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Estudos de Caso em Humanidades e Meio Ambiente

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License-520936-68753-0-6
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Estudo de caso: 
Belo Monte de quê?
Introdução
Quando nós nos deparamos com grandes construções, perguntamo-nos o quão 
impactante em nossas vidas elas podem ser. Um exemplo dessas construções são 
pontes, grandes edifícios e as hidroelétricas.
Em se tratando de recursos hídricos, lembramos como Brasil é um gigante nesse 
aspecto. Flora, fauna, um ecossistema rico e pautado na diversidade, resistente 
em um mundo de crescimento e consumo dos recursos naturais. Resistência que 
infelizmente não é significado de sucesso. Relatórios de diversas organizações de 
defesa do meio ambiente demonstram que os danos causados ao ecossistema 
brasileiro, em específico ao amazônico, tem sido cada vez maior. Queimadas, 
desmatamento, poluição, uso indevido dos recursos que parecem abundantes, e 
que são finitos e sensíveis. 
O Brasil tem cerca de 12% da água doce disponível no mundo para consumo humano. 
O que nos garante hoje certo conforto – temos recursos energéticos importantes, 
já que existe vento, biocombustíveis, petróleo e água. As hidroelétricas respondem 
por cerca de 63% da energia produzida no nosso território, como mostra a imagem 
a seguir do site www.em.com.br: 
 
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Atualmente, o Brasil conta em seu arsenal com Itaipú (PR), Tucuruí (PA), Ilha Solteira 
(SP), Xingó (AL e SE), Paulo Afonso IV (BA), dentre outras grandes Usinas em projeto 
ou construção. Entre as que já estão em fase de construção se encontra a Usina de 
Belo Monte, localizada no Pará, sede de outras 3 das 10 maiores usinas hidrelétricas 
do brasil – em fase de projeto, construção ou operação – que será implantada no 
Rio Xingú. 
A Usina de Belo Monte, aporta no território paraense e tem uma relação direta e 
contínua com diversas cidades da região, principalmente com a cidade de Altamira, 
que sofreu resultados diretos da presença do empreendimento. Ressalta-se que a 
cidade não é a única afetada pela megaconstrução. 
Trata-se de um empreendimento gigantesco, que trará diversos impactos nas 
mais diferentes dimensões. Com um custo estimado em R$ 30 bilhões de reais, 
aproximadamente 25 mil trabalhadores envolvidos diretamente e um prazo de 
44 meses, a usina tem previsão de motorização total para início de 2019. É um 
empreendimento da Norte Energia S.A. 
O assunto vem levantando diversas opiniões e polêmicas desde o seu início, divide 
opiniões e posições técnicas e de moradores, inclusive resultando em diversos 
processos movidos pelo Ministério Público Federal. A obra tem impulsionado 
fortemente a economia local, alterado a rotina das pessoas e criado uma 
movimentação que recebe grande visibilidade dentro e fora do Brasil.
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
De acordo com uma reportagem da Folha de São Paulo intitulada “A Batalha de Belo 
Monte” realizada em 06 de dezembro de 2013,
“Índios, ribeirinhos e moradores de Altamira se queixam de não 
terem sido suficientemente consultados sobre o aproveitamento do 
Xingu. O governo federal responde dizendo que realizou 142 eventos, 
incluindo quatro audiências públicas (em Belém, Altamira, Vitória do 
Xingu e Brasil Novo), que reuniram 6.000 pessoas; 30 reuniões em 
aldeias (1.700 participantes); e 61 em comunidades (2.100 presentes). 
A ausência de consulta adequada a todos os povos indígenas é uma 
das razões alegadas em duas dezenas de ações que o Ministério 
Público Federal move contra Belo Monte”. 
O que acaba então levantando pontos sensíveis como: as populações ribeirinhas 
e indígenas que vivem na região da construção, as rotinas das cidades pelas 
quais passam, os movimentos de migração que acabam gerando, as estruturas e 
infraestruturas locais. O ecossistema que é alterado em todo o processo, seja na 
remoção, extração ou quando trazem materiais diferentes para aquele ambiente. 
De que forma o Governo brasileiro envolveu as populações indígenas 
no planejamento do projeto de Belo Monte?
O Governo brasileiro adotou uma abordagem no planejamento do 
projeto envolvendo as comunidades que serão afetadas. A Fundação 
Nacional do Índio (Funai) realizou mais de 30 reuniões entre 2007 
e 2010, com a participação de cerca de 1.700 indígenas em aldeias 
locais, para discutir questões ligadas ao projeto da barragem de Belo 
Monte.
Muitos líderes comunitários também estiveram ativamente envolvidos 
em reuniões públicas realizadas na elaboração do Estudo de Impacto 
Ambiental (EIA). Além disso, cerca de 200 indígenas participaram 
de audiências públicas promovidas pelo Instituto Brasileiro do Meio 
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), especialmente 
em Altamira.
(Projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, Perguntas Mais 
Frequentes, Ministério de Minas e Energia, 2011). 
Vale ressaltar que a formação societária da empresa Norte Energia S.A. é composta 
basicamente dos seguintes sócios: Eletrobrás (composta pela Eletrobrás, Chesf e 
Eletronorte) tem 49,98%; Fundos de Pensão (com a Petros e Funcef) leva 20%; Belo 
Monte Participações 10%; Amazônia (Cemig e Light) tem 9,77%; Autoprodutoras 
de Energia (caso da Vale e Sinobras) possuem 10%; e Outras Sociedades 0,25% do 
empreendimento.
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
A composição acionária revela que a usina de Belo Monte é um negócio de quem já 
tem histórico e influência no ramo. Ainda que tenha começado, em 2010, com um 
aglomerado de empresas médias do ramo de construção civil, a composição do 
grupo veio evoluindo para entes economicamente bem mais fortes. 
Os impactos apontados nos estudos de viabilidade do projeto veem sendo motivo 
de grande parte do impasse, por apontar necessidade de grande intervenção dos 
empreendedores em questões socioambientais que significam um valor financeiro 
elevado, acabando por evidenciar as precariedades já existentes nas localidades. 
Panorama e cenários
Berço de uma riqueza biológica incomensurável, a região amazônica guarda 
também riquezas culturais de valores inestimáveis. As culturas indígenas que ainda 
resistem e persistem no local são demonstração dessa cautela que é exigida. Um 
olhar antropológico é indispensável para o trato e percepção dessas comunidades.
Grande parte da economia local se baseia na pesca de peixes ornamentais, 
atividade que será gravemente afetada com as mudanças no fluxo do rio causadas 
com a instalação da hidrelétrica. Estudos estão sendo feitos juntos a Universidade 
Federal do Pará em busca de técnicas que permitam aos indígenas e ribeirinhos 
que costumam viver dessa prática o cultivo dessas espécies. 
Figura 02. Biólogo usa mamadeira para alimentar filhote de macaco capturado 
em área desmatada para a construção da hidrelétrica de Belo Monte. 
Fonte: Lalo de Almeida - 29.ago.13/Folhapress. http://imguol.com/c/bol/fotos/2013/12/20/biologo-usa-mamadeira-para-alimentar-filhote-de-macacocapturado-em-area-desmatada-para-a-
construcao-da-hidreletrica-de-belo-monte-1387559411614_956x500.jpg
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
“O Brasil está pagando caro por ter escolhido a opção mais barata 
para sua matriz energética em vez de ter ampliado o mix de 
possibilidades, investindo mais em fontes alternativas de energia. 
O setor elétrico está afundado num gargalo sem fim porque o país 
se tornou dependente das hidrelétricas. Com a falta de chuvas e 
o baixo nível dos reservatórios, as termelétricas, que deveriam ser 
acionadas apenas em casos emergenciais, foram incorporadas 
ao sistema, elevando o custo do megawatt/hora (MWh) a níveis 
recordes”. Simone Kafruni, 12/05/2014. 
Reservas indígenas são um ponto constante dos debates acerca da construção, 
sendo essas comunidades de grande importância, ainda que sejam aportados 
nas condições apresentadas nas medidas da Eletronorte para a região, outros 
empreendimentos locais passam por cima da necessidade de respeitoa essas 
tribos. 
Os moradores das cidades na rota da construção sofrem também forte alteração 
em suas vidas, o fluxo de carros, os engarrafamentos, aumento populacional, 
violência, e a precariedade nos serviços públicos ofertados demonstram como 
a infraestrutura local é extremamente sensível ao aumento populacional trazido 
pela construção da usina. É importante compreender que uma parte desses 
trabalhadores deve se instalar no local, mas que a maioria deve ir em busca de 
outras oportunidades de emprego assim que as obras terminarem.
 
Moradores circulam por passarelas precárias entre as palafitas próximas ao igarapé Ambe. 
Fonte: Lalo de Almeida - 1ºset.13/Folhapress
Entre as condições para liberação do projeto estão investimentos maciços nas 
condições sanitárias e de serviços básicos para a população local. Ainda que a obra 
termine, esses investimentos permanecem, como forma de amenizar os impactos 
causados. Ainda assim, não é possível dimensionar de forma precisa a realidade 
dos impactos que serão causados com a instalação da Usina Belo Monte no rio 
Xingú. Uma obra que causa impacto para toda a biodiversidade, nas relações 
ambientais e sociais.
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Em documento oficial, o Ministério de Minas e Energia organizou um informativo 
sobre as “Perguntas mais frequentes sobre o Projeto Belo Monte” em fevereiro de 
2011. Quando questionados acerca do item “Populações Indígenas”, o governo 
federal fez a seguinte declaração:
“Alguma terra indígena será alagada como resultado da usina de Belo 
Monte?”
“Não. Nenhuma das 10 terras indígenas localizadas na área de 
influência do projeto será alagada.”
É com base na presente situação que trazemos uma possível análise a essa 
problemática tão complexa. Conforme é desenvolvido uma busca sobre as 
grandes construções, é perceptível que a consciência de todos os seus impactos 
é de responsabilidade das organizações e instituições que são autoridades nesses 
campos. No caso de Belo Monte, os pareceres sobre as medidas necessárias para a 
liberação das obras foi resultado dos estudos desenvolvidos pelo Ibama (O Instituto 
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). 
Toda a estrutura burocrática moderna construída sobre as decisões que são tomadas 
pelo estado ganha uma visibilidade ainda maior nessas situações. Perceber que a 
legalidade é presente em todas as ações que são tomadas pelos responsáveis do 
empreendimento ainda não é garantia de que seja cumprido aquilo que realmente 
seja justo, é basicamente impactante.
Max Weber, filósofo alemão que desenvolveu suas ideias principalmente no século 
XIX, tratava da burocracia de uma maneira diferente. Para Weber a burocracia seria 
uma estruturação das relações normativas de maneira que todas as medidas fossem 
as mais profissionais e objetivas possíveis. Ou seja, atendendo a uma hierarquia e 
uma separação de papeis bem definidas. De tal maneira que a burocracia era uma 
forma de organização que tendia a objetivar e a garantir uma execução da norma 
que fosse rápida, segura, eficiente e principalmente profissional. 
A atual concepção de burocracia é então diferente daquela adotada pelo pensador 
clássico. Ainda assim todo o processo no qual se encontra a usina hidrelétrica 
pode sim ser analisado pela lente da teoria burocrática weberiana. Basta que 
nos perguntemos se as organizações estatais que permitem e facilitam as 
grandes empreitadas o fazem com base na responsabilidade com os resultados 
apresentados em seus estudos ou simplesmente pela forte pressão exercida pelo 
poder econômico exercido pelos grandes grupos financeiros. 
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
As permissões e consequências de uma construção como a da Hidrelétrica de 
Belo Monte só retratam a consequência de uma burocracia feita sem o devido 
atendimento dos requisitos necessários para seu bom funcionamento. As hierarquias, 
profissionalização e todas outras ferramentas organizacionais da administração 
pública parecem ganhar uma flexibilidade muito nítida a outras formas de poder 
nesses momentos. De tal forma que o dever do Estado em ser soberano e proteger 
a vontade da maioria parece sucumbir em prol do desejo de lucro de um grupo. 
Apresentação do problema
Sem dúvida, a burocracia a soberania e o progresso são elementos fundamentais 
para a formação de um Estado forte e desenvolvido. No entanto, as culturas, 
tradições e principalmente o povo são palavras-chave da própria definição do 
Estado Moderno que se perpetua até os dias atuais na contemporaneidade. 
1. Nesse contexto, o que deve falar mais alto? Como devemos entender a relação 
entre território e desenvolvimento social?
2. O que pensar sobre a construção da Usina de Belo Monte? Como devemos analisar 
as justificativas das partes envolvidas?
3. O que você acha que o isolamento, até mesmo geográfico, que a região norte 
possui em relação ao Brasil, é um fator que dá mais segurança para os grupos em 
posições desfavoráveis? 
4. Como podemos contextualizar a Teoria Utilitarista neste caso real?
5. Como podemos entender o conceito de consequencialismo, criado pela Teoria 
Utilitarista? 
6. Como podemos contextualizar o conceito de Justiça defendido por Sócrates?
7. Como é que nós podemos encarar uma burocracia que parece tão parcial? 
Vamos refletir. 
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Aula conceitual – Filosofia
A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: 
existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, 
da metafísica ao utilitarismo. 
Introdução
Para falarmos sobre os pilares da filosofia precisamos caminhar também pela 
história. Voltamos a Grécia. Antes mesmo de ser conhecida como Grécia, ainda a 
cerca de 2000 a.C., povos indo-europeus, chamados helenos, chegavam a região, 
localizada ao sul da península balcânica, as costas da Ásia Menor e ilhas do mar 
Egeu. A civilização grega foi composta por diversos desses povos. É o caso dos 
aqueus, aproximadamente em 1950 a.C., povo pacífico que junto aos cretenses 
formaram a civilização micênica. Após os micênicos chegaram os jônios e eólios, 
aproximadamente 1500 a.C., que se posicionaram na Ática e Ásia Menor, e para 
concretizar a formação, as invasões dórias, cerca de 1200 a.C., instaladas na região 
do Peloponeso, que acabaram por atacar parte da civilização micênica e concluiu 
o grupo do que viria ser a origem da sociedade grega. 
Em síntese a história grega pode ser posicionada em quatro períodos: 
O período homérico, marcado pelas obras atribuídas a Homero, da Ilíada e Odisseia, e Hesíodo, 
com Os trabalhos e o os dias e Teogonia, entre os anos de 1100 a 800 a.C.; 
Período arcaico, entre os séculos VIII e V a.C., marcado pelo estabelecimento das pólis como 
organização política características das cidades, ainda sem um Estado grego unificado; 
Já entre os séculos V e IV a.C., com a consolidação da pólis e apogeu cultural e intelectual do 
povo, firma-se o período clássico; 
E por fim, com a decadência da cultura grega o período helênico tem início, entre 336 e 146 a.C., 
quando começam as grandes invasões macedônicas e romanas.
Nosso objetivo é trazer questões pontuais que permitam 
a reflexão e provoquem o desejo de conhecer mais as diferentes formas 
e modelos de pensamentos que ilustram a busca do homem acerca 
de sua existência, sua história e visões de mundo ao longo dos tempos, 
da Antiguidade à sociedade contemporânea.
License-523201-59347-0-3
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
A questão do mito e da ciência
Depois de apresentada a origem da Grécia, precisamos também refletir sobre a 
origem da Filosofia. Primeiro, vamos entender por que a filosofia acaba surgindo e 
o que a torna peculiar frente a outros conhecimentos. 
Durante todo o período de formação da sociedade grega – o que também pode ser 
aplicado a outras sociedades – os fenômenos naturais costumavamser explicados 
por meio do mito. O mito era então a fonte da explicação sobre a origem de todas 
as coisas, e vinha por meio das histórias (entendidas como narrativas), contadas e 
passadas pelas veias da própria sociedade. 
E na sociedade grega, politeísta, a religião costumava apresentar os deuses 
como “super-humanos”, ou seja, dotados principalmente de características 
quantitativamente superiores aos mortais, enquanto eram qualitativamente 
semelhantes aos homens. Também eram dotados de grande parte dos sentimentos 
pertencentes aos humanos, como é o caso da ira, vaidade e coragem. A religião 
grega poderia então ser dividida em duas: a pública – baseada numa hierofania, 
naturalização e humanização das divindades – e o orfismo – caracterizado pela 
dicotomia corpo-alma, que colocava o homem num ciclo de reencarnações para 
promoção da purificação de um princípio divino que encontrava-se tocado por 
uma “culpa original”. 
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Como são contados nos grandes poemas gregos, era comum que os deuses se 
relacionassem com mortais. A construção dessas figuras que são chamadas de 
“heróis” – filhos de deuses e mortais – estão presentes nos contos que transpassam 
a cultura grega, aproximam os homens dos deuses, ainda que deixem claro que os 
heróis não são deuses, mas estão longe dos homens comuns. Fomentam a mitologia, 
os valores, e os sensos comuns.
Com toda uma estrutura fortemente mitológica alimentando o ideário coletivo, a 
filosofia surgiu como um conhecimento que busca compreender a própria existência 
e realidade, questionando e buscando pela racionalidade uma explicação para 
compreensão do universo. 
Do mito para o saber, a filosofia por meio de seus princípios, metódicos e objetivos, 
busca empreender no senso comum o sentido do próprio conhecimento. O 
conhecimento pelo conhecimento, por meio da lógica, da razão e racionalidade. 
A filosofia surge pela necessidade do homem de explicar a si e o mundo ao redor.
É uma área do conhecimento própria, que não se deve confundir com a ciência, 
ainda que por muitas vezes isso seja difícil. 
A ciência e a filosofia são conhecimentos baseados nos pilares do método – racional, 
lógico – e do objetivo – relativo a um objeto – mas a maneira como ambos princípios 
são aplicados é que permitem diferenciar ambos. As diferenças são principalmente 
quanto a maneira como empregam seus métodos e estabelecem seus objetivos. 
License-523201-59347-0-3
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Com toda uma estrutura fortemente mitológica alimentando 
o ideário coletivo, a filosofia surgiu como um conhecimento que 
busca compreender a própria existência e realidade, questionando 
e buscando pela racionalidade uma explicação para compreensão do 
universo. Do mito para o saber, a filosofia por meio de seus princípios, 
metódicos e objetivos, busca empreender no senso comum o sentido 
do próprio conhecimento. O conhecimento pelo conhecimento, 
por meio da lógica, da razão e racionalidade.
A filosofia, racionalmente, aplica diferentes métodos para analisar e decompor a realidade em 
busca de explicá-la, simplesmente para explicá-la. “Filosofia”, na origem da palavra, significa 
“amizade com a sabedoria”. A pólis, portanto, é o que busca ser amigo do conhecimento, o que 
busca conhecer pelo prazer de conhecer.
Já a ciência busca empreender, por meio de métodos racionais formas de comprovar, com 
base em seus axiomas – proposições que são tomadas como verdadeiras, independente de 
comprovações – a compreensão do objeto de maneira a trazer resultados práticos para aquele 
conhecimento. Ou seja, conhecer uma realidade que seja tácita ao cotidiano e que de alguma 
maneira retorne para as pessoas da forma mais prática e sensível possível. 
Enquanto a ciência busca ser funcional para a vida das pessoas, a filosofia tende a 
construir um conhecimento que seja funcional para o próprio conhecimento. Dessa 
relação complexa, retornamos a maneira como a Grécia iniciou seu caminho pela 
filosofia. Os personagens são da região Jônia, da pólis de Mileto – região que hoje 
pertence a costa da Turquia.
License-523201-59348-0-4
ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Aula conceitual – Filosofia
A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: 
existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, 
da metafísica ao utilitarismo. 
Mileto e a origem da filosofia
Localizados numa região de forte influência mercantil, os jônicos viviam longe do 
centro grego, na costa da Ásia Menor. Uma região, que não possuía o terreno fértil, 
estabelecida principalmente no mercado e nas produções industriais, ainda via 
valor no trabalho manual, que não era deslocado ao desprezo por influência do 
escravagismo. 
Dentre os homens que nasceram na cidade alguns dedicaram-se a filosofia, entre 
eles destacamos Anaximandro (610-547 a.C.), Anaxímenes (585-528 a.C.) e Tales de 
Mileto (625-548 a.C.), o fundador da escola que carregou o nome da cidade, ainda 
no período arcaico. O principal feito desses póliss foi a busca por um elemento que 
explicasse a composição de todas as coisas do universo. (ANDERY, 2012). 
Tales defendeu sua teoria de que o elemento primordial do universo seria a água, 
dada a natureza úmida dos alimentos e as diferentes maneiras como conseguiu 
observar a presença de água na natureza , o fazendo acreditar que a água estava 
presente em tudo, conforme narrou Aristóteles em sua obra Metafísica. 
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Anaximandro, também nascido em Mileto, aprendiz e sucessor de Tales, pólis, 
astrônomo e matemático, por sua vez, via o elemento primordial de maneira 
diferente do seu mestre. Denominando-o de ápeiron (ilimitado), Anaximandro via 
esse “princípio” como algo além dos próprios elementos, infinito, indeterminado e 
ilimitado, que transformava-se naquilo que viria a ser a matéria. 
Já Anaxímenes, filho de Eurístrato, também de Mileto, amigo de Anaximandro, via 
o primeiro elemento de maneira diferente, acreditava que se tratava do ar, o que 
carregava um significado implícito para época, onde acreditava-se que a alma 
das pessoas não passava de ar quente. Assim, para Anaximandro, as diferentes 
substâncias diziam respeito a maneira como o ar dilatava-se ou contraia-se para 
compô-las. 
O relato sobre o pensamento de todos esses póliss não dá-se de maneira direta, mas 
sim em relatos de outros, em especial Simplício e Aristóteles, que ao construírem 
seus pensamentos acabavam por trazer uma retrospectiva dos pensamentos 
construídos e tratados como importantes até então. 
É o caso do livro Metafísica, escrito por Aristóteles e que é o primeiro a trazer 
uma “história da filosofia”. A filosofia é um conhecimento que, ao tratar do caso 
grego, está diretamente ligada a relação mestre-aprendiz, o que garante, inclusive, 
a transferência dos saberes que eram desenvolvidos e a preservação da memória 
dos pensadores. 
Quando buscavam estudar a realidade a principal fonte de questionamentos era 
a própria natureza. Assim, a escola de Mileto torna-se percussora da cosmologia, 
graças a suas proposições sobre os elementos que compunham o universo, suas 
incitações buscavam compreender qual a origem do próprio cosmo, ramo que 
atualmente pertence a astronomia, e abalavam as concepções tidas até então 
graças a maneira como lidavam com essas informações. 
Retirando a explicação da origem das coisas do mito e apresentando 
uma resposta na própria natureza, eles rompiam com a construção 
que toda a sociedade vinha tendo. Disseram que a origem do universo 
encontra-se ao redor, ou até mesmo dentro, do próprio homem, e não nas 
manifestações míticas que eram comumente utilizadas como resposta.
Além disso, as proposições de Anaxímenes são importantes para o conceito da 
mobilidade da alma, já que os antigos acreditavam que a alma era composta de ar, 
sua ideia de que toda substância vinha primordialmentedo próprio ar colocava o 
homem e sua essência numa posição diferente daquela que a religião o propunha, 
acompanhando sua posição em relação a cosmologia. Com os conceitos sobre a 
dilatação e contração do ar, permitiu uma construção real da ideia de princípio, 
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
que ainda que fosse insinuada, não era esclarecida pelos outros póliss. O ar como 
semente e o movimento – dilatação e contração – como processo pelo qual se 
construíam as outras matérias.
Vale destacar que ambos os pensadores não possuíam como único interesse o 
campo da filosofia, mas também a astronomia e a matemática, o que permitiu 
a eles empreender contribuições também para a ciência. A escola de Mileto foi 
fundamental para a construção de questionamentos que impulsionam a filosofia até 
o momento presente, na contemporaneidade. Ainda hoje nos perguntamos sobre 
a nossa origem, e mesmo que sejam apresentados e descobertos modelos para 
explicá-la – atomicamente ou em medidas ainda menores – ainda nos perguntamos 
sobre a substância que nos origina, além da própria matéria. 
Além da escola de Mileto outras escolas surgiram, todas com o intuito de explicar 
questões fundamentais acerca da existência humana e de sua realidade, o que 
por sua vez acabava vindo por meio da própria filosofia, independente das 
outras formas de saber que esses pensadores desenvolviam. Explicações sobre a 
composição da natureza e da própria essência do homem continuaram sendo o 
centro do pensamento científico-filosófico grego, o que garantiu o desenvolvimento 
de pensamentos e conceitos importantes para o conhecimento de forma geral. 
Antes de Sócrates
O período arcaico da história grega, foi substituído período clássico, que é marcado 
pela sensação de estabilidade e bem-estar que acompanhava algumas pólis 
gregas. Ainda que outras regiões passassem por dificuldades, algumas cidades-
Estado encontravam seu apogeu, caso de Atenas, berço de grande contribuição 
para o saber ocidental, principalmente no que diz respeito a filosofia. 
A sociedade grega passava por um período de tensão, dividida graças aos conflitos 
de duas grandes pólis – Atenas e Esparta – as disputas internas causavam grande 
impacto na sociedade e nas suas produções (artes, ciência, filosofia e até mesmo 
economia). 
O império persa se desenvolvia na fronteira grega e os ataques começam em 490 
a.C., liderados por Dário. 
Para compreender um pouco os conflitos apresentados é importante apresentar 
alguns conceitos. Com a invasão dória, ainda no período homérico, a sociedade 
grega organizou-se em clãs, ou génos, que permitiu a organização da aristocracia 
grega, já que o acúmulo de propriedade se tornou ainda mais fácil. As génos, 
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
criavam os basileus, patriarcas responsáveis pelos clãs que exerciam o poder sobre 
o grupo. Em face da necessidade, surgiam as fátrias, coletivo de génos, liderada 
pelo filo-basileu – escolhido por aptidão bélica. Assim, os basileus moravam sempre 
em locais altos, e o acumulo de casas e templos faziam surgir as pólis, cidade-
estado grega e fonte das múltiplas organizações políticas da Grécia, na parte alta 
a acrópole – templos e fortificações militares (junto a casa do basileu) – e na parte 
inferior o mercado – junto dos comerciantes e artesões. 
A pólis espartana vivia sob o regime denominado timocracia (“governo da honra”), 
onde os guerreiros desempenhavam papel primordial na pirâmide social. A partir 
do século VII a.C. o governo era realizado por dois reis que desempenhavam papel 
tanto militar quanto religioso, a Gerúsia (conselho de aristocratas anciãos) criava 
as leis, e o Eforato (formado por cinco aristocratas) era o principal poder executivo, 
eleito pelo homoloi – todos os cidadãos-guerreiros, denominados “os iguais” – 
espartanos. 
Alguns pólis se organizaram de forma a apresentar a filosofia como um 
caminho para a verdade, o que vinha por meio inclusive da educação, 
já que esses pensadores costumavam praticar sempre uma construção 
coletiva desse saber, buscando alcançar um conhecimento verdadeiro. 
A base da pirâmide social espartana era composta pelos hilotas – escravos que 
faziam parte da propriedade do Estado – e os periecos – trabalhadores livres, 
mas sem direitos políticos. Em contrapartida, a sociedade espartana era dividida 
principalmente pelo quesito bélico, e não fazia distinção em relação ao gênero, já 
que a sociedade espartana dava mais direitos a suas mulheres do que as outras 
pólis gregas costumavam oferecer.
Em Atenas, por outro lado, a sociedade vivia sob o regime da democracia, grande 
exportadora de azeite, vinho e cerâmica, a sociedade era basicamente separada 
entre eupátridas – donos de terra – e hectemoro – camponeses – e com as 
reformas políticas instauradas por Sólon e Drácon, que levaram a uma reforma 
social baseada no critério de renda – as duas primeiras, participantes dos grandes 
cargos governamentais, depois os guerreiros e a classe dos thétas, camponeses. 
Estabeleceu também a Eclésia e a Bulé, assembleia e conselho populares formadas 
por números de todas as classes. 
O Areópago era dominado pelas duas classes mais ricas. Esse sistema permaneceu 
até que Clístenes assumisse o governo. Separou o povo ático em dez tribos, 
conforme seus locais de morada, e a menor medida era chamada de “demo”, daí 
a democracia, que era a base da nova Bulé, formada de 50 participantes de cada 
tribo. A Eclésia foi fortalecida, também. 
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ESTUDO DE CASO EM 
HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
O governo era então baseado na isonomia, o que garantia que todos os cidadãos 
fossem considerados iguais perante a lei. Ainda assim, a concepção de cidadão 
era – como em grande parte da Grécia – restrita aos proprietários de terra e aos 
comerciantes enriquecidos. Os estrangeiros (metécos), escravos e mulheres não 
possuíam nenhum tipo de poder na democracia ateniense.
Procuramos compreender a maneira como as cidades se organizavam para entender 
em qual contexto estão inseridas essas personagens da filosofia clássica. Isso nos 
auxilia a entender a forma como alguns pensamentos podem ter sido encarados 
na época em que foram formulados, seja no caso de naturalidade sobre alguns que 
nos pareçam estranhos, ou de estranheza para alguns que nos pareçam normais. 
Outros pensadores continuaram por apresentar diferentes explicações para a 
origem do universo – mesmo após a escola de Mileto – o que acabou tornando o 
assunto desgastado, outras explicações foram oferecidas, mas todas ainda eram 
inconclusivas. 
Conforme o tempo passava, alguns pólis organizaram de forma a apresentar a 
filosofia como um caminho para a verdade, o que vinha por meio inclusive da 
educação, já que esses pensadores costumavam praticar sempre uma construção 
coletiva desse saber, buscando alcançar um conhecimento verdadeiro. 
Um grupo chamado de Sofistas, caracterizados principalmente pela prática do 
ensino de habilidades importantes para o sucesso e participação aos filhos dos 
cidadãos, viajam pelas pólis recebendo pelo serviço prestado. 
A maneira como os sofistas encaravam o conhecimento e seus principais 
temas faziam com que suas posições fossem contrapostas aos póliss, em 
especial Sócrates, Platão e Aristóteles, apresentavam posições contrárias 
a prática sofista, afirmando que a valorização da retórica como forma 
de vencer os debates políticos e não como instrumento de alcance da 
verdade era um desfavor para o conhecimento, por exemplo. 
Ainda assim os sofistas apresentavam posições interessantes sobre os deuses, as 
leis e o comportamento. Considerados os primeiros pedagogos, acreditavam que 
as leis e as instituições eram criações humanas, e que eram, portanto, capazes 
de mudar conforme a vontade dos homens. Essa posição relativista, encarando a 
subjetividade e focada no indivíduo, era um contraponto ao pensamento pregado 
no seu período. Aindaassim, parece ter encontrado no desgaste dos debates 
metafísicos – acerca da origem do universo – a oportunidade, junto a outras formas 
de conhecimento, de colocar o sujeito como objeto central do pensamento e dos 
questionamentos.
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Aula conceitual – Filosofia
A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: 
existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, 
da metafísica ao utilitarismo. 
Sócrates
Sócrates faz parte dos grandes nomes da filosofia clássica. Não possui nenhuma 
obra escrita, ainda assim, é o personagem principal dos pensamentos de seu 
principal discípulo, Platão, e é apresentado também por Xenofonte e Aristófanes, 
além de outros. 
Filho de uma parteira e um escultor, nasceu durante o apogeu cultural e intelectual 
ateniense, no ano de 469 a.C., foi um homem forte e robusto, o que lhe permitiu 
participar de várias batalhas em nome de Atenas.
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Costumava levar as suas discussões principalmente nas praças e mercados, 
costumava também ser inclusive agredido por suas posições. Existe forte divergência 
sobre quais as fontes de sua educação e quais os póliss que os introduziram na busca 
pelo conhecimento. Sócrates era um homem que buscava a crítica principalmente 
de sua própria cidade, indagando e questionando principalmente as ações do dia 
a dia. 
O cotidiano era presente nas reflexões filosóficas de Sócrates, indiferente às 
complexidades que porventura viessem a tomar. 
Preocupava-se principalmente com o homem e sua relação com as 
virtudes, estabelecidas pelas ligações entre a alma e o corpo humano, de 
tal maneira que os valores buscados e defendidos como universais pelo 
pensador, levaram sua filosofia para uma questão central sobre a moral e 
a existências desses valores absolutos. 
Ele também preocupava-se muito com os fundamentos do próprio conhecimento. 
Trabalhando de forma a refutar as práticas sofistas. 
Não se colocava como um “professor” que dava aos alunos o necessário para o 
sucesso, mas sim como alguém disposto a ajudar todos a encontrar esse caminho, 
o que deveria ser feito por cada um. Esta posição em relação ao autoconhecimento 
é contraponto da promoção do sucesso pela carreira, empregada pelos sofistas. 
Entre outros pontos, a busca pela verdade em oposição a conquista do sucesso são 
as fontes das divergências empregadas entre Sócrates e os sofistas. Ambos são 
movimentos importantes para pedagogia e tratavam de demonstrar e explorar os 
resultados da educação frente aos indivíduos.
Parte importante da filosofia socrática é o seu método. 
Sócrates costumava indagar as pessoas em busca de que 
as informações fossem surgindo conforme os diálogos corressem, 
daí a importância da oralidade na construção de sua obra e pensamento. 
Seu método pode ser divido portanto em duas fases, 
a primeira chamada de ironia e a segunda de maiêutica.
A ironia era uma atitude que os gregos não acreditavam ser positiva, já que se 
tratava basicamente de um disfarce do conhecimento de quem a usava, no caso 
de Sócrates, ele utilizava da ironia para retirar o outro de um estado de conforto e 
vaidade, estimulando o questionamento e a reflexão sobre as posições que antes 
eram tidas como absolutas. 
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
A partir do desconforto causado pela ironia, ele partia então – em analogia ao 
trabalho exercido por sua mãe – para o parto das ideias, a maiêutica. Esse parto 
das ideias é uma marca inerente a prática filosófica socrática, que ao propor os 
problemas não dava uma resposta absoluta, pondo o interrogado numa posição na 
qual a reflexão era uma obrigação. 
Esse processo didático apresentado pelo pólis era uma maneira dele aplicar um 
dos seus princípios sobre o conhecimento verdadeiro, o de que ele é fruto de uma 
busca introspectiva, e que é de responsabilidade de cada um daqueles que o 
buscam. 
Sócrates via então, o Bem e a Virtude como valores universais a nortear 
todo o comportamento moral, basilar o conhecimento e objetivo principal 
da maiêutica. Seriam portanto valores maiores que, fazendo parte do 
homem, fariam parte da cidade. A política socrática é marcada então 
pela construção de que o homem político é também o homem pólis. 
E de onde vinha esse conceito de valor universal de Sócrates? Vinha da extração 
do conhecimento sensível uma definição, um conceito que fosse geral e que se 
aplicasse da maneira mais ampla e irrefutável possível. Um processo próximo ao 
indutivo, assim, que caminhava de uma aplicação para um conceito geral sobre o 
objeto. 
Isso é feito quando ele indaga os interlocutores sobre um conceito e ao julgar 
insuficiente, vai promovendo novas definições e indagações, até encontrar um 
conceito satisfatório. 
Assim, a maiêutica indutiva de Sócrates buscou encontrar respostas para os 
conceitos éticos com os quais mais preocupava-se. Ao bem, por exemplo, afirma 
que ainda que as pessoas possam dar aplicações diferentes, todas possuem um 
conceito do “Bem”, que sempre as fará diferenciar o bem do mal, ainda que o 
objeto no qual apliquem esses conceitos sejam sempre diferentes. 
Dessa forma, também, ele identificava a moral e o conhecimento, esclarecendo 
sua filosofia moral, propondo que a moralidade e o conhecimento estão próximos, 
como a sabedoria está próxima da virtude. Todas identificam-se. Logo, todo tipo 
de erro é fruto da ignorância, já que Sócrates defende que não é possível escolher 
o mal conhecendo-se o bem. De tal forma que toda injustiça seja também fruto da 
ignorância dada ao que realmente é justo, e assim por diante.
A contribuição de Sócrates surge então ao posicionar o homem e seus dilemas éticos 
no centro de seu pensamento. Usando sua própria vida como forma de expressar 
seus pensamentos, agia conforme o que defendia ser correto e verdadeiro. 
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Sua busca por um conhecimento que aproximasse o homem da verdade o fez 
confrontar outros em seu tempo, causando inclusive sua morte, pela acusação de 
corrupção da juventude, ao defender uma posição diferente daquela que costumava 
ser defendida sobre os deuses na pólis ateniense. Pondo a sabedoria como origem 
de todo bem, via na ignorância a fonte de tudo o que era incorreto e mal. 
De seus ensinamentos surgiram algumas escolas, entre elas a dos cínicos, cirenaico 
e a megárica. A dos cínicos, fundada por Antístenes, funcionava no ginásio de 
Cinosarge, e concentrava-se nos debates éticos apresentados por Sócrates, 
colocando o prazer e orgulho como dois elementos que impedem a pólis de alcançar 
a plena sabedoria e “bastar a si mesmo” que objetiva a escola. 
Já os cirenaicos, escola fundada por Aristipo, mais aproximavam-se dos sofistas 
que dos pólis, baseada nos ensinamentos de Sócrates sobre a felicidade como 
bem supremo, defendia uma ligação entre o prazer e essa felicidade, com base no 
relativismo aprendido por seu fundador ainda enquanto sofista. 
A escola megárica, fundada por Euclides, amigo de Sócrates, buscava explicar a 
existência de tudo conforme sua ligação com o “Bem”, colocando tudo que não 
houvesse ligação com o bem como inexistente. Essa posição é muito mais próxima 
ao pensamento de uma escola pré-socrática chamada de escola eleática, que 
preocupava-se principalmente com o conhecimento e sua validade, obtida por 
meio da razão. 
Fora das pequenas escolas que surgiram frente ao pensamento de Sócrates, alguns 
pensadores permaneceram seu legado como grandes pólis, entre eles o principal 
aluno, Platão, que narrou a vida do mestre.
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Aula conceitual – filosofia
A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: 
existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, 
da metafísica ao utilitarismo. 
Platão
Platão, filho de Perictione eAríston, nasceu em Atenas por volta de 426 a.C. 
Descendente de família aristocrata, foi educado com cuidado e praticou pintura e 
arte, antes de dedicar-se a filosofia, frequentado a Academia e depois estudando 
no jardim em Colonôs. 
Aos vinte anos Platão partiu e passou a ser discípulo de Crátilos e Hermogenes, 
adeptos da filosofia de Heráclito e Parmenides. Já nessa época frequentava as 
aulas de Sócrates. O amor à sabedoria praticado por Platão tem grande influência 
de seu contato com Sócrates. 
Narra-se que Sócrates viu em seus joelhos num sonho um filhote de 
cisne, cuja plumagem cresceu num instante, e que levantou vôo para 
emitir um doce canto. No dia seguinte, Platão lhe foi apresentado 
como discípulo, e imediatamente Sócrates disse que ele era a ave de 
seu sonho. (LAERTIOS, 2008, p.86). 
Com a morte de Sócrates, partiu para Mêgara, juntou-se a Euclides, visitou também 
Cirene, Itália e o Egito. Ao voltar para Atenas fundou a Academia, em 387 a.C. Uma 
instituição educacional, baseada principalmente na matemática e geometria, 
diferenciando de outras escolas, mais antigas, que possuíam um currículo puramente 
humanistas. 
Platão foi então o responsável pelo centro, participando fortemente no ensino dos 
cursos de filosofia. 
Platão tinha muito de seu pensamento voltado para o eterno, para aquilo que 
era imutável. É possível, então, separar as obras dele conforme quatro fases, mas 
estruturado principalmente em forma de diálogos, importante na sustentação da 
maneira como defendia a construção do conhecimento – por meio da argumentação 
e do debate, que permitiam uma reflexão eficiente. 
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
De tal maneira que essa reflexão levasse os homens ao conhecimento que Platão 
julgava verdadeiro, aquele que estava fora dos sentidos e encontrava-se diretamente 
ligado a alma. 
Comungava das mesmas ideias de Sócrates quanto 
ao caminho do conhecimento e o alcance do Bem verdadeiro, 
de tal forma que o alcance do Bem, do Belo, da própria Verdade 
e Realidade só poderiam ser alcançados por meio do saber 
e da prática filosófica voltada para a verdade.
As obras platônicas podem então ser colocadas em algumas fases, primeiro com os 
diálogos socráticos, onde faz a apresentação dos diálogos protagonizados por seu 
mestre. Os diálogos polêmicos, combatendo as práticas sofistas e apresentando 
posições sobre valores éticos, como o conhecimento, a virtude, beleza e retórica. 
Nos diálogos da maturidade tratou sobre o amor, a alma e o Estado ideal, enfatizando 
aqui uma de suas obras clássicas, A República, onde traça um Estado ideal e 
diferencia os homens e suas almas conforme as virtudes que as acompanham. Já 
nos diálogos da velhice, onde faz uma revisão das posições adotadas durante a 
vida, criticando e reforçando a maioria, tratando também da cosmologia, o prazer, 
a teoria das ideias e o conhecimento. 
Parte importante da contribuição platônica para o saber foi concluir uma divisão da 
própria realidade, separando o mundo em inteligível, ou ideal, – portanto invisível – 
e sensível – a parte visível. Essa separação colocava no mundo inteligível, ou mundo 
das luzes, tudo aquilo que era verdadeiro e absoluto, enquanto tudo contido no 
mundo sensível era como uma sombra daquilo que existia no mundo ideal. 
O mundo ideal continha todo conhecimento uno, imutável, que só era alcançado 
por meio do pensamento e da construção do conhecimento, e não por mera opinião. 
Nessa construção voltada à metafísica, Platão busca então retornar a uma 
“causa original” que explicasse as condições humanas e norteasse a construção 
dos pensamentos éticos e epistemológicos que também faziam parte das suas 
preocupações. 
Para validar a existência do Mundo das Ideias, Platão utiliza principalmente do 
argumento da reminiscência, onde todo conhecimento é oriundo de um contato 
inicial com o conhecimento, numa vida antepassada e que é reencontrado, por meio 
do pensamento, na vida atual. E do argumento da contingência, que determina que 
existe uma Ideia – única e estática – da qual todas as suas cópias derivam, e que 
todas as coisas possuem seu atributo não pelas próprias características, mas por 
fazerem parte dessa Ideia que não se altera. 
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
De tal forma que o pensamento de Platão parece evoluir conforme suas obras são 
desenvolvidas, apresentando inicialmente ideias puramente éticas – bondade, 
justiça, piedade, beleza – para as ideias metafísicas – movimento, unidade, ser, não-
ser – até alcançar a perspectiva de que as ideias são matemáticas, colocando-as 
no patamar de números em seus últimos diálogos (caso de Filebo e Timeu). 
Essa posição quanto as próprias ideias não devem ser encaradas como se uma 
invalidasse a posição assumida anteriormente, mas como se fossem o alcance, 
a evolução, uma da outra. Isso é expresso ainda quando verifica-se que mesmo 
que as classificações das ideias mudem, suas propriedades permanecem as 
mesmas – intocáveis, não sensíveis, imateriais, divinas, eternas e transcendentes – 
independente de qual seja ideia em questão. 
A questão epistemológica em Platão apresenta-se na relação entre a opinião (dóxa) 
e o verdadeiro conhecimento (episteme), onde a razão e a sensação postam seus 
resultados. 
A doxa é fruto do conhecimento oriundo dos sentidos, do mundo sensível, enquanto 
a episteme é o fruto dado pelo conhecimento intelectual, oriundo do mundo 
inteligível, e que alcança valor maior. O que leva Platão ao retorno de seu argumento 
sobre a reminiscência. 
Já que os conhecimentos encontram-se em dimensões diferentes, não interagem 
um com o outro, portanto, o que ocorre por meio da doxa é uma lembrança da 
episteme, que é retomada de maneira a encontrar novamente aquele saber que 
só existe no mundo das ideias. Esses mesmos conhecimentos possuem graus 
diferentes. 
A doxa pode ser apresentada como eikasia, a imagem dos objetos reais, e a pístis, 
a coisa real que costuma gerar essas imagens. E a episteme aparece como diánoia 
e nóesis, a primeira, trata dos conceitos matemáticos alcançados racionalmente, 
enquanto a segunda trata daquilo derivado da Ideia, no caso os conceitos éticos e 
metafísicos. Apresentou então, todas essas ideias no Mito da Caverna, apresentando 
o caminho pelo qual o homem chega ao conhecimento. 
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MITO DA CAVERNA
SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à 
ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina 
os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá 
entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens 
o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só 
vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem 
voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz 
os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, 
ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os 
pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas 
dos bonecos maravilhosos que lhes exibem. 
GLAUCO – Imagino tudo isso.
SÓCRATES – Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com 
figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de homens e animais 
de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam 
tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio.
GLAUCO – Similar quadro e não menos singulares cativos!
SÓCRATES – Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim 
colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais 
que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica 
fronteira?
GLAUCO – Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça 
durante toda a vida.
SÓCRATES – E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra 
coisa que não as sombras?
GLAUCO– Não.
SÓCRATES – Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece 
que, ao falar das sombras que veem, lhes dariam os nomes que elas 
representam?
GLAUCO – Sem dúvida.
SÓCRATES – E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras 
dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem articulados 
pelas sombras dos objetos?
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
GLAUCO – Claro que sim.
SÓCRATES – Em suma, não queriam que houvesse nada de real e 
verdadeiro fora das figuras que desfilaram.
GLAUCO – Necessariamente.
SÓCRATES – Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um 
tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes 
cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, 
a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem 
grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-
lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora 
que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto 
fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para 
objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-
lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse 
a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se 
persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os 
objetos ora contemplados?
GLAUCO – Sem dúvida nenhuma.
SÓCRATES – Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos 
para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria 
realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?
GLAUCO – Certamente.
SÓCRATES – Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho 
áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena 
luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? 
Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, 
ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por 
serem reais?
GLAUCO – A princípio nada veria.
SÓCRATES – Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da 
região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, 
as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente 
erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente 
os astros da noite que o pleno resplendor do dia.
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
GLAUCO – Não há dúvida.
SÓCRATES – Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o 
próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto 
em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.
GLAUCO – Fora de dúvida.
SÓCRATES – Refletindo depois sobre a natureza deste astro, 
compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo 
governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e 
seus companheiros viam na caverna.
GLAUCO – É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões.
SÓCRATES – Recordando-se então de sua primeira morada, de seus 
companheiros de escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, 
não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo 
tempo a sorte dos que lá ficaram?
GLAUCO – Evidentemente.
SÓCRATES – Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para 
quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, 
que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou 
marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer 
a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que 
no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil 
vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e 
sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que 
antes vivia?
GLAUCO – Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de 
sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga.
SÓCRATES – Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem 
volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta 
passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos 
como submersos em trevas?
GLAUCO – Certamente.
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SÓCRATES – Se, enquanto tivesse a vista confusa – porque bastante 
tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à 
obscuridade – tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este 
respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em 
cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido 
à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, 
se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, 
mereceria ser agarrado e morto?
GLAUCO – Por certo que o fariam.
SÓCRATES – Pois agora, meu caro.
GLAUCO – É só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a 
tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. 
O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior 
e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já 
que o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só 
Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-
te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a ideia do bem, a qual 
só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à 
razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz 
e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo 
invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para 
agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos. 
Platão baseou a ética de seus ensinamentos conforme sua posição metafísica, o 
que indica que para alcançar a plenitude os indivíduos deveriam desprezar tudo 
aquilo que é meramente sensível, dedicando suas práticas e objetivos ao perfeito 
e imaterial. 
Devendo o homem buscar sempre as virtudes, que acabam por moldar-se conforme 
as almas as quais pertenciam. As virtudes são, portanto, a sabedoria (sophia), a 
temperança (sophrosyne) e a coragem (andréia), aplicadas consecutivamente 
as almas racionais, concupiscíveis e as irascíveis. A relação estabelecida entre as 
almas é a justiça. 
Da separação das almas, parte então a classificar os homens, conforme suas almas, 
em homens de bronze, prata e ouro. Os homens de ouro eram os racionais, que 
também estão postos na filosofia platônica como os governantes ideais, já que 
ministram a organização da cidade conforme a vontade e por meio da sabedoria, 
a levando ao encontro da virtude maior, o próprio conhecimento. 
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Os de prata são os guerreiros e os de bronze os trabalhadores manuais. A própria 
temperança é então a virtude que garante a submissão dos governados aos 
governantes e a coragem a virtude que impulsiona os homens a proteger sua 
cidade. O governo ideal apresentado é então o do Filósofo-rei, que por ter a virtude 
mais próxima da sabedoria é o mais indicado entre os homens para que os governe 
e impeça a corrupção de suas virtudes, permitindo o pleno desenvolvimento da 
cidade e alcançando sempre a prosperidade.
Platão tinha muito de seu pensamento voltado para o eterno, para aquilo que 
era imutável. É possível, então, separar as obras dele conforme quatro fases, mas 
estruturado principalmente em forma de diálogos, a citar:
1. O Eterno (Gérmen da metafísica) 
 a. Eternamente Bom, belo e verdadeiro.
2. Mundo das Ideias (Metafísica) 
 a. Realidades: Inteligíveis e sensíveis. 
 I. Inteligíveis (invisíveis) 
 II. Sensíveis
 b. Verdadeiro Conhecimento 
 I. Razão. (Mito das cavernas)
 c. Teoria da Reminiscência1
3. Ética e Política (A República2) 
 a. Estado composto por 
 I. Regentes Pólis 
 II. Guerreiros Guardiões 
 III. Classe de Trabalhadores. 
 b. Cidade Justa (Siracusa)
4. O Homem (Concepções)a. Alma Imortal 
 I. Irascível: Coragem 
 II. Racional: Sabedoria 
 III. Concupiscente: libido
5. Considerações 
 a. Síntese da teoria das ideias 
 Síntese do “homem platônico”
 
1 Há dúvidas se a autoria de Platão pode ser atribuída a esta produção.
2 Idem.
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HUMANIDADES E MEIO AMBIENTE
Aula conceitual – Filosofia
A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: 
existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, 
da metafísica ao utilitarismo. 
Aristóteles
Aristóteles nasceu em Stágeira, em 384 a.C, filho de Faistis e Nicômacos, seu pai era 
médico e amigo do rei da Macedônia, Filipe. Foi discípulo de Platão na Academia, e 
depois que partiu, foi ser professor de Alexandre, filho de Filipe, rei da Macedônia, 
na sua fase de preceptor de soberanos, retornando a Atenas e nos jardins do Liceu 
fundou a escola peripatética, dedicada ao estudo das ciências naturais.
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Aristóteles escreveu sobre todos os temas que o interessavam, deixando um extenso 
conjunto de obras que vão desde a classificação botânica até a lógica e a filosofia. 
Muitos de seus conhecimentos perduraram inquestionáveis até pouco tempo, e 
a maioria serviu como fundamento para que os conhecimentos sobre os objetos 
tratados conseguissem um desenvolvimento maior. 
Aplicou a forma de tratado a maioria de seus escritos, dotando os mesmos de 
extremo método e rigor, aplicando uma concepção filosófica ímpar e extremamente 
reconhecida.
Estudou sistematicamente as ideias, o que gerou, graças a estudiosos 
bizantinos, a obra Organon, que signifa “instrumento”, onde os estudos 
sobre lógica de Aristóteles estavam reunidos, demonstrando 
a ferramenta principal do alcance ao conhecimento e do pensamento. 
Organizando uma estrutura que classificasse e encerrasse as ideias em determinadas 
propriedades, diferenciadas inicialmente em categorias, depois em compreensão, 
extensão e os predicáveis.
Elaborou também uma técnica para extrair novos conceitos de conceitos já existentes: 
o silogismo. O silogismo consiste em três proposições seguidas de tal forma que 
as duas primeiras resultam obrigatoriamente na terceira, o que significa partir do 
universal para o caso específico. Falou também sobre uma técnica que retirasse 
dos casos específicos conceitos universais, o caso da indução, e mesmo que de 
forma embrionária, seu posicionamento foi importante para o desenvolvimento do 
assunto.
Os escritos aristotélicos propriamente ditos foram passados como herança por 
um determinado número de pessoas, até que, depois de séculos escondida, foi 
descoberta e transferida para Atenas, de onde foi levada para Roma, em 86 a.C., 
depois que Silas conquistou a cidade. 
Ao chegar em Roma foi encomendada sua edição completa a Andrônico de Rodes, 
que separou as obras em lógicas, físicas¸ metafísicas, morais e poéticas. 
Apegando-se um pouco as características do que Aristóteles define como metafísica, 
podemos perceber que ele propõe que existem causas elementares às quais a 
metafísica se apega: a material, formal, eficiente e final. 
Por sua vez, determina que a metafísica é o próprio conhecimento extremado, 
posto fora do puro empirismo científico – que faz com que se conheça os objetos 
–, e colocado em um ponto onde compreenda as razões primordiais das coisas – 
compreendo o porquê.
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Assim, Aristóteles constrói um pensamento sobre a metafísica que é distinto em 
sua própria obra. Existem duas definições para o mesmo elemento. Uma no livro 
primeiro (A) e outra no livro sexto (E). A primeira já foi apresentada acima. A segunda 
diz respeito a metafísica “teológica” a qual Aristóteles apresenta. 
Propõe que a metafísica é o estudo do imóvel imaterial, contraposta a física – que 
estuda o móvel e material – e a matemática – que estuda o imóvel, mas material. 
De tal forma que esse objeto, imóvel e imaterial, diz respeito ao divino, já que tudo 
emana da figura una denominada de “Deus”, de tal maneira que torna-se divina 
por vir dele, em parte ou no todo, o que faz a metafísica em algum modo pertencer 
também a essa figura. 
Ou seja, ao mesmo tempo que estuda a própria imaterialidade, estuda também 
aquilo que é divino. 
Aristóteles discorda da Teoria das Ideias de Platão, acreditando que as ideias 
defendidas pelo mestre não passam de representações do mundo sensível, e não 
o contrário, questionando principalmente como podem as Ideias ser origem das 
coisas se as mesmas existem fora das coisas às quais dão origem. 
Propõe que essa prática de afastar o objeto de sua essência é uma atitude 
logicamente inviável que leva a explicação a um caminho que choca-se com o 
infinito, já que sempre será necessário encontrar a essência da essência, e assim por 
diante, transformando o que antes era essência em substância e nunca alcançando 
uma relação válida.
Como não concorda com a divisão da realidade em dois mundos 
(inteligível e sensível), Aristóteles acredita que a mesma constitui-se 
apenas da parte sensível, mas que essa substância é permeada de 
acidentes – uma relação causal não original – que faz a substância 
apresentar-se de quatro modos: lógico, epistemológico, histórico e 
ontológico. De tal forma que a substância é anterior aos seres, 
que após sofrerem esses acidentes, essa causa-efeito, tornam-se 
outra coisa, e essa é a qual busca-se conhecer sobre sua substância. 
Essa ideia de que a matéria que forma as coisas deve preexistir a elas é consoante 
com a teoria teológica aristotélica. De tal forma que ele propõe que as coisas 
devem ser conhecidas seguindo os critérios do conceito (lógica), conhecimento 
(epistemologia), tempo (historicidade) e do próprio ser (ontologia). Apreendido 
o conhecimento dessas propriedades, Aristóteles separa as substâncias em três 
tipos: substâncias materiais corruptíveis, substâncias materiais incorruptíveis e 
substâncias imateriais. 
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O conceito de matéria dado por Aristóteles é encontrado quando analisamos a 
própria transformação das substâncias proposta por ele. A substancia material é, 
portanto, fruto dessa matéria e da forma. 
O que apresenta-se é que sempre nas alterações de substâncias, algo altera sua 
forma de uma para outra, mas permanece sendo a mesma coisa. Ocorre uma 
mudança quantitativa de algo, qualitativa de algo, na grandeza de algo. Esse algo 
é a matéria, enquanto a mudança diz respeito a forma. Aristóteles propõe então 
que a forma é o primeiro ato de um corpo. 
Quanto à ética, Aristóteles partilha das ideias de Sócrates e Platão 
quanto a necessidade de riquezas, determinando que elas são 
desnecessárias para a felicidade, indicando que o homem deve viver 
sempre com o mínimo necessário para garantir sua sobrevivência. 
Propõe ainda que a felicidade seja a plena realização das potencialidades do 
homem, uma mistura dosada e ponderada de prazer e razão, próximo a Platão e 
um pouco distante de Sócrates, nesse sentido.
Propõe que a realização das potencialidades é alcançada por meio da virtude, e as 
divide conforme as virtudes morais e as virtudes do intelecto. As primeiras dizem 
respeito as formas de alcance do conhecimento e as formas de conhecimento as 
quais podem o homem feliz dedicar-se. Já as virtudes morais fazem parte daquilo 
que ele expõe como “escolha do justo”, propondo que essas são alcançadas por 
meio do equilíbrio nas escolhas. 
Em Aristóteles o Estado é natural, e todo homem deve fazer parte dele. Aquele 
que não está inserido no Estado é aquele que é suficiente a si mesmo, alcançando 
a alcunha de louco ou de deus. Os homens reúnem-se no estado para garantir 
a satisfação de suas necessidades intelectuais e físicas, para que possam então 
desenvolver suas virtudes, propondo que é da própria natureza humana a política. 
Que o próprio homem é naturalmenteum animal político.
Aristóteles, mente fértil da filosofia grega, e que tem os pensamentos repercutidos 
ainda com respeito e crença até os dias atuais, fez contribuições inegáveis para 
o conhecimento da humanidade. Entre elas o desenvolvimento do método de 
pesquisa, analisando pontos importantes do conhecimento e propondo conceitos 
concisos e preciosos. 
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Aula conceitual – filosofia
A contribuição clássica dos gregos e do mundo moderno: 
existência, reflexão e racionalidade no mundo Ocidental, 
da metafísica ao utilitarismo. 
O mundo moderno e os utilitaristas: 
entre o prazer e a ética do individualismo
A ética utilitarista é uma das filosofias morais mais importantes do século XIX. Antes 
de explicá-la, é válido lembrar que tal filosofia faz parte da Idade Moderna (dos 
séculos XV ao XVIII) e permanece em relativa medida na Idade Contemporânea 
(século XIX até os dias atuais). 
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O utilitarismo é herdeiro direto da ética de Hume e dos filósofos empiristas e é 
classificada como uma das “éticas da consciência”. Já vimos como Hume já usou o 
termo “utilidade”. 
Os utilitaristas, como seu próprio nome indica, falam da “utilidade” 
daquilo que dá “prazer”. Todos os seres humanos procuram “prazer” em 
suas atividades de um modo ou de outro. Os utilitaristas consideram que 
uma ação será tanto mais benigna moralmente quanto mais prazer gerar 
à maior quantidade possível de gente. 
Os utilitaristas consideram que uma ação será tanto mais benigna moralmente 
quanto mais prazer gerar à maior quantidade possível de gente. Assim, é preciso 
considerarmos o contexto histórico que contextualiza o utilitarismo e a pertinência 
social do mesmo.
A Europa está mudando do Antigo Regime de poderes absolutos e sociedades 
hierarquizadas a regimes mais ou menos democráticos nos que se defende o 
liberalismo político e econômico. 
O utilitarismo é uma corrente ética muito unida a este liberalismo. As sociedades 
querem mais liberdade, desejam romper as barreiras sociais do Antigo Regime, 
contemplam maior mobilidade social e bem-estar para toda a população. 
Este liberalismo criará novas barreiras sociais unidas a uma economia ultracapitalista 
e precisará da reação de movimentos reivindicativos dos trabalhadores, como é o 
caso do socialismo. 
Em todo caso, o utilitarismo em sua raiz está inspirado por um ideal de 
bem-estar social: através de condições de vida dignas para todos os 
cidadãos e do fomento das liberdades. 
O utilitarismo contou com dois grandes pensadores que são considerados seus 
representantes: Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Jeremy Bentham (1748-1832) 
foi um afamado filósofo, jurista e político inglês. Em suas ideias sobre a utilidade do 
prazer destacou a importância da imparcialidade para considerar todo ser humano 
como aquele que está em constante busca pelo prazer. 
Isto é algo que rompia com o tradicionalismo classista das sociedades antigas. 
Significava que uma sociedade não tem de valorizar como superior o prazer de 
uma pessoa por ser aristocrata, ou por ser mais abastado do que outra pessoa não 
aristocrata ou com pouco dinheiro. Entre suas obras destacamos “Introdução aos 
princípios da moral e da legislação”.
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O bom moralmente seria procurar aquilo que desse maior prazer à maior 
quantidade de gente sem importar sua extração social. Para isso Bentham criou 
uma série de regras de cálculo de prazeres. Estas regras são à primeira vista fáceis 
de compreensão pois se aproximam das noções da mentalidade democrática atual. 
No entanto, surgiram questionamentos que colocaram em dúvida este cálculo: 
primeiro, como calcular o grau de prazer de cada indivíduo de modo definitivo/
exato, sendo a vivência do prazer algo tão pessoal, tão subjetivo, e como “somar” 
experiências que, ao ser tão pessoais, são dificilmente equiparáveis? 
Outro problema importante era o relacionado com a possível qualidade dos tipos 
de prazeres; ainda que Bentham não tenha se pronunciado sobre isso parecia claro 
que ainda considerava valioso da mesma forma o prazer de todas as pessoas, sem 
diferenças de classes, já que os seres humanos culturalmente dão mais valor social 
e/ou moral a uns prazeres que a outros, e, portanto talvez deveria fazer-se uma 
classificação o mais objetiva possível de qualidades morais dos diferentes tipos de 
prazeres.
Na solução deste problema das qualidades dos prazeres destacou-se o utilitarista 
John Stuart Mill (1806-1873), filósofo, político e economista inglês. Stuart Mill recolheu 
a teoria de Bentham, estudou-a e a complementou com contribuições originais. 
Uma de suas obras mais importantes se intitula precisamente “Utilitarismo”. 
Há uma frase de Stuart Mill que se tornou famosa: “Prefiro antes ser um Sócrates 
insatisfeito que um porco satisfeito”, o que, de modo muito expressivo, quer dizer 
que nem todo prazer é desejável, nem pessoal nem coletivamente. No cálculo de 
prazeres além considerar a sociedade em sua totalidade há que ter em conta a 
pertinência moral da qualidade do prazer. 
Claro que para isso, como disse Stuart Mill, os membros da sociedade têm de 
estar bem informados, bem instruídos e educados, e sem imposições, desde 
a liberdade como valor importante, têm de poder descobrir e eleger aqueles 
prazeres que são mais valiosos, que lhes realizarão mais como pessoas tanto a nível 
individual, procurando-os individualmente, como a nível coletivo, fomentando-os 
solidariamente. 
O utilitarismo é uma doutrina filosófica pautada na utilidade como mencionado 
acima. Conforme a doutrina foi evoluindo os critérios básicos dessa utilidade 
também foram se adaptando, mas sempre voltado a relação do homem com a 
felicidade. Com seu fundador, Jeremy Bentham, a ideia principal era a de que o 
homem deveria evitar a dor e buscar sempre o prazer.
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Para Bentham a vontade da maioria é superior a vontade do indivíduo, fundamentando 
assim a moral utilitarista que defendeu. A moral tinha então a função principal na 
prolongação da felicidade, e determinava que toda ação deveria levar em conta 
o cálculo entre benefícios e malefícios que iria trazer para a sociedade. Caso o 
resultado indicasse mais benefícios para a felicidade da maioria, então a ação 
estava de acordo com a moral.
Em resumo, quanto mais benefício trouxesse para todos, melhor era 
aquela ação. E a moralidade significava justamente a preocupação em 
relação a superioridade do benefício frente aquilo que pudesse prejudicar 
– definido basicamente como tudo que pudesse causar dor – na maioria 
das pessoas. A moral buscava então melhorar o mundo o quanto fosse 
possível, baseada principalmente na noção de que as coisas que 
causassem felicidade fossem sempre superiores as que causassem dor. 
Para isso ponderava as seguintes variáveis: intensidade, duração, certeza, 
proximidade, fecundidade e pureza.
Essa moral é baseada principalmente nas consequências, e não nas intenções ou 
meios, o que a faz preferir sempre aos resultados e encara os outros elementos da 
forma mais prática possível, lembrando sempre de colocar o bem coletivo frente 
ao individual. Essa construção ética calculista põe em cheque as concepções de 
direitos individuais que também começava a ganhar evidencia no período. De 
maneira que as posições de Bentham são fortemente criticadas nesse sentido. 
Ainda assim a principal função dessa redução das diferentes concepções morais a um 
denominador comum buscavam dar uma classificação científica e objetiva a ética. 
Foi forte a preocupação dos utilitaristas em reduzir determinadas subjetividades 
afim de conseguir, objetivamente, medir as perdas e ganhos de maneira precisa.
Essa preocupação extremamente calculista ganha uma mudança após a morte de 
Bentham, quando John StuartMill começa a se posicionar frente ao utilitarismo, 
alterando a centralidade do pensamento da maioria para o indivíduo. 
Passa então a defender o princípio da liberdade individual 
como norte para construção moral. Todos teriam liberdade para 
fazer o que quisessem, buscando promover a própria felicidade, 
enquanto isso não infligisse mal ao outro. 
A liberdade e os direitos individuais superam a certo modo até mesmo a estrutura 
utilitarista em John Stuart Mill, que ao fundamentar um utilitarismo que respeite 
tamanha individualidade, constrói uma concepção moral diferente da que Bentham 
defendia.
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Ainda havia entre ambos a ligação com a tese hedonista – é da natureza do homem 
procurar o prazer e evitar a dor – o que os diferenciavam eram os sujeitos nos quais 
situavam suas teses utilitaristas. Enquanto Bentham enxergava um utilitarismo 
baseado no indivíduo mecânico e calculista, que deveria sacrificar os desejos que 
fossem divergentes da vontade majoritária, Stuart Mill construía um utilitarismo 
baseado num indivíduo com maiores subjetividades, cujo limite da liberdade era a 
liberdade do outro. 
Esse utilitarismo apresentado por Bentham e Mill é basicamente um utilitarismo de 
ações. Ou seja, cada ação deve ser confrontada quanto a sua natureza utilitarista. 
O que vem a ser um modelo, parte do utilitarismo moderno, que com o passar 
do tempo construiu o que se denomina utilitarismo de regras. No último, cada 
regra deve ser confrontada quanto a sua utilidade para o todo, verificando qual 
o resultado de todos seguirem aquela regra e com base nessa resposta verificar 
se a mesma é útil ou não de ser obedecida. De tal maneira que para distinguir os 
“utilitarismos” basta verificar qual o objeto, mas deixando evidente que o que faz 
parte do centro do pensamento é sua inspiração basilar no hedonismo. 
É possível então apresentar alguns elementos principais do pensamento utilitarista. 
Os prazeres e sofrimentos possuem um resultado universal e imparcial, independente 
de quem os sofra. A consequência é sempre o resultado mais importante na ética 
utilitarista. O geral sempre é o que deve ser levado em consideração em qualquer 
ponderação, já que o mais importante é que o resultado em prazeres compense 
os prejuízos. E a satisfação deve ser sempre presente em qualquer que seja o 
ato, da maneira mais prolongada e otimizada que for possível. Resumindo em 
imparcialidade, consequencialismo, universalidade, otimização e o princípio da 
felicidade. 
Os princípios utilitaristas são influentes em outras áreas do conhecimento, 
principalmente em relação à política e economia, ainda que suas aplicações não 
sejam tão radicais quanto as instituídas teoricamente é possível perceber que 
diversas ações, principalmente estatais, são posicionadas conforme os seus pilares. 
No século atual o utilitarismo está muito presente, através de correntes éticas e 
filosóficas estreitamente relacionadas, como são o neoutilitarismo, ou o pragmatismo 
(cujo origem filosófica está no século XIX, particularmente nos Estados Unidos).
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Estudo de caso: 
projeto de lei nº 8099/2014 – criacionismo e 
o respeito ao estado laico brasileiro: só uma 
teoria? 
Introdução
O criacionismo foi colocado em pauta nacional, porém, desta vez, de maneira 
sistemática e fadada ao inconstitucionalismo. Aos dias 13 de Novembro de 2014, foi 
apresentado à Casa Legislativa pelo Pastor Deputado Marco Feliciano (PSC/SP) o 
Projeto de Lei que se instaura obrigatório, em escolas públicas e privadas, o ensino 
do criacionismo. 
Criacionismo, é aqui entendido, como o nome dado à teoria que justifica a origem 
do universo e da vida através de Deus. Essa teoria está no livro de gênesis, no qual 
compõe a mitologia cristã, e também no Alcorão, nos quais alegam que a criação 
de todas as coisas se deu em 6 dias. Bastante criticada no âmbito acadêmico e 
cientifico, os criacionistas, então, se transvestiram. Uma nova nomenclatura foi 
explanada, para assim, semanticamente, ser aceito em toda a plenitude científica: 
Teoria do Design Inteligente (TDI). 
Do grego theoria, que em seu contexto histórico indicava observar, examinar, o 
conceito vem ganhando significações, entendendo-se, contemporaneamente, por 
complexo de ideias, partindo de um determinado tema, no qual está em busca da 
veracidade da realidade, transmitindo uma noção geral de verdade. Sistematização, 
comprovação científica e credibilidade, são os três aspectos gerais de Teoria. 
Teorias são estabelecidas e perduram até que outra seja apresentada e derrube os 
argumentos da outra. Logo, passa-se a questionar a linearidade da nova Teoria do 
Design Inteligente, anteriormente chamada de Criacionismo. 
Panorama e cenários
No que diz respeito ao contexto nacional, lembramos a atuação do Estado 
Democrático de Direito, onde o poder emana do povo e que todos são iguais perante 
a lei, em seu artigo 19, da Constituição Cidadã de 1988, a saber: 
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios: 
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I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-
lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes 
relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a 
colaboração de interesse público;
Este Projeto de Lei, não só abre questionamentos políticos, como jurídicos-sociais. 
Entram em questão temáticas sobre a dignidade humana amplamente defendida 
em tratados e declarações internacionais, como por exemplo a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos (DUDH), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação, e a já mencionada Constituição Federal do Brasil – 
sem maturação suficiente e calejada dos golpes políticos já sofridos. 
É sabido que, em instituições de ensino que permeiam bases religiosas, como as 
Escolas Adventistas, é aludido para os discentes o criacionismo. Todavia, nos moldes 
colocados pelo Pastor Deputado Marco Feliciano, torna-se inviável a propagação 
de tal conteúdo em espaços públicos, uma vez que tal teoria faz parte de um 
arcabouço de determinadas religiões. Cabe nesse contexto lembrar que vivemos 
em um Estado Laico, em seu texto constitucional. 
Diversas foram as reações objetivando questionar a fragilidade científica e da 
importância para o social do projeto. Associações e Instituições acadêmicas se 
manifestaram mediante cartas abertas ao Pastor-Deputado. Dentre elas estão a 
Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBIO) e a Associação Brasileira de 
Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC) que, juntas, levaram ao conhecimento 
público suas alinhadas colocações, a citar: 
4) Deste modo, um projeto de lei que determina a instituição de UMA 
determinada crença religiosa em todo o sistema público de ensino é 
flagrantemente inconstitucional, por violar frontalmente o conteúdo 
do art. 5º, inc. VI, da Constituição da República. Sua instituição não 
poderia se dar nem mesmo por emenda constitucional, já que o direito 
em questão é assegurado por cláusula pétrea e, com isso, é vedada 
até mesmo a hipótese de deliberação de proposta de emenda que 
tivesse conteúdo tendente a abolir a inviolabilidade da liberdade 
de crença/religião. Teor completo em: http://www.abrapec.ufsc.br/
wp-content/uploads/2014/11/documento-conjunto-SBEnBio-ABRAPEC-
final-12-1.pdf. 
Em 24 de novembro de 2014, no 12º ponto abordado pelas associações fica claro a 
síntese das argumentações apresentadas em documento:
“Ao contrário do que proclama o texto da PL8099/2014, seu objetivo 
não é o debate (que na verdade já existe na maioria das escolas), mas 
sim a ocupação por movimentos religiosos institucionalizados dos 
mais diversos espaços (a escola e seu currículo são apenas alguns 
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HUMANIDADES E

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