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Revista Científica do UniRios 2020.2| 140 SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva Professor da educação básica e pedagogo pela Universidade do Estado da Bahia- UNEB. Pós-graduado em Gestão Escolar e em Administração Escolar, Supervisão e Orientação pela UNIASSELVI. E-mail: mikaeljurandir@hotmail.com Glaide Pereira Silva Assessora Pedagógica de ATER- Assistência Técnica e Extensão Rural na AGENDHA - Ass. Gestão em Estudos da Natureza Desenvolvimento Humano e Agroecologia. Graduada em Pedagogia com habilitação em Coordenação, Administração e Projetos Pedagógicos. Especialista e Mestra em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental, toda formação pela UNEB-Universidade do Estado da Bahia. E-mail: glaide.ecopedagoga@gmail.com RESUMO As discussões aqui propostas fazem parte da especialização em administração escolar, supervisão e orientação. O supervisor possui papel importante de mediador na Pedagogia de Projetos para uma Educação do Campo contextualizada com a realidade social, cultural, política e econômica no território geográfico rural. Muitas vezes, as práticas educativas são dissociadas da realidade dos agricultores (as) e dos seus filhos (as), perfazendo o percurso secular de marginalização dessas pessoas, tomando o estudante urbano como modelo único e acabado para o planejamento de todo o processo educativo. Desta forma, a pesquisa buscou compreender de que modo o/a supervisor/a escolar contribui com a Pedagogia de Projetos para uma Educação do Campo contextualizada, se a supervisão escolar compreende a importância da Pedagogia de Projetos para a Educação do Campo e quais projetos foram desenvolvidos no ano letivo vigente. O percurso metodológico utilizado nessa investigação caracteriza-se como abordagem qualitativa com a pesquisa de campo, associada ao método descritivo e explicativo. Também fez o uso da pesquisa bibliográfica. Para a coleta de dados, foi utilizado o questionário aberto com a supervisora escolar que atua na zona rural do município de Rodelas/Bahia. Palavras-chave: Pedagogia de Projetos. Educação do Campo. Supervisão escolar. RESUMEN Las discusiones propuestas aquí son parte de la especialización en administración escolar, supervisión y orientación. El supervisor juega un papel importante como mediador en el Proyecto Educación para una Educación Rural contextualizado con la realidad social, cultural, política y económica en el territorio geográfico rural. A menudo, las prácticas educativas se disocian de la realidad de los agricultores y sus hijos, creando el camino secular de marginación de estas personas, tomando al estudiante urbano como un modelo único y completo para la planificación de todo el proceso educativo. Por lo tanto, la investigación buscó comprender cómo el supervisor escolar contribuye a la Pedagogía de Proyectos para una Educación Rural contextualizada si la supervisión escolar comprende la importancia de la Pedagogía de Proyectos para la Educación Rural y qué proyectos se desarrollaron en el año escolar actual. El enfoque metodológico utilizado en esta investigación se mailto:mikaeljurandir@hotmail.com SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 141 caracteriza como un enfoque cualitativo con la investigación de campo, asociado con el método descriptivo y explicativo. También se hizo uso de la investigación bibliográfica. Para la recopilación de datos, utilizamos el cuestionario abierto con el supervisor de la escuela que trabaja en el área rural de Rodelas / Bahia. Palabras clave: Pedagogía de Proyectos. Educación del Campo. Supervisión escolar. 1 INTRODUÇÃO O protagonismo dos movimentos sociais populares, sindicais e a educação multiculturalista transformaram a forma como a sociedade concebe a educação ofertada aos camponeses e camponesas e, assim, vem tomando consciência da importância de construir a Educação do/no Campo. Com a edificação desse pensamento, com o desejo de um projeto social integrante que contemple direitos básicos como acesso à terra, à justiça social, à moradia, a estradas, a educação contextualizada, à saúde básica entre outros, e com a I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, realizada em 31 de julho de 1998 em Luziânia – Goiás, nasce as problematizações sobre a ultrapassada educação rural, para a educação emancipadora, plural e que possa proporcionar as pessoas do campo sentido educativo as suas vidas. Para Caldart, Cerioli e Fernandes (2011, p. 25), o termo campo substitui o termo rural “com o objetivo de incluir no processo da conferência uma reflexão sobre o sentido atual do trabalho camponês e das lutas sociais e culturais dos grupos que hoje tentam garantir a sobrevivência deste trabalho”. Além de discussões sobre o trabalho e o desenvolvimento territorial local, as discussões sobre como a Educação do/no Campo pode contribuir com os aspectos sociais, históricos e culturais culmina no desenvolvimento de construção de projetos contextualizados com esse território. Para Nogueira (2005) os projetos são uma maneira de abordagem que favorece a compreensão global, isto é, o educando é guiado ao entendimento crítico do mundo e do gueto social que estão alocados. Leva o aluno a uma compreensão global dos conhecimentos e informações e dos fenômenos da vida, não os restringindo a disciplinas e conteúdos isolados e fragmentados. SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 142 Para a interdisciplinaridade e contextualização dos projetos a supervisão escolar pode utilizar a abordagem educativa por meio da pedagogia de projetos que possibilita além de solucionar problemas educativos pode aproximar escola e comunidade e fortalecer os aspectos culturais e as relações identitárias. Desta forma, a pesquisa surge com indagações sobre como o supervisor escolar através da pedagogia de projetos pode ou não colaborar na construção da Educação do/no Campo contextualizada com os campesinos. Também, por acreditar que a educação contextualizada realizada via pedagogia de projetos proposto pela supervisão possa resolver ou amenizar os problemas existentes na educação no território geográfico rural. Assim, o supervisor escolar possui atuação significativa para construir projetos participativos e democráticos que contextualizem com a realidade na qual aos agricultores (as) e seus filhos (as) estão alocados. A pesquisa buscou compreender de que modo o supervisor escolar contribui com a Pedagogia de Projetos para uma Educação do Campo contextualizada; se a supervisão escolar compreende a importância da Pedagogia de Projetos para a Educação do Campo e quais projetos foram desenvolvidos no ano letivo vigente. Para atingir os objetivos, a abordagem utilizada na investigação foi de natureza qualitativa, pois permite que o pesquisador aprofunde e obtenha conhecimentos de fatos e fenômenos subjetivos e intersubjetivos, aspectos que a pesquisa quantitativa não poderia desbravar. Para Oliveira (2008, p. 41), a pesquisa qualitativa se caracteriza em um procedimento sistemático que possibilita o processo reflexivo e analítico do contexto e/ou dos sujeitos e do mundo real através de processos e metodologias, sendo uma experiência empírica e permitindo compreender os processos que integram a dinâmica do fazer pedagógico da supervisão escolar e dos possíveis projetos desenvolvidos no âmbito da Educação do Campo. A abordagem citada acima foi associada à pesquisa de campo, onde o pesquisador está diretamente em contato com os sujeitos investigados. Para Gil (2002) os estudos de campo são mais confiáveis/autênticos,ou seja, inserir in loco a atuação dos sujeitos, ou seja, com a supervisora que atua em escola do campo no território geográfico rural do município de Rodelas/Bahia, permitindo observar certas especificidades percucientes que com outros métodos não são possíveis. SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 143 Também foi utilizada a pesquisa descritiva e explicativa, descrevendo o contexto e os sujeitos, e explicando o processo. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado questionário semiestruturado (presencial) com a supervisora escolar, que coletou as informações empíricas necessárias para sua elaboração. O questionário semiestruturado permite ao sujeito investigado uma maior liberdade para discorrer sobre um determinado assunto, situação ou contexto (GRESSLER. 1983), nesse caso, a supervisora na Pedagogia de Projetos para uma Educação do Campo contextualizada. Os dados secundários usados para a realização da pesquisa consistem na pesquisa bibliográfica, onde se buscou conteúdos especializados na área da Educação do Campo, Pedagogia de Projetos e Supervisão Escolar. Para Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa bibliográfica é entendida como toda investigação que utilize livros físicos e digitais, pesquisa na internet, documentos e outros recursos. A seguir será apresentado na seção 1, “Pedagogia de Projetos” o surgimento da pedagogia de projetos, abordagem, encaminhamentos possíveis para o desenvolvimento e também sobre essa proposta pedagógica para contextualização com a realidade camponesa. Na seção 2, “Educação do Campo e políticas públicas” discorrerá sobre ações e políticas consolidadas que tratam da Educação do Campo. Já a seção 3, “Supervisão escolar” apresenta uma síntese sobre o trabalho do supervisor historicamente desde a visão tecnicista ao trabalho dialógico, de coordenação, democrático e participativo. A análise dos dados será mostrada na seção 4, onde mostra as falas da supervisora escolar sobre a pedagogia de projetos, a construção dos projetos, a importância dessa abordagem e os projetos desenvolvidos. Por fim, será a apresentada as considerações finais dessa pesquisa e as referências. 2 PEDAGOGIA DE PROJETOS No Brasil, a Pedagogia de Projetos tornou-se conhecida a partir do movimento denominado de “Escola Nova”. Foi um movimento intenso de críticas ao modelo da pedagogia tradicional quando propôs um olhar diferenciado sobre as práticas curriculares, o tempo pedagógico, a relação entre docentes e discentes, enfim, sobre as práticas educativas e as relações interpessoais. (PINHEIRO, 2015) SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 144 Segundo Pinheiro (2015), esse novo “método” de John Dewey e William Kilpatrik, considerados criadores da Pedagogia de Projetos, foi introduzido no Brasil principalmente por Anísio Teixeira e Lourenço Filho. Essa metodologia de projetos trouxe a proposta de um novo jeito de pensar e repensar a escola, a educação e as formas de desenvolvê-las, transformando estudantes e professores/as em protagonistas da ação educativa, valorizando o envolvimento de todos e todas nas etapas de construção e execução dos projetos. Essa metodologia não se torna um fim no processo educacional, mas um meio, um complemento, no qual se pode trabalhar interdisciplinarmente, transformando a escola e consequentemente o processo educativo mais atraente aos educandos/as. Para Hernández (1998, p. 23-24), “[...] a função da escola não é encher a cabeça dos alunos de conteúdo, mas contribuir para formá-los para a cidadania e oferecer-lhes, como já se indicou, elementos para que tenham possibilidades de construir sua própria história”. Deste modo, os sujeitos do campo assumiriam o controle da educação que pretendem construir indo além de conteúdos fragmentados. Também, essa abordagem não pode se restringir apenas a projetos desenvolvidos na escola, pois como afirma Gasparin (2011, p. 3) “o ponto de partida do novo método não será a escola, nem a sala de aula, mas a realidade social mais ampla. A leitura crítica dessa realidade torna possível apontar um novo pensar e agir pedagógicos”. Assim, pode-se dizer que os projetos na Educação do Campo partirão dos sujeitos que compõem a comunidade e que esses projetos devem permitir que não se restrinja apenas a sala de aula. Esses sujeitos possuem conhecimentos próprios e esses saberes locais também podem ser incorporados nos projetos facilitando a interação, compreensão e vínculo educativo, uma vez que o papel de um projeto é: [...] Favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998, p. 61). Para a implementação da Pedagogia de Projetos é necessário, primeiro, que ela seja planejada, realizada e avaliada por todos/as, e ainda, que tenha em sua origem uma significância social, cultural e política, para contextualizá-la com a realidade presente no campo já que: SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 145 Os projetos de trabalho e a visão educativa à qual se vinculam, convidam a repensar a natureza da Escola e do trabalho escolar, pois requerem uma organização da classe mais complexa, uma maior compreensão das matérias e dos temas em que os alunos trabalham, o que faz com que o docente atue mais como guia do que como autoridade. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 73). O professor (a), gestor (a) e o supervisor (a) escolar devem atuar como mediador na construção dos projetos e na construção dos conhecimentos decorrente das decisões coletivas. Também, que se transforme em interesse do coletivo, ou seja, da escola, estudantes e comunidade, pois a ausência da participação efetiva acarreta em uma não significância local na vida dos sujeitos imbricados no processo educativo. “Deste enfoque, defende-se o caminhar da realidade social, como um todo, para a especificidade teórica da sala de aula e desta totalidade social novamente, tornando possível um rico processo dialético de trabalho pedagógico.” (GASPARIN, 2011, p. 3) Essa abordagem pode permitir, desde que seja decidida na coletividade, a solução de problemas existentes na localidade e também nas problematizações referentes às reflexões dos conteúdos para construção de cidadãos (ãs) críticos e politizados frente às injustiças cotidianas sofridas no campo, além de oportunizar o trabalho com temas e necessidades que emanam do cotidiano. Assim, corroborando com Gasparin (2011), Nogueira (2005) diz que a prática pedagógica tendo como centro a abordagem por projetos pode ser, a princípio, uma possibilidade para ajudar os educandos a desenvolver as habilidades e competências e assim resolver os problemas que emanam da realidade, de linguagem comunicativa, de trabalhar participativamente e coletivamente e de encarar os desafios. Colaborado com isso Pinheiro (2015, p. 12) diz que o processo de ensino e aprendizagem através da pedagogia de projetos: [...] permite uma aprendizagem por meio da participação ativa dos educandos, vivenciando as situações-problemas, refletindo sobre elas e tomando atitudes diante dos fatos. Ao educador compete resgatar as experiências do educando, auxiliá-lo na identificação de problemas, nas reflexões sobre eles e na concretização dessasreflexões em ações. Deste modo, o projeto tem por finalidade aumentar a participação dos alunos, professores, comunidade e todos que fazem parte desse processo como protagonistas da própria educação; possibilitar a interdisciplinaridade; tornar a escola mais fascinante; refletir e valorizar a cultura, a identidade e as experiências camponesas; construção de conhecimentos; resolução de uma ou SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 146 várias situações-problemas que se apresente no contexto do território geográfico do campo e pode permitir as relações de pertencimento. Segundo Moura e Barbosa (2006, p. 21) os projetos possuem particularidades específicas e que devem ser consideradas para a sua construção e execução, como são elencadas logo abaixo: • São atividades orientadas para a realização de objetivos específicos; • Tem uma duração finita, com princípio e um fim bem definidos; • São atividades voltadas para a realização de algo único, exclusivo; • Os recursos disponíveis são limitados (pessoas, tempo, dinheiro etc.); • Apresentam dimensões de complexidade e de incerteza (ou risco) em sua realização; • Surgem, em geral em função de um problema, uma necessidade, um desafio ou uma oportunidade (de uma pessoa ou instituição). Assim, propomos inicialmente, refletindo sobre os trabalhos dos autores e autoras que embasam a presente pesquisa, alguns possíveis passos necessários que o supervisor (a) escolar e demais envolvidos no/nos projeto/s possam se orientar para implementar a Pedagogia de Projetos contextualizada com a realidade política, social, cultural e educacional no/do campo. Para isso, consideramos importantes as seguintes etapas: Imagem 1- Etapas para o desenvolvimento dos projetos. Fonte: os autores. SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 147 Na primeira fase, Dialógica Intencional, a gestão, os educadores/as, o supervisor (a), a comunidade e os educandos/as participam da formulação dos temas, dialogando sobre suas intenções, problemas na comunidade e/ou no processo educativo. Para Paulo Freire o diálogo é essencial ao ser humano e isso significa ser solidário, respeitoso, comunitário, fraterno, ter “co- laboração” e permitir a conversação, pois: O diálogo é este encontro dos homens [e mulheres], imediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. Esta é a razão por que não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito. (FREIRE, 2005, p. 91) [Grifo nosso] Essa dialogicidade nunca impõe, ridiculariza, ou domina pelo contrário, está sempre aberta as críticas e possibilidades de mudanças e, com isso, pode proporcionar aos sujeitos do campo o direito de dizer qual educação que querem e como querem que seja produzida. Os homens e mulheres que se organizem e estabeleçam as principais sugestões e seus objetivos para a educação emancipadora e contextualizada possibilitam a verdadeira educação libertária e profundamente transformadora. Para Groh (2006, p. 32) caso os “ [...] pais ou a comunidade apenas usufruem da escola enquanto um bem social, mas não tomam parte na sua gestão, então não se pode afirmar que eles realmente participam da escola.” Na segunda fase, o Planejamento, serão elaboradas e decididas as estratégias, a duração do projeto, pensar como será executado e os recursos disponíveis para a sua realização. Para Souza (2005. p. 19) “planejar o trabalho pedagógico significa, portanto, a oportunidade de repensar a própria prática e, se ela se produz de forma coletiva, isto passa, necessariamente, pelo exercício coletivo de alternativas”. Assim, a escola precisa planejar em juntamente com a comunidade para que esses projetos não se tornem desvinculados da realidade social, cultural, política, ideológica, histórica econômica, educacional, como também, a partir do planejamento não se torne uma proposta não participativa dos sujeitos que vivem nesse território geográfico rural. A terceira fase é o Desenvolvimento Prático, onde serão realizadas, de fato, as atividades delineadas, sempre com a participação ativa e coletiva de todos os sujeitos. Para Vasconcelos (2006, p. 6) “O processo de planejamento participativo abre possibilidade de um maior fluxo SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 148 de desejos, de esperanças e, portanto, de forças para a tão difícil tarefa de construção de uma nova prática”. A quarta e última fase é a Avaliação Coletiva, onde se deve identificar as fragilidades do projeto, as potencialidades, os conhecimentos construídos, o que deve ser feito nos próximos projetos para melhoria da qualidade da educação, se houve contextualização, se houve participação de todos, entre outros aspectos. Quando seguidas essas etapas, podemos possibilitar aos sujeitos assumir-se como protagonistas da própria educação. De tal maneira, a Pedagogia de Projetos torna-se democrática e interdisciplinar, podendo ainda aproximar escola e comunidade na construção de um viés problematizador e contextualizador para/na Educação do Campo. Também, o supervisor escolar em ação conjunta com os professores/as, diretor/a, educandos e comunidade devem analisar as contradições existentes entre o fazer pedagógico e a proposta pedagógica. 3 EDUCAÇÃO DO CAMPO E POLÍTICAS PÚBLICAS A Educação do Campo surge em contraposição à educação rural, na qual os sujeitos do campo eram subordinados a uma ideologia urbanocêntrica, que impunha a ideia de que tem que sair do campo para morar na cidade, onde há mais oportunidades de emprego e melhor qualidade de vida. Esse modelo de concepções de rural como o lugar do atraso, do matuto e do trabalho degradante, construíram ao longo de séculos entendimentos de inferiorização e depreciação do seu modo de vida, cultura, memória e valores éticos e morais dos campesinos (CALDART, MOLINA e ARROYO, 2011). As discussões para ultrapassar a educação secular de segregação aos sujeitos do campo emergem como pauta dos movimentos populares, principalmente o movimento de Reforma Agrária e do Movimentos dos Sem Terra - MST. Após a Primeira e segunda Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, passou-se a discutir a mudança de conceitos da educação rural para a educação do/no campo, ou seja, pensar e construir a educação com os sujeitos do campo em um movimento coletivizado. SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 149 As lutas históricas dos movimentos sociais e dos sujeitos do campo na construção de uma Educação do Campo de qualidade, sempre sofreram resistência dos governos, do capitalismo e do agronegócio, no modelo predatório para cultura camponesa e seus saberes próprios. Também, a busca de uma educação contra-hegemônica e que contemple as especificidades e individualidades presentes no contexto do campo, bem como o acesso à terra, a saúde etc., sempre estiveram presentes no movimento de resistência dos movimentos sociais no território geográfico rural brasileiro. (CALDART, ARROYO E MOLINA, 2011) Em termos de políticas públicas tivemos um avanço com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Em especial, o seu artigo 28 diz: “as instituições de ensino que ofertam a educação básica podem modificar as metodologias eo calendário escolar respeitando as peculiaridades de cada região levando em consideração as necessidades e interesse dos discentes”. Esse artigo traz diversas medidas/possibilidades de adequação na relação entre escola e trabalho, a organização do currículo próprio e que leve em sua formulação pedagógica o entorno social e cultural. Mas, esse avanço é considerado tímido, já que está como rural e não Educação do/no Campo. Tivemos também a I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo. Foi criada em julho de 2004, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI via Ministério da Educação e Cultura (MEC)39; a II Conferência Nacional por uma Educação do Campo realizada em Luziânia - Goiás, 2 a 6 de agosto de 2004; e o decreto Nº 7.352, que dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA, de 4 de novembro de 2010, assinado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essas políticas públicas visam propostas de ação para garantia da Educação Básica enquanto direito dos sujeitos do campo, contextualizada ao desenvolvimento também do campo, pensada por seus povos para que tenham direito não só ao acesso, mas à permanência no processo educativo localmente significativo na construção dos valores sociais e históricos coletivamente em desencontro com o capitalismo; formar professores oriundos do e no campo, para construção 39 Extinta pelo decreto nº 9.465, de 2 de janeiro de 2019. SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 150 de um projeto político-pedagógico específico, pertinente à sua conjuntura, assumindo e construindo a identidade do campo. Nesse caso do projeto pedagógico o/a supervisor/a pode possibilitar processos que ajudem a pensar e repensar a ação/reflexão das ações pedagógicas, a exemplo da Pedagogia de Projetos, como um caminho para contextuar a educação e valorizar a cultura camponesa ao processo educativo, pois quando inserida essa abordagem na Educação do Campo, pode ser compreendida como um aporte metodológico que possibilita organizar a construção dos conhecimentos para atingir metas e objetivos que foram desenvolvidos pela escola e comunidade, dando ênfase à edificação coletiva, a autonomia dos sujeitos e à construção a partir da realidade vivida por alunos/as e professores/as proporcionando uma educação diferenciada do ponto de vista urbano e ruralista, isto é, a Educação do/no Campo. 4 SUPERVISÃO ESCOLAR O trabalho do supervisor possuía um caráter que não focava na melhoria do processo de ensino e sim na inspeção dos educadores, tendo um viés punitivo, inspecionador, inquisidor e de vigilância. Com esse intuito, o supervisor trabalhava em uma perspectiva tecnicista, ou seja, ele exercia sua função de controlar a execução das ações dos educandos. Também, existia um viés limitante para o supervisor que se constituía na prática inteiramente voltada para o lado burocrático e não para o processo de ensino-aprendizagem. Sobre o surgimento da supervisão escolar Lima (2002, p. 69) diz que “a ideia de supervisão surgiu com a industrialização, tendo em vista a melhoria quantitativa e qualitativa da produção, antes de ser assumida pelo sistema educacional, em busca de um melhor desempenho em sua tarefa educativa”. Para Rangel (2008), esse caminho “tecnicista” servia para produzir e amplificar as desigualdades sociais em uma sistematização de técnicas que favorecem a uma elite dominante na construção de um processo de exclusão e segregação. Essa “abordagem” não permitia, na função do supervisor, a contextualização da educação com a realidade na qual a escola está situada. SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 151 Contudo, a função de supervisionar com o trabalho pedagógico dos professores/as não representa a única função desse profissional, ela transcende e passa a coordenar as atividades pedagógicas, estabelecer diálogo com a comunidade, construir coletivamente a proposta política-pedagógica da escola, ouvir e ser ouvido; parcerias e compartilhamentos com os/as docentes, etc. Sobre a função da supervisão escolar Ferreira (2003), diz que: Dentre suas principais atribuições podemos citar: orientar, controlar, supervisionar, fiscalizar e inspecionar todo o processo educacional através de conferências, palestras visitas, acompanharem o desenvolvimento do currículo nos estabelecimentos, com objetivos de orientar pedagogicamente os professores mais jovens, buscando eficiência, introduzindo inovações, modernizando os métodos de ensino e promovendo um acompanhamento mais atento do currículo pleno nos estabelecimentos (p. 32). A supervisão na contemporaneidade assume-se como diferenciada do supervisor considerado tecnicista, o que Saviani (2008, p.14) ratifica afirmando: [...] “a ação supervisora passa da condição de função para a de profissão, pela mediação da ideia de supervisão”. Esse movimento de transformação de inspetor para supervisor provoca mudanças nas relações estabelecidas nas escolas, pois com o movimento da Escola Nova introduzido no Brasil por Anísio Teixeira, Paulo Freire e outros. A educação tradicional passa a ser desestimulada para pensar e repensar as práticas educativas transformadoras e libertadoras, ou seja, o modismo educacional tradicional dá lugar a uma nova forma de educação e modifica também as funções da supervisão escolar. Para Vieira (2009, p. 202) a supervisão escolar: Deve promover a reflexão crítica sobre as condições culturais que classificam os estudantes e a escola; apoiando a construção colaborativa de visão da educação capaz de resistir ao poder erosivo dessas forças; interrogando as inúmeras formas de autoridade a que o educador está sujeito; orientando-o para a gestão da incerteza e da complexidade; questionando os interesses aos quais a escola serve; mantendo a esperança na possibilidade de melhorar as condições irracionais, injustas e insatisfatórias da educação. A supervisão escolar agora passa a coordenar as atividades pedagógicas, programas, projetos, controle da qualidade da educação, auxílio aos professores/as, construção coletiva da proposta política-pedagógica da escola, de incentivo aos educadores/as na ação-reflexão-ação, na função social da escola e do processo educativo, ou seja, de coordenar as atividades da escola para a melhoria da qualidade da educação torna-se, assim, um caminho que não mais tinha caráter de vigilância e punição. A função supervisora Rangel (2008, p.75) varia dependendo de estados já que “incluem-se nessa terminologia as expressões supervisão, supervisão educacional, supervisão escolar, pedagógica, coordenação de turno, coordenação de área ou disciplina.” Segundo Rangel (2008, SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 152 p. 74) dentre essas nomenclaturas “uma das mais relevantes atividades supervisoras, das mais a identifica e define, é a coordenação, ou seja, a organização comum do trabalho”. Para Placco, Almeida e Souza (2015) a coordenação pedagógica possui três funções primordiais: articuladora, formadora e transformadora. Corroborando com isso, Placco e Souza (2012, p. 19) diz que a coordenação pedagógica é essencial na escola, principalmente “como articulador das ações, como formador dos educadores, e, como transformador das condições de ensino e aprendizagem.” Deste modo, a supervisão passa a ter como principais funções coordenar as atividades pedagógicas como um todo, e deixar de serum profissional fiscalizador que pensa no quantitativo e ignora as relações sociais, formativas e desenvolvimentos de planos, programas e projetos pensando qualitativamente para a qualidade da educação. 5 ANÁLISE EMPÍRICA E TEÓRICA O supervisor possui papel importantíssimo na Pedagogia de Projetos, pois esse método pode ser um viés alternativo para a interdisciplinaridade no qual possa contextualizar o ensino com o contexto social, cultural e político, onde os sujeitos partícipes no processo educativo estejam inseridos. Em resposta ao questionário na Pesquisa de Campo, a supervisora escolar afirma que “os projetos são de suma importância quando bem elaborados e acompanhados, visando a interação e participação do educando/ e dos educadores [...]” (SUPERVISORA ESCOLAR). Podemos destacar na fala acima que a supervisora reconhece o valor da Pedagogia de Projetos para integrar as ações dos/as estudantes no processo educativo, como afirma Pinheiro (2015, p.7) dizendo que “o trabalho por meio de projetos vem contribuir para essa valorização do educando e tem se mostrado um dos caminhos mais promissores para a organização do conhecimento escolar a partir de problemas que emergem das reais necessidades dos alunos”. Desta forma, levar em consideração as opiniões de discentes, docentes e comunidade é imprescindível para contextuar as propostas pedagógicas da escola com a realidade da SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 153 comunidade, até porque a escola deve estar a serviço da comunidade. Nesse sentido Molina e Freitas (2011) dizem que: E relevante incorporar no trabalho pedagógico a materialidade da vida real dos educandos, a partir da qual se abre a possibilidade de ressignificar o conhecimento científico que, em si mesmo, já é produto de um trabalho coletivo, realizado por centenas e centenas de homens e mulheres ao longo dos séculos. (p.26) Por acreditar que os projetos são fundamentais para a educação, a supervisora afirmou que foram desenvolvidos diversos deles ao longo do ano letivo, tais quais “[...] o projeto meio ambiente, de leitura, junino e sobre a emancipação política da nossa cidade.” (SUPERVISORA ESCOLAR). A mesma ainda acredita que a Pedagogia de Projetos realizada na instituição onde atua é importante, posto que “desenvolver o hábito da leitura na criança é fundamental. Assim como, proporcionar o conhecimento e a conscientização acerca dos temas que envolvam o meio ambiente através dos projetos.” (SUPERVISORA ESCOLAR). A afirmação da supervisora confirma que trabalhar com projetos pode ser o viés que a educação precisa para contextualizar e possivelmente solucionar os problemas presentes na comunidade. Também, trabalhar na sensibilização das questões contemporâneas que estão em discussões mundiais como o meio ambiente. A mudança de caráter pedagógico disciplinar para interdisciplinar é sem dúvida uma das maiores discussões que fundamentam a importância da Pedagogia de Projetos fundada na percepção de que a aprendizagem advém a partir da resolução de condições didáticas significativas para os educandos/as. Também, de acordo com a supervisora, as potencialidades no seu trabalho para a contextualização com a realidade social e cultural dos sujeitos do campo, em relação à Pedagogia de Projetos é “elaborar projetos que visam a realidade do educando é, sem dúvidas de muita relevância, pois enfatiza as potencialidades sociais ao qual o aluno está inserido [...]” (SUPERVISORE ESCOLAR). E é justamente pela formação cultural, de informações, conhecimentos, habilidades de compreensão intensamente construídas que os sujeitos mais desprovidos de recursos financeiros SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 154 da nossa sociedade podem conquistar direitos, ter uma vida melhor como cidadãos (ãs), ser mais participativo e democrático (LIBÂNEO, 2003). Assim, no tentamento da formação e contextualização cultural, social, política, econômica e transversalmente ao desenvolvimento do senso crítico e autonomia, da investigação e da possibilidade dos educandos/as e professores/as resolverem problemas em/com situações legítimas de vivência e experimentações no contexto geográfico rural, é imprescindível considerar o desenvolvimento da pedagogia de projetos a formação cultural e intelectual da realidade, a participação, marginalização que os camponeses (as) sofrem e pobreza contextual. Cumpre sublinhar que a supervisora escolar, sujeito dessa investigação, acredita que os projetos desenvolvidos no campo são importantes para a contextualização e devem partir das vivências na comunidade, ou seja, os fatos e/ou fenômenos referentes à vida na área rural, bem como as subjetividades e peculiaridades existentes neste ambiente. 5.1 Pedagogia de projetos: Construção dos projetos segundo a supervisora escolar Sobre as fases para a elaboração dos projetos, diversos autores/as orientam a construção de várias maneiras, mas, considerando o referencial teórico da presente investigação, podemos inferir que os fatos e/ou ocorrências dentro de um contexto e em sua globalidade na Educação do Campo é fundamental para não fugir da realidade e experiências socioculturais. Em reposta ao questionário sobre como os projetos são desenvolvidos na escola onde atua, a supervisora escolar respondeu que “os projetos foram construídos a partir de uma reunião, juntamente com professores e direção, nas quais apresentei as propostas, dessa forma foi decidido em comum acordo os temas mais relevantes” (SUPERVISORA ESCOLAR). Ou seja, a supervisora afirma que a escolha dos temas e os projetos que serão realizados é feita “de forma coletiva, entre professores, direção e coordenação” (idem). Mas essa coletividade é questionável, pois a supervisora elabora os temas e apresenta para os professores/as e nesse momento é decidido os que são mais importantes a serem desenvolvidos naquele ano letivo. Também, observa-se que os discentes e a comunidade não participam SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 155 diretamente da escolha dos temas, constituindo-se em um processo de construção pedagógica não democrática do ponto de vista da fase dialógica intencional. A participação da comunidade camponesa é essencial, pois, para Pires (2012, p. 43) “conhecimento e o reconhecimento, o resgate, o respeito, e a afirmação da diversidade sociocultural dos povos do campo são fundamentais.” Mesmo à revelia da participação coletiva, a supervisora escolar acredita o que se segue em relação à ausência da deliberação conjunta: “apesar dos estudantes e a comunidade não participarem do processo de construção, suas opiniões são levadas em consideração no desenvolvimento”. (SUPERVISORA ESCOLAR). A fala mostra que a supervisora escolar não constrói a Pedagogia de Projetos ouvindo o corpo discente desde o início do processo, mas, apenas na terceira etapa, a do desenvolvimento. Isso pode ocasionar desinteresse no educando/a e/ou desenvolvimento descontextualizado e que não representa os interesses da comunidade e estudantes. Todas e todos envolvidos no processo educativo devem contribuir para uma educação que possua significado na vida dos sujeitos do campo. Com pertinência às etapas para a construção e implementação da Pedagogia de Projetos, segundo a supervisora escolar são: Objetivos geral e específicos: são os objetivos ao qual se quer alcançar com a realização do projeto; Conteúdos: os temas que serão abordados; Tempo e materialnecessário: duração do projeto e listagem do material utilizado para a sua realização; Metodologia: onde são discriminados passo a passo como o projeto será realizado; Avaliação: aspectos aos quais os alunos serão avaliados em todo o desfecho do projeto. (SUPERVISORA ESCOLAR) Embora a supervisora não tenha posto a fase Desenvolvimento Prático, ou seja, a aplicação do projeto, demonstra estar mais ou menos alinhada com o referencial teórico dessa investigação. Também, como já mencionado, a participação dos educandos/as e da comunidade na formulação dos temas a partir do contexto do campo, não está presente na Pedagogia de Projetos desenvolvida na escola na qual a profissional trabalha. Outro aspecto que chama a atenção é que a supervisora coloca que “[...] os alunos serão avaliados em todo o desfecho do projeto.” Assim, firma a visão de que os alunos são quem serão avaliados e não o projeto. Como saber se o projeto foi eficaz? Houve contextualização? SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 156 O que a comunidade achou do projeto? O que os docentes acharam do projeto? Essas são perguntas que não podem ser respondidas sem a participação de todos. Em resposta ao questionário sobre a avaliação dos projetos a supervisora entrou em contradição dizendo que “a avaliação é feita internamente, listando pontos positivos e negativos. Em seguida, através de reuniões, é feita uma avaliação juntamente com a comunidade” (SUPERVISORA EM ENTREVISTA). Em um primeiro momento a supervisora deixa claro que na realização dos projetos o que se avalia é o desempenho dos estudantes. Na fala acima ela diz que avalia em conjunto com a comunidade. Sempre no processo avaliativo de um projeto deve-se respeitar as diferentes opiniões, pois isso auxilia na compreensão de que sendo sujeitos com singularidades e pluralidades, conhecimentos e vivências próprias, seja no âmbito escolar ou fora dos muros da escola, fortalece o processo democrático de educação (ESTEBAN, 2002). Podemos então, dizer que a avaliação é fundamental no processo da Pedagogia de Projetos porque nesse momento acontecem as ponderações sobre os pontos positivos, negativos e a real aprendizagem de todos: A aprendizagem passa a ser vista como um processo complexo e global, onde teoria e prática não estão dissociadas, onde o conhecimento da realidade e a intervenção nela tornam-se faces de uma mesma moeda. A aprendizagem é desencadeada a partir de um problema que surge e que conduz à investigação, à busca de informações, à construção de novos conceitos, à seleção de procedimentos adequados. (PINHEIRO, 2015, p. 12) Assim sendo, a autora afirma que as vivências práticas e as teorias estão intimamente ligadas, a Pedagogia de Projetos deve partir dos problemas e intenções do cotidiano e assim elaborar métodos ou metodologias que mais se encaixam para resolver essas situações problemas. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo dos anos a supervisão escolar passou por diversas transformações na visão do seu trabalho como fiscalizador, também na identidade profissional. E nessas mudanças resultam na possibilidade de um profissional que coordena o trabalho pedagógico no âmbito democrático e participativo. SUPERVISÃO ESCOLAR E A PEDAGOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO Mikael Jurandir da Silva | Glaide Pereira Silva Revista Científica do UniRios 2020.2| 157 Pode ser considerada como elemento primordial na construção da Pedagogia de Projetos, porém, por si só, a supervisão escolar não pode ser responsabilizada por essa tarefa. Deve ser construída de forma coletiva, considerando as opiniões de todos os envolvidos/as para que possa ter legitimidade popular. Esse profissional inserido na Educação do/no Campo é essencialmente pautado na interação entre os seus sujeitos e a relação com o fazer e ser do campo. Desta forma, trabalhar nesse território específico com a Pedagogia de Projetos é, ou deveria ser, uma atividade fundamentalmente voltada para a vida no campo e os problemas enfrentados pelos agricultores e agricultoras da comunidade, concretizando a educação contextualizada, que tenha uma significância social, cultural, histórica e dos valores éticos e morais, condizentes com os sujeitos do campo e seus conhecimentos próprios. Quanto aos objetivos dessa pesquisa, é possível constatar que a supervisora compreende a importância dos projetos para contextualização da Educação do Campo e que diversos projetos foram realizados durante o ano letivo. Também que os projetos são realizados em várias etapas e são avaliados coletivamente. Porém, essa coletividade não envolve os alunos e a comunidade no processo de construção dos projetos. Isso pode resultar em projetos desarticulados com a realidade camponesa e consequentemente causar desinteresse dos educandos e da comunidade na participação dos projetos. Por fim, o supervisor/a escolar tem papel importante na Pedagogia de Projetos e que essa abordagem pode ser um caminho possível para usar e/ou implementar a interdisciplinaridade, trabalhar o contexto sociocultural e sociopolítico, desenvolvendo sujeitos independentes, autorreflexivos, autênticos, críticos, participativos e politizados, construtores e reforçadores do processo democrático da Educação do/no Campo. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. SOUZA, Vera Lucia Trevisan de. Retrato do coordenador pedagógico brasileiro: nuances das funções articuladoras e transformadoras. In: ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. (Orgs.) O coordenador pedagógico no espaço escolar: articulador, formador e transformador. São Paulo: Edições Loyola, 2015. 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