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UFPI – UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRPPG – PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CCHL – CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PPGHB - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL MHB – MESTRADO EM HISTÓRIA DO BRASIL SÉRGIO LUIZ DA SILVA MENDES SEM MEDIR AS PALAVRAS: atuações do Jornal Inovação em Parnaíba – PI (1977-1982) Teresina – PI 2012 1 SÉRGIO LUIZ DA SILVA MENDES SEM MEDIR AS PALAVRAS: atuações do Jornal Inovação em Parnaíba – PI (1977-1982) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História do Brasil, do Centro de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do Piauí, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em História do Brasil. Orientadora: Professora Dra. Claudia Cristina da Silva Fontineles. Teresina – PI 2012 2 Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Christiane Maria Montenegro Sá Lins - CRB/3 - 952 M538s MENDES, Sérgio Luiz da Silva Sem medir as palavras: atuações do Jornal Inovação em Parnaíba – PI (1977-1982)/ Sérgio Luiz da Silva Mendes. – Teresina: Universidade Federal do Piauí, 2012. 136f. Orientadora: Dra. Claudia Cristina da Silva Fontineles Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências Humanas e Letras, Programa de Pós-graduação em História do Brasil. 1.Imprensa – Piauí – História. I. Fontineles, Claudia Cristina da Silva. II. Universidade Federal do Piauí. Centro de Ciências Humanas e Letras. Programa de Pós-Graduação em História do Brasil. III. Título. CDD 079.812 2 3 SÉRGIO LUIZ DA SILVA MENDES SEM MEDIR AS PALAVRAS: atuações do Jornal Inovação em Parnaíba – PI (1977-1982) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História do Brasil, do Centro de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do Piauí, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em História do Brasil. Orientadora: Professora Dra. Claudia Cristina da Silva Fontineles. APROVADA EM_____/_____/______ BANCA EXAMINADORA __________________________________________________ Profª. Dra. Claudia Cristina da Silva Fontineles – UFPI Orientadora __________________________________________________ Profº. Dr. Denílson Botelho de Deus – UFPI Examinador __________________________________________________ Profº Dr. Antonio Paulo de Morais Rezende – UFPE Examinador __________________________________________________ Profº. Dr. Francisco Alcides do Nascimento – UFPI Suplente 4 À minha família, Luiz Carlos, Mª da Conceição, Wagner Mendes, Marina Sandy e Eline Falcão. 5 AGRADECIMENTOS Agradecer! Este é o momento em que olhamos para trás e percebemos o quanto nossa caminhada foi iluminada por pessoas maravilhosas e que nos ajudaram a nos tornar o que somos. Agradecer é lembrar que precisamos constantemente do outro para podermos crescer, lutar e vencer. Portanto, este é o momento de lembrarmos das pessoas que ajudaram a iluminar o nosso caminho, nos fazendo crescer, nos dando forças para lutar e, principalmente, nos dando auxílio para vencer. As primeiras pessoas que gostaria de agradecer, e dizer também que este espaço destinado aos agradecimentos é imensamente pequeno para dizer o quanto sou grato a eles, são: Maria da Conceição da Silva Mendes (minha querida mãe), mãe, te amo muito, você é a pessoa mais especial deste mundo! Luiz Carlos Quaresma Mendes (meu grande pai), meu exemplo de ser humano, pai, sou seu fã número um. Wagner José da Silva Mendes (meu super-irmão), és um excelente homem, tens o dom de me surpreender. Marina Sandy da Silva Mendes (minha doce irmã), teu sorriso encanta minha vida, tua felicidade é contagiante. E Eline dos Santos Falcão (minha apaixonada esposa), minha vida agora é também sua, você alegra os meus dias, sempre! Vocês são a minha verdadeira família, minha razão de viver. Obrigado pela ajuda incondicional que recebi e ainda recebo de todos vocês. Não poderia deixar de lembrar do meu querido professor Frederico Osanan Lima, meu grande mestre, você foi decisivo para a minha vitória, obrigado pelas orientações do meu projeto e pelo grande apoio no processo de seleção do mestrado. Obrigado também ao professor Doutor Francisco de Assis de Sousa Nascimento, você abriu caminho para nós, parnaibanos, neste programa de mestrado. Gostaria de agradecer ao meu orientador de monografia, do curso de graduação em História, Idelmar Gomes Cavalcante Júnior, camarada essa vitória é nossa, obrigado pelas orientações iniciais deste campo do conhecimento que tanto nos instiga. Agradeço ao professor Cleto Sandy’s, você também me constituiu enquanto historiador. Obrigado a todos os professores do curso de História da UESPI de Parnaíba (Quixaba, Ivanilda, Marcos, Elis Regina, Mary Angélica, Joseane Zingleara), sem vocês, com certeza eu não estaria realizando este sonho. Um agradecimento especial também para os meus grandes amigos do mestrado e da vida: Erasmo Carlos Amorim e Josenias dos Santos Silva. Erasmo e Josenias, obrigado por tudo meus camaradas, esse mestrado, sem sombra de dúvidas, não seria possível sem vocês. Obrigado pelo apoio, pelas conversas, pelas leituras compartilhadas, pelos favores prestados, pela paciência nas horas difíceis, pelo prazer das viagens de ida e volta à Teresina, por serem 6 meus amigos! Não tenho palavras para dizer o quanto vocês foram fundamentais para mim, obrigado de coração por estarem comigo este tempo todo. Vencemos! Abraço a todos os demais colegas do mestrado; abraço especial à Dona Eliete, obrigado pela sua dedicação ao nosso curso e o carinho especial que tens para com os parnaibanos. Obrigado a todos os professores do mestrado, em especial aos professores doutores Francisco Alcides do Nascimento, Francisco de Assis Nascimento, Alcília Afonso, Edwar de Alencar Castelo Branco, Teresinha Queiroz, Áurea da Paz Pinheiro e Denílson Botelho. Além de excelentes profissionais da educação, são formadores e construtores de humanidades; o carinho de vocês me tornou mais humano. Professor Francisco Alcides do Nascimento e professor Denílson Botelho, muito obrigado pelas intervenções na minha banca de qualificação, pelas indicações de leitura, as contribuições de vocês foram de um valor inestimável. Gostaria de agradecer a dona Carmen da GEFAPE/SEDUC-PI de Teresina, você foi um anjo que apareceu na minha vida, realmente uma pessoa de “luz”. Agradecer também a hospitalidade dos meus irmãos Wagner José, Carla Raquel, Julimar Quaresma, Ítalo Cristiano e Leydiane Gleice, obrigado por me adotarem durante o tempo que passei em Teresina, valeu também pela força que cada um de vocês depositou em mim. Obrigado a todos os meus amigos que contribuíram de forma direta ou indireta nesta minha jornada no mestrado. Obrigado também a professora de inglês Pryscila Nascimento, pela ajuda com o meu abstract, e aos professores Ciro Neves e Rejane Fontenele de Sousa, pela revisão gramatical da minha dissertação. Professores, muito obrigado pela disponibilidade de vocês! Gostaria de agradecer aos camaradas Reginaldo Costa e Francisco José Ribeiro pelo inestimável apoio e por terem cedido algumas fontes que foram fundamentais para a realização desta pesquisa. E por fim, não poderia deixar de agradecer a minha orientadora e amiga professora doutora Claudia Cristina da Silva Fontineles. Obrigado por acreditar no meu trabalho, obrigado por aceitar orientar o meu trabalho, obrigado por estar sempre me auxiliando,obrigado pela força, pelos “puxões” de orelha, por estar constantemente enriquecendo minha escrita e se alegrar quando percebe que ela (escrita) está melhorando, cresci muito com você, tanto como pessoa como historiador, pode ter certeza disto. E aqui peço espaço para agradecer também ao professor doutor Marcelo Neto, sua ajuda foi fundamental. Professora Claudia Fontineles, obrigado pela paciência e pelo carinho para comigo, mesmo estando muito atarefada com questões profissionais e familiares sempre teve tempo para me orientar, para ter uma conversa franca sobre minha pesquisa. Serei eternamente grato a você! Obrigado a todos vocês que fazem parte da minha vida pessoal e acadêmica! 7 Jornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Clóvis Rossi 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Legenda: Homenagem à mãe piauiense......................................................... 90 Figura 2 – Legenda: Praça da Graça com destaque para o Coreto (centro) e Catedral (ao fundo), março de 1950....................................................................................................... 98 Figura 3 – Legenda: Praça da Graça em reforma durante a década de 1970....................99 Figura 4 – Legenda: charge sobre a P.M.P................................................................. ...105 Figura 5 – Legenda: a pirâmide da Praça da Graça........................................................106 Figura 6 – Legenda: tapumes ao fundo, final dos anos 1970 .........................................107 Figura 7 – Legenda: capa da 20º edição do Jornal Inovação .................................... .....117 Figura 8 – Legenda: estação espacial americana Skylab........................................... .....118 Figura 9 – Legenda: capa do jornal O DIA de 2/3 de setembro de 1979 .......................121 Figura 10 – Legenda: construção do Lago da Praça da Graça, final dos anos 1979 ......123 9 LISTA DE SIGLAS AABB – Associação Atlética Banco do Brasil AI – Ato Institucional ARENA – Aliança Renovadora Nacional BEP – Banco do Estado do Piauí CA – Centro Acadêmico CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil CPF – Cadastro de Pessoas Físicas DCE – Diretório Central dos Estudantes DS’s – Diretórios Setoriais EMBRATUR – Empresa Brasileira de Turismo FSESP – Fundação Serviço Saúde Pública GEG – Grupo de Estudos Gerais IHGGP – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba INPS – Instituto Nacional de Previdência Social MDB – Movimento Democrático Brasileiro ME – Movimento Estudantil NASA – National Aeronautics and Space Administration PDC – Partido Democrata Cristão PIB – Produto Interno Bruto PIN – Política de Integração Nacional PMP – Prefeitura Municipal de Parnaíba PSD – Partido Social Democrático PTB – Partido Trabalhista Brasileiro RFFSA – Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima RU – Restaurante Universitário SESI – Serviço Social da Indústria PIN – Política de Integração Nacional UDN – União Democrática Nacional UESPI – Universidade Estadual do Piauí UFPI – Universidade Federal do Piauí UNE – União Nacional dos Estudantes 10 RESUMO O Brasil, na década de 1970 e início da década de 1980, foi palco de grande agitação política, época em que o país foi governado pelos militares e as liberdades democráticas e de expressão foram em grande medida suprimidas. Neste contexto, emergiram diversos veículos de contestação aos vários problemas enfrentados pela população brasileira, tanto no campo político quanto no social. Dentre as formas de contestação podemos destacar a imprensa alternativa tida como um dos principais espaços de luta política do país. No Piauí, este fenômeno também foi observado. A imprensa alternativa se fez atuante tanto na capital como em outros municípios do Estado. Desta maneira, a presente pesquisa teve como objetivo principal investigar o Jornal Inovação em Parnaíba-PI durante os anos de 1977 a 1982. Este periódico, tido como marginal e alternativo, foi atuante em Parnaíba desde sua emergência (1977) até sua extinção (1988), mas foi durante o período da administração do prefeito João Batista Ferreira da Silva (1977-1982) que ganhou notoriedade na cidade devido à publicação de várias matérias denunciando problemas enfrentados por Parnaíba, tanto no campo da política quanto no social, sendo destaque a luta imprimida pelos jornalistas do Inovação contra a reforma da Praça da Graça, decretada pelo citado prefeito no final da década de 1970. Para a realização da pesquisa foram fundamentais as fontes hemerográficas, as fontes orais e as interlocuções teóricas com autores como Michel de Certeau, Roger Chartier, Bernardo Kucinski, dentre outros. PALAVRAS-CHAVES: História. Imprensa Alternativa. Parnaíba (PI). Jornal Inovação. 11 ABSTRACT Brazil, in the 1970s and early 1980s, was the stage of considerable political unrest, a time when the country was ruled by the military and democratic freedoms and expression were largely suppressed. In this context, several medium emerged to challenge the various problems faced by the Brazilian population, both in politics and in social fields. Among the forms of contestation alternative press can be highlight as one of the main spaces of political struggle in the country. In Piauí, this phenomenon was noticed too. Alternative press became active in both the capital and in other municipalities of the state. Thus, this study aimed to investigate ‘Jornal Inovação’ in Parnaíba-PI during the years 1977 to 1982. This newspaper, considered as marginal and alternative, was active in Parnaíba since its emergence (1977) to its extinction (1988), but it was during the administration of the mayor João Batista Ferreira da Silva (1977-1982) that it gained notoriety in the city due to the publication of various items exposing many problems faced by Parnaíba, both in politics and in social fields, being highlighted the journalists of ‘Inovação’ fight against the renovation of ‘Praça da Graça’, enacted by the mentioned mayor in the late 1970s. Written resources, oral sources and theoretical dialogues with authors such as Michel de Certeau, Roger Chartier, Bernardo Kucinski, among others were fundamental for the research. KEYWORDS: History. Alternative Press. Parnaíba (PI). Jornal Inovação. 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12 2 O BRASIL NOS TEMPOS DA DITADURA E A IMPRENSA ALTERNATIVA NOS ANOS 1970 ........................................................................................................................... 18 2.1 A imprensa alternativa brasileira nos tempos da ditadura ....................................... 34 3 ESPAÇO DE LUTA POLÍTICA: as críticas do Jornal Inovação direcionadas à administração da cidade de Parnaíba (1977-1982)................................................................ 52 3.1 Artefatos de corte: o papel das poesias e artigos no Inovação ...................................... 70 3.2 A marretada é nossa: o Inovação e o cotidiano de Parnaíba......................................... 80 4 ESCRITA E CONTESTAÇÃO: os jornalistas do Inovação e a reforma da Praça da Graça ............................................................................................................................................... 93 4.1 PRAÇA DA GRAÇA: lugar de memória ......................................................................93 4.2 A reforma da Praça da Graça sob o prisma do Inovação.......................................... 103 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 126 REFERÊNCIAS E FONTES.............................................................................................. 131 13 1 INTRODUÇÃO Lembro que ainda não tinha terminado de cursar a minha graduação em História pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI de Parnaíba quando fui convidado, pelo meu professor Frederico Osanan, a participar de um Encontro de História e Cinema que seria realizado na cidade de Picos-PI no final do ano de 2008. Eu não teria que me preocupar com nada, iria participar como monitor de minicurso, todas as despesas pagas pela organização do evento, ainda ganharia certificado. Dessa forma, aceitei o convite. O encontro foi excelente, ganhei experiência e aprendi muito sobre História e Cinema, mas o que gostaria de relatar não é especificamente sobre esse encontro de História e sim sobre a viagem como um todo, as discussões no meio da estrada, principalmente durante a viagem de volta, pois dela nasceria o embrião da minha pesquisa de mestrado. Nessa viagem que realizamos de Parnaíba a Picos foram apenas três pessoas no carro: professor Frederico Osanan, Sandrilene Borges (amiga do curso de História) e eu. Em meio a discussões sobre aula, história, cidades, viagens e músicas, o professor Frederico perguntou se nós não estaríamos interessados em fazer um artigo em parceria com ele. O artigo versaria sobre a destruição e a queima dos tapumes que encobriam a destruída Praça da Graça no ano de 1979. Ao explicar sobre o evento, que teria marcado considerável parcela da sociedade parnaibana durante o final dos anos 1970, o professor sugeriu que nós procurássemos entrevistar algumas pessoas que teriam participado desta destruição dos tapumes naquele ano e forneceu nomes que seriam acessíveis para conceder entrevistas, falou também sobre o Jornal Inovação, um periódico que teria acompanhado este evento. Naquele momento eu fiquei muito curioso e surpreso, pois se tratava de um acontecimento que teria marcado a história de Parnaíba e até aquele instante eu nunca tinha ouvido falar sobre nada parecido. No fim da viagem agradecemos por tudo e nos despedimos já cientes de que no dia seguinte sairíamos a campo para fazer o levantamento das fontes. Nunca chegamos a produzir esse artigo juntos, não por falta de fontes ou por falta de orientação, mas é que o tempo e outros compromissos se encarregaram de nos dispersar e de nos diluir em outros projetos, outras realizações. O certo é que Sandrilene conseguiu encontrar um dos fundadores e produtores do Jornal Inovação, Francisco José Ribeiro, que além de conceder entrevistas sobre o evento da Praça da Graça ainda disponibilizou para ela todos os exemplares do referido jornal. 14 De posse dessas fontes, comecei a preparar um projeto para dar início à escrita da minha monografia que seria apresentada no final do curso de História. O tema eu já tinha pronto em mente, já sabia o que deveria investigar e estudar: a derrubada e a queima dos tapumes da Praça da Graça em Parnaíba no ano de 1979. Em meio a esse tempo participei do processo de seleção para o mestrado em História do Brasil, ofertado pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, no final de 2009, e consegui lograr êxito antes de terminar o curso de História na UESPI. Portanto, tive que adiantar minha escrita da monografia para terminar o curso antes do tempo pré-estabelecido (2010.1), senão perderia a chance de ingressar no mestrado. Dessa forma, minha pesquisa teve que ser acelerada e não saiu da maneira como estava planejando. Iniciado o mestrado, após as disciplinas, discussões com minha orientadora, professora Dra. Claudia Fontineles, e o contato com as fontes, meu projeto inicial sofreu alterações e o foco da minha pesquisa passou a ser o Inovação. Isso porque as matérias veiculadas nesse jornal apresentavam-se mais interessantes, mais instigantes, mais chamativas do que o próprio evento de destruição e queima dos tapumes da Praça da Graça. Ao abrir uma página desse periódico, por exemplo, você poderia deparar-se com as seguintes frases escritas em letras garrafais: “PARNAÍBA É ATUALMENTE A CIDADE MAIS SUJA E MALTRATADA DO NORDESTE BRASILEIRO”1, “PARNAÍBA CIDADE SUJA PREFEITO OTÁRIO”2. Então desloquei meu olhar do evento de destruição dos tapumes na Praça da Graça porque entendi que havia outros pontos que poderiam ser explorados e investigados. Dessa forma, comecei a minha dissertação fazendo um exercício de escrita, relatando sobre as matérias veiculadas no Inovação, mas às vezes sem problematizá-las. Foi então que minha orientadora alertou-me sobre o perigo da narrativa histórica sem questionamentos, algo que a Escola dos Annales já combatia no ano de 1929. Retomei meu exercício de escrita, problematizando meu objeto de estudo, dialogando com os referenciais teóricos sugeridos pela minha orientadora e, dessa forma, a dissertação foi se desenvolvendo. Durante este processo inicial de produção foi de fundamental importância o diálogo com o livro organizado por Daniel Aarão Reis, Marcelo Ridenti e Rodrigo Patto Sá Motta3, o qual me possibilitou uma maior compreensão do contexto histórico no qual o Brasil estava imerso durante a década de 1970. E é preciso salientar que nós, historiadores, segundo o historiador Rogério Forastieri da Silva, trabalhamos com “uma das dimensões fundamentais 1 INOVAÇÃO, Ano II, nº17, abr. 1979, p. 09. 2 INOVAÇÃO, Ano II, nº25, dez. 1979, p. 11. 3 REIS, Aarão Reis, RIDENTI, Marcelo, MOTTA, Rodrigo Patto Sá (orgs.). O golpe e a ditadura militar: quarenta anos depois (1964-2004). Bauru, SP: EDUSC, 2004. 15 da existência humana: a temporalidade. [...]. [...] é preciso mostrar que existe um nexo entre evento e estrutura.”4. Neste caso, apresentar o Inovação imerso nas questões que norteavam o cenário nacional, principalmente no que diz respeito às lutas políticas e sociais. Dessa forma, tentei perceber se o Jornal Inovação destoava ou não de seu tempo, pois surgiu dentro da sociedade parnaibana no final da década de 1970, período em que o Brasil foi palco da ditadura militar. Nesse contexto, emergem em todo o país formas de contestação aos problemas enfrentados pela população brasileira, no que diz respeito principalmente aos campos da política e do social. E dentro destas várias formas de contestação está a imprensa alternativa. Esse tipo de imprensa foi, segundo Kucinski5, uma das principais formas de luta política encontradas pelos mais variados setores da sociedade brasileira no período em que as liberdades de pensamento e expressão eram quase que completamente inexistentes e a questão era então investigar se o Inovação, enquanto produto jornalístico, enquadrava-se dentro dessa vertente midiática. Passamos à difícil tarefa de analisá-lo, tentando responder a esse questionamento, a priori levantado. A nossa pesquisa, portanto, procurou dar visibilidade ao jornal (mimeografado) da cidade de Parnaíba, intitulado de Inovação, durante os anos de 1977 até 1982, período esse que contempla a administração do então prefeito da cidade: João Batista Ferreira da Silva, candidato eleito pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Esse jornal surgiu em dezembro de 1977, idealizado por dois jovens parnaibanos – Reginaldo Costa e Francisco José Ribeiro – e circulou até o ano de 1992. Mas, segundo a literatura existente6 que trata sobre esse jornal, é durante os anos da administração do prefeito Batista Silva que esse periódico vai ter um papel fundamental dentro da cidade de Parnaíba, pois será um veículo de comunicação que irá atacar veementemente a administração do citadogestor, denunciando as mazelas sociais, os desmandos administrativos e o descaso da administração municipal para com os problemas de ordem político-social-econômico e cultural da cidade de Parnaíba. No primeiro capítulo, apresentamos alguns acontecimentos que marcaram o Brasil durante a década de 1970 e o início da década de 1980, tais como os governos militares e alguns de seus desdobramentos, ou seja, o “milagre Econômico” e suas contradições, a 4 Entrevista realizada por Eleonora de Lucena, publicada na Folha de S. Paulo, domingo, 10 de julho de 2011. (Caderno Ilustríssima). 5 KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. 6 Para mais detalhes, ver: CANDEIRA FILHO, Alcenor. Seleta em verso e prosa. Parnaíba, PI: Sieart, 2010; CARVALHO, Elmar. Jornal Inovação: um depoimento. In: ADRIÃO NETO, et al (org). A Poesia Parnaibana. Teresina: FUNDEC/COMEPI, 2001; MASCARENHAS, Fábio Nadson Bezerra. Inovadores parnaibanos: a produção do jornal Inovação em Parnaíba de 1977 a 1982. 2009, 116f. dissertação (mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, PI, 2009. 16 repressão à liberdade de pensamento e expressão, a “distensão lenta e gradual”. Neste contexto, fizeram-se atuantes os movimentos estudantis, os filmes marginais e a imprensa alternativa como alguns dos elementos de contestação aos diversos problemas relacionados à sociedade, à política e à economia do país. A discussão sobre esses acontecimentos serviram de referência para situar o meu objeto de estudo no cenário nacional. E, como o Inovação é tido como um jornal alternativo, fez-se necessário questionar e investigar o que foi essa imprensa alternativa, o que ela representou para a sociedade brasileira daquele período, quais suas principais características, como ela atuou, dentre outras questões. Essa parte tem como finalidade básica responder a um questionamento fundamental de nossa pesquisa: o Inovação foi um jornal alternativo? Ou seja, ele (Inovação) apresentou características da imprensa alternativa de grande visibilidade no país como os jornais O Pasquim e Opinião? No segundo capítulo tratamos exclusivamente do Jornal Inovação, focando e investigando as matérias que versavam sobre a cidade de Parnaíba durante os anos de 1977 a 1982. Portanto, o objetivo principal desse capítulo foi investigar como o Jornal Inovação representou a cidade de Parnaíba durante os anos de 1977 a 1982, anos estes que corresponderam ao período de administração do então prefeito João Batista Ferreira da Silva, que foi eleito pelo partido emedebista parnaibano. Ao mesmo tempo, investigamos por que esse periódico tomou um posicionamento de ataque à administração do referido gestor. O recorte temporal justifica-se na medida em que é neste período que o Jornal Inovação vai ganhar grande evidência e destaque na cidade de Parnaíba e em outros lugares do Piauí e do Brasil, justamente por combater veementemente o então prefeito da cidade. Ainda no segundo capítulo procuramos analisar as poesias, charges, matérias e artigos veiculados em suas páginas a fim de compreender para que direção elas apontavam, ou seja, o que o Inovação escrevia sobre Parnaíba, como ele a apresentava, como estava a cidade naquele período? Ao analisarmos as primeiras matérias veiculadas no Inovação, percebemos que o mesmo posicionava-se a favor do partido emedebista parnaibano, porém o jornal acaba se tornando o maior opositor de um político desta agremiação partidária, o que é um caso bastante interessante. Portanto, esse capítulo também procurou responder aos seguintes questionamentos: por que o Inovação tornou-se um dos principais opositores do Batista Silva, prefeito de Parnaíba durante os anos de 1977 a 1982, eleito pelo partido emedebista parnaibano, se os integrantes do jornal eram favoráveis aos ideais deste partido? Em que momento acontece a ruptura entre os jornalistas do Inovação e o prefeito da cidade? O que motivaria esta ruptura? 17 No terceiro e último capítulo o nosso principal objetivo foi investigar o posicionamento do Jornal Inovação com relação à reforma da Praça da Graça, decretada pelo prefeito Batista Silva. Apropriamo-nos7 de um artigo do professor Alcenor Candeira Filho, intitulado de O produto cultural alternativo dos anos 70 em Parnaíba, inserido em seu livro Seleta em Verso e Prosa, no qual o autor afirmou que João Batista Ferreira da Silva foi o político mais visado pelo Jornal Inovação, por conta dessa reforma. Na ocasião, a arquitetura da Praça da Graça foi totalmente modificada. Nesse caso, as perguntas que surgiram foram: A afirmação do professor Alcenor Candeira Filho tem fundamento? Por que este evento ganhou tanta repercussão nas páginas do Inovação? Como se posicionaram os jornalistas do Inovação com relação a esta reforma? Como a noticiavam? Teria sido a reforma da Praça da Graça o principal motivo que levaria os jornalistas do Inovação a criticar a administração do prefeito? A reforma do local foi decretada no ano de 1978 e, ainda nesse ano, os trabalhos de reforma foram iniciados, porém já se passara quase um ano e o local que antes era um dos espaços mais festejados e praticados8 pelos cidadãos parnaibanos, agora se tornara um não- lugar9. A insatisfação, pelo que podemos perceber através da literatura existente sobre esse episódio, é quase geral entre os parnaibanos. E o Jornal Inovação, segundo Alcenor Candeira Filho, “desempenhou um papel dos mais significativos, seja pelas graves denúncias apresentadas, seja pelo incondicional apoio dado às manifestações populares que determinaram o incêndio dos tapumes que cercavam o principal logradouro da cidade”.10 Para a construção desta dissertação foram utilizados como fontes o próprio Jornal Inovação, os Jornais Folha do Litoral, Norte do Piauí e O Dia. Além desses, exploramos imagens, poesias, artigos, revistas e outras fontes escritas que trataram sobre os temas abordados em nossa pesquisa. Fizemos uso também da metodologia da História Oral através da modalidade de história temática, tentando extrair dos entrevistados subsídios que 7 Entendemos o conceito de apropriação a partir da obra de Roger Chartier o qual afirma que: “visa uma história social dos usos e das interpretações, relacionadas às suas determinações fundamentais e inscritos nas práticas específicas que os produzem.” (CHARTIER, 2002, p. 68). Portanto, em toda a dissertação quando utilizarmos este conceito, estaremos sob a luz de Roger Chartier. Para maiores esclarecimentos, ver: CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002. 8 O conceito “praticante” é utilizado a partir da obra de Michel de Certeau, em que o sujeito constrói suas ações cotidianamente; o sujeito ordinário que utiliza os espaços públicos ao seu bel prazer. Durante todo o texto, quando esta palavra for empregada estamos nos referindo ao conceito de Certeau. Para maiores aprofundamentos, ver: CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano: 1. Artes de fazer. 9 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1994, p. 21. 9 O conceito de “não-lugar” é utilizado a partir da obra de Marc Augé, em que o autor afirma se tratar de um espaço que não é nem definido como identitário e muito menos relacional e histórico, ou seja, um lugar que não guarda em sim nenhum significado. Durante o texto, quando esta expressão for utilizada, estaremos nos referindo como não-lugar sob o prisma de Marc Augé. Para maiores aprofundamentos, ver: AUGÉ, Marc. Não- lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. 6ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 1994. 10 CANDEIRA FILHO, 2010, p. 81. 18 tornassem nossa pesquisa mais consistente.Para o diálogo com as fontes foi fundamental a interlocução com os autores Michel de Certau, Roger Chartier, Marc Augé, Bernardo Kucinski, Pierre Nora, Tânia Regina de Luca, Maria Paula Nascimento, Claudia Fontineles, Francisco Alcides do Nascimento, dentre outros. A construção desta dissertação leva em seu bojo toda uma inquietação que tive ao longo deste mestrado, quando comecei a rever meus posicionamentos acerca do Jornal Inovação. Esta pesquisa também nos possibilitou dar uma maior visibilidade à cidade de Parnaíba (PI) durante os anos de 1970 e 1980, o que é bastante satisfatório a nosso ver, pois as cidades são temas, atualmente, muito recorrentes na pesquisa histórica. Além da cidade, a nossa imersão no Jornal Inovação revelou ser esse um objeto de pesquisa muito instigante, um objeto repleto de possibilidades, direcionando-nos a discussões particularmente interessantes acerca da imprensa alternativa a qual se apresentou à sociedade brasileira como um dos principais espaços de luta política do país. Por fim, através das páginas do Jornal Inovação pudemos analisar como seus jornalistas representaram Parnaíba e seus habitantes, seus problemas tanto no campo político quanto no campo cultural e social, fazendo surgir assim, em nossa pesquisa, um “retrato” desta cidade em pleno período da ditadura militar no Brasil. Mas também, é preciso salientar que a Parnaíba que será apresentada neste trabalho é uma cidade gestada pelos artigos e pelas poesias publicados no Jornal Inovação. Não se trata, pois, de uma verdade inquestionável, um relato fiel ou a verdadeira imagem da cidade, mas apenas uma construção possível da mesma com base num dos discursos que incidiram sobre ela. Esta representação envolve percepção, reconhecimento e identificação que tentamos extrair dos editores, escritores e das pessoas envolvidas diretamente neste jornal. Uma jornada difícil, mas que nos propomos a realizar. 19 2 O BRASIL NOS TEMPOS DA DITADURA E A IMPRENSA ALTERNATIVA NOS ANOS 1970 Um período muito conturbado e bastante significativo da História do Brasil, no que diz respeito aos movimentos sociais (com destaque para a juventude), foram as décadas de 1970 e 1980. Estes anos foram marcados pela ditadura militar, período “agitado”, em que o Brasil viveu um governo autoritário. É nessa época também, mais precisamente no final da década de setenta, que emergem com maior força no cenário brasileiro os movimentos sociais contrários ao sistema político vigente e os movimentos alternativos ligados às minorias (políticas e numéricas). Esta temporalidade foi marcada, para muitos dos que a viveram, pela censura e também pela criatividade no campo das artes. E, sobre este período, muito ainda pode ser estudado e escrito, pois segundo a historiadora Paula Nascimento: [...] existe um período ainda pouco explorado pela literatura e pela historiografia: o período pós-luta armada, os anos da “distensão” e do processo de abertura política, que marcaram as décadas de 1970-80. Um período em que os movimentos sociais e políticos disputaram com o regime todos os espaços possíveis de ação política legal.11 A década de 1970, tomando como base os estudos realizados por Paula Araujo,12 foi um período em que a política tanto no Brasil como no mundo estava se reinventando, a própria política estava passando por uma revolução conceitual. As mudanças que estavam se processando na década de 1970 era em grande medida, reflexo de alguns eventos que ocorreram na década anterior como a rebelião de Maio de 1968 em Paris e a Revolução Cultural Chinesa. Neste período, é importante ressaltar, várias partes do mundo passavam por modificações nos mais diversos campos do social, do econômico, do político e do cultural. Entravam em cena novos atores sociais, novas problemáticas. O próprio campo do saber historiográfico estava sofrendo mudanças, devido justamente, aos acontecimentos que afloraram no final da década de 1960 no mundo como um todo. Estes acontecimentos operaram transformações significativas na forma de perceber a política, os quais se refletiram em outros lugares do mundo. No Brasil, estes eventos se fizeram sentir nas formas de contestar, tanto o governo militar que se instalara no país durante 11 ARAUJO, Maria Paula Nascimento. A utopia fragmentada: as novas esquerdas no Brasil e no mundo na década de 1970. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000, p. 15. 12 ARAUJO, 2000. 20 a década de 1960, quanto os governos locais que se inseriram neste período. Evidência disto foi a proliferação de jornais alternativos que emergiram em quase todo o território nacional e lançaram em suas páginas as angústias e inquietações de uma parcela da sociedade brasileira descontente com os eventos que marcaram esta época, tais como a repressão, a censura, a falta de participação política, os desmandos administrativos, os vários problemas de ordem social (segurança, educação, saúde etc.), dentre outros. Neste sentido, refletimos sobre alguns eventos que fizeram parte da história do Brasil durante os anos do governo militar (1964-1984), principalmente o aparecimento da imprensa alternativa brasileira que foi, segundo Kucinski,13 um dos principais espaços de luta política do país, no intuito de situarmos nosso objeto de estudo14 no cenário nacional. Dessa forma, se faz necessário discutirmos sobre a política brasileira para analisarmos os seus desdobramentos na realidade nacional e, no início dos anos de 1970 já podemos destacar o governo de Emilio Garrastazu Médici, o qual havia tomado posse da presidência em outubro de 1969. Segundo Skidmore, Médici “era apenas um soldado profissional, que se opôs categoricamente à escolha do seu nome para a chefia do governo e que só cedeu por razões de dever militar.”15 E sob sua presidência, o Brasil vivia momentos de euforia econômica uma vez que, com a ajuda de Delfim Neto (ministro da Fazenda), João Paulo dos Reis Veloso (ministro do Planejamento), dentre outros, o país conseguiu manter a inflação sob controle, da mesma forma a sua dívida externa e tinha cumprido nos prazos os projetos governamentais.16 Além disso, “o governo foi de relativa calma. Não houve marchas estudantis, piquetes de trabalhadores em greve, nem comícios com a costumada oratória demagógica.”17 Segundo Thomas Skidmore,18 a aparente tranquilidade que o país vislumbrava no início da década de 1970 era fruto de um governo que manteve, e em grande medida aumentou, a repressão e a censura já antes instalada pelo ex-presidente Costa e Silva (1967- 1969). Os estudantes sofreram com expulsões, torturas e prisões, práticas constantes no 13 KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. 14 Nosso objeto de estudo é o Jornal Inovação que foi um jornal mimeografado que surgiu no final da década de 1970 em Parnaíba, tendo a sua frente jovens piauienses, principalmente parnaibanos. Este jornal era tido, pelos seus próprios idealizadores – Francisco José Ribeiro e Reginaldo Ferreira da Costa – como marginal e alternativo. Portanto, a discussão sobre a imprensa é necessária para analisarmos se o Inovação fez parte desta vertente midiática. 15 SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Castelo a Tancredo. Tradução Mario Salviano Silva. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 211. 16 Idem, p. 212. 17 Idem, p. 214. 18 SKIDMORE, 1988. 21 interior das universidades as quais fizeram calar este segmento da sociedade que em tempos pretéritos encabeçavam grandes movimentos contra o governo militar que emergiu no Brasil durante a década de 1960. Outros segmentos que também sofreram com a repressão e a censura foram as guerrilhas, políticosemedebistas e principalmente a mídia (jornais, programas de rádio e televisão) - pois os meios de comunicação funcionavam como uma espécie de campo de batalha para os censores da situação. Toda e qualquer manifestação contrária à ordem vigente era sinônimo de perigo, portanto, impedir a circulação de palavras consideradas perigosas veiculadas em jornais na forma de artigos, charges e cartuns, além de evitar as ideias tidas como subversivas propagadas nas músicas de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, Raul Seixas, dentre outros, era de extrema importância para garantir a manutenção da segurança nacional e controlar comportamentos.19 Toda essa repressão, marca do governo militar desde sua implantação, era relativamente amenizada, segundo Skindmore, no início dos anos 1970, pela euforia da conquista do tricampeonato mundial pela seleção brasileira e principalmente pelo crescimento econômico o qual “apresentava a mais alta taxa sustentada desde os anos 1950. O PIB subiu à média anual de 10,9 por cento ao ano. [...]. A inflação ficou na média de 17 por cento [...]. Quanto às reservas, subiram de US$ 656 milhões em 1969 para US$ 6,417 bilhões em 1973.”20 Esse cenário positivo da economia brasileira se devia ao aumento da arrecadação tributária, ao aumento das exportações21 e ao crescimento industrial, principalmente do setor automobilístico. Dessa forma, o governo militar, no início dos anos setenta, adquiria certa simpatia da população brasileira, sobretudo das classes sociais com alto poder aquisitivo. Mas é preciso relativizarmos este “cenário positivo”, pois se a economia havia crescido no início da década de 1970, era devido a um grande arrocho salarial e a outras medidas tomadas pelo governo as quais desfavoreciam grande parcela da população brasileira. Em História do Brasil recente (1964-1992)22, Sonia Regina de Mendonça e Virgínia Maria Fontes descrevem de forma interessante os contrastes da economia brasileira 19 Em Parnaíba, por exemplo, esse fenômeno pode ser observado quando os jornalistas do Inovação sofreram, segundo informações retiradas do próprio Jornal Inovação, perseguições políticas. Iremos explorar este assunto nos capítulos seguintes desta dissertação. 20 SKIDMORE, 1988, p. 276. 21 Para Skidmore: O êxito do Brasil na área das exportações tinha várias explicações. Seus termos de intercâmbio melhoraram substancialmente de 1971 a 1973 e para isso foi decisivo o aumento de 137 por cento no preço internacional médio da soja, de 1972 a 1973, produto que o Brasil só começara a exportar no final da década de 1960. Por outro lado, o Brasil diversificou bastante a sua pauta de exportações, procurando imprimir mais ênfase nos produtos industriais. (1988, p. 279) 22 MENDONÇA, Sonia Regina de; FONTES, Virginia Maria. História do Brasil recente: 1964-1992. São Paulo: Ática, 2006. 22 durante o chamado “Milagre Econômico”. Para as autoras, este crescimento econômico só foi possível por conta da “[...] erosão dos salários reais e da qualidade de vida dos trabalhadores.”23 Ou seja, a população teve que pagar um alto “preço social” para que este “milagre econômico” viesse a acontecer. Ainda, segundo Mendonça e Fontes, “o processo de acumulação ancorava-se num setor de bens de capital predominantemente vinculado ao Estado.”24 Na realidade, a acumulação de capitais estava beneficiando as grandes empresas oligopolistas multinacionais produtoras de bens duráveis, enquanto que as pequenas e médias empresas brasileiras estavam abrindo falência devido ao aumento da carga tributária estipulado pelo governo.25 O “milagre econômico” também alterou a estrutura da renda brasileira, visto que: A estrutura da renda no Brasil já era concentrada na década de 60, com os 20% mais ricos apropriando-se de 54% da renda nacional. Sua ampliação foi de tal ordem que em 1970 esses mesmos 20% participaram com 62% da renda total, passando ainda, em 1976, para 67% da renda nacional. De forma inversa os 50% mais pobres da população diminuíram sua participação de 17,7% em 1960 para 11,8% da renda total em 1976 [...].26 Como podemos observar, a relativa tranquilidade na economia nacional a qual Skindmore se referia, escondia a real situação em que estava imersa a grande massa de trabalhadores brasileiros que viam seus salários diminuírem e consequentemente sua participação na economia também. E da mesma forma como essas autoras compreenderam este “milagre econômico”, o autor Francisco Carlos Teixeira da Silva27 também afirma que o modelo econômico implantado pelos militares no início da ditadura “[...], embora tivesse conseguido deter a inflação [...] e retomar o crescimento econômico, custara, até então, a ampliação da pobreza [...].”28 O início dos anos setenta, então, mascarava atrás do “milagre econômico” a face da dura realidade econômica das classes menos favorecidas. Não bastasse isso, a população brasileira sofria ainda com a meningite, aumento do número de acidentes de 23 MENDONÇA, 2006, p. 28. 24 MENDONÇA, 2006, p. 31. 25 MENDONÇA, 2006, p. 30-31. 26 MENDONÇA, 2006, p. 32. 27 SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. A modernização autoritária: do golpe militar à redemocratização 1964/1984. in.: LINHARES, Maria Yedda (org.). História Geral do Brasil. 9º Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1990. 28 SILVA, 1990, p. 370. 23 trabalho, repressão violenta, baixa qualidade no serviço público de saúde, má remuneração e consequente má alimentação.29 Já no governo de Ernesto Geisel (1974-1979), militar renomado nascido no Rio Grande do Sul, o Brasil assistiu ao início da chamada “distensão lenta e gradual”, em outras palavras, vimos à política caminhando para uma abertura democrática, devido uma das bases que sustentava o governo militar estar em franco declínio: o “milagre econômico”. O caso é que algumas medidas deveriam ser tomadas como restabelecer o próprio crescimento econômico, a independência do judiciário, a liberdade de imprensa e de expressão, o habeas- corpus, liberdade de organização e apoio de ideias políticas, fim do bipartidarismo para que esta abertura lenta e gradual pudesse existir e, na realidade foram tomando corpo nos anos do governo Geisel e seu sucessor João Batista Figueiredo (1979-1984). Segundo Mendonça e Fontes, o período de governo destes últimos militares “[...], corresponderiam ao estabelecimento de estruturas mais permanentes e flexíveis de poder, consubstanciadas na política de ‘distensão’.”30 A historiadora piauiense Teresinha Queiroz também constrói uma narrativa sobre esta temporalidade abordada, e faz com que percebamos como este período é rico em eventualidades, as quais marcaram toda uma sociedade e imprimiram mudanças que até hoje são temas de estudos e inquietações. Segundo ela, A história brasileira do século passado, vista do final da década de 1970 até meados da década de 1980, tanto num ângulo geral quanto em suas particularidades, é de uma extraordinária riqueza de nuances e de grande velocidade de transformação, sendo os anos compreendidos entre 1978 e 1985 absolutamente representativos quanto às mudanças do cenário político. Das promessas de abertura do regime ao movimento “diretas já”, a presença e a consistência das aspirações e da ação populares denotam aquela mudança e dão o diapasão das novas regras que se insinuam no ordenamento político do país.31 Através da narrativa de Queiroz, fica patente que se trata de um período em que se processavam transformações principalmente no que diz respeito à política e aos movimentos 29 MENDONÇA, 2006, p. 68-69. Em Parnaíba, se formos observar o número de pessoas internadas na Santa Casa de Misericórdia nos anos 1970 e início dos 1980, notaremos uma crescente. Em 1979 tivemos um totalde 4.608 pessoas internadas. (ALMANAQUE DA PARNAÍBA, 1979, p. 310). Em 1980 o total foi de 5.227 pessoas internadas. (ALMANAQUE DA PARNAÍBA, 1980, p. 292). E, em 1981 o total foi de 6.171 pessoas internadas. (ALMANAQUE DA PARNAÍBA, 1981, p. 330). Não podemos afirmar se o número está relacionado ou não aos casos de meningite, mas são dados sobre a saúde pública do município que, de certa forma, preocupam e denotam estar em consonância com o aumento dos números nacionais no caso de problemas relacionados à saúde. 30 MENDONÇA, 2006, p. 42. 31 QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Do singular ao plural. Recife: Edições Bagaço, 2006, p. 203. 24 sociais. O próprio momento político do Brasil, o qual vivia sob as “rédeas” do regime militar, propiciava o cenário perfeito para inquietações, conspirações populares e esperança de novos sistemas políticos vingarem em detrimento do sistema presente. Foi uma época também, segundo afirmou Teresinha Queiroz em artigo intitulado Política e cultura no jornal Inovação,32 em que grande parcela dos sujeitos desejava participar da vida política, intervir de alguma forma para a melhoria de suas vidas. De uma forma mais específica, ao tomar como fonte o Jornal Inovação, Teresinha Queiroz relata outros fatos que fizeram parte deste contexto conferindo mais elementos a esse tempo que marcou a sociedade brasileira. [...]. Assim, o sugestivo ano de 1977 vai retratado em suas ocorrências mais significativas: o Presidente Ernesto Geisel lança o seu Pacote de Abril; o Ato Complementar 104 proíbe as lideranças partidárias de se expressarem no rádio e na televisão; o Ministro Sílvio Frota, do Exército, é exonerado; deputados do MDB são cassados pelo AI-5; Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro e cerca de 10.000 brasileiros são considerados politicamente indesejáveis, e boa parcela deles está exilada em diversos países europeus e americanos.33 Os eventos acima mencionados são um relato de algumas medidas tomadas pelo governo militar numa tentativa de reprimir os contrários ao regime, mas o que a história nos mostra, é que ao invés dessas medidas surtirem o efeito desejado pelas autoridades, funcionaram mais como um incentivo a novas formas de resistências ao mesmo. Já que “[...]. na contramão dessa organização militar, frações do corpo político, da sociedade civil e da Igreja constroem, e com extraordinária habilidade, as mudanças que já advirão, em parte, no governo subseqüente de João Batista Figueiredo.”34 Como o clima de descontentamento com relação ao governo militar estava aumentando a cada ano, começaram a crescer também as formas de contestação a ele. E as formas de resistência ao regime militar se davam nos mais diversos campos da vida social, nos jornais, na poesia, na música, nos filmes etc. A década de 1970, além de apresentar-se como um período politicamente conturbado, cheio de privações com relação à comunicação, falta de liberdade de expressão, entre outras coisas, nos mostra também que foi palco do movimento contracultural35, movimento este que é revelador de toda criatividade de grande parcela da juventude brasileira. No âmbito regional, a juventude piauiense também fez parte 32 QUEIROZ, 2006. 33 QUEIROZ, 2006, p. 207. 34 Idem. 35 Sobre uma melhor compreensão do que seja Movimento Contracultural, ver: CASTELO BRANCO, Edwar de Alencar. Todos os dias de Paupéria: Torquato Neto e a invenção da Tropicália. São Paulo: Annablume, 2005a. 25 desse movimento repleto de novas linguagens, novas inquietações, novas formas de ver o mundo e de intervir nele como nos mostra Frederico Osanan Lima em sua dissertação de mestrado realizada na Universidade Federal do Piauí (UFPI) intitulada Curto-circuitos na sociedade disciplinar: Super-8 e contestação juvenil em Teresina.36 Frederico Osanan Lima faz um estudo sobre as décadas de 1970 e 1980, utilizando como fonte de pesquisa, filmes experimentais rodados na cidade de Teresina produzidos em câmeras Super-8, em que revela como parcela da juventude piauiense se comportou com relação às questões sociais vigentes daquele momento. Em certa medida, esse envolvimento da juventude piauiense com as lutas que estavam acontecendo a nível nacional e até mesmo o envolvimento com o movimento contracultural, se deve por conta do contato com alguns jornais alternativos vindos de fora e também aos estudantes piauienses que – em busca de melhores condições de estudos tendo como objetivos principais concluir os estudos secundários e ingressarem em universidades de Direito, Jornalismo etc., o qual conferia certo tipo de status aos mesmos – se deslocavam para outros Estados e ao regressarem, traziam à sua terra natal novas práticas sociais, novas inquietações, novas formas de perceber o mundo e a sexualidade. O deslocamento dos filhos das camadas médias locais aos grandes centros a fim de cursar o ensino universitário, prática presente desde as décadas anteriores, que no período ora descrito encontra irônico diferencial: se os intelectuais das décadas anteriores, após sua estadia sobretudo nas cidades de Olinda, Pernambuco, Salvador e, posteriormente, Fortaleza, retornavam ilustres profissionais liberais: médicos, advogados, farmacêuticos entre outros, na década de 70, com as manifestações culturais e políticas nas Universidades, [...] voltariam dispostos a difundir em sua cidade natal as novas cores, sons e práticas sexuais que haviam aprendido recentemente nas capitais.37 Esta aproximação com o diferente (outros centros urbanos), em grande medida, foi fundamental para que ocorressem mudanças em todos os setores da vida social, pois era uma forma de entrarem em contato com novas atitudes, novas práticas sociais, novos conceitos, novos modos de se vestir, de falar etc. A juventude piauiense de 1970 realmente estava vivendo e passando por um período de profundas mudanças. Também aqui cabe enfatizar que: 36 LIMA, Frederico Osanan Amorim. Curto-circuitos na sociedade disciplinar: Super-8 e contestação juvenil em Teresina (1972-1985). 2006. 132f. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, 2006. 37 MARQUES, Roberto. Modernos marginais: memória da cidade da cultura na década de 70. In: PINHEIRO, Áurea da Paz; NASCIMENTO, Francisco Alcides do (org). Cidade: História e Memória. Teresina: EDUFPI, 2004, p. 406. 26 Além disso, toda a efervescência cultural vivida na década de sessenta com a Tropicália, o Cinema Novo, a arte ambiental e as manifestações artísticas mais engajadas com os problemas políticos, começava a migrar da região Sudeste para o Nordeste, chegando a Teresina em meados da década de setenta, possibilitando uma mudança – mesmo que tardia – nos padrões comportamentais, nas atitudes e na valoração da arte. As informações trazidas pelas novas mídias, pelos jornais e revistas alternativas, nas letras de músicas e nos poemas de artistas considerados subversivos, pelos estudantes que viajavam para estudar fora e pelos viajantes que transitavam pela cidade, tudo isso se apresentava a uma parcela da juventude teresinense da época. 38 Portanto, além das mudanças ocorridas no campo da política e do social, também estavam se processando no Piauí mudanças no campo da cultura. Um exemplo disso é o surgimento de filmes produzidos em Teresina com o uso de câmeras Super-839. Esta produção fílmica que se utilizava de bitolas domésticas realizada no Piauí durante a década de 1970 foi denominada de “marginal” justamente por se tratar de filmes não-comerciais e estarem fora dos grandes circuitos dos filmes brasileiros. Porém, longe de ser apenas uma diversão por parte dos que os idealizavam, era uma forma de contestação da realidade que os cercava. Entre eles podemos citar: O terror da vermelha (filme produzido por Torquato Netoem Teresina no ano de 1972); Davi Vai Guiar (filme de Durvalino Couto Filho, Teresina, 1972); Coração Materno (filme de Haroldo Barradas, Teresina, 1974); Miss Dora (filme de Edmar Oliveira, Teresina, 1974); Porenquanto (filme de Carlos Galvão, Rio de Janeiro em 1973) e Tupi Niquim (filme de Xico Pereira, RJ, 1974). Os filmes produzidos em Super-8 eram de caráter doméstico, mas traduziam, em certa medida, os anseios e angústias de uma juventude ligada às questões sociais que eram próprias de seu tempo. Em alguns dos filmes podemos observar como a juventude piauiense percebia e rebatia as formas estratégicas de captura do social por parte das autoridades governamentais, como é o caso do filme Davi Vai Guiar 40. No Davi Vai Guiar, filme produzido por Durvalino Couto Filho, em Teresina, no ano de 1972, podemos observar as táticas utilizadas pela juventude para transgredir as normas e os padrões de comportamento tidos como “tradicionais”. Entendendo o conceito de tática tal qual Michel de Certeau, quando este afirma que: 38 LIMA, 2006, p. 36. 39 Sobre os filmes produzidos em Super-8 durante a década de 1970 ver: MONTEIRO, Jaislan Honório. Fotogramas Táticos: o cinema marginal e suas táticas frente às formas dominantes de pensamento. In: NASCIMENTO, Francisco Alcides do; VAINFAS, Ronaldo. História e Historiografia. Recife: Bagaço, 2006. 40 Para uma melhor leitura do filme “Davi Vai Guiar” ver: LIMA, Frederico Osanan Amorim. Curto-circuitos na sociedade disciplinar: Super-8 e contestação juvenil em Teresina (1972-1985). 2006. 132f. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, 2006. 27 Denomino, ao contrário, “tática” um cálculo que não pode contar com um próprio, nem portanto com uma fronteira que distingue o outro como totalidade visível. A tática só tem por lugar o do outro. Ela aí se insinua, fragmentariamente, sem apreendê-lo por inteiro, sem poder retê-lo à distância. Ela não dispõe de base onde capitalizar os seus proveitos, preparar suas expansões e assegurar uma independência em face das circunstâncias. O “próprio” é uma vitória do lugar sobre o tempo. Ao contrário, pelo fato de seu não-lugar, a tática depende do tempo, vigiando para “captar no vôo” possibilidades de ganho.41 Com isso, fica claro que as lutas contra o poder instituído travavam-se nos mais diversos lugares, e os filmes “marginais” eram apenas mais um destes veículos de contestação social. Esta parcela da juventude contestava em seus filmes a linguagem enquanto instituinte da realidade (Terror da Vermelha); contestava também os instrumentos panópticos de controle do espaço urbano (Davi Vai Guiar); colocava em evidência a relação familiar procurando desconstruir a ideia de amor romântico (Coração Materno); mostrava a emergência da erotização do corpo feminino nos espaços públicos (Miss Dora); procurava dar visibilidade às diversas localidades da cidade, as subjetividades próprias do ser humano (Porenquanto); problematiza a dualidade litoral/sertão, dando a ver as diferenças entre o que é centro e o que é periférico (Tupi Niquim). Os filmes “marginais” são fontes que podem ser utilizadas para observarmos alguns costumes, comportamentos, os quais eram próprios do período em que foram produzidos, e também são registros visuais importantíssimos, pois são representações de uma cidade, no caso Teresina, a qual já não é mais a mesma devido às modificações sofridas ao longo dos tempos; os filmes são elementos ilustrativos das transformações pelas quais a cidade de Teresina estava passando, já que a década de 1970 no Brasil, sob a liderança dos militares, se havia adotado como bandeira a palavra “modernização”. E é importante atentarmos para este conceito que, segundo Marshall Berman42, trata-se das transformações que um determinado espaço sofre em consequência da industrialização, dos novos aparatos e instrumentos tecnológicos, das novas descobertas científicas que em grande medida, vão estar a serviço da constante destruição do “velho” para implantar/construir o “novo”. Segundo este autor, “no século XX, os processos que dão vida a esse turbilhão, mantendo-o num perpétuo estado de vir-a-ser, vêm a chamar-se ‘modernização’”43. Neste sentido, foi criado pelos militares um planejamento com vistas ao desenvolvimento infra-estrutural do país. Essa era uma das 41 CERTEAU, 1994, p. 46-47. 42 BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 43 BERMAN, 2007, p. 25. 28 estratégias utilizadas pelo governo federal para maquiar a grande repressão imprimida pelos mesmos. Em torno desta modernização do país foram surgindo alguns slogans, tais como: “Brasil, ame-o ou deixe-o” e “Brasil, conte comigo!”, na tentativa de criar em torno do país uma unidade nacional, um sentimento de pertencimento e ao mesmo tempo uma identidade, que ligariam todos rumo ao progresso da nação. É desta temporalidade que o governo utiliza a propaganda da Transamazônica, da conquista do tricampeonato mundial do Brasil e do famoso “milagre econômico brasileiro” para passar uma imagem de uma nação vitoriosa, de um país que estaria sendo bem administrado pelos militares. Por conta destes fatores é que na década de 1970 vai crescer no Brasil a ideia de uma onda modernizadora e, portanto, todos os Estados deveriam ser beneficiados com isso. A partir desta afirmativa, levantamos a seguinte questão: até que ponto o Piauí seria beneficiado com esta modernização propagada pelo governo? E investigando algumas obras que versaram sobre esta temporalidade encontramos alguns pontos os quais apresentam indícios de modernização da capital. Durante o governo de Alberto Silva44 (1971-1975), por exemplo, foram erigidas várias obras no sentido de modernizá-la. Dentro deste contexto é que vamos poder vislumbrar a construção de alguns dos grandes símbolos da modernidade desta cidade. A organização espacial da cidade de Teresina com a atuação direta do Estado acabou resultando em grandes construções, como pontes, avenidas e prédios. Assim, com a interferência do Estado, foi possível para a sociedade da época se deslumbrar, por exemplo, com a construção do estádio de futebol Albertão, [...]já que as existentes até então não exalavam nenhum ar de modernização. Da mesma maneira que era possível observar a pavimentação da Avenida Miguel Rosa e o remodelamento da Avenida Frei Serafim, atendendo ao crescimento demográfico da cidade e à multiplicação dos meios de locomoção, destacadamente os automóveis, que ganhavam anúncios nos jornais ao mesmo tempo em que circulavam com uma maior intensidade pelo centro e periferia. Do mesmo modo, receber com entusiasmo o campus da Universidade Federal do Piauí.45 A política brasileira nos anos 1970 tinha como palavras de ordem “modernização” e “desenvolvimento”, portanto, ao ser nomeado como governador do Estado do Piauí, Alberto 44 Alberto Tavares Silva foi governador do Piauí durante o período de 15/03/1971 a 15/03/1975. Foi Engenheiro; prefeito (eleito) de Parnaíba, sua cidade natal, duas vezes. Diretor da Estrada de Ferro Central do Piauí. Deputado estadual. Diretor de empresa estatal de energia elétrica em Fortaleza. Presidente da Empresa Brasileira de Transportes Urbanos em Brasília. Terceiro governador indicado pela sistema político de março de 1964, eleito indiretamente. Informações extraídas do livro: TITO FILHO, José de Arimathéa. Governadores do Piauí. 3ª Ed. Artenova, 1978. 45 LIMA, 2006, p. 39-40. 29 Silva promoveu transformações no Estado para que o mesmo pudesse adquirir status de desenvolvido e moderno. Estudo interessante acerca das realizações promovidas pelo então governador do Piauí AlbertoSilva foi realizado por Cláudia Fontineles. A autora em artigo intitulado Estádio Albertão: entre a memória recitada e o apagamento de rastros46, analisa como o governador se utilizou dos seus feitos (principalmente das realizações referentes à prática futebolística: Albertão e o time Tiradentes) para permanecer na memória dos piauienses como o “fundador da modernização e da auto-estima piauienses.”47 Os avanços pelos quais o Piauí estava passando durante a década de 1970 estavam diretamente ligados, como bem observou Regianny Lima do Monte48, à “Política de Integração Nacional (PIN) e a doutrina nacional-estadista, centrados no intervencionismo estatal e nos pesados investimentos em infraestrutura.”49 O objetivo principal desta política era de certa forma acabar com o desnivelamento econômico entre os Estados brasileiros e, nesse caso uma das regiões menos desenvolvidos era o Nordeste o qual passou a receber mais atenção do governo federal. Dessa forma é que podemos compreender as mudanças que se processaram no Piauí durante este período. É nesta época que a capital do estado passa por várias reformas e entre elas podemos destacar as reformas do Palácio de Karnak (sede do governo estadual), do Teatro 4 de Setembro (principal teatro da cidade), da Praça Pedro II, do Hotel Piauí, da Avenida Frei Serafim (principal avenida de Teresina). Para além das reformas temos as construções do já citado Estádio Governador Alberto Tavares Silva, do Parque Zoobotânico (um local construído para ser mais um lugar de lazer para as famílias teresinenses), da sede das Centrais Elétricas do Piauí S/A. Segundo dados extraídos do livro Governadores do Piauí, de A. Tito Filho, o Piauí ainda assistiria neste período a implantação da reforma do ensino, com a construção de dez complexos escolares, o aumento da rede escolar que passaria a ter 700 novas salas de aulas, a construções de hospitais, a interiorização da assistência médica e odontológica, a implantação da rodovia Transpiauí com 400 quilômetros asfaltados, a criação da Secretaria de Cultura, a implantação do turismo com a criação da Empresa Piauiense de Turismo, a construção do monumento dos heróis da Batalha do Jenipapo em Campo Maior - com a instituição do 46 FONTINELES, Cláudia Cristina da Silva. Estádio Albertão: entre a memória recitada e o apagamento de rastros. In. NASCIMENTO, Francisco Alcides do. (org.). Sentimentos e ressentimentos em cidades brasileiras. Teresina: EDUFPI; MA: Ética, 2010. 47 FONTINELES, 2010, p. 99. 48 MONTE, Regianny Lima do. Memória e (res)sentimentos em torno do progresso de modernização de Teresina durante a década de 1970. in. NASCIMENTO, Francisco Alcides do. (org.). Sentimentos e ressentimentos em cidades brasileiras. Teresina: EDUFPI; MA: Ética, 2010. 49 MONTE, 2010, p. 303. 30 Museu do Jenipapo, a ampliação da rede de energia e de água, a implantação domiciliar da rede de esgotos de Teresina, a construção da Ponte Simplício Dias em Parnaíba, a construção da Universidade Federal do Piauí, dentre outras realizações50. Entre essas construções, a Universidade Federal do Piauí vai se destacar por conta de ser a nova difusora de conhecimentos. Agora, além da televisão, dos jornais de circulação nacional e do rádio que na época já se faziam presentes nos lares de pequena parcela da sociedade piauiense, a UFPI também vai exercer papel fundamental na transmissão de novas ideias, novas leituras de mundo que inclusive vão despertar nos estudantes da capital, atitudes de contestação em prol do melhoramento do campus e ampliação dos cursos superiores. Em 15/03/1975 quem toma posse do governo do Estado do Piauí é Dirceu Mendes Arcovede51, que governa até 14/08/1978. Durante o seu governo, o Piauí assiste à construção da Colônia de Férias da autarquia em Luís Correia, a construção de estações rodoviárias em Floriano e Picos, o capeamento e ampliação do aeroporto de Parnaíba, a implantação de energia elétrica em mais de 31 cidades e 35 povoados, a instalação de 05 agências do Banco do Estado do Piauí (BEP) em cidades do sul piauiense, a ampliação do sistema de abastecimento de água, a construção de quartéis militares em Guadalupe, Corrente e Oeiras. Na cidade de Teresina temos a construção do Hospital Geral da Polícia Militar do Piauí, a construção do Parque de exposição agropecuária, a construção da Praça Monumento Da Costa e Silva, a construção do quartel do Corpo de Bombeiros, dentre outras realizações. O que pretendemos apresentar com estes dados é que o Piauí, durante a década de 1970, vai passar por grandes transformações que, em certa medida, se refletiram no modo de pensar, sentir e agir dos piauienses.52 Mas esta modernização também foi sentida de outra forma, sobretudo pela população carente de Teresina. Enquanto o centro e alguns bairros da cidade melhoravam seus aspectos físicos, com ampliação de ruas e avenidas, construção de prédios, passeios públicos, dentre outras realizações, várias famílias carentes tiveram suas vidas alteradas. É que quando o processo de modernização começou, as famílias carentes que habitavam o centro tiveram que ser deslocadas para as periferias da cidade a fim de deixarem o centro da cidade mais atraente 50 Sobre esses dados, ver: TITO FILHO, José de Arimathéa. Governadores do Piauí. 3ª Ed. Artenova, 1978, p. 61 a 63. 51 Dirceu Mendes Arcoverde (15/03/1975 a 14/08/1978). Natural de Amarante – PI. Médico; professor da Faculdade de medicina da Universidade Federal do Piauí; presidente do Instituto de Assistência Hospitalar; presidente da Fundação do Ensino Superior e diretor da Faculdade de Medicina. 52 Sobre esses dados, ver: TITO FILHO, José de Arimathéa. Governadores do Piauí. 3ª Ed. Artenova, 1978, p. 63 a 65. 31 e menos dotado de contradições sociais. Esse foi um dos principais reflexos negativos da modernização da capital. Durante a década de 1970, a medida adotada pela municipalidade com relação aos espaços de construções irregulares tinha dupla finalidade: propunha a implantação do sistema viário para facilitar o tráfego em alguns pontos da cidade, pondo em prática uma série de demolições de barracos, com intuito de desobstruir a passagem para a abertura ou ampliação de avenidas, ao passo que expulsava a população pobre para periferia da cidade.53 As contradições da modernização não paravam por aí. Estas famílias que foram deslocadas para bairros distantes do centro, sofreram com a falta de saneamento básico, iluminação, abastecimento de água, falta de transporte público que atendesse a demanda e, principalmente, falta de segurança e assistência médica adequadas.54 Ou seja, os benefícios da modernização do Estado não chegaram a toda a população piauiense, nem mesmo para a da capital do estado, cidade desta unidade da federação que mais recebeu investimentos financeiros do governo militar para se tornar moderna e atraente. Em Parnaíba, as contradições desta propalada modernização serão discutidas no segundo e terceiro capítulos desta dissertação quando tomo o Jornal Inovação como fonte de pesquisa para perceber como estava a cidade de Parnaíba durante o final dos anos setenta e início dos anos oitenta. Essas mudanças, tanto em aspectos positivos quanto negativos, que se processaram no Piauí e em seus habitantes, se fizeram sentir de maneira diferente em todo o Estado. Um exemplo que podemos citar diz respeito ao movimento estudantil. A juventude piauiense, no final da década de 1970, começou a reivindicar seus direitos. Portanto, uma das características marcantes desta década, e que não pode ser deixada de lado, é justamente os movimentos estudantis (ME)55. Estes movimentos surgiram com grande força no mundo como um todo no 53 MONTE, 2009, p. 230. 54 As contradiçõesdo processo de modernização da capital piauiense foram investigadas e analisadas na dissertação de Regianny Lima Monte. Neste trabalho, a autora aponta os reflexos negativos das transformações ocorridas em Teresina durante os anos 1970. Para maiores informações, ver: MONTE, Regianny Lima. A cidade esquecida: (res) sentimentos e representações dos pobres em Teresina na década de 1970. 2010. 237f. Dissertação (Mestrado em História do Brasil), Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, 2010. 55 Em tese intitulada “Longe demais das capitais? Cultura política, distinção social e Movimento Estudantil no Piauí (1935-1984)”, João Junior faz um estudo criterioso, com extensas fontes, acerca do Movimento Estudantil piauiense. Sua pesquisa começa analisando como o movimento estudantil brasileiro foi representado pela historiografia que se debruçou sobre este tema, passando pela trajetória histórica deste movimento no Piauí, bem como a formação de sua identidade nos anos 1970 e 1980. Para maiores informações, ver: VALE JUNIOR, João Batista. Longe demais das capitais? Cultura política, distinção social e Movimento Estudantil no Piauí (1935- 1984). 2010. 311f. Tese (Doutorado em História Social), Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2010. Em dissertação de mestrado, Ana Sudário, realiza uma pesquisa sobre o movimento estudantil (ME) de Teresina apresentando as ações de jovens que lutaram por seus direitos, criando departamentos (Centros Acadêmicos – 32 final dos anos sessenta, mas no Piauí, segundo o historiador Fonseca Neto, vieram a emergir com mais intensidade apenas no ano de 1979. Movimento Estudantil (ME) é uma expressão que traduz em tempos mais recentes a organização e ação dos estudantes enquanto parcela do povo coletivamente atuante. É um movimento social com caráter de massa, com forte presença na cena brasileira desde meados do século fluente.56 Segundo ainda o historiador Fonseca Neto, as ações estudantis sempre estiveram presentes no Brasil desde os tempos em que este ainda era dependente de Portugal, seja nos movimentos ligados à abolição da escravatura, seja nos movimentos ligados à adoção do regime republicano, ou em outros movimentos sociais. Mas é durante o período ditatorial encabeçado pelos militares que os movimentos estudantis receberão maior destaque devido a sua intensa participação nas lutas e protestos contra o regime militar. Neste contexto, o ME já se encontrava institucionalmente legalizado por conta da “criação da União Nacional dos Estudantes (UNE) em agosto de 1937, como entidade de âmbito federal”.57 Esta foi uma forma de tornar o ME mais organizado e forte no sentido de atuar com mais intensidade nas diversas lutas sociais existentes no Brasil. Aliás, o movimento estudantil já se apresentava como uma instituição eminentemente de caráter político. No Piauí, o movimento estudantil vai se tornar mais atuante após a segunda metade da década de 1970, quando o Estado já se encontrava beneficiado com a implantação da UFPI. Fonseca Neto, ao traçar uma trajetória “evolutiva” do Movimento Estudantil piauiense, descreve como o regime militar soube “castrar” os centros representativos dos estudantes universitários ao criar DS’s (Diretórios Setoriais) que eram apenas “uma representação meramente formal, de pouca importância para os ‘representados’”58, já que estes estavam preocupados mais com a promoção de eventos esportivos e sociais do que estar presente em algum engajamento político ou de luta. Até mesmo o processo eleitoral era um ato meramente formal. Esta pouca participação do ME piauiense está inserido dentro do Cas) que viabilizaram suas representações e reivindicações. As tensões, contradições e conflitos em torno do movimento estudantil teresinense são seus principais focos. Para maiores informações, ver: SUDÁRIO, Ana Rosa Sudário. Falas, imagens, escritos e risos: uma história e memória do movimento estudantil universitário em Teresina (1979-1984). 2008, 183f. Dissertação (Mestrado em História do Brasil), Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2008. Sobre a constituição do movimento estudantil brasileiro enquanto categoria histórica, ver: CAVALCANTE JUNIOR, Idelmar Gomes. Juventude em movimento: um estudo sobre a constituição do Movimento Estudantil como uma categoria histórica. 2007, 136f. Dissertação (Mestrado em História do Brasil), Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2007. 56 FONSECA NETO. Movimento estudantil no Piauí anos 70. In: Cadernos de Teresina, Teresina: FCMC, nº 18, 1994, p. 50-56. 57 FONSECA NETO, 1994, p. 50. 58 FONSECA NETO, 1994, p. 52. 33 contexto de formação da UFPI em Teresina no início da década de 1970, mas que mais tarde, mais precisamente no final desta mesma década, irá dar passos significativos com relação à participação dos mesmos nas questões ligadas ao melhoramento e ampliação do Campus universitário da Universidade Federal do Piauí em Teresina. Em 1979, o clima no país era de supressão das liberdades civis e repressão policial, inclusive nas universidades. Na UFPI, as condições de ensino eram péssimas e a instituição estava dissociada da realidade do Estado, sendo controlada por políticos subservientes à ditadura militar.59 A juventude estudantil da capital piauiense sofria limitações na sua atuação junto ao social por conta das intervenções realizadas pelo governo militar, dessa forma “o Grêmio do Liceu (um dos mais reprimidos pelo regime) foi parcialmente reativado, mas totalmente submetido à Direção, só podia escolher dirigentes pela via indireta”,60 todos os grêmios foram desfigurados, sendo eles transformados em Centros Cívicos, ou seja, mais uma forma de intimidar a luta estudantil. A reviravolta estudantil universitária, com relação à sua participação nas eleições para seus representantes e, por conseguinte ter uma universidade mais livre e democrática ocorreu com maior vigor a partir, segundo Fonseca Neto61, da palestra proferida pelo ex-ministro da Educação Darcy Ribeiro, o qual chegara a pouco tempo do exílio. Além disso, contribuíram também para uma maior mobilização estudantil o GEG (Grupo de Estudos Gerais), o qual foi a primeira organização não-oficial realizada por estudantes da UFPI. Em 1979, a chapa Travessia (chapa oposta à encabeçada pelos representantes do regime oficial) ganhava as eleições para a presidência do DCE (Diretório Central dos Estudantes), o qual deixou de ser um órgão manipulado pelas autoridades ligadas ao governo militar e passou a ser um DCE-livre, dando margem a representações estudantis mais engajadas nas lutas pela melhoria tanto da universidade quanto da sociedade em geral. Ainda neste ano, os estudantes piauienses participaram do congresso de Reconstrução da UNE em Salvador – BA. O Movimento Estudantil piauiense começava a galgar novas vitórias em prol da coletividade, e entre estas temos: congelamento da taxa do RU (Restaurante Universitário); criação de uma imprensa universitária livre de censura; direito à meia passagem etc. 59 FONTENELLE, Sérgio. DCE Livre 30 anos. Teresina: Fundação Quixote, CCOM, 2009, p. 05. 60 FONTENELLE, 2009, p. 53. 61 FONSECA NETO. Depoimento concedido a Sérgio Luiz da Silva Mendes em 02 de junho de 2009. 34 Parecia mesmo que o ano de 1979 estava mexendo com a juventude piauiense, já que a luta pela melhoria das condições de vida, ou seja, as lutas ligadas ao campo do macro62 se travavam nos mais variados lugares, e entre eles podemos citar os filmes produzidos em bitolas domésticas de câmeras Super-8. Os filmes marginais produzidos no início da década de 1970, ligadas às questões comportamentais, às questões do micro, os quais sofriam influência da chamada “geração Torquato Neto”63,
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