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Trabalho de História

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Antecedentes 
Após a Segunda Guerra Mundial na Europa, o que restou da Alemanha nazista a oeste da linha Oder-Neisse foi dividido em quatro zonas de ocupação (por Acordo de Potsdam), cada um controlado por uma das quatro potências aliadas: os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a União Soviética. A capital, Berlim, enquanto a sede do Conselho de Controle Aliado, foi igualmente dividida em quatro setores, apesar da cidade estar situada bem no interior da zona soviética. Em dois anos, ocorreram divisões entre os soviéticos e as outras potências de ocupação, incluindo a recusa dos soviéticos aos planos de reconstrução para uma Alemanha pós-guerra autossuficiente e de uma contabilidade detalhada das instalações industriais e infraestrutura já removidas pelos soviéticos. Reino Unido, França, Estados Unidos e os países do Benelux se reuniram para mais tarde transformar as zonas não-soviéticas do país em zonas de reconstrução e aprovar a ampliação do Plano Marshall para a reconstrução da Europa para a Alemanha.
Até o ano de 1961, os cidadãos berlinenses podiam passar livremente de um lado para o outro da cidade. Porém, em agosto de 1961, com o acirramento da Guerra Fria e com a grande migração de berlinenses do lado oriental para o ocidental, o governo da Alemanha Oriental resolveu construir um muro dividindo os dois setores. Decretou também leis proibindo a passagem das pessoas para o setor ocidental da cidade.
Após a Segunda Guerra Mundial, o líder soviético Joseph Stalin construiu um cinturão protetor da União Soviética em nações controladas em sua fronteira ocidental, o Bloco do Leste socialista, que então incluía Polónia, Hungria e Tchecoslováquia, que ele pretendia manter a par de um enfraquecido controle soviético na Alemanha. Já em 1945, Stalin revelou aos líderes alemães socialistas que esperava enfraquecer lentamente a posição Britânica em sua zona de ocupação, que os Estados Unidos iriam retirar sua ocupação dentro de um ano ou dois e que, em seguida, nada ficaria no caminho de uma Alemanha unificada sob controle socialista dentro da órbita soviética. A grande tarefa do Partido Comunista no poder na zona Soviética alemã foi abafar as ordens soviéticas através do aparelho administrativo e fingir para as outras zonas de ocupação que se tratavam de iniciativas próprias. Nesse período, a propriedade e a indústria foram nacionalizadas na zona de ocupação Soviética.
Em 1948, após desentendimentos sobre a reconstrução e uma nova moeda alemã, Stálin instituiu o Bloqueio de Berlim, impedindo que alimentos, materiais e suprimentos pudessem chegar a Berlim Ocidental. Os Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e vários outros países começaram uma enorme "ponte aérea de Berlim", fornecendo alimentos e outros suprimentos à Berlim Ocidental.Os soviéticos montaram uma campanha de relações públicas contra a mudança da política Ocidental e socialistas tentaram perturbar as eleições de 1948, enquanto 300 mil berlinenses pediam para que o transporte aéreo internacional continuasse. Em maio de 1949, Stalin acabou com o bloqueio, permitindo a retomada dos embarques do Ocidente para Berlim.
A República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) foi declarada em 7 de outubro de 1949, onde o Ministério de Negócios Estrangeiros Soviético concedeu autoridade administrativa a Alemanha Oriental, mas não sua autonomia, onde os soviéticos possuíam ilimitada penetração no regime de ocupação e nas estruturas de administração e de polícia militar e secreta. A Alemanha Oriental diferia da Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha), que se desenvolveu como um país Ocidental capitalista com uma economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft" em alemão) e um governo de democracia parlamentar. O crescimento económico contínuo a partir de 1950 da Alemanha Ocidental alimentou um "milagre económico" de 20 anos ("Wirtschaftswunder"). Enquanto a economia da Alemanha Ocidental cresceu e seu padrão de vida melhorou continuamente, muitos alemães orientais tentavam ir para a Alemanha Ocidental.
Depois da ocupação soviética da Europa Oriental no final da Segunda Guerra Mundial, a maioria das pessoas que viviam nas áreas recém-adquiridas do Bloco Oriental aspiravam à independência e queriam que os soviéticos saíssem. Aproveitando-se da zona de fronteira entre as zonas ocupadas na Alemanha, o número de cidadãos da RDA que se deslocam para a Alemanha Ocidental totalizou 197.000 em 1950, 165.000 em 1951, 182.000 em 1952 e 331.000 em 1953. Uma das razões para o aumento acentuado em 1953 foi o medo de Sovietização mais intensa com as ações cada vez mais paranóicas de Joseph Stalin em 1952 e no início de 1953. 226.000 pessoas fugiram apenas nos primeiros seis meses de 1953.
				
Se o Muro se destinava apenas a deter o êxodo oriental, por que foi construído somente 16 anos após a criação da Zona Soviética de Ocupação e 12 após a divisão formal das duas Alemanhas? Berlim Ocidental ficava encravada na RDA e era uma “pérola do Plano Marshall”, pois recebeu muitos investimentos. A RDA sempre reivindicou a anexação de toda a cidade, não um muro divisório, mas, na ocasião, sua soberania não era reconhecida plenamente sequer pela URSS, que desejava um tratado multilateral de neutralização, unidade e desarmamento da Alemanha. Neste caso, a RDA teria de ser fundida numa Alemanha unida e seu partido dirigente convertido em simples partido político numa democracia liberal.
O Plano Marshall subvencionou a formação de uma cidade de classe média e de serviços (ocidental) frente a outra operária e industrial (oriental). E é preciso considerar que o Leste estava repleto de refugiados dos territórios perdidos, ali alojados temporariamente, esperando uma chance de retornar a seus lares. Isso nunca aconteceu, e as mudanças socioeconômicas nos dois lados produziram levas de refugiados rumo ao oeste. Após a terrível guerra e a derrota total do nazismo, poucos pensavam em política, e sim em buscar o meio mais fácil de sobreviver e de reconstruir suas vidas.
Assim, ainda que Berlim ocidental fosse um foco para a fuga de cérebros e para as atividades políticas e de espionagem através de uma cidade totalmente aberta, a construção do muro se deveu, sobretudo, a um fator da grande diplomacia, a Segunda Crise de Berlim (1958 – 1962). A incorporação da Alemanha Ocidental à OTAN, em 1955, e a busca de um novo equilíbrio europeu e global entre as duas superpotências reacenderam a disputa em torno da questão alemã. E Berlim representava, justamente, o nervo exposto em termos jurídico-diplomáticos. A disputa entre Kruschov e Kennedy chegou a um impasse na fracassada Cúpula de Viena, em junho de 1961. Na impossibilidade de, pelo menos, transformar Berlim (unificada) numa cidade livre e controlada pela ONU, Moscou vai autorizar a RDA a estabelecer uma fronteira (material) dentro dessa cidade que abrigava dois sistemas rivais. Era a forma de fazer com que a “sua” Alemanha fosse também reconhecida de fato e de jure.
Na noite de 13 de agosto de 1961, a milícia operária da RDA criou uma fronteira física de arame (futuro Muro), cuja passagem se tornava um ato internacional. Kennedy disse, então: “não é a melhor solução [ao problema alemão], mas ao menos se evitou a guerra”. O próprio governo de Bonn (a capital ocidental) foi, de certa forma, beneficiado pela divisão do país e pela construção do muro. Pode superar o passado, se transformar em vanguarda do “Mundo Livre”, recuperar sua legitimidade internacional e se livrar da esquerda doméstica.
Enquanto as pessoas simples sofriam as consequências cotidianas e psicológicas da divisão, na prática, um foco de tensão era eliminado e, alguns meses depois, como consequência da Crise dos Mísseis em Cuba, era instalado o Telefone Vermelho e tinha início uma era de distensão entre os EUA e a URSS. As duas Alemanhas aproveitaram para construir uma identidade própria em oposição “à outra”, gerando legitimidade e estabilidade interna.
Causa da Construção
Em13 de agosto de 1961, guardas da Alemanha Oriental começaram a separar com arame farpado e concreto os lados oriental e ocidental de Berlim, isolando Berlim Ocidental dentro do território da Alemanha Oriental.
Em tempos de pós-Segunda Guerra, a ação era resultado da disputa entre os soviéticos e capitalistas. Afinal de contas, ao dividirem o mundo em zonas de influência, o controle do território alemão representava uma conquista bastante significativa. Sob tal contexto, os agentes do lado socialista tomaram a divisão física como solução.
	
O funcionário do Serviço de Defesa da Constituição de Berlim que estava de plantão no segundo final de semana de agosto de 1961 não esperava ocorrências extraordinárias. Mas já na madrugada de sábado para o domingo, dia 13, ele foi surpreendido à 1h54 pela notícia de que o tráfego de trens entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental foram suspensos.
Tudo foi feito sob sigilo, durante a madrugada de um domingo, para que não houvesse reação dos berlinenses ou dos Estados Unidos, maior potência que fazia oposição aos soviéticos. Além dos envolvidos na operação, ninguém foi informado sobre decisão de fechar as fronteiras, e mesmo os que viam a instalação das cercas de arame farpado que mais tarde se tornariam um muro de concreto achavam improvável que o fechamento fosse definitivo.
A abrangência do fato, porém, só ficou clara quando o dia amanheceu. A República Democrática Alemã (RDA) deu início à construção de um muro entre as duas partes de Berlim, cortando o acesso de 16 milhões de alemães ao lado ocidental. "A fronteira em que nos encontramos, com a arma nas mãos, não é apenas uma fronteira entre um país e outro. É a fronteira entre o passado e o presente", era a interpretação ideológica do governo alemão oriental.
Uma operação ultrassecreta de codinome Rosa, comandada pelo Birô Político do lado oriental, levou apenas cinco horas para fechar completamente as fronteiras internas da cidade, proibindo a circulação entre as zonas ocidentais e a área sob influência da União Soviética.
A partir da operação Rosa, o objetivo era fechar a fronteira de 164 quilômetros em torno da Berlim Ocidental, ilha capitalista dentro da RDA. A antiga capital da Alemanha havia sido dividida entre os vencedores da Segunda Guerra Mundial, assim como o resto do país. Apesar de estar dentro do setor soviético, metade da cidade estava sob influência ocidental, vivendo num regime mais democrático e capitalista de que o restante da RDA.
O governo da República Democrática da Alemanha (RDA, o lado oriental) havia mobilizado 10 mil homens para garantir a segurança e evitar protestos após o fechamento da fronteira. À exceção de pequenos ataques de jovens do lado ocidental e de protestos menores do lado oriental, não chegou a haver confrontos violentos, nenhuma reação radical. Pego igualmente de surpresa, o governo norte-americano preferiu evitar o enfrentamento, permitindo que o lado socialista concluísse sua operação.
Os oficiais da República Democrática Alemã, acompanhados por outros militares armados, descarregaram sacos de areia, cimento e tijolos. Assim nascia o Muro de Berlim. Inicialmente, o arame farpado fora substituído por uma mureta que media apenas um metro de altura. Aos poucos, cercas, guaritas, sensores de movimento, minas terrestres e cães de guarda desnudavam o lugar que simbolizaria o epicentro da ordem bipolar.
No meio tempo em que a obra se executava, vários oficias e civis notavam que aquela ação teria implicações restritivas irreversíveis. Dois dias após as primeiras obras, um oficial oriental chamado Conrad Schumann pulou o emaranhado de farpas para ser acolhido por um veículo militar da parte ocidental. Em alguns pontos onde antigos prédios serviam de extensão do muro, os civis atravessavam cômodos e janelas para fugirem para a banda capitalista.
O absurdo segregacionista demonstrava claramente que o socialismo burocrata soviético não seria capaz de impor uma ampla e natural zona de influência política entre os alemães. Além disso, enquanto o “milagre econômico” (mais conhecido como “Wirtschaftwunde”) dos ocidentais se tornava realidade, o lado controlado pelos soviéticos experimentava uma época de retração em que o parque industrial encolhia e as condições de vida se tornavam mais difíceis.
O fracasso do socialismo russo foi se somando às possibilidades de desconstrução daquela obra fria e abominável. No ano de 1973, as duas Alemanhas reatam os seus laços diplomáticos. Na década de 1980, os oficiais da RDA permitiram que o outro lado fosse visitado somente após uma complicada avaliação do pedido e o pagamento de um pedágio de 25 marcos. Nessa mesma época, várias pichações anônimas e a declaração oficial norte-americana defendiam a extinção do Muro de Berlim.
Por mais que o lado ocidental fosse o alvo prático das cercas que mais tarde se tornariam um muro de concreto, a população oriental, no lado comunista, é que acabou se tornando prisioneira do regime.
Para os líderes do lado comunista, diz, era preciso interromper o fluxo de pessoas que fugiam definitivamente para o lado ocidental em busca do capitalismo que se desenvolvia lá, ou evitar a ação de atravessadores de fronteiras, que trabalhavam do lado ocidental de viviam na economia socialista oriental. Um mês antes da separação de fato, uma média de mil pessoas do leste passavam, por dia, para o oeste de Berlim, ritmo que diminuiria a população do lado socialista em meio milhão de habitantes em apenas um ano.
	
O que era visto como uma busca por uma vida mais digna pelo Ocidente era chamado deserção pela Alemanha Oriental, reflexo de um tráfico de seres humanos. A migração se dava porque, apoiada pelas potências capitalistas, a Alemanha Ocidental se desenvolvia muito desde o fim da guerra e tinha maior qualidade de vida, enquanto a Oriental vivia o que era considerado o equivalente socialista de uma recessão, com a economia mantida artificialmente com apoio soviético.
Durante o domingo do arame farpado e depois que a fronteira foi fechada definitivamente pelo muro de concreto, as deserções passaram a ser punidas com severidade, e os guardas da fronteira tinham permissão para atirar contra os alemães orientais que tentavam fugir. Dados oficiais dizem que a média de mil fugitivos por dia caiu para 28 na noite do domingo, 41 no dia seguinte e casos muito isolados desde então.
Desde o fim da Segunda Guerra, Berlim havia se consolidado como o principal palco de atuação das maiores potências em confronto durante a Guerra Fria. A cidade era usada como área em que Estados Unidos e União Soviética testavam suas políticas internacionais, pressionando o adversário e estudando a resposta inimiga.
Bem antes da separação com cercas de arames farpados e da construção do muro, Berlim Ocidental já tinha sofrido as conseqüências de um maior desenvolvimento econômico. O crescimento industrial de todo o lado ocidental era alto, chegando à ordem de 15% ao ano nos anos 1950, mas, antes disso, ainda em 1948, a área de influência de EUA, Inglaterra e França adotou uma nova e mais forte moeda, o marco alemão. Em resposta, em 24 de junho, um dia depois da reforma monetária, os soviéticos bloquearam todas as vias de acesso à cidade.
O Bloqueio de Berlim foi um dos primeiros eventos de grande relevância da Guerra Fria. Todas as ligações ferroviárias e rodoviárias para a cidade de dois milhões de habitantes (do lado ocidental) foram cortadas, e até o abastecimento de energia elétrica foi interrompido. Os governos ocidentais, entretanto, abraçaram a causa dos berlinenses como símbolo do bloco capitalista do conflito não-declarado contra os comunistas.
Evitando abrir uma guerra contra a União Soviética, iniciaram uma enorme operação aérea para abastecer a cidade usando aviões. Em pouco tempo, mais de 70 mil toneladas de alimentos eram desembarcadas nos aeroportos do lado ocidental de Berlim por mês, o que aumentou a admiração pelos Estados Unidos na cidade, e aproximou o Ocidente da Alemanha. O bloqueio durou menos de um ano, masfoi o primeiro sinal da divisão que a cidade enfrentaria até novembro de 1989.

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