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(Des)continuidades conflituais João Feijó Maputo, 06 de Outubro 2016 Questão geradora: • Os conflitos que se assistem em Moçambique constituem fenómenos recentes ou constituem uma tendência histórica (de longo curso)? (DES)CONTINUIDADES CONFLITUAIS EM MOÇAMBIQUE? (1) PERÍODO CONTEXTO MANIFESTAÇÃO CONFLITUAL 1890-1920 Penetração colonial Resistências militares / escaramuças 1920-1960 Recrutamento compulsivo / Duras condições de trabalho / culturas obrigatórias Canções de trabalho, absentismo, migrações, sub-cultivo deliberado, sabotagem 1940-1960 Surgimento de grandes unidades de produção / desigualdades salariais / formação de uma consciência de classe Greves no porto de Lourenço Marques (Penvenne, 1993), nas plantações de Xinavane ou pedreira de Goba (Hedges, 1999), violentamente reprimidas 1920-1970 Discriminação racial nos centros urbanos, desigualdade de acesso à educação, ao trabalho… Movimentos associativos (Grémio, Africano, Instituto Negrófilo, NESAM, etc.); imprensa crítica, poesia ou fotografia 1960-1975 Impossibilidade de negociação com as autoridades coloniais UDENAMO, UNAMI, MANU, FRELIMO, luta de libertação https://www.youtube.com/watch?v=XTUNW5t9VgM DESCONTINUIDADES CONFLITUAIS EM MOÇAMBIQUE? (2) PERÍODO CONTEXTO MANIFESTAÇÃO CONFLITUAL Década de 1970 e 1980 Grandes projectos Estatais; colectivização de meios de produção, aldeias comunais Abandono das aldeias, falsas residências, continuação da produção nas terras de origem (Casal, 1998); Descontentamento face à colectivização de meios de produção 1976-1992 -Projecto modernizador e centralista do Estado: Substituição do poder assente nas lógicas linhageiras, por representantes do Estado -“Nachingweização de Moçambique” (Meigos, 2016) Descontentamento de vários sectores da sociedade capitalizável pela Renamo Guerra de agressão, transforma- se gradualmente em guerra civil (Geffray, 1990) https://www.youtube.com/watch?v=XTUNW5t9VgM DESCONTINUIDADES CONFLITUAIS EM MOÇAMBIQUE? (3) PERÍODO CONTEXTO MANIFESTAÇÃO CONFLITUAL 1980/ 1990 Iniciativas de organizações da sociedade civil Cartas e petições (ex.: Direito do Povo à Informação; Participação na elaboração de diplomas legislativos; Denúncias na imprensa independente 2000 / 2010 Desemprego urbano, Whaithood Critica social pela música, associações ou redes sociais cibernéticas (Honwana, 2014) 2000 / 2010 Pobreza urbana e criminalidade Motins urbanos (1992, 2008, 2010); Linchamentos e “sismos sociais” (Serra, 2008); Década de 2010 Indústria extractiva, poluição reassentamentos) Obstrução de vias públicas, acções judiciais contra as empresas e o Estado, realização de workshops, linchamentos, etc. (Mosca e Selemane, 2011; Feijó, 2016) Década de 2010 Agro-negócio e “land grabbing” Marchas e cartas abertas de camponeses, workshops, OSCs direccionadas para advocacia, etc. https://www.youtube.com/watch?v=XTUNW5t9VgM As OSC em Moçambique: 5 momentos • M1: Período colonial: desenvolvimento das OSC limitado por um Estado corporativo e ditatorial • M2: 1975-1990: Frelimo afirma-se como a “força condutora do Estado e da sociedade”. Surgimento das Organizações Democráticas de Massas no contexto de partido único • M3: Após 1990: OSC orientadas para o assistencialismo e ajuda humanitária • M4: Novo milénio-actualidade: Ênfase no empreendedorismo, micro- crédito, iniciativas individuais… • M5: Tendência actual: Crescente enfatização da advocacia, pesquisa e movimentos sociais embrionários REFLEXÕES FINAIS • O conflito constitui uma dinâmica de qualquer sociedade e um elemento socializador (Simmel, 1972); • “A história constitui a narração da luta de classes” (Marx, 1975) • Os projectos modernizadores da sociedade de cariz mais centralista colidiram com ordens socio-políticas locais e potenciaram tensões e conflitos; • Ao longo da história de Moçambique (e Mundial), a penetração capitalista gerou desigualdades socio-económicas, despoletando tensões e conflitos sociais. BIBLIOGRAFIA • CASAL, Adolfo Yánez (1998) “Crise da produção familiar e as aldeias comunais em Moçambique” in Revista Internacional de Estudos Africanos, nº 8-9, pp. 157-191. Chaimite • FAUVET, Paul e MOSSE, Marcelo (2003), É proibido pôr algemas nas palavras – Carlos Cardoso e a Revolução Moçambicana, Maputo, Ndjira. • FEIJÓ, João (2016) “Investimento, Assimetrias e Movimentos de Protesto na Província de Tete” in Observador Rural, nº 44, pp. 1-33. • FIRST, Ruth (coord) (1998) O Mineiro Moçambicano – um studo sobre a exportação de mão-de-obra em Inhambane. Maputo: Imprensa Universitária. • GEFFRAY, Christian (1990) La Cause des Armes au Mozambique. Anthropologie d’une Guerre Civile. Paris: Karthala • HEDGES, David (Coord) (1999), História de Moçambique, Volume 2: Moçambique no auge do colonialismo, 1930-1961, Maputo, Livraria Universitária, Universidade Eduardo Mondlane. • HONWANA, Alcinda (2013) O Tempo da Juventude – emprego, política e mudanças sociais em África. Maputo: Kapicua. • MANGHEZI, Alpheus (2003) Trabalho forçado e cultura obrigatória do algodão: o colonato do Limpopo e o reassentamento pós-independência. Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique. • MARX, Karl (1975) O Manifesto do Partido Comunista. Lisboa: Edições Avante • MEIGOS; Filimone (2016) “Sobre a Nachingweização de Moçambique: Utopia versus distopia“, comunicação proferida no âmbito do Simpósio Samora Vive Movimento Pátria e Cidadania, decorrido na Universidade Eduardo Mondlane em Maputo. • MOREIRA, José (1997), Os assimilados, João Albasini e as eleições, 1900-1922, Maputo, Estudos 11, Arquivo Histórico de Moçambique, Universidade Eduardo Mondlane. • MOSCA, João e SELEMANE, Tomás (2011) El dorado Tete: os megaprojectos de mineração. Maputo: Centro de Integridade Pública • PENVENNE, Jeanne (1993) Trabalhadores de Lourenço Marques (1870-1974). Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique. • SERRA, Carlos (Dir) (2008) Linchamentos em Moçambique. Maputo: Imprensa Universitária. • VAIL, Leroy e WHITE, LANDEG, White (1980) Capitalism and Colonialism in Mozambique, London: Heinemann.
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