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IMUNE-MT - Gestão Democrática e Transparência Página inicial Meus cursos IMUNE_MT 2. Modelos de Gestão e Governança de OSCs e o Desa�o da Democratização Aula 1 - texto base: Desenvolvimento Institucional: Uma via Efetiva para a Gestão Democrática e Transparência das OSCs Aula 1 - texto base: Desenvolvimento Institucional: Uma via Efetiva para a Gestão Democrática e Transparência das OSCs UNIDADE 2 MODELOS DE GESTÃO E GOVERNANÇA DE OSCS E O DESAFIO DA DEMOCRATIZAÇÃO. As organizações funcionam do jeito que funcionam por causa da maneira pela qual trabalhamos, pensamos e interagimos; as mudanças exigidas não são apenas nas organizações, mas em nós também. Peter Senge PRIMEIRAS PALAVRAS Caras/os cursistas https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/course/view.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/course/view.php?id=44#section-4 https://formacao.abong.org.br/mod/page/view.php?id=2990 javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Chegamos à UNIDADE 2 com grande expectativa de que vocês se sintam fortalecidas/os nas questões apresentadas sobre a democracia, seus princípios e valores, e que este aprendizado possa estar presente em suas instituições. Nesta unidade, trouxemos a temática do Desenvolvimento Institucional por acreditar que a vivência de bons e efetivos processos da gestão democrática passa necessariamente pela implementação de processos de DI. São aspectos que devem ser trabalhados de forma integrada, orientados por uma visão sistêmica da organização e da sociedade, como um todo. Fizemos também um esforço de síntese para apresentar as principais matrizes que in�uenciam os sistemas de gestão e como os sistemas de governança e transparência das OSCs sofrem as in�uências que emanam do contexto social, político e econômico, tanto nacional quanto internacional. Ao �nal, não deixamos de emitir recomendações para que as OSCs se mobilizem e enfrentem os desa�os gigantes que estão à frente e que afetam a sua sustentabilidade e a do setor. O maior sentido da luta é o de disputar o sentido do direito, enquanto expressão da dignidade humana. Este conjunto de temas, abordados em sua dimensão teórico-prática, é permeado por grá�cos, �guras, tabelas, vídeos e Saiba Mais, com o objetivo de tornar sua leitura agradável, elucidativa e com produtividade. Contamos com sua participação ativa, agradecendo também pelas suas contribuições e sugestões, para aperfeiçoar o nosso trabalho. Bom estudo! AULA 1 1. DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL: UMA VIA EFETIVA PARA A GESTÃO DEMOCRÁTICA E TRANSPARÊNCIA DAS OSCS. Entendemos que o êxito da gestão democrática e transparência nas OSCs está intrinsicamente vinculado a um bom plano de Desenvolvimento Institucional -DI - que a organização possa desenvolver. O Desenvolvimento Institucional não é um procedimento que possa ser “aplicado” na vida organizacional, em determinado período ou etapa do planejamento institucional. Aliás, DI não se aplica, mas vive-se cotidianamente os seus processos, ora jogando luz sobre determinado aspecto de sua operacionalidade, ora buscando olhar para a sua totalidade, quer no interior da organização, quer nas articulações externas que esta estabelece com seus parceiros, com a comunidade, ou com o campo sociopolítico onde está inserida. javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); O Desenvolvimento Institucional é um processo permanente na organização e que está integrado à sustentabilidade institucional. Se alguma dimensão de DI se encontra em risco, a sustentabilidade da organização será afetada. Portanto, o próprio conceito de DI traz implícito esta visão integrativa. Logo, ao se perguntar: Qual é o objetivo do Desenvolvimento Institucional para uma organização? A resposta é clara. Ele existe, de forma permanente, para que a missão da organização seja cumprida. O desenvolvimento institucional compreende os processos que visam assegurar a realização da missão de uma instituição de forma duradoura. É bom re�etir em profundidade com a equipe de sua organização sobre o signi�cado deste conceito. Olhe para a �gura 1, mais abaixo, e observe a composição dos eixos metodológicos. É por meio deles que o Desenvolvimento Institucional é operacionalizado. A cada eixo corresponde um conjunto de ações, que são orientadas por objetivos sociopolíticos, metodológicos, gerenciais, comunicacionais e da mobilização de recursos. O mais importante deste conjunto de propósitos é reconhecer que as partes não se dividem: o que prevalece é a visão do todo, em sua integralidade. Esta é a visão sistêmica de DI, que veremos mais à frente. Nesta parte introdutória trouxemos sumariamente algumas noções básicas de DI, como aporte conceitual preliminar às próximas noções que iremos apresentar. Nem sempre o Desenvolvimento Institucional é orientado por uma visão sistêmica, tal como nós a adotamos aqui; existem outros formatos, com outras denominações, nem sempre compatíveis com a gestão democrática, mas é necessário que os apresentemos uma vez que circulam nas organizações e, portanto, é importante re�etir sobre isso também. javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Figura 1. Eixos Metodológicos de DI e suas dimensões, na perspectiva sistêmica. Fonte: Domingos Armani e Alais Ávila 1.1 CONCEITOS, NOÇÕES E SENTIDOS DO DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E DA GESTÃO DEMOCRÁTICA. A questão básica que vem à tona, sempre que trazemos para nossa re�exão a necessidade de fortalecer as organizações, é que não se pode fazer incidência política, defender direitos e promover o desenvolvimento social se as organizações não se tornarem fortes e forem geridas da forma mais democrática possível. Organizações autocráticas não possuem a força necessária para mobilizar seu público interno e externo para as causas a que se propõem defender. De igual modo é importante que as organizações sejam transparentes. Entendemos o termo “transparência” como uma categoria intrínseca à gestão democrática, pois em um estado democrático a clareza na gestão é dever da administração pública, principalmente depois da publicação da Lei de Acesso à Informação (LAI). Nesse sentido, a transparência é um importante mecanismo indutor para que os gestores públicos ajam com responsabilidade. Uma gestão pública transparente permite à sociedade, com informações, colaborar no controle das ações de seus governantes, com intuito de checar se os recursos públicos estão sendo usados como deveriam. javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Alinhados que somos a este entendimento, uma organização da sociedade civil tem o dever de tornar pública a sua informação, no que diz respeito aos serviços prestados, à correta aplicação dos recursos �nanceiros recebidos, às formas de como são tomadas as decisões, entre outros procedimentos, gerando assim maior transparência, credibilidade e legitimidade. Esse é um desa�o de caráter estratégico, ao qual todas as organizações devem estar comprometidas. Abordaremos este aspecto, com maior especi�cidade, na Unidade 3, mediante a capacidade da organização em comunicar e�cazmente o seu trabalho e de produzir bons relatórios. 1.1.1 DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL: DISTINTAS REFERÊNCIAS CONCEITUAIS E DISTINTOS SIGNIFICADOS. Em nome do desenvolvimento dasorganizações, muito se debate, programas de capacitação se realizam, recursos são investidos e grandes expectativas são anunciadas. O fato é que as OSCs têm sido constantemente desa�adas a se fortalecerem, como condição à sua sustentabilidade e é nessa perspectiva que várias tendências, com terminologias especi�cas, têm surgido no cenário das organizações, tais como: desenvolvimento organizacional, “capacity building” (desenvolvimento das capacidades de uma organização), desenvolvimento institucional, fortalecimento institucional, etc. . No entanto, mesmo reconhecida a necessidade de fortalecimento das organizações, não há uma concordância substancial sobre o conceito de desenvolvimento institucional. É importante ter em mente o quadro de referências conceituais que dá sentido aos termos abaixo apresentados. Esses termos não são sinônimos, mas apresentam razoável sobreposição e complementaridade, tais como os apresentamos a seguir: Tabela 1. Tendências e terminologias para o fortalecimento das OSCs Desenvolvimento organizacional O termo “organização” (extensivo ao organizacional) tende a indicar os aspectos organizativos e gerenciais internos (formas de organizar o trabalho, equipes, capacitação, PM&A, aprendizado, finanças, etc.). Capacity building/ Desenvolvimento de Capacidades. É um termo diferente dos demais, relativamente mais restrito, focado na intenção de fortalecimento de capacidades de uma organização. É importante notar que as capacidades são importantes para o DI de uma organização, mas não significam tudo o que ele compreende. O fortalecimento de capacidades atende aos desafios de ordem técnica, gerencial e de desempenho. Fortalecimento Institucional Ato de intensificar ou apoiar o processo de desenvolvimento institucional de uma organização. Pode abarcar todas as dimensões do DI (política, cultural, técnico-gerencial) ou pôr o foco somente em capacidades específicas. Desenvolvimento Institucional Visão integral e sistêmica da organização e de seu potencial para impactar seu campo sociopolítico. A organização é valorizada enquanto força transformadora na sociedade, sendo estruturada pelas dimensões sociopolítica, cultural e técnico-gerencial, todas necessárias para a realização duradoura de sua missão. Fonte: Domingos Armani e Alais Ávila javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Quando, portanto, buscamos ampliar o entendimento sobre DI, na perspectiva do pensamento sistêmico, veri�camos que boa parte das OSCs brasileiras não desfruta de uma visão clara e compartilhada sobre isso. Como especi�camos na Unidade 1, o pensamento sistêmico, caracterizado pela visão do todo, de forma abrangente e integrada, quando levado para o campo de DI, é pautado pela integração de suas principais dimensões. O que se veri�ca em meio à variedade de conceitos em voga é que estas expressões estão subjacentes às distintas visões de mundo. Provavelmente, a condução metodológica será também diferenciada, quando se propõe saber como o campo das OSCs deve se colocar no processo de combate à pobreza e à desigualdade, e na promoção de uma sociedade justa, democrática e sustentável? De certo, com estratégias que correspondam ao modo de como estes problemas são vistos e enfrentados. 1.1.2 DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL: ENFOQUES METODOLÓGICOS. De forma muito esquemática, podemos identi�car dois enfoques metodológicos, para abordar o desenvolvimento institucional: o enfoque gerencial e o enfoque sistêmico. Há outras variações de abordagens que transitam entre estes dois principais paradigmas. O enfoque gerencial tende a privilegiar os desa�os da gestão e das condições de e�cácia e e�ciência de organizações especí�cas, preocupando-se com a sua “pro�ssionalização”, por intermédio de planejamento estratégico, sistema de monitoramento & avaliação com base em indicadores, captação de recursos, marketing, gestão administrativo-�nanceira, capacitação técnica dos recursos humanos etc. O enfoque sistêmico integra a dimensão gerencial, mas de forma articulada à dimensão sociopolítica da organização, isto é, considera sua base social e legitimidade, sua transparência e credibilidade (accountability), sua rede de interlocução e ação conjunta com organizações da sociedade civil e com o Estado, sua autonomia e sua capacidade de oferecer serviços de qualidade e de promover processos de mudança social. Mas isto não implica que o enfoque sistêmico não integre uma dimensão gerencial, como já assinalamos anteriormente. (Ver Saiba Mais 1) Tabela 2. Formas de abordagens. Enfoque Gerencial Enfoque Sistêmico Enfatiza que o papel das OSCs é mais instrumental e operacional. Logo, busca desenvolver o fortalecimento de capacidades com foco nos desafios racionais e objetivos, como os de ordem técnica, gerencial e de desempenho. Dá relevância à inserção sociopolítica, credibilidade, fortalecimento de atores sociais e capacidade das organizações para impulsionar processos de mudança social duradouros. javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Cria a expectativa de exercerem as OSCs um papel complementar à ação do Estado, em áreas estratégicas, como saúde, educação e serviço social, etc. Os conteúdos, ferramentas, instrumentos e metodologias, utilizados no fortalecimento organizacional, guardam coerência com as exigências sociopolíticas da OSCs e de seu campo de atuação como um todo. Atribuem às OSCs responsabilidades maiores do que a sua real potencialidade, como, p. ex., a de combater a pobreza. As organizações tendem a desenvolver um papel de protagonistas de mudanças, a partir de uma posição de autonomia. Isto é visto como essencial para o fortalecimento dos movimentos sociais, para a formulação, execução e monitoramento crítico das políticas públicas e no estabelecimento de redes de ação pró-desenvolvimento social sustentável. Expressa um diagnóstico de que os maiores problemas das OSCs são de capacitação e gestão. (Daí a explosão de cursos de capacitação em gestão). O enfoque sistêmico mostra-se mais apto e propenso a considerar não só a dimensão do desenvolvimento de organizações individuais (predominante no enfoque gerencial), mas também os desafios do campo das OSCs como um todo. A ideia de que iniciativas de qualificação técnica e gerencial são suficientes para fortalecer a capacidade de ser sujeito da organização, não o habilita para a sua dimensão de sujeito político na sociedade Fonte: Domingos Armani e Alais Ávila Mediante o que foi apresentado, constatamos que existe um conjunto complexo de processos que o desenvolvimento institucional deve abarcar, no que diz respeito às dimensões interna e externa das OSCs. Internamente, despontam os aspectos mais gerenciais, como PMA, capacitação/formação da equipe, mobilização de recursos, gestão administrativo-�nanceira, gestão de recursos humanos, organização do trabalho, etc. que, de certa forma, estão articuladas como questões externas, tais como as parcerias e redes de ação conjunta, capacidade de provocar mudanças sociais, posicionamento na esfera pública/impacto na opinião pública e nas políticas públicas, relação com o Estado, etc. É nesta visão ampliada que emerge o conceito de Desenvolvimento Institucional – DI, no âmbito de uma visão sistêmica, abrangente e integrada: O desenvolvimento institucional compreende os processos e iniciativas que visam a assegurar a realização de forma sustentável da missão institucional e a fortalecer o posicionamento estratégico de uma determinada organização na sociedade. O propósito de o conceito de DI referir ao desenvolvimentode instituições e não ao de organizações não é ocasional. Isto quer indicar que o que se busca desenvolver e aprimorar não é somente a dimensão de performance das ações e da gestão das organizações (capacidades, estruturas, gestão, procedimentos, instrumentos), mas também sua dimensão sociopolítica (identidade, base social, promoção de causas, javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); cultura organizacional, protagonismo no espaço público, alianças e padrões de interação, etc.), isto é, sua capacidade de contribuir para a mudança da institucionalidade. Assim é que o entendimento sobre Fortalecimento Institucional não pode ser tomado como sinônimo de DI, mas de um de seus aspectos. O FI está assim mais relacionado à ação concreta de fortalecer uma instituição, promover seu DI (FI como uma estratégia especí�ca de DI em determinado momento). Na maior parte das vezes, FI está associado a uma abordagem técnico-gerencial de DI – o que se busca fortalecer, via de regra, são os atributos técnicos e de gestão. Tabela 3. Fonte: Domingos Armani e Alais Ávila 1.2 ATITUDES E PRINCÍPIOS QUE AMPLIAM O ESCOPO DE DI: A DEMOCRACIA PROFUNDA. Figura 2. Imagem: Arquivo ABONG javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Muitas experiências têm surgido nesses tempos complexos e con�itantes, em que os valores da democracia são colocados na balança. Um tempo de desesperança, sobretudo para aqueles que têm suas vozes sufocadas por estratégias autoritárias de poder, em várias dimensões da vida humana. É a partir daí que novas abordagens de intervenção sobre o comportamento humano surgiram recentemente, trazendo novas perspectivas para as organizações. Especi�camente, a metodologia da Democracia Profunda, antes aplicada à área da psicologia, agora já se expandiu para outros campos do conhecimento, e vem sendo implementada, de forma simultânea, em todo o mundo. Em 2017, a Virada Política, encontro anual promovido pela Ação Educativa, voltado para ativistas, pensadores e artistas, trouxe o curso sobre Democracia Profunda para distintos grupos de interesse: uma metodologia em que as tomadas de decisão coletiva levam em consideração a sabedoria das minorias. Muitos educadores populares irão reconhecer na Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, princípios semelhantes à Democracia Profunda, sobretudo quando o educador pernambucano traz para sua práxis revolucionária as histórias de grupos sociais excluídos, divergentes e que possuem um status social marginal, inferior, em relação às posições centrais, dominantes. Através da re�exão (capacidade analítica de ver e ver- se na realidade) os seres humanos objetivam a realidade (a interpretam) e, mediante esta percepção, que é um derivado das relações humanas, se dão conta de sua capacidade criadora e potencialmente transformadora. Arny Mindell desenvolve o termo Democracia Profunda em A Liderança como Arte Marcial (1992), na qual se considera que a totalidade dos sujeitos envolvidos em processos e estruturas sociais são todos importantes, isto é, as vozes centrais e as vozes das minorias. Daí a oportunidade de trazer para as nossas re�exões as concepções de Mindell, no sentido de enriquecer os processos da gestão democrática nas organizações – e nada mais oportuno também do que incluir esta metodologia no contexto do Desenvolvimento Institucional. Vimos anteriormente que os eixos e as dimensões de DI são amplos, abarcando todos os “pontos cardeais” de uma organização. Também introduzimos uma visão de mundo capaz de abarcar a totalidade de uma organização, seus aspectos internos e externos, seu enraizamento comunitário, suas articulações em um campo sociopolítico sem limites e suas relações amplamente conectadas em rede, de dimensão incomensurável. A perspectiva sistêmica nas nossas conduções metodológicas é bastante clara para nós, e também os princípios e valores democráticos, como fundamentos de nossos posicionamentos e de nossa cidadania ativa, são considerados estruturantes para o trabalho com as organizações. En�m, são estes vetores que dão sustentação ao que queremos a�rmar como gestão democrática nas organizações da sociedade civil. Mas não podemos deixar de incluir nas nossas re�exões essa tendência �losó�ca e comportamental, que é a democracia profunda. O seu criador, o físico e analista junguiano, Arny Mindell, a de�ne como uma atitude e um princípio. (Ver Saiba Mais 2). javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Figura 3. Bases da democracia profunda. Fonte: Domingos Armani e Alais Ávila Este quadro de referências é a marca do sentido profundo do diálogo, muito próximo do que Paulo Freire denomina por dialogicidade: o diálogo nascido na prática da liberdade, enraizado na existência, comprometido com a vida, que se historiciza no seu contexto. O diálogo que se dá numa relação de humildade, encontro e solidariedade, ou seja, numa relação horizontal, de muita con�ança. O diálogo que leva os homens e mulheres a serem mais homens e mulheres, pois é sempre gerador de esperança. (Freire: 1980). Tal como a democracia convencional, enquanto princípio, regime político e método que traz como fundamento a inclusão de todas as pessoas, a Democracia Profunda postula a existência de um nível de diálogo mais profundo e inclusivo, permitindo a existência de espaços que acolhe muitas visões contrárias, tensões, sentimentos e estilos de comunicação. Isso é uma forma de minar poderes e privilégios que tendem a marginalizar muitas visões, muitos indivíduos e grupos. Assim, ao convidar as vozes dissonantes da visão majoritária, é possível incorporar a sabedoria da minoria, ampliando o alcance das decisões e da sua efetividade. A visão integrada do todo, um princípio básico da Democracia Profunda, nos induz a incorporá-la em nossas matrizes de in�uência, em torno da gestão democrática nas organizações, considerando que “todos os atores são necessários no palco da peça a que estão assistindo”. 1.3 ONDE OS VETORES DO DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL SE ARTICULAM COM OS PRINCÍPIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA. Embora o conceito de desenvolvimento institucional não tenha sido estabelecido mediante um consenso abrangente, daí a profusão de terminologias a�ns, assim também acontece com o termo gestão democrática. Não existe uma de�nição clara de gestão democrática em relação às organizações da sociedade civil. Arriscando uma de�nição básica, que pode ser estendida a todas as organizações que se propõem a dar primazia às tomadas de decisão, de forma coletiva, com a participação de todos os envolvidos, entendemos que: javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); A gestão democrática é uma forma de gerir uma instituição, baseada na participação, na transparência e na democracia. Conforme Souza (2009), a gestão democrática (escolar) deve ser reconhecida como um processo político, que é mais amplo do que apenas as tomadas de decisão e que é sustentado no diálogo e na alteridade, na participação ativa dos sujeitos (...), na construção coletiva de regras e procedimentos e na constituição de canais de comunicação, de sorte a ampliar o domínio das informações a todas as pessoas que atuam na/sobre a escola. Isto é igualmente válido também para as OSCs. Otermo “gestão democrática” aparece na Constituição Federal (1988), que a aponta como um dos princípios da educação brasileira, a qual passou a ser regulamentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e pelo Plano Nacional de Educação. Tal como é a�rmada no âmbito da educação, a gestão democrática faz todo o sentido por existir no contexto de uma sociedade democrática, mas o entendimento maior que aqui se busca fazer é que a democratização da gestão se torne uma condição estruturante para a qualidade de toda e qualquer ação social. É esse ponto de encontro que nos permite arriscar na proposição de que o desenvolvimento institucional constitui a chave de leitura sobre o teor da democracia no âmbito de uma organização, ao assegurar que as relações estabelecidas sejam fundamentadas em valores democráticos e de cidadania e que a dimensão do coletivo seja a diretriz norteadora. Isto implica em atribuir à gestão o princípio democrático, que parte das necessidades coletivas a �m de construir a vontade comum. Tal como a escola, �nanciada por todos para atender aos interesses de todos, a OSC também reconhece esse princípio, concebendo a instituição como um espaço público, composto pela interação entre diferentes públicos/sujeitos: o/as associado/as, os conselheiros/diretores, a equipe, os colaboradores, as lideranças e grupos sociais foco do trabalho, a comunidade, etc. Neste sentido, compreende-se, portanto, a gestão como um processo político: “ “A gestão democrática é um fenômeno político, de governo que esta articuladodiretamente com ações que se sustentam em métodos democráticos. Mas, mais do que isso, (...) não se trata apenas de ações democráticas ou de processos participativos de tomada de decisões, trata-se, antes de tudo, de ações voltadas à educação política”. (Souza, 2009:126). Figura 4. Componentes da Gestão Democrática javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Fonte: Domingos Armani e Alais Ávila. De um modo geral, a grande contradição existente no campo das instituições é a reprodução de modelos autoritários, uma vez que elas expressam formas de manutenção e reprodução da cultura da qual fazem parte. Daí ser muito oportuna a epigrafe que abre esta unidade, de autoria de Peter Senge, em que a�rma que as mudanças exigidas não são apenas nas organizações, mas em nós também. 1.3.1 VETORES DE DI E DA GESTÃO DEMOCRÁTICA. Figura 5. Fonte: Domingos Armani e Alais Ávila Base social, legitimidade e relevância da missão. Aqui importa saber qual o grau de enraizamento social e político da organização, qual a amplitude de sua “base social” e de suas alianças; também relevante é analisar-se quais são os fatores e o nível de legitimidade perante sua base, seus apoios, a mídia, o poder público, as universidades, as igrejas, etc. Importante ainda é ver a relevância social e a consistência de sua missão e os valores que impregnam a vida institucional, assim como o grau de apropriação dos mesmos pelos seus integrantes. Autonomia e credibilidade. Neste tocante é fundamental ver-se qual o grau e as formas de transparência e responsabilidade pública” (accountability) da organização, isto é, seu grau de transparência e javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); suas formas de prestação de contas para os mais próximos e para a sociedade. Qual o grau de autonomia da organização e quais os fatores que podem pô-la em risco. Deve-se ver também em que medida a organização tem “poder de convocatória” e é capaz de tornar-se referência pública para questões especí�cas. Sustentabilidade. Aqui, deve-se ver a compatibilidade entre o nível da receita e as necessidades da organização, assim como os tipos de receitas e de �nanciadores e suas “condicionalidades”, o nível de recursos próprios, a relação entre �nanciamento institucional e por projeto, o grau de �nanciamento nacional, e as potenciais tensões entre missão e sustentabilidade. Organização do trabalho e gestão democrática e e�ciente. Quão adequadas e e�cientes são as formas de organização do trabalho? Como se dá o processo de tomada de decisões e quão participativo e democrático ele é? Qual é o grau de delegação de responsabilidades? Quão e�cientes são os instrumentos da gestão administrativo- �nanceira? Quadro de recursos humanos adequados. Ver a adequação da quantidade, do per�l (ético, político, de gênero etc.) e da quali�cação técnica dos recursos humanos na organização e oportunidades de capacitação; também ver os níveis salariais e condições de trabalho; e analisar formas alternativas de agregar colaboradores (voluntários, militantes, estagiários, cooperantes etc.). Sistema de Planejamento, Monitoramento e Avaliação (PMA) participativo e e�ciente. Grau de desenvolvimento e consolidação do sistema de planejamento, monitoramento e avaliação do trabalho, e grau de adequação ao tipo de trabalho e ao tipo de organização; grau de �exibilidade e inovação no uso dessas ferramentas, e estímulo ao aprendizado contínuo; utilização de indicadores, e nível de participação dos bene�ciários e de outros parceiros no processo de PMA. Capacidade de produção e sistematização de informações e conhecimentos. Capacidade de pesquisa e de produção de dados e informações relevantes socialmente, assim como a capacidade de sistematizar e de socializar experiências, e grau de contribuição à construção de argumentos fundamentados para o debate público e acadêmico sobre questões sociais e de desenvolvimento. Poder para in�uenciar processos sociais e políticas públicas. Consideração da capacidade de planejar, promover e in�uenciar processos de mobilização, organização e articulação sociais, especialmente a capacidade de incidir sobre o processo de constituição de atores e movimentos e sobre as políticas públicas. Capacidade para estabelecer parcerias e ações conjuntas. Iniciativas e consolidação de parcerias na sociedade civil, participação em redes de intercâmbio, atuação conjunta com outros atores de forma consorciada. Também a capacidade de interlocução com o poder público, com órgãos de pesquisa, com a mídia e com o setor privado. O desenvolvimento institucional como dimensão coletiva. O desenvolvimento institucional não pode ser analisado apenas em termos de organizações individuais; ele deve, ao mesmo tempo, ser considerado em relação às condições de sustentabilidade e de desenvolvimento institucional do conjunto das organizações de um determinado campo ou setor social. Os eixos de desenvolvimento institucional coletivo são: Grau de articulação setorial. Nível de articulação dentro do setor (rede), seja sobre atividades-�m, seja sobre a agenda do setor para um determinado contexto e período histórico. Mecanismos de informação e comunicação, e de ação e representação conjunta. Constituição de identidade coletiva. Existência e grau de consolidação de uma identidade coletiva no setor, a qual expresse as visões, os interesses e as agendas comuns à maior parte das organizações que o compõem. Também está ligado à relação entre as diferentes identidades dentro da rede, suas formas de expressão e tensões decorrentes. Visibilidade e credibilidade do setor. Quão visível é o setor como um todo, desde “fora”, do ponto de vista da sociedade em geral e dos setores público e privado, em particular? Nível de iniciativa de visibilização do setor; credibilidade do setor junto a outros atores sociais relevantes. Capacidade de atrair quadros quali�cados e de angariar apoio. Capacidade de in�uenciar fatores contextuais e sustentabilidade do setor. javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0); Sede Rua General Jardim, 660 – Cj. 81 | São Paulo – SP – 01223-010 abong@abong.org.br 11 3237-2122 © Abong. Todos os direitos reservados. Grau de interlocução com o poder público, o setor privado, a mídia, as igrejas e universidades e as agências da cooperação internacional quanto às condições jurídicas, políticas, de �nanciamento e operacionais de existência e funcionamento do setor enquanto tal. Última atualização: sexta, 11 Set 2020, 16:15 ATIVIDADE ANTERIOR ◄ Vídeo-aula 2 Seguir para... PRÓXIMA ATIVIDADE Exercícios de Fixação - Unidade 2 - Aula 1 ► mailto:abong@abong.org.br https://formacao.abong.org.br/mod/page/view.php?id=3508&forceview=1 https://formacao.abong.org.br/mod/quiz/view.php?id=3618&forceview=1 javascript:void(0); https://formacao.abong.org.br/user/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/grade/report/index.php?id=44 https://formacao.abong.org.br/ https://formacao.abong.org.br/my/ javascript:void(0);
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