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License-520936-68753-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Estudo de caso: Belo Monte de quê? Introdução Quando nós nos deparamos com grandes construções, perguntamo-nos o quão impactante em nossas vidas elas podem ser. Um exemplo dessas construções são pontes, grandes edifícios e as hidroelétricas. Em se tratando de recursos hídricos, lembramos como Brasil é um gigante nesse aspecto. Flora, fauna, um ecossistema rico e pautado na diversidade, resistente em um mundo de crescimento e consumo dos recursos naturais. Resistência que infelizmente não é significado de sucesso. Relatórios de diversas organizações de defesa do meio ambiente demonstram que os danos causados ao ecossistema brasileiro, em específico ao amazônico, tem sido cada vez maior. Queimadas, desmatamento, poluição, uso indevido dos recursos que parecem abundantes, e que são finitos e sensíveis. O Brasil tem cerca de 12% da água doce disponível no mundo para consumo humano. O que nos garante hoje certo conforto – temos recursos energéticos importantes, já que existe vento, biocombustíveis, petróleo e água. As hidroelétricas respondem por cerca de 63% da energia produzida no nosso território, como mostra a imagem a seguir do site www.em.com.br: License-520936-68753-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Atualmente, o Brasil conta em seu arsenal com Itaipú (PR), Tucuruí (PA), Ilha Solteira (SP), Xingó (AL e SE), Paulo Afonso IV (BA), dentre outras grandes Usinas em projeto ou construção. Entre as que já estão em fase de construção se encontra a Usina de Belo Monte, localizada no Pará, sede de outras 3 das 10 maiores usinas hidrelétricas do brasil – em fase de projeto, construção ou operação – que será implantada no Rio Xingú. A Usina de Belo Monte, aporta no território paraense e tem uma relação direta e contínua com diversas cidades da região, principalmente com a cidade de Altamira, que sofreu resultados diretos da presença do empreendimento. Ressalta-se que a cidade não é a única afetada pela megaconstrução. Trata-se de um empreendimento gigantesco, que trará diversos impactos nas mais diferentes dimensões. Com um custo estimado em R$ 30 bilhões de reais, aproximadamente 25 mil trabalhadores envolvidos diretamente e um prazo de 44 meses, a usina tem previsão de motorização total para início de 2019. É um empreendimento da Norte Energia S.A. O assunto vem levantando diversas opiniões e polêmicas desde o seu início, divide opiniões e posições técnicas e de moradores, inclusive resultando em diversos processos movidos pelo Ministério Público Federal. A obra tem impulsionado fortemente a economia local, alterado a rotina das pessoas e criado uma movimentação que recebe grande visibilidade dentro e fora do Brasil. License-520936-68753-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE De acordo com uma reportagem da Folha de São Paulo intitulada “A Batalha de Belo Monte” realizada em 06 de dezembro de 2013, “Índios, ribeirinhos e moradores de Altamira se queixam de não terem sido suficientemente consultados sobre o aproveitamento do Xingu. O governo federal responde dizendo que realizou 142 eventos, incluindo quatro audiências públicas (em Belém, Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo), que reuniram 6.000 pessoas; 30 reuniões em aldeias (1.700 participantes); e 61 em comunidades (2.100 presentes). A ausência de consulta adequada a todos os povos indígenas é uma das razões alegadas em duas dezenas de ações que o Ministério Público Federal move contra Belo Monte”. O que acaba então levantando pontos sensíveis como: as populações ribeirinhas e indígenas que vivem na região da construção, as rotinas das cidades pelas quais passam, os movimentos de migração que acabam gerando, as estruturas e infraestruturas locais. O ecossistema que é alterado em todo o processo, seja na remoção, extração ou quando trazem materiais diferentes para aquele ambiente. De que forma o Governo brasileiro envolveu as populações indígenas no planejamento do projeto de Belo Monte? O Governo brasileiro adotou uma abordagem no planejamento do projeto envolvendo as comunidades que serão afetadas. A Fundação Nacional do Índio (Funai) realizou mais de 30 reuniões entre 2007 e 2010, com a participação de cerca de 1.700 indígenas em aldeias locais, para discutir questões ligadas ao projeto da barragem de Belo Monte. Muitos líderes comunitários também estiveram ativamente envolvidos em reuniões públicas realizadas na elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Além disso, cerca de 200 indígenas participaram de audiências públicas promovidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), especialmente em Altamira. (Projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, Perguntas Mais Frequentes, Ministério de Minas e Energia, 2011). Vale ressaltar que a formação societária da empresa Norte Energia S.A. é composta basicamente dos seguintes sócios: Eletrobrás (composta pela Eletrobrás, Chesf e Eletronorte) tem 49,98%; Fundos de Pensão (com a Petros e Funcef) leva 20%; Belo Monte Participações 10%; Amazônia (Cemig e Light) tem 9,77%; Autoprodutoras de Energia (caso da Vale e Sinobras) possuem 10%; e Outras Sociedades 0,25% do empreendimento. License-520936-68753-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE A composição acionária revela que a usina de Belo Monte é um negócio de quem já tem histórico e influência no ramo. Ainda que tenha começado, em 2010, com um aglomerado de empresas médias do ramo de construção civil, a composição do grupo veio evoluindo para entes economicamente bem mais fortes. Os impactos apontados nos estudos de viabilidade do projeto veem sendo motivo de grande parte do impasse, por apontar necessidade de grande intervenção dos empreendedores em questões socioambientais que significam um valor financeiro elevado, acabando por evidenciar as precariedades já existentes nas localidades. Panorama e cenários Berço de uma riqueza biológica incomensurável, a região amazônica guarda também riquezas culturais de valores inestimáveis. As culturas indígenas que ainda resistem e persistem no local são demonstração dessa cautela que é exigida. Um olhar antropológico é indispensável para o trato e percepção dessas comunidades. Grande parte da economia local se baseia na pesca de peixes ornamentais, atividade que será gravemente afetada com as mudanças no fluxo do rio causadas com a instalação da hidrelétrica. Estudos estão sendo feitos juntos a Universidade Federal do Pará em busca de técnicas que permitam aos indígenas e ribeirinhos que costumam viver dessa prática o cultivo dessas espécies. Figura 02. Biólogo usa mamadeira para alimentar filhote de macaco capturado em área desmatada para a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Fonte: Lalo de Almeida - 29.ago.13/Folhapress. http://imguol.com/c/bol/fotos/2013/12/20/biologo-usa-mamadeira-para-alimentar-filhote-de-macacocapturado-em-area-desmatada-para-a- construcao-da-hidreletrica-de-belo-monte-1387559411614_956x500.jpg License-520936-68753-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE “O Brasil está pagando caro por ter escolhido a opção mais barata para sua matriz energética em vez de ter ampliado o mix de possibilidades, investindo mais em fontes alternativas de energia. O setor elétrico está afundado num gargalo sem fim porque o país se tornou dependente das hidrelétricas. Com a falta de chuvas e o baixo nível dos reservatórios, as termelétricas, que deveriam ser acionadas apenas em casos emergenciais, foram incorporadas ao sistema, elevando o custo do megawatt/hora (MWh) a níveis recordes”. Simone Kafruni, 12/05/2014. Reservas indígenas são um ponto constante dos debates acerca da construção, sendo essas comunidades de grande importância, ainda que sejam aportados nas condições apresentadas nas medidas da Eletronorte para a região, outros empreendimentos locais passam por cima da necessidade de respeitoa essas tribos. Os moradores das cidades na rota da construção sofrem também forte alteração em suas vidas, o fluxo de carros, os engarrafamentos, aumento populacional, violência, e a precariedade nos serviços públicos ofertados demonstram como a infraestrutura local é extremamente sensível ao aumento populacional trazido pela construção da usina. É importante compreender que uma parte desses trabalhadores deve se instalar no local, mas que a maioria deve ir em busca de outras oportunidades de emprego assim que as obras terminarem. Moradores circulam por passarelas precárias entre as palafitas próximas ao igarapé Ambe. Fonte: Lalo de Almeida - 1ºset.13/Folhapress Entre as condições para liberação do projeto estão investimentos maciços nas condições sanitárias e de serviços básicos para a população local. Ainda que a obra termine, esses investimentos permanecem, como forma de amenizar os impactos causados. Ainda assim, não é possível dimensionar de forma precisa a realidade dos impactos que serão causados com a instalação da Usina Belo Monte no rio Xingú. Uma obra que causa impacto para toda a biodiversidade, nas relações ambientais e sociais. License-520936-68753-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Em documento oficial, o Ministério de Minas e Energia organizou um informativo sobre as “Perguntas mais frequentes sobre o Projeto Belo Monte” em fevereiro de 2011. Quando questionados acerca do item “Populações Indígenas”, o governo federal fez a seguinte declaração: “Alguma terra indígena será alagada como resultado da usina de Belo Monte?” “Não. Nenhuma das 10 terras indígenas localizadas na área de influência do projeto será alagada.” É com base na presente situação que trazemos uma possível análise a essa problemática tão complexa. Conforme é desenvolvido uma busca sobre as grandes construções, é perceptível que a consciência de todos os seus impactos é de responsabilidade das organizações e instituições que são autoridades nesses campos. No caso de Belo Monte, os pareceres sobre as medidas necessárias para a liberação das obras foi resultado dos estudos desenvolvidos pelo Ibama (O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Toda a estrutura burocrática moderna construída sobre as decisões que são tomadas pelo estado ganha uma visibilidade ainda maior nessas situações. Perceber que a legalidade é presente em todas as ações que são tomadas pelos responsáveis do empreendimento ainda não é garantia de que seja cumprido aquilo que realmente seja justo, é basicamente impactante. Max Weber, filósofo alemão que desenvolveu suas ideias principalmente no século XIX, tratava da burocracia de uma maneira diferente. Para Weber a burocracia seria uma estruturação das relações normativas de maneira que todas as medidas fossem as mais profissionais e objetivas possíveis. Ou seja, atendendo a uma hierarquia e uma separação de papeis bem definidas. De tal maneira que a burocracia era uma forma de organização que tendia a objetivar e a garantir uma execução da norma que fosse rápida, segura, eficiente e principalmente profissional. A atual concepção de burocracia é então diferente daquela adotada pelo pensador clássico. Ainda assim todo o processo no qual se encontra a usina hidrelétrica pode sim ser analisado pela lente da teoria burocrática weberiana. Basta que nos perguntemos se as organizações estatais que permitem e facilitam as grandes empreitadas o fazem com base na responsabilidade com os resultados apresentados em seus estudos ou simplesmente pela forte pressão exercida pelo poder econômico exercido pelos grandes grupos financeiros. License-520936-68753-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE As permissões e consequências de uma construção como a da Hidrelétrica de Belo Monte só retratam a consequência de uma burocracia feita sem o devido atendimento dos requisitos necessários para seu bom funcionamento. As hierarquias, profissionalização e todas outras ferramentas organizacionais da administração pública parecem ganhar uma flexibilidade muito nítida a outras formas de poder nesses momentos. De tal forma que o dever do Estado em ser soberano e proteger a vontade da maioria parece sucumbir em prol do desejo de lucro de um grupo. Apresentação do problema Sem dúvida, a burocracia a soberania e o progresso são elementos fundamentais para a formação de um Estado forte e desenvolvido. No entanto, as culturas, tradições e principalmente o povo são palavras-chave da própria definição do Estado Moderno que se perpetua até os dias atuais na contemporaneidade. 1. Nesse contexto, o que deve falar mais alto? Como devemos entender a relação entre território e desenvolvimento social? 2. O que pensar sobre a construção da Usina de Belo Monte? Como devemos analisar as justificativas das partes envolvidas? 3. O que você acha que o isolamento, até mesmo geográfico, que a região norte possui em relação ao Brasil, é um fator que dá mais segurança para os grupos em posições desfavoráveis? 4. Como podemos contextualizar a Teoria Utilitarista neste caso real? 5. Como podemos entender o conceito de consequencialismo, criado pela Teoria Utilitarista? 6. Como podemos contextualizar o conceito de Justiça defendido por Sócrates? 7. Como é que nós podemos encarar uma burocracia que parece tão parcial? Vamos refletir. License-523201-59347-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Aula conceitual – Filosofia A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, da metafísica ao utilitarismo. Introdução Para falarmos sobre os pilares da filosofia precisamos caminhar também pela história. Voltamos a Grécia. Antes mesmo de ser conhecida como Grécia, ainda a cerca de 2000 a.C., povos indo-europeus, chamados helenos, chegavam a região, localizada ao sul da península balcânica, as costas da Ásia Menor e ilhas do mar Egeu. A civilização grega foi composta por diversos desses povos. É o caso dos aqueus, aproximadamente em 1950 a.C., povo pacífico que junto aos cretenses formaram a civilização micênica. Após os micênicos chegaram os jônios e eólios, aproximadamente 1500 a.C., que se posicionaram na Ática e Ásia Menor, e para concretizar a formação, as invasões dórias, cerca de 1200 a.C., instaladas na região do Peloponeso, que acabaram por atacar parte da civilização micênica e concluiu o grupo do que viria ser a origem da sociedade grega. Em síntese a história grega pode ser posicionada em quatro períodos: O período homérico, marcado pelas obras atribuídas a Homero, da Ilíada e Odisseia, e Hesíodo, com Os trabalhos e o os dias e Teogonia, entre os anos de 1100 a 800 a.C.; Período arcaico, entre os séculos VIII e V a.C., marcado pelo estabelecimento das pólis como organização política características das cidades, ainda sem um Estado grego unificado; Já entre os séculos V e IV a.C., com a consolidação da pólis e apogeu cultural e intelectual do povo, firma-se o período clássico; E por fim, com a decadência da cultura grega o período helênico tem início, entre 336 e 146 a.C., quando começam as grandes invasões macedônicas e romanas. Nosso objetivo é trazer questões pontuais que permitam a reflexão e provoquem o desejo de conhecer mais as diferentes formas e modelos de pensamentos que ilustram a busca do homem acerca de sua existência, sua história e visões de mundo ao longo dos tempos, da Antiguidade à sociedade contemporânea. License-523201-59347-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE A questão do mito e da ciência Depois de apresentada a origem da Grécia, precisamos também refletir sobre a origem da Filosofia. Primeiro, vamos entender por que a filosofia acaba surgindo e o que a torna peculiar frente a outros conhecimentos. Durante todo o período de formação da sociedade grega – o que também pode ser aplicado a outras sociedades – os fenômenos naturais costumavamser explicados por meio do mito. O mito era então a fonte da explicação sobre a origem de todas as coisas, e vinha por meio das histórias (entendidas como narrativas), contadas e passadas pelas veias da própria sociedade. E na sociedade grega, politeísta, a religião costumava apresentar os deuses como “super-humanos”, ou seja, dotados principalmente de características quantitativamente superiores aos mortais, enquanto eram qualitativamente semelhantes aos homens. Também eram dotados de grande parte dos sentimentos pertencentes aos humanos, como é o caso da ira, vaidade e coragem. A religião grega poderia então ser dividida em duas: a pública – baseada numa hierofania, naturalização e humanização das divindades – e o orfismo – caracterizado pela dicotomia corpo-alma, que colocava o homem num ciclo de reencarnações para promoção da purificação de um princípio divino que encontrava-se tocado por uma “culpa original”. License-523201-59347-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Como são contados nos grandes poemas gregos, era comum que os deuses se relacionassem com mortais. A construção dessas figuras que são chamadas de “heróis” – filhos de deuses e mortais – estão presentes nos contos que transpassam a cultura grega, aproximam os homens dos deuses, ainda que deixem claro que os heróis não são deuses, mas estão longe dos homens comuns. Fomentam a mitologia, os valores, e os sensos comuns. Com toda uma estrutura fortemente mitológica alimentando o ideário coletivo, a filosofia surgiu como um conhecimento que busca compreender a própria existência e realidade, questionando e buscando pela racionalidade uma explicação para compreensão do universo. Do mito para o saber, a filosofia por meio de seus princípios, metódicos e objetivos, busca empreender no senso comum o sentido do próprio conhecimento. O conhecimento pelo conhecimento, por meio da lógica, da razão e racionalidade. A filosofia surge pela necessidade do homem de explicar a si e o mundo ao redor. É uma área do conhecimento própria, que não se deve confundir com a ciência, ainda que por muitas vezes isso seja difícil. A ciência e a filosofia são conhecimentos baseados nos pilares do método – racional, lógico – e do objetivo – relativo a um objeto – mas a maneira como ambos princípios são aplicados é que permitem diferenciar ambos. As diferenças são principalmente quanto a maneira como empregam seus métodos e estabelecem seus objetivos. License-523201-59347-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Com toda uma estrutura fortemente mitológica alimentando o ideário coletivo, a filosofia surgiu como um conhecimento que busca compreender a própria existência e realidade, questionando e buscando pela racionalidade uma explicação para compreensão do universo. Do mito para o saber, a filosofia por meio de seus princípios, metódicos e objetivos, busca empreender no senso comum o sentido do próprio conhecimento. O conhecimento pelo conhecimento, por meio da lógica, da razão e racionalidade. A filosofia, racionalmente, aplica diferentes métodos para analisar e decompor a realidade em busca de explicá-la, simplesmente para explicá-la. “Filosofia”, na origem da palavra, significa “amizade com a sabedoria”. A pólis, portanto, é o que busca ser amigo do conhecimento, o que busca conhecer pelo prazer de conhecer. Já a ciência busca empreender, por meio de métodos racionais formas de comprovar, com base em seus axiomas – proposições que são tomadas como verdadeiras, independente de comprovações – a compreensão do objeto de maneira a trazer resultados práticos para aquele conhecimento. Ou seja, conhecer uma realidade que seja tácita ao cotidiano e que de alguma maneira retorne para as pessoas da forma mais prática e sensível possível. Enquanto a ciência busca ser funcional para a vida das pessoas, a filosofia tende a construir um conhecimento que seja funcional para o próprio conhecimento. Dessa relação complexa, retornamos a maneira como a Grécia iniciou seu caminho pela filosofia. Os personagens são da região Jônia, da pólis de Mileto – região que hoje pertence a costa da Turquia. License-523201-59348-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Aula conceitual – Filosofia A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, da metafísica ao utilitarismo. Mileto e a origem da filosofia Localizados numa região de forte influência mercantil, os jônicos viviam longe do centro grego, na costa da Ásia Menor. Uma região, que não possuía o terreno fértil, estabelecida principalmente no mercado e nas produções industriais, ainda via valor no trabalho manual, que não era deslocado ao desprezo por influência do escravagismo. Dentre os homens que nasceram na cidade alguns dedicaram-se a filosofia, entre eles destacamos Anaximandro (610-547 a.C.), Anaxímenes (585-528 a.C.) e Tales de Mileto (625-548 a.C.), o fundador da escola que carregou o nome da cidade, ainda no período arcaico. O principal feito desses póliss foi a busca por um elemento que explicasse a composição de todas as coisas do universo. (ANDERY, 2012). Tales defendeu sua teoria de que o elemento primordial do universo seria a água, dada a natureza úmida dos alimentos e as diferentes maneiras como conseguiu observar a presença de água na natureza , o fazendo acreditar que a água estava presente em tudo, conforme narrou Aristóteles em sua obra Metafísica. License-523201-59348-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Anaximandro, também nascido em Mileto, aprendiz e sucessor de Tales, pólis, astrônomo e matemático, por sua vez, via o elemento primordial de maneira diferente do seu mestre. Denominando-o de ápeiron (ilimitado), Anaximandro via esse “princípio” como algo além dos próprios elementos, infinito, indeterminado e ilimitado, que transformava-se naquilo que viria a ser a matéria. Já Anaxímenes, filho de Eurístrato, também de Mileto, amigo de Anaximandro, via o primeiro elemento de maneira diferente, acreditava que se tratava do ar, o que carregava um significado implícito para época, onde acreditava-se que a alma das pessoas não passava de ar quente. Assim, para Anaximandro, as diferentes substâncias diziam respeito a maneira como o ar dilatava-se ou contraia-se para compô-las. O relato sobre o pensamento de todos esses póliss não dá-se de maneira direta, mas sim em relatos de outros, em especial Simplício e Aristóteles, que ao construírem seus pensamentos acabavam por trazer uma retrospectiva dos pensamentos construídos e tratados como importantes até então. É o caso do livro Metafísica, escrito por Aristóteles e que é o primeiro a trazer uma “história da filosofia”. A filosofia é um conhecimento que, ao tratar do caso grego, está diretamente ligada a relação mestre-aprendiz, o que garante, inclusive, a transferência dos saberes que eram desenvolvidos e a preservação da memória dos pensadores. Quando buscavam estudar a realidade a principal fonte de questionamentos era a própria natureza. Assim, a escola de Mileto torna-se percussora da cosmologia, graças a suas proposições sobre os elementos que compunham o universo, suas incitações buscavam compreender qual a origem do próprio cosmo, ramo que atualmente pertence a astronomia, e abalavam as concepções tidas até então graças a maneira como lidavam com essas informações. Retirando a explicação da origem das coisas do mito e apresentando uma resposta na própria natureza, eles rompiam com a construção que toda a sociedade vinha tendo. Disseram que a origem do universo encontra-se ao redor, ou até mesmo dentro, do próprio homem, e não nas manifestações míticas que eram comumente utilizadas como resposta. Além disso, as proposições de Anaxímenes são importantes para o conceito da mobilidade da alma, já que os antigos acreditavam que a alma era composta de ar, sua ideia de que toda substância vinha primordialmentedo próprio ar colocava o homem e sua essência numa posição diferente daquela que a religião o propunha, acompanhando sua posição em relação a cosmologia. Com os conceitos sobre a dilatação e contração do ar, permitiu uma construção real da ideia de princípio, License-523201-59348-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE que ainda que fosse insinuada, não era esclarecida pelos outros póliss. O ar como semente e o movimento – dilatação e contração – como processo pelo qual se construíam as outras matérias. Vale destacar que ambos os pensadores não possuíam como único interesse o campo da filosofia, mas também a astronomia e a matemática, o que permitiu a eles empreender contribuições também para a ciência. A escola de Mileto foi fundamental para a construção de questionamentos que impulsionam a filosofia até o momento presente, na contemporaneidade. Ainda hoje nos perguntamos sobre a nossa origem, e mesmo que sejam apresentados e descobertos modelos para explicá-la – atomicamente ou em medidas ainda menores – ainda nos perguntamos sobre a substância que nos origina, além da própria matéria. Além da escola de Mileto outras escolas surgiram, todas com o intuito de explicar questões fundamentais acerca da existência humana e de sua realidade, o que por sua vez acabava vindo por meio da própria filosofia, independente das outras formas de saber que esses pensadores desenvolviam. Explicações sobre a composição da natureza e da própria essência do homem continuaram sendo o centro do pensamento científico-filosófico grego, o que garantiu o desenvolvimento de pensamentos e conceitos importantes para o conhecimento de forma geral. Antes de Sócrates O período arcaico da história grega, foi substituído período clássico, que é marcado pela sensação de estabilidade e bem-estar que acompanhava algumas pólis gregas. Ainda que outras regiões passassem por dificuldades, algumas cidades- Estado encontravam seu apogeu, caso de Atenas, berço de grande contribuição para o saber ocidental, principalmente no que diz respeito a filosofia. A sociedade grega passava por um período de tensão, dividida graças aos conflitos de duas grandes pólis – Atenas e Esparta – as disputas internas causavam grande impacto na sociedade e nas suas produções (artes, ciência, filosofia e até mesmo economia). O império persa se desenvolvia na fronteira grega e os ataques começam em 490 a.C., liderados por Dário. Para compreender um pouco os conflitos apresentados é importante apresentar alguns conceitos. Com a invasão dória, ainda no período homérico, a sociedade grega organizou-se em clãs, ou génos, que permitiu a organização da aristocracia grega, já que o acúmulo de propriedade se tornou ainda mais fácil. As génos, License-523201-59348-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE criavam os basileus, patriarcas responsáveis pelos clãs que exerciam o poder sobre o grupo. Em face da necessidade, surgiam as fátrias, coletivo de génos, liderada pelo filo-basileu – escolhido por aptidão bélica. Assim, os basileus moravam sempre em locais altos, e o acumulo de casas e templos faziam surgir as pólis, cidade- estado grega e fonte das múltiplas organizações políticas da Grécia, na parte alta a acrópole – templos e fortificações militares (junto a casa do basileu) – e na parte inferior o mercado – junto dos comerciantes e artesões. A pólis espartana vivia sob o regime denominado timocracia (“governo da honra”), onde os guerreiros desempenhavam papel primordial na pirâmide social. A partir do século VII a.C. o governo era realizado por dois reis que desempenhavam papel tanto militar quanto religioso, a Gerúsia (conselho de aristocratas anciãos) criava as leis, e o Eforato (formado por cinco aristocratas) era o principal poder executivo, eleito pelo homoloi – todos os cidadãos-guerreiros, denominados “os iguais” – espartanos. Alguns pólis se organizaram de forma a apresentar a filosofia como um caminho para a verdade, o que vinha por meio inclusive da educação, já que esses pensadores costumavam praticar sempre uma construção coletiva desse saber, buscando alcançar um conhecimento verdadeiro. A base da pirâmide social espartana era composta pelos hilotas – escravos que faziam parte da propriedade do Estado – e os periecos – trabalhadores livres, mas sem direitos políticos. Em contrapartida, a sociedade espartana era dividida principalmente pelo quesito bélico, e não fazia distinção em relação ao gênero, já que a sociedade espartana dava mais direitos a suas mulheres do que as outras pólis gregas costumavam oferecer. Em Atenas, por outro lado, a sociedade vivia sob o regime da democracia, grande exportadora de azeite, vinho e cerâmica, a sociedade era basicamente separada entre eupátridas – donos de terra – e hectemoro – camponeses – e com as reformas políticas instauradas por Sólon e Drácon, que levaram a uma reforma social baseada no critério de renda – as duas primeiras, participantes dos grandes cargos governamentais, depois os guerreiros e a classe dos thétas, camponeses. Estabeleceu também a Eclésia e a Bulé, assembleia e conselho populares formadas por números de todas as classes. O Areópago era dominado pelas duas classes mais ricas. Esse sistema permaneceu até que Clístenes assumisse o governo. Separou o povo ático em dez tribos, conforme seus locais de morada, e a menor medida era chamada de “demo”, daí a democracia, que era a base da nova Bulé, formada de 50 participantes de cada tribo. A Eclésia foi fortalecida, também. License-523201-59348-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE O governo era então baseado na isonomia, o que garantia que todos os cidadãos fossem considerados iguais perante a lei. Ainda assim, a concepção de cidadão era – como em grande parte da Grécia – restrita aos proprietários de terra e aos comerciantes enriquecidos. Os estrangeiros (metécos), escravos e mulheres não possuíam nenhum tipo de poder na democracia ateniense. Procuramos compreender a maneira como as cidades se organizavam para entender em qual contexto estão inseridas essas personagens da filosofia clássica. Isso nos auxilia a entender a forma como alguns pensamentos podem ter sido encarados na época em que foram formulados, seja no caso de naturalidade sobre alguns que nos pareçam estranhos, ou de estranheza para alguns que nos pareçam normais. Outros pensadores continuaram por apresentar diferentes explicações para a origem do universo – mesmo após a escola de Mileto – o que acabou tornando o assunto desgastado, outras explicações foram oferecidas, mas todas ainda eram inconclusivas. Conforme o tempo passava, alguns pólis organizaram de forma a apresentar a filosofia como um caminho para a verdade, o que vinha por meio inclusive da educação, já que esses pensadores costumavam praticar sempre uma construção coletiva desse saber, buscando alcançar um conhecimento verdadeiro. Um grupo chamado de Sofistas, caracterizados principalmente pela prática do ensino de habilidades importantes para o sucesso e participação aos filhos dos cidadãos, viajam pelas pólis recebendo pelo serviço prestado. A maneira como os sofistas encaravam o conhecimento e seus principais temas faziam com que suas posições fossem contrapostas aos póliss, em especial Sócrates, Platão e Aristóteles, apresentavam posições contrárias a prática sofista, afirmando que a valorização da retórica como forma de vencer os debates políticos e não como instrumento de alcance da verdade era um desfavor para o conhecimento, por exemplo. Ainda assim os sofistas apresentavam posições interessantes sobre os deuses, as leis e o comportamento. Considerados os primeiros pedagogos, acreditavam que as leis e as instituições eram criações humanas, e que eram, portanto, capazes de mudar conforme a vontade dos homens. Essa posição relativista, encarando a subjetividade e focada no indivíduo, era um contraponto ao pensamento pregado no seu período. Aindaassim, parece ter encontrado no desgaste dos debates metafísicos – acerca da origem do universo – a oportunidade, junto a outras formas de conhecimento, de colocar o sujeito como objeto central do pensamento e dos questionamentos. License-523201-59349-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Aula conceitual – Filosofia A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, da metafísica ao utilitarismo. Sócrates Sócrates faz parte dos grandes nomes da filosofia clássica. Não possui nenhuma obra escrita, ainda assim, é o personagem principal dos pensamentos de seu principal discípulo, Platão, e é apresentado também por Xenofonte e Aristófanes, além de outros. Filho de uma parteira e um escultor, nasceu durante o apogeu cultural e intelectual ateniense, no ano de 469 a.C., foi um homem forte e robusto, o que lhe permitiu participar de várias batalhas em nome de Atenas. License-523201-59349-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Costumava levar as suas discussões principalmente nas praças e mercados, costumava também ser inclusive agredido por suas posições. Existe forte divergência sobre quais as fontes de sua educação e quais os póliss que os introduziram na busca pelo conhecimento. Sócrates era um homem que buscava a crítica principalmente de sua própria cidade, indagando e questionando principalmente as ações do dia a dia. O cotidiano era presente nas reflexões filosóficas de Sócrates, indiferente às complexidades que porventura viessem a tomar. Preocupava-se principalmente com o homem e sua relação com as virtudes, estabelecidas pelas ligações entre a alma e o corpo humano, de tal maneira que os valores buscados e defendidos como universais pelo pensador, levaram sua filosofia para uma questão central sobre a moral e a existências desses valores absolutos. Ele também preocupava-se muito com os fundamentos do próprio conhecimento. Trabalhando de forma a refutar as práticas sofistas. Não se colocava como um “professor” que dava aos alunos o necessário para o sucesso, mas sim como alguém disposto a ajudar todos a encontrar esse caminho, o que deveria ser feito por cada um. Esta posição em relação ao autoconhecimento é contraponto da promoção do sucesso pela carreira, empregada pelos sofistas. Entre outros pontos, a busca pela verdade em oposição a conquista do sucesso são as fontes das divergências empregadas entre Sócrates e os sofistas. Ambos são movimentos importantes para pedagogia e tratavam de demonstrar e explorar os resultados da educação frente aos indivíduos. Parte importante da filosofia socrática é o seu método. Sócrates costumava indagar as pessoas em busca de que as informações fossem surgindo conforme os diálogos corressem, daí a importância da oralidade na construção de sua obra e pensamento. Seu método pode ser divido portanto em duas fases, a primeira chamada de ironia e a segunda de maiêutica. A ironia era uma atitude que os gregos não acreditavam ser positiva, já que se tratava basicamente de um disfarce do conhecimento de quem a usava, no caso de Sócrates, ele utilizava da ironia para retirar o outro de um estado de conforto e vaidade, estimulando o questionamento e a reflexão sobre as posições que antes eram tidas como absolutas. License-523201-59349-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE A partir do desconforto causado pela ironia, ele partia então – em analogia ao trabalho exercido por sua mãe – para o parto das ideias, a maiêutica. Esse parto das ideias é uma marca inerente a prática filosófica socrática, que ao propor os problemas não dava uma resposta absoluta, pondo o interrogado numa posição na qual a reflexão era uma obrigação. Esse processo didático apresentado pelo pólis era uma maneira dele aplicar um dos seus princípios sobre o conhecimento verdadeiro, o de que ele é fruto de uma busca introspectiva, e que é de responsabilidade de cada um daqueles que o buscam. Sócrates via então, o Bem e a Virtude como valores universais a nortear todo o comportamento moral, basilar o conhecimento e objetivo principal da maiêutica. Seriam portanto valores maiores que, fazendo parte do homem, fariam parte da cidade. A política socrática é marcada então pela construção de que o homem político é também o homem pólis. E de onde vinha esse conceito de valor universal de Sócrates? Vinha da extração do conhecimento sensível uma definição, um conceito que fosse geral e que se aplicasse da maneira mais ampla e irrefutável possível. Um processo próximo ao indutivo, assim, que caminhava de uma aplicação para um conceito geral sobre o objeto. Isso é feito quando ele indaga os interlocutores sobre um conceito e ao julgar insuficiente, vai promovendo novas definições e indagações, até encontrar um conceito satisfatório. Assim, a maiêutica indutiva de Sócrates buscou encontrar respostas para os conceitos éticos com os quais mais preocupava-se. Ao bem, por exemplo, afirma que ainda que as pessoas possam dar aplicações diferentes, todas possuem um conceito do “Bem”, que sempre as fará diferenciar o bem do mal, ainda que o objeto no qual apliquem esses conceitos sejam sempre diferentes. Dessa forma, também, ele identificava a moral e o conhecimento, esclarecendo sua filosofia moral, propondo que a moralidade e o conhecimento estão próximos, como a sabedoria está próxima da virtude. Todas identificam-se. Logo, todo tipo de erro é fruto da ignorância, já que Sócrates defende que não é possível escolher o mal conhecendo-se o bem. De tal forma que toda injustiça seja também fruto da ignorância dada ao que realmente é justo, e assim por diante. A contribuição de Sócrates surge então ao posicionar o homem e seus dilemas éticos no centro de seu pensamento. Usando sua própria vida como forma de expressar seus pensamentos, agia conforme o que defendia ser correto e verdadeiro. License-523201-59349-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Sua busca por um conhecimento que aproximasse o homem da verdade o fez confrontar outros em seu tempo, causando inclusive sua morte, pela acusação de corrupção da juventude, ao defender uma posição diferente daquela que costumava ser defendida sobre os deuses na pólis ateniense. Pondo a sabedoria como origem de todo bem, via na ignorância a fonte de tudo o que era incorreto e mal. De seus ensinamentos surgiram algumas escolas, entre elas a dos cínicos, cirenaico e a megárica. A dos cínicos, fundada por Antístenes, funcionava no ginásio de Cinosarge, e concentrava-se nos debates éticos apresentados por Sócrates, colocando o prazer e orgulho como dois elementos que impedem a pólis de alcançar a plena sabedoria e “bastar a si mesmo” que objetiva a escola. Já os cirenaicos, escola fundada por Aristipo, mais aproximavam-se dos sofistas que dos pólis, baseada nos ensinamentos de Sócrates sobre a felicidade como bem supremo, defendia uma ligação entre o prazer e essa felicidade, com base no relativismo aprendido por seu fundador ainda enquanto sofista. A escola megárica, fundada por Euclides, amigo de Sócrates, buscava explicar a existência de tudo conforme sua ligação com o “Bem”, colocando tudo que não houvesse ligação com o bem como inexistente. Essa posição é muito mais próxima ao pensamento de uma escola pré-socrática chamada de escola eleática, que preocupava-se principalmente com o conhecimento e sua validade, obtida por meio da razão. Fora das pequenas escolas que surgiram frente ao pensamento de Sócrates, alguns pensadores permaneceram seu legado como grandes pólis, entre eles o principal aluno, Platão, que narrou a vida do mestre. License-523201-59351-0-7 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Aula conceitual – filosofia A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, da metafísica ao utilitarismo. Platão Platão, filho de Perictione eAríston, nasceu em Atenas por volta de 426 a.C. Descendente de família aristocrata, foi educado com cuidado e praticou pintura e arte, antes de dedicar-se a filosofia, frequentado a Academia e depois estudando no jardim em Colonôs. Aos vinte anos Platão partiu e passou a ser discípulo de Crátilos e Hermogenes, adeptos da filosofia de Heráclito e Parmenides. Já nessa época frequentava as aulas de Sócrates. O amor à sabedoria praticado por Platão tem grande influência de seu contato com Sócrates. Narra-se que Sócrates viu em seus joelhos num sonho um filhote de cisne, cuja plumagem cresceu num instante, e que levantou vôo para emitir um doce canto. No dia seguinte, Platão lhe foi apresentado como discípulo, e imediatamente Sócrates disse que ele era a ave de seu sonho. (LAERTIOS, 2008, p.86). Com a morte de Sócrates, partiu para Mêgara, juntou-se a Euclides, visitou também Cirene, Itália e o Egito. Ao voltar para Atenas fundou a Academia, em 387 a.C. Uma instituição educacional, baseada principalmente na matemática e geometria, diferenciando de outras escolas, mais antigas, que possuíam um currículo puramente humanistas. Platão foi então o responsável pelo centro, participando fortemente no ensino dos cursos de filosofia. Platão tinha muito de seu pensamento voltado para o eterno, para aquilo que era imutável. É possível, então, separar as obras dele conforme quatro fases, mas estruturado principalmente em forma de diálogos, importante na sustentação da maneira como defendia a construção do conhecimento – por meio da argumentação e do debate, que permitiam uma reflexão eficiente. License-523201-59351-0-7 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE De tal maneira que essa reflexão levasse os homens ao conhecimento que Platão julgava verdadeiro, aquele que estava fora dos sentidos e encontrava-se diretamente ligado a alma. Comungava das mesmas ideias de Sócrates quanto ao caminho do conhecimento e o alcance do Bem verdadeiro, de tal forma que o alcance do Bem, do Belo, da própria Verdade e Realidade só poderiam ser alcançados por meio do saber e da prática filosófica voltada para a verdade. As obras platônicas podem então ser colocadas em algumas fases, primeiro com os diálogos socráticos, onde faz a apresentação dos diálogos protagonizados por seu mestre. Os diálogos polêmicos, combatendo as práticas sofistas e apresentando posições sobre valores éticos, como o conhecimento, a virtude, beleza e retórica. Nos diálogos da maturidade tratou sobre o amor, a alma e o Estado ideal, enfatizando aqui uma de suas obras clássicas, A República, onde traça um Estado ideal e diferencia os homens e suas almas conforme as virtudes que as acompanham. Já nos diálogos da velhice, onde faz uma revisão das posições adotadas durante a vida, criticando e reforçando a maioria, tratando também da cosmologia, o prazer, a teoria das ideias e o conhecimento. Parte importante da contribuição platônica para o saber foi concluir uma divisão da própria realidade, separando o mundo em inteligível, ou ideal, – portanto invisível – e sensível – a parte visível. Essa separação colocava no mundo inteligível, ou mundo das luzes, tudo aquilo que era verdadeiro e absoluto, enquanto tudo contido no mundo sensível era como uma sombra daquilo que existia no mundo ideal. O mundo ideal continha todo conhecimento uno, imutável, que só era alcançado por meio do pensamento e da construção do conhecimento, e não por mera opinião. Nessa construção voltada à metafísica, Platão busca então retornar a uma “causa original” que explicasse as condições humanas e norteasse a construção dos pensamentos éticos e epistemológicos que também faziam parte das suas preocupações. Para validar a existência do Mundo das Ideias, Platão utiliza principalmente do argumento da reminiscência, onde todo conhecimento é oriundo de um contato inicial com o conhecimento, numa vida antepassada e que é reencontrado, por meio do pensamento, na vida atual. E do argumento da contingência, que determina que existe uma Ideia – única e estática – da qual todas as suas cópias derivam, e que todas as coisas possuem seu atributo não pelas próprias características, mas por fazerem parte dessa Ideia que não se altera. License-523201-59351-0-7 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE De tal forma que o pensamento de Platão parece evoluir conforme suas obras são desenvolvidas, apresentando inicialmente ideias puramente éticas – bondade, justiça, piedade, beleza – para as ideias metafísicas – movimento, unidade, ser, não- ser – até alcançar a perspectiva de que as ideias são matemáticas, colocando-as no patamar de números em seus últimos diálogos (caso de Filebo e Timeu). Essa posição quanto as próprias ideias não devem ser encaradas como se uma invalidasse a posição assumida anteriormente, mas como se fossem o alcance, a evolução, uma da outra. Isso é expresso ainda quando verifica-se que mesmo que as classificações das ideias mudem, suas propriedades permanecem as mesmas – intocáveis, não sensíveis, imateriais, divinas, eternas e transcendentes – independente de qual seja ideia em questão. A questão epistemológica em Platão apresenta-se na relação entre a opinião (dóxa) e o verdadeiro conhecimento (episteme), onde a razão e a sensação postam seus resultados. A doxa é fruto do conhecimento oriundo dos sentidos, do mundo sensível, enquanto a episteme é o fruto dado pelo conhecimento intelectual, oriundo do mundo inteligível, e que alcança valor maior. O que leva Platão ao retorno de seu argumento sobre a reminiscência. Já que os conhecimentos encontram-se em dimensões diferentes, não interagem um com o outro, portanto, o que ocorre por meio da doxa é uma lembrança da episteme, que é retomada de maneira a encontrar novamente aquele saber que só existe no mundo das ideias. Esses mesmos conhecimentos possuem graus diferentes. A doxa pode ser apresentada como eikasia, a imagem dos objetos reais, e a pístis, a coisa real que costuma gerar essas imagens. E a episteme aparece como diánoia e nóesis, a primeira, trata dos conceitos matemáticos alcançados racionalmente, enquanto a segunda trata daquilo derivado da Ideia, no caso os conceitos éticos e metafísicos. Apresentou então, todas essas ideias no Mito da Caverna, apresentando o caminho pelo qual o homem chega ao conhecimento. License-523201-59351-0-7 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE MITO DA CAVERNA SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem. GLAUCO – Imagino tudo isso. SÓCRATES – Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio. GLAUCO – Similar quadro e não menos singulares cativos! SÓCRATES – Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira? GLAUCO – Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida. SÓCRATES – E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras? GLAUCO– Não. SÓCRATES – Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras que veem, lhes dariam os nomes que elas representam? GLAUCO – Sem dúvida. SÓCRATES – E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos? License-523201-59351-0-7 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE GLAUCO – Claro que sim. SÓCRATES – Em suma, não queriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram. GLAUCO – Necessariamente. SÓCRATES – Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo- lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando- lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados? GLAUCO – Sem dúvida nenhuma. SÓCRATES – Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados? GLAUCO – Certamente. SÓCRATES – Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais? GLAUCO – A princípio nada veria. SÓCRATES – Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia. License-523201-59351-0-7 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE GLAUCO – Não há dúvida. SÓCRATES – Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é. GLAUCO – Fora de dúvida. SÓCRATES – Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna. GLAUCO – É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões. SÓCRATES – Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram? GLAUCO – Evidentemente. SÓCRATES – Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia? GLAUCO – Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga. SÓCRATES – Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas? GLAUCO – Certamente. License-523201-59351-0-7 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE SÓCRATES – Se, enquanto tivesse a vista confusa – porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade – tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto? GLAUCO – Por certo que o fariam. SÓCRATES – Pois agora, meu caro. GLAUCO – É só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer- te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a ideia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos. Platão baseou a ética de seus ensinamentos conforme sua posição metafísica, o que indica que para alcançar a plenitude os indivíduos deveriam desprezar tudo aquilo que é meramente sensível, dedicando suas práticas e objetivos ao perfeito e imaterial. Devendo o homem buscar sempre as virtudes, que acabam por moldar-se conforme as almas as quais pertenciam. As virtudes são, portanto, a sabedoria (sophia), a temperança (sophrosyne) e a coragem (andréia), aplicadas consecutivamente as almas racionais, concupiscíveis e as irascíveis. A relação estabelecida entre as almas é a justiça. Da separação das almas, parte então a classificar os homens, conforme suas almas, em homens de bronze, prata e ouro. Os homens de ouro eram os racionais, que também estão postos na filosofia platônica como os governantes ideais, já que ministram a organização da cidade conforme a vontade e por meio da sabedoria, a levando ao encontro da virtude maior, o próprio conhecimento. License-523201-59351-0-7 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Os de prata são os guerreiros e os de bronze os trabalhadores manuais. A própria temperança é então a virtude que garante a submissão dos governados aos governantes e a coragem a virtude que impulsiona os homens a proteger sua cidade. O governo ideal apresentado é então o do Filósofo-rei, que por ter a virtude mais próxima da sabedoria é o mais indicado entre os homens para que os governe e impeça a corrupção de suas virtudes, permitindo o pleno desenvolvimento da cidade e alcançando sempre a prosperidade. Platão tinha muito de seu pensamento voltado para o eterno, para aquilo que era imutável. É possível, então, separar as obras dele conforme quatro fases, mas estruturado principalmente em forma de diálogos, a citar: 1. O Eterno (Gérmen da metafísica) a. Eternamente Bom, belo e verdadeiro. 2. Mundo das Ideias (Metafísica) a. Realidades: Inteligíveis e sensíveis. I. Inteligíveis (invisíveis) II. Sensíveis b. Verdadeiro Conhecimento I. Razão. (Mito das cavernas) c. Teoria da Reminiscência1 3. Ética e Política (A República2) a. Estado composto por I. Regentes Pólis II. Guerreiros Guardiões III. Classe de Trabalhadores. b. Cidade Justa (Siracusa) 4. O Homem (Concepções)a. Alma Imortal I. Irascível: Coragem II. Racional: Sabedoria III. Concupiscente: libido 5. Considerações a. Síntese da teoria das ideias Síntese do “homem platônico” 1 Há dúvidas se a autoria de Platão pode ser atribuída a esta produção. 2 Idem. License-523201-59345-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Aula conceitual – Filosofia A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, da metafísica ao utilitarismo. Aristóteles Aristóteles nasceu em Stágeira, em 384 a.C, filho de Faistis e Nicômacos, seu pai era médico e amigo do rei da Macedônia, Filipe. Foi discípulo de Platão na Academia, e depois que partiu, foi ser professor de Alexandre, filho de Filipe, rei da Macedônia, na sua fase de preceptor de soberanos, retornando a Atenas e nos jardins do Liceu fundou a escola peripatética, dedicada ao estudo das ciências naturais. License-523201-59345-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Aristóteles escreveu sobre todos os temas que o interessavam, deixando um extenso conjunto de obras que vão desde a classificação botânica até a lógica e a filosofia. Muitos de seus conhecimentos perduraram inquestionáveis até pouco tempo, e a maioria serviu como fundamento para que os conhecimentos sobre os objetos tratados conseguissem um desenvolvimento maior. Aplicou a forma de tratado a maioria de seus escritos, dotando os mesmos de extremo método e rigor, aplicando uma concepção filosófica ímpar e extremamente reconhecida. Estudou sistematicamente as ideias, o que gerou, graças a estudiosos bizantinos, a obra Organon, que signifa “instrumento”, onde os estudos sobre lógica de Aristóteles estavam reunidos, demonstrando a ferramenta principal do alcance ao conhecimento e do pensamento. Organizando uma estrutura que classificasse e encerrasse as ideias em determinadas propriedades, diferenciadas inicialmente em categorias, depois em compreensão, extensão e os predicáveis. Elaborou também uma técnica para extrair novos conceitos de conceitos já existentes: o silogismo. O silogismo consiste em três proposições seguidas de tal forma que as duas primeiras resultam obrigatoriamente na terceira, o que significa partir do universal para o caso específico. Falou também sobre uma técnica que retirasse dos casos específicos conceitos universais, o caso da indução, e mesmo que de forma embrionária, seu posicionamento foi importante para o desenvolvimento do assunto. Os escritos aristotélicos propriamente ditos foram passados como herança por um determinado número de pessoas, até que, depois de séculos escondida, foi descoberta e transferida para Atenas, de onde foi levada para Roma, em 86 a.C., depois que Silas conquistou a cidade. Ao chegar em Roma foi encomendada sua edição completa a Andrônico de Rodes, que separou as obras em lógicas, físicas¸ metafísicas, morais e poéticas. Apegando-se um pouco as características do que Aristóteles define como metafísica, podemos perceber que ele propõe que existem causas elementares às quais a metafísica se apega: a material, formal, eficiente e final. Por sua vez, determina que a metafísica é o próprio conhecimento extremado, posto fora do puro empirismo científico – que faz com que se conheça os objetos –, e colocado em um ponto onde compreenda as razões primordiais das coisas – compreendo o porquê. License-523201-59345-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Assim, Aristóteles constrói um pensamento sobre a metafísica que é distinto em sua própria obra. Existem duas definições para o mesmo elemento. Uma no livro primeiro (A) e outra no livro sexto (E). A primeira já foi apresentada acima. A segunda diz respeito a metafísica “teológica” a qual Aristóteles apresenta. Propõe que a metafísica é o estudo do imóvel imaterial, contraposta a física – que estuda o móvel e material – e a matemática – que estuda o imóvel, mas material. De tal forma que esse objeto, imóvel e imaterial, diz respeito ao divino, já que tudo emana da figura una denominada de “Deus”, de tal maneira que torna-se divina por vir dele, em parte ou no todo, o que faz a metafísica em algum modo pertencer também a essa figura. Ou seja, ao mesmo tempo que estuda a própria imaterialidade, estuda também aquilo que é divino. Aristóteles discorda da Teoria das Ideias de Platão, acreditando que as ideias defendidas pelo mestre não passam de representações do mundo sensível, e não o contrário, questionando principalmente como podem as Ideias ser origem das coisas se as mesmas existem fora das coisas às quais dão origem. Propõe que essa prática de afastar o objeto de sua essência é uma atitude logicamente inviável que leva a explicação a um caminho que choca-se com o infinito, já que sempre será necessário encontrar a essência da essência, e assim por diante, transformando o que antes era essência em substância e nunca alcançando uma relação válida. Como não concorda com a divisão da realidade em dois mundos (inteligível e sensível), Aristóteles acredita que a mesma constitui-se apenas da parte sensível, mas que essa substância é permeada de acidentes – uma relação causal não original – que faz a substância apresentar-se de quatro modos: lógico, epistemológico, histórico e ontológico. De tal forma que a substância é anterior aos seres, que após sofrerem esses acidentes, essa causa-efeito, tornam-se outra coisa, e essa é a qual busca-se conhecer sobre sua substância. Essa ideia de que a matéria que forma as coisas deve preexistir a elas é consoante com a teoria teológica aristotélica. De tal forma que ele propõe que as coisas devem ser conhecidas seguindo os critérios do conceito (lógica), conhecimento (epistemologia), tempo (historicidade) e do próprio ser (ontologia). Apreendido o conhecimento dessas propriedades, Aristóteles separa as substâncias em três tipos: substâncias materiais corruptíveis, substâncias materiais incorruptíveis e substâncias imateriais. License-523201-59345-0-3 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE O conceito de matéria dado por Aristóteles é encontrado quando analisamos a própria transformação das substâncias proposta por ele. A substancia material é, portanto, fruto dessa matéria e da forma. O que apresenta-se é que sempre nas alterações de substâncias, algo altera sua forma de uma para outra, mas permanece sendo a mesma coisa. Ocorre uma mudança quantitativa de algo, qualitativa de algo, na grandeza de algo. Esse algo é a matéria, enquanto a mudança diz respeito a forma. Aristóteles propõe então que a forma é o primeiro ato de um corpo. Quanto à ética, Aristóteles partilha das ideias de Sócrates e Platão quanto a necessidade de riquezas, determinando que elas são desnecessárias para a felicidade, indicando que o homem deve viver sempre com o mínimo necessário para garantir sua sobrevivência. Propõe ainda que a felicidade seja a plena realização das potencialidades do homem, uma mistura dosada e ponderada de prazer e razão, próximo a Platão e um pouco distante de Sócrates, nesse sentido. Propõe que a realização das potencialidades é alcançada por meio da virtude, e as divide conforme as virtudes morais e as virtudes do intelecto. As primeiras dizem respeito as formas de alcance do conhecimento e as formas de conhecimento as quais podem o homem feliz dedicar-se. Já as virtudes morais fazem parte daquilo que ele expõe como “escolha do justo”, propondo que essas são alcançadas por meio do equilíbrio nas escolhas. Em Aristóteles o Estado é natural, e todo homem deve fazer parte dele. Aquele que não está inserido no Estado é aquele que é suficiente a si mesmo, alcançando a alcunha de louco ou de deus. Os homens reúnem-se no estado para garantir a satisfação de suas necessidades intelectuais e físicas, para que possam então desenvolver suas virtudes, propondo que é da própria natureza humana a política. Que o próprio homem é naturalmenteum animal político. Aristóteles, mente fértil da filosofia grega, e que tem os pensamentos repercutidos ainda com respeito e crença até os dias atuais, fez contribuições inegáveis para o conhecimento da humanidade. Entre elas o desenvolvimento do método de pesquisa, analisando pontos importantes do conhecimento e propondo conceitos concisos e preciosos. License-523201-59350-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Aula conceitual – filosofia A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, da metafísica ao utilitarismo. O mundo moderno e os utilitaristas: entre o prazer e a ética do individualismo A ética utilitarista é uma das filosofias morais mais importantes do século XIX. Antes de explicá-la, é válido lembrar que tal filosofia faz parte da Idade Moderna (dos séculos XV ao XVIII) e permanece em relativa medida na Idade Contemporânea (século XIX até os dias atuais). License-523201-59350-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE O utilitarismo é herdeiro direto da ética de Hume e dos filósofos empiristas e é classificada como uma das “éticas da consciência”. Já vimos como Hume já usou o termo “utilidade”. Os utilitaristas, como seu próprio nome indica, falam da “utilidade” daquilo que dá “prazer”. Todos os seres humanos procuram “prazer” em suas atividades de um modo ou de outro. Os utilitaristas consideram que uma ação será tanto mais benigna moralmente quanto mais prazer gerar à maior quantidade possível de gente. Os utilitaristas consideram que uma ação será tanto mais benigna moralmente quanto mais prazer gerar à maior quantidade possível de gente. Assim, é preciso considerarmos o contexto histórico que contextualiza o utilitarismo e a pertinência social do mesmo. A Europa está mudando do Antigo Regime de poderes absolutos e sociedades hierarquizadas a regimes mais ou menos democráticos nos que se defende o liberalismo político e econômico. O utilitarismo é uma corrente ética muito unida a este liberalismo. As sociedades querem mais liberdade, desejam romper as barreiras sociais do Antigo Regime, contemplam maior mobilidade social e bem-estar para toda a população. Este liberalismo criará novas barreiras sociais unidas a uma economia ultracapitalista e precisará da reação de movimentos reivindicativos dos trabalhadores, como é o caso do socialismo. Em todo caso, o utilitarismo em sua raiz está inspirado por um ideal de bem-estar social: através de condições de vida dignas para todos os cidadãos e do fomento das liberdades. O utilitarismo contou com dois grandes pensadores que são considerados seus representantes: Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Jeremy Bentham (1748-1832) foi um afamado filósofo, jurista e político inglês. Em suas ideias sobre a utilidade do prazer destacou a importância da imparcialidade para considerar todo ser humano como aquele que está em constante busca pelo prazer. Isto é algo que rompia com o tradicionalismo classista das sociedades antigas. Significava que uma sociedade não tem de valorizar como superior o prazer de uma pessoa por ser aristocrata, ou por ser mais abastado do que outra pessoa não aristocrata ou com pouco dinheiro. Entre suas obras destacamos “Introdução aos princípios da moral e da legislação”. License-523201-59350-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE O bom moralmente seria procurar aquilo que desse maior prazer à maior quantidade de gente sem importar sua extração social. Para isso Bentham criou uma série de regras de cálculo de prazeres. Estas regras são à primeira vista fáceis de compreensão pois se aproximam das noções da mentalidade democrática atual. No entanto, surgiram questionamentos que colocaram em dúvida este cálculo: primeiro, como calcular o grau de prazer de cada indivíduo de modo definitivo/ exato, sendo a vivência do prazer algo tão pessoal, tão subjetivo, e como “somar” experiências que, ao ser tão pessoais, são dificilmente equiparáveis? Outro problema importante era o relacionado com a possível qualidade dos tipos de prazeres; ainda que Bentham não tenha se pronunciado sobre isso parecia claro que ainda considerava valioso da mesma forma o prazer de todas as pessoas, sem diferenças de classes, já que os seres humanos culturalmente dão mais valor social e/ou moral a uns prazeres que a outros, e, portanto talvez deveria fazer-se uma classificação o mais objetiva possível de qualidades morais dos diferentes tipos de prazeres. Na solução deste problema das qualidades dos prazeres destacou-se o utilitarista John Stuart Mill (1806-1873), filósofo, político e economista inglês. Stuart Mill recolheu a teoria de Bentham, estudou-a e a complementou com contribuições originais. Uma de suas obras mais importantes se intitula precisamente “Utilitarismo”. Há uma frase de Stuart Mill que se tornou famosa: “Prefiro antes ser um Sócrates insatisfeito que um porco satisfeito”, o que, de modo muito expressivo, quer dizer que nem todo prazer é desejável, nem pessoal nem coletivamente. No cálculo de prazeres além considerar a sociedade em sua totalidade há que ter em conta a pertinência moral da qualidade do prazer. Claro que para isso, como disse Stuart Mill, os membros da sociedade têm de estar bem informados, bem instruídos e educados, e sem imposições, desde a liberdade como valor importante, têm de poder descobrir e eleger aqueles prazeres que são mais valiosos, que lhes realizarão mais como pessoas tanto a nível individual, procurando-os individualmente, como a nível coletivo, fomentando-os solidariamente. O utilitarismo é uma doutrina filosófica pautada na utilidade como mencionado acima. Conforme a doutrina foi evoluindo os critérios básicos dessa utilidade também foram se adaptando, mas sempre voltado a relação do homem com a felicidade. Com seu fundador, Jeremy Bentham, a ideia principal era a de que o homem deveria evitar a dor e buscar sempre o prazer. License-523201-59350-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Para Bentham a vontade da maioria é superior a vontade do indivíduo, fundamentando assim a moral utilitarista que defendeu. A moral tinha então a função principal na prolongação da felicidade, e determinava que toda ação deveria levar em conta o cálculo entre benefícios e malefícios que iria trazer para a sociedade. Caso o resultado indicasse mais benefícios para a felicidade da maioria, então a ação estava de acordo com a moral. Em resumo, quanto mais benefício trouxesse para todos, melhor era aquela ação. E a moralidade significava justamente a preocupação em relação a superioridade do benefício frente aquilo que pudesse prejudicar – definido basicamente como tudo que pudesse causar dor – na maioria das pessoas. A moral buscava então melhorar o mundo o quanto fosse possível, baseada principalmente na noção de que as coisas que causassem felicidade fossem sempre superiores as que causassem dor. Para isso ponderava as seguintes variáveis: intensidade, duração, certeza, proximidade, fecundidade e pureza. Essa moral é baseada principalmente nas consequências, e não nas intenções ou meios, o que a faz preferir sempre aos resultados e encara os outros elementos da forma mais prática possível, lembrando sempre de colocar o bem coletivo frente ao individual. Essa construção ética calculista põe em cheque as concepções de direitos individuais que também começava a ganhar evidencia no período. De maneira que as posições de Bentham são fortemente criticadas nesse sentido. Ainda assim a principal função dessa redução das diferentes concepções morais a um denominador comum buscavam dar uma classificação científica e objetiva a ética. Foi forte a preocupação dos utilitaristas em reduzir determinadas subjetividades afim de conseguir, objetivamente, medir as perdas e ganhos de maneira precisa. Essa preocupação extremamente calculista ganha uma mudança após a morte de Bentham, quando John StuartMill começa a se posicionar frente ao utilitarismo, alterando a centralidade do pensamento da maioria para o indivíduo. Passa então a defender o princípio da liberdade individual como norte para construção moral. Todos teriam liberdade para fazer o que quisessem, buscando promover a própria felicidade, enquanto isso não infligisse mal ao outro. A liberdade e os direitos individuais superam a certo modo até mesmo a estrutura utilitarista em John Stuart Mill, que ao fundamentar um utilitarismo que respeite tamanha individualidade, constrói uma concepção moral diferente da que Bentham defendia. License-523201-59350-0-4 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Ainda havia entre ambos a ligação com a tese hedonista – é da natureza do homem procurar o prazer e evitar a dor – o que os diferenciavam eram os sujeitos nos quais situavam suas teses utilitaristas. Enquanto Bentham enxergava um utilitarismo baseado no indivíduo mecânico e calculista, que deveria sacrificar os desejos que fossem divergentes da vontade majoritária, Stuart Mill construía um utilitarismo baseado num indivíduo com maiores subjetividades, cujo limite da liberdade era a liberdade do outro. Esse utilitarismo apresentado por Bentham e Mill é basicamente um utilitarismo de ações. Ou seja, cada ação deve ser confrontada quanto a sua natureza utilitarista. O que vem a ser um modelo, parte do utilitarismo moderno, que com o passar do tempo construiu o que se denomina utilitarismo de regras. No último, cada regra deve ser confrontada quanto a sua utilidade para o todo, verificando qual o resultado de todos seguirem aquela regra e com base nessa resposta verificar se a mesma é útil ou não de ser obedecida. De tal maneira que para distinguir os “utilitarismos” basta verificar qual o objeto, mas deixando evidente que o que faz parte do centro do pensamento é sua inspiração basilar no hedonismo. É possível então apresentar alguns elementos principais do pensamento utilitarista. Os prazeres e sofrimentos possuem um resultado universal e imparcial, independente de quem os sofra. A consequência é sempre o resultado mais importante na ética utilitarista. O geral sempre é o que deve ser levado em consideração em qualquer ponderação, já que o mais importante é que o resultado em prazeres compense os prejuízos. E a satisfação deve ser sempre presente em qualquer que seja o ato, da maneira mais prolongada e otimizada que for possível. Resumindo em imparcialidade, consequencialismo, universalidade, otimização e o princípio da felicidade. Os princípios utilitaristas são influentes em outras áreas do conhecimento, principalmente em relação à política e economia, ainda que suas aplicações não sejam tão radicais quanto as instituídas teoricamente é possível perceber que diversas ações, principalmente estatais, são posicionadas conforme os seus pilares. No século atual o utilitarismo está muito presente, através de correntes éticas e filosóficas estreitamente relacionadas, como são o neoutilitarismo, ou o pragmatismo (cujo origem filosófica está no século XIX, particularmente nos Estados Unidos). License-526522-67802-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE Estudo de caso: projeto de lei nº 8099/2014 – criacionismo e o respeito ao estado laico brasileiro: só uma teoria? Introdução O criacionismo foi colocado em pauta nacional, porém, desta vez, de maneira sistemática e fadada ao inconstitucionalismo. Aos dias 13 de Novembro de 2014, foi apresentado à Casa Legislativa pelo Pastor Deputado Marco Feliciano (PSC/SP) o Projeto de Lei que se instaura obrigatório, em escolas públicas e privadas, o ensino do criacionismo. Criacionismo, é aqui entendido, como o nome dado à teoria que justifica a origem do universo e da vida através de Deus. Essa teoria está no livro de gênesis, no qual compõe a mitologia cristã, e também no Alcorão, nos quais alegam que a criação de todas as coisas se deu em 6 dias. Bastante criticada no âmbito acadêmico e cientifico, os criacionistas, então, se transvestiram. Uma nova nomenclatura foi explanada, para assim, semanticamente, ser aceito em toda a plenitude científica: Teoria do Design Inteligente (TDI). Do grego theoria, que em seu contexto histórico indicava observar, examinar, o conceito vem ganhando significações, entendendo-se, contemporaneamente, por complexo de ideias, partindo de um determinado tema, no qual está em busca da veracidade da realidade, transmitindo uma noção geral de verdade. Sistematização, comprovação científica e credibilidade, são os três aspectos gerais de Teoria. Teorias são estabelecidas e perduram até que outra seja apresentada e derrube os argumentos da outra. Logo, passa-se a questionar a linearidade da nova Teoria do Design Inteligente, anteriormente chamada de Criacionismo. Panorama e cenários No que diz respeito ao contexto nacional, lembramos a atuação do Estado Democrático de Direito, onde o poder emana do povo e que todos são iguais perante a lei, em seu artigo 19, da Constituição Cidadã de 1988, a saber: Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: License-526522-67802-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar- lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; Este Projeto de Lei, não só abre questionamentos políticos, como jurídicos-sociais. Entram em questão temáticas sobre a dignidade humana amplamente defendida em tratados e declarações internacionais, como por exemplo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei de Diretrizes e Bases da Educação, e a já mencionada Constituição Federal do Brasil – sem maturação suficiente e calejada dos golpes políticos já sofridos. É sabido que, em instituições de ensino que permeiam bases religiosas, como as Escolas Adventistas, é aludido para os discentes o criacionismo. Todavia, nos moldes colocados pelo Pastor Deputado Marco Feliciano, torna-se inviável a propagação de tal conteúdo em espaços públicos, uma vez que tal teoria faz parte de um arcabouço de determinadas religiões. Cabe nesse contexto lembrar que vivemos em um Estado Laico, em seu texto constitucional. Diversas foram as reações objetivando questionar a fragilidade científica e da importância para o social do projeto. Associações e Instituições acadêmicas se manifestaram mediante cartas abertas ao Pastor-Deputado. Dentre elas estão a Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBIO) e a Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC) que, juntas, levaram ao conhecimento público suas alinhadas colocações, a citar: 4) Deste modo, um projeto de lei que determina a instituição de UMA determinada crença religiosa em todo o sistema público de ensino é flagrantemente inconstitucional, por violar frontalmente o conteúdo do art. 5º, inc. VI, da Constituição da República. Sua instituição não poderia se dar nem mesmo por emenda constitucional, já que o direito em questão é assegurado por cláusula pétrea e, com isso, é vedada até mesmo a hipótese de deliberação de proposta de emenda que tivesse conteúdo tendente a abolir a inviolabilidade da liberdade de crença/religião. Teor completo em: http://www.abrapec.ufsc.br/ wp-content/uploads/2014/11/documento-conjunto-SBEnBio-ABRAPEC- final-12-1.pdf. Em 24 de novembro de 2014, no 12º ponto abordado pelas associações fica claro a síntese das argumentações apresentadas em documento: “Ao contrário do que proclama o texto da PL8099/2014, seu objetivo não é o debate (que na verdade já existe na maioria das escolas), mas sim a ocupação por movimentos religiosos institucionalizados dos mais diversos espaços (a escola e seu currículo são apenas alguns License-526522-67802-0-6 ESTUDO DE CASO EM HUMANIDADES E
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