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NEGOCIAÇÃO E PROCESSO DECISÓRIO ELENISE ANGÉLICA MARTINS DA ROCHA GIOVANA MACEDO DOS SANTOS (org.) MARIA REGINA DE MORAES XAUSA COLABORADORES: ALEXANDRE PERUCIA INGRIDI BORTOLASO VITÓRIA XAUSA BOSAK 2ª edição Editora Unisinos, 2015 SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1 – Negociação Capítulo 2 – Processo decisório Capítulo 3 – Prepare-se para a negociação Capítulo 4 – Elementos da negociação e processo decisório Capítulo 5 – Conflitos Capítulo 6 – Ética na negociação Sobre os autores APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo!!! Sabemos que uma negociação envolve, em geral, duas ou mais partes em um diálogo a fim de fechar um acordo que satisfaça os dois lados. No entanto, este processo envolve interesses, percepções diferentes e, algumas vezes, culturas distintas. Isso nos permite dizer que um dos fatores de competitividade está no desenvolvimento da habilidade de negociação. Assim, este livro que integra a oficina de Negociação e Processo Decisório visa contribuir para o entendimento da dinâmica da negociação e da tomada de decisão. Para tanto, o Capítulo 1 inicia com o entendimento sobre o que é negociação, como é conduzida no ambiente empresarial, de que forma é realizada em redes e cadeias produtivas, bem como as interferências culturais neste processo. No Capítulo 2, tem-se o embasamento teórico sobre o processo decisório a partir da compreensão dos fatores que impactam a decisão, trazendo uma metodologia: o modelo DECIDE. No Capítulo 3, será destacada a importância do preparo para a negociação. O Capítulo 4 estimula uma reflexão sobre os elementos intervenientes no processo de negociação e tomada de decisão, chamando atenção para os cuidados que devemos ter. O Capítulo 5 traz a temática sobre conflitos a partir da análise e do conhecimento das diferentes maneiras de administrá-lo. Também aborda o tema mediação como uma solução alternativa para resolução de conflito. Por fim, o Capítulo 6 propõe uma reflexão sobre a ética nos processos de negociação e tomada de decisão. Tenha uma boa leitura! CAPÍTULO 1 NEGOCIAÇÃO Giovana Macedo dos Santos Neste capítulo apresentamos uma visão geral da negociação, propondo uma reflexão inicial sobre sua importância. No desenvolvimento deste capítulo serão tratados os seguintes assuntos: (1) negociação no ambiente empresarial, (2) negociação em nível estratégico, (3) negociação em redes e cadeias produtivas e (4) interferência dos fatores culturais na negociação. 1.1 O que é negociar? Negociar é uma ação realizada diariamente, em diversos momentos e em diferentes situações, seja de ordem pessoal ou profissional. Isto ocorre sempre que é preciso decidir entre uma ou mais alternativas e envolve outra pessoa. Embora seja uma habilidade utilizada diariamente, sempre há aspectos que podem ser melhorados. É verdade, sempre há o que melhorar e um dos aspectos está relacionado às habilidades de comunicação e relacional, pois a negociação se dá por meio do diálogo entre duas ou mais pessoas e estas, normalmente, apresentam pontos de vista diferentes não só sobre a situação como também sobre a forma de resolver tal problema. Isso implica a necessidade de as partes serem flexíveis perante as diferenças. E, como cada vez mais nas empresas que trabalhamos somos colocados para realizar atividades em equipe, esta necessidade se faz sempre mais presente, pois a negociação ocorre com maior frequência. No entanto, é comum que vários destes momentos de conversa se transformem em atritos/ conflitos por enveredar para o lado pessoal e renegar o objetivo inicial da conversa. Isto mostra que negociar requer o esforço das partes envolvidas para que o processo ocorra de forma saudável, ou seja, de forma cooperativa. Assim, é preciso considerar alguns pontos básicos: O seu foco ao negociar é no problema e não nas pessoas Este é um dos pilares do método de Harvard de negociação. Isto significa dizer que devemos nos preparar para discutir o motivo que nos levou a estar ali frente a frente e não “buscar os culpados” ou “apontar o dedo para as imperfeições do outro”. Pelo contrário, se nos dispusemos a negociar é porque existe uma alternativa de resolução conjunta. Não ataque o outro lado, fixe no propósito da negociação. Escutar ativamente é fundamental Aprender a escutar requer treino, pois não é uma tarefa fácil já que solicita sua atenção “por inteiro” ao outro. Pense!!! Como foi que você escutou outra pessoa quando esteve no restaurante, em uma reunião de trabalho? Você interrompeu antes de a pessoa concluir? Você estava pensando no e-mail que deveria enviar quando retornasse para sala, enquanto o colega conversava com você? Caso tenha respondido sim a essas perguntas saiba que é um comportamento bastante comum, mas não adequado para uma comunicação eficaz. Teremos um capítulo que trará mais informações. No entanto, você já pode começar. Coloque-se em posição de receber informação. Não interrompa! Comunicação eficaz por meio de argumentos sustentáveis De acordo com Ferreira (2008, p.122), “o diálogo pode ser definido como uma interação de duas ou mais pessoas na qual ocorre um livre fluxo de informações e de significados.” Isto quer dizer que só ocorre uma comunicação efetiva quando a outra parte entende os significados. É por essa razão que a expressão das ideias precisa ser clara por meio de argumentos bem elaborados na medida em que são estruturados, pensando no receptor da mensagem. Lembre-se de que o feedback é uma forma de identificar se a mensagem foi compreendida. Equilíbrio entre emoção e razão Escutar ativamente este equilíbrio também não é tão fácil, pois algumas negociações levam a pessoa ao descontrole. Por isso, as emoções podem ser determinantes em uma negociação. De acordo com Ferreira (2008, p. 66), as emoções “se manifestam de duas formas: comportamental, que consiste na expressão de respostas tais como alegria, ressentimentos ou raiva, as quais afetam diretamente as interações com as outras pessoas e representações cognitivas dos estados emocionais, que são os sentimentos que definem a maneira de pensar da pessoa e estabelecem seus planos e ações futuras”. Como a tensão está presente nas negociações é importante que ao processar a informação a pessoa perceba seus sentimentos, avalie a situação e busque a resposta verbal e comportamental mais adequada, a fim de evitar reações negativas. Como já referido anteriormente, não é uma tarefa fácil, no entanto, vale a pena tentar. Uma alternativa para conservar o equilíbrio emocional é sempre conduzir a negociação voltada para a objetividade na análise dos fatos. Como vimos, os pontos aqui citados mostram o cuidado que devemos ter ao negociar. E para aprimorar é preciso considerar que negociar significa desenvolver o CHA negocial. Figura 1 – CHA negocial. Fonte: elaborada pela autora. Para a engrenagem do CHA funcionar deve ser “azeitada” sempre, ou seja, antes e durante a negociação. Conhecimentos (Saber) Antes da negociação: relacionado às leituras e cursos sobre o tema e afins. Durante a negociação: referente ao que está sendo negociado associado às informações obtidas. Tenha em mente de que os conhecimentos são a base para a negociação. Habilidades (Saber fazer) Antes e durante a negociação: colocar em prática o conhecimento adquirido. Atitudes (Querer fazer) Antes da negociação: querer aprender. Durante a Negociação: flexibilidade para entender e superar as diferenças. Como se observa na Figura 1, o CHA é uma engrenagem e como tal está inter-relacionada, ou seja, se retroalimenta, ou seja, para que ocorra a negociação é necessário que os três elos estejam funcionando. Isto mostra que estamos diante de um processo dinâmico. Pensando nisso, vamos entender o significado de negociação a partir de alguns conceitos trazidos por diferentes autores. A negociação é então um processo decisório dinâmico cujo resultado depende da interação entre dois ou mais agentes e que está sujeito a desvios da racionalidade tal como nos processos decisórios individuais. (PASQUOTTO; SOUZA, 2011,p. 283). É um processo interpessoal de tomada de decisão, necessário sempre que não podemos atingir nossos objetivos por conta própria. (THOMPSON, 2009, p. 2). Negociação é um processo em que duas ou mais partes com interesses comuns ou antagônicos se reúnem para confrontar e discutir propostas explícitas com o objetivo de alcançarem um acordo. (CARVALHAL, 2001, p. 23). É uma comunicação bidirecional concebida para chegar a um acordo, quando você e o outro lado têm alguns interesses em comum e outros opostos. (FISHER; URY; PATTON, 2005, p. 15). Reflita !!! O que chama atenção nestes conceitos? O que eles têm de convergente? Pensou? A resposta é: todas definições trazem a negociação como um processo, ou seja, é ação e está inteiramente voltado para aspectos relacionais. Conforme Martinelli e Guisi (2006, p. 15), “No passado, o negociador buscava resultados satisfatórios momentâneos; atualmente, esse mesmo negociador busca um relacionamento duradouro e contínuo, para que no médio e longo prazos todos os envolvidos na negociação atinjam os benefícios pretendidos.” Esta citação do autor mostra a importância dada ao relacionamento e demonstra uma mudança na forma de entender este processo, pois a visão inicial era de curto prazo e agora passa para uma visão de parceria duradoura. Nesse aspecto, dada a importância da negociação no âmbito empresarial vamos trazer alguns pontos importantes dentro deste ambiente. 1.2 Negociação no ambiente empresarial Temos uma realidade presente no ambiente empresarial que trouxe mudanças significativas na dinâmica estabelecida entre as organizações para com seus clientes, colaboradores, fornecedores, acionistas e comunidade — o acesso facilitado à informação e a redução das distâncias, pois a tecnologia “rompeu com as fronteiras”. Esta realidade traz mais fortemente para as relações empresarias a interdependência, ou seja, cada vez mais é necessário integrar conhecimentos e interesses, nos diferentes níveis hierárquicos para que se alcance os objetivos de negócio. De acordo com Ferreira (2008, p. 9), com este novo cenário “surge a tomada horizontal de decisões, isto é, a negociação. Só assim as instituições ou pessoas que dependem da cooperação de organizações ou indivíduos podem atingir seus objetivos. Não há mais lugar para impor decisões; só para negociar.” Por exemplo, um integrante de uma equipe de gestão de projetos não consegue finalizar um trabalho sozinho; o prazo normalmente é muito curto e uma única pessoa não tem o conhecimento e as competências necessárias para a tarefa. Para que essa equipe atinja seus objetivos é importante que todos os integrantes contribuam com tempo, conhecimento e recursos, sincronizando esforços (LEWICKI; SAUDERS; MINTON, 2002). Como vimos no exemplo as ideias necessariamente são discutidas e para definir qual será adotada é preciso que a decisão seja compartilhada. A partir do momento em que nos deparamos constantemente com esta realidade é importante considerar as vantagens e desvantagens que fazem parte deste processo, as quais são apresentadas a seguir no Quadro 1. Quadro 1 – Negociação e tomada de decisão em grupo Vantagens Desvantagens Várias pessoas reúnem mais informação. Perde-se mais tempo na discussão e na procura do consenso. Contribuem com diferentes experiências e perspectivas. Perde-se mais tempo na procura de compensações. Maior empenho e sentimento de responsabilidade. Mais difícil para se chegar em um acordo viável para todos. Fonte: elaborado pela autora. Como tudo na vida há sempre prós e contras, devemos considerar os dois lados, pois servirá para identificar as situações em que será utilizada uma ou outra abordagem. Por exemplo, quando temos um prazo exíguo, a decisão terá que ocorrer de forma individual. Já o inverso, ou seja, não temos a pressão do tempo, podemos adotar a decisão compartilhada. Em síntese, vimos que a interdependência contribui para que a tomada de decisão seja realizada de forma compartilha. Outro aspecto presente na realidade atual, que influencia diretamente as relações empresarias, é a competitividade acirrada no mercado de atuação. Quanto mais competitivo, mais será necessário negociar. Isto requer das organizações um preparo maior para realizar negociações bem-sucedidas (THOMPSON, 2009). O poder de negociação no relacionamento com cliente e fornecedores gera impactos decisivos no desempenho organizacional. Para isto, é necessário fazer uma análise detalhada das relações de força entre as partes, do histórico anterior, das necessidades atuais. Carvalho (2007) cita a matriz do poder proposta por Cox et al. (2001) como uma ferramenta útil para uma primeira análise. Figura 2 – Matriz do poder. Fonte: adaptada pela autora com base em Cox et al. 2001 (apud CARVALHO; LAURINDO, 2007, p. 46). Esta matriz mostra como o poder de cada uma das partes influencia as relações entre si e, consequentemente, a estratégia a ser adotada na negociação: independência, dominância do fornecedor, dominância do comprador, interdependência. A independência gera uma negociação “tranquila”, pois ambos têm outras alternativas caso não consigam fechar um acordo satisfatório. Na interdependência, quando os dois lados precisam um do outro, o processo tende a ocorrer de forma mais equilibrada, mais negociada, para que os dois lados fiquem satisfeitos com o resultado e mantenham a relação de parceria. Quando há dominância de um dos lados, é muito comum que a parte de maior poder exerça uma pressão maior para impor sua proposta. 1.3 Negociação em nível estratégico O fato de as negociações ocorrerem nos diferentes contextos em que as organizações estão inseridas — ou seja, no contexto interno da organização (no próprio setor, entre as diferentes áreas, entre filiais) e no contexto externo (com cliente, fornecedores, concorrentes, parceiros) —, requer uma equipe de gestão qualificada. Segundo Thompson (2009, p. 3), “os gerentes devem ter um bom entendimento sobre negociações, de modo a serem eficazes ao negociar dentro de todos os tipos de ambientes de negócio, bem como entre si.” Para isto, o mesmo autor destaca alguns aspectos pelos quais os gestores precisam desenvolver sua capacidade negocial: para melhor transitar no ambiente competitivo; para perceber os momentos para negociar oportunidades; para saber como promover seus próprios interesses ao mesmo tempo em que criam valor para a organização; para cruzar com maior habilidade as fronteiras culturais de modo a conduzir seus negócios. Esses aspectos mostram que a gestão precisa estar preparada para negociar e tomar decisão de forma abrangente, por isso, muitas vezes a decisão em equipe vem agregar valor já que se faz necessário ter diferentes informações e alternativas para atender ao objetivo. O desafio é grande para o gestor. Segundo Vecchio (2008, p. 95), alguns fatores podem contribuir para este processo de decisão: responsabilidade e transparência; conhecimento especializado; coordenação entre as partes; habilidade política; administração do tempo. A junção desses fatores vai permitir ao gestor uma melhor integração com a equipe para tomada de decisão compartilhada. De acordo com Martinelli e Almeida (2008, p. 41), “encontrar soluções criativas que fiquem fora dos limites do conflito é uma forma muito útil de aumentar os recursos conjuntos compartilháveis pelos dois lados envolvidos no processo, aumentando as chances de se chegar a uma negociação efetiva.” 1.4 Negociação em redes e cadeias produtivas1 Atento às peculiaridades do processo de negociação, esta seção visa proporcionar o entendimento sobre pontos importantes para o estabelecimento de uma negociação, por meio da rede de cooperação. Para tanto, apresenta-se, primeiramente, uma análise do processo de negociação, conforme proposta no Modelo de Avaliação de Gestão de Redes (SEDAI-RS, 2004). Na sequência, é apresentada uma boa prática, na forma de um roteiro, para a seleção de novos fornecedores. Também são descritos alguns passos que profissionais de gestão podemadotar para aplicar tal prática em outras redes de cooperação. 1.4.1 Introdução As redes de cooperação, nas evidências apresentadas pelas pesquisas deste livro, comumente se defrontam com demandas de gestão equivalentes àquelas das organizações de médio e grande porte. Por agregarem diversas empresas e vislumbrarem uma ação coordenada, as redes enfrentam exigências crescentes em seus diferentes mecanismos de gestão. Pode-se citar como exemplo a necessidade de estrutura física e canais de comunicação mais eficientes para a interação entre os diversos associados, processos de marketing mais eficazes e aplicáveis em um contexto de diversidade de perfil empresarial e infraestrutura disponível, melhores centros de distribuição para o incremento da logística dos associados e estratégias de negociação mais adequadas em função das oportunidades coletivas geradas pela rede. Para ilustrar esse contexto da rede como uma organização de porte, toma-se como exemplo uma pequena empresa, na qual a negociação é normalmente realizada somente por seu gestor. É ele quem discute o preço de compra, os prazos de entrega e as condições de pagamento, diretamente com seus fornecedores e parceiros. Já no ambiente das redes de cooperação, muitas das quais compostas por empresas do mesmo perfil recém-descrito, a negociação torna-se um processo mais demandante, já que agrega o volume de negócios gerado coletivamente. Esse volume possibilita à rede benefícios como maior volume de compra ou venda, condições diferenciadas de preço e, ainda, acesso a fornecedores e parceiros estratégicos. Essa diversidade de opções torna o cenário de negociação mais complexo, exigindo que diversos parâmetros sejam avaliados em relação a potenciais parceiros, incluindo credibilidade, vantagens em relacionamentos de longo prazo, acordos de bonificação por desempenho, descontos em grandes volumes, garantias de entrega, entre outros. Por isso, na rede esse processo é realizado por uma equipe de negociação que atua como agente intermediador, responsável por gerenciar e acompanhar o processo de negociação e as compras dos associados (BORTOLASO, 2009). 1.4.2 Compreensão do processo de negociação A negociação é um dos principais processos instituídos pela metodologia do Programa Redes de Cooperação (SEDAI-RS, 2004). Talvez isso se justifique pelo fato de que, na maioria das vezes, a realização de compras em conjunto objetivando o aumento do poder de barganha consiste no principal atrativo para a formação de uma rede (BALESTRIN; VERSCHOORE, 2004; BORTOLASO, 2009). Ou seja, existe uma relação direta entre o processo de negociação e a obtenção de resultados financeiros favoráveis para as empresas associadas. Neste sentido, à medida que a união em rede vai se desenvolvendo e o volume de negócios aumenta, o processo de negociação com os fornecedores cresce em complexidade. Quando se fala em negociação, são vários os pontos que exigem a atenção da rede de cooperação. Os pontos relevantes de negociação, mencionados no Modelo de Avaliação de Gestão de Redes da SEDAI-RS, podem ser visualizados no Quadro 2. Por que é importante para uma rede identificar e selecionar fornecedores? Pode haver vários motivos, mas o que mais se destaca é o fato de que a rede necessita ganhar visibilidade no mercado. Assim, a rede procura lidar com fornecedores que potencializem a percepção dos clientes com relação à qualidade dos produtos e serviços que oferece. Essa qualidade está consistentemente vinculada à imagem pela qual a rede é percebida no mercado. Dessa forma, buscando garantir a satisfação do cliente final e minimizar os problemas de qualidade, torna-se útil o estabelecimento de um roteiro para a seleção de fornecedores. Esse roteiro é importante, pois abastece a rede com informações acerca de bons fornecedores, preparando-a para as etapas posteriores de negociação. Quadro 2 – Processo de negociação Processo de negociação Formalizar o processo prospecção, cadastramento e seleção de fornecedores. Fazer uso das tecnologias da informação para compras on- line. Oferecer um sistema de intranet que interligue os associados ao sistema de informações gerenciais da rede. Estabelecer negociações que atinjam todos os associados de forma simétrica. Definir procedimentos efetivos para gerenciar o relacionamento com seus fornecedores. Fonte: elaborado pelos autores com base em Bortolaso (2009). Reunida uma lista de bons fornecedores, avança-se para o estabelecimento de uma negociação em conjunto, o que pressupõe o desenvolvimento de uma articulação interna dos associados. Ou seja, a equipe responsável relaciona os produtos e serviços que devem ser negociados e define condições mínimas para uma transação vantajosa. Na sequência, os fornecedores qualificados são convidados a participar da negociação e a apresentar suas propostas. Então, o processo de negociação se inicia quando o fornecedor oferta sua condição e a rede negocia com base na sua estratégia preestabelecida. Nesse momento, são negociados descontos, prazos e, também, o percentual de bonificações sobre a compra. A negociação é, então, operacionalizada mediante a compra efetuada por seus associados da rede, seja por meios tradicionais ou pela internet. Por formas tradicionais de compra entende-se aquela feita, por exemplo, de maneira presencial junto ao representante do fornecedor que visita os associados da rede. Também como forma tradicional tem-se a compra realizada via central da rede. Nesse caso, os pedidos são centralizados e reunidos pela sede da rede e, então, repassados para o fornecedor. Já pela internet, é possível realizar as compras on-line. Utilizando-se um portal ou serviço de intranet, os associados podem de forma ágil visualizar produtos, preços e realizar pedidos. Independentemente de os associados comprarem por meios tradicionais ou on-line, eles sempre se beneficiam das condições especiais firmadas entre a rede e seus fornecedores. Outro ponto relevante quando se fala em compra é a simetria das condições de negociação. A maioria das redes de cooperação tem como princípio negociar com fornecedores que proporcionem as mesmas condições de pagamentos para todas as empresas associadas à rede, independentemente de seu porte ou localização. Isso é importante, pois as redes, com frequência, defendem igualdade de benefícios para seus associados como forma de atrair novos e fortalecer os já existentes. Depois de definir as formas de compra e a uniformização de suas condições para todos os associados, faz-se necessário instituir um monitoramento quanto ao desempenho do fornecedor. São exemplos de pontos a serem monitorados: cumprimento dos prazos e das condições negociadas, e atendimento uniforme e satisfatório a todos os associados. O processo de negociação, além de proporcionar aos associados um maior poder de barganha, ganho de escala e acesso a novos fornecedores, também é vital para o crescimento da rede e o desenvolvimento de relacionamentos duradouros com fornecedores parceiros da rede. Porém, para que o processo de negociação ocorra a contento, é necessário um robusto controle na seleção de fornecedores parceiros da rede. Assim, no sentido de contribuir com o desenvolvimento do processo de negociação, na próxima seção será apresentada uma boa prática: um roteiro para seleção de fornecedores. 1.4.3 Roteiro para a seleção de fornecedores A prática de selecionar fornecedores a partir de roteiros preestabelecidos deve ser executada antes da realização da negociação propriamente dita. Essa prática ocorre no início do processo de negociação, visando torná-lo mais eficiente em função de já ter em mãos informações sobre fornecedores mais preparados para atender as demandas da rede. No Quadro 3, podem ser visualizados os principais elementos que compõem a prática. Quadro 3 – Identificação de critérios para a seleção de fornecedores Desafio e objetivo Acesso a fornecedores confiáveis e de qualidade. Sistematização do processo de seleção de fornecedores. Contribuição para um processo denegociação mais eficiente. Boa prática Formalização da seleção de fornecedores a partir de roteiros preestabelecidos. Resultado Atenuação do risco para negociação com fornecedores menos conhecidos. Negociação com fornecedores de melhor qualidade de produto e serviço. Fornecedores mais preparados em seus processos de atendimento. Fonte: elaborado pelos autores. Quando a rede planeja suas compras de produto ou serviços, ela se defronta com questões como: quais os melhores fornecedores para atender sua demanda? Quais os parceiros mais confiáveis ou com maior credibilidade no mercado? Quais oferecem as melhores condições de preços e prazos de pagamento? Situações como essas colocam a rede em um cenário de relativa incerteza quanto ao caminho para obter a melhor negociação. Assim, com o objetivo de se ter acesso a fornecedores confiáveis e de qualidade, as redes buscam sistematizar o processo de seleção de novos parceiros, vislumbrando um processo de negociação mais eficiente. Assim, observa-se, a partir das pesquisas realizadas, que algumas redes de cooperação buscam fazer uso de um roteiro para nortear seu processo de seleção de fornecedores. Esse roteiro é capaz de sistematizar a escolha de parceiros, permitindo que a rede, de forma criteriosa e consciente, busque um processo de negociação mais eficiente, resultando em acordos mais vantajosos junto a fornecedores confiáveis e de qualidade, melhor preparados em seus processos de atendimento à rede. Como resultado da aplicação da prática, as redes também contam com um instrumento que possibilita a atenuação do risco para negociação com fornecedores menos conhecidos. Observa-se, a partir da análise de diversas redes de cooperação, que os itens mais comuns para um roteiro e, provavelmente de mais ampla aplicação nas redes de cooperação, são: i) credibilidade do fornecedor; ii) qualidade do produto ou serviço; iii) prazo de entrega; iv) logística de atendimento e abrangência; e v) garantias oferecidas. Esse roteiro compõe um conjunto de informações eficaz para a tomada de decisão no processo de negociação, permitindo, assim, a seleção de fornecedores mais preparados para atender às demandas da rede. O primeiro item do roteiro é o da credibilidade do fornecedor. Para averiguar esse item, a rede pode buscar informações sobre a conduta do fornecedor e sua integridade. Um passo simples é o contato e a troca de experiências com outros clientes e ex-clientes do mesmo fornecedor, onde se pode aprender mais sobre, por exemplo, sua participação ou posição de mercado e se opera seus negócios de forma lícita. Outro item relevante é a qualidade do produto e serviço. Em segmentos nos quais o aspecto sensorial afeta a percepção de qualidade, como calçados e roupas, torna-se importante, por exemplo, a inspeção visual, o teste de conforto e resistência dos materiais utilizados. Em setores como o metalmecânico, nos quais os padrões de qualidade de produção são críticos, torna-se essencial a verificação do fornecedor quanto ao atendimento de padrões de certificação ISO, por exemplo. Além da credibilidade e qualidade, pode-se citar como um item comumente utilizado o do prazo de entrega. Uma vez que cada rede possui suas peculiaridades quanto ao giro e demanda de produtos e serviços, torna-se relevante investigar a capacidade de o fornecedor atender a rede no compasso que ela imprime. É importante verificar como o fornecedor reage em função de pequenos ou grandes pedidos. Em direção similar e complementar, pode-se avaliar o fornecedor a partir do item de logística de atendimento/abrangência. A localização do fornecedor, em especial de suas facilidades de distribuição, pode representar importante impacto nos custos de transporte e, também, quanto ao prazo de entrega. É fundamental a existência de um representante próximo à rede, devidamente capacitado para um serviço de venda e pós-venda. A interação constante entre a rede e o fornecedor, a partir de experiências positivas, e também negativas, constitui um passo importante para o desenvolvimento de negócios mais efetivos e rentáveis. Por fim e não menos importante, as garantias oferecidas pelos fornecedores. Benefícios como garantia de devolução de produtos defeituosos, e possibilidade de testes e degustações gratuitas são vantagens importantes que podem ser levadas até o cliente final da rede, emprestando maior credibilidade e potencializando melhores vendas para todos. Dessa forma, as redes realizam o processo de seleção de fornecedores apoiado em um roteiro. Assim, pode-se resumir os itens importantes descritos na forma de questões estruturadas com o intuito de agregar a prática no processo de negociação das redes de cooperação. No Quadro 4, apresenta-se um roteiro básico contemplando essas questões. Quadro 4 – Roteiro básico para a seleção de fornecedores Itens Questões Credibilidade do fornecedor O fornecedor é comprovadamente respeitável? O fornecedor possui uma conduta ética? Qual seu posicionamento no mercado? O fornecedor atende a alguma norma de qualidade? Qualidade do produto/serviço A aparência dos produtos contribui para a venda? Prazo de entrega Qual é a proposta de prazo de entrega estabelecido pelo fornecedor? O fornecedor tem uma localização estratégica (ele tem condições de atender toda rede)? O fornecedor tem agilidade para entregar pequenos pedidos rapidamente? Logística de atendimento/abrangência O fornecedor possui uma linha completa de produtos? O fornecedor realiza o serviço de pós-venda? O fornecedor tem um representante de vendas para atendimento ao associado, se necessário? O fornecedor possui material promocional com informações relevantes acerca dos produtos oferecidos? A rede terá preferência no recebimento do mix de produtos? A rede terá preferências na divulgação das promoções? Pode o fornecedor executar um projeto em especial (produto com a marca da rede)? O fornecedor oferece treinamento sobre o produto ou serviço? Garantias oferecidas O fornecedor possibilita visita à fábrica? O fornecedor disponibiliza produtos ou serviços para teste? O fornecedor possui uma política clara para substituição de produtos com problemas? Fonte: elaborado pelos autores com base nos depoimentos de entrevistados. Com base nesse roteiro, a rede sistematiza a seleção de fornecedores adequados, maximizando as possibilidades de efetivar uma boa negociação. É importante notar que cada rede em seu segmento possui peculiaridades quanto aos itens que devem compor o roteiro para melhor nortearem a seleção de seus fornecedores. Assim, quando atualizado de forma periódica, o roteiro se transforma em um importante instrumento que explicita o histórico de conhecimentos e experiências adquiridos pela rede na busca por melhores fornecedores. Na prática, o roteiro contribui para que a rede atenue o risco no momento de lidar com situações de incerteza como, por exemplo, na negociação com novos fornecedores. O roteiro também permite a antecipação, com certo grau de confiabilidade, do nível de preparo que um dado fornecedor possui, em seus processos de atendimento, para atender às exigências da rede. 1.5 Negociação: fatores culturais As negociações globais cada vez mais fazem parte do cotidiano de muitas empresas, por isso, evitar conflitos e conciliar interesses tornou-se fundamental. A conquista de uma negociação bem-sucedida depende de um negociador bem preparado. Isto significa dizer conhecedor do processo de negociação, do objetivo e das diferenças e similaridades culturais. É importante estar atento, pois as diferenças culturais podem ser restritivas ou facilitadoras a negociação. Assim, a habilidade para se comunicar e interagir com pessoas de outras culturas é primordial para os negociadores. Para tanto, primeiramente, é necessário entender o significado de cultura, que, segundo Thompson (2009, p. 246), “cultura representa a característica singular de um grupo social específicos: os valores e normas compartilhados por seus membros os diferenciam de outros grupos sociais.” Ao pensarque a cultura compreende valores e normas característicos de determinado grupo vemos que conhecer esses aspectos referentes ao país com o qual serão mantidas relações comerciais é de extrema importância. Este conhecimento passa pela necessidade de pesquisar sobre as relações de poder, os costumes, compreender como se estabelece as relações interpessoais, a conduta na negociação e a forma de comunicação. Segundo Lopes e Stoeckicht (2009, p. 20), “à medida que estas relações se intensificam o aprendizado vai além do idioma estrangeiro, mas também mostra empatia no entendimento sobre os costumes, as sociedades e culturas alheias.” Então, para ser efetivo ao negociar, ou seja, influenciar de maneira positiva a outra parte, é preciso identificar as diferenças culturais, pois qualquer negociação virá carregada com elementos específicos daquele local. Neste ambiente, o uso das habilidades com maestria é essencial para evitar os mal-entendidos, conflitos e estabelecer uma relação de credibilidade (MARTINELLI; ALMEIDA, 2008). Segundo Lopes e Stoeckicht (2009, p. 18), “o profissional que atua direta ou indiretamente em negociações nacionais ou internacionais é intitulado o negociador global. Para tal, deve saber analisar os diversos cenários da negociação e o perfil dos negociadores, seus estilos gerenciais de negociação e do processo decisório, e os preceitos éticos e morais predominantes em determinada cultura, região ou país.” Assim, negociar em diferentes culturas requer o entendimento da estrutura cultural, não fazer generalizações e compreender as peculiaridades de cada país. Questões para refletir 1. Para negociar precisamos considerar alguns pontos básicos. Quais são? 2. Quais são os passos a seguir para negociar com fornecedores? 3. O que devemos considerar quando negociamos com diferentes culturas? REFERÊNCIAS BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, J. R. Redes de cooperação empresarial: estratégias de gestão na nova economia. Porto Alegre: Bookman, 2008. BORTOLASO, I. V. Proposta de Construção de um Modelo de Referência para a Avaliação de Redes de Cooperação Empresariais. Dissertação (Mestrado) – UNISINOS, São Leopoldo, 2009. CARVALHAL, Eugenio do. Negociação ‒ fortalecendo o processo: como construir relações de longo prazo. 1. ed. Rio de Janeiro: Vision, 2001. CARVALHO, Marly M. de; Laurindo, Fernando J. B. Estratégia competitiva: dos conceitos à implementação. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2007. FERREIRA, Gonzaga. Negociação: como usar a inteligência e a racionalidade. São Paulo: Atlas, 2008. LEWICKI, Roy J.; SAUDERS, David M.; MINTON John W. Fundamentos da negociação. São Paulo: Bookman, 2002. LOPES, Sonia; STOECKICHT, Ingrid. Negociação. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. MARTINELLI, Dante P.; GUISI, Flavia A. (org.). Negociação: aplicações práticas de uma abordagem sistêmica. São Paulo: Saraiva, 2006. MARTINELLI, Dante P.; ALMEIDA, Ana P. de. Negociação e solução de conflito: do impasse ao ganha-ganha através do melhor estilo. São Paulo: Atlas, 2008. RODRIGUES, Francisco F. de A.; MELHADO, Heloísa M.C. Negociação para o trabalho em equipe. Rio de Janeiro: SENAC.DN, 1996. SEDAI-RS. Secretaria do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais do Rio Grande do Sul. Manual de Orientação dos Consultores do Programa Redes de Cooperação. Porto Alegre: [s. n.], 2004. THOMPSON, Leigh L. O Negociador. 3 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. VECCHIO, Robert P. Comportamento organizacional: conceitos básicos. São Paulo: Cengage Learning, 2008. YU, Abraham Sin Oih et al. Tomada de decisão nas organizações: uma visão multidisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2011. __________ 1 Esta seção foi elaborada por Ingridi Bortolaso e Alexandre Perucia. CAPÍTULO 2 PROCESSO DECISÓRIO Maria Regina Xausa Mestre: Qual o segredo do sucesso!? ‒ Filho, o segredo do sucesso é tomar decisões acertadas! ‒ E como aprendo a tomar decisões acertadas? ‒ Tomando decisões erradas. (Provérbio Chinês) Neste capítulo apresentamos uma visão geral dos desafios existentes na tomada de decisões, refletindo sobre o que é uma decisão acertada, a tomada de decisões nas negociações, os fatores que impactam o processo decisório e os métodos de tomada de decisões. No seu desenvolvimento são enfatizados fatores como (1) a importância do pensamento e da visão sistêmica na tomada de decisões, (2) a necessidade de se avaliar riscos e impactos, e é apresentado o (3) Modelo DECIDE de processo decisório, como uma alternativa didática de auxílio às decisões. 2.1 O que é uma decisão acertada? Eu educo hoje com valores que recebi ontem para pessoas que são o amanhã. Os valores de ontem, os conheço. Os de hoje, percebo alguns. Dos de amanhã, não sei. Educo com os de ontem (os da minha formação)? Perderei os hojes e os amanhãs? Educo com os de hoje? Perderei o que havia de sólido nos de ontem e nada farei pelos de amanhã, que já serão outros? Educo com os de amanhã? Em nome de quê? De adivinhações? [...] Se só uso os de ontem, não educo: condiciono. Se só uso os de hoje, não educo: complico. Se só uso os de amanhã, não educo: faço experiências à custa das crianças. [...] (Arthur da Távola) A tomada de decisões, ou seja, o julgamento, é considerado pelos cientistas comportamentais como a competência mais difícil de desenvolver. Tal dificuldade se evidencia por se tratar de uma competência que exige, em seu desenvolvimento, uma trajetória mais complexa do que somente a aquisição de conhecimentos, de habilidades e de atitudes. Perguntamo-nos com frequência: Mas, afinal, o que é uma decisão acertada? E uma decisão é considerada acertada para qual finalidade? Para o interesse de quem? Em qual momento? De acordo com qual base científica, lei ou fundamento? Decisões acertadas em determinado momento histórico poderão ser consideradas como equivocadas em outro. A história é farta de exemplos, tais como: a Inquisição, a escravidão, as torturas, as cruzadas e as grandes perseguições religiosas, étnicas e políticas; as decisões de soltar a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki e as de construir as usinas nucleares que geraram os grandes desastres ambientais de Chernobyl e de Fukushima; as condenações equivocadas de Galileu Galilei, de Joana Darc e de Jesus Cristo; as inúmeras decisões governamentais imediatistas de quase todas as nações, que, para beneficiarem o hoje, muitas vezes prejudicam o amanhã. Decisões acertadas em determinado contexto sócio, econômico, cultural, religioso e/ ou político podem (e são) consideradas erradas em outro. Basta observar as diferentes, contraditórias e até às vezes diametralmente opostas políticas educacionais, ambientais, sociais e econômicas, entre tantas outras, atualmente adotadas em diferentes países ao longo do mundo. Pois se é fato que os valores, as leis, os hábitos e os costumes mudam de acordo com a história, as decisões assim também os acompanham. Daí o porquê muitas vezes uma decisão tomada by de book, ou seja, fundamentada com base na lei ou nos livros técnicos, nem sempre será a melhor decisão. Lembre-se: Se é fato que os valores, as leis, os hábitos e os costumes mudam de acordo com a história, as decisões assim também os acompanham. Isto porque, entre outros aspectos, a nossa realidade vai além do conhecimento já acumulado e registrado nos livros, manuais e leis em determinado momento histórico, na medida em que ela (a realidade) é soberana a estes registros, além de ser mutável e dinâmica. Desta forma, o conhecimento formal traduz, em sua essência, o paradoxo de que, quando se transforma em registro científico (testado e comprovado), este já é um reflexo do passado, provavelmente traduzindo, de alguma maneira, um momento anterior ao que já se vai vivenciar agora, e, consequentemente, para o qual se deverá tomar as decisões. O fato é que, seja qual for a abordagem, os autores são unânimes em afirmar que, para se tomar decisões acertadas, o conhecimento é uma condição essencial, sendo absolutamente necessário, porém não suficiente em si mesmo. Lembre-se: Para se tomar decisões acertadas,o conhecimento é uma condição essencial, sendo absolutamente necessário, porém não suficiente em si mesmo. Para se tomar decisões há que se dominar as leis, os códigos, as regas, os manuais, mas estes isoladamente não asseguram a melhor qualidade das decisões a serem tomadas. Por tudo isto, para além do conhecimento, há de se desenvolver, também, o discernimento, que é o fundamento essencial do julgamento, e, para se ter discernimento, é necessária a vivência, a experiência, e, mais do que isto, é fundamental poder se aprender com esta experiência. É como nos mostra Ruben Alves (2001) ao refletir sobre a qualidade das decisões para a vida, quando compara a inteligência com a sabedoria: Para se construir uma bomba atômica é preciso ser muito inteligente. Para se tomar a decisão de se desmontar todas elas, é necessário ser sábio. A solução do crescimento econômico exige muita inteligência. A opção por um estilo de vida diferente precisa de muita sabedoria. [...] a sabedoria, com frequência, mora ao lado da inteligência. (ALVES, 2001, p. 73-74). No preparo de equipes que tomam decisões em situações de alto risco, em especial na prevenção de acidentes e catástrofes aeronáuticas, o Dr. Richard Jensen, ex-diretor do Instituto de Psicologia da Ohio State University, apresentou a seguinte pirâmide para demonstrar o processo de desenvolvimento do julgamento, mostrando que é necessário se ter inicialmente uma boa base de conhecimentos, para, posterior e sequencialmente, desenvolver a habilidade em tomar decisões, adquirindo-se assim, gradativamente, a experiência e, com as lições aprendidas nesta experiência, o discernimento, que é o que permitirá a realização de julgamentos adequados. Figura 3 – Pirâmide do julgamento. Fonte: adaptada pela autora com base em Richard Jensen (2004, p. 72). Esta visão é muito sustentada no conceito de senioridade tão valorizado nos povos orientais, onde os cidadãos mais idosos e experientes geralmente são os grandes mestres e conselheiros. Pode-se ver, também, este questionamento nos debates atuais e nas regulamentações que passaram a exigir, além do conhecimento teórico, também um período de exercício profissional (e até de experiência de vida) para se candidatar a atividades que exigem o julgamento como competência essencial, como, por exemplo, no exercício da magistratura, na chefia de equipes médicas, no comando de aeronaves, entre outras atividades. 2.2 Tomada de decisões nas negociações As negociações são repletas de decisões — e todas tomadas muito rapidamente —, podendo-se afirmar que uma negociação nada mais é do que uma sequência de tomada de decisões, tomada de forma cadenciada, envolvendo interesses e necessidades de diferentes partes na busca de soluções de problemas. Como exemplo, segue uma lista de decisões a serem tomadas nas negociações: Quadro 5 – Decisões tomadas nas negociações Decidir se vale a pena fazer a reunião para negociar com o outro? Há zona de negociação? Definir a sua meta/margem concessão com relação a cada tópico da negociação. Estabelecer como lidar com seus pontos fortes e fracos e com os da outra parte. Definir aspectos principais e secundários da negociação (prioridades). Estabelecer proposta inicial e sua justificativa. Estabelecer propostas posteriores. Definir o que poderá conceder (várias opções/níveis). Determinar o que buscará em troca de cada concessão. Escolher as informações que se pretende apresentar (inclusive documentos e evidências). Identificar as informações a serem obtidas (diretas e indiretas). Estimar prováveis alternativas de reposta da outra parte (objeções). Definir que resposta dar às objeções (contra-argumentos). Definir as estratégias e táticas a utilizar. Decidir como agir em face das estratégias e táticas adotadas pela outra parte. Definir cuidados e providências referentes ao ambiente de negociação. Avaliar os riscos de cada proposta. Decidir se aceitará as propostas da outra parte. Definir como fará a amarração de cada item acordado: condições a estabelecer se os acordos se não forem honrados. Definir se fará o(s) acordo(s). São viáveis? Minimizam perdas? Valem a pena? São justos? Definir o que fazer caso não consiga fechar o acordo. Fonte: elaborado pela autora. Em face do quadro anterior, questionamo-nos: Mas será que os negociadores estarão preparados para tomar tantas decisões durante as negociações? E de forma tão rápida? E, especialmente, em momentos de tensão e de pressão psicológica? Ora, se formos pensar em todos estes itens durante as negociações, avaliando riscos, as probabilidades e as viabilidades, não vamos conseguir ter a consciência do momento, a leitura do ambiente, ou melhor, o timing tão necessário para podermos bem negociar. Bem, mas se é necessário pesar tantas variáveis e, por outro lado, estarmos com a cabeça e o espírito livres para termos a consciência do momento — o timing —, logo, não será no momento da negociação que todas as variáveis serão pesadas e ponderadas. Assim, na negociação não é o momento de se pensar, de se avaliar e de se pesar as varáveis a decidir, mas o momento de decidir sobre os aspectos já pensados e avaliados anteriormente. Lembre-se: A negociação não é o momento de se pensar, de se avaliar e de se pesar as varáveis a decidir, mas o momento de decidir sobre os aspectos já pensados e avaliados anteriormente. Assim, novamente afirmamos que quanto melhor for a preparação de uma negociação, maior será a probabilidade do resultado da mesma. 2.3 Fatores que impactam na tomada de decisão O Apartheid era legal. A escravidão era legal. O colonialismo era legal. A legalidade é uma questão de poder, não de justiça. (King Douye Alfred) Essas frases, por serem impactantes, nos fazem pensar sobre a qualidade de nossos processos decisórios e, neste sentido, sobre o fato de que, por mais que busquemos a isenção, o quanto os mesmos podem ser inconscientemente influenciados e contaminados. Há muitos fatores que influenciam a tomada de decisões, conduzindo a que as mesmas possam ser direcionadas para diferentes caminhos, nem sempre nos levando às melhores opções e resultados. Para testar, façamos agora um desafio: Quadro 6 – Desafio nas decisões Desafio: O Exercício do Livre Arbítrio Tomando Decisões Apresentaremos a seguir uma série de orientações, a fim de que você possa tomar as decisões o mais rápido e da forma mais independente possível. Siga as instruções e vá tomando as decisões: 1. Escreva um número de 0 a 10 = (“x”) = __________ 2. Multiplique este número por 09 (“x” × 09 = “Y” ) = __________ 3. Some os algarismos deste resultado “Z” = __________ Ex: se o resultado deu 12, some 1 + 2 = 3; se deu 24, some 2 + 4 = 6 4. Deste novo resultado (da soma dos algarismos = Z), subtraia 5 (Z – 5 = W) = __________ 5. Escreva a letra do alfabeto que corresponde a este número: Ex: 1 = A; 2 = B; 3 = C; 4 = D; ... W = __________ 6. Escreva o nome de um país que começa com esta letra: __________ 7. Escreva o nome do primeiro animal que você lembra, que comece com a 5ª (quinta) letra deste país: __________ Fonte: Brincadeira popular, de autor desconhecido, transcrita pela autora. Quadro 7 – Desafio nas decisões Processamento Processamento do Desafio Agora que você já tomou as decisões, com total liberdade de escolha, responda: 8. Por que você está pensando que existem macacos na Dinamarca? Entendimento Realizado o desafio, reflita sobre suas respostas e o que o levou a escolhê-las. Pois saiba que 98% dos brasileiros escolhem livremente o número inicial (há 10 opções de escolha), o país e o animal e, partindo de números completamente diferentes, acabam chegando no mesmo resultado: Dinamarca e Macacos Por que isto ocorre? Pela influência de 2 fatores: Conhecimento matemático Ao fazer o exercício, quem lembrar dos atributos da tabuada do 09, logo perceberá que todos chegarão a um mesmo resultado, ou seja, ao número 04 e, consequentemente, à letra “D”. Isto porque a matemática nos ensina que todo número multiplicado por 09 e cujos algarismosdeste resultado (y) forem posteriormente somados o resultado será sempre 09. E, subtraindo 05 de 09, chega-se necessariamente ao número 04 e, consequentemente, à letra D. Cultura Nacional A influência da cultura nacional faz com que, embora existam muitas opções de escolha, as pessoas tendam a escolher aquelas que lhes são familiares, pois, segundo SHEIN ( ), a cultura é aquilo que nos faz agir por impulso, sem questionar, como a escolha se fosse absolutamente natural a todos. Daí podemos dizer que, desde a alfabetização, passando por concursos (gabaritos de respostas) e até por brincadeiras infantis (jogo de “stop”), somos condicionados a associar essas letras às mesmas palavras, ou seja, o “D” de Dinamarca e o “M” de “Macaco”. Pode-se até justificar que países com D na língua portuguesa são poucos: Dinamarca e Djibuti; porém animais com M são inúmeros, muitos dos quais chegamos a ver com uma frequência bem maior do que vemos os macacos, tais como: Mãe D’água; Mamute; Maritaca; Mariposa; Marmota; Marreco; Marta; Mastodonte; Medusa; Melro; Mico (Mico-Leão-Dourado); Minhoca; Morcego; Morsa; Mosca; Mosquito; Marta e Mula Fonte: elaborado pela autora. Refletindo sobre o desafio proposto no Quadro 7, bem como retomando os tópicos abordados na Seção 2.1 sobre a relatividade do conceito de decisões adequadas, percebemos que não somente o conhecimento condiciona nossas decisões, mas o contexto cultural em que nos encontramos, as relações de poder, as pressões etc. Desta forma, pode-se afirmar que não existem decisões isentas, já que estas sempre refletem o momento e o contexto no qual foram tomadas, daí o porquê busca-se utilizar metodologias de suporte às decisões, a fim de que os fatores influenciadores não embotem completamente a percepção dos decisores nem contaminem significativamente o processo, acabando por prejudicar o resultado a ser alcançado. É nesta linha de raciocínio que grandes corporações, órgãos governamentais e até organizações filantrópicas adotam conselhos (consultivos, de administração etc.) de pessoas externas, a fim de que, com um olhar menos contaminado e mais isento, possam avaliar as decisões tomadas, apontando riscos, consequências e vantagens eventualmente não identificados pelos decisores internos. O quadro a seguir apresenta alguns dos fatores que exercem influência no processo decisório, podendo vir a direcionar (e até a contaminar) as decisões tomadas. Quadro 8 – Fatores que impactam a tomada de decisões Cultura organizacional, regional e nacional Valores individuais, sociais, religiosos Ética Relações de poder Interesses explícitos e ocultos Conflitos Relacionamento interpessoal Pressões e capacidade de lidar com as mesmas Riscos envolvidos Tempo (disponibilidade × ausência de) Conhecimento formal e empírico Acesso a dados e a informações Implicações legais Normas e regras relacionadas Experiência Prática na tomada de decisões Atores envolvidos Hábitos e costumes Impactos financeiros, ambientais, políticos, sociais Percepção seletiva Estado emocional dos envolvidos Capacidade de enfrentar desafios e lidar com mudanças Fonte: elaborado pela autora. O conhecimento dos fatores condicionantes das decisões, por si só, não nos isenta de suas influências, porém pode nos deixar em atitude de alerta, revisando e avaliando até que ponto as decisões tomadas não sofreram seus impactos. O inverso, porém, é verdadeiro: o desconhecimento de tais fatores certamente irá aumentar a probabilidade de suas influências. Desta forma, em se tratando de decisões críticas, é recomendável que estejamos sempre alertas, adotando práticas de controle que nos ajudem a aumentar a acuracidade de nossos processos decisórios, tais como: adoção de metodologias de estruturadas de tomada de decisão; utilização de sistemas de apoio à decisão; estabelecimento e instâncias externas de avaliação das decisões (Conselhos Consultivos etc.). 2.4 Metodologias para a tomada de decisão Há várias metodologias de tomada de decisão, em um amplo espectro, que oscila entre polos tão distantes que vão desde a adoção da intuição e do hábito como formas de decidir, passando por modelos racionais, matemáticos, formais e estruturados, bem como por propostas que utilizam o cruzamento de séries históricas com cenários futuros, até chegar em modelos computacionais e sistemas de decisão. Todos os modelos incluem riscos a serem avaliados e nenhuma proposta consegue assegurar, a quem decide, a certeza da tomada da melhor decisão. Desta forma, a finalidade de se tomar uma decisão a partir de uma metodologia estruturada é reduzir a margem de erros, aumentando, assim, a acuracidade do processo. O critério de escolha, portanto, de uma proposta mais estruturada está relacionado com a relevância e o impacto da decisão a ser tomada. Uma decisão importante, que gere impacto significativo no futuro e que possa ter consequências adversas, merece a adoção de modelos mais complexos, ao passo que decisões rotineiras e com pouca relevância podem ser tomadas de forma menos complexa e estruturada. De qualquer maneira, todos os modelos consideram respostas às seguintes perguntas: Qual é o problema? Quais são as alternativas? Qual é a melhor alternativa? Figura 4 – Processo decisório. Fonte: elaborada pela autora. Cabe alertar que, embora aparentemente simples, não é tão fácil responder adequadamente essas três perguntas como a princípio até possa parecer, pois a maioria das decisões equivocadas ocorre por uma definição incompleta, incorreta ou inadequada do problema a ser resolvido (sem a visão adequada de seus impactos e abrangência), como também por uma análise equivocada das diferentes alternativas, sem pesar adequadamente os riscos e as consequências, no curto, médio e logo prazo, de cada uma.) 2.4.1 Modelo DECIDE Visando abordar o tema de forma objetiva e prática, apresentamos o modelo DECIDE, elaborado pelo Professor Richard Jensen, no qual a própria palavra DECIDE é utilizada como uma forma de facilitar a memorização das etapas do processo decisório, na medida em que cada letra da palavra, por meio de um acróstico, indica a inicial de uma etapa do referido processo (JENSEN, 2004). Trata-se, portanto, de um método que não somente simplifica o entendimento de algo tão complexo como o julgamento, mas que facilita a apreensão de aspectos fundamentais a aplicar quando estivermos diante de decisões importantes. Quadro 9 – Modelo DECIDE D - Definir Definir o problema a decidir E - Estimar Estimar riscos/impacto/consequências C - Comparar Comparar alternativas I - Identificar Idenificar a melhor alternativa D - Decidir Decidir E - Experimentar Experimentar Fonte: elaborado pela autora com base em Richard Jensen (2004, p. 87). 2.4.1.1 Definir ob jetivamente o problema Parece óbvio ter de dizer que, antes de decidir, há de se definir claramente qual o problema que está em foco, porém a maioria das decisões erradas ocorre justamente porque a situação a ser definida não foi suficientemente mapeada e adequadamente avaliada. A matemática milenar já nos ensinou que “antes de fazer o cálculo e buscar a solução, defina qual é o problema”, porém muitas vezes, no afã de decidirmos e com a célebre desculpa de que “não temos tempo”, acabamos por “atropelar” o processo, indo diretamente para a escolha de alternativas (e até já tendenciosos entre algumas específicas) sem mapearmos exatamente qual a situação exata que é objeto na nossa decisão, no sentido de medir sua abrangência, variáveis, inter-relações e complexidade. Lembre-se de adotar o pensamento sistêmico para avaliar o contexto e resista à tentação de decidir sem avaliar. Se na antiguidade Sêneca já nos lembrava de que “nunca os ventos são bons para barcos que não têm rumo”, imagine o que é decidir sem se saber exatamente para onde se está indo? Sem o rumo correto, a única certeza que se poderá ter é a do fracasso, sendo a sorte a única alternativa com a qual se poderá contar. 2.4.1.2 Estimar riscos, consequências, impactos do problema e de cada alternativaAo definir o problema, avalie quais são as consequências do mesmo se nenhuma decisão for tomada, ou caso algum curso de ação seja escolhido em detrimento de outro. Avalie todos! Somente exclua algum curso de ação após mensurar todas as hipóteses. Liste todas as alternativas possíveis e faça uma matriz de avaliação dos riscos e do impacto de cada uma, avaliando o possível dano × a probabilidade de este ocorrer. Mesmo as alternativas mais improváveis, na sua ótica, devem ser avaliadas, pois será somente vendo o quadro inteiro de opções que se pode ter uma noção exata da situação. É comum as pessoas já descartarem, desde o início, alguns cursos de ação, sem se darem conta de que, após ponderadas todas as variáveis, o entendimento das mesmas poderá mudar substancialmente. 2.4.1.3 Comparar todas as alternativas Compare todas as alternativas, de preferência utilizando recursos visuais e até ferramentas de decisão, como BIs (softwares de Business Intelligence) e/ou tabelas dinâmicas. É impressionante como, após avaliadas e comparadas todas as alternativas, inclusive com gráficos e tabelas, a situação ficará mais clara e evidente, conferindo maior segurança e acuracidade na decisão. 2.4.1.4 Identificar a melhor alternativa Somente após elencar todas as possíveis alternativas e comparar os riscos e impactos que cada variável poderá exercer no resultado final, que você poderá escolher, com maior probabilidade de acerto, qual a melhor alternativa de decisão. Duvide das certezas imediatas e busque sempre, como hábito e disciplina, fazer o uso da comparação a partir de métodos estruturados. Você se surpreenderá como alternativas aparentemente “fracas” e improváveis se tornarão fortes e, mais ainda, como sua própria segurança e autoconfiança aumentarão a partir de escolhas feitas com metodologias fundamentadas. 2.4.1.5 Decidir Agora, sim, com dados e fatos, é a hora de decidir! E não antes, quando não se sabia sequer exatamente qual era o problema, já se queria ir diretamente para a escolha, sem elencar as diferentes possibilidades e avaliá-las criteriosamente. Lembre-se de que decisão é método! Se você não tem toda a experiência que o discernimento poderá lhe conferir com a senioridade, conte então com um forte aliado para acertar cada vez mais em suas ações: a disciplina, ou seja, o hábito permanente de utilizar uma metodologia de decisão, especialmente quando aparentemente não houver tempo suficiente e a decisão for muito importante. 2.4.1.6 Experimentar Bem, agora você já pode agir e estará seguro para dar passos com maior probabilidade de acerto. Esteja atento, porém, que, para fechar o ciclo, não basta somente agir, mas avaliar a ação e as consequências advindas desta ação, a fim de validar a decisão tomada. Qualquer metodologia de decisão não lhe conferirá a certeza de tomar uma decisão acertada, mas aumentará a acuracidade da mesma, por meio da redução da margem de erros. Desta forma, com uma cuidadosa avaliação, você poderá aferir se houve alguma alternativa ou variável não considerada e se a decisão efetivamente foi acertada. Assim, a partir das lições aprendidas (quer para manter o que está certo ou para modificar o que deve ser aprimorado) é que se faz um processo de melhoria contínua, adquirindo experiência e desenvolvendo o discernimento. Por fim, um último recadinho: lembre-se de que a história já nos mostrou, desde o lavar as mãos de Pôncio Pilatos, que as “não decisões” são também decisões e que, quando você opta por não agir ou não avaliar determinada situação, você necessariamente estará agindo e também fazendo uma escolha, bem como, com certeza, terá de arcar com as consequências desta ação. Então, “mãos à obra”! Que tal aplicar o método em sua rotina diária e, então, avaliar o resultado de suas escolhas neste período? O mais difícil é dar o primeiro passo. Sucesso e boas decisões! Comemorei sentado, quieto, com a boca cheia, a minha maior conquista: PARTIR. Ainda que minha viagem durasse apenas um único e mísero dia. Parti para a minha mais longa travessia E mesmo que ela só durasse esse único dia, eu havia escapado do maior perigo de uma viagem, da forma mais terrível de naufrágio: NÃO PARTIR (Amyr Klink) Questões para refletir 1. Como é o processo de decisão em sua empresa? 2. Quais são os fatores que você considera que mais impactam na tomada de decisão? 3. Quais são as principais dificuldades encontradas para tomada de decisão? REFERÊNCIAS BAZERMAN, M. H. Processo Decisório: para cursos de Administração, Economia e MBAs. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. COSTA NETO, P. L. O. (org.). Qualidade e Competência nas Decisões. São Paulo: Edgarg Blücher Ltda., 2007. GOMES, F. A. M.; GOMES, C. F. S.; ALMEIDA, A. T. de. Tomada de Decisão Gerencial: Enfoque Multicritério. São Paulo: Editora Atlas, 2002. JENSEN, Richard. Judment. Ohio State University. Columbus, 2004. MELO, M. A., VIEIRA, M. G.; PORTO, T. S. Processo Decisório ‒ Considerações sobre a Tomada de Decisões. Curitiba: Editora Juruá, 2011, 128p. MILLER, D. W.; STARR, M. K. Estrutura das Decisões Humanas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1972. PEREIRA, M. J.; FONSECA, J. G. M. Faces da Decisão ‒ Abordagem Sistêmica do Processo Decisório ‒ Col. Gestão Estratégica. Rio de Janeiro: LTC, 2014, 256 p. SIMON, H. A. A Capacidade de Decisão e de Liderança. Rio de Janeiro: Editora, Fundo de Cultura, 1972. SCHEIN, E. Seminário diálogo com Edgar Shein sobre cultura organizacional. São Paulo: Amana, 1989. TONN, B. E. The Future of Future Decision Making. Futures, v. 35, n. 6, p. 673-688, jun. 2003. TVERSKY, A. The framing of decisions and the psychology of choice. Science, n. 211, 1981, p. 453-463. TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. Judment under uncertainty: Heuristics and biases. Science, n. 185, 1974, p. 1124-1131. VASCONCELOS, Maria José de Esteves de. Pensamento Sistêmico: O novo paradigma da ciência. 8. ed. São Paulo: Papirus, 2002. XAUSA, Maria Regina. Como tomar decisões? Pós MBA em Liderança – (Documento técnico). São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2013. CAPÍTULO 3 PREPARE-SE PARA A NEGOCIAÇÃO Giovana Macedo dos Santos O título deste capítulo já nos remete sobre o que vamos tratar no decorrer da leitura, pois no desenvolvimento do texto será visto o quão fundamental é estar preparado para negociar. Aqui, serão tratados os seguintes assuntos: (1) scrip negocial, (2) como superar impasse, (3) variáveis básicas da negociação e (4) perfis comportamentais dos negociadores 3.1 Script negocial Como vimos no capítulo anterior negociar faz parte de nossa rotina, tanto que, muitas vezes passa despercebido que estamos negociando com determinada pessoa, como, por exemplo, quando conversamos com um colega para alterar a data de entrega de um relatório. No entanto, tomar consciência de que esta “simples conversa” é uma negociação pode fazer com que ocorra uma sensível diferença na condução e resultado, pois este “dar-se conta de” remete a um breve preparo antes do encontro, pelo menos no sentido de ter em mente o motivo que sustenta tal pedido, se o colega aceitaria ou não a justificativa, se será preciso ter mais alguma informação para convencê-lo, qual o melhor momento para falar com ele. Estas breves reflexões permitem identificar algumas informações, as quais já nos possibilitam ir mais bem preparados para “conversar” com o colega e obter sua concordância. Assim, quem pretende negociar precisa considerar um passo fundamental que é preparar-se. O preparo começa pelo entendimento de que a negociação é um processo que tem começo, meio e fim. De acordo com Carvalhal (2001, p. 64), “fortalecer o processo é um fator crítico de sucesso para o êxito de uma negociação, não é a única condição necessária, mas sem ela as possibilidades de êxito diminuem.” E, para melhor conduzi-la, vamos utilizar o script negocial, por meio do qual este processo pode ser dividido em etapas, permitindo-nos maior organização e mais efetividade no alcance dos resultados desejados. As etapas que fazem parte deste script negocial são: planejamento,execução e controle, conforme mostra a Figura 5. Figura 5 – Script negocial. Fonte: elaborada pela autora. 3.1.1 Fase do planejamento Este momento permite ao negociador visualizar de forma mais ampla o processo de negociação. O preparo traz mais segurança e consistência aos argumentos. “Seja a negociação simples ou complexa, dedicar algum tempo ao seu planejamento é, no mínimo, uma atitude de bom senso” (CARVALHAL, 2001, p. 67). O autor está corretíssimo em dizer que não só é uma questão de bom senso, mas também uma questão de consideração para com a outra parte, pois o outro lado percebe quando você se preparou ou está improvisando, inseguro no que fala. Preparar-se não é perder tempo, é sim ganhar tempo e aumentar a probabilidade de a negociação ser bem-sucedida. Esta é a parte mais importante, pois “o preparo, antes de partir para o local da negociação, permite que as melhores vantagens sejam obtidas, nossos argumentos ficam mais fortes e nosso poder de decisão mais firme” (BURBRIDGE, 2012, p. 105). Então, nesta citação podemos identificar duas variáveis básicas que fazem parte da negociação: a informação que aparece nas “entre linhas”, pois é a partir dela que podemos obter melhor vantagem e argumentos consistentes, e o poder, uma variável que se torna mais firme na decisão, pois é subsidiada pelas informações. Esta fase tem início com o esclarecimento do propósito, ou seja, o que você deseja obter por meio desta negociação, e, em segundo é o porquê, ou seja, identificar qual seu real interesse. Estas duas perguntas constituem a base para se estruturar o restante do processo. É o momento de estabelecer limites e com isto delimitar as possíveis concessões, ou seja, definir até que ponto se pode chegar na negociação; procurar novas alternativas, verificar possíveis impasses, preparar os argumentos, mapear as informações e com isto identificar dúvidas e pontos vagos, desenvolver a estratégia a ser utilizada. Além destes pontos, devem ser avaliados o tempo disponível e o poder das partes, que pode se manifestar de diferentes formas, como veremos ao abordar as variáveis básicas da negociação. Também nesta fase pode ser definido o local. Não existe uma regra, embora alguns autores sugiram que seja na “sua casa”, o importante é que o local seja adequado para aquela negociação. Por exemplo, quando estamos negociando com um novo fornecedor, muitas vezes é importante que a reunião de negócios ocorra em suas instalações, pois assim já conhecemos sua produção. Para tanto, é necessário avaliar se o lugar escolhido dispõe dos recursos e das instalações necessárias. Outro aspecto a ser definido é a participação ou não de mais colegas, isto dependendo da complexidade, do grau de afinidade e do conhecimento que o negociador tem sobre o assunto. Importante: quando participam mais de um negociador em uma mesma reunião todos devem estar igualmente preparados e cada um deve saber seu papel. Em relação à complexidade, sugere-se que, quando o nível é elevado, possa ir no mínimo mais de uma pessoa, que também conheça o assunto, para contribuir com sua análise sobre os fatos. Por exemplo, você trabalha em uma empresa que fornece um produto Xis, a qual atende cada cliente de forma diferenciada a partir de requisitos específicos no projeto. Na época de renegociar o contrato com um dos clientes, é necessário que façam parte da negociação as diferentes áreas envolvidas — comercial, desenvolvimento de produto e produção —, para que não se percam informações importantes e consigamos ser mais assertivos na negociação devido à complexidade dos detalhes que fazem parte do contrato. Quanto ao grau de afinidade é sempre importante avaliar se temos um vínculo mais forte (por exemplo, amigos) com a pessoa com a qual vamos negociar ou se não simpatizamos e/ou temos seguidas divergências. Nesses dois casos, devido à questão de imparcialidade, sugere-se que possa ir acompanhado. Assim, teremos outro olhar em paralelo sobre os fatos, o que vai contribuir para uma tomada de decisão mais adequada. Não é incomum ouvirmos palavras como “para você, que é meu amigo, vou reduzir um pouco mais minha margem” (isto significa que foi além do limite considerado mínimo para o não prejuízo), ou “hoje tenho reunião com Fulano... para ele não vou abrir mão das minhas condições. É pegar ou largar”. No que se refere ao conhecimento, dependendo do objeto da negociação, às vezes, não dominamos o assunto e, portanto, é necessário que um(uns) colega(s) que tenha(m) o devido expertise nos acompanhe. Por exemplo, você tem em sua empresa uma área de contratos, ou seja, todas as negociações com clientes e fornecedores devem ser realizadas por esta área, no entanto, precisa-se negociar a contratação de um serviço de segurança da informação. Neste caso, o analista de contratos vai chamar para acompanhá-lo nas negociações o analista de TI, pois este domina o assunto. Assim, os dois devem se reunir antes de encontrar o fornecedor para esclarecer necessidades, autoridade, atuação de cada um. Outro ponto essencial também nesta etapa de preparo é analisar a outra parte, ou seja, avaliar as informações, o estilo, possíveis objeções, os pontos em comum. De acordo com Martinelli e Guisi (2006, p. 164), “a análise e a avaliação de cada um dos fatores relativos à outra parte permitirá ao negociador não apenas balizar sua conduta durante a discussão, mas também gerar a confiança necessária para alcançar o objetivo desejado.” Atenção: em negociações internacionais, durante esta fase, deve-se buscar informações sobre a cultura de tal país, conforme vimos no capítulo anterior, para que não ocorram gafes, constrangimentos e até mesmo o cancelamento da negociação. Quadro 10 – Síntese da fase de preparação Preparação Buscar informações. Levantar interesses. Definir objetivos. Com quem está o poder. Tempo que você e a outra parte dispõem. Definir a estratégia. Fonte: elaborado pela autora. 3.1.2 Fase de execução Nesta fase ocorre o momento do encontro com a outra parte. Uma vez que as técnicas de comunicação serão muito utilizadas nesta fase, tenha o cuidado de ouvir mais do que falar. Atenção: ouvir significa estar atento à linguagem verbal e não verbal. Um erro comum na negociação é fazer a proposta logo no primeiro contato, enquanto o mais adequado é que a proposta seja feita após ter sido melhor explorado o interesse da outra parte (ERVILHA, 2008). Esta fase é dividida em cinco etapas, conforme mostra o quadro a seguir. Quadro 11 – Etapas da execução Fases Etapas Execução Abertura. Exploração. Apresentação. Clarificação. Ação final. Fonte: elaborado pela autora. 3.1.2.1 Abertura É o momento inicial da negociação. Tenha paciência e inicie a conversa com amenidades e busque pontos em comum. Procure estabelecer um vínculo positivo para o andamento da negociação. Descontraia o ambiente por meio de um “quebra-gelo”. 3.1.2.2 Exploração Aqui busca-se tornar clara as expectativas da outra parte, confirmar nossa percepção sobre seus interesses e identificar outras necessidades. É o momento de ouvir e fazer perguntas adequadas. Atenção às perguntas: ABERTAS: admitem mais que um tipo de resposta exigindo que o interlocutor pense! FECHADAS: admitem só um tipo de resposta! Esta etapa permite a troca de informações, vital para a negociação, e, de acordo Schell (2001, p. 191-192), visa três objetivos: permite que as partes estabeleçam uma comunicação aberta, utilizando, caso seja possível, um tom amistoso; determina os interesses e questões a serem negociados e compartilha informações a respeito de suas percepções acerca dessas questões; emite sinais com relação aos seus respectivos poderes de influência. 3.1.2.3 Apresentação Nesta etapa são apresentadas as propostas. Para isto, devemos ter alguns cuidados como os citados no Quadro 12. Quadro 12 – Certo e errado na apresentação da proposta Certo Errado Ouça com atenção o outro lado. Não faça concessões demais logo no começo. Deixe boa margem de manobra em suas propostas. Não façauma oferta inicial tão extrema que logo após você tenha que recuar. Sinta-se livre para rejeitar a Jamais diga “nunca”, pois você cria primeira oferta feita, desde que não atenda ao objetivo. automaticamente uma barreira. Use ofertas condicionais: “se você fizer isto, então faremos aquilo.” Não responda às questões diretamente com um simples “sim” ou “não”, assim você perde a oportunidade de expor seus argumentos. Esteja disposto a ajustar a estratégia caso você perceba um meio-termo aceitável no início da negociação. Fonte: adaptado pela autora com base em Hindle (2008, p. 32). O resultado da negociação pode ser influenciado (positiva ou negativamente) pelo momento em que foi apresentada a proposta. Então, tenha muito cuidado. Mostre abertura para que o outro lado se sinta à vontade para propor outra alternativa e flexibilidade em rever alguns aspectos de sua proposta. Caso venha a fazer concessões, use a condição, “Se.... Então...”. Por exemplo, “Se eu pagar o preço que estás propondo, você me envia a mercadoria sem o custo do frete? Aqui vão algumas dicas para apresentar sua proposta: Não tenha pressa: como diz o ditado popular “quem tem pressa como cru e quente”. Exponha a proposta com inteligência: use a informação que dispõe sobre a outra parte para torná-la atrativa. Valorize a credibilidade: é preciso ser consistente. Focalize o que é essencial. 3.1.2.4 Clarificação É o momento de esclarecer as dúvidas reais e potenciais, superar as resistências e preparar-se para responder objeções. Uma forma de você confirmar o que entendeu é fazendo uma pergunta espelhada, ou seja, repetir o que a outra parte falou e no final completar com “estou correto, é isto...”. Por exemplo: “Você falou que o relatório será enviado após o prazo pelo fato de o Fulano estar viajando e não responder aos e- mails. É isto?” Evite frases como: “Você não entendeu nada.” “ Não é nada disso.” É fundamental compreender a posição do outro, o que não significa concordar, e sim mostrar que você considera o ponto de vista do interlocutor, pois entende o que está sendo dito. O contraponto terá por base o que foi dito pela outra parte, tal como a pergunta espelhada, citada anteriormente, da seguinte forma: “Entendo sua posição quando refere que ..., no entanto, vamos olhar por outro ângulo...” É importante concluir esta etapa tendo claro que as duas partes estão “falando a mesma língua”, isto é, ambos têm que ter o mesmo entendimento sobre os fatos. 3.1.2.5 Ação final É o momento em que vamos nos encaminhando para o fechamento da negociação. Nesta etapa será feita uma síntese do que foi dito para que as partes confirmem os entendimentos e esclareçam os mal-entendidos; iremos direcionar para o acordo, buscando os pontos comuns e revisando as concessões; firmar o acordo. Crie uma atmosfera adequada para este fechamento. Conforme afirma Hindle (2008, p. 54), algumas estratégias auxiliam a criar um clima harmonioso. São elas: Elogie o outro lado: “Está explicação foi muito esclarecedora. Por isso, eu penso que posso oferecer...” Seja autocrítico: “Eu tenho que admitir que não propus nenhuma ideia tão interessante, no entanto, penso que podemos concordar em...” Enfatize o quanto vocês de aproximaram: “Penso que tivemos um bom progresso hoje, por isso estou disposto a oferecer...” Quadro 13 – Síntese da fase de execução Execução Sintonizar. Comunicar-se. Perguntar. Fazer proposta. Flexibilidade para concessões. Decidir. Firmar o acordo. Fonte: elaborado pela autora. Celebrem o fechamento do acordo com um aperto de mão e depois envie por e-mail ou por contrato o que foi definido. 3.1.3 Fase do controle Trata-se de uma fase também importante do processo, pois se refere ao pós-negociação, ou seja, verificar se o acordo foi ou está sendo cumprido pelas partes. Esta fase ajuda a construir os alicerces da credibilidade por meio da implementação dos acordos definidos na negociação (CARVALHAL, 2001). Quadro 14 – Síntese da fase do controle Controle e Avaliação Controlar o que foi acertado. Implantar o combinado. Comparar o que foi previsto com o realizado. Registrar as informações para serem utilizadas na próxima negociação. Fonte: elaborado pela autora. Para refletir quando você for negociar O que desejamos alcançar? Do que é possível abrir mão? Qual o interesse da outra parte? Quanto tempo disponível temos? Qual a estratégia a ser adotada? 3.2 Como superar impasses Como vimos, uma negociação reúne interesses variados que podem ser conflitantes em alguns momentos. O impasse é um destes momentos quando as partes tomam determinada posição e não flexibilizam e parece que os argumentos esgotam. O que fazer quando surgir um impasse? Primeiramente, use o bom senso e lembre-se de que há muitos interesses envolvidos. Segundo, deixar clara a existência do impasse, e, assim, colocar para uma decisão coletiva de como vamos agir e avaliar as possibilidades, em percebendo que o ambiente está propício para isso (DALLEDONNE, 2009). Caso o clima esteja tenso procure enfatizar as concordâncias e seja consistente em suas afirmativas apresentando evidências em vez de opiniões. Instrumentos para amenizar os impasses Mudar o nível → passar a negociação para os níveis hierárquicos superiores aos dois negociadores. Ouvir → considerar relevantes as objeções da outra parte e ir administrando cuidadosamente. Terceiro →chamar uma pessoa neutra para ajudar os dois lados a resolver o problema. Humor → pode ser uma boa saída, caso o contexto permita. Pausa → o descanso possibilita “esfriar” os ânimos exaltados. Marcar outro encontro → permite uma reflexão maior sobre a negociação. Substituir os negociadores → principalmente quando ficar deflagrado que o problema é pessoal. 3.3 Variáveis básicas Em toda negociação vamos encontrar três variáveis básicas que serão chamadas de TIP ‒ Tempo, Informação e Poder. As TIPs são variáveis, pois sua capacidade de influência se diferencia conforme a negociação; assim, você sempre deve considerá- las, uma vez que servirão de parâmetro para o andamento do processo. É importante também saber utilizar adequadamente cada uma delas, já que podem levar você ao alcance de seus objetivos de forma bem-sucedida. O que corrobora com Martinelli e Almeida (2008, p. 24), quando referem que “Para se ter uma negociação efetiva, é importante ter pelo menos duas das três variáveis presentes e, se possível, interligadas, além de saber utilizá- las corretamente.” Figura 6 – TIP – Tempo, Informação e Poder. Fonte: elaborado pela autora. Como mostra a Figura 6, cada variável realiza uma troca entre si ao mesmo tempo em que contribuem para a negociação. As TIPs são fundamentais, pois dão sustentação para a tomada de decisão e para a condução do processo. A seguir vamos entender cada uma delas. 3.3.1 Variável tempo A variável tempo nos remete a diferentes nuances da negociação e por isso deve ser cuidadosamente analisada. Uma delas são os prazos, ou seja, quanto tempo há para realizar esta negociação. Por exemplo, tenho que definir no primeiro contato com o fornecedor que deve ser esta semana, pois preciso comprar o material com urgência, ou posso negociar com calma, pois tenho até dois meses para fazer o pedido. Outro ponto é o período reservado para acontecer a negociação, a agenda, ou seja, quanto tempo as partes têm para conversar (uma hora, uma manhã). E, o tempo relacionado ao timing, ou seja, a escolha do momento mais adequado para expor as informações que possui para fazer a proposta. Como vimos, o tempo interfere no processo negocial e, por isso, se faz necessário identificar o quanto afeta o processo. Conforme Martinelli e Almeida (2008, p. 26), “O tempo pode favorecer tanto um como o outro lado, dependendo das circunstâncias.” Existem táticas ligadas à variável tempo: Quadro 15 – Táticas da variável tempo Tática Ação Paciência Não ter pressa para chegar ao desfecho. Quando possível, negocie com antecedência. Data-limite Utiliza um prazo determinado para pressionar a tomada
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