Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESTUDO SOCIOECONÔMICO NO SERVIÇO SOCIAL Brenda Carvalho Prof.ª *** Centro universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Serviço social (SES0435) – Instrumentos e processo de trabalho do Assistente Social. 00/06/2018 RESUMO O presente trabalho tem como objeto compreender o instrumental de estudo socioeconômico no serviço social, como se deu início a esse estudo. O que ele é, como e em quais áreas ele é utilizado, qual sua finalidade. A importância que esse método de pesquisa tem na identificação da realidade em estudo, junto aos outros instrumentos técnico-operativos para uma melhor análise do conhecimento da realidade, de um indivíduo e ou de famílias, para assim compreender suas necessidades e dificuldades, buscando respostas à essas demandas. Quais as competências e atribuições dos assistentes sociais nesse estudo, e qual seu perfil como profissional. Palavras-chave: Estudo socioeconômico. Instrumento técnico-operativo. Assistente Social. INTRODUÇÃO De acordo com a Lei 8.662/93 - Lei de regulamentação da profissão em seu Art. 4º Constituem competências do Assistente Social afirma que "XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades." O grande desenvolvimento dos estudos socioeconômicos no Serviço Social ocorreu no marco do processo de consolidação da profissão, a partir da apropriação do Serviço Social americano e particularmente do Método do Serviço Social de Caso. Que de acordo com Nicholds apoiava-se numa perspectiva de ajustamento do indivíduo ao meio social. O estudo social de caso norteava-se pela busca das informações: Inerentes ao indivíduo e inerentes ao ambiente. A busca por soluções as demandas concentravam-se nas questões relacionadas a personalidade e adaptação dos indivíduos. Com a incorporação da teoria social de Marx pelo Serviço Social a realização dos estudos socioeconômicos adquiriu uma nova configuração fundamentada em dois aspectos principais: Mudança na interpretação, onde as necessidades dos sujeitos singulares não são mais compreendidas como problemas individuais. E, dessa forma é compreendida como uma expressão da questão social inerente a sociedade capitalista, não se discutindo a competência ou incompetência do indivíduo na satisfação de suas necessidades sociais; Redimensionamento que a perspectiva crítico-dialética traz para o fazer profissional teleologicamente orientado para a transformação social. Assim além da instrumentalidade e dos instrumentos para a sua realização apresenta um compromisso ético com a transformação social. E no terreno sócio histórico atual apresenta-se como um instrumento para a garantia dos direitos de cidadania através do desenvolvimento de políticas sociais e consolida-se como um instrumento para o enfrentamento das expressões da questão social. Segundo Santos (apud Martinelli,1994), “o instrumental é percebido como um conjunto articulado de instrumentos e técnicas, não podendo serem vistos isoladamente, por si sós, de maneira autonomizada, mas como uma unidade dialética”. Nesse sentido a instrumentalidade pode ser considerada como a capacidade de articulação e mobilização dos instrumentos norteados pela técnica não podendo ser vistos como algo isolado e sim inseridos dentro de um movimento como síntese de forças contraditórias que se inter-relacionam mutuamente. O instrumento é considerado como algo objetivo, inerente ao assistente social, antecedendo-o na formação profissional, “repetindo-se na história, sendo o elemento mais importante o significado que vão tomando em cada período histórico e nas posições teleológicas dos agentes profissionais” (TRINDADE,2001). 1 ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS Os estudos socioeconômicos/estudos sociais referem-se a um conjunto de procedimentos, atos, atividades realizadas a partir da necessidade de consecução de determinados objetivos. Contém tanto uma dimensão operativa quanto uma dimensão ética, num momento que se realiza a apropriação pelos assistentes sociais dos fundamentos teórico-metodológico e ético-políticos da profissão em determinado momento histórico. Na perspectiva operacional, os estudos socioeconômicos podem ser compreendidos como o processo de conhecimento de uma determinada situação social. As situações que demandam sua utilização são variadas e por causa disso os estudos socioeconômicos assumem determinadas características e finalidades condicionadas tanto pelas especificidades das áreas (saúde, educação, judiciário), como pela natureza dos espaços socio ocupacionais (o público, o privado) o que se coloca como um desafio para o assistente social. Os estudos socioeconômicos/estudos sociais se realizam pela abordagem de determinados sujeitos que estão envolvidos na situação que demandou a ação. Tal abordagem pode ocorrer de diversas maneiras, sendo a mais comum nos estudos socioeconômicos as abordagens individuais e grupais realizadas com a utilização de instrumentos como: a entrevista, a observação, a reunião, a visita domiciliar e a análise de documentos. Sua finalidade imediata é a emissão de um parecer - formalizado ou não - sobre tal situação, do qual o usuário depende para acessar benefícios, serviços e/ou resolver litígios. Essa finalidade é ampliada quando se incluem a obtenção e análise de dados sobre a população atendida em programas ou serviços, servindo de subsídio para planejamento e gestão de políticas e de programas. O estudo socioeconômico é utilizado de forma objetiva para uma determinada pesquisa, esta pode ser tanto qualitativa como quantitativa, sendo, pelo serviço social a qualitativa a mais utilizada. A elaboração do documento final apresenta-se como uma resposta dada a partir de um estudo com perspectiva de totalidade, de uma demanda apresentada em sua singularidade. O estudo social é um processo metodológico específico do Serviço Social que tem por finalidade conhecer profundamente, e de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social, objeto da intervenção profissional (FÁVERO, 2003, p. 43). Ressaltam Pavão; Graciano; Blattner (2006) que o estudo social é baseado no contexto familiar e na realidade social, tendo como finalidade subsidiar decisões e ações, possibilitando a coleta de informações a respeito da realidade sócio-familiar de cada indivíduo e família e as questões sociais que afetam suas relações sociais, especialmente em seus aspectos socioeconômicos e culturais. Completam esses autores que o profissional de Serviço Social deve estabelecer as inter-relações entre os diversos fatores e expressões que constituem a questão social, portanto, o conhecimento acumulado do assistente social e a sua habilidade são primordiais para a realização do estudo que é pautado em quatro itens fundamentais: o que conhecer; por quê (quais os objetivos); para quê (com quais finalidades); como (quais metodologias, instrumentais e técnicas utilizadas para a ação). O estudo socioeconômico, também afirmado terminologicamente como estudo social (MIOTO, 2009), tão presente no cotidiano da intervençãoprofissional do Serviço Social ao longo de seu processo histórico, parece ter sido descoberto, nos últimos tempos, por outras profissões. Neste sentido, precisamos torná-lo objeto de debate e reflexões no que concerne ao seu lugar no âmbito das atribuições do/a Assistente Social. Mediante o exposto, faz-se necessário reafirmar que o estudo socioeconômico no âmbito do Serviço Social, "é parte intrínseca das ações profissionais dos/das Assistentes Sociais" (MIOTO, 2009) não restando dúvidas que, no âmbito da política de assistência social ou de qualquer outra política ou campo de trabalho, as avaliações socioeconômicas para concessão de benefícios e análises correlatas devem, em todas as situações, serem delegadas e requisitadas os/as assistentes sociais e não a outros profissionais. Ainda segundo Mioto (2001, p. 53) "O estudo social é um instrumento utilizado para conhecer e analisar a situação vividas por determinados sujeitos ou grupos de sujeitos sociais, sobre o qual fomos chamados a opinar". É uma forma de documentação utilizada pelo serviço social para a interlocução dos usuários na garantia de seus direitos no espaço público" (TURCK, 2000, p.29). A realização do estudo social se move em um terreno contraditório, tanto pela contradição inerente a sociedade capitalista, como pelas contradições que se desenvolvem no cotidiano do trabalho do assistente social, exigindo, desse modo do profissional tanto competência teórico-metodológica como ético-política. Seu redimensionamento na perspectiva crítica significa tanto o rompimento da perspectiva de individualização dos problemas sociais como a afirmação dos compromissos éticos. 2. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO SOCIOECONÔMICA Inicialmente é preciso ressaltar que o conceito de classe social é polêmico e complexo. Alguns autores o tratam no campo predominantemente econômico, com implicações sobre todo sistema de poder na sociedade e no Estado. Outros o estudam no campo da estratificação social, e outros ainda no universo do modo, cultura e estilo de vida das pessoas. Optamos por defini-lo no campo da estratificação social, que diz respeito à classificação dos indivíduos e grupos sociais segundo determinadas qualidades ou atributos separando-os nas classes sociais correspondentes. Os principais atributos utilizados para essa separação são: educação (nível de escolaridade), renda, status social, profissão e ocupação, origem social e outros (GURVITCH apud GOHN, 1999). A construção dos indicadores necessários ao estudo e à avaliação socioeconômica, desenvolvida por Graciano; Lehfeld; Neves Filho (1996, 1999) teve por objetivo refletir as situações encontradas socialmente e servir de instrumento para o conhecimento aproximativo da realidade do usuário e intervenção social. As caracterizações foram definidas pelos referidos autores, a partir de um sistema de pontuação simples que resulta, por correlações, em seis estratos a saber: Baixa Inferior (BI), Baixa Superior (BS), Média Inferior (MI), Média (M), Média Superior (MS) e Alta (A). A estratificação tem como núcleo central a família, mais propriamente as suas condições de vida. Para tanto, faz-se necessário o levantamento de um rol de informações e considerações socio analíticas sobre suas entradas (rendas), natureza da atividade ocupacional que seus membros exercem, composição demográfica familiar, nível educacional e condições habitacionais, subsidiando as intervenções. No aspecto educacional consideramos a nova nomenclatura definida pela Lei de Diretrizes e Base (BRASIL, 1996, 2006). Assim sendo a Educação escolar, no país, compõe-se de: Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio) e Educação Superior. O Ensino Fundamental com duração de 9 anos se subdivide em: Ciclo I – do 1º ao 5º anos iniciais e Ciclo II – do 6º ao 9º anos finais (SÃO PAULO, 2009).No que se refere aos rendimentos brutos auferidos, realizamos uma ordenação por valores monetários, a partir do procedimento em uso pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INSTITUTO, 2000). Este Instituto categoriza as classes de rendimento nominal mensal da pessoa responsável pelo domicílio (em salários mínimos) que vai de ½ a mais de 20 salários-mínimos, ou seja: até ½, mais de ½ a 1, mais de 1 a 2, mais de 2 a 5, mais de 5 a 10, mais de 10 a 20, e mais de 20 salários mínimos. Foram feitas algumas alterações para os nossos fins e optamos pela faixa que vai de nenhuma renda a 100 salários-mínimos ou mais, (re) definindo outras faixas de rendimento de mais de 20 à 100 salários-mínimos ou mais para melhor configurar os estratos médios e altos3.3 O valor atual do salário mínimo nacional é de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais) (07/2010), sendo que no Estado de São Paulo o piso salarial é de R$ 560,00 (quinhentos e sessenta reais). Qualitativamente, abrimos janelas para obtermos informações sobre os tipos de rendimentos (salários, honorários, aluguéis, aposentadoria, pensionista, benefícios do governo e outros), visando a construção de um quadro da realidade familiar. A distribuição de seus membros segundo a ocupação e o setor de atividade, complementa o perfil de rendimento da família e é indicativo tanto para estabelecermos sua posição na estrutura social e sua condição de classe como para nos esclarecer sobreo tipo de rendimento e a renda auferida, bem como a forma de inserção ou não de seus membros no mercado de trabalho e/ou de bens. Na atualização do presente instrumental mantivemos as adaptações feitas com base nas ocupações e atividades segundo a Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho, de 1994 (BRASIL, 1995), apesar da sua atualização em 2002 (BRASIL, 2002). A opção pela CBO de 1994 além de atender às necessidades da Instituição, propicia a manutenção do banco de dados do Serviço Social do HRAC/USP de aproximadamente de 40.000 casos, cuja alteração dos níveis ocupacionais acarretaria em uma perda na “memória” institucional dos estudos. Por sua vez, os indicadores que nos informam sobre a qualidade de vida das famílias, focalizam as condições e a situação habitacional, o número de membros residentes no mesmo imóvel e o nível de escolaridade dessas pessoas. Por meio destes, podemos realizar inferências de caráter qualitativo sobre o percurso histórico e social da família, as expectativas geradas por essas em relação aos seus membros, associadas à escolaridade, ocupações profissionais, ou a estratégia de mobilidade social, e ainda inferir acerca de seu nível de bem-estar ou de expectativas sobre este aspecto. Esses indicadores podem ainda ser utilizados para consolidar o quadro de inserção social da família, em relação à estratificação social que ocupa na sociedade, analisando determinados atributos derivados desses elementos qualitativos. De qualquer forma, como pode ser observado, os resultados obtidos por esse conjunto de indicadores caminham no sentido de ser adequado ao perfil mais geral de nossa economia e nossa sociedade, como ainda de servir de instrumento de pesquisa que resulteem maior conhecimento e aproximação sobre essa mesma realidade social. 3. O INSTRUMENTAL FRENTE ÀS NOVAS EXIGÊNCIAS DA PROFISSÃO ASSISTENTE SOCIAL: ELEMENTOS CONCLUSIVOS Na década de 80, após a implantação da diretriz da universalidade de atendimento à saúde, houve mudança de paradigma, ou seja: da seletividade para equidade, porém, nunca se deixou de valorizar o estudo social como parte integrante da ação profissional, por propiciar uma visão da realidade social do usuário. Segundo Mioto (2009. p. 482) [...] isso significa dizer, que a realização de estudos socioeconômicos esteve presente no cotidiano do exercício profissional dos assistentes sociais ao longo da trajetória do Serviço Social, mas nem por isso manteve o mesmo significado e direção. A sua concepção e as questões implicadas na sua operacionalização se transformaram à medida que a profissão também se transformou, buscando responder aos desafios impostos pela realidade social (. Tanto na política de saúde atual (BRASIL, 1990), como no Código de Ética do Assistente Social (BRASIL, 1993a) o posicionamento dá-se em favor da equidade e justiça social, que assegure a universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática. Neste contexto, a saúde é direito de todos e dever do Estado, tendo como fatores determinantes e condicionantes, entre ambos, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (BRASIL, 1990). Consequentemente, estes fatores precisam ser considerados no estudo social, pois expressam não só as condições de vida da população usuária atendida, mas a organização social e econômica do país. O presente estudo visou resgatar alguns aspectos da aplicação do instrumental de investigação diagnóstica por concebê-lo como meio importante de aproximação e de conhecimento da realidade social dos usuários. Com base em Martinelli e Koumrouyan (1994), o instrumental é entendido como o conjunto articulado de instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da ação profissional resultante de uma dada visão crítica da realidade com interferências tanto de natureza estratégica ou tática como técnica decorrentes do uso de conhecimentos −habilidade e criatividade. O instrumental não é nem o instrumento nem a técnica tomados isoladamente, mas ambos, organicamente articulados em uma unidade (entrevista/relatório, visita, reunião, observação participante, etc.), produto desta visão concebida. É, portanto, o instrumental, por excelência, uma categoria relacional e abrange não só o campo das técnicas como também conhecimentos, métodos e habilidades. É uma categoria que se constrói a cada momento, a partir das finalidades da ação que se vai desenvolver e dos determinantes históricos, políticos, sociais e institucionais a ela referidos. O Serviço Social do HRAC/USP reconstruiu em sua história seu instrumental de avaliação socioeconômica não somente com o objetivo de incluir as pessoas em seus programas de reabilitação, mas com a finalidade de conhecer as condições de vida de seus usuários para que o tratamento interdisciplinar seja planejado de forma global em atendimento as suas carências, necessidades, expectativas e possibilidades. Segundo Martinelli e Koumrouyan (1994), o instrumental tem um eixo valorativo, que se reporta ao campo das finalidades e objetivos, um eixo metodológico, que se reporta ao campo da operacionalização, bem como um eixo operativo, que se reporta ao campo das estratégias e táticas. A direção e alcance do uso desse instrumental são, portanto, determinados essencialmente pelo agente ou trabalhador institucional por sua consciência crítica e por sua criatividade. Assim, cabe às organizações, exigir instrumentais que garantam dados quantitativos sem que se negue o seu valor, pois fazem parte da lógica institucional, mas torna-se indispensável que se possa complementá-los com instrumentais de natureza qualitativa −construídos pelos próprios agentes institucionais, que os determinam socialmente e os produzem historicamente como por exemplo o estudo social de seus usuários. Entende-se, assim, que o estudo social, independentemente de sua instrumentalização, deve propiciar a prestação de assistência social aos indivíduos como um direito, devendo ser visualizado numa perspectiva mais ampla, pois permite o conhecimento da história de vida dos usuários, suas necessidades e suas experiências (SPOSATI, 1985). Guerra (1998, p. 27) afirma que: Os assistentes sociais ao acionarem Razão e Vontade na escolha dos procedimentos técnicos e ético-políticos, dentre eles o instrumental técnico-operativo, o fazem no âmbito de um projeto profissional, o que permite que a profissão supere a dimensão eminentemente instrumental (necessária, mas insuficiente), respondendo de maneira crítica e consciente às demandas que lhe são postas, alcançando a competência técnica e política necessárias para o avanço da profissão em suas diversas dimensões: técnica, ético-política, intelectual e formativa. Entendemos assim que reconhecer e atender às requisições técnico instrumentais da profissão não significa reduzir a intervenção à sua dimensão instrumental. A realização das requisições que são postas à profissão necessita da interlocução com conhecimentos oriundos de outras ciências, especialmente as humanas e sociais que lhe servem de referência bem como dos conhecimentos construídos sobre as dimensões constitutivas da questão social. Além disso, é preciso destacar que, segundo Guerra (1999. p. 53), a instrumentalidade no exercício profissional, entendida como capacidade, qualidade ou propriedade de algo, refere-se não ao conjunto de instrumentos e técnicas (instrumentação técnica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio histórico.Ao possibilitar o atendimento das demandas e o alcance dos objetivos (profissionais e sociais) constitui-se uma possibilidade concreta de reconhecimento da profissão. Resgatar o estudo social afinado, articulado e fundamentado pelos princípios teórico-fisiológicos do projeto ético-político de formação do assistente social torna-se necessário. O compromisso é não discriminar cidadãos no seu acesso a bens e serviços, não estabelecendo, portanto, critérios constrangedores e vexatórios que estigmatizem e rebaixem o status de cidadania dos usuários das políticas sociais públicas. Desta forma, estar-se-á garantindo, sim, que a equidade ancorada na universalidade propicie o conhecimento da realidade social e o atendimento das necessidades sociais particulares para melhor atender aos usuários das políticas sociais, mediante uma perspectiva conjuntiva, ampliando os direitos de cidadania em interfaces e coalizões com as demais políticas (GRACIANO, 2008). Portanto a avaliação socioeconômica dos usuários tem por objetivo ser um meio que possibilite a mobilização dos mesmos para a garantia de direitos e não um instrumento que impeçao acesso aos serviços conforme preconiza o Conselho Federal de Serviço Social (2009). Por fim, é importante ressaltarmos que segundo Martinelli (2007) [...] é o compromisso ético-político que deve nos fazer avançar na sistematização das ações e na construção de conhecimentos. Se queremos qualificar a intervenção, temos de fortalecer a produção teórica do conhecimento em Serviço Social, pela mediação da pesquisa, condição indispensável para subsidiar a construção de saberes comprometidos com a qualidade do exercício profissional (p. 29). Esse é o entendimento e compromisso: a prestação de serviços na perspectiva da equidade e justiça social que assegure a universalidade dos direitos, ensino e pesquisa. 4 A IMPORTÂNCIA DE TODOS OS INSTRUMENTAIS E A VISÃO GERAL DE ALGUNS Os instrumentos são essenciais no exercício profissional, já que os mesmos norteiam a ação profissional, entretanto o agir profissional não se restringe aos instrumentos, mas também na forma como são operacionalizados, ou seja, na capacidade que o profissional tem para fazer a utilização dos mesmos. A instrumentalidade pode ser considerada uma propriedade adquirida pela profissão, a partir do momento que seus objetivos são concretizados. “Os instrumentos do serviço social não são padronizados. Existem instrumentos universais a profissão, a exemplo das visitas domiciliares, relatórios encaminhamentos e entrevistas, os demais instrumentos são criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda”. (Assistente social I) 4.1 A FOLHA DE PRODUÇÃO DIÁRIA É um instrumento no qual o assistente social anota as demandas diárias, é uma folha que especifica a data e a ocorrência dos atendimentos para controle do assistente social. Na folha de produção diária consta; a data do atendimento ou atividade, ao lado as atividades e as providências que foram tomadas e a assinatura do estagiário ou assistente social responsável no momento do atendimento. 4.2 A OBSERVAÇÃO “A observação consiste na ação de perceber, tomar conhecimento de um fato ou conhecimento que ajude a explicar a compreensão da realidade objeto do trabalho e, como tal, encontrar os caminhos necessários aos objetivos a serem alcançados. É um processo mental e, ao mesmo tempo, técnico.” SOUZA (2000). A observação é um instrumento importante em momentos de decisão em que o assistente social precisa ter segurança, fixando-se nos objetivos no qual se pretende alcançar. 4.3 AS VISITAS DOMICILIARES Segundo AMARO (2003), “é uma prática profissional, investigativa ou de atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto aos indivíduos em seu próprio meio social ou familiar”, a autora também nos revela que a entrevista possui pelo menos três técnicas embutidas como: a observação, a entrevista e a história ou relato oral. A finalidade da visita domiciliar é específica, guiada por um planejamento ou roteiro preliminar. As visitas domiciliares têm a finalidade de fazer acompanhamento relacionados às condições de moradia, saúde, a fim de elaborar o relatório de visita domiciliar e emissão de parecer social. 4.4 O ACOMPANHAMENTO SOCIAL É um procedimento técnico de caráter continuado, e por período de tempo determinado, no qual é necessário que haja vínculo entre o usuário e o profissional. O acompanhamento sócio-familiar é feito quando detectado na entrevista a necessidade de se fazer encaminhamentos diversificados. 4.5 AS ENTREVISTAS Técnica utilizada pelos profissionais do Serviço Social junto aos usuários para levantamento e registro de informações. Esta técnica visa compor a história de vida, definir procedimentos metodológicos, e colaborar no diagnóstico social. A entrevista é um instrumento de trabalho do assistente social, e através dela é possível produzir confrontos de conhecimentos e objetivos a serem alcançados. É na entrevista que uma ou mais pessoas podem estabelecer uma relação profissional, quanto quem entrevista e o que é entrevistado saem transformados através do intercâmbio de informações (LEWGOY, 2007). A entrevista tem objetivo em colher informações sobre o usuário. 4.6 OS RELATÓRIOS É um documento de registro de informações, observações, pesquisas, investigações, fatos, e que varia de acordo com o assunto e as finalidades. Os relatórios são bastante utilizados na prática profissional do assistente social por que serve como registro importante capaz de subsidiar decisões. 4.7 OS ENCAMINHAMENTOS É um procedimento de articulação da necessidade do usuário com a oferta de serviços oferecidos, sendo que os encaminhamentos devem ser sempre formais, seja para a rede socioassistencial, seja para outras políticas. Quando necessário, deve ser procedido de contato com o serviço de destino para contribuir com a efetivação do encaminhamento e sucedido de contato para o retorno da informação. Os encaminhamentos são peça fundamental para que o trabalho do assistente social seja efetivado, por exemplo, se o programa está relacionado à inclusão no mercado de trabalho de pessoas com deficiência, é necessário articular vagas nas empresas privadas ou instituições governamentais e não-governamentais. Além de incluir no mercado de trabalho, o assistente social deverá também proporcionar aos usuários do programa, cursos de capacitação profissional, neste caso a articulação através das redes se faz imprescindível. 4.8 FICHAS DE CADASTRO É um instrumento de registro de informação destinado a receber informes, a fim de armazenar e transmitir informações sobre o usuário. As fichas de cadastro servem para transformar dados em informações. A ficha de Cadastro serve como fonte para agrupamento de dados e informações sobre o usuário do programa, por exemplo. A ficha de cadastro é composta de informações diversas desde dados pessoais, endereço, documentação, parecer técnico A utilização destes instrumentos visam a execução, coordenação e avaliação dos programas desenvolvidos dentro de cada instituição a qual este profissionais atuam. Sem estes não há uma "ação" e sim apenas teorias, porque é por meio destes que o assistente social intervêm na sociedade. É Através de pesquisas, análises e estes e outros instrumentais que esses profissionais atuam. Para cada demanda há instrumentos adequados a serem desenvolvidos, por isso, vai do profissional fazer a escolhas das técnicas a serem utilizadas para melhor atender as necessidades dos seus usuários e assim obter resultados positivos, não imediatamente, mas a médio e longo prazo. 5 O PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL Define-se um perfil para o assistente social na atualidade, na perspectiva de que este profissional responda positiva e criticamente às demandas / requisições da sociedade e do mercado de trabalho, bem como ao projeto ético-político profissional. Para tanto, este profissional [...] deverá ser dotado de competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, definidas no projeto de formação profissional (LOPES, 2008. p. 84). Assim: • Competência teórico-metodológica: auxilia no reconhecimento e distinção de saberes que irão nortear a proposição de ações específicas e a produzir conhecimentos para a área de atuação; • Competênciatécnico-operativa: auxilia o assistente social a criar e desenvolver estratégias de atuação, utilizar instrumentos adequados e técnicas de trabalho adequadas para responder a determinadas necessidades; • Competência ético-política: possibilita ao assistente social construir princípios e valores que irão subsidiar a prática profissional, orientando, direcionando e fundamentando o exercício da profissão no Serviço Social. O perfil do assistente social para atuar nas diferentes políticas sociais deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmáticas, que reforçam as práticas conservadores que tratam as situações sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmente. O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional, demanda uma atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação das determinações sociais, econômicas e culturais das desigualdades sociais. O exercício profissional está fundamentado em legislação federal que protege e assegura os direitos sociais do cidadão. Entre elas podemos citar: A legislação previdenciária; A lei orgânica da assistência social - LOAS; O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA; A Lei Orgânica de Saúde - LOS; A Política Nacional do Idoso- PNI; A Política e os Serviços Especiais de Prevenção e Atendimento Médico e Psicossocial às vítimas de negligências e maus tratos, exploração e abuso, crueldade e opressão; a política nacional para a integração da pessoa com deficiência; a política sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais; a legislação que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde - SUS, dentre outras. A atuação profissional visa uma transformação da realidade social através de ações e estratégias que desenvolverá para mediar e intervir nessa realidade. Atividades essas exercidas como instrumentos de trabalho do assistente social fazendo uma leitura da realidade do cotidiano. O assistente social deve ser um profissional intelectualizado, com um forte referencial teórico – metodológico construído a partir de leituras, estudos, pesquisas e formação continuada. O conhecimento, a consistência teórica, a capacidade argumentativa e o domínio da tecnologia são elementos essenciais na formação do assistente social e são estes elementos que diferenciarão o bom do mal profissional. Além dos fatores técnicos que envolvem a profissão de assistente social, este profissional deve investir em desenvolvimento de capacidades pessoais, valorização humana, crescimento pessoal. Segundo Iamamoto (2008, p.97) as atividades do assistente social: [...] encontram-se intimamente associadas à sua formação teórico-metodológico, técnico-profissional e ético-política. [e] suas atividades dependem da competência na leitura e acompanhamento dos processos sociais. Assim como no estabelecimento de relações e vínculos sociais com os sujeitos sociais junto aos quais atua. Os assistentes sociais são habilitados, por sua qualificação técnica da leitura e releitura da realidade cotidiana das diversas questões sociais, como citado anteriormente, para reconhecerem um problema social e buscar, junto aos programas, projetos sociais e políticas públicas para superação do mesmo. A prática pode ser dependente somente do desempenho profissional como fatores internos que se referem a competências do assistente social – advindas da sua formação profissional; e dos fatores externos – do ambiente do trabalho, condições e recursos institucionais. A realidade exige do assistente social um profissional culto, com conhecimento generalista crítico, capaz de desenvolver caminhos para a emancipação política do sujeito. Para isso é necessário articular forças coletivas, sejam elas dos setores institucionais e movimentos sociais; tornar os espaços públicos realmente públicos; reorganizar os espaços representativos da classe trabalhadora; efetivar ações sociais que conduzam ao planejamento, implementação e avaliação de políticas, programas e projetos sociais, tão como na gestão de recursos e de pessoal; "A categoria dos assistentes sociais, articulada às forças sociais progressistas, vem enviando esforços coletivos no reforço da esfera pública, de modo a inscrever os interesses das maiorias das esferas de decisão política” (IAMAMOTO, 2009, p. 366). O trabalho coletivo dos assistentes sociais deve ser compreendido em todos os aspectos, na articulação do profissional com seus usuários, com órgãos representativos de classe, com o Estado e com classe capitalista. Superar a intermediação e alcançar a mediação nesta relação se apresenta como desafio, pois será a partir desta categoria mediação, que o trabalho do assistente social romperá as amarras institucionais privadas e ou estatais, e potencializará a participação dos usuários dos serviços sociais na construção de uma democracia participativa e transformar, assim, a realidade. No estudo socioeconômico é utilizado um questionário socioeconômico para coleta de informações sobre alguns aspectos da vida do indivíduo, e de suas condições socioeconômicas e culturais. Esses questionários servem de base para as pesquisas de avaliação. Ele não possui um padrão, o questionário socioeconômico varia de acordo com o foco da pesquisa, para o conhecimento de uma determinada situação. Segue abaixo o exemplo de um modelo: QUADRO 1 – MODELO DE QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO 1.Identificação Nome:__________________________________________________________ Data de nascimento: ____/____/_____ Idade:_______ Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Naturalidade:_____________________ Profissão:___________________ Endereço:_____________________________________________________ Bairro:_________________ Cidade:______________________ Estado:_________ CEP:_______________ Telefone:________________ 2.Situação familiar Quadro de composição familiar incluindo você: Nome Idade Parentesco Escolaridade Ocupação Renda mensal Situação de moradia: ( ) Própria ( ) Alugada ( ) Cedida ( ) Financiada Se alugada ou financiada qual o valor R$______________ A água de sua residência: ( ) Bica ( ) Poço ( ) Paga mensalmente/Valor: R$______________ Possui energia elétrica: ( ) Não ( ) Sim/Valor pago mensalmente: R$_____________ A rua em que você mora: ( ) Calçada ( ) Asfaltada ( ) Estrada de barro Recebe algum benefício do Governo Federal: ( ) Não ( ) Sim/Valor: R$_______________ Tem alguma outra fonte de renda (pensão, aluguéis) ( ) Não ( ) Sim/valor: R$______________ 3. Na sua família tem algum membro que possui algum tipo de deficiência: ( ) Não ( ) Sim/Qual doença:____________________ Algum integrante faz uso de medicação contínua: ( ) Não ( ) Sim Consegue acessar o SUS – Sistema Único de Saúde: ( ) Não ( ) Sim Qual o valor mensal gasto com medicação na sua residência: R$______________ Qual o valor mensal gasto com alimentação: R$______________ 4. Use este espaço para alguma observação que julgue necessária: _________________________________________________________________________ _ _________________________________________________________________________ _ Declaro serem verdadeiras as informaçõesaqui prestadas. Assinatura do responsável:_______________________________________ Assinatura do Técnico Responsável:_________________________________ Data______/______/________ FONTE: Ruaro, Gisele; Lazzarini, Juliana. Instrumentos e processo de trabalho em serviço social, p. 122, 2013 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se observar que a realização do estudo socioeconômico sempre esteve no cotidiano do exercício profissional ao longo da trajetória da profissão. Para a realização desse estudo se têm quatro itens fundamentais: O quê conhecer; por quê (quais os objetivos); para quê (com quais finalidades); como (quais metodologias, instrumentais e técnicas utilizadas para a ação). São definidos como o processo de conhecimento, análise e interpretação de uma determinada situação social. Cuja finalidade imediata é a emissão de um parecer acerca da situação que demandou o estudo, seja para garantir o acesso a benefícios e serviços, seja para mediar situações conflitantes. Pode ainda ser utilizado para analisar as condições de uma determinada população com vistas a subsidiar o planejamento e a gestão de serviços e programas, bem como a reformulação ou a formulação de políticas sociais. Portanto, para que os resultados as demandas sejam positivas o assistente social deve atuar de maneira a exercer competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, e com base em seus conhecimentos saber quais instrumentos devem ser utilizados para cada situação. E como toda ação profissional, consiste num conjunto de procedimentos, atos, atividades realizadas de forma responsável e consciente. REFERÊNCIAS (Síntese baseada no Texto: Estudos Socioeconômicos de Regina Célia Tamaso Mioto.) Disponível em: < http://cress-sc.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Orienta%C3%A7%C3%A3o-T%C3%A9cnica.p df > Disponível em: < http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/8B11wB4614LYr7zq15a4.pdf > Disponível em: < http://concurseirosdeservicosocial.blogspot.com.br/2016/10/estudos-socio-economicos.html# > Estudo socioeconomico: um instrumento técnico - operativo – BDP| USP Disponivel em https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/perfil-do-profissional-de-assistencia -social/24959 https://www.webartigos.com/artigos/os-instrumentais-tecnico-operativos-na-pratica-profissional-do -servico-social/36921/ http://educonse.com.br/2012/eixo_19/PDF/33.pdf Revista Serviço Social & Saúde. UNICAMP Campinas, v. IX, n. 9, Jul. 2010. 166 Revista Serviço Social & Saúde. UNICAMP Campinas, v. IX, n. 9, Jul. 2010 177 Revista Serviço Social & Saúde. UNICAMP Campinas, v. IX, n. 9, Jul. 2010 180 Revista Serviço Social & Saúde. UNICAMP Campinas, v. IX, n. 9, Jul. 2010 178 Revista Serviço Social & Saúde. UNICAMP Campinas, v. IX, n. 9, Jul. 2010 179 .Revista Serviço Social & Saúde UNICAMP Campinas, v. IX, n. 9, Jul. 2010164 Revista Serviço Social & Saúde. UNICAMP Campinas, v. IX, n. 9, Jul. 2010 165 http://cress-sc.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Orienta%C3%A7%C3%A3o-T%C3%A9cnica.pdf http://cress-sc.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Orienta%C3%A7%C3%A3o-T%C3%A9cnica.pdf http://cress-sc.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Orienta%C3%A7%C3%A3o-T%C3%A9cnica.pdf http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/8B11wB4614LYr7zq15a4.pdf http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/8B11wB4614LYr7zq15a4.pdf https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/perfil-do-profissional-de-assistencia-social/24959 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/perfil-do-profissional-de-assistencia-social/24959 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/perfil-do-profissional-de-assistencia-social/24959 https://www.webartigos.com/artigos/os-instrumentais-tecnico-operativos-na-pratica-profissional-do-servico-social/36921/ https://www.webartigos.com/artigos/os-instrumentais-tecnico-operativos-na-pratica-profissional-do-servico-social/36921/ http://educonse.com.br/2012/eixo_19/PDF/33.pdf
Compartilhar