia de que a ontogênese é a recapitulação da Filogênese. Por isso, o desenvolvimento infantil deve ser considerado em termos das necessidades da criança como um ponto de partida para a Educação. on t o g ê n e s e e F i l o g ê n e s e A ontogênese descreve a origem e o desenvolvimento de um indivíduo, indo da fecundação até a assunção de sua forma definitiva na idade adulta. Já a filogênese trata da origem e do desenvolvimento de uma espécie. Durante muito tempo acreditou-se que a ontogênese repetia a filogênese, isto é, cada indivíduo repete na história de seu desenvolvimento particular toda a história do desenvolvimento de sua espécie, postulado do biólogo alemão Haeckel. Esta teoria perdeu sua força a partir das teorias da evolução de Charles Darwin e da genética de Gregor Mendel. James mcKeen cattell Nasceu em Easton, na Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 25 de maio de 1860, e faleceu em Lancaster, no mesmo estado, em 20 de janeiro de 1944. Sob a influência de Galton, estudou as diferenças individuais e cunhou o termo “testes mentais”. Foi um dos mais ferrenhos defensores da Psicologia como ciência, tendo fundado e dirigido por mais de meio século uma das mais importantes revistas científicas da área, a Science. Fonte: http://www.ubishops.ca/ccc/div/soc/psy/verpaelst/ WEB%20PAGE%20FOLDER/Pictures/JamesMcKeenCattell.jpg A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 20 CEDERJ Em certo sentido, nesse período, a teoria da prática educativa encontrava-se praticamente fundamentada na tese de que o desenvol- vimento deve ser o ponto de partida. Com isso, a Psicologia afastou-se do pensamento filosófico, num movimento em defesa de cientificidade que foi bem reforçado nas primeiras décadas do século XX, pela implantação da escolarização generalizada e obrigatória. Com a separação da Filosofia, todos os olhares dirigem-se à Psicologia, campo de saber onde são depositadas as maiores expectativas para a elaboração de uma teoria sobre a prática educativa de fundamento científico que permite melhorar o ensino e intervir nos problemas que surgem no processo de construção do conhecimento e de transmissão do saber. Eis o surgimento da área de estudos, denominada de Psicologia da Educação, que requisitará especialistas na área. édouard claparède Médico e psicólogo suíço interessado no desenvolvimento infantil, nasceu em Genebra em 24 de março de 1873, e morreu na mesma cidade, em 29 de setembro de 1940. Defendia uma abordagem funcionalista da Psicologia e teve em Jean Piaget um dos seus mais conhecidos discípulos. Propunha que a Educação gravitasse em torno do aluno e não do professor, que o ensino se baseasse acima de tudo no conhecimento das crianças. granville stanley hall Psicólogo e professor, nasceu em Massachussets, nos Estados Unidos, em 1o de fevereiro de 1844 e faleceu em 24 de abril de 1924, no mesmo estado. Estudou na Alemanha com Wundt. Fundou, em 1887, o American Journal of Psychology, a primeira revista psicológica publicada nos Estados Unidos. Em 1910, convidou Sigmund Freud e Carl Jung para as famosas palestras na comemoração de fundação da Clark University. Fonte: http://www.muskingum.edu/~psych/psycweb/ history/hall.htm William James Filósofo e psicólogo norte-americano, nasceu em Nova Iorque, em 11 de janeiro de 1842, e faleceu em Nova Hampshire, em 26 de agosto de 1910. Fundamentou os aspectos pragmáticos do behaviorismo e foi precursor da Psicologia funcional. De interesses múltiplos, James chegou a fazer uma expedição ao Brasil em 1865, em viagem pelo rio Amazonas, em assistência a um zoólogo. Fonte: http://www.des.emory.edu/mfp/follow.html Figura 1.2: Stanley Hall entre Freud e Jung em 1910. CEDERJ 21 A partir daí, configurou-se na Psicologia científica uma área de interesse e questionamento acerca da prática educativa, apoiada em pesquisas sobre aprendizagem, avaliação do comportamento, instrumentos de mensuração psicológica e problemáticas no campo da Educação. Acreditava-se estar diante de um campo profícuo para a Educação, surgindo, como já apontamos, a necessidade de um especialista que fizesse a mediação entre a ciência proposta pela Psicologia e a arte do ensinar, o que fez com que a sala de aula fosse considerada como o espaço de estudo dos problemas escolares com a ajuda do método experimental. Não obstante, o empreendimento da Psicologia da Educação tinha como suporte o referencial da Psicologia sobre o funcionamento psíquico para utilizar e aplicar na Educação os conhecimentos relevantes, oriundos das pesquisas desenvolvidas sobre as diferenças individuais, a análise dos processos de aprendizagem e o desenvolvimento, no solo de uma cientificidade recém-nascida na Psicologia. Nesse modo de pensar, encontramos os trabalhos de alFred binet, pedagogo e psicólogo francês, acerca da mensuração de traços psicológicos sem a necessidade da utilização de correlações com os fenômenos psíquicos, conforme se fazia no laboratório de Leipzig, nos estudos de tempo de reação. De seus estudos, resultou uma escala de inteligência que foi utilizada por quase um século. Este foi o ponto de partida para os estudos sobre a Educação especial, no sentido deque o instrumento recém-criado permitia distinguir, com o menor erro possível, os atrasos escolares atribuídos a um déficit intelectual que seria provocado por fatores ambientais ou por uma escolarização prévia deficiente. Esse instrumento de avaliação das capacidades cognitivas concebe o desenvolvimento intelectual como o resultado da aquisição progressiva de mecanismos intelectuais básicos. Certamente, a criança com atraso não adquire os mecanismos adequados à sua idade cronológica. Sendo assim, na comparação da idade mental com a idade cronológica, a escala quantifica os anos de avanço ou de atraso no desenvolvimento intelectual. Eis o passo para o aparecimento do conceito de quo- ciente intelectual como o resultado da razão entre idade mental e idade cronológica, proporcionando uma medida única de inteligência. A partir daí, seguiram-se os trabalhos dedicados à construção de instrumentos de medida objetiva dos traços de personalidade e de rendimento escolar. alFred binet Psicólogo francês, autodidata, foi o primeiro a desenvolver um teste psicológico de capacidade mental, que deu origem aos perfis de idade mental. Nasceu em 8 de julho de 1857, em Nice, e faleceu em 28 de outubro de 1911. Fonte: http//:www. http://allpsych.com/ biographies/binet.html A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 22 CEDERJ A partir dessas investigações em laboratórios, surge o conceito de aprendizagem, baseado na seqüência de leis de associação. Esta é a primeira tentativa realizada por thorndiKe, pioneiro no estudo da aprendizagem, em aproximar a Psicologia da Educação da lei do efeito, segundo a qual as condutas posteriores satisfazem o impulso, positivo ou negativo, de evitar um perigo. Ao contrário, as condutas que impedem a satisfação de uma necessidade ou que intimidam o organismo não são aprendidas. São essas considerações teóricas que fundamentam a Psicologia condutista ou comportamentalista de Watson a sKinner. edWard lee thorndiKe Nasceu em 31 de agosto de 1874 e faleceu em 9 de agosto de 1949. Forneceu as bases para o behaviorismo de Skinner, sendo um dos pesquisadores mais importantes no campo da Psicologia animal, estabeleceu os modos como os organismos estabelecem associações entre as diversas situações e as respostas possíveis. Fonte: http: //ww.muskingum.edu/ ~psych/psycweb/history/ thorndike.htm burrhus Frederic sKinner Psicólogo norte-americano, nasceu na Pensilvânia, em 20 de março de 1904, e faleceu em Cambridge, em 18 de agosto de 1990. Conduziu trabalhos pioneiros em Psicologia experimental e foi o criador da escola de Psicologia conhecida como behaviorismo (de behavior, comportamento) ou comportamentalismo, que propõe que o comportamento seja explicado por reações observáveis e não pelo que se opera no interior do organismo, considerado uma espécie de “caixa-preta”, não passível de mensuração e observação, estando, portanto, fora do campo de uma ciência positiva. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:B.F._ Skinner_at_Harvard_circa_1950.jpg Mas a importância da Psicologia da criança como um núcleo da Psicologia da Educação deve-se à aceitação pelos educadores do postulado que considera ser indispensável conhecer melhor o aluno em termos de suas características individuais e de seu processo de desenvolvimento para melhor educá-lo. Em outras palavras, o sucesso do processo de aprendizagem estaria na dependência de um conhecimento prévio. Eis o espírito com que Claparède, já abordado anteriormente, defende tal postulado numa concepção funcional na Psicologia, tentando compreender os fenômenos psíquicos do ponto de vista de sua função vital e do lugar que ocupam no conjunto da conduta em um dado momento. Assim, tem-se a justificativa para “propostas pedagógicas do movimento reformador em Educação, conhecido como Escola Nova” (SALVADOR, 1999, p. 26). CEDERJ 23 Essa proposta inovadora centrava-se na idéia de que a base do processo educativo não deveria ser a recompensa ou o castigo, mas o interesse profundo do aprendente pela matéria ou pelo conteúdo da aprendizagem, ou seja, a criança deveria sentir que o trabalho na escola é desejável e assim a Educação teria como propósito desenvolver as funções intelectuais e morais, abandonando os objetivos voltados para a memorização, sem qualquer relação direta com o mundo em que vive a criança. Isso quer dizer que a escola torna-se ativa, assumindo a obrigação de mobilizar as atividades do aprendente e a tarefa principal do ensinante consiste em estimular os interesses da criança e assim desvendar as suas inquietações intelectuais, afetivas e morais. Mas para realizar tal empreitada, a Educação deveria ser personalizada, focalizando as dificuldades e interesses dos aprendentes. ATIVIDADES Atendem aos Objetivos 2 e 3 7. Entre os autores abordados, qual deles apóia o conceito de aprendizagem, baseado na seqüência de leis de associação? _________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 8. Que fatores fazem surgir a necessidade de um profissional que se interesse pelo campo da Educação? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ _________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ________________________________________________________________ Respostas comentadas 7. Thorndike, a partir de investigações em laboratório, aproxima o conceito de aprendizagem, baseado na seqüência de leis de associação. A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 24 CEDERJ Esta é a primeira tentativa realizada para aproximar a Psicologia da Educação da lei do efeito, segundo a qual as condutas posteriores satisfazem o impulso, positivo ou negativo, de evitar um perigo. 8. A partir da instalação da Psicologia científica, isto é, do desenvolvimento de pesquisas sobre aprendizagem, avaliação do comportamento, instrumentos de mensuração psicológica e problemáticas no campo da Educação. Daí surgiu a necessidade de um especialista que fizesse a mediação entre a ciência da Psicologia e a arte do ensinar, o que fez com que a sala de aula fosse considerada como o espaço de estudo dos problemas escolares com a ajuda do método experimental. a PsIcOlOgIa cOmO TEORIa NUclEaR Da PRáTIca EDUcaTIva No âmbito da prática educativa, as contribuições da Psicologia permitiram que a pedagogia tivesse um status científico, visto que as pesquisas, nesse campo, adotaram a metodologia própria da Psicologia experimental. A área de maior ênfase dos psicólogos da Educação foi certamente a construção e aperfeiçoamento de instrumentos demensuração psicológica. Na série das revisões da escala de inteligência de Binet, chegou-se com spearman à hipótese de um fator geral, Fator “g”, interpretado como a evidência de inteligência geral. Não obstante, na área de análise dos processos de aprendizagem e nos estudos do desenvolvimento infantil, o progresso é considerável. charles edWard spearman Psicólogo inglês, nasceu em 10 de setembro de 1863 e faleceu em 7 de setembro de 1945. Estudou a natureza das habilidades humanas e criou, baseado em medidas estatísticas, um fator de medição da inteligência, o fator “g”, dando origem à psicometria. Fonte: http://www. york.ac.uk/depts/ maths/histstat/people/ spearman.gif Fator “g” Correspondente à medida de inteligência geral, habilidade fluida de uma variável latente, que determina a variabilidade do quociente intelectual ou QI. A teoria sustenta que crianças com altos níveis de “g” assimilam com mais facilidade conteúdos em sala de aula, sendo mais propensas ao sucesso pessoal e profissional. Dentro de certa sofisticação de estudos, surgiu a polêmica entre aqueles teóricos que estudavam a aprendizagem em laboratório e que propunham a transposição para a sala de aula dos resultados encontrados na situação experimental e aqueles que a estudavam em situações de sala de aula. Estes defendiam a idéia de que somente os resultados obtidos diretamente a partir do estudo dos processos de aprendizagem em situações reais de sala de aula poderiam ser generalizados. CEDERJ 25 No que concerne à Psicologia do desenvolvimento infantil, o terceiro núcleo básico que configurou a Psicologia da Educação também passou por um notável crescimento. Assim, conformaram-se três linhas de trabalhos em Psicologia que conheceram significativas transformações: a) o conceito de medida psicológica foi sendo substituído pelo con- ceito de avaliação para se referir ao processo educativo e ao rendimento escolar. Isso representou o surgimento de um importante capítulo na Psicologia da Educação; b) houve também uma aproximação entre a Psicologia da Educação e a Psicologia Social, visto que a primeira, orientada para o estudo das diferenças individuais, do desenvolvimento infantil e dos processos de aprendizagem, pode enriquecer-se claramente com os estudos da segunda sobre o funcionamento dos grupos e suas interferências no comportamento individual. Eis o que se observa nos trabalhos de Kurt leWin sobre o clima social e suas repercussões na aprendizagem. O grande destaque de suas contribuições recaiu sobre o trabalho dos grupos com os exercícios de dinâmica de grupo para a promoção da aprendizagem, sobretudo seus estudos sobre liderança. Assim, temos o ponto de partida de uma linha de pesquisa referente aos estilos de ensino do professor e da interação educativa e; c) os novos desenvolvimentos conceituais, no campo da Psicologia sobre o comportamento, são bem recebidos no campo da prática pedagógica. Como se sabe, o behaviorismo (veja verbete sobre Skinner) exerceu um grande domínio na Psicologia da Educação especialmente pelas contribuições dos teóricos, como Hull e Tolman. Por outro lado, Paul Guillaume englobou os trabalhos de Lewin para elaborar um conjunto de materiais pedagógicos e de propostas didáticas, e a Psicanálise trouxe novas temáticas para o campo da Educação, destacando a importância da constituição do sujeito pelo complexo de Édipo (conceito que veremos nas aulas subseqüentes, sobretudo as de números 6 e 10) e dos processos inconscientes na gênese das relações objetais. Além disso, há todo um questionamento da relação professor-aluno. Na metade do século XX, o panorama da Psicologia da Educação era, além de extremamente complexo, bastante confuso: por um lado, em função de protagonizar a tarefa de elaborar uma teoria educativa e de Kurt leWin Psicólogo alemão, nasceu em 9 de setembro de 1890 e faleceu nos Estados Unidos em 12 de fevereiro de 1947. Doutorou-se em Psicologia em 1914 pela Universidade de Berlim, tendo sido grande estudioso da Psicologia dos grupos, dedicando seus estudos à área da motivação humana. Fonte: http: //3.bp.blogspot.com/ _T15eRP98f9s/ R7H7FzgwU-I/ AAAAAAAAD2U/ MLPFJG0etEI/s1600/ Kurt_Lewin.jpg A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 26 CEDERJ ATIVIDADES fundamentar uma prática de ensino que responda aos critérios científicos, viu-se obrigada a ampliar os seus conteúdos e o seu foco de atenção para além das três áreas mencionadas (o behaviorismo, a Psicologia Social e a Psicanálise). Por outro lado, seus limites perfilaram-se como uma conseqüência dessa ampliação dos conteúdos e das temáticas estudadas. Com isso, torna-se cada vez mais difícil precisar em que consiste a sua especificidade em relação às outras áreas da Psicologia e das ciências da Educação. Nesse movimento, a Psicologia da Educação configurou-se como um espaço de trabalho e de atuação científica que alimentava as contribuições provenientes de todas as áreas da Psicologia com a finalidade de contribuir tanto para a criação de uma teoria educativa de base científica como para a qualificação do ensino. Quer dizer, tratava-se da intenção de aplicação do conhecimento psicológico para melhor compreensão, explicação, planejamento e desenvolvimento dos proces- sos educativos. Não obstante, temos assim uma empreitada que não resiste a um tratamento epistemológico crítico. Atendem aos Objetivos 2 e 3 9. Qual foi a área de maior interesse dos psicólogos da Educação? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 10. Qual a contribuição da Psicologia social para a Educação? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ CEDERJ 27 Respostas comentadas 9. A área de maior ênfase dos psicólogos da Educação foi certamente a construção e o aperfeiçoamento de instrumentos de mensuração psicológica, sobretudo após a descoberta do fator de inteligência geral por Spearman. Isto desencadeou uma espécie de febre na criação de instrumentos de medida de inteligência, como também de métodos que pudessem desenvolvê-la. 10. A Psicologia social enriqueceu o campo da Psicologia da Educação ao estabelecer as influências dos grupos sobre o comportamento individual, tanto no que diz respeito à construção das diferenças individuais a partir da intervenção do grupo familiar, por exemplo, como da importância da relação professor-aluno no processo de aprendizagem. Aqui o grande nome é o de Kurt Lewin e seus trabalhos sobre o clima social e suas repercussões na aprendizagem. A teoria sobre a dinâmica dos grupos, utilizada em sala de aula, promove maiorinteração entre seus membros e permite que deles se destaque cada um com suas características, possibilitando a identificação de lideranças. mUlTIDIscIPlINaRIDaDE E INTERDIscIPlINaRIDaDE Na aPROxImaÇÃO ENTRE a PsIcOlOgIa E a EDUcaÇÃO A partir da década de 1950, uma série de ocorrências modificou substancialmente o panorama da relação entre Psicologia e Educação que foram determinantes do futuro do diálogo entre o saber psicológico e a prática educativa: a) a conscientização crescente das dificuldades de integração dos resultados das pesquisas que fomentam a Psicologia da Educação. Eis o reflexo do surgimento das teorias explicativas da aprendizagem já elaboradas em termo do questionamento da validade para explicar o processo educativo; b) o surgimento de uma série de disciplinas que têm como finalidade estudar os fenômenos educativos da mesma forma que se propunha à Psicologia da Educação, como a Educação Comparada, a Sociologia da Educação, a Tecnologia Educativa e o Planejamento Educativo. O aparecimento dessas disciplinas significou o grande questionamento ao papel de protagonista, exercido pela Psicologia, na medida em que são evidenciadas as insuficiências e as limitações da análise psicológica para se chegar a uma compreensão dos processos educativos; A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 28 CEDERJ c) os acontecimentos políticos, econômicos e sociais que alteraram as coordenadas da Educação escolar, como a exacerbada prosperidade econômica, a guerra fria entre os Estados Unidos e os países do bloco capitalista contra a União Soviética e os países do bloco socialista, o impacto da doutrina igualitária em Educação, a crença de que a Educação é um instrumento eficaz de mudança e de progresso social e, enfim, a ativação de políticas orientadas para a escolarização de toda a população infantil. No auge do movimento cognitivista, a aprendizagem começa a ser examinada como o produto de uma série de mudanças nos estados de conhecimento do sujeito que aprende. Isso se deveu ao estudo das estruturas de conhecimento mediante o uso de linguagens inspiradas na teoria da inteligência artificial, no chamado processamento humano de informações que explica a aprendizagem como um processo de aquisição, de reestruturação e de mudança das estruturas cognitivas. ATIVIDADES Atendem aos Objetivos 2 e 3 Pode-se afirmar que a operação dos programas de computador – essencialmente conjuntos de instruções para trabalhar com símbolos – é semelhante à da mente humana. Tanto o computador como a mente recebem e digerem grande quantidade de informações (estímulos) do meio ambiente. Eles processam essa informação, manipulando-a, armazenando-a, recuperando-a e realizando, a partir dela, várias operações. Logo, a programação dos computadores é o padrão da concepção cognitiva da capacidade humana de processar informações, raciocinar e resolver problemas. É o programa, e não o próprio computador (o software, e não o hardware), que serve de explicação às operações mentais. Os psicólogos cognitivos não têm interesse em eventuais correlatos fisiológicos dos processos mentais, mas na seqüência de manipulação de símbolos que subjaz ao pensamento. Seu objetivo é descobrir a “biblioteca de programas que o ser humano tem armazenado na memória – programas que permitem que a pessoa compreenda e produza sentenças, decore certas experiências e regras e resolva novos problemas” (HOWARD, 1983, p. 11, apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1994, p. 409). A partir do texto anterior e do que foi colocado em nossa aula, responda: 11. Qual o modelo utilizado pela Psicologia Cognitiva na formulação de suas teorias? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ CEDERJ 29 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 12. Que crítica poderia ser feita a este modelo? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Respostas comentadas 11. O modelo foi o computacional. Parte-se do princípio de que o pro- cesso de aquisição do conhecimento se processe da mesma forma que a introdução de informações nos computadores, em seus softwares. A concepção da mente humana, baseada no processamento da informação, é o fundamento da Psicologia Cognitiva. 12. A crítica mais radical que os estudos dos psicólogos da cognição sofrem diz respeito ao desprezo às questões afetivas e criadoras da inteligência humana. Máquinas não sofrem a intervenção de lembranças, de afetos e dificilmente permitem o brotar de uma solução jamais pensada anteriormente. Embora possa haver semelhanças entre o processamento de informações nos computadores e o que ocorre no homem – e certamente elas existem tendo em vista que o computador é uma criação do próprio homem –, essas semelhanças não são suficientes para transferir da máquina para o ser humano sua forma de adquirir conhecimento. Há vários fatores que interferem tanto na promoção (desejo, incentivo, vaidade etc.) como no impedimento (traumas maiores ou menores, sobretudo) da aquisição de conhecimentos. A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 30 CEDERJ cONclUINDO POR agORa Para concluir, no sentido de esclarecer algumas questões obscuras no encontro da Psicologia com a Educação, faz-se necessário postular que: a) a idéia de Psicologia definida como ciência do indivíduo marcou presença no campo da prática educativa, mas esta visão reducionista pouco serviço prestou à Educação, uma vez que, nesse campo, são válidas as práticas socialmente constituídas. Enfim, o caráter institucional permite alguns tipos de relações que não são possíveis na compreensão de uma Psicologia assentada no individual apenas; b) por outro lado, a Psicologia não pode responder a todas as demandas formuladas no campo da Educação, ou seja, a compreensão da forma de atuação do sujeito, amparada em suas características psicológicas, não é fonte para previsão e determinação de seu comportamento futuro e; c) o conceito de impossibilidade estrutural entre o acoplamento desses campos reforça a especificidade da escola em seu aspecto de formação do homem, visto que o diálogo possível entre professor e aluno, estabelecido na relação pedagógica e ancorado na atividade de ensinar e no processo de aprender, é o caminho para que o aprendente encontre-se na vida escolar. A impossibilidade de garantia de um ensino bem-sucedido, redundando numa eficaz aprendizagem do aluno, consiste no caráter impossível da própria tarefa de educar, como bem ressalta Freud (ver Aula 9) ao afirmar que: Quase parece como se a análisefosse a terceira daquelas profissões "impossíveis" quanto às quais de antemão se pode estar seguro de chegar a resultados insatisfatórios. As outras duas, conhecidas há muito mais tempo, são a Educação e o governo (FREUD, 1976, p. 282). Mas isso não quer dizer que o ensinar seja em si mesmo impossível. Pelo contrário, há um impossível na tarefa de ensinar, ou seja, o processo de aprendizagem humano não pode ser previsto no que se refere ao sucesso e ao destino que o aprendente dará ao saber que será produzido. O processo de aprender, possuidor de um lado avesso ao controle e à direção, indica que há algo que escapa àquele que aprende. Trata-se de um processo cujos efeitos se tornam acessíveis a posteriori. Assim, é preciso que a experiência vivida pelo aluno seja integrada em seu sistema CEDERJ 31 e ganhe significação. Com isto, afirmamos ser impossível decifrar aquele que está na posição de aprender, bem como explicar a dinâmica de seu funcionamento psíquico para que uma dada aprendizagem tenha êxito. Isso tem efeitos diretos na escolarização: em primeiro lugar, deve ser questionada a hegemonia da Psicologia na Educação. Também devem ser questionadas questões sobre metodologia de ensino, sobre o papel do professor, sobre o papel do ensino e, enfim, o caráter da aprendizagem. Em suma, não há garantias de sucesso na atividade de ensinar e no processo de aprender. Mas é preciso reconhecer que o aluno precisa ser ajudado pelo professor no trajeto que realiza na escola. Por isso, as atividades de ensinar são planejadas, visando atender às dificuldades inerentes a esse processo. Finalizando, diremos que o encontro de diferentes subjetividades propicia uma interação dialógica que supera a assimetria que originou o encontro. Esta superação implica a razão e a existência do encontro. No caso do ensino, trata-se de o aprendente tomar posse de um saber que o diferencia de seu ensinante. Eis o momento em que aquele que pretende ensinar se torna desnecessário, marcando o término de uma relação que continua em outros horizontes, mas que possibilitou a ambos retirarem daí benefícios inegáveis. A U LA M Ó D U LO 1 1 Psicologia e Educação | Psicologia e Educação? Análise crítica da inserção da Psicologia no campo educacional 32 CEDERJ aTIvIDaDEs FINaIs Atendem aos Objetivos 1, 2 e 3 1. A seu modo de ver, o que ocorre quando há uma nova descoberta científica que abala o conhecimento anterior? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 2. Quais conseqüências podemos extrair da criação da ciência moderna sobre a Psicologia? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 3. Quais as contribuições principais da Psicologia para a Educação? ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Respostas comentadas 1. Ocorre um corte epistemológico. Isso indica que houve uma ruptura em relação ao que se conhecia antes. Esta transformação fundamental desvincula um saber de seu passado e marca a produção de um novo objeto de estudo que não pode ser ignorado pelo campo científico. 2. Destaco uma positiva e outra negativa. Tomando as ciências da natureza como modelo, verificou-se a introdução, no campo das ciências humanas ou ciências do sujeito, do rigor na construção dos conceitos. Isto foi decisivo para a edificação de teorias. Por outro lado, esta mesma modificação foi negativa, na medida em que se tentou eliminar a dimensão subjetiva no âmago das ocorrências da vida, segundo os preceitos da época: observar, mensurar, comprovar e repetir, aderindo desse modo ao método das ciências exatas que se fundamentava no processo de quantificação e matematização dos fenômenos naturais. 3. Sua resposta poderá destacar, desde a criação de instrumentos de medida até a formulação de teorias sobre o processo de aprendizagem, as questões relativas à influência dos grupos sobre os sujeitos, até explicações sobre o lugar da aquisição do conhecimento para a subjetividade, como o entendimento acerca do desenvolvimento afetivo, cognitivo, moral. São inúmeras as contribuições da Psicologia para o campo da Educação. CEDERJ 33 INFORmaÇõEs sOBRE as PRóxImas aUlas Na próxima aula, desenvolveremos uma discussão sobre a concepção inatista do homem, subjacente às abordagens do desenvolvimento humano. Nas aulas posteriores, abordaremos as concepções ambientalista e sócio-histórica. Nas aulas subseqüentes, buscaremos dar um panorama das diversas etapas do desenvolvimento humano, da primeira infância à adolescência. lEITURa REcOmENDaDa SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney E. História da Psicologia moderna. 8. ed. rev. e ampl. São Paulo: Thomson, 2005. R E s U m O A partir das definições de Psicologia e de Educação, por meio da ênfase às dimen- sões históricas do diálogo entre as duas áreas, destaca-se a influência de variadas contribuições teóricas da Psicologia na prática educativa. Cada uma dessas influências parte de uma visão do homem, que reflete a direção empreendida na compreensão do sujeito e nos processos referentes à aprendizagem. Do ponto de vista das disciplinas às quais um educador pode recorrer em busca de auxílio em sua tarefa, a Psicologia tem lugar de destaque para o exercício da prática educativa. Desde os antigos gregos, passando pelo sonho cientificista e chegando às práticas do século XX ao novo século XXI, o que vemos é um panorama extremamente complexo e, até mesmo, bastante confuso. Contudo, as contribuições do campo da Psicologia trouxeram inúmeras conquistas para a compreensão dos fenômenos psicológicos. Além disso, a multidisciplina- ridade e a interdisciplinaridade entre a Psicologia e a Educação redundaram, sobretudo, no benéfico par que compõe o esquema mínimo do processo educativo: o sujeito e o outro. A U LA M Ó D U LO 1 1
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