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Unidade III - Globalização e Geografia algumas visões

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Teoria e métodos 
em Geografia
Globalização e Geografia: algumas visões
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
5
• Introdução
• A divisão territorial do trabalho
Globalização e Geografia: 
algumas visões
Esta unidade trará temas relativos ao processo de globalização 
do mundo, algumas concepções sobre o assunto e discutirá 
a forma como esse processo se realiza nos lugares, com suas 
diversas contradições. 
Como na unidade anterior, a leitura do texto teórico e o desenvolvimento das atividades são 
fundamentais para o acompanhamento do conteúdo a ser desenvolvido. Para que os exemplos 
e discussões teóricas fiquem mais claros, é necessário ler os textos complementares e assistir aos 
vídeos sugeridos, pois auxiliam na compreensão dos conceitos básicos que serão desenvolvidos 
sobre globalização. 
Nesta unidade, é essencial perceber que o processo de globalização precisa ser entendido efetivamente 
nos lugares e que há diferentes concepções sobre o assunto assim como diversificados interesses por 
trás do discurso pró-globalização. 
Além disso, é importante, também, entender que este mundo tornado global refere-se, principalmente, 
à dimensão econômica, do mundo capitalista, das grandes empresas, da circulação de mercadorias, 
do sistema financeiro e dos sistemas de informação, mas que isso não significa que o mundo tenha 
se tornado homogêneo. 
Desse modo, ainda há diferenças e temporalidades socioculturais e econômicas no mundo, e as 
diferentes formas de existência demonstram que, apesar da globalização, nem tudo se realiza da 
mesma forma nos diversos lugares do mundo.
6
Unidade: Globalização e Geografia: algumas visões
Contextualização
Ao tratarmos do tema globalização, é fundamental perceber que há diferentes temporalidades 
que precisam ser consideradas.
Em primeiro lugar da própria natureza, que existe antes do homem e cujo tempo é medido 
pelos homens em milhares, milhões de anos. Quando tratamos da história natural da Terra, 
falamos em eras geológicas. Ao tratarmos da formação de uma paisagem natural, de um bioma 
ou de um ecossistema, devemos considerar que há um tempo de maturação e de existência, 
cujas transformações foram conduzidas pela própria atividade natural. 
No entanto, com o atual processo de globalização, a temporalidade do capital prevalece, 
tanto em relação à natureza quanto em relação aos próprios homens. Tudo tem de ser rápido, 
contado em segundos. Antes, para mandar uma mensagem interoceânica, geralmente era 
preciso esperar meses para que ela chegasse ao destino, porque, necessariamente, tinha que ir 
de navio. Hoje, enviamos um e-mail e, se a pessoa do outro lado do mundo não o receber em 
um minuto, já achamos que nosso laptop e a internet estão lentos.
Como diz o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves:
A temporalidade do capital, sobretudo nesse período técnico-científico e 
informacional, com sua velocidade em permanente frenesi, relativiza de tal 
forma a relação que cada povo e cada cultura estabeleceu com o espaço, com o 
tempo, com a natureza em geral e com sua manifestação em cada ser específico 
e por suas relações entre si, que termina por tornar obsoleto qualquer sistema de 
normas, antes mesmo que tenha sido assimilado por cada um dos que seriam 
responsáveis por estabelecê-lo. [...] inclusive de tempos que, via de regra, estão 
sendo atropelados, não há palavra mais apropriada, por uma lógica imperativa 
que se acha, ela mesma, o próprio tempo, daí time is money: tempo é dinheiro 
(PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 278). 
Dessa forma, aqueles povos ou grupos que não assimilam tais mudanças e a rapidez do 
mundo atual são chamados de atrasados, de lentos, de fora de moda. Mas será que o mundo 
tem de ser tão homogêneo assim? Será que não podemos ter outra globalização que nos permita 
ter pluralidade cultural e temporalidades distintas? 
Leia o texto do material teórico e procure entender um pouco mais esse processo 
denominado “globalização”. 
7
Introdução
No atual período da história, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, o 
mundo foi se tornando cada vez mais global. Essa afirmação considera, no entanto, que 
esse mundo tornado global refere-se, principalmente, à dimensão econômica, do mundo 
capitalista, das grandes empresas, da circulação de mercadorias, do sistema financeiro e dos 
sistemas de informação. 
Esse discurso sobre o mundo global não desconsidera a existência de um mundo diverso, 
plural, fragmentado do ponto de vista social, cultural e econômico, que não é assim totalmente 
homogêneo e global. Conforme expõe o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves:
Não são os camponeses, por exemplo, que desvalorizam a escala local, nem 
tampouco os indígenas, os afrodescendentes, ou os povos da África, da Oceania 
e da Ásia, muitos dos quais têm suas culturas construídas numa relação mais 
próxima com a natureza e com fortes singularidades locais. A sobrevalorização 
da escala global atinge seu auge por meio da afirmação daqueles que se valem 
dessa escala global: as grandes corporações transnacionais, as organizações 
multilaterais – o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização 
Mundial do Comércio [...] (PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 12). 
Esse processo denominado de globalização unificou cada vez mais as técnicas, as normas, 
e algumas organizações e instituições são representativas deste período da história, caso da 
Organização Mundial do Comércio (OMC), do Banco Mundial, da Organização para Cooperação 
do Desenvolvimento Econômico (OCDE) ou, ainda, da Organização das Nações Unidas (ONU), 
que são supranacionais, ou seja, configuram-se como instituições representativas do mundo global. 
Momento de reflexão
Cabe-nos indagar, como exemplo, se efetivamente a ONU resolve as questões de disputas territoriais 
do mundo ou depende, fundamentalmente, dos países com maior poder político e militar, como 
é o caso da Rússia e dos EUA, para isso? Quem são os países que fazem parte do Conselho de 
Segurança da ONU com direito a voto? Esses são apenas cinco, que, de alguma forma, têm mais 
poder: China, Rússia, EUA, França e Reino Unido.
Há vários discursos que acabam encobrindo o real interesse do mundo capitalista e de seus atores 
sociais hegemônicos por um mundo sem barreiras, sem muita normatização e regulamentação, 
para que o capital possa circular livremente. Como diz a geógrafa Ana Fani Alessandri Carlos: 
O cenário que dá sentido a tudo isso é a globalização, que para a empresa significa 
a abertura para o mercado externo, agindo num número maior possível de lugares 
e permitindo a movimentação rápida do dinheiro, que migra para todas as partes 
do planeta diuturnamente. [...] Essas mudanças invadem de modo inexorável a 
vida das pessoas. Para o homem comum significa a imposição de novos padrões 
de comportamento, novos valores, uma nova estética (CARLOS, 1999, p. 174).
8
Unidade: Globalização e Geografia: algumas visões
Há uma racionalidade capitalista norteando as formas de existência com uma aceleração 
do tempo social que é moldado pelo modo capitalista de produção. Trata-se do tempo rápido, 
evidenciado em expressões como “tempo é dinheiro”, da rapidez na circulação das informações, 
da correria desenfreada nas grandes cidades, entre outras situações. Não é o tempo da natureza 
humana, e sim do capitalismo. 
Há inúmeras metáforas, no atual momento da história, com discursos da mídia, de alguns 
acadêmicos, de especialistas e analistas em sistema financeiro, afirmando que, neste processo 
de globalização, o mundo global destrói barreiras. Isso seria o fim do território. Como explica 
Rogério Haesbaert:
Para muitos autores, os processos dominantes de globalização teriam feito 
imperar o mundo desenraizado, “móvel”, dos fluxos e das redes, principalmente 
aquele das grandes corporações transnacionais, em detrimento do mundo 
“mais controlado” e mais enraizado dos Estados-nações e dos diferentes gruposculturais (HAESBAERT, 2002, p. 125). 
São expressões equivocadas, pois, em primeiro lugar, confundem território com Estado-
Nação, como se houvesse território somente na escala nacional, dentro dos países. Nesse 
sentido, tais teorias coadunam-se com a concepção de que esse processo de globalização estaria 
acabando com o papel do Estado, pois os limites rígidos do Estado, hoje, estariam submetidos 
a uma economia que é mais global, integrada, sem os limites formais do Estado. Como se os 
países (Estado-Nação) tivessem perdido totalmente sua autoridade em relação aos interesses 
das grandes corporações capitalistas. 
Entre essas inúmeras metáforas relacionadas a essa questão global, é comum o uso de 
expressões ou termos como desterritorialização, fim dos territórios, ciberespaço, espaço virtual, 
compressão espaço-tempo (HAESBAERT, 2002), “mundo que encolhe” (IANNI, 2003), aldeia 
global, entre outros. Sintetizando esses discursos, deixamos um exemplo desse tipo de afirmação 
feita pelo sociólogo Octavio Ianni:
A globalização tende a desenraizar as coisas, as gentes e as ideias. [...] Tudo 
tende a desenraizar-se: mercadorias, mercado, moeda, capital, empresa, agência, 
gerência, know-how, projeto, publicidade, tecnologia. A despeito das marcas 
originais, da ilusão da origem, tudo tende a deslocar-se além das fronteiras, 
línguas nacionais, hinos, bandeiras, tradições [...] Aos poucos, predomina o 
espaço global em tempo principalmente presente. Assim se desenvolve o novo 
e surpreendente processo de desterritorialização [...] (IANNI, 2003, p. 94-95).
O termo “aldeia global”, por exemplo, diz respeito à concepção de que o mundo é cada vez 
mais homogêneo e, por isso, formaria uma grande aldeia global. Ou seja, é a ideia de que todo 
mundo toma coca-cola, usa jeans, anda de carro, tem um celular, ou seja, há padrões cada vez 
mais comuns de consumo no mundo todo. Há, sim, comportamentos e uma lógica capitalista 
que vão criando valores, formas de se vestir e de comportamentos que vão se tornando mais 
dominantes, mas será que todo mundo tem os mesmos padrões de vida e de consumo? Pense!
No atual momento, nunca o território foi uma categoria tão importante para explicar o mundo. 
Só para elucidar, como exemplo, nenhuma grande empresa global transfere sua “planta” industrial 
para qualquer território. Há muita pesquisa para uma indústria se instalar num determinado lugar. 
9
Procura-se por isenção de impostos, por locais que tenham infraestrutura, boa acessibilidade 
etc. Há uma seletividade espacial, ou seja, uma seleção dos territórios a serem “tocados” 
mais intensamente por esse processo global. Então, não há o fim dos territórios!
O capital seleciona criteriosamente o território a ser usado, ao mesmo tempo em que o próprio 
território com maior produtividade espacial atrai para si maiores investimentos e migrações. 
Basta observar o território brasileiro, onde, em algumas metrópoles da Região Concentrada1, há 
intensidade de investimentos e se concentram mais atividades. Mas, ao mesmo tempo, nessas 
metrópoles há a maioria dos pobres do Brasil. Neste caso, onde há maior concentração de 
riqueza, há também muita pobreza. 
Tais discursos tendem a enfatizar que o atual processo de globalização levou ao fim dos 
territórios ou também à desterritorialização das pessoas, das empresas e das informações. 
Essa ideia de “desterritorialização” tem relação com a possibilidade maior de mobilidade das 
pessoas, da informação e do capital no atual período assim como com o fato de as empresas 
multinacionais já não serem mais específicas de um país. De fato, não se pode relacionar as 
grandes empresas de hoje a apenas um país, mas isso não significa que elas não estejam em um 
determinado território. 
Segundo alguns autores, essa “desterritorialização” também é decorrência do uso das novas 
tecnologias informacionais (computadores, softwares, i-pod, celulares, mp4 etc.), que permitem 
um uso diferente do tradicional, com troca de informações a distância de um novo modo, ou, 
ainda, porque a produção está cada vez mais fragmentada por diversos territórios pelo mundo.
Contudo, o mundo não encolhe, tampouco há a compressão do espaço-tempo, pois podemos 
chegar mais rápido aos lugares, conforme o meio de transporte que nos seja possível usar, 
assim como uma informação pode ser transmitida on-line, mas distância não é mesma coisa 
que espaço. Cada vez mais há uma seletividade de usos sociais e dos territórios que serão 
tocados por tais mudanças. Sendo assim, o processo de globalização, em lugar de somente 
homogeneizar os espaços, reforça as heterogeneidades, as diferenças. 
Então, o que muda são as relações sociais e espaciais, mas não há o fim dos territórios; 
ao contrário, o território torna-se cada vez mais ator, como dizia Milton Santos. É verdade 
que, no período do meio-técnico-científico-informacional, a técnica, além de um conteúdo 
normativo, ganha avanço tecnológico com objetos que permitem maior fluxo de informações 
com maior rapidez. Meio-técnico-científico-informacional é definido por Milton Santos (2006) 
como o atual período da história no qual a ciência, a técnica e a informação se imbricam e 
se subordinam às lógicas globais, alterando as relações sociais, as formas de organização, o 
trabalho, enfim, o espaço. 
Mudam as relações sociais no espaço e no tempo, mediadas, cada vez mais, por artificialidade, 
por objetos informacionais, mas o acesso a estes não é para todos. Igualmente é necessário 
materialidade no território que permita esse uso, senão computadores, celulares e outras 
tecnologias de informação seriam inócuos. Portanto, há necessidade de que o território seja 
tecnificado para que se dê o uso das tecnologias de informação. Ou seja, sem torres de telefonia 
celular, seu celular funciona? Sem energia elétrica, os eletrodomésticos funcionam? 
1 O conceito de Região Concentrada, utilizado por Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro, refere-se à região de maior densidade técnica 
e econômica, formada, sobretudo, pelos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul 
(SANTOS; SILVEIRA, 2001). 
10
Unidade: Globalização e Geografia: algumas visões
Aos que têm acesso, as tecnologias de informação e comunicação (TIC) possibilitam 
rapidamente acessar informações sobre diferentes lugares e assuntos, criar uma rede social 
para trocar ideias, conversas, bate-papos etc. Assim, as TICs, em si, não são portadoras de 
intencionalidades apenas perversas, embora, hegemonicamente, algumas vezes sejam usadas 
para esse fim. Tampouco são portadoras somente de benesses como alguns as apresentam. 
Há muito discurso a favor das novas tecnologias, como se elas, por si mesmas, fossem tornar 
o mundo melhor. Isso depende de seu uso, de sua práxis social2, considerando que essas TICs 
mudam as relações e as dinâmicas sociais mas também contêm intencionalidades que vão além do 
uso técnico dos objetos e podem ter usos que não são democráticos e nem aceitáveis socialmente. 
Outro aspecto a se destacar é o fato de que as técnicas são cada vez mais universais; basta, 
para constatar isso, observar o cotidiano de uma grande cidade. Por exemplo, se, no passado, 
as técnicas eram mais locais e cada povo tinha uma técnica para construir sua moradia, que, 
geralmente, se relacionava com os materiais disponibilizados no meio, hoje as técnicas são cada 
vez mais universais, sejam as usadas na agricultura, na criação das formas das cidades (com 
seus prédios cada vez mais altos) ou nos objetos usados no cotidiano. 
Maria Laura Silveira destaca em seu texto:
[...] a possibilidade de produzir em todos os pontos do planeta e de criar um 
produto global, a partir de um único sistema técnico – aquilo que podemos chamar 
de unicidade da técnica. Hoje, a técnica da informação, graças à convergência 
da informação, da eletrônica, da cibernética, permite a inter-relação dos objetos, 
dos lugares, das atividades e das pessoas (SILVEIRA, 2006, p. 86.).No atual período, os objetos são cada vez mais sistêmicos e informacionais. Importante 
lembrar que não são informacionais somente devido à informática ou por causa do uso da 
internet, que possibilita a produção e a disseminação da informação, mas também devido fato 
de os objetos conterem informação. 
O micro-ondas, por exemplo, já contém informações que nos induzem a usá-lo plenamente só 
com um manual. No próprio objeto (micro-ondas) estão contidas informações sobre os tempos 
de cozimento, do descongelamento etc., e isso torna-o um objeto informacional. 
E são cada vez mais sistêmicos, ou seja, formam um conjunto de objetos interdependentes. 
Basta pensar numa cidade sem luz elétrica: quando aparelhos ou objetos funcionariam? Se o 
território não for tecnificado, com redes de fibra ótica ou torres de telecomunicações, como os 
aparelhos em casa vão funcionar? 
Pense
Observe os grandes objetos técnicos que existem em sua cidade. Aeroportos, portos, usinas 
hidrelétricas, sistemas de linha de transmissão de energia, indústria, o conjunto das moradias, dutos, 
gasodutos, redes de esgoto, rede de água etc. São objetos sistêmicos. Os usos sociais e econômicos 
desses objetos são desiguais? Quais são as funções desses objetos?
2 Utilizamos a definição de práxis como ação que se constrói social e historicamente, como unidade do pensamento e da ação, e, sobretudo, 
como condição para a transformação.
11
A globalização como um processo perverso e como fábula
Em seu livro Por uma outra globalização, Milton Santos apresenta a globalização como uma 
“fábula”, com os mitos da aldeia global, da homogeneidade dos usos, da compressão do espaço 
pelo tempo, do fim do Estado-Nação, do fim das fronteiras etc.
Se considerarmos, como exemplo, o cotidiano dos migrantes ilegais que tentam ultrapassar 
a fronteira do México para os EUA buscando morar nos EUA, verificamos que as fronteiras 
continuam se afirmando. Verdadeiramente a circulação das pessoas é mediada pelo poder 
socioeconômico e, para os mais pobres, as barreiras continuam existindo. Logo, há uma 
seletividade social na definição dos movimentos das pessoas no mundo. 
Há também, um processo de globalização perverso, como denomina o autor, pois há 
exploração da mão de obra, desemprego, baixos salários, com aumento da pobreza e uma 
educação formal, quando há, de baixa qualidade, situações do próprio processo capitalista. 
Logo, é essencial observar a diferença entre o discurso pró-globalização e a realidade vivida 
concretamente (vide fig. 1 e 2). 
Figuras 1 e 2: Charges sobre processo de globalização da economia
 
http://www.quino.com.ar/
Como expõe Milton Santos, há o discurso neoliberal de que o Estado atrapalha o pleno 
desenvolvimento da economia:
Afirma-se, também, que a “morte do Estado” melhoraria a vida dos homens e 
a saúde das empresas, na medida em que permitiria a ampliação da liberdade 
de produzir, de consumir e de viver. Tal neoliberalismo seria o fundamento da 
democracia. Observando o funcionamento concreto da sociedade econômica e 
da sociedade civil, não é difícil constatar que são cada vez em menor número as 
empresas que se beneficiam desse desmaio do Estado, enquanto a desigualdade 
entre os indivíduos aumenta (SANTOS, 2000, p. 43). 
http://www.quino.com.ar/
12
Unidade: Globalização e Geografia: algumas visões
Você Sabia ?
Milton Santos (1926-2001), importante geógrafo brasileiro, formou-se em Direito, mas tornou-
se um proeminente geógrafo, tendo sido professor universitário na Tanzânia, França, Canadá, 
Venezuela e nos EUA. Em 1994, recebeu o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud. 
Escreveu inúmeros livros de Geografia sobre teorias sobre o espaço, Terceiro Mundo, urbanização 
brasileira, entre eles: “Por uma Geografia Nova, da crítica da geografia a uma geografia crítica” 
(1978), “Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional” (1994), 
“Metamorfose do espaço habitado” (1997), “A natureza do espaço” (1996), e “Por uma outra 
globalização, do pensamento único à consciência universal” (2000). Para conhecer um pouco 
mais sobre seu pensamento, assista ao vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=-
UUB5DW_mnM, “O mundo global visto do lado de cá”, documentário do cineasta brasileiro 
Sílvio Tendler, com Milton Santos
O discurso da globalização é sempre de um mundo rápido, fluido, da necessidade da fluidez 
territorial. Mas, efetivamente, de qual fluidez estão tratando? Da necessidade de criar sistemas 
de objetos para transportar mercadorias e tornar o mundo mais fluido para o capitalismo ou 
para dar mobilidade às pessoas, caso da mobilidade urbana, por exemplo? 
Por essa perversidade é que Milton Santos propõe “uma outra globalização”, que considere 
o espaço como espaço de todas as pessoas, o espaço banal; na qual se considere o território 
usado como abrigo e não apenas como recurso; que leve em conta a diversidade dos usos 
culturais, sociais e econômicos do território. 
Não devemos tratar o processo de globalização como uma categoria abstrata demais; é 
fundamental compreender quais são os processos espaciais que são efetivamente globais 
e como se realizam nos lugares. Esse processo de globalização atinge todos os países da 
mesma forma? E, internamente, dentro dos países, há diferenças marcantes em relação ao 
processo de globalização? 
A própria criação de blocos econômicos (União Europeia, Mercosul, Nafta etc.) demonstra que 
os arranjos espaciais não são somente globais. Esse processo de criação de blocos econômicos, 
com uma união aduaneira interna para cada bloco, normas etc., cria novos processos de 
regionalização do mundo. Definidos por meio de acordos político-econômicos, são arranjos 
espaciais regionais que se contrapõem ao próprio processo de globalização. Afinal, qual seria a 
necessidade de criar um bloco econômico se o mundo fosse, realmente, todo integrado e todos 
tivessem os mesmos interesses?
Assim, é essencial compreender, por exemplo, o processo de globalização e/ou os blocos 
regionais como fenômenos que, concretamente, se realizam num tempo e num contexto. Os 
fenômenos expressam-se no território e ocorrem em diversas escalas geográficas (global, regional, 
nacional, local etc.) e é fundamental que isso seja compreendido numa análise geográfica. 
 Levando-se em conta tais premissas, uma análise das relações econômicas deve considerar 
as teorias maiores, dos processos globais, que fogem ao entendimento apenas da escala 
nacional. Processos globais que podem ser evidenciados tanto pela existência de instituições, 
como a Organização Mundial de Comércio (OMC), quanto pela existência da financeirização da 
economia e/ou pela ótica do transporte multimodal, cujas lógicas tendem a ser globais. 
http://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM
http://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM
13
Do ponto de vista financeiro, percebe-se que o mundo está cada vez mais integrado e global. 
Basta uma crise econômica para se verificar a queda da Bolsa de Valores em vários países e 
muitos lugares acabam sendo atingidos. 
Da mesma forma que, em períodos de crise, muitos bancos, empresas e instituições privadas 
acabam sendo socorridas pelo governo. Não é contraditório que o governo ajude bancos e 
empresas privadas? Não disseram que o Estado-Nação desapareceu? Na verdade, o sistema 
financeiro está cada vez mais especulativo. Ganham-se fortunas sem nenhum investimento na 
produção, e sim na especulação para ganhar mais e mais dinheiro (vide fig. 3). 
Figura 3: Charge sobre crise econômica
Fonte: http://colunas.revistaepoca.globo.com, 28/01/2012. Autor: http://www.juniao.com.br/
Contudo, tais lógicas não se realizam de forma homogênea, um evento como a crise econômica 
mundial em 2009, por exemplo, realiza-se de diferentes formas nos Estados (países), nas regiões 
e/ou nos blocos econômicos. Isso porque a globalização é um processo demasiadamente 
abstrato que precisa ser entendido em sua realização concreta, como propõem as teorias deSartre e Milton Santos.
Entendem-se os lugares como o espaço do acontecer, onde há normas técnicas, usos sociais 
e vivência do cotidiano, que é o mundo também, mas que contém sua individualidade, como 
dizem as palavras de Milton Santos (2006, p. 314): “[...] cada lugar, irrecusavelmente imerso 
numa comunhão com o mundo, torna-se exponencialmente diferente dos demais. A uma maior 
globalidade, corresponde uma maior individualidade”. 
Assim, é necessário entender a relação do mundo com o território brasileiro e as diversidades 
de arranjos espaciais, constituídos nos lugares. No lugar está um pouco do mundo, mas, ao 
mesmo tempo, há especificidades locais. 
http://colunas.revistaepoca.globo.com
http://www.juniao.com.br/
14
Unidade: Globalização e Geografia: algumas visões
A divisão territorial do trabalho
A divisão territorial do trabalho é entendida como a repartição geográfica do trabalho, que 
faz parte da totalidade mundo, mas, ao mesmo tempo, distingue a produção e a difusão do 
conhecimento numa divisão que é desigual e combinada no território. Cada território tem um 
papel nessa divisão do trabalho, uns como produtores de soja, outros como produtores de 
tecnologias de informação, entre outras atividades produtivas, e esse processo é denominado 
Divisão Territorial do Trabalho (DTT). Como cita o sociólogo Renato Ortiz:
Um carro esporte Mazda é desenhado na Califórnia, financiado por Tóquio, 
o protótipo criado em Worthing (Inglaterra) e a montagem é feita nos EUA 
e México, com componentes eletrônicos inventados em Nova Jérsei (EUA), 
fabricados no Japão. […]. Já a indústria de confecção norte-americana, quando 
inscreve em seus produtos ‘made in USA’, esquece de mencionar que eles foram 
produzidos no México, Caribe ou Filipinas (ORTIZ, 1996, p. 108). 
Com a integração produtiva, há uma multilocalização das empresas e, portanto, da 
produção. As empresas buscam por um território onde possam auferir maior lucro e vantagens 
locacionais, tais como acessibilidade, infraestrutura, como ferrovias e portos, isenção de impostos 
etc. Ao mesmo tempo há uma seletividade espacial temporal e por tipo de atividades.
Assim, uma indústria poluidora, por exemplo, geralmente se localiza em países mais pobres 
ou em territórios cujos países têm menos normas ambientais ou nos quais estas são burladas. A 
seletividade espacial ocorre também no caso da gestão de negócios; por exemplo, uma grande 
montadora de automóveis, geralmente, localiza-se nos países desenvolvidos e a produção das 
peças e partes em variados países, como demonstrou a citação de Renato Ortiz. 
Logo, há uma maior globalidade e globalização, mas também uma maior fragmentação em 
territórios especializados em um tipo de atividade econômica ou em um setor de produção. 
Esse processo só alcança este atual estágio graças às mudanças técnicas nos sistemas de 
objetos e à tecnificação do território.
Figura 4: Terminal de Contêiner - Yantian - China
Terminal de Contêiner / Thinkstock
 Por exemplo, com o advento do contêiner (vide fig. 4), 
objeto técnico que se tornou fundamental no transporte 
marítimo, e com a existência de supernavios, abriu-se a 
possibilidade do transporte de maior variedade de 
produtos, caso dos congelados, por exemplo, já que há 
contêineres refrigerados e portos especializados também 
nesse tipo de mercadoria. 
Essa integração produtiva assim é possível graças aos 
novos meios de transporte e objetos técnicos que agilizam 
a importação e a exportação bem como se relacionam às 
normas que se tornam globais, por meio da figura de um 
novo ator social que é o operador de transporte multimodal. Esse tipo de operador faz 
todo o processo da circulação da mercadoria, sua logística e opera nos diversos modais de 
transporte: marítimo, fluvial e terrestre (rodovias, ferrovias e dutovias). 
15
Conforme aponta Pierre Veltz (MONIÉ, 2010), há a integração das esferas da produção, do 
consumo, do transporte e da distribuição das mercadorias em todas as escalas. Então, os fluxos 
globais referem-se, principalmente, a fluxos de capitais e de mercadoria. 
Logo, tratar de processo de globalização é perceber essas normas globais do transporte de 
mercadorias, que se sustentam por causa da possibilidade técnica de produzir em diferentes 
lugares devido, entre outros fatores, à logística do transporte multimodal.
Nessa divisão social e territorial do trabalho, criam-se centralidades de produção que não são 
apenas geométricas e produzem-se a partir da extensão e de um processo que gera concentração 
de forças e tensão com outros lugares. Há uma verdadeira guerra dos lugares, expressão usada 
por Milton Santos, para definir a disputa territorial e pelos lugares em torno das empresas. 
Raffestin (1993) traz uma discussão sobre a relação existente entre a centralidade, o poder 
econômico, a ciência e a técnica, produzindo uma tensão constante entre a centralidade e 
os demais lugares, sendo ambas as formas espaciais e relacionais - uma expressão das 
relações de poder no espaço. 
Então, define-se o nível de centralidade de um país, região ou lugar pela relação hierárquica entre 
os lugares. Essa condição é sempre relativa no espaço e no tempo, alterando ou reforçando o seu papel 
na divisão territorial do trabalho ao longo da história e criando uma tensão dialética entre o processo 
de polarização, dos lugares ou países centrais, e a descentralização das atividades econômicas. 
Há mais densidade técnica e de produção de conhecimento nos lugares centrais, denominados 
de países desenvolvidos, mas a acessibilidade a estes sempre é relativa, considerando-se, entre 
outros aspectos, a condição social de quem os acessa e as atividades existentes no território. 
Então, mesmo num país dito desenvolvido, há diferentes apropriações socioeconômicas dos 
territórios; nem todos vivem e acessam as mesmas coisas. 
Observando-se a imagem da NASA, figura 5, verifica-se que, apesar de o mundo ser cada vez 
mais global, com interações entre as pessoas e os sistemas técnicos, o uso destes nos territórios 
no mundo ainda é muito desigual. 
A imagem mostra o planeta visto de fora, no 
qual os pontos iluminados são as regiões de maior 
densidade técnica, com maior iluminação elétrica 
possível de ser alcançada pela imagem remota, à 
distância. Verifica-se uma enorme diferença entre 
os territórios da Europa, muito iluminados, e os 
da África, quase opaca. 
Há verticalidades e horizontalidades nesses 
processos de existência no espaço tornado 
cada vez mais global. Horizontalidades, porque 
criam solidariedade entre os grupos, caso dos 
movimentos sociais organizados, e solidariedade 
organizacional em alguns momentos; 
concomitantemente, porém, os territórios e sua 
população submetem-se a demandas, leis, regras, 
normas, cujas decisões estão cada vez mais 
distantes, que se constituem em verticalidades. 
Figura 5: O Planeta Terra visto a partir da Imagem da NASA
http://super.abril.com.br/blogs/superblog/files/2012/12/earth-
at-night-3.jpg
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Unidade: Globalização e Geografia: algumas visões
Entende-se por “verticalidades”, intervenções, normas e regras geralmente impostas 
por atores ou agentes hegemônicos ao local, que vêm de longe e são estranhas ao lugar 
“[...] enquanto as horizontalidades levam em conta a totalidade dos atores e das ações” 
(SANTOS, 2006, p. 259). 
Esse controle e verticalidade externa baseiam-se na maior densidade técnica e informacional 
de alguns atores e territórios, sendo feita por cidades mundiais ou por territórios mais globalizados. 
Exemplificando: se uma grande montadora japonesa decide fechar filiais no Brasil, haverá 
desemprego nesses locais onde está instalada essa empresa. Isso afetará socialmente e 
territorialmente os lugares onde estavam trabalhando essas pessoas. Haverá desemprego, não 
haverá mais circulação e produção relativa a essa indústria automobilística etc. Assim, isso afeta 
o território no nível local. Mas de onde vem essa decisão? Onde está a gestão de negócios da 
empresa?Possivelmente em alguma grande metrópole japonesa. 
Isso cria, cada vez mais, um estranhamento no lugar da população local, já que as 
decisões do mundo, neste atual processo de globalização, são cada vez mais distantes. 
Assim, vamos vendo desaparecerem as empresas familiares, do próprio local, ao mesmo 
tempo em que as grandes empresas comerciais vão tomando conta do território em 
detrimento do comércio local e familiar. 
Por isso, a circulação no território é fundamental nesse processo. É essencial a fluidez no 
território para que o capitalismo possa se realizar plenamente e os pobres migrar atrás do 
emprego. Como afirma Milton Santos (2006, p. 274): “Criam-se objetos e lugares destinados a 
favorecer a fluidez: oleodutos, gasodutos, canais, autopistas, aeroportos, teleportos”. 
Contudo, é sempre uma fluidez relativa, porque, a cada momento, esses objetos vão ficando 
obsoletos conforme as necessidades do capitalismo. A mídia sempre relata que os portos do 
Brasil estão velhos, obsoletos. Trocar celular, um objeto técnico do atual período, parece comum 
nas grandes cidades do mundo, mas como trocar ou ampliar um porto para atender às exigências 
das grandes empresas? Não há população morando no entorno? As leis ambientais permitem 
essa ampliação? Trava-se, assim, uma crise constante no território. 
Enquanto isso, milhares de pobres são transportados nas grandes cidades do mundo em 
condições precárias e de quase imobilidade. Daí a maior das contradições do espaço: fluidez 
para o capitalismo e imobilidade para os mais pobres. 
A globalização da natureza
Por outro lado, como afirma Porto-Gonçalves (2006), há também a globalização da natureza 
ou, como diz Milton Santos (2006), há uma “desnaturalização” da natureza. A natureza deixa de 
ter apenas valor de uso, como possibilidade de forma de lazer, como contemplação da paisagem 
natural, como uso para a sobrevivência das comunidades tradicionais, e passa cada vez mais a 
ter valor de troca, ou seja, torna-se uma mercadoria.
Os rejeitos do mundo ficam nos países do Terceiro Mundo, sobretudo os mais pobres. 
Definem-se mecanismos como créditos de carbono, madeira certificada, certificação de florestas, 
marketing verde, entre outros, nos quais se evidencia a natureza como mercadoria. 
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 Porto-Gonçalves (2006) chama atenção, por meio de um exemplo, para o fato de que 
o petróleo não foi produzido pelo homem, mas sim extraído por ele, pois coube à natureza 
produzi-lo em milhares de anos, num tempo contado em milhões de anos, de um tempo da 
natureza que se contrapõe ao tempo social e econômico capitalista que explora o petróleo 
rapidamente e intensamente, tornando-o uma mercadoria de alto valor econômico numa 
exploração desenfreada. 
Há uma “desnaturalização” da natureza, quer porque se torna mercadoria e deixa de ser 
só um elemento “natural”, quer porque as empresas estão criando produtos mais artificiais. 
Basta observar os rótulos de mercadorias nos supermercados para verificar que há produtos 
sintetizados a partir da química ou da biotecnologia, mas cujo sabor, cheiro etc. remetem aos 
produzidos na natureza. 
Com a química fina, a física nuclear, a biotecnologia, a produção de nanotecnologias, 
de elementos sintetizados artificialmente, há a criação de produtos que tornam os territórios 
produtores centrais e que, de alguma forma, destroem ou colocam em desvantagem aqueles 
países ou territórios que vivem de produzir produtos “naturais”. 
Desfavorecem, assim, a produção de cacau, em detrimento de um sabor de chocolate cujo 
produto é sintetizado artificialmente, só para citar um simples exemplo. Tais produtos atendem 
a empresas de farmacologia, alimentares, entre outras. Como afirma o autor:
Na verdade, o mercado está, cada vez mais, mediado pela indústria e não 
mais simplesmente entre vendedores e compradores dessa ou daquela matéria-
prima. O mesmo se dá com o café, cuja matéria-prima para a indústria não 
deriva mais, necessariamente, do coffea arábica ou outra variedade com que, 
até o momento, se produzia café: pode ser uma substância química obtida 
de qual mineral, ou da criação de algum animal ou outra planta sintetizada 
quimicamente (PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 102). 
Um exemplo típico dessa situação refere-se às sementes estéreis, ou denominadas sementes 
“terminator”, vendidas com parte dos pacotes agrícolas. Tais sementes não podem se reproduzir, 
conforme explica um site de uma empresa agrícola:
Por meio da biotecnologia moderna, é possível desenvolver culturas que não 
produzam sementes germináveis ou que produzam sementes estéreis com genes 
específicos desativados. Gene Use Restriction Technology - GURT (Tecnologia 
de Restrição no Uso do Gene) inclui uma gama de tecnologias empregadas, 
destinadas a limitar o uso ou propagação de um material genético específico. A 
tecnologia de sementes estéreis é um tipo de GURT na qual as sementes produzidas 
por essa cultura não germinarão. Denominada “tecnologia terminator” na 
imprensa popular, muitos expressaram preocupação de que as sementes estéreis 
pudessem representar uma ameaça à sobrevivência de pequenos agricultores 
em países em desenvolvimento, pois há séculos, esses produtores têm salvado 
sementes para cultivar na próxima safra (MONSANTO, 2010, s/p.).
Troca-se, assim, a biodiversidade, a sobrevivência do trabalho de comunidades tradicionais 
(indígenas, caiçaras, quilombolas, de camponeses etc.) por monoculturas, com paisagens 
homogêneas, com uso maciço de pesticidas, fungicidas e praguicidas, com enorme consumo 
de combustível e água, típica agricultura moderna das commodities agrícolas do agronegócio. 
Ou, ainda, por produtos industrializados que simulam sabores e cheiros ou sintetizam materiais. 
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Unidade: Globalização e Geografia: algumas visões
 Nesse sentido, transformam o jeito de plantar, o que e como cultivar num processo global, 
mais homogêneo, com o uso dos mesmos procedimentos e uso de insumos que são vendidos 
por empresas multinacionais. Como diz Porto-Gonçalves, há territorialidades e temporalidades 
em tensão, uma da agricultura e da indústria modernas e outra da existência e produção das 
comunidades tradicionais. 
Assim, verifica-se que o discurso da globalização precisa ser entendido efetivamente nos 
lugares, no mundo, que é, apesar da globalização, ainda muito desigual e com grande diversidade 
sociocultural, com diferentes modos de vida.
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Material Complementar
 
 Leituras
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da 
globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. 
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência 
universal. Rio de Janeiro: Record, 2001.
 
 Filmes e vídeos
• Encontro com Milton Santos ou o Mundo global visto do lado de cá (89 min, 2007). 
Documentário feito a partir da entrevista concedida por Milton Santos sobre globalização. Pode 
ser visto on-line: http://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM. 
• The Corporation (Canadá, 2003) Considerando que, desde o século XVIII, as leis norte-
americanas permitem que corporações podem ser regidas somente por uma pessoa, este 
documentário investiga seu comportamento, examinando esse modelo de organização em vários 
casos. Pode ser visto também on-line em: http://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY.
• A história das coisas (The story off stuff), 21 min, com Annie Leonard, versão brasileira. 
Mostra a questão da produção atual no mundo e os problemas decorrentes disso. Disponível em: 
http://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw.
• Vídeo “Ano internacional da agricultura familiar”, 2min40, FAO, ONU, sobre agricultura 
familiar: http://www.youtube.com/watch?v=szBIluX37pE.
http://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM
http://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY
http://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw
http://www.youtube.com/watch?v=szBIluX37pE
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Unidade: Globalização e Geografia: algumas visões
Referências
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Novos caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 1999, p. 173-186.
HAESBAERT, Rogerio. Regional-global. Dilemas da região e da regionalização na Geografia 
Contemporânea. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. São Paulo: Contexto, 2002. 
MONIÉ, Frederic. Globalização, modernização do sistema portuário e relações porto-cidade 
no Brasil. In: SILVEIRA, Márcio R. (org.). Circulação, transportes e logística: diferentes 
perspectivas. São Paulo; Expressão Popular, 2010. 
MONSANTO. A Monsanto vai desenvolver ou comercializar sementes “terminator”? Para sua 
informação, Institucional, 2010. Disponível em: http://www.monsanto.com.br/institucional/para_
sua_informacao/monsanto_desenvolver_ou_vender_sementes.asp. Acesso em 20/04/2014. 
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da 
globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. 
SANTOS, Milton. & SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do 
século XXI. São Paulo: Ed. Record, 2001.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 
Rio de Janeiro: Record, 2001.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: 
Edusp, 2006.
SILVEIRA, Maria Laura. Por uma teoria do espaço latino-americano. In: LEMOS, Amália Inês 
Geraiges de. Questões territoriais na América Latina. Buenos Aires: Clacso; São Paulo: 
Universidade de São Paulo, 2006, p. 85-100.
http://www.monsanto.com.br/institucional/para_sua_informacao/monsanto_desenvolver_ou_vender_sementes.asp
http://www.monsanto.com.br/institucional/para_sua_informacao/monsanto_desenvolver_ou_vender_sementes.asp
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Anotações
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil 
Tel: (55 11) 3385-3000
http://

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