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Livro Digital - PRÁTICAS DE GESTÃO EM SERVIÇOS SOCIAIS

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PRINCÍPIOS E CONCEITOS
BÁSICOS DA GESTÃO
SOCIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
apresentar o debate conceitual acerca da gestão social;
identi�car a construção do conceito de gestão social e suas principais
interlocuções;
conhecer os princípios, os principais desa�os e as ferramentas para ação
pro�ssional;
instrumentalizar sobre os princípios e principais conceitos da gestão social;
analisar os limites e desa�os da gestão social agregada ao Serviço Social;
empregar os métodos e análises para a ação pro�ssional.
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de
aprendizagem:
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Como mencionado na apresentação deste livro didático, neste primeiro capítulo
abordaremos aspectos introdutórios e iniciais da gestão social, estudando, a priori,
alguns princípios e conceitos básicos da gestão social para sedimentar nosso
caminho em busca do conhecimento e quali�cação pro�ssional.
Capítulo 1
 
Será fundamental compreender o campo em que estamos nos inserindo,
observando a partir da produção de diversos autores como a temática da gestão
social vem sendo tratada e discutida no meio acadêmico e pro�ssional.
Para aproveitar nosso estudo, alguns objetivos foram traçados para guiar a leitura
e compreensão geral do tema, como: conhecer o debate conceitual acerca do tema
da gestão social, com isso, veremos que não há consenso no debate sobre uma
de�nição rígida e fechada sobre o tema, mas há compreensões e entendimentos
variados e plurais. Também nos interessa que você possa identi�car a construção
do conceito “gestão social” e suas principais interlocuções, isso quer dizer que você
poderá compreender e relacionar os usos da gestão social em diferentes contextos
sociais e tempos históricos, em que o termo foi se modi�cando e se atualizando.
Isso nos levará a conhecer e nos instrumentalizar a respeito dos princípios da
gestão social.
Neste percurso, é de fundamental importância saber e reconhecer que nem tudo
são �ores, pois há desa�os e enfrentamentos que devem ser feitos para que a
gestão social se converta em instrumento de modi�cação social, minimizando as
desigualdades que assolam a nossa sociedade contemporânea. Por isso,
deveremos saber como analisar os limites e desa�os da aplicação da gestão social,
principalmente no âmbito do Serviço Social e na função pro�ssional do assistente
social, que se espera que possam empregar os métodos e análises para sua
prática social, para que seja propositiva, crítica e transformadora. 
Ao �nal deste capítulo, você terá adquirido competências e habilidades para
re�etir e argumentar sobre a gestão social e também poderá construir sua própria
compreensão do tema, não �cando restrito a uma abordagem teórico-
metodológica de um único autor. Esses temas foram escolhidos com o intuito de
ampliar sua visão sobre essa grande área que vem, cada vez mais, ganhando
visibilidade e espaço no âmbito acadêmico e pro�ssional.
2 PRINCÍPIOS E CONCEITOS BÁSICOS DA GESTÃO SOCIAL
Como já vimos até aqui, o nosso objetivo neste capítulo é conhecer e discutir sobre
alguns princípios e conceitos básicos da gestão social. Para isso é fundamental que
partamos da compreensão inicial do conceito de gestão social e quais são as suas
implicações e maiores desa�os na atualidade.
Para nós, é importante saber que o termo gestão social está ganhando visibilidade
cada vez maior nos últimos anos, tanto no âmbito regional, nacional como
internacional, entretanto, também é prudente avaliarmos que este têm sido
produto de diversas interpretações, o que leva ao entendimento de que há falta de
consenso dos estudiosos sobre uma conceitualização fechada e estrita do termo.
Capítulo 1
 
Visto isso, vamos conhecer algumas das mais reconhecidas de�nições teóricas
acerca do conceito de gestão social.
A partir do extenso levantamento bibliográ�co realizado por Pimentel e Pimentel
(2010), em sua revisão de literatura, foi possível chegar à de�nição, a partir de
diversos autores de nove categorias centrais presentes no âmbito da gestão social,
como ilustra o quadro a seguir, e destas categorias centrais a autora chegou à
apresentação de sete princípios da gestão social, os quais iremos conhecer e
analisar mais adiante.
QUADRO 1 – CATEGORIAS CENTRAIS DA GESTÃO SOCIAL
Objetivo Valor Racionalidade
Esfera de atuação Protagonistas Comunicação
Processo decisório Autonomia/poder Operacionalização
FONTE: Pimentel e Pimentel (2010, p. 1)
No âmbito da gestão social, França Filho (2008) a�rma que existe uma tendência
de se pensar que este seja um termo autoexplicativo, ou seja, é uma gestão
coligada ao social, porém, antes de pensar no seu objetivo, na direção que toma, é
fundamental pensarmos por uma lente mais profunda e menos imediatista, isso
quer dizer pensar o conceito como um processo. Para o autor, pensar a gestão
social enquanto processo, pelos meios empregados no ato da gestão
administrativa, nos convida a produzir a sua desconstrução, já que nos questiona:
Qual gestão não é social? (FRANÇA FILHO, 2003). A re�exão do autor leva a pensar
que na contemporaneidade não é possível imaginar nenhum tipo de gestão que
não envolva pessoas, que não haja interação humana.
Isso quer dizer que os meios devem inserir pessoas, mas a gestão social como
meio não deve ser reduzida somente ao envolvimento de pessoas, pois sabemos
que em maior ou menor nível toda gestão parte desse pressuposto. França Filho
(2003) considera que a gestão das demandas e necessidades que envolvem o
social sempre foi atribuição dos poderes públicos na modernidade, mas isso não
signi�cou nunca que fosse exclusividade desses poderes.
É nessa compreensão que o termo gestão social vai nos orientar, para além da
ação do Estado, a gestão de demandas e necessidades sociais pode ser efetuada
Capítulo 1
 
pela própria sociedade, por meio das suas variadas formas e instrumentos de
autogestão, organização e, em especial, com o fenômeno associativo (FRANÇA
FILHO, 2003). Assim, o mesmo autor vai considerar a gestão social, como pode ser
visto na �gura a seguir, em dois aspectos:
FIGURA 1 – DOIS NÍVEIS DE GESTÃO SOCIAL
Adaptada de França Filho (2008)
No que se refere ao nível de problemática da sociedade, ela está ligada à gestão de
demandas e necessidades do social, assim, suscita a ideia de política social, que
não deve ser equivocadamente confundida com a ideia de gestão pública, já que a
�nalidade deve ser o coletivo, se sobrepor às necessidades e demandas do campo
individual e pessoal.
Sobre a modalidade especí�ca de gestão, a gestão social se conecta à forma de
subordinar as lógicas instrumentais a outras lógicas sociais, políticas, culturais e
ecológicas, ou seja, é preciso pensar de forma integral e conectada entre os
diferentes aspectos que compõem a gestão social, como nos informa França Filho
(2008).
Ramos (1989) a�rma que o uso do termo gestão social se constitui em um recurso
na tentativa de contrabalancear os excessos da lógica individualista pautada na
racionalidade instrumental. Contudo, não se busca apagar ou substituir este
enclave econômico tradicional.
Ao que precisamos nos atentar é que, assim como a sociedade em geral, essa
forma especí�ca de gestão se fundamenta em novas e outras formas de
solidariedade, que os fundamentos remetem à discussão de bens públicos e das
externalidades decorrentes de ações individuais e organizacionais, que afetam
toda a coletividade. 
Pimentel e Pimentel (2010) nos lembram assertivamente que os princípios do
Estado de bem-estar social, que geram e administram os benefícios sociais, são
Capítulo 1
 
heranças dos movimentos sociais, ou seja, aqueles organizados pela sociedade
civil. É por isso que o termo gestão social sugere que para além do Estado, a
gestão social pode acontecer via sociedade civil organizada, por meio de diversas
formas de auto-organização, como já nos ensinou França Filho (2008).
A gestão social, para França Filho (2008), é uma gestão alternativa, um tipo ideal,
que se distingue da gestão estratégica ouprivada e também se difere da gestão
pública. Já que na gestão estratégica, a �nalidade econômico-mercantil da ação
organizacional condiciona sua racionalidade, ou seja, está baseada em um cálculo
utilitário dos limites e consequências.
Por outro lado, a gestão pública será o modo de gestão híbrido praticado pelas
instituições públicas no seio do Estado, em que o modelo de racionalidade
também é o de cálculo utilitário de limites e consequências, porém existe uma
diferença na aplicação desse modelo, já que a orientação principal desse tipo de
organização é pautada no bem-estar do coletivo que constitui o Estado.
É nessa construção que o autor supracitado defende a gestão social como modo
de gestar próprio das organizações da sociedade civil, da esfera pública não
pertencente ao Estado, que é, também, diferente do modo de gestão das
iniciativas privadas e daquele utilizado pelo Estado, já que ambos estão
fundamentados na racionalidade instrumental que dará o norte para cálculo
utilitário das consequências (FRANÇA FILHO, 2008).
Tenório (2008) é outro pensador contemporâneo importante para nossa
compreensão sobre a gestão social, cuja obra e re�exão residem na construção de
conceituação própria sobre a gestão social, fundamentada na noção de esfera
pública que também pode ser aplicada a qualquer tipo de organização e em
qualquer contexto, a partir de suas especi�cidades.
Primeiramente, é importante delimitar a diferença que o autor estabelece entre as
formas de gestão estratégica e social, na qual: a última se contrapõe à primeira na
medida em que tenta substituir a gestão conhecida como tecno-burocrática, ou
seja, aquela da combinação técnica e atribuição hierárquica e monológica por um
gerenciamento que seja mais participativo, dialógico, no qual o processo decisório
é exercido por meio de diferentes sujeitos sociais (Tenório, 2008).
Para Tenório (2008, p. 4), a gestão social é “processo gerencial decisório
deliberativo que procura atender às necessidades de uma dada sociedade, região,
território ou sistema social especí�co”. Tenório (2008) a�rma que o conceito de
gestão social está ancorado em quatro pares de palavras-categorias, que são:
Estado-sociedade; capital-trabalho; gestão estratégia e gestão social; e, por �m,
cidadania deliberativa.
Capítulo 1
 
Segundo Tenório (2008), a gestão estratégica atua determinada pelo
mercado e guiada pela competição, na qual o outro deve ser eliminado e o
lucro é o principal motivo. Por outro lado, a gestão social deve ser
determinada pela solidariedade e guiada pela concordância, na qual o outro
estará incluso e o motivo principal será a solidariedade.
O autor considera também que o conceito de gestão social tem sido objeto de
estudo e prática associado à gestão de políticas sociais, de organizações do
terceiro setor, de combate à pobreza e até ambiental, do que à própria discussão e
possibilidade de uma gestão democrática, participativa, seja a formulação de
políticas públicas ou nas relações de caráter produtivo (TENÓRIO, 2008).
A proposta central é a de que a “gestão social seja entendida como um processo
gerencial dialógico onde a autoridade decisória é compartilhada entre os
participantes da ação” (TENÓRIO, 2008, p. 39). Por isso, a gestão social será
entendida como um espaço privilegiado de relações sociais onde todos possuem o
direito à fala, sem nenhuma coerção. Desse modo, a noção de espaço privilegiado
de fala dá ênfase à neutralidade ou mesmo ausência de coerção entre os atores
envolvidos e nas condições de manifestação dos discursos. Por �m, concluindo o
pensamento de Tenório (2006 apud PIMENTEL; PIMENTEL, 2010, p. 6):
O conceito de gestão social não está atrelado às especi�cidades de políticas públicas
direcionadas à questão de carência social ou gestão de organizações do terceiro
setor, mas também, a identi�cá-lo como uma possibilidade de gestão democrática,
onde o imperativo categórico não é apenas o eleitor ou contribuinte, mas sim o
cidadão deliberativo. Não é só a economia de mercado, mas também a economia
social; não é o cálculo utilitário, mas o consenso solidário; não é o assalariado como
mercadoria, mas o trabalhador como sujeito.
Até aqui, já pudemos ver as contribuições teóricas no campo da gestão social para
França Filho (2008) e Tenório (2007), que convergem na ideia de que a gestão
social está altamente conectada à ação e agência da sociedade civil e dos
movimentos sociais organizados. Também é perceptível a delimitação das
diferenças estabelecidas entre a gestão estratégica e a gestão social, que podem
ser equiparadas a modos de gestão mecânicos e orgânicos, no qual ambos se
fundamentam e convergem em princípios e objetivos distintos.
Veremos, a partir de agora, a compreensão de gestão social para outros autores.
Em princípio, veremos as construções teóricas de Gondim, Fischer e Melo (2006),
que a�rmam categoricamente que a gestão social exige a articulação de liderança
e management, e�cácia, e�ciência e efetividade social, sendo estas as principais
Capítulo 1
 
categorias utilizadas pelos autores. Desse modo, de�ne-se como mediações sociais
realizadas por indivíduos (gestores) e suas organizações. 
A gestão social, para as autoras supracitadas, vai se orientar por mudanças, seja
de microunidades organizacionais, seja de organizações com alto grau de
hibridização. Assim, em ambos os espaços, diversas formas de poder serão
exercidas em diferentes níveis, em construções complexas de programas e ações
de desenvolvimento que ocorrem em espaços, sejam virtuais ou territoriais
(GONDIM; FISCHER; MELO, 2006 apud PIMENTEL; PIMENTEL, 2010, p. 6).
Gondim, Fischer e Melo (2006) também colocarão em análise de comparação a
gestão social e a gestão tradicional, que se apresentam como distintas entre a
racionalidade instrumental e racionalidade substantiva. A primeira é de�nida como
a que privilegia os meios que objetivam à acumulação, enquanto a segunda supõe
a satisfação pessoal pautada em valores morais de bem comum, que gera
impactos na autorrealização e na satisfação coletiva, como sinaliza a �gura a
seguir.
FIGURA 2 – GESTÃO TRADICIONAL E GESTÃO SOCIAL EM DEBATE
Gondim, Fischer e Melo (2006, p. 7)
Outra noção interessante apresentada pelas autoras é a de que o agir
intersubjetivo deve superar o agir estratégico, na medida em que o agir
intersubjetivo estabelece o diálogo e visa ao consenso, em dar voz a todos os
atores sociais envolvidos, para garantir a cidadania deliberativa, enquanto que o
agir estratégico tem como objetivo atender aos interesses privados estabelecidos.
Capítulo 1
 
De acordo com as autoras supracitadas, a ação comunicativa está na base da
gestão social, e se efetivaria na articulação de valores, na elaboração de normas e
no questionamento por todos os autores que interagem socialmente (GONDIM;
FISCHER; MELO, 2006).
Sintetizando o pensamento de Gondim, Fischer e Melo (2006 apud PIMENTEL;
PIMENTEL, 2010, p. 7), a respeito da gestão social:
Um ato relacional capaz de dirigir e regular processos por meio da mobilização
ampla de atores na tomada de decisão, que resulte em parcerias intra e
interorganizacionais, valorizando as estruturas descentralizadas e participativas,
tendo como norte o equilíbrio entre a racionalidade instrumental e a racionalidade
substantiva para alcançar en�m um bem coletivamente planejado, viável e
sustentável a médio e a longo prazo.
A gestão social, portanto, é re�exo das práticas e do conhecimento construído por
muitas disciplinas, delineando-se como uma proposta de natureza interdisciplinar.
Assim, como as ações mobilizadoras partem de origens múltiplas e em diversas
direções, as dimensões teórica e prática estarão emaranhadas e juntas. As autoras
concluem com: “aprende-se com as práticas, e o conhecimento se organiza para
iluminar as práticas” (GONDIM; FISCHER; MELO, 2006, p. 7).
Em outra perspectiva, Carvalho (2001) de�ne a gestão social como a gestão de
demandas e necessidades dos cidadãos. A autora a�rma também que a política
social não é simplesmenteum canal dessas necessidades, mas age como
respostas a elas, já que as políticas públicas são produzidas pelo Estado, apesar de
nascerem pela sociedade civil organizada.
Os movimentos sociais são, para Carvalho (2001), os atores que emergiram em
contrapartida ao enfraquecimento do protagonismo da classe trabalhadora frente
às transformações produtivas recentes, as que deslocam a sociedade civil a um
papel central na de�nição da agenda política do Estado, o que promove o
alargamento e revitalização da esfera pública.
A partir do entendimento das resistências e ambiguidades, Carvalho (2001) a�rma
que as organizações do terceiro setor possuem características que serão
valorizadas pela gestão social. Por ser o terceiro setor elemento fundamental na
discussão e entendimento sobre a gestão social, o teremos como objeto de estudo
e aprofundamento no segundo capítulo do nosso livro didático. A Figura 3 ilustra
alguns benefícios da gestão social, apontados pela autora, no terceiro setor.
FIGURA 3 – BENEFÍCIOS DA GESTÃO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR
Capítulo 1
 
Direito social: repúdio ao clientelismo e a valorização de uma pedagogia
emancipatória;
Novo equilíbrio entre o focal e universal: busca respostas às demandas das
minorias e às questões universais, como a luta contra a pobreza;
Transparência nas decisões: nas ações públicas, na negociação e
participação, a base ética advém da transparência;
Avaliação: controle menos burocrático e mais e�ciente, e�caz e efetivo.
Adaptada de Carvalho (2001)
Nessa linha de pensamento, portanto, a gestão social está vinculada e amarada a
parcerias entre Estado, sociedade civil e iniciativas privadas, além de um valor
social amplamente fundamentado na solidariedade, com premissas e estratégias
subjacentes a ela, que seriam, segundo Carvalho (2001 apud PIMENTEL; PIMENTEL,
2010, p. 8):
De maneira geral, para Carvalho (2001), a gestão social deve ser estratégica em sua
forma de operacionalizar suas ações, assim como informa Dowbor (1999a), ao
considerar que as parcerias, redes e a descentralização são formas de
operacionalizar a gestão social. O que nos instiga e nos leva a pensar novas formas
de organização social, de relações entre o político, o social e o econômico, e, por
�m, a desenvolver pesquisas interdisciplinares que ouça e dê voz a atores, sejam
sociais, estatais como empresariais e comunitários (PIMENTEL; PIMENTEL, 2010, p.
8).
A �m de sintetizar nossas ideias e todas as de�nições vistas, projetamos em um
quadro para maior compreensão das principais categorias de análise que se
enquadram na gestão estratégica e na gestão social, com o objetivo de
compreender como as operam, a partir do que foi exposto dos autores até aqui.
Capítulo 1
 
QUADRO 2 – COMPARAÇÃO DE GESTÃO ESTRATÉGICA E GESTÃO SOCIAL
Categorias de
análise
Gestão estratégica Gestão Social
Objetivo Lucro
Interesse coletivo de caráter
público
Valor Competição
Cooperação intra e
interoganizacional
Racionalidade Instrumental Comunicativa
Protagonistas Mercado Sociedade Civil Organizada
Comunicação
Monológica, vertical,
restritiva
Dialógica, horizontal, irrestrita
Processo
decisório
Centralizado Descentralizado/participativo
Operacionalização Estratégica/�nanceira Social/qualitativa
Esfera Privada Pública social
Autonomia e
poder
Diferentes graus de
coerção e submissão
Não há coerção, iguais
oportunidades de participação
FONTE: Adaptado de Pimentel e Pimentel (2010, p. 8)
Capítulo 1
 
Responder
Com tudo que se viu até aqui, nos cabe concluir que a gestão social não é um
conceito de�nido e fechado, mas sim um conceito em construção, além de ser
uma área de atuação composta por diversos setores, como saúde, habitação,
educação e segurança, também abarca inúmeras outras atividades, seja na forma
de gerir indústrias, de pensar o desenvolvimento urbano e rural, como se
relacionar com a natureza, como promover o comércio em nossas cidades, dentre
outras.
1) Como você de�niria gestão social?
Por isso, depois dessa revisão de literatura sobre o tema, vamos nos deter a
conhecer e construir uma linha de interpretação com os princípios que norteiam e
constroem a gestão social, a partir das categorias identi�cadas por Pimentel e
Pimentel e expostas no início do texto e elencadas no Quadro 1, bem como pensar
e analisar alguns aspectos que são considerados essenciais nesta área temática. A
nossa intenção aqui é conhecer os princípios que a gestão social possui e assim
construir as nossas próprias interpretações a respeito do tema.
Referente ao objetivo, que é uma das primeiras e principais características da
gestão social, vimos que o debate sobre ele permeou as diversas abordagens que
conhecemos e se apresentam de diferentes formas para os autores abordados.
Para França Filho (2008), a natureza do objetivo, o bem privado ou público, é que
vai diferenciar a gestão social da gestão estratégica. Para o autor, trata-se de uma
diferença de princípio, que não considera desvios. A gestão social busca preencher
o espaço entre as alternativas de lucro, conhecidas e utilizadas pelas organizações
privadas, daquelas de interesse público, representadas pela institucionalidade do
Estado.
Capítulo 1
 
É assim que a gestão social se presta ao objetivo de servir o interesse coletivo,
público, diferenciando-se das outras formas de gestão não apenas pelo foco no
coletivo, mas também por não se vincular aos aparelhos, mecanismos e
instrumentos institucionais do Estado, ou seja, ela serve para a sua
autorrealização. Sintetizando o pensamento, a gestão social apresenta como
objetivo geral satisfazer aos interesses coletivos de caráter autorrealizado.
O eixo axiológico, ou seja, do valor, é subjacente aos objetivos que vimos. Com
isso, a gestão social parte de novas formas de solidariedade e proximidade,
simbólicas e físicas, com elementos centrais e estruturadores de seu raio de ação
coletiva. Do mesmo modo, as formas de solidariedade da gestão social serão
contrárias às que dão fundamento as da iniciativa privada e da gestão pública do
aparelho estatal.
É importante ressaltar que sempre que lidamos com classi�cações precisamos
re�etir que elas não podem ser arbitrárias e inquestionáveis, ou seja, não
podemos a�rmar que todos os tipos de gestão social ou estratégica serão
completamente contrários e opostos, é evidente que pode haver con�uências e
semelhanças em suas abordagens, a depender dos contextos avaliados. Por isso,
reforçamos a necessidade da análise especí�ca do contexto e de suas variáveis.
Nas análises empreendidas por Durkheim (2002), o sociólogo busca esclarecer que
a existência de determinada sociedade, assim como a ideia de coesão social, se
baseia no grau de consenso estabelecido entre os integrantes dessa sociedade.
Esse consenso entre os indivíduos sociais é nomeado de solidariedade. Neste
ínterim, em que de�ne os tipos de solidariedades, orgânica e mecânica, o autor
aponta que quanto maior a divisão e especialização do trabalho, maior será o nível
de solidariedade, sendo que a solidariedade mecânica representa aquela referente
a pouca ou nenhuma reciprocidade entre os atores sociais envolvidos –
proprietários e bens –, enquanto que a solidariedade do tipo orgânica é associada
a maior nível de reciprocidade entre os atores sociais – densidade moral e
material. 
Pimentel e Pimentel (2010) nos lembram que “nas sociedades contemporâneas, as
organizações públicas possuem um valor normativo porque impõem padrões que
são mecanicamente associados à estrutura burocrática estatal, ou seja, que
implica uma rígida divisão do trabalho nos órgãos” (PIMENTEL; PIMENTEL, 2010, p.
9). Já as organizações privadas operam de modo a promover alta divisão do
trabalho, por isso mesmo, alto grau de dependência entre seus membros, ainda
que estes recorram aos mecanismos coercitivos para fazer e�ciente o
funcionamento da divisão.
Contudo, nas organizações da sociedade civil podemos ver a densidade moral e
material, na qual a gestão social pode atingir seu auge, já que inserida na esfera
públicae utilizando pouca ou nenhuma forma de coerção, faz com que as ações
Capítulo 1
 
sociais se pautem em maior vínculo de reciprocidade e complementaridade, mais
uma vez, com o objetivo de atingir o bem comum ou interesses do coletivo em
questão. Assim, “o segundo princípio assentado na nossa construção é o da
orientação de valor da gestão social, que é o interesse público comum” (PIMENTEL;
PIMENTEL, 2010, p. 10).
A racionalidade constitui o terceiro princípio a ser considerado no âmbito da
gestão social. França Filho (2008) considera este elemento como problemáticas
próprias da sociedade e da gestão, da sociedade, porque a gestão social seria a
gestão das demandas e necessidades do social, como já vimos anteriormente.
Reforçando, Carvalho (2001) a�rma que a gestão social é a gestão de demandas e
necessidades dos cidadãos. Porém, a autora não deixa de pontuar uma
inquietação com a forma com que essa gestão das demandas acontece.
Quanto à problemática no elemento da gestão, o que inquieta é a subordinação de
lógicas instrumentais a outras de ordem social. Autores têm se preocupado com os
processos, os meios pelos quais se resulta a tomada de decisões, que para
Carvalho (2001) devem advir de parcerias intra e interorganizacionais. Isso nos faz
observar de que tipo de racionalidade se pauta a condução das ações
organizacionais. 
A questão será abordada por Fischer et al. (2006) a partir da racionalidade que a
gestão assume. Lembrando que enquanto a gestão estratégica privilegia a
racionalidade instrumental, a gestão social se pautará na racionalidade
substantiva. Assim, se considera que o agir substantivo supera o estratégico, já
que o primeiro visa à tomada da decisão pelo diálogo, oferecendo oportunidade
de fala a todos os envolvidos, constituindo a cidadania deliberativa.
Tenório (2008) argumenta ainda que a gestão social deve subordinar a lógica
instrumental de gestão a um processo decisório deliberativo, que seja dialógico,
enquanto busca atender às necessidades e demandas sociais. Assim, o autor dirige
para o processo decisório o status de legitimação ou não legitimação da
racionalidade intrínseca à gestão social. Essa racionalidade, portanto, seria a
comunicativa, pois é a condição mais adequada para se tratar das questões da
esfera pública em um Estado democrático.
Isso nos leva à conclusão de que a gestão social necessita de parâmetros, que
devem ser base para análise e avaliação do grau de satisfação dos objetivos
propostos, da melhor maneira possível e com retorno do público-alvo atendido.
Dowbor (1999a) reforça este debate ao sinalizar que a gestão social é uma forma
de fazer, e pode estar presente como dimensão de outras atividades, o que pode
levar à extração de indícios de que a e�cácia, efetividade e e�ciência da gestão não
podem e não devem ser suprimidos, mas é fundamental que o processo seja
participativo, democrático, dialógico e inclusivo. O terceiro princípio da gestão
social, portanto, nos leva a entender a subordinação da lógica instrumental ao
Capítulo 1
 
processo decisório deliberativo, para a busca de satisfazer às necessidades do
sistema social em questão.
Dando seguimento à construção do raciocínio sobre os princípios da gestão social,
o protagonismo é uma categoria muito importante, já que a própria sociedade tem
esse papel. Ou seja, a sociedade é o ator social central dessa forma de gestão, que
deve e se dá pela e para a sociedade. Com isso, não é o objetivo a exclusão do
Estado ou do setor privado como gestores sociais, mas sim a inclusão da sociedade
e das diversas formas de organização.
França Filho (2008), mais uma vez, nos auxilia na compreensão de que a gestão de
demandas e necessidades do social pode ocorrer por meio da própria sociedade,
através de processos auto-organizativos. Orienta-se para ampliação e articulação
das forças, não �cando restrito ao poder estatal, mas que sejam geridas por
diferentes sujeitos sociais.
Tenório (2008) vai considerar a necessidade do gerenciamento participativo,
dialógico, no qual todos têm direito à fala sem nenhuma coerção, com isso existe a
possibilidade de inversão do protagonismo histórico do Estado na relação Estado-
sociedade e de construção de parcerias entre a sociedade civil organizada, setores
privados e o Estado. Carvalho (2003) inova ao defender uma pedagogia
emancipatória, que é aquela que potencializa talentos, desenvolve a autonomia e
fortalece vínculos relacionais que asseguram a inclusão social.
Portanto, “o princípio quarto vai de�nir que a gestão social tem na sociedade civil
organizada o seu protagonista, mas deve envolver diversos atores sociais,
organizacionais e institucionais de um dado espaço” (PIMENTEL; PIMENTEL, 2010,
p. 11).
De acordo com o tipo de gestão abordada, os processos de comunicação tendem a
se diferenciar, por isso, o quinto princípio assentado em nossa construção é o da
comunicação, elemento fundamental para o sucesso especialmente da gestão
social, como veremos.
A comunicação é tão importante para gestão que ela é reconhecida como um dos
sustentos para a diversidade de tipos de gestão, já que elas apresentam maior ou
menor possibilidade de participação dos atores envolvidos, conduzindo a mais ou
menos poder de ação social nos enclaves em que está inscrito.
Sabemos que as formas de comunicação estratégica e pública estatal tendem a ser
monológicas e verticalizadas, ou seja, com hierarquia marcada entre os atores
envolvidos. Enquanto que na gestão social, a forma de comunicação tende a ser
dialógica e horizontalizada, na qual se guiam as bases da racionalidade
comunicativa na gestão social, como descrevem Pimentel e Pimentel (2010).
Capítulo 1
 
De modo geral, podemos inferir que a gestão social é o único modo de gestão
onde o processo de comunicação ocorreria, de fato, de forma dialógica com
participação efetiva de diferentes atores sociais no processo de comunicação. Para
além, o processo dialógico pressupõe igualmente o amplo direito à fala, sem
coerção ou restrição, o que não é visto com facilidade nas outras formas de gestão
já discutidas aqui, muito em função da concentração do poder em pequenos
grupos, ou pessoas, que tende a diminuir a in�uência dos demais grupos nos
processos de gestão e decisão e, principalmente, do uso e distribuição de recursos.
Com isso, concluímos que “o quinto princípio da gestão social está no seu caráter
de gestão participativa, dialógica e consensual” (PIMENTEL; PIMENTEL, 2010, p. 12).
O sexto princípio da gestão social que iremos conhecer é o do processo decisório.
Já vimos que na gestão estratégica ele é centralizado na �gura daquele que detém
os meios de produção ou daquela pessoa designada por ele para gerir. Nesse
contexto, ela obedece a uma hierarquia, na qual quanto mais alto o nível mais será
o poder de decisão e autoridade empreendido, e do mesmo modo, quanto mais
baixo o nível hierárquico, a autoridade decisória será menor.   
Pimentel e Pimentel (2010) contextualizam que na década de 1990, a gestão
pública do Brasil passou por processos de reforma administrativa, importante
situá-los que o responsável por administrar os processos de reforma estatal foi o
presidente, à época, Fernando Henrique Cardoso, que administrou o país entre
1995-2002. Nessa reforma, foi proposta uma Nova Gestão Pública que propôs
signi�cativa mudança de perspectiva sobre a maneira de alcançar resultados
positivos na esfera federativa, com isso, uma das principais medidas assumidas
pela reforma foi a descentralização política e administrativa, que consistiu na
delegação da autoridade decisória nos níveis locais e regionais.
Por outro lado, na gestão social, o processo decisório se expressa como
descentralizado com a participação e diálogo sem coerção, o que contribui para a
construção do consenso coletivo. Conforme Tenório (2008 apud PIMENTEL;
PIMENTEL, 2010 p. 12), “a verdade só existe se todos os participantes da ação
social admitem sua validade, verdade é a promessa de consenso racional ou, a
verdade não é uma relação entre o indivíduoe sua percepção de mundo, mas um
acordo alcançado por meio de discussão crítica, da apreciação intersubjetiva”.
Quando se trata de todos os participantes da ação social, pode se adicionar outro
elemento característico do processo decisório da gestão social, que seja, a
participação. É Tenório (2008) quem dá ênfase a ela ao apontar que se almeja que
a gestão social seja praticada em um processo intersubjetivo e dialógico, os
princípios de inclusão e do pluralismo devem orientar as ações e práticas de
gestão.
Sintetizando o pensamento com apoio de Fischer et al. (2006), a gestão social é um
ato relacional capaz de dirigir e regular processos por meio de mobilização ampla
Capítulo 1
 
de atores na tomada de decisão, que resulte em parcerias intra e
interorganizacionais, de modo que valorize as estruturas descentralizadas e
participativas. Por isso, podemos concluir que no sexto princípio, a gestão social se
efetiva a partir da deliberação coletiva alcançada pelo consenso gerado por meio
da argumentação livre.
Chegamos ao �m, com a apresentação do sétimo princípio pensado para a gestão
social que estamos estudando neste capítulo. O princípio da operacionalização
será, então, utilizado como estrutura da gestão social, já que é ponto fundamental
para que, de fato, as propostas saiam do campo do planejamento e se convertam
em ações materiais ou simbólicas.
A gestão estratégica utiliza indicadores �nanceiros para medir se os rumos e
objetivos esperados pela gestão estão sendo seguidos e alcançados, é assim que
determinados indicadores �nanceiros são determinantes para avaliar a qualidade
da gestão em andamento. A gestão pública, por exemplo, no período da Nova
Gestão Pública, passou a ser estratégica, já que havia objetivos a serem
alcançados, prazos a serem cumpridos e medidas de controle dos resultados
obtidos, contudo, com a diferença de que na gestão social, os objetivos não são
estritamente �nanceiros, mas sim social, com foco da gestão nos indicadores
sociais.
Como já mencionado, Carvalho (2001) considera que a gestão social deve ser
estratégica, na medida em que deve ser e�ciente, e�caz e efetiva. E mais, acredita
que as formas de operacionalizar a gestão social podem passar por parcerias e
convênios entre Estado e sociedade civil organizada, com os pressupostos da
participação ativo e diálogo profundo.
Assim, outro elemento importante para pensar a operacionalização da gestão
social são as parcerias entre diferentes setores. França Filho (2008) sugere que a
gestão das demandas sociais pode ser realizada além do Estado, pela própria
sociedade, por meio de várias formas de auto-organização. Assim como con�rma
Tenório (2008), todos os agentes sociais envolvidos são capazes de pensar e
produzir conhecimento, por isso, devem fazer parte dos diálogos e dos processos
decisórios na gestão social. Nesta compreensão, a aproximação entre autoridades
públicas (Estado) e a população (Sociedade civil) se con�gura como uma premissa
para o desenvolvimento através de decisões deliberativas. França Filho (2008) e
Tenório (2008) a�rmam, ainda, que a maior e�ciência dos governos está associada
a transformações na dinâmica de gestão e no fortalecimento de práticas mais
participativas.
A intersetorialidade, assim como as parcerias, se constitui como uma forma de
operacionalizar a gestão social e, de acordo com Fischer et al. (2006), não deve ser
resumida apenas às práticas, mas se estendem aos conhecimentos, construídos
por muitas disciplinas, de forma multiparadigmática e interdisciplinar. Assim como
Capítulo 1
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a�rmou Dowbor (1999a), as novas formas de pensar a organização social podem
partir da relação entre o político, o social e o econômico, assim como no
desenvolvimento de pesquisas de caráter interdisciplinar. Sintetizando, o princípio
da operacionalização se propõe a pensar que as parcerias e redes intersetoriais,
tanto práticas quanto teóricas são formas de pensar e de operacionalizar a gestão
social de forma muito bené�ca e e�ciente. 
A seguir, para melhor compreensão e apreensão do conteúdo visto até aqui,
elaboramos um quadro esquemático para relembrar os sete princípios da gestão
social que aprendemos:
QUADRO 3 – SÍNTESE GERAL DOS PRINCÍPIOS DA GESTÃO SOCIAL
Princípio De�nição
P1 Objetivo
A gestão social tem como objetivo geral satisfazer
aos interesses coletivos, de caráter público
autorrealizado.
P2 Valor
A orientação de valor da gestão social é o interesse
público comum.
P3 Racionalidade
A gestão social nos leva a entender a subordinação
da lógica instrumental ao processo decisório
deliberativo, para a busca de satisfazer às
necessidades do sistema social em questão.
P4 Protagonismo
A gestão social tem na sociedade civil organizada o
seu protagonista, mas deve envolver diversos atores
sociais, organizacionais e institucionais de um dado
espaço.
P5 Comunicação
A gestão social deve ter seu caráter de gestão
participativa, dialógica e consensual.
Capítulo 1
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P6 Processo
deliberativo
A gestão social se efetiva a partir da deliberação
coletiva alcançada pelo consenso gerado por meio
da argumentação livre.
P7 Operacionalização
As parcerias e redes intersetoriais, tanto práticas
quanto teóricas são formas de pensar e de
operacionalizar a gestão social de forma bené�ca e
e�ciente. 
FONTE: O autor
A partir do exposto nesta primeira parte do nosso capítulo, de maneira
introdutória pudemos identi�car os sete princípios designados como alicerces do
conceito de gestão social, por isso a nossa intenção além de contribuir para
sistematização do conceito é de compreender o campo de atuação, possibilidades
e limites desta área, pensando na sua aplicação pro�ssional.
Também é relevante mencionar que a delimitação que impomos aqui pode causar
limites para o raio de ações práticas da gestão social, ao passo que acreditamos
que esses limites são superados na medida em que a profundidade de análise
dada nesse texto, em termos de compreensão e de análise dos princípios citados,
nos permite a sua aplicação em diversas áreas, levando em consideração as suas
especi�cidades e objetividades. De forma derradeira, se é o termo gestão social
uma construção teórica contemporânea, e por isso, ainda apresenta
inconsistências e a necessidade de de�nições mais sólidas, ele também nos leva a
admitir e valorizar a sua diversidade e adequabilidade, levando em consideração o
contexto em que será empregado.
Assista ao vídeo a seguir para contextualizar os nossos estudos com uma
entrevista realizada com o professor França Filho. Título: Diálogos: Gestão
social: sociedade e democracia. Canal UnBTV. Link:
https://www.youtube.com. 
2.1 DESAFIOS DA GESTÃO SOCIAL NO SERVIÇO SOCIAL
Capítulo 1
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https://www.youtube.com/watch?v=C8v0SKCHG-E
A gestão social promove grandes desa�os que envolvem articulação da garantia de
direitos, ampliação das noções de desenvolvimento social, re�exões críticas sobre
o papel do Estado, e mais, a busca de um paradigma de gestão que seja justa e
coerente com seus anseios.
De forma breve, já podemos sinalizar que a gestão social se depara com diversos
desa�os, que são também muito complexos, considerando que os modelos de
gestão adotados ao longo do tempo têm sido vistos, cada vez mais, como
insu�cientes para solucionar questões com alta complexidade, próprias da
sociedade contemporânea.
Outro ponto fundamental a ser abordado em nossa re�exão sobre os desa�os da
gestão social é que o ideal construído sobre um modelo de gestão democrática e
participativa tenciona o lugar de hegemonia da gestão estratégica no Brasil, o que
produz tensão e representa a potencialização entre democracia e processo de
gestão e�caz. 
De acordo com Gonçalves, Kauchakje e Moreira (2015), a gestão social no âmbito
do setor público, estatal ou privado está envolvida em diversas situações
complexas que incidem na necessidade de envolvimento de diversos setores para
que haja atendimento satisfatório das necessidades da sociedade civil.
Necessidades estas, entre outras, que a partir da promulgaçãoda Constituição
Federal de 1988 são reconhecidas como direitos fundamentais.
FIGURA 4 – CORRELAÇÃO DE SETORES DA GESTÃO SOCIAL
Capítulo 1
 
O autor
Considerando que a década de 1980 foi um marco sócio-histórico para o fomento
das experiências de gestão social no país é importante contextualizar quais as
modi�cações político-econômicas e culturais foram estabelecidas com a
promulgação da carta constituinte. Com a promulgação da Constituição Federal
em 1988, foi instituído um processo de democratização da sociedade, a
necessidade da reforma do Estado, bem como o ressurgimento de uma sociedade
civil com ênfase na ampliação da democracia.
Se tomarmos como referência Arretche (1999), podemos a�rmar que a
constituinte marca a criação de um novo arranjo federativo institucionalizado,
caracterizado pela descentralização de um conjunto de novas atribuições para a
União, Estados e Municípios e a ampliação da democracia, para além da
democracia representativa, assinalada pela inserção da participação da sociedade
no processo de gestão das políticas públicas, através dos conselhos gestores,
orçamentos participativos, conferências, dentre outras formas democráticas de
participação. Do mesmo modo, foram instituídos no país os direitos sociais
presentes na Seguridade Social (saúde, assistência social e previdência), assim
como a educação, segurança alimentar e habitação.
A partir da Constituição Cidadã, os novos direitos sociais garantidos foram os que
dizem respeito à assistência social e segurança alimentar, a partir dos anos 2000, a
Capítulo 1
 
habitação foi incluída neste rol. Saúde e educação também são adotadas como
direitos sociais, reconhecidamente são as necessidades da população.
Como já vimos na introdução deste capítulo, a gestão social tem sido de�nida e
caracterizada por diversos autores, alguns pensando especi�camente na garantia
de direitos dos cidadãos. É assim que re�ete Kauchakje (2007 apud GONÇALVES;
KAUCHAKJE; MOREIRA, 2015, p. 4) ao se referir à gestão social como “gestão de
ações sociais públicas para o atendimento de necessidades e demandas dos
cidadãos, no sentido de garantir seus direitos por meio de políticas, projetos,
programas e serviços sociais”. A autora a�rma que as políticas públicas darão
garantia dos direitos, já que estas são instrumentos de ação do governo a serem
desenvolvidas em programas e serviços que forem do interesse social.
Autores consideram que a gestão social, no Brasil, se estrutura em um processo
complexo, devido à assimetria dela frente às políticas econômicas adotadas.
Kliksberg (1996), por exemplo, a�rma que dentro do setor público, a gestão social
tende a ser um setor fraco, porque não possui in�uência limitada diante de
grandes decisões, haja vista que sua situação na hierarquia diante dos outros
setores é baixa, e também, não é raro que seja um setor privado de decisões
fundamentais do governo, principalmente no que se refere às políticas
econômicas. Para ele, a marginalização da política e da gestão social se
responsabiliza, em certo nível, pela reprodução e intensi�cação dos problemas
sociais já presentes.
Koga (2003) concorda a�rmando que este tratamento subalterno dado ao âmbito
das políticas sociais públicas no Brasil tem produzido crescente mercantilização
dos serviços entendidos como básicos que devem ser servidos à população. 
Para Dowbor (1999a), os padrões de gestão existentes e herdados não conseguem
dar base instrumental à gestão social, uma vez que estes possuem sólidas raízes
industriais e se baseiam em experiências empresariais, do mesmo modo que os
padrões existentes da gestão pública, até hoje conhecidos e experimentados, não
abrangem todas as necessidades reais para uma gestão social que alcance todas
as necessidades da população.
Autores como Kliksberg (1998) defendem que é necessário e desejável que a
gestão social construa a sua própria agenda de gerenciamento, já que esta área
possui características próprias singulares, como: múltiplos personagens
institucionais, a necessidade de articulação de redes, a imprevisibilidade das ações
que devem ser manejadas e resolvidas, a imprescindível necessidade de
participação buscando seus efeitos positivos, emergência do respeito pelas
culturas e diversidades locais, assim como atenção aos fatores demográ�cos,
políticos e sociais presentes.
Capítulo 1
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É neste caminho que Dowbor (1999b) e Koga (2003) alertam que a complexidade
se estende, uma vez que a gestão social se constitui como uma nova área de
interesse do mercado, na qual o fundamento e objetivo é o lucro, que é
caracterizada por Dowbor (1999b) como “uma mina de ouro” e por Koga (2003)
como “processo de mercantilização”, referindo-se aos serviços públicos. Essas
questões são pertinentes para nos posicionarmos no debate que pensa o papel do
Estado na gestão do social.
É por isso que dedicamos uma seção deste capítulo para pensar e discutir a gestão
social com os seus desa�os, já que ela precisa envolver, de certo ponto, a
articulação de variados elementos como: a garantia de direitos por meio de
políticas públicas; ampliar a noção de desenvolvimento social; pensar o papel do
Estado e a procura de uma forma organizacional ou um paradigma de gestão que
respeite a nova condição dada para a seara social e, por conseguinte, pensar e
respeitar as suas características especí�cas.
No que se refere ao Brasil, especi�camente, há também questões que se cruzam e
são importantes serem pensadas para nosso estudo, por exemplo, a nossa vasta
área territorial, as desigualdades presentes em cada região; a pluralidade cultural;
o crescimento acelerado em determinadas capitais e cidades, a concentração de
renda e disparidade entre as regiões, bem como as crises geradas pelo processo
de desenvolvimento a qual fomos submetidos, é claro que neste aspecto, pensar o
passado e a própria formação do nosso país se faz necessário para a�nar mais
nossa compreensão como tal questões se apresentam agora.
Gonçalves, Kauchakje e Moreira (2015), por exemplo, nos lembram de alguns
episódios marcantes da nossa história recente, como a conhecida crise da dívida
externa do �nal da década de 1970; a crise do Plano Collor nos anos 1990, que
bloqueou os ativos �nanceiros gerando muitos impactos na produção nacional; o
desequilíbrio das contas públicas e o crescimento do endividamento público;
di�culdade nas exportações; a chamada crise cambial do �nal da década de 1990;
os extensos e complexos acordos com o Fundo Monetário Internacional etc. A crise
sanitária internacional do ano de 2020, causada pelo novo Coronavírus (Covid-19),
também pode entrar na re�exão como um dos episódios que impactou
profundamente a economia, bem como outras áreas da nossa administração
pública.
É importante citar que, no Brasil, o período da década de 1990 foi marcado pela
adesão do ideário Neoliberal mudando a lógica econômica, política, social e
cultural do país de forma signi�cativa. O neoliberalismo surge como uma
estratégia de superação da crise do capitalismo dos anos de 1970 e que, no Brasil,
diante das particularidades, adentrou em �nais de 1980 e início dos anos de 1990.
Para Alves (2016, p. 102):
Capítulo 1
 
[...] a função histórica do neoliberalismo foi integrar o Brasil no movimento
hegemônico do capitalismo no mercado mundial – capital predominantemente
�nanceiro – que naquele momento, após débâcle (fracasso) do leste Europeu (1989)
e URSS (1991), impulsionou, no plano mundial, a globalização como espírito da época
histórica (zeitgeist), transformando o mundo a sua imagem e semelhança.
Portanto, o período da década de 1990 e a passagem do século como momento
especial de adoção de um modelo econômico de caráter neoliberal, marcado por
ações de privatizações, liberalização do comércio nacional e internacional,
desregulamentação que gerou aumento da competitividade e anulação de
decretos e leis que limitavam e restringiam alguns setores, levou ao monopólio e
controle dos preços por estas.
O mesmo período é de�nido como oscilatório nas atividadesprodutivas, que levou
ao extenso desemprego, bem como às ocupações precárias e não
regulamentadas, ou seja, a um processo de ressigni�cação dos agregados sociais,
que limitados às atividades rurais se aplicaram na realidade urbana das cidades.
Ademais, as ações do Estado, especialmente na década de 1990, são marcadas por
crise �scal, privatizações, crise política, e outras que contribuíram, sem dúvida,
para reprodução e extensão das desigualdades sociais, o que gerou acúmulo nas
demandas de atendimento social e assistencial que se adensa e complexi�ca, cada
vez mais.
Gonçalves, Kauchakje e Moreira (2015) informam que atualmente há uma
retomada da importância do Estado, no que se refere à regulação e atendimento
ao mercado, assim como há fortalecimento de programas sociais ligados à
transferência de renda. Para autores como Neri (2007), o período de 2001 a 2005
pode ser compreendido como uma fase de redução das desigualdades, em que
houve considerável redução da pobreza. Para o autor, tal processo se deu muito
por conta da redução das desigualdades, aliado ao crescimento econômico
veri�cado.
Segundo o autor supracitado, a combinação de fatores políticos, econômicos e
sociais ligados ao papel do Estado, assim como a estabilidade da moeda nacional
causada pelo Plano Real, que ocasionou o controle da in�ação, possibilitou
planejamento e controle sobre o orçamento nacional; aliado, ainda, ao processo
de distribuição de renda nos anos analisados, que gerou queda de 0,2%
comparado ao ganho de 4%, veri�cados no aumento de ganho dos mais pobres
(NERI, 2007). Arbix (2007) apresenta o dado de que no ano de 2006 pode-se apurar
o nível mais baixo de desigualdade de renda nos últimos 30 anos. Em terceiro
lugar, o autor aponta para os investimentos em políticas sociais de distribuição de
renda, como demonstra a �gura a seguir.
FIGURA 5 – PROCESSO DE REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES
Capítulo 1
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Adaptada de Neri (2007)
No período analisado é importante pontuar que o Governo Federal, período de
transferência de poder executivo nacional de Fernando Henrique Cardoso (1995-
2002) para Luís Inácio Lula da Silva (2003-2011), construiu e implantou diversos
programas de transferência de renda, como, por exemplo, o bolsa-alimentação, o
bolsa-escola, o auxílio gás, cartão alimentação, ligados a diversos Ministérios, que
logo depois, em 2004, foram uni�cados no Programa Bolsa Família, que buscou
aprofundar a forma de atuação para atender integral e sistemicamente à
população nacional.
Como a�rma Santos e Nunes (2013), estamos em um momento com muitas
transformações no cenário atual que vivemos, as crises econômicas, �nanceira,
política, sanitária e social, vistas no mundo globalizado, no qual o sistema
capitalista demonstra suas fragilidades e limites se apresentam fortemente com a
privatização de diversos setores públicos, delegando estes cuidados ao setor
privado, o que acarreta grandes mudanças na diminuição do chamado bem-estar
social, aumentando consideravelmente os níveis de desemprego, com trabalhos
precários, perda do poder de compra, aumento das desigualdades, entre outros, e
marcam o período que atravessamos desde o �nal da década de 2010.
As crises instaladas no campo econômico e social reverberam o aparecimento de
novas formas de pobreza e ainda com a busca de formas sustentáveis para as
organizações sociais com a retração do poder e intervenção do Estado. Neste
contexto, perante todas essas crises, a re�exão sobre alternativas de
desenvolvimento sustentável, tanto do âmbito �nanceiro como social, se tornou
uma das maiores e mais urgentes preocupações dos nossos tempos.
É importante situá-lo que, diante da implementação das ideias neoliberais no país,
os processos de gestão social também passam a ser constituídos por uma
dualidade de desa�os, uma vez que o país passou a vivenciar dois projetos em
disputa: o projeto democrático-popular instituído pela constituição de 1988 (que
contribuiu para o fomento de políticas sociais, processos de descentralização que
Capítulo 1
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direcionam para uma maior participação dos poderes e da sociedade civil, o que
fomentou campos de possibilidade para experiências de gestão social); e o projeto
Neoliberal (que prevê a minimização do papel do Estado e práticas de gestão
pautadas no gerencialismo, direcionando processos de privatizações, transferência
de responsabilidade para o terceiro setor, �exibilizações das relações trabalhistas
e minimização de direitos sociais historicamente conquistados, e,
consequentemente, inviabilizando as respostas às expressões das questões sociais
presentes no país).
Essa dimensão contraditória, própria da sociabilidade capitalista, impõe limites aos
processos de gestão social no país e aos pro�ssionais que ocupam esses espaços
de atuação, executando dimensões fundamentais de planejamento, execução e
avaliação de políticas, programas e projetos sociais.   
Conforme Santos e Nunes (2013), é nesse contexto que a gestão social busca o
desenvolvimento de práticas mais gestionárias e de infraestrutura, e como novo
campo de atuação do Serviço Social é importante re�etir, de forma crítica e
propositiva, os desa�os de fomentar práticas efetivas de gestão social. Santos e
Nunes (2013), por sua vez, sinalizam alguns desses desa�os, como veremos a
seguir.
Um primeiro aspecto a ser abordado diz respeito à dimensão das políticas
públicas, especi�camente, no que se refere à universalidade dos direitos
adquiridos, na continuidade de prestação de serviços de ação social e também no
nível os serviços de ação social de caráter privado e não universais.
Em um segundo ponto, os autores assinalam a dimensão do pensamento social,
no qual o pensamento neoliberal manifestado nas políticas públicas prolifera e
tende a ser acompanhado de racionalização, instabilidade e imprevisibilidade do
mundo atual com reforço da subjetividade e do intuitivo em função das
investigações sociais sólidas e com caráter reformador da gestão social (SANTOS;
NUNES, 2013).
A concepção de cidadania ativa se coloca como terceiro elemento desa�ante para
a gestão social, já que ela é capaz de lidar com diferentes contextos sociais na
atual conjuntura que vivemos. Assim, veri�ca-se que a fragilidade do cidadão é
também a fragilidade do Serviço Social. É por isso que as dimensões da gestão
social, aliadas aos valores individuais e aos valores do coletivo exigem do gestor
social a apreensão de fundamentos teóricos e metodológicos sólidos, capazes de
lidar com diferentes contextos e situações, assentados em modelos de
organização de prática pro�ssional com perspectiva de intervenção social.
Por �m, se demanda desta forma pensar a gestão social como um projeto
pro�ssional que alia condições societárias e técnicas técnico-operativas. Isto é,
competências e habilidades que proponham, orientem e trabalhem em função da
Capítulo 1
 
mudança social, o que implica o exercício de ir além de rotinas pro�ssionais e de
instrumentos metodológicos padronizados, que contribuam para a construção e
solidi�cação da justiça social e a contínua diminuição da precariedade social,
internacionalmente instalada, principalmente na América Latina.
Podemos perceber que este movimento compreende um complexo entendimento
analítico e crítico das novas teorias sociais, bem como da concepção ampla de
gestão social, como uma nova forma de intervenção social. 
Dando mais elementos para nossa discussão é importante pensarmos a questão
da subordinação de políticas sociais ao monopólio de poder das políticas
econômicas. Essa dicotomia tem urgência em ser pensada e resolvida, já que,
como a�rma Conh (1998), é nesse imbróglio que surge a necessidade e a urgência
dos debates sobre desenvolvimento sustentável, pensando especialmente no
desenvolvimento em nível local, considerando o contexto e os aspectos
particulares de cada demanda.
É no mesmo campo de re�exão que a autora supracitada a�rma que o Brasil não é
um país pobre, mas um país injusto, porque mantém a reprodução de inúmeras
desigualdades (CONH, 1998). Domesmo modo, por ser um país de dimensões
geográ�ca e populacional, muito altas, deixa ainda mais complexos estes
processos de gestão, especialmente da gestão social, dada às diferenças regionais
existentes.
É neste sentido que ressaltamos que a gestão social está frente a diferentes e
complexos desa�os e enfrentamentos, por isso, retomaremos os modelos de
gestão adotados por longo período e que têm se mostrado, cada vez mais,
insu�cientes e improdutivos diante das particularidades e complexidades da
sociedade atual.
Além de tudo que foi mencionado até aqui, considerando como desa�os e
enfrentamentos estruturais e sistêmicos para a gestão social, iremos pontuar a
partir de agora alguns desa�os no âmbito da aplicação deste tipo de gestão,
aqueles vistos como técnicos já na sua utilização.
O primeiro desa�o pontual que podemos colocar é o da operacionalização, ainda
que o tema tenha sido pouco abordado e despertado pouco interesse no âmbito
acadêmico, tanto nas escolas quando nas produções literárias que ainda são
escassas, sobretudo no que se refere aos trabalhos que lidam com conhecimento
mais aplicado e técnico do assunto, ele nos desperta muitas questões sobre sua
aplicabilidade e sua signi�cância para a gestão social.
De acordo com França Filho (2003), são praticamente inexistentes os enfoques do
tema, assim como as metodologias da gestão social estão ainda em momento de
Capítulo 1
 
elaboração e construção, produto da ação de grupos que empreendem a práxis
neste âmbito e buscam re�etir permanentemente as ações e suas experiências.
O autor ainda re�ete que diante da escassez de referenciais teóricos e
metodológicos vistos, e pela falta de articulação política com outros grupos, muitas
iniciativas permanecem reproduzindo as lógicas gerenciais de empresas,
reduzindo os conteúdos da ação e organização a atributos meramente técnicos
(FRANÇA FILHO, 2003). Com isso, os resultados são, em geral, desastrosos, ligados
à perda do sentido de seus projetos iniciais e aumentando a distância dos
princípios da gestão social. 
Santos e Nunes (2013), em referência a Parton (2000), defendem a compreensão
de novos paradigmas emergentes no Serviço Social e, de maneira ampla, nas
Ciências Humanas e Sociais, que permitem uma abordagem pragmática,
metodológica e prática do Serviço Social, diferenciando esta nova abordagem
daquelas práticas conhecidas como tradicionais. Os autores elaboraram um
quadro de comparação entre as abordagens, que veremos a seguir.
QUADRO 4 – ABORDAGEM TRADICIONAL E NOVAS ABORDAGENS NA GESTÃO
SOCIAL
Abordagem tradicional Novas Abordagens
Diálogos para explanação; Diálogos cooperativos;
Procura da função do problema; Aceitar e validar as experiências
pessoais;
Procura das causas; Técnico e cliente são parceiros
no processo;
Focalização na história; Assumir as mudanças;
De�nição de diagnóstico, categorização e
caracterização;
Diálogos para as mudanças e
para a diferença;
Capítulo 1
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Encorajamento da de�nição da situação-
problema ou de patologia;
Procurar exceções e
acontecimentos únicos;
De�nição e compreensão dos “insights” e
compreensão;
Procurar competências e
presumir habilidades;
Procura de culpas; Procurar competências noutros
contextos;
Atribuições de características de
personalidade;
De�nir objetivos e resultados;
O técnico acredita que o cliente tem
di�culdade em cooperar;
De�nir responsabilidades;
O técnico é especializado, o cliente é não
especializado.
Apoiar movimentos de
responsabilidade do sujeito.
FONTE: Adaptado de Santos e Nunes (2013)
Sabe-se que quando descaracterizamos o conteúdo de uma ação, a sua �nalidade
acaba por se perder nesse movimento. Então, a lógica de instrumentalização do
social caminha para servir e alimentar um novo nicho do mercado que é
conformado por agências não governamentais e grupos de consultores que pouco
se preocupam e se engajam em uma postura ética e compromissada com o
coletivo, o que reduz a e�cácia da resolução de problemas e con�itos em médio e
longo prazo.
1) Elabore um esquema com os principais desa�os da gestão social no
Serviço Social apontados nesta seção, de modo a sistematizar as principais
ideias apresentadas. Use a criatividade!
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Responder
Se como a�rmou França Filho (2003), que a gestão social é um conceito ainda em
construção, algumas preocupações e princípios, comuns na ação da maioria dos
grupos, como a ética de conduta, valorização da transparência da gestão dos
recursos, a ênfase na democratização das decisões e relações na organização nos
levam em direção a uma nova cultura política que se dissemina por meio desses
tipos de práticas e dessa noção essencial.
A adoção dessas medidas e precauções representa signi�cativa mudança, já que as
organizações que atuam no meio social ainda são muito marcadas por práticas de
poder, fruto de uma tradição clientelista e personalista. Para França Filho (2003),
esse aspecto é outro desa�o muito forte e presente na execução da gestão social.
Estes são os dois maiores e mais signi�cativos desa�os impostos para a gestão
social na sociedade atual.
Sintetizando o pensamento até aqui, temos, de um lado, a emergência de
construção de uma estrutura sólida de metodologias que preencham os requisitos
básicos de uma gestão que seja integralmente comprometida com o social. É
evidente que isso não implica que se descarte absolutamente o aparato de
conhecimento técnico já existente e desenvolvido pelas ciências da administração
que se orientam em base gerencialista e corporativa.
De outro viés temos a necessidade premente de superar a cultura política
tradicional presente no mundo das organizações sociais e, ainda, empreender
parcerias efetivas e e�cientes entre poder público e sociedade civil organizada que
reconheçam e estimulem o potencial dos grupos envolvidos, para além de uma
atitude super�cial de instrumentalização da ação.
É producente re�etir e reconhecer que a gestão social se refere ao planejamento e
construção de algo no espaço público, seja societário ou estatal ou em algo que os
correlacione, �rmando uma parceria e articulação entre sociedade e Estado. Desse
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modo, o aspecto político tem alta relevância neste entendimento, que permite não
reduzi-la à esfera de ação e controle governamental.
A gestão social, em si, nos encaminha as ações político-sociais das organizações,
seja para atuarem ou agirem nos espaços públicos. Assim, compreendemos que
não há possibilidade de reduzir o político ao governamental, o mesmo se veri�ca
para a dimensão econômica, que não deve ser reduzida e submetida ao elemento
mercadológico. Isso não apenas devido à �nalidade não lucrativa de
empreendimentos sociais, mas pela própria essência dos recursos que são
mobilizados pelas organizações como fonte de sustentabilidade.
A tendência de apostar em dinâmicas e lógicas que transpassam os limites das
ações instrumentais que o mercado dita no processo de se inverter a lógica de
relação entre o social e econômico, na qual o �nanceiro deixa de ser a �nalidade e
prioridade, acrescenta-se a importância do aspecto político. Por isso, a gestão
social apresenta forte vocação para rede�nir os padrões estabelecidos
tradicionalmente entre política e economia, em uma perspectiva de reconciliação
entre os dois campos tão fundamentais e necessários na sociedade atual.
Com a �nalidade de cooperação, o aspecto econômico se transforma em meio
para adquirir todos os outros objetivos, como sociais, culturais, políticos e
ambientais, ou seja, além da capacidade de transformar os objetivos e colocá-los
em união, este é um pensamento que pode gerar novos caminhos metodológicos
de execução da gestão social, levando a uma nova cultura cidadã democrática nas
organizações.
2.2 GESTÃO SOCIAL: UMA QUESTÃO EM DEBATE
Para continuar nossa busca pelo conhecimento e re�exões na grande área da
gestão social, é importante saber que iremos voltar e avançar no debate algumas
vezes, já que a discussão perpassa por diferentes níveis de compreensão e de
retenção das discussõescolocadas. Nesta seara é importante iniciarmos
entendendo e reforçando que a gestão social não é um conceito fechado e
imutável em si. Como nova forma de gestão pensando no social, ela está em
constante construção e também faz parte de disputas de poder sobre sua atuação
no campo público e privado.
Sendo assim, vamos relembrar que a gestão social se de�ne por uma perspectiva
crítica e de ruptura com os modos de pensar que são dominantes na sociedade, na
qual constrói caminhos de uma razão insurgente em face da ordem social
capitalista. Desse modo, fala-se de buscar alternativas humanizantes e justas na
gestão da vida no seu âmbito social, em um campo que se afasta e que se opõe
aos projetos conservadores e totalitários, mas se aproxima de um projeto
societário apoiado em valores consensuais e democráticos.
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Como vimos anteriormente, a gestão social possui diversas interpretações e
de�nições, não sendo necessário adotar apenas uma, mas sim analisarmos quais
são as suas con�uências e diálogos interessantes para nossa construção do
conhecimento. Vamos apresentar mais uma de�nição, conceitualizada por Maia
(2005 apud SILVA, 2013, p. 214), em que nos mostra:
Compreendemos a gestão social como um conjunto de processos sociais com
potencial viabilizador do desenvolvimento societário emancipatório e transformador.
É fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania, em vista
do enfrentamento às expressões da questão social, da garantia de direitos humanos
universais e da a�rmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma
nova civilidade. Construção realizada em pacto democrático, nos âmbitos local,
nacional e mundial; entre os agentes das esferas da sociedade civil, política e da
econômica, com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos
processos de distribuição das riquezas e do poder. Estes referenciais apontam a
práxis da gestão social, enquanto mediação para a cidadania, que se contrapõe à
perspectiva instrumental e mercantil que vem sendo dada a este tema.
Na implantação do projeto neoliberal do capitalismo, a gestão social passa a ser
enfatizada em um contexto histórico particular de implantação da estratégia
neoliberal em todo o mundo, aprofundado a partir das diretrizes do Fundo
Monetário Internacional – FMI – e do Banco Mundial.
Especialmente no Brasil, a gestão social, utilizada na interpretação e na
compreensão do chamado terceiro setor, ao voluntariado, às organizações
da sociedade civil e ao próprio mercado passa a ganhar força na reforma
neoliberal, em que se preconiza a redução do papel social do Estado e o
fomento ao mercado globalizado. Qual sua opinião sobre o papel do Estado
na administração das políticas sociais?
Dentro desse campo foram adotadas medidas que abrangeram parcerias com a
sociedade civil, com transferência de responsabilidades do Estado para agentes do
mercado ou da sociedade e privatizações, como pôde ser visto com várias
empresas antes estatais que passaram a ser de regime jurídico e administrativo
misto, como a Petrobrás e o Banco do Brasil. É assim que foi se impondo o
conceito de público, mas não estritamente estatal.
Autores como Maia (2005) e Silva (2013) defendem a compreensão de uma esfera
pública que não seja sinônimo de estatal, mas que busca ampliar o próprio
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entendimento de esfera pública. Por isso, trata-se de dar sentido público – de
todos – às causas e lutas do social, de pensar a própria sociedade em seu âmbito
coletivo, comunitário, com o maior nível de humanidade.
Assim, converge no pensamento de entender as riquezas existentes como bens
comuns, de todos, assim como o exercício de poder e a responsabilidade de zelar
pelos bens que deveria ser de todos. É neste sentido que Maia (2005) e Silva (2013)
defendem a concepção ampliada e abrangente do sentido público, para além da
esfera estatal pensada em suas limitações. Contudo, sem deixar de analisar
criticamente, é preciso ter atenção e cuidado para que a visão do público, como
não necessariamente estatal, possibilite a liberação ou desobrigação da
responsabilidade efetiva do Estado frente às políticas públicas e sociais, no
enfrentamento às desigualdades.
França Filho (2003), por exemplo, ensina que a expressão gestão social tem sido
utilizada, nos últimos anos, como forma de identi�car as mais variadas práticas
sociais de diferentes atores, não apenas governamentais, mas também de
organizações não governamentais – ONGs – associações, fundações e outras
iniciativas que partem do setor privado e que utilizam das noções de cidadania
corporativa ou do grande tema da responsabilidade social das empresas.
Que tal pesquisar sobre empresas privadas que aplicam o conceito de
cidadania corporativa ou responsabilidade social publicamente?
França Filho (2003) continua a�rmando que a emergência do uso do termo nas
pautas do debate público e midiático pode indicar duas tendências. A primeira
apontada é a da banalização do termo, ou seja, como esse termo tem sido
invocado nas mais diversas interpretações e necessidade de maior solidi�cação
conceitual. A crítica do pesquisador incide em que o universo das práticas sociais
ganha um novo contorno para ilustrá-las, assim, tudo que não é gestão tradicional,
passa então a ser pintado como gestão social.
A segunda tendência apontada por França Filho (2003) é a re�exão sobre a maior
visibilidade do termo que está ligado à própria ascensão e destaque das
discussões sobre o terceiro setor, que demonstra o papel das organizações
privadas que atuam com objetivos públicos. Desse modo, gestão social e terceiro
setor passam a indicar novas formas de padrões das relações entre o Estado e a
sociedade, como instrumento de confronto às problemáticas atuais presentes na
sociedade.
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Mesmo que consiga sistematizar as tendências em torno do conceito de gestão
social, França Filho (2003) lamenta que ainda que haja maior evidência do termo,
gestão social, ele não está acompanhado de maior rigor e cuidado em seu
tratamento, o que é considerado um desvio de sua própria função. As
considerações do autor a respeito do termo �cam evidentes na Figura 6.
FIGURA 6 – TENDÊNCIAS ATUAIS SOBRE A GESTÃO SOCIAL
Adaptada de França Filho (2003)
Continuando as re�exões, França Filho (2003) re�ete que: Se toda gestão,
atualmente, é social, o que esperar de uma noção que assim se formula como –
gestão social? Para além da necessidade de desconstrução, o termo nos convida
também para apreensão de sua complexidade. Com isso, há a proposta de uma
interpretação do conceito que absorva a dimensão do processo, ou seja, como a
gestão opera suas ações, e a dimensão de sua �nalidade, ou seja, quais são os
objetivos de uma gestão social.
É nesta seara que se faz necessário considerar dois níveis de análise ou de
percepção da gestão social: em um lado, o que a vê como uma questão da
sociedade, e de outro, como uma modalidade especí�ca de gestão. 
Entendemos ser pertinente abordar em uma seção deste capítulo a dimensão da
gestão social ser uma questão em debate, porque diversos autores já vêm
pontuando isso. O que nos interessa aqui é apresentar a você, pós-graduando, o
campo de debate sobre o tema e como ele é visto e compreendido por estudiosos,
pesquisadores e pro�ssionais da área, pois aumentando seu campo de visão do
tema, aumentará sua capacidade crítica de debater e construir as suas próprias
concepções sobre o tema e suas especi�cidades a partir da sua necessidade.
A gestão social, então, na atualidade é um recurso conceitual polissêmico, ou seja,
possui várias conceitualizações e interpretações. É nesse sentido que a diversidade
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1. crescimento inteligente, para desenvolver economia baseada no
conhecimento e na inovação;
2. crescimento sustentável, para promover economia mais e�ciente em relação
à utilização de recursos ecológicos e mais competitivos;
3. crescimento inclusivo, para promover economia com níveis elevados de
emprego, que garanta a coesão territorial e social.de noções, atribuições e contextos onde ele poderá ser aplicado nos direciona
para re�etir sobre a di�culdade que pesquisadores da área têm enfrentado para
encontrar um signi�cado que expresse toda a potencialidade do termo e que seja
aceito e respeitado, no nível acadêmico e no nível pro�ssional.
França Filho (2003) continua nos ensinando que tal di�culdade existe por conta da
condição social atual que vivemos, bem como pelo que já foi apresentado no
crescente interesse pelo ramo do terceiro setor, e sua implicação na organização
socioeconômica de muitos países ocidentais.
É nesta compreensão que a dimensão econômica do terceiro setor chama a
atenção e se apresenta com um recurso muito importante a ser explorado, ou
ainda, na produção de alternativas socioeconômicas inovadoras que revalorizam o
potencial dos agentes sem �ns lucrativos na construção e oferta de bens e serviços
que são direcionados ao bem comum e à reconstituição e solidi�cação da coesão
social.
França Filho (2003) nos traz o exemplo da urgência de criação de novas vagas de
empregos para suprir a alta demanda de pessoas desempregadas, assim como de
outros grupos de pessoas que se encontrem em situação de vulnerabilidade, que
se tornou um elemento básico na avaliação de políticas públicas, que demonstram
a importância social e econômica do terceiro setor para sanar problemas sociais e
econômicos urgentes.
Essa preocupação também tem sido reconhecida e implementada em âmbito
internacional, tendo em vista que, na Estratégia Europeia de Emprego, a agenda
política da Comissão Europeia (2020) prioriza diretrizes para atingir a renovação
social e econômica, por meio de três prioridades de�nidas que se reforçam de
forma mútua. Descreveremos a seguir, as três necessidades, nos apoiando nas
re�exões apontadas por Santos, Albuquerque e Almeida (2012):
Faz-se necessário, para nossa compreensão, a partir do que foi a�rmado por Maia
(2005), entender que as relações entre Intervenção social e Gestão Social assumem
nova con�guração, sendo, assim, utilizados por autores como dois conceitos
distintos, produtos do movimento contraditório de projetos sociais que caminham
entre o desenvolvimento do capital e o da cidadania.
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É importante essa sinalização, já que a utilização e apropriação do termo Gestão
Social está ligada, especialmente, ao campo de intervenção pro�ssional do Serviço
Social, ligado aos aspectos estruturantes e funcionais da pro�ssão, mais ainda ao
nível da gestão de equipamentos, com caráter organizacional e funcionalista que
caminha por entre questões administrativas, alocadas em um campo de atuação
institucional que obedece às lógicas de e�ciência que reproduzem os mecanismos
da busca social e do mercado econômico.
Maia (2005) nos ensina ainda que à Gestão social se atribuiu características já
vistas na Administração Social, o que também incorre em um importante desa�o
de interpretação, ou seja, a necessidade de distinção das duas sendas de atuação,
já que se tem visto que elas ainda são utilizadas no âmbito do Serviço Social como
se fossem idênticas e atuassem de forma igual.  Para Nunes (2014), ainda que as
práticas da gestão social e da administração social partilhem aspectos comuns,
eles possuem características próprias que os diferem ao nível de estratégias e
�nalidades da intervenção e atuação social.
Conti (2010) a�rma que no âmbito da globalização devemos pensar o
neoliberalismo para avaliar a Gestão Social, e traz Dowbor (1999b) para o debate
que realiza críticas ao modelo neoliberal de organização econômica e social que
vigora desde a década de 1980 como pensamento único de gestão. O mesmo
autor explica que, segundo dados da Organização das Nações Unidas – ONU – o
neoliberalismo trouxe crescente desigualdade para os cidadãos não apenas dos
países chamados de terceiro mundo, mas para os ricos também.
Globalização é um conceito desenvolvido a partir da década de 1980 para
designar os processos de intensa integração econômica e política
internacional, fortemente marcado pelo avanço nos sistemas de transporte e
comunicação.
De acordo com Dowbor (1999b), não é possível justi�car a ideia de que a sociedade
esteja à margem do setor produtivo. O social se tornou importante fonte de lucros,
seja pelo �orescimento da indústria cultural, dos serviços privados de saúde e pela
vasta gama de empresas terceirizadas que possuem diversos objetos de consumo
dos setores emergentes da sociedade.
Conti (2010) a�rma que com a propulsão do que foi chamado de capitalismo
criativo e da necessidade de informação para a expansão dos negócios, o
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investimento social deixa de ser algo supér�uo e eventual para ser encarado como
meio e objetivo da vida coletiva.
O chamado terceiro setor pode representar uma nova forma de conectar a
sociedade ao Estado e às empresas privadas, com o objetivo de proporcionar ao
cidadão um lugar de maior protagonismo no circuito de gestão. Desse modo, há
de se superar as medidas consideradas paliativas do neoliberalismo, visando que a
administração pública seja mais democrática e justa.
É neste sentido que a área social deve ser gerida como bem público e, de
preferência, contar com forte participação, seja local e regional na formulação e
viabilização das ações públicas. Assim, a descentralização pode trazer resultados
satisfatórios com a demanda de que as redes formadas pelas ações sociais sejam
de caráter multidisciplinar e abertas à participação de diversos setores
organizados da sociedade civil.
Conti (2010), em referência a Carvalho (2001), dialoga que a partir da questão da
descentralização e da gestão compartilhada existem aspectos fundamentais, que
são:
FIGURA 7 – ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA GESTÃO COMPARTILHADA
Adaptada de Conti (2010)
O primeiro passo prevê a ênfase na ação local, pois acredita-se que o processo de
globalização reforçou a importância relativa dos lugares como mobilizadores
políticos e econômicos. No segundo aspecto, da articulação e
complementariedade entre as diferentes esferas do governo, compreende-se que
os atores globais e locais passam a ter extrema importância na gestão social.
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No que se refere ao processo de gestão em rede, a sua importância se dá na
construção de vínculos democráticos e horizontais com diversos setores da
sociedade. Por �m, a �exibilização dos programas e serviços tem como �nalidade
dar melhor atendimento às demandas especializadas de cada contexto em que a
gestão social atue.
Conti (2010) orienta que esse processo deve ocorrer em um cenário com pouca
burocratização e com transparência nas decisões, de modo que possa preservar o
princípio da subsidiariedade, que defende que as questões sociais ou políticas de
uma sociedade devem ser resolvidas no plano local mais imediato que seja capaz
de resolvê-las, bem como deve preservar a ética e o pluralismo como princípios
fundantes da ação pública.
É assim que a gestão social moderna deve ser capaz de ultrapassar o enfoque
limitadamente focalista e mercantil do neoliberalismo, para articular um ponto em
comum que seja criativo entre o universalismo necessário para o desenvolvimento
de base democrática e a especialização necessária para a e�ciência das políticas
públicas.
E no mesmo campo de discussão sobre a gestão descentralizada, Tenório (2007, p.
89) contribui com o pensamento de que “entendemos a gestão social como
processo gerencial dialógico no qual a autoridade decisória é compartilhada entre
os participantes da ação”, isso quer dizer que é necessário que haja um processo
de construção democrática baseada no diálogo entre os envolvidos entre a ação e
o Estado.
Em outra perspectiva, Singer (1999) compreende a gestão social sob a dicotomia
capital versus trabalho. Para o autor, o desa�o da gestão social está,
principalmente, em organizar o maior número de excluídos para que
conjuntamente possam ter acesso a recursos econômicos, e mais, ter apoio para
gerar trabalho e renda. É nesse seio que a gestão social é caracterizada quando a
ação individual não

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