Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
! !! !!!! Universidade de Brasília Faculdade de Tecnologia Departamento de Engenharia Civil e Ambiental Engenharia Ambiental Professora Yovanka Pérez Ginoris !!!!!!!!!!!!! Aspectos Químicos de Qualidade da Água Experimental Características Químicas da Água Nutrientes - Nitrogênio e Fósforo ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Brasília, 11 de Julho de 2015. Aluna: Camila Rebello Amui Matrícula: 11/0111699 ! ! 1. Resumo A remoção efetiva de nutrientes em tratamento de esgoto é muito importante para que o corpo receptor não seja desequilibrado. Este relatório visa a análise de amostras coletadas de três etapas diferentes da Estação de Tratamento Norte, a fim de verificar a eficiência do tratamento. O tratamento apresentou concentrações finais dentro do limite estabelecido pelo CONAMA para Nitrogênio Amoniacal, mas muito acima do permitido para Nitrito, Nitrato e Fósforo. O Efluente Final apresentou concentrações de 7 mg/L de Nitrogênio Amoniacal, 2,3 mg/L de Nitrito, 470 mg/L de Nitrato, 56 mg/L de Fósforo Livre. Conclui-se que ou a medição das concentrações foi equivocada ou tratamento não foi eficiente, o que pode prejudicar o corpo receptor Lago Paranoá. ! 2. Introdução A análise química de nutrientes na água é de extrema importância. Dependendo do modo em que se encontram dispostos, os nutrientes podem favorecer ou prejudicar a vida. Assim, eles afetarão diretamente os ecossistemas aquáticos, por isso existe a importância de se conhecer essas características a fundo em tratamentos de esgoto, a fim de monitorá-las para o despejo adequado. O Nitrogênio em seu ciclo se alterna em várias formas e estados de oxidação. Em meio aquático pode ser encontrado como Nitrogênio Molecular, Nitrogênio Orgânico (suspenso e dissolvido), Amônia (livre e ionizada), Nitrito e Nitrato (SPERLING, 2005). Trata-se de um composto muito importante para o Meio Ambiente, sendo indispensável para o crescimento de algas, podendo levar a Eutrofização. Também pode ser responsável pelo consumo de Oxigênio Dissolvido, já que os processos de oxidação das formas de Nitrogênio irão consumi-lo. Além disso, a Amônia Livre é tóxica a peixes. No tratamento de esgotos, é importante para o crescimento de microrganismos presentes no tratamento biológico, além de influenciar no consumo de oxigênio e na sedimentabilidade do lodo (SPERLING, 2005). Em águas naturais há diversas fontes de Nitrogênio, sendo a principal delas o esgoto, que lança Nitrogênio Orgânico e Amoniacal. Também pode ser fixado químicamente ou biologicamente da atmosfera. Pode também ocorrer por lavagem por águas pluviais de solos fertilizados. O Fósforo se apresenta na água nas formas de Ortofosfato, Polifosfato e Fósforo Orgânico (SPERLING, 2005). Os Ortofosfatos dependem do pH e são diretamente disponíveis para o metabolismo biológico sem a necessidade de conversão a formas mais simples. O Fósforo está fortemente associado as questões ambientais, sendo associado ao crescimento de algas e, assim, a Eutrofização. Também está associado ao crescimento de bactérias que estabilizam matéria orgânica (SPERLING, 2005). Em águas naturais, as fontes de Fósforo são principalmente esgotos domésticos, já que esse encontra-se em elevadas concentrações em detergentes. Neste relatório serão analisadas três amostras de esgoto. As amostras foram coletadas de diferentes etapas da Estação de Tratamento de Esgoto da Asa Norte, em Brasília, que utiliza tratamento por lodos ativados a nível terciário. O corpo receptor dessa ETE é o Lago Paranoá e para que ele não seja afetado com o despejo, é necessário o tratamento fisico-químico e biológico. Para a análise das amostras, é essencial conhecer em qual processo do tratamento ela foi retirada, para que se saiba quais tipos de nutrientes deveriam ou não ter diminuido. A primeira amostra foi coletada após o Tratamento Primário, onde ocorre separação dos Sólidos em Suspensão por sedimentação em um Decantador. A segunda amostra foi retirada após o Tratamento Secundário, onde ocorre a oxidação do Nitrogênio Amoniacal em Nitrito e do Nitrito em Nitrato através de bactérias nitrificantes e em seguida a remoção do lodo ativado (biomassa) no Decantador Secundário. A terceira amostra foi coletada após o Tratamento Terciário, onde através de processos unitários, como Coagulação e Floculação, é retirado o Fósforo do afluente, precipitando na forma de Fosfato. ! 3. Objetivo ! Analisar três amostras coletadas de diferentes etapas da ETE Norte quanto aos níveis de Nitrogênio Amoniacal, Nitrito, Nitrato, Fósforo Livre, Fosfato, estando atento a eficiência do tratamento fisico-químico e biológico. ! 4. Metodologia Experimental ! Para realizar as medições dos Nutrientes, utilizou-se os métodos de Espectrofotometria, o método de Nessler e do Ácido Ascórbico. Para que os aparelhos conseguissem fazer a leitura, foi necessária a Diluição das Amostras. O Efluente Primário precisou ser diluído em 1/10000, o Secundário em 1/10 e o Final em 1/100. Visando uma melhor compreenção dos possíveis erros cometidos, avalia-se o procedimento e métodos usados. O método de Espectrofotometria consiste na medição da absorção da faixa do infravermelho da amostra. O aparelho compara a quantidade de luz que atravessa ou se espalha na amostra com o feixe de luz emitido. Contabiliza-se o que é absorvido. Alguns fatores que podem comprometer a medida são: má homogeneização da amostra, erros no processo de filtragem (no caso da medição de cor da filtragem das amostras), presença de material em suspenção pode causar espalhamento do feixe de luz. O Método de determinação de nitrogênio amoniacal por meio do uso de Reagente de Nessler utiliza um “branco” para possibilitar a zeragem do espectofotômetro. Esse “branco” é preparado com 25ml de água destilada, 3 gotas de estabilizador mineral e 3 gotas de álcool polinílico. De forma análoga, à amostra adiciona-se 3 gotas de estabilizador mineral para evitar a precipitação de cálcio e magnésio na amostra e 3 gotas de álcool polninílico, que tem como função o realçamento da cor da reação que será dada com a adição do Reagente de Nessler, que conferirá uma cor amarela de intensidade relacionada a presença de nitrogênio amoniacal. O reagente de nessler deve ser manuseado com cuidado pois possui mercúrio, um metal pesado, em sua composição. O Método do Ácido Ascórbico, usado para a detecção de Fósforo reativo, também utiliza o Espetrofotômetro com comprimento de onda de 890nm e o reagente da Hach (PhosVer 3). Para melhor compreenção, utiliza-se a tabela abaixo, feita com dados retirados do livro Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. ! Tabela 1 - Técnicas de Detecção para Análise de Nitrogênio Amoniacal, Nitrato, Nitrito e Fósforo. Componente Técnicas Analíticas Técnicas para diferentes amostras Limites de Detecção Interferências Nitrogênio Amoniacal Método de Nessler: Dependendo da amostra é necessário fazer uma destilação É recomendado para amostras com concentração máxima de 5 mg/ L. Sofre interferências de alguns compostos orgânicos como cetonas, aldeídos, alcoóis e aminas. Cloro residual também deve ser retirado. Componente ! Conhecendo as técnicas utilizadas, é possível identificar possíveis erros através dos dados obtidos. ! 5. Dados obtidos e Análise de Dados Seguindo a Metodologia Experimental, foram obtidos os dados para Amônia, Nitrito, Nitrato e Fósforo. Ressalta-se que as amostras foram recolhidas sem respeitar o tempo de Detenção dos reatores. Isso significa que as frações que entraram no Tratamento Primário demorariam um certo tempo para ir para o Tratamento Secundário e mais algum tempo para ir para o Polimento Final. As amostras deveriam ter sido coletadas respeitando-se esse tempo para que os valores fossem comparáveis, mas coletou-se todas elas em um mesmo horário. Assim, elas não apresentam relação direta, o que comprometerá o cálculo das eficiência e as comparaçõesentre efluentes. Os dados obtidos para Amônia encontram-se dispostos na tabela 2. ! Tabela 2 - Dados obtidos para Amônia. ! A amostra retirada do Efluente Primário apresenta valores bem elevados de Nitrogênio Amoniacal, Amônia e Ion Amonio. Isso porque ainda não passou pelo tratamento. Além disso, tem ocorrido uma tendência a diminuição do uso de água em descargas sanitárias para economia, o que faz com que os efluentes que vêm de descargas estejam menos diluidos e, portanto, mais Nitrato Método do Espectrofotômetr o: Recomendado para amostras com baixo teor de matéria orgânica. Não possui limites de detecção. Matéria orgânica dissolvida; Cromo hevalente e sujeira nas cubetas. Nitrito Método do Espectrofotômetr o: Recomendado para amostras com baixo teor de matéria orgânica. As amostras devem conter pelo menos 25µg/L de Nitrito. Íons Bismuto, Ferro, Chumbo, Mercúrio e Prata. Presença de sólidos em suspensão. Fósforo Método do Ácido Ascórbico: A seleção depende da concentração de ortofosfato na amostra. O aparelho não informou os limites de detecção. Presença de Arsênio; Crômio e Nitrito. Técnicas Analíticas Técnicas para diferentes amostras Limites de Detecção InterferênciasComponente Amônia Forma Efluente Primário Efluente Secundário Efluente Final N-‐NH3 57 mg/L 10,23 mg/L 7 mg/L NH3 69 mg/L 12,46 mg/L 9 mg/L N-‐NH4⁻ 74mg/L 13,22 mg/L 10 mg/L concentrados. Assim, quanto mais a população visa diminuir o consumo de água em descargas, maior deve ser a eficiência do tratamento, já que as amostras estarão mais concentradas. No Efluente Secundário ocorreu diminuição dos valores por conta do tratamento biológico com oxidação da Amônia. Calcula-se a eficiência em relação a esse tratamento, por uma porcentagem simples: !! ! (Equação 1). ! Como a remoção de Amônia ocorreu no Tratamento Secundário, utiliza-se na Equação as Concentrações do Efluente Primário como Inicial e do Efluente Secundário como Final. A eficiência obtida no Tratamento Biológico para Nitrogênio Amoniacal foi de 82%. Essa eficiência é ainda maior quando consideramos o tratamento de esgoto em sua totalidade, avaliando a concentração no Efluênte Primário e no Final, chegando à 87%, uma eficiência bastante elevada. A concentração final, despejada no Lago Paranoá foi de 7 mg/L de Nitrogênio Amoniacal. O CONAMA 430/2011 permite um máximo de 20 mg/L. Sendo assim, a Estação de Tratamento Norte está sendo eficiênte na remoção de Nitrogênio Amoniacal, seguindo o estabelecido. Analisou-se também as concentrações de Nitrito, representadas na Tabela 3. O Efluente Secundário não apresentou dados de NaNO2 pois o aparelho não fez a medição. ! Tabela 3 - Dados obtidos para Nitrito. ! Observa-se que os níveis de Nitrito iniciam-se baixos no Tratamento Primário. Isso porque a maior parte do Nitrogênio que chega na Estação vem em forma de Amônia, precisando ser oxidada para chegar em Nitrito. Essa oxidação acontece no Tratamento Secundário, onde é possível notar um aumento das concentrações. Ainda no Efluente Secundário, o Nitrito deveria ter sido oxidado em Nitrato, por tanto esse valor não deveria ser tão alto na saida desse Efluente. Isso pode ter ocorrido pela falta de oxigênio dissolvido no reator, essencial para a oxidação. No Efluente Final, nota-se que o Nitrito diminuiu novamente. Ainda sim, o valor de Nitrito obtido está acima do permitido pelo CONAMA 357 , que é de 1 mg/L. Isso sugere ineficiência do Tratamento. A remoção do Nitrito no Tratamento Secundário foi de 42,07%, o que é razoável. Mas se for comparado a concentração do Efluente Primário com o Final, ocorreu um acrescimo na concentração de 4691,6%. Deve-se lembrar que, como o tempo de detenção não foi respeitado, essa eficiência não é acurada. !!!!!! Nitrito Forma Efluente Primário Efluente Secundário Efluente Final N-‐NO2⁻ 0,015 mg/L 1,21 mg/L 0,7 mg/L NO2⁻ 0,048 mg/L 3,97 mg/L 2,3 mg/L NaNO2 0,072 mg/L -‐ 3,4 mg/L Os dados obtidos em relação a Nitrato são registrados abaixo. ! Tabela 4 - Dados obtidos para Nitrato. Observa-se, pela mesma lógica do Nitrito, um aumento da concentração do Efluente Primário para o Secundário. Porém, ao contrário do Nitrito, essa concentração aumentou ainda mais para o Efluente Final. Todo Nitrato deveria ter se transformado em Nitrogênio Elementar, para que não afete o corpo receptor e não seja revertido novamente em Nitrito e Amônia. A alta concentração final caracteriza a ineficiência do Tratamento, chegando a níveis muito maiores que os 10 mg/L estabelecidos pelo CONAMA 357 para Nitrato. A eficiência calculada foi de -4251,85%, ou seja, o nível de Nitrato aumentou em 4251,85% desde o Efluente Primário até o Final. O tratamento não foi eficiente para remover o Nitrato. ! Tabela 5 - Dados obtidos para Fósforo. ! O Efluente Primário apresenta concentração de Fósforo elevado. Isso porque o tratamento físico que ocorre no Tratamento Primário não retira Fósforo. O Efluente Secundário teve concentrações de Fósforo diminuidas, o que é explicado pela utilização do Fósforo pelas bactérias existentes no tratamento biológico. Os dados obtidos para Fósforo no Efluente Final não estão coerentes com o que se esperava de uma amostra que passou por um tratamento. O Efluente Final não só não teve a concentração de Fósforo diminuída, como teve esta aumentada, chegando a valores muito acima do permitido. O mais intrigante é que o Polimento Final na ETE Norte visa justamente a remoção de Fósforo, o que não é condizente com os valores finais encontrados, que acabaram de sair desse Polimento. A eficiência do Tratamento Secundário foi de 98,2% de remoção, porém a eficiência do Tratamento Terciário, o qual tem finalidade de remoção de Fósforo, foi de -7066,7%, ou seja, ocorreu um aumento de Fósforo de 7066%. A eficiência da ETE Norte para remoção do Fósforo foi de -290%, o que quer dizer que o Efluente final teve um acrescimo de 290% de Fósforo se comparado com o inicial. Vale lembrar além do tempo de retorno que não foi respeitado, outro fator pode ter influenciado esse resultado: o número de casas decimais anotado não foi suficientemente preciso. Sendo assim, o número obtido no Efluente Primário, que foi diluído em 1/10000 (e portanto teve seu resultado multiplicado por 10000), poderia ter sido maior, o que indicaria uma maior eficiência se comparado com o Efluente Final. Mesmo assim, os valores encontrados para Efluente Final estão muito acimas do esperado. Nitrato Forma Efluente Primário Efluente Secundário Efluente Final N-‐NO3⁻ 2,4 mg/L 6 mg/L 110 mg/L NO3⁻ 10,8 mg/L 30 mg/L 470 mg/L Fósforo Forma Efluente Primário Efluente Secundário Eluente Final P 0 mg/L 1,6 mg/L 56 mg/L P2O5 100 mg/ L 4,9 mg/L 173 mg/L PO₄³⁻ 100 mg/L 1,8 mg/L 129 mg/L O CONAMA 357 estabelece um limite de 0,02 mg/L de Fósforo para ambientes lênticos como o Lago Paranoá. Esse limite não é para o Efluente Final, e sim para a diluição desse efluente em seu corpo receptor, que no caso é o Lago Paranoá. A diluição desse efluente, então, não pode fazer com que a concentração de Fósforo do Lago seja maior que 0,02 mg/L. Isso dependerá da vazão do efluente e do tamanho do Lago. Além disso, parte desse Fósforo pode ser acumulado em sedimentos, não afetando tanto o corpo receptor por não estar diluído. ! 6. Conclusão O tratamento da ETE não foi eficiente nem para Nitrito, nem para Nitrato e nem para Fósforo. Há então duas hipóteses que justifiquem esses valores altos. A primeira é de que a medida foi feita de maneira equivocada pelo grupo responsável no Laboratório. Assim, algum erro de procedimento teria indicado um valor final muito maior que o real. A segunda hipótese é que o tratamento da ETE não foi eficiente. Essa hipótese teria que ser comprovada com mais análises, mascaso esteja certa, é uma grave situação que pode botar em risco o ecossistema aquático. Ressalta-se que existe um projeto que visa a captação da água do Lago Paranoá para consumo humano (GOVERNO DE BRASILIA, 2015), e que os Nutrientes despejados no Lago sem o devido tratamento podem tornar essa água imprópria e dificultar o tratamento para consumo. Podem ter ocorrido concentrações muito elevadas no Esgoto que chegou na ETE, maiores do que a ETE foi dimensionada para tratar, e por isso o tratamento não foi eficaz. Essa alta concentração não seria retratada nas amostras recolhidas para Efluente Primário, já que não se respeitou o tempo de detenção. !!! 7. Referências Bibliográficas ! BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 357, de 17 mar. 2005. Diário Oficial da União. Brasília, 18 mar. 2005. p. 58-63. GOVERNO DE BRASILIA. Caesb deve usar água do Lago Paranoá para consumo da população. Disponível em <http://www.df.gov.br/conteudo-agencia-brasilia/item/18682-caesb- deve-usar-água-do-lago-paranoá-no-consumo-da-população.html> Acesso em 27 de Maio de 2015. Brasília, 2015. PIVELI, Roque; Kato, Mario. Características Físicas das Águas: cor, turbidez, sólidos, temperatura, sabor, odor. In: Qualidade da água e poluição: aspectos físicos-químicos. 1. ed. São Paulo: ABES, 2005. Cap. 7. p. 135-155. RICE, Eugene; et al. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. Ed. 18. Washington, D. C.: Americam Public Health Association, 1992. SPERLING, M. V. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. 243 p.
Compartilhar