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Introdução ao Pensamento Pedagógico Brasileiro Odesenvolvimento do pensamento pedagógico brasileiro é marcado por diversos elementos: elementos presentes em todas a história brasileira, influências históricas no sistema educacional atual, transformações sociais e políticas sofridas ao longo da história, influências de correntes teóricas oriundas de outros países, desenvolvimento e aprimoramento de metodologias e técnicas de investigação social e do avanço do modelo de sociedade sustentado na produção industrial. Por ser fruto de um movimento histórico, o Pensamento Pedagógico Brasileiro se sustenta em alguns elementos: Contextualizar a criação de um sistema educacional em um país que estava iniciando sua trajetória após o “descobrimento” Compreender a evolução do sistema educacional ao longo da história brasileira Compreender as todas as influências sofridas ao longo da história (religiosa, política, econômica, cultural, científica e social) Construir instrumentos que possibilitem a compreensão da educação brasileira atual a partir do mapeamento da história da educação brasileira. A História do Brasil e o Pensamento Pedagógico Brasileiro A história exerce um papel de grande relevância para qualquer análise social, política ou cultural de um país, assim, é impossível dissociar a história brasileira da história do pensamento pedagógico brasileiro. Desde o desenvolvimento da dialética em Hegel no século XIX, analisar o movimento histórico tornou-se essencial para qualquer tipo de tentativa de compreensão dos diversos fenômenos que impactaram a vida humana ao longo da história, e não seria diferente com a educação. O Pensamento Pedagógico Brasileiro atual é derivado de todos os acontecimentos que marcaram a história brasileira, sendo necessário identificar, caracterizar, contextualizar, compreender e analisar de maneira crítica cada um dos acontecimentos que influenciaram no desenvolvimento da educação ao longo da história. Assim, nesta disciplina buscaremos compreender cada momento histórico que faz parte da trajetória do Brasil desde a chegada dos portugueses no ano de 1550, sem descartar que os povos nativos já dispunham de sistemas educacionais que auxiliavam a sua organização social (conforme destacado por Florestan Fernandes na sua brilhante obra Notas sobre a educação na sociedade tupinambá). Períodos da História Brasileira É essencial conhecer e compreender todos os movimentos históricos que impactaram no desenvolvimento do Brasil desde a chegada dos portugueses no ano de 1500, assim, abordaremos cada um dos seguintes momentos da história brasileira (e as suas respectivas relações com o desenvolvimento da educação): Período Colonial (1500 – 1822) – período que compreende a época que o Brasil era uma colônia (portanto sem autonomia) e seguia as normas ditadas por Portugal. Período Imperial (1822 -1889) – período que compreende o hiato entre a independência brasileira e a Proclamação da República. Neste período, o Brasil constituiu uma monarquia independente, entretanto derivada da monarquia portuguesa (uma ramificação da família real portuguesa continuou no comando do Brasil). Período Republicano (1889 – atual) – período que compreende do momento da Proclamação da República até os dias atuais. Período Republicano República Velha Era Vargas República Populista Ditadura militar Nova República Correntes de pensamento que impactaram o desenvolvimento do Pensamento Pedagógico Brasileiro A educação brasileira foi “impactada” por diversas propostas pedagógicas e correntes de pensamento ao longo da sua história, sendo que as principais foram: Educação Jesuíta Iluminismo Positivismo Liberalismo Escola Nova Teoria Crítica da Sociedade – Marxismo Por fim, abordaremos cada um dos objetivos do Pensamento Pedagógico Brasileiro, sendo que os principais são: Compreender a Educação Brasileira em diversos contextos e cenários Compreender a “evolução histórica” da Educação Brasileira Relacionar as heranças históricas com os elementos presentes no cenário educacional atual Identificar as lacunas existentes no sistema educacional atual Apresentar propostas para resolução dos problemas existentes no cenário educacional atual. Atividade extra Assistir o vídeo Diálogo Sem Fronteira - Sociedade, História e Educação no Brasil - Dermeval Saviani Link da Atividade: https://www.youtube.com/watch?v=O1tpIpAOZos https://www.youtube.com/watch?v=O1tpIpAOZos Referência Bibliográfica TERRA, Márcia de Lima Elias (org). História da Educação. Biblioteca Universitaria Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. RAMOS, Fábio Pestana; MORAIS, Marcus Vinícius. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. FLORESTAN, Fernandes: O Brasil de Florestan. Belo Horizonte. Autêntica Editora, 2018. SITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. Educação no Período Colonial Brasil Colônia Em 22 de abril de 1500 o Brasil foi descoberto pelo navegador português Pedro Álvares Cabral. Não. Não foi em 22 de abril de 1500. Foi antes, em duas hipóteses, pelo menos: 1498, pelo português Duarte Pacheco Pereira. Ou, em janeiro de 1500, pelo espanhol Vicente Yañez Pinzón (mais bem documentada do que a de Duarte Pereira). E por que estudamos essa história de Cabral? Porque, na época, tanto Pacheco quanto Pinzón estavam testando os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas, de 1494, assinado por Portugal e Espanha, dividindo entre si as terras descobertas e a descobrir. Ambos queriam saber de que terras o “outro lado” iria tomar posse. Coisas da geopolítica renascentista – que era extremamente competitiva. Cabral tomou posse oficialmente. E isso foi de extrema importância, pois a partir daí Portugal poderia explorar as riquezas das terras tomadas, sem contestação de qualquer outro Estado europeu (ainda que alguns, com o passar do tempo, tentassem pegar algum pedaço de Brasil para outras coroas, como fizeram os holandeses). Não, Pedro Álvares Cabral não era um navegador, no sentido estrito do termo (alguém que sabe pilotar um navio); era um chefe militar, da mais alta confiança do rei. Quem guiou os navios de sua frota foram, esses sim, navegadores de altas competência, qualidade e experiência: Bartolomeu Dias, Diogo Dias e Nicolau Coelho. Não, o que foi descoberto em 1500 não foi o Brasil, mas a Ilha de Vera Cruz. Renomeada, posteriormente, como Terra de Santa Cruz. Também foram registradas as “opções” Terra dos Papagaios (1501) e Terra do Brasil (1505); e o nome Brasil, embora já conhecido como sendo o da árvore que era usada para produzir tintura vermelha (o pau-brasil), só apareceu para nomear esta nossa terra em 1527. Terra, aliás, que já tinha nome: para os indígenas da nação tupi, era Pindorama (algo como Terra das Palmeiras). E, não nos iludamos: não tínhamos, a princípio, importância maior para a metrópole portuguesa. Bons, mesmo, eram os caminhos da Ásia (Índia, China, Japão e outros territórios do sudeste asiático), uma vez que rendiam enormes lucros (lembra-se dos tais comércios de especiarias? Pois, era isso). Somente depois que ficou claro que, com um pouco mais de desleixo, Portugal teria perdido todo esse território para, em primeiro lugar, a França. Então, com a primeira em 1530, começaram as patrulhas costeiras, a fim de tentar manter a soberania lusitana por aqui. E, no decorrer de todo um processo, agora sim, colonizador, foram sendo construídos fortes, povoados e entrepostos (nos quais eram armazenadas as toras de pau- brasil, aguardando o transporte para a Europa). Alguma coisa, entretanto, não estava funcionando: como trazer os nativos para a esfera de influência do reino português? Aí,a partir de 1549, eles entraram em cena: os jesuítas. Ordem Jesuíta O nome oficial da ordem jesuíta é Companhia de Jesus. Não companhia no sentido de ser companheiro, estar próximo; a companhia, nesse caso, está no sentido militar do termo, como quando se fala em Companhia Motorizada ou Companhia de Artilharia. A razão está no fato de que seu fundador, Ignácio de Loyola, era um nobre – ou seja, alguém que se preparou a vida toda para a guerra. Todavia, gravemente ferido em batalha, precisou retirar-se do cenário bélico e dar um outro rumo à vida. Foi então que, lendo a respeito das vidas dos santos católicos, decidiu-se pela vida religiosa. Com mais meia dúzia de seguidores, fundou a Companhia de Jesus em 1534 e o Papa Paulo III, em 1540, deu a autorização da Igreja para que a Ordem funcionasse. Estávamos em pleno processo de Contrarreforma e uma Ordem como a jesuítica vinha muito a calhar. Contrarreforma? Sim, foi a resposta de Roma à Reforma Protestante, iniciada pelo (ex) monge agostiniano Martinho Lutero, em Württemberg (hoje na Alemanha), em 1517. O catolicismo precisava de uma força extra e contar com uma organização com características fortemente guerreiras pareceu uma boa ideia. Os jesuítas, autodenominados “soldados de Cristo”, colocavam-se como disseminadores dos princípios cristãos; suas duas maiores atividades eram a catequese e a educação. Por essa razão, numa Europa que se expandia em imensos impérios coloniais, era grande a necessidade de missionários. Atenção, entretanto: não se trata de mero fervor religioso. Na verdade, é uma questão cultural. Estávamos em uma época de estreita ligação Estado-Igreja. Assim, em lugar de se forçar uma organização política, dentro da qual um povo deveria aceitar a existência de um rei ou imperador que se localizava do outro lado do Mundo; soberano este que não dispunha de forças armadas suficientes para fazer sentir seu poder a todos os seus súditos. Seria, então, muito mais fácil e seguro demonstrar que o remoto monarca estava intimamente ligado a um Deus que, esse sim, era onipresente (e, precisando, onisciente e onipotente). E, obviamente, para a Igreja, angariar mais almas para sua fé era, nada mais nada menos que sua função na Terra (e nem estou falando que ter poder terreno também não seria algo a se desprezar). Eis a imensa importância dessa união entre o Rei e Deus. Foi (e tem sido) assim nos Impérios Coloniais. Não foi diferente no Brasil. Catequese e Educação Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, com Tomé de Souza, primeiro Governador Geral. Eram seis, liderados pelo Padre Manoel da Nóbrega. Apesar dos esforços dos portugueses, não havia jeito de se fazerem entender pelos nativos, tirando aquelas pequenas comunicações cotidianas; nada que sustentasse um discurso. E Portugal tinha um invejável corpo de intérpretes (o negócio das Grandes Navegações era levado muito a sério pelos lusos). Durante alguns anos tentaram os jesuítas de Nóbrega, sem resultado. Então, este dirigiu um pedido a seus superiores, pedindo um linguista. Foi assim que, em 1553 chegou ao país o jovem José de Anchieta. Estruturou a língua tupi nos moldes do latim – e conseguiu produzir uma gramática geral do idioma e um dicionário tupi-português. Os jesuítas também eram famosos por seus processos catequéticos bastante eficientes. Como funcionava isso? Vejamos o caso do Brasil: observaram que os índios utilizavam, tanto em suas festas quanto em seus rituais religiosos, teatro e música, com decoração muito colorida, com flores, penas e tinturas vegetais. Que fizeram os padres? Teatro, música, cenografia muito colorida, com flores, penas e tinturas vegetais! Essas peças constituem o que se chama de “teatro catequético”, teatro com finalidade de converter à fé católica. Eram momentos de grande festa, música, cantoria, a história sendo desenvolvida, com a presença de anjos, santos e... demônios! Sim, o Mal tinha que estar presente, para demonstrar como ele deveria e poderia ser derrotado. O texto era em português e/ou espanhol (os dois idiomas não eram tão diferentes à época), com citações bíblicas no obrigatório latim e falas de demônios em tupi. Não, nada de preconceito. As falas demoníacas diziam, em geral, que estavam prontos para pegar os que se afastassem dos ensinamentos dos padres e levar para o inferno (versão tupi). O Deus cristão não precisava ser chamado de Jeová. Num primeiro momento, o nome mais fácil, para que se entendesse de quem se estava falando, era Tupã, divindade suprema tupi. E a catequese não funcionava apenas para converter nativos; também era importante fazer com que os europeus e descendentes permanecessem cristãos. Vejamos com cuidado: um branco se encontrava, de repente, num lugar muito quente, com rios em abundância, nos quais os locais se banhavam várias vezes por dia; logo passavam a usar pouca roupa e a andar descalços (muito mais prático do que usar as botas ruins que tinham); o sexo era muito presente, sem nenhum padre para controlar (ou insuficientes para uma vigilância mais efetiva). A catequese era, sim, algo necessário, pela vontade de Deus... e a tranquilidade del Rey! Legado Jesuíta Os jesuítas vieram para cá dentro do contexto da colonização. O Superior Geral da Companhia de Jesus, lá na Europa, era tão poderoso que era chamado de “Papa Negro” (pela cor de suas vestes). E isso, obviamente, envolve poder político – não sem conflitos. Os padres estavam aqui no Brasil, sim, para colaborar com o projeto colonial; entretanto, não eram funcionários da coroa portuguesa, não deviam obediência a ela, mas à Igreja. Por essa razão, começaram os conflitos, em especial pela interferência dos religiosos na política de escravização de indígenas, base da economia de exploração. As animosidades cresceram com o tempo: se na segunda metade do século 16, no primeiro momento de uma colonização de maior abrangência, o trabalho catequético fosse extremamente bem vindo, ao longo do século 17 as relações começam a se deteriorar, uma vez que os conflitos cotidianos envolviam, por exemplo, o acolhimento de indígenas fugitivos nos aldeamentos jesuíticos chamados missões (na área de colonização espanhola eram as reducciones) – e as missões, utilizando trabalho colaborativo indígena, em lugar do trabalho escravo das propriedades comuns, acabavam por se tornarem mais prósperas; levando os desentendimentos, no clímax, à expulsão dos jesuítas de todo território português, por ordem do Marquês de Pombal, Secretário de Estado do rei D. José I, em 1759. Toda essa situação implicou um profundo impacto na educação em todo o império português, seja na Metrópole, seja nas colônias. Mas, esse é um assunto que veremos em outro momento. Por hora, basta nos lembrarmos de que, com o passar do tempo, as diferenças cessaram, os jesuítas acabaram por ser admitidos novamente por aqui, onde são referência no ensino de alta qualidade. Atividade extra Nome da atividade: A Missão, de Roland Joffé Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=Itx- 7uMy3zc Referência Bibliográfica FERREIRA JÚNIOR, A. Apresentação. Em Aberto. v.21, n. 78 Brasília: 2007.p.7-10. FERREIRA JÚNIOR, A.; BITTAR, M. Casas de bê-á-bá e colégios jesuíticos no Brasil do século 16. Em aberto.v. 21, n. 78. Brasília: 2007. p. 33-58. PAIVA, J. M. Educação jesuítica no Brasil colonial. In: LOPES, E.M.T.; FARIA FILHO, L. M.; VEIGA, C. G. (Org.). 500 anos de educação no Brasil. 2° ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 43-60. VEIGA, C. G. História da educação. São Paulo: Ática, 2007. https://www.youtube.com/watch?v=Itx-7uMy3zc https://www.youtube.com/watch?v=Itx-7uMy3zc Influências do Renascimento e do Iluminismo Renascimento(s) Acostumamo-nos a chamar esse determinado período histórico no singular, cobrindo um espaçode tempo que engloba os séculos 15 e 16 e que se estendeu pela Europa Ocidental. Em nome do rigor científico – a que essa época mostrou-se tão cara – vamos estabelecer a verdade histórica. Na verdade tivemos mais de uma forma de Renascimento, em períodos e lugares diferentes. Suas primeiras manifestações, que abriram o campo para a isntalação do movimento ckmo um todo, começaram a acontecer no século anterior, sob o nome de Humanismo. Seu berço, como ocorrerá com a Renascença propriamente dita, foi a Península Itálica. Desde o século 13 diversas comunidades da Península mostraram que entendiam muito bem de comércio, indo buscar nos confins da Ásia o que faltava aos europeus, particularmente as famosas especiarias (como o cravo-da-índia, a canela- da-china, a noz-moscada etc.), que não eram encaradas como temperos (tal como fazemos hoje), mas como importantíssimos conservantes – o que garantia o abastecimento para os meses de inverno. Evidentemente essas mercadorias já eram conhecidas desde a Antiguidade e, de alguma forma, chegavam à despensa e à mesa de europeus. O que vai, paulatinamente, se modificando é o aspecto profissional desse comércio, com abastecimento regular e melhor distribuição, facilitando as coisas para todos. Os bons resultados dessas empreitadas comerciais, realizadas por uma burguesia ascendente já vinham acontecendo há tempos, o que propicia uma atividade intelectual mais elevada, própria de quem não está pressionado pela sobrevivência. É, então que surgem Petrarcca, Dante, Bocaccio e outros, escritores num primeiro momento, que vão colocando as questões humanas no centro do pensamento – coisa que não acontecia desde a civilização greco-romana: essa a gênese do Humanismo. E é aí que reside a causa principal do Renascimento, essa prosperidade econômica, a princípio na Península Itálica, depois em toda a Europa Ocidental. Em 1453 o último polo de resistência cristã na Ásia, Constantinopla, cai nas mãos dos turcos, que fecham os caminhos do Oriente. Donos de seculares rotas de comércio, os italianos (observação: o termo italianos, bem como a Itália, não existiam; chamo-os assim para termos uma localização tradicional em mente), sem penetrar no outro continente, souberam como manter contatos importantes e garantiram para si o monopólio comercial com os asiáricos. Como toda a Europa precisava dos produtos importados, isso significou montanhas de dinheiro entrando na Itália. Foi assim que o Humanismo teve “caixa” para fazer renascer a cultura greco-romana, enterrando a Idade Média. A valorização do Homem e da natureza passou a ocupar o lugar do divino e do sobrenatural da Idade Média; a essa oposição chamamos antropocentrismo X teocentrismo (a partir dos termos gregos Ântropos = Homem e Theo = Deus). Isso permitiu a ressurreição dos conceitos e técnicas artísticos baseados na arte greco- romana; entraram em cena a racionalidade e o rigor científico. Daí Michelangelo, Rafael, Donatello, Botticelli e, claro, Leonardo – que encarna a ideia do Universalismo: o Homem deve desenvolver ao máximo seus potenciais. As principais nações européias buscaram mudanças em seus rumos, de modo a livrá-las da dependência dos italianos e, ao mesmo tempo, que as fizessem prosperar. Assim, acontecem o Grandes Descobrimentos espanhóis e portugueses (século 15); a Reforma Protestante (século 16) entre alemães, flamengos e holandeses (que vai abrir caminho, num outro momento, para o surgimento do Capitalismo); e começam-se a construir os impérios coloniais de ingleses e franceses (séculos 16 e 17). Como dito no início, momentos diversos, locais diversos, causas diversas. Tudo isso se traduz em muita riqueza nova, com notável desenvolvimento no campo das artes, da literatura e das ciências, superando a herança clássica (Grécia e Roma). Renascença e Educação Uma marca importante do Renascimento foi a reforma no modo de pensar o ensino. Enquanto a Idade Média, na tradição escolástica das universidades medievais, focava sua atenção na formação de profissionais, como médicos, juristas e teólogos (os doutores) a educação renascentista buscou voltar-se para a prática, com estudos pré-profissionais, pretendendo chegar no tal Universalismo, acima mencionado. Entendendo o ser humano como dotado de infinita capacidade intelectual, buscar o conhecimento era essencial para o desenvolvimento dessa imensa capacidade. Assim, com base numa sólida formação humanista, o Homem Renascentista estaria apto tanto a escrever e falar com eloquência e sabedoria, quanto dominar artes e ciências. Estamos falando de alguém que tanto poderia ser um dirigente público, quanto um professor, um artista ou um botânico. Para atingir tão ambiciosos ideais, concentravam-se nos Studia humanitatis (que estão na origem do que hoje conhecemos como Humanidades), que tomavam emprestado ao medieval Trivium (trio das artes liberais: gramática, retórica e lógica). Desse extraíam a lógica e somavam filosofia, idioma grego e poesia, esta alçada a condição de disciplina mais importante – e essa última informação nos dá uma boa ideia acerca da abrangência e profundidade desses Studia humanitatis. Isso vai levar a uma reforma no ensino universitário; porém, mais importante, é a criação de colégios, os quais ofereciam estudos preparatórios do que se desenvolveria na Academia. Apenas para registro, alguns desses importantes colégios foram: Deventer na Holanda, São Paulo de Londres, Corpus Christi College em Oxford, o Colégio de Louvéne (cujo ensino era trilíngue: latim, grego e hebraico), o Collège de France, o Real Colégio das Artes e Humanidades em Coimbra, Colégio de Guyenne em Bordeaux e Colégio de Santa Bárbara em Paris. Nunca será demais lembrar, para além do que foi dito aqui, da importância da invenção, por Johannes Gutemberg, da prensa de tipos móveis, por volta de 1455. Isso deu um incrível estímulo à divulgação do conhecimento, a princípio em toda a Europa e, depois, no Mundo. Mencionemos, a título de ilustração, que Leon Battista Alberti escreveu, entre 1437 e 1441, uma Grammatica della língua toscana, para demonstrar que o toscano (base do atual italiano) tinha tanta estrutura (e importância, como ciência) quanto o latim. Foi a primeira gramática de língua românica (ou seja, derivada do latim). E, entre 1437 e 1586, foram escritas gramáticas de francês, português, espanhol, holandês, alemão e inglês. As primeiras! E que, com o advento da prensa de Gutemberg, puderam ser copiadas e distribuídas muito mais fácil e rapidamente, além de terem preços muito mais acessíveis. Século das Luzes Quase como consequência lógica do Renascimento, o século 18 viu surgir um ideário que se estendeu por praticamente toda a Europa e suas colônias: era o Século das Luzes (ou Iluminismo, Enlightenment, Lumières, Aufklärung e Ilustración – em português/italiano, inglês, francês, alemão e castelhano, respectivamente). Para buscar uma definição, vamos recorrer a um dos maiores nomes do período, Immanuel Kant, ao responder, exatamente, à questão “o que é o Iluminismo?” “O Iluminismo significa o abandono pelo Homem, de una infância mental da qual ele mesmo é culpado. Infância é a incapacidade de usar a própria razão sem a condução de outra pessoa. Esta infantilidade é culpável quando sua causa não é a falta de inteligência, mas a falta de decisão ou de valor para pensar sem ajuda alheia. Sapere aude (Atreva-se a saber!). Eis aqui o lema do Iluminismo”. Embora apontado como um fenômeno do século 18, admitamos que a Revolução Científica, umbilicalmente ligada à Renascença, possa guardar as raízes das Luzes. Notemos que, em favor dessa tese, importantes nomes da ciência, como Galileu, Newton, Bacon e Descartes foram bastante atuantes no século 17. Da mesma forma, propostas como o a arte neoclássica e o liberalismoeconômico, ambas do século 19, são decorrência natural do Iluminismo. Com a grande comunicação de ideias científicas, proporcionada pela prensa, os reflexos de sua produção logo se fizeram sentir na vida cotidiana – fenômeno que costumamos chamar de Primeira Revolução Industrial. Avanços científicos e prosperidade econômica fazem fervilhar as ideias. São desse período, além do já citado Kant, o Dicionário Filosófico, de Voltaire; O contrato social, de Rousseau; A riqueza das nações, de Adam Smith; O espírito das leis, de Montesquieu. Culminando essa produção está a Enciclopedia, de Diderot e D’Alembert. E ideias que não interferem na realidade são vazias: fruto dessa expansão do pensamento são a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa... e a Inconfidência Mineira. Ciência como norma O pensamento iluminista marca o auge do racionalismo que tem sua origem na antiga Grécia. E, com ele, a ideia de que, de posse do conhecimento o Homem pode dominar o Mundo. Esse princípio está na base da cultura capitalista – afinal, se eu não souber o que é isso (planta, minério, bicho etc.), como vou explorar economicamente? Para isso valoriza-se o ensino em todos os níveis. Também é o campo de domínio da ideia burguesa de que o Homem pode contruir a si mesmo – é a ideia do self made man (homem feito por si mesmo). E, de fato, embora haja notícias de pessoas que, dotadas somente de tino comercial, por exempo, ficam milionárias; são casos isolados, porém. O mais correto é permitir às pessoas o desenvolvimento de seus talentos naturais em instituções de ensino adequadas. Dentre as principais características do Iluminismo e que vão aparecer no campo do ensino, podemos destacar a razão, que será a responsável pela aquisição de conhecimento; a investigação, o questionamento, para incrementar o conhecimento da sociedade como um todo, incluindo política, economia e ciências que começavam a se desenvolver; a postura crítica diante do absolutismo monárquico e das vantagens injustas da nobreza e da igreja; a defesa da liberdade e da igualdade de todos perante a lei. Desses princípios surge, em 1787, na Prússia (hoje Alemanha) de Frederico II, a escola pública e obrigatória para todas as crianças de cinco a catorze anos. Os bons resultados fizeram com que outros países, como Inglaterra e França imitassem a iniciativa. Pode-se dizer que esse foi o início de uma das mais importantes revoluções no campo da Educação em todos os tempos. Para nós, brasileiros, o Iluminismo surge com a figura do primeiro-ministro português, Marquês de Pombal. Em 1759, concordando com a retirada da Igreja do campo da educação, expulsou a Ordem Jesuíta do território português. Porém, o tiro saiu pela culatra: de imediato, cerca de 20 mil jovens viram-se privados do ensino – e o Estado não tinha condições de provê-lo de uma hora para outra. A instrução superior (Universidade de Coimbra à frente) foi reestruturada e teve melhorias, embora o número de alunos caísse bastante, pois as escolas de acesso eram jesuítas e foram fechadas. No mesmo ano da expulsão, 1759, foi criada a Aula de Comércio, o primeiro curso com matiz técnico-profissional a ensinar Contabilidade no Mundo. Na tentativa de substituir o ensino jesuíta, foram criadas as Aulas Régias, ensino público e laico, como o restante da Europa vinha fazendo, com aulas de Gramática Latina, Grego e Retórica. Mais tarde, em 1770, entraram no currículo Filosofia Moral e Racional, Economia Política, Desenho e Figura, Língua Inglesa e Língua Francesa. O plano é bom; porém, a escassez de instalações e professores o torna quase letra morta. Atividade extra Documentário: Galileu Galilei - Gênios da Ciência(Legendado) Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=mLQ6ptlofGs https://www.youtube.com/watch?v=mLQ6ptlofGs Referência Bibliográfica AZEVEDO, F. de. A cultura brasileira. 4. Ed. Brasília: Ed. Da UnB, 1963. GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. GONÇALVES, N. G. Constituição histórica da educação no Brasil. 1. Ed. Curitiba: 2012 HAUSER, Arnold. História Social da literatura e da arte. São Paulo: Mestre Jou, 1982, Vols.2. VEIGA, C. G. História da educação. São Paulo: Ática, 2007. WÖLFFLIN, Heinrich. Conceitos fundamentais da história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1984 Reformas Pombalinas As reformas pombalinas iniciaram um novo momento na educação brasileira, tendo em vista que possibilitaram o início da ruptura com os modelos educacionais marcados pelo domínio da religiosidade na vida social dos indivíduos. No caso brasileiro, é necessário destacar que por ser colônia de Portugal as decisões de mudanças na organização do sistema educacional eram tomadas pela metrópole, assim, perceberemos que as reformas pombalinas tinham como objetivo reformar o sistema educacional de todo reino português, incluindo o Estado Português e os seus territórios no mundo. As reformas pombalinas receberam este nome por conta de terem sido lideradas por Marquês de Pombal, que foi um ilustre nobre e político português do século XVIII. Destaca-se que Marquês de Pombal era o título de nobreza de Sebastião José de Carvalho e Melo, que foi: Primeiro-Ministro / Secretário de Estado do Reino de Portugal (1750 – 1777) Defensor do movimento iluminista em Portugal Idealizador e responsável pela implementação de Reformas Iluministas no Reino de Portugal, sendo que as reformas propostas pelo Marquês de Pombal atingiram diversas áreas da sociedade, inclusive a área educacional. As propostas apresentadas pelo Marquês de Pombal pregavam a ruptura com a estrutura arcaica que marcava o Reino de Portugal, buscando atingir elementos já presentes em outros países da Europa (que eram marcados pela modernização). Uma das medidas adotadas pelo Reino Português foi a criação de mecanismos que permitissem o controle da educação pelo Estado, afastando os grupos religiosos do controle educacional em todos os territórios sob o controle português da época. Assim, os Jesuítas, que mantinham um certo controle sobre o sistema educacional da época, foram expulsos de todos os territórios portugueses no mundo. No ano de 1759 os jesuítas foram expulsos de todos os territórios do Reino de Portugal, sendo necessário destacar que o Reino português teve conflitos históricos com a Companhia de Jesus – os jesuítas e os portugueses sempre tiveram objetivos divergentes nas colônias – inclusive no Brasil, tendo em vista que o poder dos jesuítas sempre incomodou os portugueses nas colônias, principalmente na atuação na Educação. Com a mudança de paradigma, e com o avanço do iluminismo e da ciência moderna, o controle do sistema educacional passou a ser visto como fundamental para o Estado Português, portanto, não era mais interessante que as ordens religiosas mantivessem seu domínio sobre o sistema educacional em qualquer território do Reino Português. Conforme já apresentado, as reformas pombalinas se sustentaram em um conjunto de medidas de ordem política e social, visando romper com o passado arcaico que marcou a Europa nos séculos anteriores. Assim, as Reformas Pombalinas extrapolaram o ambiente educacional, moldando as bases para uma nova organização política no Reino Português. Dentre os elementos de reorganização do domínio português no Brasil, que edificaram as Reformas Política, Educacional e Social, podemos destacar: A extinção das capitanias hereditárias, e o domínio do Estado sobre todas as terras; A elevação do Brasil a vice-reino de Portugal, que buscou edificar uma estrutura política moderna no Brasil, permitindo inclusive atividades econômicas que antes eram proibidas; A conversão do Rio de Janeiro como nova capital da colônia – em substituição a Salvador; A expulsãodos jesuítas e a consequente a criação de um modelo educacional público controlado por normas do Estado; A escola passou a ser organizada para satisfazer os interesses do Estado (interesses políticos, comerciais e sociais); Instituição de aulas voltadas para atividades profissionais, como, por exemplo a implementação das aulas de comércio; Instituição de aulas de gramática latina, de grego e de retórica e realização de concurso para escolha de professores para ministrarem as aulas régias. Em uma perspectiva histórica, as reformas pombalinas deixaram diversas marcas e herança para a Educação Contemporânea, dentre elas podemos destacar: A introdução do pensamento de “Ensino Laico no Brasil”, sob o comando do Estado. A implementação de ideais iluministas, que sustentaram diversos movimentos de independência no continente americano (inclusive no Brasil). Dificuldade na implementação das políticas públicas de educação adotadas nas Reformas Pombalinas, gerando um ambiente de desorganização no cenário educacional. Apenas em 1776 foi implementado um sistema educacional sistematizado sob o comando do Estado. Atividade extra Leitura do texto A educação brasileira no período pombalino: uma análise histórica das reformas pombalinas do ensino disponível no link https://www.scielo.br/j/ep/a/7bgbrBdvs3tHHHFg36c6Z9B/?lang=pt Referência Bibliográfica TERRA, Márcia de Lima Elias (org). História da Educação. Biblioteca Universitaria Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. https://www.scielo.br/j/ep/a/7bgbrBdvs3tHHHFg36c6Z9B/?lang=pt RAMOS, Fábio Pestana; MORAIS, Marcus Vinícius. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. FLORESTAN, Fernandes. O Brasil de Florestan. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. SITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. Educação no Período Imperial Ahistória brasileira é marcada por diversos momentos distintos, mas que representam a perpetuação de um modo de vida e uma forma similar de organização política. A independência brasileira de 1822 ficou marcada como um processo de continuidade das relações sociais, econômicas e, de certa forma, políticas do período colonial brasileiro, tendo em vista que após tornar-se independente de Portugal o Brasil continuou sendo governado pela mesma família real da qual tinha se separado. Em 1822 o Brasil torna- se uma monarquia independente, mas continua a ser uma monarquia – fato atípico para os processos de independência das colônias europeias no mundo, destacando que o Brasil foi um país escravocrata em grande parte do Período Imperial. Período do Brasil Império (1822 -1889) É importante destacar que após a chegada da Família Real, em 1808, o Brasil apresentou um desenvolvimento cultural considerável, mas o direito à educação permanecia restrito a alguns grupos sociais. Assim, o objetivo fundamental da educação no Período Imperial era a formação das classes dirigentes. O primeiro método de ensino no Brasil Império foi o Método Lancaster ou “ensino mútuo” (1823) que se sustentava em processo de “monitoria, ou seja, após passar por um treinamento, um aluno ficaria responsável por “ensinar” um grupo de cerca de dez alunos, diminuindo, portanto, a necessidade de um número maior de professores (grande lacuna do sistema educacional daquele período histórico). Destaca-se que, o ensino superior era a preocupação exclusiva do Império, em detrimento de outros níveis de ensino e a educação tinha um caráter classista, ficando a classe pobre relegada a segundo plano, enquanto a classe dominante expandia cada vez mais seus privilégios. Constituição do Brasil Império - 1824 Logo após a independência brasileira, no dia 07 de setembro de 1822, buscou-se elaborar um conjunto de normas legais que atendesse às novas necessidades do Brasil enquanto nação soberana, assim, foi outorgada a primeira Constituição Brasileira em 1824 pelo Imperador D. Pedro I. No âmbito educacional, a Constituição Brasileira de 1824 garantia apenas em seu Art. 179 “a instrução primária e gratuita a todos os cidadãos”. Seria um princípio de abertura republicana no cenário educacional brasileiro (com uma educação pública, laica, gratuita para todos)? No Art. 06 da Carta Magna não deixou dúvidas sobre quem estaria excluído do acesso educacional: Art. 6. São Cidadãos Brasileiros I. Os que no Brasil tiverem nascido, quer sejam ingênuos, ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua nação. Assim, a Carta Magna não garantia a todos os brasileiros o acesso à educação primária, posto que os negros e escravos alforriados não eram considerados cidadãos naquela época. Lei Educacional do Brasil Império – 1827 Logo após a outorga da Constituição de 1824 iniciaram-se os debates sobre a necessidade de uma legislação educacional que desse conta das demandas da educação brasileira, tendo em vista que os códigos legais que vigoravam no Brasil eram originários das reformas pombalinas, ou seja, ainda eram traços do período colonial brasileiro. A primeira grande Lei Educacional do Brasil foi outorgada em 1827, e tal legislação determinava que nas “escolas de primeiras letras” do Império os homens e as mulheres estudassem separados e tivessem currículos diferentes, por exemplo: Em matemática, as mulheres tinham menos lições do que os homens. Enquanto eles aprendem adição, subtração, multiplicação, divisão, números decimais, frações, proporções e geometria, elas não podiam ver nada além das quatro operações básicas. Nas aulas de português e religião, por outro lado, o conteúdo era o mesmo para homens e mulheres. Entretanto, é necessário ressaltar que a Lei Educacional do Brasil de 1827 tratou dos mais diversos assuntos, como os elementos vinculados à(ao): Descentralização do ensino Remuneração dos professores Ensino mútuo Currículo mínimo Exame de admissão de professores Escolas das meninas. Portanto, percebemos que diversos elementos presentes no cenário educacional atual possuem raízes no sistema educacional proposto na primeira legislação educacional do período imperial brasileiro, destacando a relação dos seguintes elementos Atividade extra Assistir o vídeo “No Império chega o Ensino Secundário” Link da Atividade: https://www.youtube.com/watch?v=mNMvgOHkDPA https://www.youtube.com/watch?v=mNMvgOHkDPA Referência Bibliográfica TERRA, Márcia de Lima Elias (org). História da Educação. Biblioteca Universitaria Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. RAMOS, Fábio Pestana; MORAIS, Marcus Vinícius. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. FLORESTAN, Fernandes: O Brasil de Florestan. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. SITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. Movimentos Liberais e Positivismo na Educação Brasileira OLiberalismo e o Positivismo impactaram de maneira significativa o processo de formação educacional em todo o mundo, e não seria diferente que tais impactos ocorressem no Brasil. Os movimentos liberais são característicos de processos de ruptura com amarras do passado absolutista, tanto nas esferas política e econômica como na concepção de liberdades individuais e coletivas. A visão liberal de mundo consiste em enxergar que todos os seres humanos são dotados de capacidades para o trabalho e intelectuais e que todos possuem direitos naturais. Neste cenário, diversos processos políticos ao longo da história resultaram de movimentos liberais, como, por exemplo, Revoluções Inglesas: Puritana (1640) e Gloriosa (1688) – revoluções que resultaram na queda do regime absolutista na Inglaterra e ascensão da Monarquia Constitucional (separaçãode Reinado e Governo). Foi essencial para o desenvolvimento das bases que edificaram a revolução industrial e o desenvolvimento do capitalismo. Revolução Francesa (1789) – movimento liberal que derrubou a monarquia absolutista na França, dando início a um conjunto de reformas políticas que edificaram o modelo atual de Estado. Foi justamente neste contexto que Educação Liberal desenvolveu as suas primeiras bases. Marquês de Condorcet (1743-1794) idealizou um modelo de escola que fosse sustentada em igualdade de acesso ao sistema educacional para homens e mulheres, liberdade de pensamento e de convicções e ensino Laico. O modelo idealizado por Marquês de Condorcet ficou conhecido como Educação Liberal. Independência dos Estados Unidos da América (1776) – fato que marcou o início da queda dos sistemas colônias na América, sendo que a Independência dos EUA influenciou o desenvolvimento de movimentos liberais em todo o continente americano. Revolução do Porto (1820) – revolução liberal que não aceitava as determinações do poder monárquico de Portugal a partir do Brasil. Proporcionou o desenvolvimento de ideais que resultaram no enfraquecimento da monarquia portuguesa. Valores do Liberalismo: Liberdade de todos os indivíduos de ações, pensamentos e convicções. Igualdade plena entre todos os indivíduos Garantia plena dos Direitos Individuais (direitos políticos, direitos sociais, direitos civis e direitos humanos) Pedagogia Liberal: percepção liberal de que a escola tem a função de preparar os indivíduos para desempenhar papéis sociais, baseadas nas aptidões individuais. Positivismo e Ciência Moderna A Ciência Moderna é sustentada na articulação da observação, experimentação e instrumentos técnicos, já o Positivismo sustenta-se na concepção de que a explicação de todos os fenômenos deve partir do conhecimento científico, refutando qualquer explicação metafísica, sendo que o principal idealizador do positivismo foi Auguste Comte (1798 – 1857) – principal pensador do Positivismo no Século XIX e idealizador do lema Ordem e Progresso, que inclusive foi incorporado à bandeira brasileira após a Proclamação da República. Na Escola Positivista os estudos científicos terão plena prioridade sobre os estudos literários e a educação terá por objetivo principal promover o altruísmo e repreender o egoísmo. Positivismo no Brasil – Proclamação da República de 1889 As ideias positivistas começaram a prosperar no Brasil na segunda metade do século XIX, levando inclusive ao fortalecimento dos movimentos republicanos, que pregavam o fim da monarquia e a implementação imediata da República. O pensamento positivista era de que se a monarquia era a forma de governo própria do estado teológico, o estado positivo ‘pacífico e industrial’ deveria ser republicano e tecnocrata. Assim, o Brasil fortaleceu, ao mesmo tempo, o seu sistema embrionário de produção industrial e os movimentos pela Proclamação da República. Liberalismo no Brasil Se o liberalismo é concebido como sinônimo de liberdade e de descentralização política, não podemos falar de liberalismo no Brasil antes da Proclamação da República em 1889. A Proclamação da República foi o ponto de partida para as reformas liberais que atingiram a educação brasileira no final do século XIX e início do século XX. Atividade extra Assistir o vídeo “Educação pra que? – A Escola Prussiana” Link da Atividade: https://www.youtube.com/watch?v=my5BFpVxZXY&t=10s Referência Bibliográfica TERRA, Márcia de Lima Elias (org). História da Educação. Biblioteca Universitária Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. RAMOS, Fábio Pestana; MORAIS, Marcus Vinícius. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. FLORESTAN, Fernandes: O Brasil de Florestan. Belo Horizonte:Autêntica Editora, 2018. SITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. A República Velha e a Educação Brasileira https://www.youtube.com/watch?v=my5BFpVxZXY&t=10s República: teoria e prática Em 15 de Novembro de 1889 o Brasil deixou de ser uma Monarquia constitucional e passou a ser uma República. Embora isso pareça estar de acordo com os mais evidentes avanços políticos do final do século 19 (afinal, a ideia de República pareceria ser bem mais moderna que a de Monarquia), a coisa não foi bem assim. Entretanto, como é o caso de nossa História, já nem há espanto possível. A frase de D. João VI, dita ao filho, Pedro de Alcântara (depois, Pedro I) soa como uma maldição: “se o Brasil tiver que se tornar independente de Portugal, que seja tu quem o faça”. Em nosso país, de tempos em tempos, é preciso um gesto revolucionário para que as coisas fiquem como sempre. E o mesmo ocorreu, obviamente, com a dita Proclamação da República. Seria motivo de anedota o fato de o Marechal Deodoro da Fonseca, que proclamou a República, ser monarquista, além de amigo do imperador, D. Pedro II. Pena que seja verdade – e que não tenha a menor graça. A República, para nós, veio como uma reação da classe dominante – importante: NUNCA confundir “classe dominante” com “governo”; este é deferência daquela – ao fim da escravatura. Deodoro não queria, o povo nem sabia o que estava acontecendo, a família real fora pega de surpresa. E, embora os ideais republicanos sejam da mais alta qualidade, e estivessem presentes nas intenções de parte dos revoltosos, esses ideais não eram o pensamento dominante para a maior parte da oficialidade ou do poder econômico. Afinal, do modelo republicano derivariam ideias como democracia, voto direto e secreto, educação laica e para todos, estado laico, tripartição efetiva dos poderes, justiça social, fim dos privilégios de classe – para citar apenas alguns. Não foi isso que se viu, entretanto. Choque de Realidade Poderíamos eleger vários pontos para começar. Por exemplo, o fim da escravidão não foi alvo de um planejamento, o que gerou uma desigualdade absurdamente gritante e que dura até hoje, passados mais de 120 anos. Evidentemente, após o 13 de maio de 1888 houve muita comemoração; liberdade, venha como for, deve ser comemorada, mesmo. Entretanto, passada a euforia inicial, veio a questão: o que fazer com as centenas de milhares de pessoas (algo em torno de 700 mil) que se viram, repentinamente, sem qualquer perspectiva de sustento, moradia etc. Muitos grupos de ex-escravizados, por exemplo, não queriam viver próximos às fazendas de onde foram libertos, dirigindo-se para outras localidades ou, mesmo, para as cidades. Os salários oferecidos (quando havia salários) eram baixíssimos. As levas de migrantes estavam chegando da Europa (e, depois, da Ásia), disputando lugar com os libertos. Não havia qualquer perspectiva de reforma agrária, o que ocuparia uma boa parte daquela imensa força de trabalho. E, quem estivesse na rua sem trabalho podia ser – e era, é claro, - preso por vadiagem. Porém, esse era apenas um de nossos problemas Como dito acima, a República veio para mudar uma situação, sem que a situação fosse, de fato, mudada. Era, como sempre, um re-arranjo dos grupos que disputavam o poder (todos dentro da mesma classe social). Projeto de Educação Todavia, alguma coisa foi pensada para prover nossa gente com Educação. Assim como a própria República, a educação recebeu forte influência da doutrina positivista, do filósofo francês Auguste Comte. A primeira reforma educacional republicana se deu por decisão de Benjamin Constant, Ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos – foi a primeira vez que o ensino brasileiro atingia o status de ministério. Como é base do positivismo, sejamos práticos – o que se deu pela importância dedicada às disciplinas como matemática e física, em detrimento das ligadas às áreas humanas, como defendido no tempo doimpério. O problema é que, com a falta crônica de recursos e professores, a Constituição Republicana de 1891 deixava para o governo federal apenas a Educação no Distrito Federal; aos governos estaduais recomendava-se que administrasse o ensino em seus territórios e, aos mais pobres, que dividissem a carga entre seus municípios- tão ou mais pobres. Com a contrariedade da elite (o que incluía a Igreja), o projeto não foi muito além; porém, iniciou a discussão acerca do tema educação. E, dessas discussões, surgiram propostas, como a adotada pelo governo paulista (implementada entre 1982 e 1896), a dos grupos escolares: um prédio, várias salas, com os alunos divididos por séries e idades. Essa prática foi a estrutura da escola pública brasileira até a segunda metade do século 20. Surgiu a necessidade de direção, cargo ocupado por homens a partir de 1894; professoras eram mulheres, por aceitarem salários mais baixos e – importante notar – ser uma função feminina socialmente aceita. Decadência do Modelo O momento em que se vivia a Belle Époque (em francês, Bela Época, que pega os últimos 20 anos do século 19 e termina com a Primeira Grande Guerra) até, pelo menos, 1929, foi marcante para todo o Mundo: divisão da África entre as potências européias, Holocausto Armênio, Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa, Quebra da Bolsa de Nova Iorque, ascensão do fascismo na Itália – para citar apenas alguns eventos de maior envergadura. Desde o fim dos anos 1870 as ciências e as artes experimentaram verdadeiras revoluções: psicanálise, radioatividade, impressionismo, cubismo, dadá, expressionismo, radiofonía, cinema, futurismo e inúmeros etcéteras. Já, entre nós, a arte não sofreu nenhuma modificação digna de nota (mesmo a Semana de Arte Moderna de 1922 ficou restrita à elite intelectualizada); o rádio era para ricos, cinema era puro entretenimento – onde havia. Tivemos movimentações político-militares, como sempre, com destaque para a campanha de Canudos, a Guerra do Contestado e o Cangaço. Houve, ainda, o Tenentismo (que desaguou na Coluna Prestes) e vigorava a Política do Café-com-Leite – esses dois itens terão lugar de estudo mais para frente. Aquilo que chamamos de “República Velha” durou de 1889 a 1930– que estava bem longe de ser uma democracia plena. Por exemplo, mulheres, analfabetos e militares estavam impedidos de votar. Isso reduzia bem o que entendemos como eleitorado, não? Se esse era o estado de coisas na República Velha, por que não mudar? Porque não havia mobilização popular suficiente para modificar essa situação. Ou seja, qualquer alteração neste quadro deveria partir, mais uma vez, dos próprios arranjos e rearranjos intestinos da mesma elite que conduzia esses processos sociais. Para isso acontecer, alguém exagerou na sensação de poder; na sua condição de ser intocável, incontestável. Foi rompido o acordo da Política do Café-com-Leite. O candidato da oposição não se conformou. Seu nome era Getúlio Vargas. E isso é tema para outra história. Atividade extra Nome da atividade: História do Brasil – República Velha – com Boris Fausto Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=U5L6- 3OHcaE Referências Bibliográficas https://www.youtube.com/watch?v=U5L6-3OHcaE https://www.youtube.com/watch?v=U5L6-3OHcaE AZEVEDO, F. de. A cultura brasileira. 4. Ed. Brasília: Ed. Da UnB, 1963. VEIGA, C. G. História da educação. São Paulo: Ática, 2007. GONÇALVES, N. G. Constituição histórica da educação no Brasil. 1. Ed. Curitiba: 2012. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <https://www.educabrasil.com.br/manifesto-dos-pioneiros-da- educacao-nova/>. Acesso em: 22 de mai. 2019. A Industrialização e a Educação Asociedade moderna é marcada pelo elevado desenvolvimento industrial, e tal fato é um elemento central para a compreensão do modo de vida, das relações sociais estabelecidas na sociedade, do tipo de trabalho utilizado na sociedade e também pela organização do sistema educacional da sociedade contemporânea. Neste sentido, é necessário compreender como o processo de sistematização do sistema industrial moderno se consolidou ao longo dos últimos séculos, tendo como referência o processo de industrialização brasileiro. https://www.educabrasil.com.br/manifesto-dos-pioneiros-da-educacao-nova/ https://www.educabrasil.com.br/manifesto-dos-pioneiros-da-educacao-nova/ A Revolução Industrial e o Novo Trabalho Revolução Industrial - transformação do sistema de produção de mercadorias, aumentando a produtividade e gerando “especialização do trabalho”. Entre os séculos XVII e XIX, a sociedade passou por diversas transformações sociais rápidas e intensas, que foram originadas por diversos acontecimentos de ordem produtiva e econômica (classificados posteriormente como Revolução Industrial). O desenvolvimento de equipamentos tecnológicos alterou toda a forma de relacionamento, existente até então, entre os indivíduos, sendo que a produção deixou de ser realizada de maneira artesanal e passou a ser realizada de maneira organizada e padronizada, principalmente, com o desenvolvimento de máquinas e novos métodos produtivos. A sociedade passou a se organizar a partir da nova modalidade produtiva, ou seja, a revolução industrial mudou completamente a forma de organização existente até então na sociedade. Nova forma de trabalho na Sociedade Industrial: o trabalho assalariado passou a ser o modelo de trabalho industrial, sustentando a construção de uma nova forma de organização social: divisão da sociedade em classes sociais derivadas da posição dos indivíduos no meio produtivo (a classe burguesa é a proprietária do meio de produção e o proletariado é a classe trabalhadora). No trabalho assalariado, o trabalhador passa a receber um determinado valor pela sua força de trabalho, sendo que tal valor é estabelecido em um acordo com dono do meio produtivo (futuros proprietários dos produtos a serem produzidos pelo trabalhador). Qualificação dos Trabalhadores Na sociedade industrial o sistema educacional passou a ser organizado para a qualificação de trabalhadores, sendo que alguns elementos são essenciais para a consolidação deste processo: O letramento e a preparação para a execução de funções nas fábricas se tornaram fundamentais para a sociedade industrial. O Estado tornou-se o responsável pela organização do sistema educacional, criando mecanismos de padronização e de controle. O avanço da sociedade industrial passou a determinar as diretrizes educacionais a serem implementadas pelo Estado. Industrialização no Brasil O Brasil é um país tardio historicamente, ou seja, os acontecimentos históricos tendem a ser retardados na sociedade brasileira em comparação com outros países. Assim, a industrialização brasileira ocorreu de maneira tardia, sendo indiciada apenas a partir do final do século XIX e início do século XX. Períodos das Industrialização Brasileira: Período de Proibição (1785 – 1808): como colônia de Portugal, o Brasil foi proibido de desenvolver qualquer atividade industrial. Período de “Implantação” (1808 – 1930): após a chegada da família real portuguesa ao Brasil no ano de 1808 – a família real portuguesa se transferiu para o Brasil por conta do cerco napoleônico na Europa – o Brasil foi autorizado a desenvolver projetos para se tornar industrial, e tais projetos passaram a ser implementados, de fato, a partir do final do século XIX. Período de Revolução Industrial (1930 – 1956): A intensificação das atividades industriais no Brasil só ocorreu a partir da década de 1930, dando início de fato à chamada Revolução Industrial Brasileira. Períodode Internacionalização (1956 – atualidade): a partir da década de 1950 o Brasil passou a receber as fábricas das grandes empresas internacionais, articulando o sistema produtivo brasileiro com o sistema produtivo internacional. Escola Moderna – Conflitos de modelos: Escola Tradicional: aceitação e incorporação dos pressupostos da sociedade industrial - sustentadas em organização, ordenação, disciplina e controle; Escola Crítica: formação para o rompimento das relações de poder que permeiam o sistema educacional; Escola Pós-Crítica: valorização da diversidade cultural e construção de mecanismos de inclusão de todas as perspectivas culturais na escola. Atividade extra Leitura do Texto A industrialização da educação e as suas repercussões nas artes visuais Link da Atividade https://www.researchgate.net/publication/282283612_A_industri alizacao_da_educacao_e_as_suas_repercussoes_nas_artes_visuais Referência Bibliográfica TERRA, Márcia de Lima Elias (org). História da Educação. Biblioteca Universitaria Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. RAMOS, Fábio Pestana; MORAIS, Marcus Vinícius. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. FLORESTAN, Fernandes: O Brasil de Florestan. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. https://www.researchgate.net/publication/282283612_A_industrializacao_da_educacao_e_as_suas_repercussoes_nas_artes_visuais https://www.researchgate.net/publication/282283612_A_industrializacao_da_educacao_e_as_suas_repercussoes_nas_artes_visuais SITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. A Era Vargas e as Políticas Educacionais Política do Café-com-Leite Desde 1889 vigorava no país um regime político que, depois, os livros de História vão chamar de “República Velha” – que estava bem longe de ser uma democracia plena, como já dissemos em outro momento. Por exemplo (e isso era um de seus maiores problemas), o voto não era secreto. O eleitor, no dia da eleição, chegava no posto de votação e entregava um envelope, já com as cédulas preenchidas; em alguns lugares ele, eleitor, dizia, em voz alta, qual era seu voto, para que o mesário preenchesse a cédula! Já dá para imaginar que os poderosos faziam o que queriam com os votos dos eleitores; ai de quem votasse contra o “coronel” local. Os dois Estados mais ricos do Brasil eram São Paulo, grande produtor de café, e Minas Gerais, grande produtor de leite. Havia um acordo entre eles: a cada eleição presidencial seus candidatos alternavam-se; era a Política do Café-com-Leite. Isso ocorreu até a eleição de 1930, quando o presidente Washington Luís (fluminense de nascimento, mas eleito por indicação de São Paulo) rompeu o acordo, impondo o paulista Júlio Prestes. Ele foi eleito. Veremos os desdobramentos disso mais adiante, nesta mesma aula. Tenentismo e Revolução de 30 Apesar de nossa República não ter trazido a grande onda de modernidade que se via em outros países (curiosamente, nações que nos serviam de modelos, como Estados Unidos, França e Inglaterra), não se pode dizer que nada mudara. Uma tímida industrialização teve lugar, a partir da segunda metade dos anos 1910. Isso vai criar o cenário propício para o surgimento de novos atores em cena, como operários e, em contrapartida, empresários, que começaram a formar uma burguesia industrial que, com o tempo (muito tempo), disputaria lugar com o negócio agroexportador. Esse operariado, concentrado nas cidades de maior porte, precisa de roupas, comida etc.; assim, comércio e serviços vêm no rastro da atividade industrial. E, com essa nova face da economia, aparece uma classe média. Esses elementos vão se juntar num caldo de cultura inédito, com outros valores sendo agregados à paisagem brasileira. Se a burguesia industrial representa um contraponto às oligarquias agrícolas, também é verdade que terá seus próprios problemas a resolver: luta por políticas de apoio financeiro à indústria, implantação de um sistema eleitoral que a favoreça e empregados que pedem ampliação de direitos. Essa última classe de problemas, as reivindicações trabalhistas, eram tratadas como "caso de polícia". Assim foi com nossa primeira greve, de inspiração anarquista, em 1917. Temos, então, o primeiro movimento político-militar que acabará por influenciar os rumos da política: o Tenentismo. Formado pela jovem oficialidade do Exército, demonstra preocupação com problemas políticos, sociais e econômicos do país, coincidindo com os desejos da classe média (da qual, inclusive, eram oriundos muitos dos tenentes): crítica ao sistema eleitoral, voto secreto, reformas sociais e econômicas. Esse movimento tinha ideologia própria, muito bem aceita no meio militar: a ascensão dos militares ao poder, uma vez que os civis eram incapazes de governar e solucionar os problemas da pátria. Caso lhe pareça já ter ouvido coisa semelhante, aviso que todos os comandantes envolvidos com o Golpe de 1964 eram tenentes em 1930... Ao longo dos anos 1920 o Tenentismo envolveu-se em várias revoltas armadas, tentando derrubar governos oligárquicos e chegar ao poder. A primeira manifestação armada foi o episódio conhecido como Os 18 do Forte Copacabana, em 1922, que foi contra a candidatura do mineiro Artur Bernardes (café-com-leite) à presidência. Os rebeldes derrotados (muitos foram mortos) por militares fiéis ao governo (que também teve mortes de seu lado. A coisa não era brincadeira). Em 1924 houve uma grande rebelião tenentista em São Paulo (a cidade chegou a ser bombardeada). Os confrontos com as forças legalistas foram violentos e a revolta foi sufocada. Os que escaparam foram para o Rio Grande do Sul, onde o movimento estava forte. De lá saiu, em 1925, a Coluna Miguel Costa-Luiz Carlos Prestes (mais tarde os livros de História vão reduzir o nome para, apenas, Coluna Prestes), com centenas de oficiais e soldados. Essa Coluna percorreu cerca de 24 mil quilômetros pelo território brasileiro. Após anos de marcha e inúmeros confrontos (militares, policiais, paramilitares e cangaceiros), acabou por internar-se na Bolívia e terminou em 1927. A respeito de enfrentar cangaceiros: o governo estava tão desesperado para pôr fim a essa revolta que parecia invencível, que armou e instruiu o bando de Lampião para combater a Coluna. Daí termos o registro do Capitão Virgulino Ferreira, patente que foi dada ao líder do cangaço. Os tenentes farão parte das forças políticas que vão desencadear a Revolução de 1930. Não foi só uma súbita questão eleitoral. Em 1929 houve o crack da bolsa de valores de Nova York. O Brasil era predominantemente agrícola e vivia de exportar produtos primários, especialmente café, e dependia dos mercados e empréstimos externos. A crise de 1929 enfraqueceu tremendamente as oligarquias agroexportadoras. E, no campo estritamente político, o Café azedou o Leite: em 1930, São Paulo e Minas Gerais discordaram sobre quem ocuparia a presidência. O presidente Washington Luiz impôs a candidatura do paulista Júlio Prestes. Isso levou os mineiros a romperem com os paulistas e a apoiar Rio Grande do Sul e Paraíba, formando a Aliança Liberal. Júlio Prestes ganhou, mas não levou: com apoio dos tenentes, Minas, Paraíba e Rio Grande desencadearam a revolta em várias regiões e, diante da possibilidade de uma guerra civil, as Forças Armadas depôs Washington Luiz e uma Junta Militar transmite o governo a Vargas. Getúlio Vargas Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954), um dos mais controversos e importantes personagens da história do Brasil, era advogado e político. Foi líder revolucionário, candidato derrotado à presidência da república, presidente duas vezes (de forma indireta e direta), implantou no país uma legislação que defendeu os trabalhadores e uma ditadura, reprimiu movimentos de esquerda e de direita, “namorou”o nazifascismo de Alemanha e Itália, mas acabou sendo o único país latino-americano a enviar tropas para combater o mesmo nazifascismo na Europa; criou um forte esquema de censura e foi grande apreciador de teatro (e ria muito quando alguém o imitava e satirizava em cena). A lista de contradições parece enorme, não é? Porém, a própria existência de tantas contradições talvez tenha sido a responsável por deixar Getúlio com “a cara do Brasil”. E era tão popular que, enquanto os personagens da elite o chamavam de “Dr. Getúlio”, para o povão era só “Getúlio”, quando não Gegê. Vamos conhecer sua trajetória (apenas os momentos mais marcantes, senão teríamos um livro imenso aqui!) um pouco melhor. Era natural do interior do Rio Grande do Sul, quase na fronteira com a Argentina. Filho de família de posses (não riquíssimos), formou-se em Direito, ocupou o posto de sargento de infantaria no Exército e iniciou-se em política. Como era um hábil articulador, foi subindo de importância entre os políticos de seu estado e, logo, começou a ficar conhecido em outros pontos do Brasil. Essa Revolução de 30 levou Getúlio Vargas à presidência, onde ficaria durante quinze anos! Esse longo período pode ser dividido assim: entre 1930 e 1934 tivemos o chamado Governo Provisório. De 1934 a 1937, governou como presidente, eleito pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934 (sim, tínhamos uma constituição novinha!); e, de 1937 a 1945, depois de um golpe de Estado e de uma nova constituição (imposta por ele), atuou como ditador. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os militares o depuseram e convocaram nova assembleia Constituinte em 1946 (as Forças Armadas tinham ido lutar contra ditaduras na Europa; não fazia sentido voltarem para uma outra ditadura no Brasil...). Agora, pasmem: mesmo tendo saído de um governo de quinze anos, mesmo tendo passado os últimos oito anos desse período como ditador, Getúlio foi eleito senador constituinte pelos estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo e deputado federal por seis estados, além do Distrito Federal: os dois já citados, mais Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. Como?! A legislação eleitoral da época permitia. E, entre 1951 e 1954, foi presidente eleito democraticamente, por voto secreto. Só que nessa segunda presidência as coisas foram muito mais difíceis. Havia um sistema partidário mais forte, uma oposição muito mais articulada e com lideranças que tinham poder real em mãos, como governadores e parlamentares; gente de imprensa escrita e de rádio (e um pouquinho de TV, que chegara em 1950). Os ataques eram diários, exigia-se, no mínimo, sua renúncia. Importantes setores das Forças Armadas também estavam muito bem articulados com diversas lideranças civis. Não se iluda com a ideia de “estamos lutando pelo bem do Brasil” – o que todos queriam era o poder. Em Agosto de 1954, um comunicado das Forças Armadas anuncia a retirada do apoio (o que era um claríssimo aviso de golpe de Estado). Na madrugada do dia 24, Getúlio cometeu suicídio, com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal. Morreu, mas, até hoje, não foi esquecido. Em 15 de setembro de 2010, Getúlio Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. Educação na Era Vargas Como saldo positivo da Revolução de 1930 havia a intenção de fazer o Brasil avançar. Isso incluía obras de infraestrutura, industrialização e apoio a uma educação de melhor qualidade. Lembremo-nos que ainda tínhamos parâmetros educacionais do século 19, a inovação mais significativa até então eram os Grupos Escolares, da última década dos 1900. Durante a Era Vargas tivemos alguns avanços bem importantes para a Educação, a começar da criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, que propôs uma Reforma do Ensino Secundário e do Ensino Superior (1931), o Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova (1932) e a Constituição de 1934. Da Reforma de 31, resultaram debates muito importantes. Em dezembro de 1931, Vargas instalou a Conferência Nacional de Educação, cuja finalidade era apresentar diretrizes para elaboração de um novo projeto voltado para a educação do país. Logo, dois grupos que buscavam o poder em todas as instâncias nacionais passaram a se enfrentar na Conferência. De um lado a ANL (Aliança Nacional Libertadora), liderada por Luiz Carlos Prestes e sob a influência dos comunistas e, no outro canto, a AIB (Ação Integralista Brasileira), de inspiração fascista, liderada pelo Plínio Salgado, com apoio pela Igreja Católica (que era muitíssimo mais conservadora do que hoje). Os acalorados debates opunham intelectuais liberais, comunistas e socialistas – incluindo alguns importantes batalhadores pela Educação, como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, dentre outros – e os católicos e conservadores de diferentes origens ideológicas. Os pontos que embasavam as disputas eram: ensino básico universal, gratuito, laico e obrigatório e coeducação dos sexos (um mesmo currículo para meninos e meninas, em classes mistas ). Como os acordos eram cada vez mais difíceis, para não dizer impossíveis, no ano seguinte um grupo de 26 intelectuais assinou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo, e que apresentava princípios liberais no programa educacional. Dizia o Manifesto que a causa principal dos problemas na educação está na “na falta, em quase todos os planos e iniciativas, da determinação dos fins de educação (aspecto filosófico e social) e da aplicação (aspecto técnico) dos métodos científicos aos problemas de educação. E a tal educação nova a que se referia o Manifesto, se propunha “servir não aos interesses de classes, mas aos interesses do indivíduo, e que se funda sobre o princípio da vinculação da escola com o meio social”. E, resumindo o texto a seus pontos essenciais, advogavam uma escola essencialmente pública, única e comum, sem privilégios econômicos de uma minoria; formação universitária para todos os professores; e um ensino laico, gratuito e obrigatório. Como se vê, vários pontos que geraram discórdia na Conferência foram assumidos como essenciais para a Educação Nova. Por fim, a Constituição de 1934, também adotou princípios importantes: criou o Conselho Nacional de Educação; estabeleceu que é competência privativa da União traçar as diretrizes e bases gerais da educação nacional; obrigou o Estado a investir em Educação; o ensino primário seria gratuito, obrigatório e extensivo a adultos; todos têm direito à Educação; ensino religioso seria facultativo; e o princípio da liberdade de ensino e garantia de cátedra. A política varguista, principalmente durante o Estado Novo, apoiava-se fortemente no operariado. E a industrialização precisava de trabalhadores com melhor grau de instrução. Gustavo Capanema foi Ministério da Educação de Getúlio, entre 1934 e 1945. E, a partir de 1942, implementou o que foi chamado de Reforma Capanema, que, com as Leis Orgânicas do Ensino, estruturou o ensino industrial, reformou o ensino comercial, criou o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, e aprimorou o ensino secundário. O impulso dessas reformas subsistiu mesmo durante o Governo Provisório (após a queda de Vargas), em 1946. Ali, a Lei Orgânica do Ensino Primário deu diretrizes gerais (embora continuasse a ser de responsabilidade dos Estados); organizou o ensino primário supletivo, com duração de dois anos, destinado a adolescentes a partir dos 13 anos e adultos; organizou também o ensino normal e o ensino agrícola e criou o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC. Atividade extra Nome da atividade: Getúlio do Brasil, documentário Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=Mcu4MtLtemE Referência Bibliográfica CURY, C. R. J. A educação e aprimeira constituinte republicana. In: FÁVERO, O. (Org). A educação nas constituintes brasileiras (1823 – 1988). Campinas: Autores Associados, 2001. P. 69 – 80. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <https://www.educabrasil.com.br/manifesto-dos-pioneiros-da- educacao-nova/>. Acesso em: 22 de mai. 2019. RIBEIRO, M. L. História da Educação Brasileira. A Organização Escolar. Campinas: Autores Associados, 2003. https://www.youtube.com/watch?v=Mcu4MtLtemE https://www.educabrasil.com.br/manifesto-dos-pioneiros-da-educacao-nova/ https://www.educabrasil.com.br/manifesto-dos-pioneiros-da-educacao-nova/ ROMANELLI, O. História da educação no Brasil 1930-73. Petrópolis: Vozes, 1978; VIEIRA, S, L.; FARIAS, I. M. S. Política educacional no Brasil: introdução histórica. Brasília: Líber, 2007. Educação Pós Estado Novo Constituição e Reconstrução A Era Vargas acabou, oficialmente, com sua deposição, em 1945. Porém, estamos falando de Getúlio Vargas. Ele não entrou para a nossa História, como uma das figuras mais importantes e impactantes de todos os tempos, por deixar as coisas acontecerem por obra do acaso. Sentindo que novos ventos começavam a soprar (como as mobilizações populares pela entrada do Brasil da Segunda Guerra Mundial), o governo começou a preparar uma mudança de atitude, em busca de um Estado menos autoritário. Uma das iniciativas foi uma campanha de popularização de Vargas, tocada por Marcondes Filho, então Ministro do Trabalho, mostrando no programa Hora do Brasil (hoje chamada de Voz do Brasil) um Getúlio “pai dos trabalhadores”, para ampliar sua base de apoio dentro desta classe. No pacote, veio a robusta legislação trabalhista, principalmente com a aprovação, em 1943, da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e do aumento do salário mínimo; tais estratégias só funcionaram em parte. É preciso dizer que a oposição estava cada vez mais forte, também – e cada vez mais articulada. Apesar de vigorar forte censura à imprensa e à livre manifestação do pensamento (era uma ditadura, lembra-se?) às manifestações anti-Vargas sucediam-se, colocando muita gente na rua, artigos em jornais, manifestos etc. O presidente prometera uma pauta de normalização da política nacional após a guerra, num “ambiente próprio de paz e ordem”. Dentro dos quadros governamentais as divergências se aprofundaram, aliados rompiam com Vargas. A campanha de Marcondes Filho pró-Getúlio continuava a todo vapor. Getúlio tentava costurar alianças para lançar-se como candidato único numa próxima eleição presidencial. Opositores, então, começaram um namoro perigosíssimo, com os militares. E, já em 1944, o nome do Brigadeiro Eduardo Gomes, um dos heróis sobreviventes dos 18 do Forte, começou a surgir e colher apoios entre militares e civis. Em 1945, a imprensa, ignorando os censores, publica matérias apontando o Brigadeiro como candidato das oposições. Nesse mesmo ano o governo institui, por decreto, o Código Eleitoral, marcando eleições para a presidência e o parlamento para dezembro deste ano; em maio de 1946, aconteceriam as eleições estaduais. Vargas poderia concorrer, devendo se desincompatibilizar três meses antes, mas ele declarou não ter interesse em permanecer no cargo. O general Eurico Gaspar Dutra, Ministro da Guerra de Getúlio, que o ajudou a desenhar e a manter o Estado Novo, que na Grande Guerra apoiava a aproximação com o Eixo, não com os Aliados, saiu candidato pelo PSD – Partido Social Democrático. Vargas, que não se candidatou, recomendou ao seu PTB – Partido Trabalhista Brasileiro e demais seguidores que votassem em Dutra. Temerosos que o ditador pretendesse algum golpe de última hora, o Alto Comando do Exército o depôs, sem reação e com plena concordância de Getúlio. Em Janeiro de 1946, Dutra assumiu a presidência. Nesse mesmo ano uma Assembleia Constituinte nos deu uma nova Carta, para reorganizar o país depois de quinze anos de ditadura. Dentre os direitos nela incluídos, temos: todos são iguais perante a lei; livre manifestação de ideias e opiniões; fim da censura; liberdade de associação (partidos, sindicatos etc.), desde que fossem para objetivos lícitos; liberdade de culto, crença, posicionamento político e filosófico; e ninguém poderia ser obrigado a fazer ou não fazer algo, senão em virtude de lei. Direitos sem os quais não imaginamos viver – mas, que costumam ser abolidos em ditaduras. Vargas Democrata As dificuldades desse novo governo de Getúlio Vargas começaram bem antes da eleição. A própria candidatura foi alvo de vários processos na Justiça Eleitoral. Por exemplo, advogados alegaram que seu registro foi cancelado. Motivo: Getúlio não cumpriu duas Constituições, a 1891 e a 1934, e, portanto, deveria estar sendo julgado por crimes políticos. Só para lembrar: a de 1891 (primeira Constituição Republicana) foi “descumprida” pela Revolução de 1930; a de 1934, pela instalação do Estado Novo. Ou seja, dois fatos que mudaram os rumos da História do Brasil (concordemos com eles ou não) foram tratados “tecnicamente” como meras infrações à norma constitucional. Outra: em 1947, já na vigência da nova Constituição (mas, o desrespeito aos direitos constitucionais são, infelizmente, a cara do Brasil), o registro do Partido Comunista (que participara da Constituinte!) fora cassado. A alegação: o comunismo é contrário a regimes democráticos. Ora, Getúlio também tinha sido, logo... Os tribunais, porém, demonstraram algum bom senso e a candidatura foi registrada. Podemos resumir o clima que esperava Vargas por esse texto do líder da UDN, Carlos Lacerda, o qual deu como manchete, em seu jornal Tribuna da Imprensa, em 1 de junho de 1950: "O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar" (Você deve ter lido ou ouvido, nos últimos anos, frases parecidas. Isso é a política no Brasil). Refletindo sobre nossos processos eleitorais, o próprio Getúlio disse: "No Brasil não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!". Sim, Vargas tinha governado sob uma ditadura. Porém, Tancredo Neves (o mesmo que foi eleito em 1985 e não chegou a tomar posse, colocando José Sarney na presidência...), que foi seu ministro da Justiça, disse (no livro Tancredo Fala de Getúlio) que, em seu segundo governo, Getúlio "tinha a preocupação de se libertar do ditador", e que disse a Tancredo: "Fui ditador porque as contingências do país me levaram à ditadura, mas quero ser um presidente constitucional dentro dos parâmetros fixados pela Constituição". Getúlio tomou posse na presidência da república em 31 de janeiro de 1951, no Palácio do Catete, sucedendo ao presidente Dutra. O mandato deveria ir até 31 de janeiro de 1956. Seu ministério foi modificado apenas duas vezes. Na primeira formação trouxe antigos aliados da Revolução de 1930 (alguns dos quais tiveram que se reconciliar). Seu governo foi tumultuado devido a medidas administrativas que tomou e devido às acusações de corrupção que atingiram seu governo (não a ele). Um reajuste do salário-mínimo em 100% ocasionou, quase no fim do governo, em 1954, um protesto público, em forma de manifesto à nação, dos militares (que não recebiam ou pagavam salário mínimo!!) contra o governo, o que ocasionou a demissão do Ministro do Trabalho, João Goulart. Esse manifesto foi assinado por 79 militares (a maioria coronéis) que, na sua grande maioria, eram... ex-tenentes de 1930! Dentre as muitas decisões polêmicas desse governo Vargas, tivemos as leis que: define crimes contra a economia popular; autoriza o governo federal a intervir no domínioeconômico para assegurar a livre distribuição de produtos necessários ao consumo do povo; dispôs sobre remessa de lucros de empresas estrangeiras para o país de origem; define os crimes contra o Estado e a Ordem Política e Social; estabelece o monopólio estatal da exploração e produção de petróleo; estabelece a liberdade de imprensa. Também foram criados, nesse período: o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a Petrobras, o Banco do Nordeste e o Instituto Brasileiro do Café (IBC). Para só citar algumas realizações. Projeto JK Juscelino Kubitschek de Oliveira foi eleito presidente da República em 1955, juntamente com o vice-presidente João Goulart (ex-Ministro do Trabalho de Vargas, lembra?). Nos primeiros anos de governo rapidamente JK colocou em ação o Plano de Metas, que se chamava, oficialmente, Cinquenta anos em cinco. Esse Plano de Metas teve origem a partir das ideias dos economistas da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) e do BNDE (Banco Nacional do Desenvolvimento). Esse foi considerado o primeiro plano global de desenvolvimento da economia nacional, a espinha dorsal do nacional-desenvolvimentismo. Esse Plano de Metas foi um programa cuja finalidade era melhorar a infraestrutura brasileira, nas mais variadas áreas, implementado ao longo do governo de Juscelino (1956-1960). O projeto, como um todo, definia trinta objetivos, agrupados em cinco setores, a serem alcançados: energia, transporte, indústria, educação e alimentação. A intenção, basicamente, era estimular o desenvolvimento do Brasil, em larga escala. A construção de Brasília, transferindo a capital do Brasil da cidade do Rio de Janeiro para o Planalto Central, entrava no lugar da meta-síntese, símbolo de tudo o que se estava fazendo. O desenvolvimentismo econômico que o Brasil viveu durante o mandato de JK priorizou o investimento nos setores de transportes e energia, na indústria de base (bens de consumos duráveis e não duráveis), na substituição de importações (destacando a ascensão da indústria automobilística) e na Educação. Para JK e seu governo, o Brasil iria diminuir a desigualdade social gerando riquezas e desenvolvendo a industrialização e, consequentemente, fortalecendo a economia. E esse era seu Plano de Metas: “o Brasil iria se desenvolver 50 anos em 5”. Educação e Outro Brasil E é triste que esse governo tenha desenhado tal Plano de Metas com a Educação ocupando um lugar tão pequeno. A Educação foi contemplada com, apenas, 3,4% dos investimentos inicialmente previstos e atendia a uma única meta. A formação de pessoal técnico era a meta 30, que orientava a Educação para o desenvolvimento – e não falava em ensino básico. Juscelino teve um único ministro da Educação, Clóvis Salgado. Seu governo passou à história como o que criou a Universidade de Brasília e estimulou a formação de cursos superiores voltados para a administração. Em termos gerais, acreditava-se que, com uma elite bem preparada, o país se beneficiaria e poderia estender progressivamente a educação ao conjunto da população. Em relação à educação básica, o que ficou como registro mais forte foi a publicação, em 1959, de um manifesto de educadores intitulado "Mais uma vez convocados". Por que mais uma vez? Tratava-se de uma alusão a outro manifesto, lançado em 1932 pelos mesmos educadores, o "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova". Fernando de Azevedo, redator do primeiro texto, redigiu também o de 1959, que foi assinado por 189 pessoas ilustres, entre as quais Anísio Teixeira, igualmente signatário do primeiro. Após um intervalo de 25 anos, reavivou-se a plataforma de um grupo que ficara conhecido como os Pioneiros da Escola Nova. Sua bandeira, desde os anos 30, consistia na defesa, como direito dos cidadãos e dever do Estado, de uma educação pública, obrigatória, laica e gratuita. Ou seja, de uma educação garantida pelo Estado para todos os que estivessem em idade de frequentar a escola; da obrigatoriedade da matrícula sob pena de punição; da não submissão da educação a qualquer orientação confessional e, finalmente, da gratuidade da educação, para que todos, indiscriminadamente, tivessem acesso a ela. Os ideais escolanovistas, lá dos anos 30, estavam fortalecidos com a presença de Darcy Ribeiro. Para termos ideia de como essas lutas pela Educação continuavam ásperas, o educador Anísio Teixeira foi perseguido por bispos católicos, que em 1958 o acusaram de extremista, solicitando sua demissão da Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Em resposta, 529 educadores, cientistas e professores de todo o país, num abaixo-assinado, se solidarizaram com Anísio Teixeira, evitando que fosse demitido. Os níveis de analfabetismo continuaram altos durante os anos JK. Porém, toda a ideia de desenvolvimentismo teve o condão de colocar a sociedade brasileira em contato consigo mesma. Desde o pós-Guerra e ao longo da década de 1950, uma série de iniciativas de cunho cultural ampliaram os debates sobre brasilidade, identidade nacional e temas semelhantes. Lembremos, rapidamente, algumas dessas iniciativas: Museus de Arte Moderna (RJ e SP), Museu de Arte de São Paulo, Bienal de Arte, Cinema Novo, Teatro Moderno, Bossa Nova, Brasília (do ponto de vista arquitetônico), crescimento quantitativo e qualitativo das atividades universitárias, lançamento de obras importantes, como Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; não menos importantes trabalhos de cérebros que se debruçaram sobre o entendimento do que era nossa sociedade, como Raymundo Faoro (Os donos do Poder) e Celso Furtado (Formação econômica do Brasil). Os anos 1960 pareciam promissores... Atividade extra Nome da atividade: Os Anos JK - Uma Trajetória Política, de Sílvio Tendler Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=Qe6RGrCE2fc Referência Bibliográfica AZEVEDO, F. de. A cultura brasileira. 4. Ed. Brasília: Ed. Da UnB, 1963. GONÇALVES, N. G. Constituição histórica da educação no Brasil. 1. Ed. Curitiba: 2012 VEIGA, C. G. História da educação. São Paulo: Ática, 2007. Educação Pós Estado Novo Constituição e Reconstrução A Era Vargas acabou, oficialmente, com sua deposição, em 1945. Porém, estamos falando de Getúlio Vargas. Ele não entrou para a nossa História, como uma das figuras mais importantes e impactantes de todos os tempos, por deixar as coisas acontecerem por obra do acaso. Sentindo que novos ventos começavam a soprar (como as mobilizações populares pela entrada do Brasil da Segunda Guerra Mundial), o governo começou a preparar uma https://www.youtube.com/watch?v=Qe6RGrCE2fc mudança de atitude, em busca de um Estado menos autoritário. Uma das iniciativas foi uma campanha de popularização de Vargas, tocada por Marcondes Filho, então Ministro do Trabalho, mostrando no programa Hora do Brasil (hoje chamada de Voz do Brasil) um Getúlio “pai dos trabalhadores”, para ampliar sua base de apoio dentro desta classe. No pacote, veio a robusta legislação trabalhista, principalmente com a aprovação, em 1943, da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e do aumento do salário mínimo; tais estratégias só funcionaram em parte. É preciso dizer que a oposição estava cada vez mais forte, também – e cada vez mais articulada. Apesar de vigorar forte censura à imprensa e à livre manifestação do pensamento (era uma ditadura, lembra-se?) às manifestações anti-Vargas sucediam-se, colocando muita gente na rua, artigos em jornais, manifestos etc. O presidente prometera uma pauta de normalização da política nacional após a guerra, num “ambiente próprio de paz e ordem”. Dentro dos quadros governamentais as divergências se aprofundaram, aliados rompiam com Vargas. A campanha de Marcondes Filho pró-Getúlio continuava a todo vapor.Getúlio tentava costurar alianças para lançar-se como candidato único numa próxima eleição presidencial. Opositores, então, começaram um namoro perigosíssimo, com os militares. E, já em 1944, o nome do Brigadeiro Eduardo Gomes, um dos heróis sobreviventes dos 18 do Forte, começou a surgir e colher apoios entre militares e civis. Em 1945, a imprensa, ignorando os censores, publica matérias apontando o Brigadeiro como candidato das oposições. Nesse mesmo ano o governo institui, por decreto, o Código Eleitoral, marcando eleições para a presidência e o parlamento para dezembro deste ano; em maio de 1946, aconteceriam as eleições estaduais. Vargas poderia concorrer, devendo se desincompatibilizar três meses antes, mas ele declarou não ter interesse em permanecer no cargo. O general Eurico Gaspar Dutra, Ministro da Guerra de Getúlio, que o ajudou a desenhar e a manter o Estado Novo, que na Grande Guerra apoiava a aproximação com o Eixo, não com os Aliados, saiu candidato pelo PSD – Partido Social Democrático. Vargas, que não se candidatou, recomendou ao seu PTB – Partido Trabalhista Brasileiro e demais seguidores que votassem em Dutra. Temerosos que o ditador pretendesse algum golpe de última hora, o Alto Comando do Exército o depôs, sem reação e com plena concordância de Getúlio. Em Janeiro de 1946, Dutra assumiu a presidência. Nesse mesmo ano uma Assembleia Constituinte nos deu uma nova Carta, para reorganizar o país depois de quinze anos de ditadura. Dentre os direitos nela incluídos, temos: todos são iguais perante a lei; livre manifestação de ideias e opiniões; fim da censura; liberdade de associação (partidos, sindicatos etc.), desde que fossem para objetivos lícitos; liberdade de culto, crença, posicionamento político e filosófico; e ninguém poderia ser obrigado a fazer ou não fazer algo, senão em virtude de lei. Direitos sem os quais não imaginamos viver – mas, que costumam ser abolidos em ditaduras. Vargas Democrata As dificuldades desse novo governo de Getúlio Vargas começaram bem antes da eleição. A própria candidatura foi alvo de vários processos na Justiça Eleitoral. Por exemplo, advogados alegaram que seu registro foi cancelado. Motivo: Getúlio não cumpriu duas Constituições, a 1891 e a 1934, e, portanto, deveria estar sendo julgado por crimes políticos. Só para lembrar: a de 1891 (primeira Constituição Republicana) foi “descumprida” pela Revolução de 1930; a de 1934, pela instalação do Estado Novo. Ou seja, dois fatos que mudaram os rumos da História do Brasil (concordemos com eles ou não) foram tratados “tecnicamente” como meras infrações à norma constitucional. Outra: em 1947, já na vigência da nova Constituição (mas, o desrespeito aos direitos constitucionais são, infelizmente, a cara do Brasil), o registro do Partido Comunista (que participara da Constituinte!) fora cassado. A alegação: o comunismo é contrário a regimes democráticos. Ora, Getúlio também tinha sido, logo... Os tribunais, porém, demonstraram algum bom senso e a candidatura foi registrada. Podemos resumir o clima que esperava Vargas por esse texto do líder da UDN, Carlos Lacerda, o qual deu como manchete, em seu jornal Tribuna da Imprensa, em 1 de junho de 1950: "O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar" (Você deve ter lido ou ouvido, nos últimos anos, frases parecidas. Isso é a política no Brasil). Refletindo sobre nossos processos eleitorais, o próprio Getúlio disse: "No Brasil não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!". Sim, Vargas tinha governado sob uma ditadura. Porém, Tancredo Neves (o mesmo que foi eleito em 1985 e não chegou a tomar posse, colocando José Sarney na presidência...), que foi seu ministro da Justiça, disse (no livro Tancredo Fala de Getúlio) que, em seu segundo governo, Getúlio "tinha a preocupação de se libertar do ditador", e que disse a Tancredo: "Fui ditador porque as contingências do país me levaram à ditadura, mas quero ser um presidente constitucional dentro dos parâmetros fixados pela Constituição". Getúlio tomou posse na presidência da república em 31 de janeiro de 1951, no Palácio do Catete, sucedendo ao presidente Dutra. O mandato deveria ir até 31 de janeiro de 1956. Seu ministério foi modificado apenas duas vezes. Na primeira formação trouxe antigos aliados da Revolução de 1930 (alguns dos quais tiveram que se reconciliar). Seu governo foi tumultuado devido a medidas administrativas que tomou e devido às acusações de corrupção que atingiram seu governo (não a ele). Um reajuste do salário-mínimo em 100% ocasionou, quase no fim do governo, em 1954, um protesto público, em forma de manifesto à nação, dos militares (que não recebiam ou pagavam salário mínimo!!) contra o governo, o que ocasionou a demissão do Ministro do Trabalho, João Goulart. Esse manifesto foi assinado por 79 militares (a maioria coronéis) que, na sua grande maioria, eram... ex-tenentes de 1930! Dentre as muitas decisões polêmicas desse governo Vargas, tivemos as leis que: define crimes contra a economia popular; autoriza o governo federal a intervir no domínio econômico para assegurar a livre distribuição de produtos necessários ao consumo do povo; dispôs sobre remessa de lucros de empresas estrangeiras para o país de origem; define os crimes contra o Estado e a Ordem Política e Social; estabelece o monopólio estatal da exploração e produção de petróleo; estabelece a liberdade de imprensa. Também foram criados, nesse período: o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a Petrobras, o Banco do Nordeste e o Instituto Brasileiro do Café (IBC). Para só citar algumas realizações. Projeto JK Juscelino Kubitschek de Oliveira foi eleito presidente da República em 1955, juntamente com o vice-presidente João Goulart (ex-Ministro do Trabalho de Vargas, lembra?). Nos primeiros anos de governo rapidamente JK colocou em ação o Plano de Metas, que se chamava, oficialmente, Cinquenta anos em cinco. Esse Plano de Metas teve origem a partir das ideias dos economistas da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) e do BNDE (Banco Nacional do Desenvolvimento). Esse foi considerado o primeiro plano global de desenvolvimento da economia nacional, a espinha dorsal do nacional-desenvolvimentismo. Esse Plano de Metas foi um programa cuja finalidade era melhorar a infraestrutura brasileira, nas mais variadas áreas, implementado ao longo do governo de Juscelino (1956-1960). O projeto, como um todo, definia trinta objetivos, agrupados em cinco setores, a serem alcançados: energia, transporte, indústria, educação e alimentação. A intenção, basicamente, era estimular o desenvolvimento do Brasil, em larga escala. A construção de Brasília, transferindo a capital do Brasil da cidade do Rio de Janeiro para o Planalto Central, entrava no lugar da meta-síntese, símbolo de tudo o que se estava fazendo. O desenvolvimentismo econômico que o Brasil viveu durante o mandato de JK priorizou o investimento nos setores de transportes e energia, na indústria de base (bens de consumos duráveis e não duráveis), na substituição de importações (destacando a ascensão da indústria automobilística) e na Educação. Para JK e seu governo, o Brasil iria diminuir a desigualdade social gerando riquezas e desenvolvendo a industrialização e, consequentemente, fortalecendo a economia. E esse era seu Plano de Metas: “o Brasil iria se desenvolver 50 anos em 5”. Educação e Outro Brasil E é triste que esse governo tenha desenhado tal Plano de Metas com a Educação ocupando um lugar tão pequeno. A Educação foi contemplada com, apenas, 3,4% dos investimentos inicialmente previstos e atendia a uma única meta. A formação de pessoal técnicoera a meta 30, que orientava a Educação para o desenvolvimento – e não falava em ensino básico. Juscelino teve um único ministro da Educação, Clóvis Salgado. Seu governo passou à história como o que criou a Universidade de Brasília e estimulou a formação de cursos superiores voltados para a administração. Em termos gerais, acreditava-se que, com uma elite bem preparada, o país se beneficiaria e poderia estender progressivamente a educação ao conjunto da população. Em relação à educação básica, o que ficou como registro mais forte foi a publicação, em 1959, de um manifesto de educadores intitulado "Mais uma vez convocados". Por que mais uma vez? Tratava-se de uma alusão a outro manifesto, lançado em 1932 pelos mesmos educadores, o "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova". Fernando de Azevedo, redator do primeiro texto, redigiu também o de 1959, que foi assinado por 189 pessoas ilustres, entre as quais Anísio Teixeira, igualmente signatário do primeiro. Após um intervalo de 25 anos, reavivou-se a plataforma de um grupo que ficara conhecido como os Pioneiros da Escola Nova. Sua bandeira, desde os anos 30, consistia na defesa, como direito dos cidadãos e dever do Estado, de uma educação pública, obrigatória, laica e gratuita. Ou seja, de uma educação garantida pelo Estado para todos os que estivessem em idade de frequentar a escola; da obrigatoriedade da matrícula sob pena de punição; da não submissão da educação a qualquer orientação confessional e, finalmente, da gratuidade da educação, para que todos, indiscriminadamente, tivessem acesso a ela. Os ideais escolanovistas, lá dos anos 30, estavam fortalecidos com a presença de Darcy Ribeiro. Para termos ideia de como essas lutas pela Educação continuavam ásperas, o educador Anísio Teixeira foi perseguido por bispos católicos, que em 1958 o acusaram de extremista, solicitando sua demissão da Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Em resposta, 529 educadores, cientistas e professores de todo o país, num abaixo-assinado, se solidarizaram com Anísio Teixeira, evitando que fosse demitido. Os níveis de analfabetismo continuaram altos durante os anos JK. Porém, toda a ideia de desenvolvimentismo teve o condão de colocar a sociedade brasileira em contato consigo mesma. Desde o pós-Guerra e ao longo da década de 1950, uma série de iniciativas de cunho cultural ampliaram os debates sobre brasilidade, identidade nacional e temas semelhantes. Lembremos, rapidamente, algumas dessas iniciativas: Museus de Arte Moderna (RJ e SP), Museu de Arte de São Paulo, Bienal de Arte, Cinema Novo, Teatro Moderno, Bossa Nova, Brasília (do ponto de vista arquitetônico), crescimento quantitativo e qualitativo das atividades universitárias, lançamento de obras importantes, como Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; não menos importantes trabalhos de cérebros que se debruçaram sobre o entendimento do que era nossa sociedade, como Raymundo Faoro (Os donos do Poder) e Celso Furtado (Formação econômica do Brasil). Os anos 1960 pareciam promissores... Atividade extra Nome da atividade: Os Anos JK - Uma Trajetória Política, de Sílvio Tendler Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=Qe6RGrCE2fc Referência Bibliográfica AZEVEDO, F. de. A cultura brasileira. 4. Ed. Brasília: Ed. Da UnB, 1963. GONÇALVES, N. G. Constituição histórica da educação no Brasil. 1. Ed. Curitiba: 2012 https://www.youtube.com/watch?v=Qe6RGrCE2fc VEIGA, C. G. História da educação. São Paulo: Ática, 2007. Golpe de 1964 e a Educação Jânio e Jango Para o Brasil, o início da década de 60 foi marcado pela posse do presidente Jânio Quadros, em janeiro de 1961, sucedendo a Juscelino. O que seria um fato corriqueiro e banal em qualquer país democrático, no Brasil demandava o registro: pela primeira vez em nossa história republicana, um governo civil, eleito pelo voto secreto e direto, era sucedido por outro, eleito com as mesmas características. Parecia que era um outro Brasil. As metas traçadas por JK foram, sim, atingidas. Porém, a um preço. Se nosso parque industrial crescera, a produção dobrara, as montadoras despejavam seus veículos em estradas recém-abertas e tínhamos em Brasília uma capital cheirando a nova e moderna, a verdade é que, por toda parte, os problemas apareciam. Em 1960, grande parte das exportações destinava-se a pagar a dívida externa. Então, faltava dinheiro para continuar a bancar o crescimento industrial. Assim, se a belle époque (em francês, bela época; na virada do século 19 para o 20, lembra?) só foi belle para quem dispunha de recursos (como em qualquer época, aliás...), também o grande salto de crescimento, os propalados 50 anos em 5, o desenvolvimentismo, enfim, só foi percebido pela camada da população em cujas mãos concentrava-se a renda nacional. Isso já ocorria no Brasil; mas, agora, tinha um agravante em vista da massa de riqueza ser maior. Dessa forma, a injusta distribuição do capital era levada a um desnível ainda mais profundo. Esse desequilíbrio vai, obviamente, refletir-se no enfrentamento das forças políticas. De um lado, a burguesia nacional endinheirada. Tal segmento, nesse instante, via-se consolidado, uma vez que, beneficiário direto das mudanças econômicas; acreditava no projeto de nação oferecido por essas mesmas mudanças, cujo modelo oferecia mais e mais concentração de renda e, consequentemente, de poder. Colocando-se de lado oposto, o único "inconveniente" era o populismo, do qual o próprio JK lançava mão. O constante apelo ao "povo" dava a ele, povo, a impressão de participar ativamente do processo político, sem ser, apenas, massa de manobra. O perigo, evidentemente, era que o povo poderia passar a acreditar nessas ideias "exóticas", como ter algum poder de decisão... Enquanto isso, o restante do planeta estava na Guerra Fria. Era o Ocidente estadunidense versus Oriente soviético (não era a luta do Bem contra o Mal, porque nenhum lado era “bonzinho”) A Guerra do Vietnã e, antes, a Guerra da Coréia deixaram bem claras as opiniões da Casa Branca e de seu Departamento de Estado. Esse tipo de ideologia, na década de 50, levou setores das Forças Armadas brasileiras a elaborar a Doutrina de Segurança Nacional (DSN). Em síntese, ela pregava a concepção de nação como uma entidade homogênea, sem dissensões filosóficas ou de classe, por exemplo (tipo do pensamento perigoso – quem não concordar comigo é inimigo e precisa ser destruído). Num Mundo com dois únicos blocos antagônicos, o não-alinhamento a um deles parecia impossível. Dadas nossa posição geográfica, nossos “valores morais e cristãos”, nossas tradições, nossa histórica relação de amizade (e dependência, mas ninguém fala isso) etc., foi claro nosso posicionamento em face do Mundo. Esses "setores das Forças Armadas" eram ligados à Escola Superior de Guerra (ESG), criada nos moldes do War College norte-americano, e recebiam muita informação e treinamento desse mesmo país. Dá para entender qual a origem dessa tal Doutrina... Por aqui, a classe dominante dificultava a continuidade do crescimento econômico pela super concentração de renda. As classes supostamente dominadas, por sua vez, começaram a se mexer, organizando-se em entidades operárias e camponesas, como as Ligas Camponesas, no Nordeste, rompendo amarras seculares de dominação pura e simples. Nossa iniciante democracia populista-desenvolvimentista sentia- se ameaçada. E quem teria que administrar tudo isso? Jânio Quadros, um populista de direita. Seu principal apoio vinha da burguesia, mas teve votação significativa em todos os segmentos, prometendo varrer (seu símbolo era uma vassoura...) a corrupção e o comunismo. João Goulart, o vice-presidente, também era um populista nacionalista, mas tinhasido eleito com votos sindicalistas e da esquerda. As votações eram separadas, daí terem sido eleitos representando grupos contrários. Em comum, só o populismo. Jânio renunciou após sete meses de mandato, sem conseguir uma hegemonia que servisse ao seu propósito de poder. Na tentativa, atirou para todos os lados: deu muito espaço para militares e para o capitalismo multinacional e, por outro lado, buscou mostrar-se independente dos dois blocos mundiais. Ao condecorar Che Guevara, atraiu o ódio de toda a direita anticomunista – que não era pequena. Como nada parecia funcionar do jeito que ele queria, renunciou. E deixou um abismo aos pés do Brasil. Estava bem claro que a Constituição de 1946 garantia a posse do vice- presidente em caso de afastamento do titular. João Goulart (conhecido como Jango) teve que aceitar uma "solução" sacada de alguma cartola mágica: assumiria a presidência, mas sem poder, num regime parlamentarista inventado às pressas. Tal situação durou até janeiro de 1963, quando um plebiscito restaurou o presidencialismo. Dali até princípios de 1964, Jango tentou implantar um projeto que, tudo indicava, revia alguns dos pilares de JK, buscando uma melhor distribuição da riqueza nacional. Não seria um paraíso mas, ao menos, reduziríamos o desnível social. Para isso, Jango propôs reformas de base, que incluíam os setores bancário, fiscal, eleitoral e agrário. Mesmo com a formidável oposição, sustentada pela burguesia nacional e internacional, algumas proposições conseguiram aprovação no Congresso: Lei de Remessa de Lucros; controle sobre importação de matérias-primas; Estatuto do Trabalhador Rural; Plano Nacional de Alfabetização, entre outras. O clima vai pesar. Os Golpes O GOLPE, PARTE I: DITADURA À BRASILEIRA - A posse de João Goulart já não havia sido tranquila. A burguesia nacional não iria aceitar um país governado por setores tão à esquerda, a ponto de um comunista, como Luiz Carlos Prestes, numa entrevista declarar que "não estamos no governo, mas estamos no poder". A solução, brasileiramente, era um golpe. Desde 1961 funcionavam entidades como o IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) e o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), as quais, com o apoio da CIA (Agência Central de Inteligência, órgão de espionagem do governo norte-americano), conspiravam e aglutinavam os setores anticomunistas para dar sustentação ao golpe; o mesmo acontecia com oficiais militares da Escola Superior de Guerra. Com o financiamento de empresários, banqueiros, latifundiários, grupos estrangeiros e o próprio governo americano (através da dita CIA), organizou-se o movimento civil e militar que viria a derrubar Jango. A ação foi muito bem preparada. Atuou no campo político, com total apoio às forças direitistas; junto à sociedade civil, representada pela Igreja e pelos movimentos estudantil e sindical, com infiltração progressiva nas Forças Armadas. Os meios de comunicação apoiaram (abertamente ou não) a propaganda anticomunista que levaria a classe média e todo seu poder de pressão a exigir a queda do presidente. À parte as insistentes denúncias acerca do "perigo vermelho", eram fartas as acusações de corrupção e incompetência. Misturavam-se, assim, fé religiosa, ideologia, direito à propriedade privada, entre outros fatores, para produzir o ponto correto do caldo golpista. As forças pró-Goulart contra-atacaram. Em 13 de março de 1964, realizou- se um comício na Central do Brasil (RJ), com cerca de 200 mil pessoas. Tal ofensiva, em lugar de reverter o quadro, agravou-o, dando mais munição aos inimigos. Organizaram a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que levou às ruas de São Paulo cerca de 500 mil pessoas. Afinal, entre 31 de março e 1º de abril, o comando rebelde pôs as tropas nas ruas, concretizando a ação que derrubou um presidente constitucionalmente eleito. O arremate do Golpe veio em 1º de abril: mesmo que fosse falso, pois encontrava-se Goulart ainda em território nacional (pela Constituição, sua ausência declarada a vacância do cargo), o presidente do Congresso, Auro de Moura Andrade declara vaga a Presidência do Brasil, empossando, provisoriamente, o próximo nome na linha sucessória, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Logicamente, o novo governo foi imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos. Bem, instalou-se em abril de 64 uma ditadura civil-militar. Todavia, em nenhum momento reconheceram-se ditadores; salvadores da pátria, apelidaram sua quartelada de “Revolução” e posam de democráticos! Tiveram o cuidado de apoiar juridicamente suas ações, emitindo Atos Institucionais, por exemplo, lavrados com base em princípios democráticos e consoantes com os mais altos valores de nossa nação. Também inovaram o figurino dos regimes autoritários, instituindo “eleições” de tempos em tempos. E, internamente, tanto militares quanto, pegando as sobras, civis, engalfinharam-se; uns ávidos pelo loteamento dos cargos públicos, outros movidos por uma ideologia cega, que sentia-se maior e mais poderosa ao acreditar que fazia parte de algo “maior e mais poderoso”: a grande coalizão ocidental, liderada pelos Estados Unidos! Ainda assim ou, talvez, por isso mesmo, o Brasil passou a viver uma ditadura envergonhada, assumindo ares de “Redentora”. Isso possibilitava, ao menos, algum direito de manifestação, algum resquício de uma democracia que, bem ou mal, havia resistido ao suicídio de Getúlio, à renúncia de Jânio, ao parlamentarismo forçado, diversas rebeliões militares, confrontos com as organizações de trabalhadores (como CGT e Ligas Camponesas), inflação, carestia, secas e miséria endêmicas. Mesmo com repressão, detenções para “prestar depoimentos” e ameaças de prisão, ainda não se falava em torturas ou desaparecidos. Não que fosse o melhor dos mundos, mas era administrável – a facção no poder a mais “moderada” – em oposição à chamada “linha-dura” essa, sim, sem escrúpulos humanitários, para não dizer cheia de elementos criminosos ou psicologicamente perturbados, conforme veremos adiante, quando esse grupo passar a comandar o Brasil. Por essa razão, a história do golpe de 64 tem dois momentos distintos: um que vai de abril de 1964 a dezembro de 1968, e o período seguinte, mais pesado, que começa em dezembro de 1968 (com a assinatura do Ato Institucional nº 5, o AI-5) e segue até o fim do regime, diluindo-se na transição para a redemocratização. TERROR E MISÉRIA NO PAÍS TROPICAL - 1968. Os embates entre estudantes e policiais são mais frequentes. De Costa e Silva, presidente de plantão: “Não permitirei que o Rio se transforme numa nova Paris!”. A chamada "linha-dura" não costuma trabalhar através de argumentação e convencimento, mas através do medo; ela entende de medo e, nesse momento, sabe o que temer. Estudantes e trabalhadores estreitam laços de solidariedade numa greve em Osasco. O ocupante do Ministério do Trabalho, Coronel Jarbas Passarinho: "O Tietê não é o Sena”. Os ecos do Maio de 68 francês estão muito próximos para não serem percebidos. Amedrontado, o regime endureceu. No Rio de Janeiro, por exemplo, uma assembleia estudantil é violentamente reprimida. No dia seguinte, 21 de julho, faz-se uma manifestação em protesto pela truculência do dia anterior. A "sensibilidade" da ditadura ao lidar com o problema transforma-se numa batalha campal que dura o dia todo, mais de dez horas de luta, com muitos feridos de ambos os lados (polícia versus população em geral). Ao reprimir tão brutalmente os jovens, esquecidos de que eles têm familiares e de que as pessoas têm olhos, ouvidos e bocas, não bastando censurar os meios de comunicação, os nossos "gênios" estrategistas conseguem unir os vários setores do povo contra um inimigo comum - a ditadura militar. E, a 26 de julho, às ruas do Rio de Janeiro são tomadas por estudantes,artistas, intelectuais, parlamentares, padres, classe média e outros setores, unidos em torno de palavras de ordem como "abaixo a ditadura" e "o povo unido jamais será vencido", no episódio que ficou conhecido como "A passeata dos 100 mil". Além das manifestações estudantis, o operariado, com perspectivas sombrias à frente, mobiliza-se. Com o auxílio de grupos de esquerda, que oferecem as táticas de luta, formam-se as organizações de base (como comitês ou conselhos de fábrica), onde o que resta do sindicalismo poderá articular-se e mover-se. Também aí a repressão age brutalmente, desbaratando o movimento. Momentos desesperados levam a atitudes desesperadas. As organizações clandestinas de direita, como o CCC (Comando de Caça aos Comunistas), o MAC (Movimento Anticomunista) e a FAC (Frente Anticomunista), promovem atentados Em dezembro, finalmente, a facção militar mais dura conseguiu impor-se e, no dia 13, foi assinado o Ato Institucional nº 5. O texto, curto e seco, consolidava o golpe, tornando a ditadura algo não mais "envergonhado", como dissemos, mas assumindo-se um regime autoritário, sem disfarces ou fachadas democráticas, atribuindo à presidência, de fato, os Três Poderes da República. Em síntese, ele dava ao presidente poderes para estabelecer, por tempo indeterminado: estado de sítio, recesso do Congresso, intervenção nos Estados e Municípios, cassação de mandatos e suspensão de direitos políticos. Suspendia o habeas corpus para crimes contra a Segurança Nacional e proibia-o contra qualquer ato praticado com base nos poderes atribuídos pelo próprio AI-5. O Terror Para assegurar que não haveria qualquer possibilidade de oposição ao regime, são criados ou azeitados os órgãos de informação, repressão, tortura e censura. Em 1969, em São Paulo, surge a tristemente célebre OBAN (Operação Bandeirantes), financiada com dinheiro doado por empresas nacionais e multinacionais. Seus membros vinham das mais variadas áreas: Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal e Civil, Força Pública e Guarda Civil. Como não era um órgão oficial, tinha maior agilidade, mobilidade e impunidade – vale dizer, as mais bárbaras torturas eram, ali, o prato do dia. Seus métodos – e resultados – foram diretamente responsáveis pela criação dos DOI-CODIs (Departamento de Operações Internas – Centro de Operações de Defesa Interna), sob responsabilidade do Exército, com a função de comandar, em suas áreas de atuação, todos os órgãos de repressão e, já no começo dos anos 70, desbaratou as principais organizações de resistência armadas. Eliminado o perigo mais imediato, voltaram-se, então, para o perigo remoto, ou seja, aqueles que, apesar de situar-se à esquerda, não haviam optado pela luta armada. Também aqui, a tortura e o assassinato estiveram presentes de maneira impressionante. Tudo isso vai garantir, para o mundo exterior, o propalado “milagre brasileiro”. Bem, os índices de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) pareciam corroborar a crença em milagres: foram 11,3% em 1971; 10,4% em 1972 e 11,4% em 1973. Ora, o Brasil estava em festa! Grande expansão urbana, grandes obras, grandes estradas, grandes hidrelétricas, grandes lucros nas Bolsas de Valores – afinal, a propaganda oficial alardeava que vivíamos em ritmo de “Brasil Grande”. A classe média delirava, tomada pelo consumismo desenfreado. Enquanto isso, a qualidade de vida do povo brasileiro estava entre as piores do mundo: subnutrição (67% da população), mortalidade infantil (114 por mil, em menos de um ano), acidentes de trabalho e salário- mínimo muito baixo – que era a paga de mais da metade dos trabalhadores brasileiros. Educação Tecnicista Particularmente perversa, pelos danos a longo prazo que seriam infligidos à nação (os quais sentimos, hoje, na pele), foram as diretrizes aplicadas à educação. De 64 a 68 foi concretizado, em várias etapas, o chamado “acordo MEC-Usaid”. Isso significava uma série de medidas implementadas pelo Ministério da Educação e Cultura, em acordo com a Usaid (United States Agency for International Development – ou Agência dos Estados Unidos Para o Desenvolvimento Internacional), cujo objetivo era redirecionar a educação brasileira e levar à formação de técnicos. O alcance dessas medidas, atingiu o ensino do nível primário ao universitário, incluindo o técnico rural e a linha editorial de produção de livros didáticos. A finalidade da educação, conforme consagrada na Constituição de 1967 (outorgada pela ditadura), passava a ter como alvo a preparação para o trabalho – abandonando a formação humanística. Com a inclusão no currículo ginasial da disciplina Educação Moral e Cívica, a Doutrina de Segurança Nacional passava a ser transmitida a adolescentes, transformando-se num aparato de inculcação de seus ideais nos futuros controláveis cidadãos. Com arrocho salarial e intervenção em sindicatos cuidando, de um lado da economia, do trabalho; com amplos benefícios a grandes grupos empresariais e progressivo endividamento externo a ampará-los, de outro, estava pronto o cenário para o surgimento do “milagre brasileiro”, a partir de 1967. Consistiu esse milagre num forte crescimento da indústria, com aquisições e fusões que concentravam ainda mais a renda, localizando-se o desenvolvimento em determinadas regiões do País. Se, por um lado as classes obreiras estão amordaçadas e de mãos atadas e, a seu lado, as populações mais carentes do interior dependem da “generosidade” dos poderosos de plantão, falta, apenas que preencham-se os sonhos e desejos da classe média urbana, com a concessão de crediários facilitados, acesso ao mercado de capitais e ampla oferta de bens de consumo, para que tenhamos para a ditadura, finalmente, uma base de apoio entre o “povo”. Podemos acusar a ditadura de muitas coisas, menos, nesses primeiros tempos, em que estão implantando seu projeto, de parvos. O crescimento econômico, ainda que tremendamente concentrador, foi acompanhado, de perto, de um grande incremento por parte da Indústria Cultural e dos mercados correspondentes. Se era mais fácil adquirir um rádio ou televisor, maiores eram, também, as ofertas de programação para as “massas”. Ora, transformando, por exemplo, a televisão num meio de comunicação realmente massivo, presente na maioria dos lares, transmitindo incessantes loas ao regime, conforme o que se iniciou a fazer nesta década e obteve-se na seguinte, teremos um quadro de total controle e divulgação de uma ideologia, sem possibilidade, por muito tempo e a um alto custo, de contestação. Atividade extra Nome da atividade: Regime/Ditadura Militar / HISTÓRIA (contém alguns palavrões) Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=CRbZwM7fjYM Referência Bibliográfica AZEVEDO, F. de. A cultura brasileira. 4. Ed. Brasília: Ed. Da UnB, 1963. FÁVERO, O. (Org). A educação nas constituintes brasileiras (1823 – 1988). Campinas: Autores Associados, 2001. P. 69 – 80. GONÇALVES, N. G. Constituição histórica da educação no Brasil. 1. Ed. Curitiba: 2012. RIBEIRO, M. L. História da Educação Brasileira. A Organização Escolar. Campinas: Autores Associados, 2003. https://www.youtube.com/watch?v=CRbZwM7fjYM ROMANELLI, O. História da educação no Brasil 1930-73. Petrópolis: Vozes, 1978; VEIGA, C. G. História da educação. São Paulo: Ática, 2007. Transição do Fim do Regime Militar e seus Impactos na Educação Operíodo do regime militar no Brasil (1964 – 1985) foi marcado por um conjunto de ações autoritárias por parte do Governo que se instalou na presidência da República após a deposição do Presidente João Goulart no ano de 1964. No cenário educacional, é possível identificar três elementos a serem discutidos: o viés tecnicista das políticas educacionais, a perseguição política de pensadores e educadores contrários ao “projetoeducacional” instituído e a massificação desenfreada e descontrolada do processo escolar em detrimento de um processo de qualificação do processo formativo oferecido, sendo que tais elementos foram “implementados a partir da criação da Lei 5692-1971 (Lei de Diretrizes e Bases para o Ensino). A Lei de Diretrizes e Bases para o Ensino (Lei 5692-1971) favoreceu: O desenvolvimento de uma perspectiva de formação educacional tecnicista e elitista O direcionamento do sistema educacional para um viés de profissionalização do Ensino, tendo em vista que, segundo a legislação, todas as escolas deveriam ser convertidas em escolas profissionais A massificação do ensino sem a preocupação com a qualidade do processo de ensino Tecnicismo Educacional desprovido de preocupações formativas, ignorando o elemento humano do processo educacional O fortalecimento do lobby do setor privado no sistema educacional, com o favorecimento de grupos privados na disputa pelas verbas públicas a serem aplicadas na educação Fim do Regime Militar – 1985 O regime militar acabou oficialmente no ano de 1985, entretanto o processo de enfraquecimento do regime teve início na década anterior. A violência e a ações autoritárias do Estado, alinhadas a falta de planejamento estratégico, a ineficácia e ineficiência das políticas sociais adotadas, e os impactos sociais gerados pela crise econômica que o país passou enfrentar no final da década de 1970, resultaram em uma perda gradativa de apoio de grupos sociais que defendem a tomada de poder no ano de 1964. No processo educacional, medidas adotadas para sanar déficits no processo formativo, como o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) criado em 1968, se mostraram ineficientes tendo em vista o caráter tecnicista e a guinada para a criação de um sistema educacional sustentado na profissionalização. Elementos que contribuíram para o declínio do Regime Militar Enfraquecimento da economia Enfraquecimento da guerra fria Fortalecimento da mobilização social contrária ao regime Falta de efetividade das políticas públicas de saúde, educação e saneamento básico Fim do apoio de grupos sociais Lei da Anistia – Lei 6683/1979 Com o enfraquecimento do regime, no final da década de 1970 (mais precisamente no ano de 1979), foi promulgada a lei da anistia, legislação que “anistiou” todos os acusados de cometerem “crimes políticos” no decorrer do Regime Militar (foram anistiados todos os indivíduos acusados e/ou condenados por crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política). Assim, diversos intelectuais que eram críticos ao regime foram “libertados” e tiveram autorização para retornar do exílio, fortalecendo o movimento de oposição ao regime militar, e, ao mesmo tempo, propondo medidas para resolver os problemas sociais que estavam se agravando no Brasil naquele momento. Consequências da Lei da Anistia de 1979 Retorno dos pensadores e intelectuais exilados pelo Regime Militar (ex. Paulo Freire). Novo linear para a volta da Democracia e para o desenvolvimento de novas propostas educacionais. O período do regime militar deve gerar algumas reflexões importantes, principalmente sobre os erros do passado, assim, devemos nortear a nossa organização política do Estado com o objetivo de sistematizar medidas educacionais, sociais, econômicas e ambientais visando evitar a repetição dos erros do passado. Neste sentido, algumas reflexões se tornam necessárias, principalmente sobre a compreensão dos seguintes elementos: A história brasileira é marcada pela fragilidade democrática. A fragilidade democrática passa por um sistema educacional deficitário. Manchas na história: violência, censura e perseguições políticas. Programas sociais ineficientes e ineficazes. Educação massificada e sem qualidade. Atividade extra Ler o texto Há 40 anos, Lei da Anistia preparou caminho para fim da ditadura Link da Atividade: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo- s/ha-40-anos-lei-de-anistia-preparou-caminho-para-fim-da-ditadura) Referência Bibliográfica TERRA, Márcia de Lima Elias (org). História da Educação. Biblioteca Universitaria Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. RAMOS, Fábio Pestana; MORAIS, Marcus Vinícius. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. FLORESTAN, Fernandes: O Brasil de Florestan. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/ha-40-anos-lei-de-anistia-preparou-caminho-para-fim-da-ditadura https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/ha-40-anos-lei-de-anistia-preparou-caminho-para-fim-da-ditadura SITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. A Redemocratização e a Constituição Cidadã Transição para a Democracia Os anos mais pesados da ditadura civil-militar, chamados mesmo de anos de chumbo, correspondem ao governo Medici (1969-1974). As arbitrariedades (que incluíram, além da tortura propriamente dita, sequestros, assassinatos, estupros, extorsões, corrupção e outros crimes) eram cotidianas e faziam parte de uma política de Estado – reprimir até extinguir qualquer oposição. As tensões, dentro e fora do país, estavam chegando ao insuportável. O mandato de Médici estava terminando e o próximo presidente deveria começar a transição entre a saída da linha dura e o retorno dos moderados – com vistas a concluir o ciclo militar e sair de cena. A situação estava clara: a aventura golpista e ditatorial não tinha dado tão certo quanto o pretendido. O escolhido foi o general Ernesto Geisel, encarregado de realizar – segundo suas próprias palavras – a abertura; de forma lenta, gradual e segura. Durante seu mandato ocorreram crimes, também, como os assassinatos de Manoel Fiel Filho e de Vladimir Herzog. Porém, conseguimos sair da esfera de alinhamento automático com os EUA, como ocorreu, por exemplo, no desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro e as instalações das usinas nucleares em Angra dos Reis (RJ), em tudo usando tecnologia alemã (americanos odiaram, claro). Eles encontraram uma saída minimamente razoável para a extinção do AI-5, que foi revogado em Dezembro de 1978 (a saída foi incorporar à Constituição de 1967 – essa que já era uma invenção militar – alguns dos dispositivos do Ato Institucional). Promulgaram a Lei de Anistia – mais “brasileira”, no pior sentido, impossível: anistiava todo mundo; por isso não podemos processar e prender criminosos que, supostamente, agiram em nome do Estado. Também foi no último ano de seu governo, que Geisel viu ressurgir algo que, havia uma década, o Brasil desconhecia: em 1978, os metalúrgicos da Scania, em São Bernardo do Campo (SP), fizeram uma greve, por melhores salários e condições de trabalho. No ano seguinte a greve foi de TODA a categoria, no lugar (ABC Paulista) onde existiam mais metalúrgicos no Brasil (se você pensou em Lula, acertou). Seu sucessor já estava escalado para ser o último presidente militar : João Figueiredo. Para termos uma ideia de seu espírito democrático, antes da posse, perguntado o que faria se alguém não quisesse que ele promovesse a tão falada Abertura, respondeu: “Se alguém não quiser que abra, eu prendo, arrebento”. Seu governo conheceu muitos atentados terroristas, praticados pela extrema direita (alguns grupos eram o Movimento Anticomunista – MAC, Comando de Caça aos Comunistas – CCC, Falange pátria nova - FPN); muitos praticado contra bancas de jornal que vendessem publicações consideradas esquerdistas. Esses fatos são mencionados na música Faroeste Caboclo, da Legião Urbana: “Não boto bomba em banca de jornal, nem em colégio de criança; isso eu não faço, não”. O verso seguinte, a respeito de “general dedez estrelas” também alude a esses fatos. Em um desses atentados o tiro, literalmente, saiu pela culatra: foi o Caso Riocentro. Em 30 de Abril de 1981, houve um grande show de MPB, com milhares de jovens na plateia, em homenagem ao Dia do Trabalho, que aconteceu no Centro de Convenções Riocentro (RJ). Um capitão e um sargento, ambos do exército, transportavam uma bomba, que deveria ser colocada no local (outras bombas iam explodir também, em outros locais do Riocentro). A ideia era colocar a culpa na esquerda, para tentar barrar o processo da Abertura. Felizmente (para o público e para o Brasil), a bomba explodiu no colo do sargento, dentro do carro. Sargento morto, capitão muito ferido – e Abertura salva. Dois anos depois, um outro fenômeno agitou todo o país: a campanha pelas Diretas Já. Uma emenda constitucional, apresentada pelo deputado Dante de Oliveira, reconstituía as eleições diretas, em todos os níveis, incluindo a presidência. Literalmente milhões de pessoas foram às ruas, foi algo realmente emocionante, inesquecível. Só que a emenda foi derrotada em votação no congresso. Porém, sabíamos, agora, que a Redemocratização era irreversível. Constituição Cidadã Aquela greve de 1978 gerou inúmeros filhotes, que se convencionou chamar de novo sindicalismo. Novamente tivemos centrais sindicais (CUT, CGT etc.) e os líderes operários logo se transformaram em líderes políticos. Isso coincidiu com a volta das lideranças pré-golpe que estavam exiladas e retornaram, não apenas ao país, mas à vida política. Assim, personalidades históricas como Leonel Brizola, para citar um dos mais icônicos, voltaram à vida política brasileira. Aliás, Brizola era demasiadamente incômodo para os resquícios do militarismo. Então, não permitiram que o histórico líder do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, herdeiro natural de Getúlio e de Jango (aliás, seu cunhado), pudesse retomar a sigla famosa. Ele criou, assim, o Partido Democrático Trabalhista – PDT, com o qual obteve sucesso eleitoral a ponto de eleger-se governador do Rio de Janeiro. Dentro do mesmo espectro de esquerda, nasce o Partido dos Trabalhadores – PT, na esteira do sucesso dos movimentos sindicais. Muitas outras siglas apresentaram-se, constituindo um painel inteiramente novo na política nacional. Diante da derrota das Diretas Já, formou-se um grande acordo nacional, para pôr fim ao regime militar. Assim, forças de direita, centro e setores da esquerda lançam a candidatura da chapa Tancredo Neves-José Sarney. O candidato a presidente estava no cenário político há muito tempo: fora ministro de Getúlio e o primeiro-ministro no “parlamentarismo” que tentou impedir a posse de Jango. Era, sim, um democrata, moderado, batalhador pela democracia. Já Sarney, seu vice, ao contrário, tinha sido da finada UDN (populismo de direita); de direita em direita, foi mais do que membro do partido que apoiou a ditadura – meses antes de formar chapa com Tancredo era o presidente do partido! Quis o Destino – qualquer que seja sua identidade – que Tancredo não tomasse posse, morreu antes. E o processo que já tinha o nome de Nova República foi tocado por um Sarney que não tenha sido talhado para isso. Incompetência e corrupção fazem um governo desastroso. Nesse cenário, vamos eleger uma Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988). Seu fruto é a chamada Constituição Cidadã! Direitos e garantias individuais inéditos estão, agora, na Lei Maior. E, sob o império dessa nova Carta, elegeremos nosso primeiro presidente, democraticamente, por voto secreto e direto de homens, mulheres, analfabetos, doutores, pobres, ricos: Fernando Collor. Que sofreu o primeiro impeachment e nossa História. E os outros países comentaram: “ora, então, é possível declarar o impedimento de um presidente... e o mundo não acaba!”. Sim, mostramos isso ao planeta. Viva o Brasil! Novas Ideias para a Educação Nossa Educação precisa recuperar-se do descompasso com a realidade, que foi o saldo que nos legou nossa História. Temos considerações a fazer: 1-Ao longo das últimas décadas, pós regime militar, a escola, muito frequentemente, entrou em um processo de “promoção automática”. Assim, formamos uma legião de jovens que sabem escrever o próprio nome sem, contudo, conseguir estabelecer um nexo causal entre ideias variadas. Não há interpretação de texto, não se aprofundam as ideias. E, a parte criminosa disso é acreditar que não há nada que se possa fazer. Pois, há TUDO para se fazer!! Digo mais: a rapaziada ADORA descobrir coisas que lhes foram ocultadas. Falo por experiência própria!! 2-Inclusão e Diversidade passaram a ser itens obrigatórios. E a experiência ensina que a obrigatoriedade sem conscientização é algo perfeito para ser a)mal-feito e b)descartado. Acontece que inclusão e diversidade são dois conceitos importantíssimos para promovermos educação de qualidade e de verdade! Saber fazer – no sentido de técnica – é simples. O difícil é produzir a tal conscientização, não só na criança e no jovem. Pense, também, no trabalho que dará conscientizar sobre inclusão e diversidade as famílias (principalmente as que não precisam para si), mais todos os profissionais de apoio à Educação e – por último, mas não menos importante – a todos nós, profissionais da Educação. 3-Projetos de cidadania artística e sociocultural, que são formas de se apresentar ao mundo da Educação (alunos, professores, autoridades, apoio etc.) as linguagens da arte (nas suas mais variadas formas), o trabalho colaborativo, as vivências em grupo, o prazer da autoexpressão, as alegrias do encontro de criatividades. É absurdamente necessário promover isso – e é igualmente prazeroso. Democracia Claudicante Fernando Collor, foi o primeiro presidente eleito sob a égide da Constituição Cidadã. E, envolvido em casos de corrupção, sofreu o primeiro impeachment de nossa História. E o Mundo comentou: ora, então, é possível declarar o impedimento de um presidente... e o mundo não acaba! Sim, mostramos isso ao Mundo. Nem os Estados Unidos tinham tido essa coragem de testar as instituições. Seu vice, Itamar Franco, até então um político obscuro, revelou-se um bom presidente. E fez o que havia de melhor: deixou as pessoas de seu governo trabalharem; nasceu daí o Plano Real, que solucionou – até agora... – nossos problemas crônicos de desarranjo econômico. Foi impulsionado pelo sucesso do Real que se elegeu Fernando Henrique Cardoso – FHC, que teve um governo bastante razoável (tirando o feio episódio do estatuto da reeleição...). Mas, uma coisa vimos acontecer, para nosso orgulho nacional: tirando JK, FHC foi o primeiro presidente civil de nossa história republicana, democraticamente eleito, a passar o cargo para seu sucessor. Sim, era ele mesmo; o importante, porém é que o processo estava concluído. Daí, veio impensável: um o-pe-rá-ri-o sentou-se na cadeira presidencial. Luís Inácio Lula da Silva disse, no dia da posse: “nunca imaginei que o primeiro diploma que eu receberia na vida seria o de presidente do meu pais”. Oh, que vergonha, saímos de um sociólogo e professor universitário e caímos nas mãos de um semi-analfabeto!! Muita gente disse isso. E ele foi reeleito e elegeu sua sucessora. Saiu da presidência com um índice de aprovação muito maior que o antecessor. Cometeu erros, sem dúvida; porém, a questão a ser levantada é: não é a origem socioeconômica do político que determinará o sucesso ou fracasso de sua gestão. Lula elegeu Dilma e esta se reelegeu. Um conturbado processo iniciou-se em 2013, dando voz a uma tremenda insatisfação da população. Hoje sabemos que esse processo de insatisfação foi bastante insuflado por uma oposição que não se conformou com o resultado das eleições que a reelegeram. As acusações de corrupção de seu partido (o PT, dentre muitos outros), sua dificuldade em fechar acordoscom o Congresso e uma grande campanha na imprensa resultaram em seu impeachment (nenhum crime de corrupção foi ligado a ela). Vivemos, desde então, nas mãos de um poder absolutamente corrompido e corruptor: a Internet. Sem nos referirmos a algum ocupante de cargo eletivo, estamos todos num sistema democrático claudicante, ou seja, manco. Recebemos informações de todas as partes, sem conseguirmos processá-las. Não buscamos informação que nos conte uma novidade, buscamos as fontes que nos digam o que já sabemos, o que buscamos é a confirmação de que estamos certos. Não tem como funcionar. A solução – sim, há! – é EDUCAÇÃO. Ensinar às crianças (de qualquer idade, até 70, 80...) a reconhecer mentiras (detesto, pessoalmente, a expressão fake news...). Ensinar a du-vi-dar, o que DEVE levar à busca da verdade. Ensinar a LER (no sentido mais amplo do termo). E a DEBATER. E a ESCREVER. E a ser ARTISTA, CRIATIVA. E a ser CHATA!! Muito CHATA – pois quem é chamado de chato, aqui neste país, em geral, é alguém que quer discutir as coisas até o fim. Já temos uma meta a atingir: criar uma legião de chatos – incluindo a nós mesmos, se tivermos sorte! Atividade extra Nome da atividade: O Invasor Americano, de Michael Moore Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=dSSbXvBPo-U Referência Bibliográfica AZEVEDO, F. de. A cultura brasileira. 4. Ed. Brasília: Ed. Da UnB, 1963. FÁVERO, O. (Org). A educação nas constituintes brasileiras (1823 – 1988). Campinas: Autores Associados, 2001. P. 69 – 80. GONÇALVES, N. G. Constituição histórica da educação no Brasil. 1. Ed. Curitiba: 2012. https://www.youtube.com/watch?v=dSSbXvBPo-U RIBEIRO, M. L. História da Educação Brasileira. A Organização Escolar. Campinas: Autores Associados, 2003. ROMANELLI, O. História da educação no Brasil 1930-73. Petrópolis: Vozes, 1978. VEIGA, C. G. História da educação. São Paulo: Ática, 2007. Educação em Foco no Brasil: Anísio Teixeira e Florestan Fernandes Reflexões sobre a Educação no Brasil Conforme foi apresentado nas aulas anteriores, o sistema educacional brasileiro foi marcado por diversos fatos históricos ao longo da sua história. No período colonial o sistema educacional possui determinadas características inerentes àquela época, assim como os sistemas educacionais dos períodos imperial e republicanos passaram a serem moldados pelas características da sociedade que emergiu nos séculos XIX e XX. Neste sentido é necessário reconhecer que a Educação possui um elemento estrutural: História. Os fenômenos que observamos no nosso sistema educacional atual são frutos de um processo histórico, ou seja, não são meras situações encontradas no nosso cotidiano, mas elementos estruturais que acompanham o Brasil desde a chegada dos portugueses. Percentual da população que possuía acesso e permanência no sistema educacional em 2018 (Dados do Plano Nacional de Educação): • Crianças entre 0 e 03 anos - Aproximadamente 31% • Crianças entre 04 e 05 anos – Aproximadamente 91% • Percentual da população de 16 anos com E. Fundamental concluído – 76% • Percentual da população de 15 a 17 anos que frequenta o Ensino Médio - 70% Podemos perceber que, embora o sistema educacional no período republicano prometa que todos os indivíduos possuem acesso garantido a uma educação pública, gratuita e de qualidade, os dados demonstram que ainda temos grandes problemas na garantia de condições de acesso e de permanência de todos os indivíduos no sistema educacional. Construção da Pedagogia Brasileira – Elementos Históricos que impactaram a estruturação do sistema educacional atual • Fim da escravidão – 1888 • Início da República – 1889 • Debates sobre uma escola pública, laica, gratuita e universal – década de 1930. Influências do Pensamento Pedagógico Brasileiro • Karl Marx – Crítica a realidade social • John Dewey – Escola Nova Dois grandes pensadores e críticos das limitações da sociedade contemporânea, e, consequentemente, do cenário educacional desta sociedade influenciaram diversas gerações de pensadores brasileiros da área de educação. Karl Marx e John Dewey, influenciaram diversos pensadores brasileiros que estudaram a evolução do nosso sistema educacional, sendo que Marx e Dewey se tornaram autores centrais para a compreensão do sistema social brasileiro e do sistema educacional derivado deste sistema social. Principais Pensadores da Educação Brasileira • Anísio Teixeira • Florestan Fernandes • Paulo Freire • Darcy Ribeiro • Fernando de Azevedo • Dermeval Saviani Dentre todos os pensadores da educação brasileiro dos séculos XIX e XX, dois se destacam especialmente: Anísio Teixeira e Florestan Fernandes. Anísio Teixeira (1900-1971) • Discípulo de John Dewey (Educador norte-americano – idealizador do movimento da Escola Nova) • Um dos principais membros do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) • Defensor da Escola Pública e Gratuita • Defensor de um sistema de ensino sustentado na Educação ao invés da Instrução • Para Anísio Teixeira, "uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução” é essencial para a formação consciente e crítica. Florestan Fernandes (1920-1995) – Sociólogo, Educador e Político • Defensor da Democracia, sendo que para Florestan a democracia era a liberdade de educar e o direito irrestrito de estudar. • Defensor da escola pública, gratuita e de qualidade. • Defensor do enfrentamento às heranças coloniais e escravocratas, com o combate ao racismo e todas as formas de exclusão e opressão (principalmente nas escolas). • Idealizador de um projeto de educação para todos com equidade no país. Atividade extra Assistir o vídeo “Pensadores na Educação: Anísio Teixeira e a construção do projeto de ensino público no Brasil”(disponível em https://www.youtube.com/watch?v=fbfREZ6Na1s). Referência Bibliográfica TERRA, Márcia de Lima Elias (org). História da Educação. Biblioteca Universitaria Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. RAMOS, Fábio Pestana; MORAIS, Marcus Vinícius. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. FLORESTAN, Fernandes: O Brasil de Florestan. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. SITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. Reflexões sobre a Educação Brasileira Contemporânea: Paulo Freire https://www.youtube.com/watch?v=fbfREZ6Na1s Estamos percebendo, nas aulas da disciplina Pensamento Pedagógico Brasileiro, que a educação contemporânea é marcada fortemente por alguns elementos, sendo que os principais são: Fruto de uma herança histórica A escola atua, nesta sociedade, como Reprodutora das relações sociais construídas ao longo da história Os grupos sociais dominantes são privilegiados no âmbito do sistema educacional Ausência de possibilidades de geração de liberdade e de autonomia por meio da educação escolar Escola como agente de reprodução do perfil Autoritário e Opressor da sociedade Os elementos apresentados são históricos, portanto, percorrem toda a história da educação brasileira. Entretanto, no século XX, um pensador brasileiro apresentou reflexões consistentes sobre estes elementos, abordando de maneira crítica o perfil escolar e educacional adotado pelo Brasil nos últimos séculos. O pensador que fez tais críticas foi o patrono da educação brasileira Paulo Freire. Embora seja muito difícil descrever de maneira resumida a vida e a obra de Paulo Freire, tendo em vista a sua atuação por toda a vida, alguns elementos são essenciais para compreensãodo perfil deste grande pensador: Educador Socialista (autoproclamado) Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife Condecorado com mais de 45 títulos, entre doutorados honoris causa e outras honrarias de universidades e organizações brasileiras e do exterior Idealizador de um método inovador de alfabetização – Método Paulo Freire Exilado pelo Regime Militar – por ser considerado subversivo ao sistema adotado pelos militares após o golpe de 1964 No exílio Paulo Freire desenvolveu projetos educacionais para a UNESCO em mais de 30 países Foi professor visitante em diversas universidades internacionais (inclusive Harvard) É considerado o Patrono da Educação Brasileira Possui quase 40 livros publicados sobre educação, traduzidos para mais de 17 línguas/idiomas Paulo Freire foi muito crítico a um modelo educacional sustentado na ausência de autonomia por parte dos alunos, em um modelo de opressão por parte das classes dominantes, na qual o processo de ensino- aprendizagem era reduzido a um modelo de educação bancária. Ao longo da sua vida, Paulo Freire buscou conscientizar os docentes de que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, assim o papel do docente deveria ser de criar todas as condições para que a aprendizagem se concretize e não simplesmente depositar um conjunto de conteúdos diariamente como se estivessem realizando depósitos bancários. Paulo Freire fez críticas consistentes ao modelo educacional da sociedade industrial (que ele chama de sociedade burguesa), tendo em vista que, segundo Freire, o sistema educacional desta sociedade fomenta a reprodução da relação opressor-oprimido. Paulo Freire define esta situação da seguinte forma: ‘Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor’. Além de ser crítico ao modelo educacional brasileiro, Paulo Freire trouxe diversas contribuições para a reflexão acerca do sistema educacional brasileiro, apontando indicativos importantes para compreender com profundidade os elementos intrínsecos do processo educacional. Contribuições de Paulo Freire para a Educação Brasileira Mapeamento dos principais problemas da Educação Brasileira Desenvolvimento de um método de alfabetização que poderia acabar com o problema do analfabetismo no Brasil Apresentou os elementos de Opressão presentes na Educação Brasileira – geradores de ausência de liberdade e de autonomia. Suas propostas, se implementadas, poderiam levar a um processo de formação voltada para a geração de democracia e de cidadania. Atividade extra Assistir o vídeo Última Entrevista a Paulo Freire 1° parte Link https://www.youtube.com/watch?v=Ul90heSRYfE Referência Bibliográfica TERRA, Márcia de Lima Elias (org). História da Educação. Biblioteca Universitária Pearson. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. https://www.youtube.com/watch?v=Ul90heSRYfE RAMOS, Fábio Pestana; MORAIS, Marcus Vinícius. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. FLORESTAN, Fernandes: O Brasil de Florestan. Belo Horizonte. Autêntica Editora, 2018. SITKOSKI, Jaime José. Paulo Freire & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. Perspectivas para a Educação Brasileira no Século XXI Novos Problemas, Novas Soluções A realidade em que vivemos está mudando de maneira cada vez mais rápida e profunda, exigindo novas posturas que se adequem às várias novas facetas do mundo real; com a Educação isso não é diferente. E os grandes focos de resistência que encontramos estão, exatamente, naquelas pessoas ou grupos que ainda mantêm atitudes como “no meu tempo era assim” ou “se eu aprendi de tal maneira, meu filho também vai apender”. Ora, se funcionou para mim, meu pai e meu avô, por que não funciona para essa garotada de hoje? Entendamos esse contraste entre realidade e postura pensando no seguinte: muita gente que está na casa dos 55, 60 anos (e muitos têm filhos em idade escolar!) não nasceu em uma casa com televisor; foi apresentado ao primeiro computador no local de trabalho e ainda há quem fique atrapalhado com uso de controle remoto e a programação de uma Smart TV, pois só sabe os comandos básicos – ou pede para um filho ou neto ajudar... O nome disso, é bom repetir, é evolução em alta velocidade. As pessoas não têm, ainda, a dimensão das mudanças que estão ocorrendo. Atenção: não falo de um evento futuro, mas presente! A Inteligência Artificial toma espaço cada vez maior e NÃO é mais objeto de ficção científica; com a tecnologia 5G vai alterar muito as configurações de realidade a que estamos habituados. Isso não é novidade no mundo. Quando chegaram os automóveis, os carroceiros e construtores de charretes demoraram a entender que seu tempo havia passado. O mesmo aconteceu aos vendedores de enciclopédias, que o faziam de porta em porta, e às telefonistas, a quem se pedia para “completar” uma ligação . Há quanto tempo você não vê um ascensorista? Estão cada vez mais raros. As pessoas mais bem informadas temem pelo futuro. Mas, os verdadeiramente preparados para ele estão prontos para adaptar seu modo de vida a essas mudanças. Quem está à frente de uma sala de aula não pode temer o futuro, pois está educando quem vai viver esse futuro. Os problemas são novos e desafiadores; saber disso, em lugar de assustar, deve servir como motivação, deve provocar o espírito de luta de quem teve a coragem de dedicar-se a conduzir as pessoas pelas trilhas do conhecimento. O pedagogo é o profissional que prepara o conteúdo e a melhor forma de transmiti-lo. Com o futuro não haverá de ser diferente. Educação Globalizada A última década do século 20 ficou famosa por agregar um novo termo (e seus conceitos) ao nosso vocabulário: globalização. O vocábulo é fruto direto da disseminação da internet. Se, em 1873, Júlio Verne publicou “A volta ao mundo em oitenta dias” como uma aventura ficcional (na época acreditava-se que tal viagem levaria, sem imprevistos, pelo menos três meses) é porque já se imaginava que, com a tecnologia disponível à época (estamos falando de motores a vapor), o mundo já havia, de certa forma, diminuído. Pois esse “encolhimento” do planeta não parou ali e, com a rede mundial de computadores, sabemos instantaneamente, em tempo real, o que acontece em qualquer parte, em todos os continentes, a qualquer instante. Esse processo globalizante não poupou a Educação. E por razões excelentes. Se não, vejamos. Há um fluxo muito maior de pessoas e informações, em todas as direções. As culturas se conhecem, se esbarram, se misturam, se combinam. E muitas vezes se chocam, é claro. Ficamos sabendo como são os problemas de outros povos; problemas, de certa forma assemelhados, até. Certamente, passamos a conhecer as soluções que cada povo encontrou para esses problemas – e partimos para a pesquisa: será que essa solução, que deu tão certo ali, poderia dar certo aqui, também? Então, lá se vão os pensadores e praticantes da Pedagogia, buscando conhecer, entender, saber os porquês de certas práticas funcionarem. Por exemplo, os resultados de rendimento em aprendizagem na Finlândia são ótimos – será que é porque são escandinavos?. Porém, os índices de Portugal têm tido resultados semelhantes – e a cultura deles é mais parecida com a nossa. Como é isso? Ao final das contas, verificamos que muito do que é praticado num país também o é em outro – inclusive com desenvolvimento próprio de metodologias e técnicas. E esse é apenas UM exemplo. Daí, portanto, a necessidade de mantermos nossa atenção desperta para as experiências globais de desenvolvimento do ensino. Não há fórmulas mágicas, nem procedimentos universalmente adequados. Cada caso é um caso e deve ser estudado profundamente. Tecnologia e Pedagogia Dentreos diversos problemas encontrados no imenso campo da Pedagogia, principalmente se pensarmos em escala mundial, alguns deles são recorrentes em grande parte dos países. Pesquisa realizada por uma universidade neozelandesa (Nick Zepke e Linda Leach, Improving student engagement: ten proposals for action, 2016) selecionou artigos científicos publicados em todo o mundo, até chegar em cerca de uma centena. O objetivo era encontrar algumas saídas para um problema que parece universal: o engajamento dos alunos (muito especialmente no ensino superior). O resultado, como o título do artigo indica, foi um apanhado de dez propostas. E nenhuma delas é matematicamente certeira. Afinal, não estamos lidando com o alinhamento de máquinas ou circuitos, mas com jovens que, muitas vezes, não sabem muito bem por qual razão precisam de um diploma. Hoje temos razoável certeza de que a mudança no protagonismo dentro da sala de aula, passando o foco do professor para o aluno é particularmente interessante e traz consigo uma série de técnicas inovadoras e bastante eficazes, chamadas genericamente de metodologias ativas. O estudante, em lugar de um receptáculo de conhecimento (que era, antes, monopólio do professor), torna-se o agente ativo na busca pelo saber. Ora, se não é o professor o disseminador do conhecimento, qual a nova função lhe caberá? A função do docente passará por uma transição, tornando-se ele mais um mentor, que orientará os alunos nas práticas a serem desenvolvidas. Terá um papel, na verdade, de extrema relevância, pois agirá como o agente provocador, que proporcionará desafios aos jovens, com um resultado mais efetivo no que tange, por exemplo, ao engajamento de que falamos. O Futuro é Agora Não nos enganemos, entretanto. Quando falamos nesta disciplina em perspectivas para a Educação brasileira no século 21 é preciso lembrar que já é transcorrido um quinto desse século. Sendo assim, essas perspectivas não estarão, porventura, ultrapassadas? De forma alguma! No ritmo vertiginoso em que vivenciamos as verdadeiras revoluções que têm lugar diante de nossos olhos, pode-se afirmar, sem medo de fazer “literatice”, que o futuro é agora. Mencionamos, no vídeo anterior, novos métodos e tecnologias educacionais que surgem com bastante rapidez. Pois, se pensarmos que estamos envolvidos em preparar nossos alunos para a vida, precisamos lembrar que ela é um pouco maior do que as notas ao final de cada semestre, em disciplinas concebidas pelo órgão estatal responsável. Quando o prepara para a vida, você deverá atentar, também, para as qualidades socioemocionais de seu aluno, não importa de qual idade. Aquilo que o mundo corporativo – que vende mais cara a ideia, se ela vier em inglês – chama de soft skills; as tais habilidades socioemocionais mencionadas acima. Informe-se sobre elas, aprenda, desenvolva-as em você, não descuide do desenvolvimento delas em seus estudantes. Há uma razão forte para isso: não importa a tecnologia dominante nos mercados de trabalho do futuro, no comando das cidades, nos governos mundiais; não importa se vier o 6G, o14G, o 125G, sempre haverá algo insubstituível –a humanidade, qualidade unicamente presente no ser humano. Atividade extra Nome da atividade: História da Educação - Trajetórias, pesquisas e perspectivas na Educação do século XXI Link para assistir a atividade: https://www.youtube.com/watch?v=ZHxulDbAeWw https://www.youtube.com/watch?v=ZHxulDbAeWw Referência Bibliográfica BELLINI, Luzia Marta ; MARTINS, Eliana Fatobene, A escola no século XXI: quais desafios devem enfrentar seus gestores? Programa de Desenvolvimento Educacional, Secretaria da Educação, Governo do Paraná <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/ artigo_eliana_fatobene.pdf> Acesso em 21/05/2021. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir, relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (destaques) UNESCO Digital Library, 2010. <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000109590_por> Acesso em 21/05/2021. MACHADO, Christian David ; PROBST, Melissa. A Gestão Escolar no Século XXI: Os Desafios nos Novos Gestores. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 02, Vol. 01, Abril de 2017. pp 453-460. ISSN:2448-0959 <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/gestao- escolar> Acesso em 21/05/2021. NOEMI, Débora. Escola do século XXI: quais os desafios da educação, artigo no site <https://escolasdisruptivas.com.br/escolas-do-seculo- xxi/escola-do-seculo-xxi/> Acesso em 21/05/2021. http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/artigo_eliana_fatobene.pdf http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/artigo_eliana_fatobene.pdf https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000109590_por https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/gestao-escolar https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/gestao-escolar https://escolasdisruptivas.com.br/escolas-do-seculo-xxi/escola-do-seculo-xxi/ https://escolasdisruptivas.com.br/escolas-do-seculo-xxi/escola-do-seculo-xxi/