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ALEGAÇÕES FINAIS na forma de memoriais

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ARACAJU, DO ESTADO DE SERGIPE.
Processo n. ...
ADRIANA, já devidamente qualificada nos autos do processo acima epigrafado, por seu advogado ao final assinado, vem perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 493, § 3º, do CPP, oferecer ALEGAÇÕES FINAIS na forma de memoriais, com base nos argumentos de fato e de direito a seguir expostos.
DOS FATOS
Conforme narrado na denúncia, Adriana, no dia 18/03/2018, então com 19 anos de idade, teria furtado um celular pertencente a Ana, em uma faculdade na cidade de Aracaju/SE. 
Com base nesses fatos foi denunciada pela prática do crime de furto, previsto no art. 155, caput, do Código Penal.
Verifica-se que o Ministério Público deixou de oferecer proposta de suspensão condicional do processo, destacando que o delito de furto não é de menor potencial ofensivo.
A denúncia foi recebida e houve regular instrução do processo. 
Em juízo, a vítima Ana confirmou ter deixado seu celular acoplado à tomada, mas que Adriana o subtraíra.
Adriana, em seu interrogatório, confirma os fatos, mas esclarece que acreditava que o celular subtraído era o seu e, por isso, levara-o para casa.
DO DIREITO
PRELIMINARMENTE
Do oferecimento da suspensão condicional do processo
De acordo com o art. 89 da Lei 9.099/95, caberá ao Ministério Público oferecer a suspensão do processo quando a pena mínima cominada ao crime imposto for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, preenchidos os demais requisitos legais, dentre os quais a primariedade do agente e a presença dos requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena. 
Verifica-se que o delito imputado a Adriana, que não está sendo processada e nunca foi condenada por outro crime, possui cominação mínima de um ano, o que significa que a proposta de suspensão condicional do processo devia ter sido oferecida pelo Ministério Público quando do oferecimento da denúncia, por ser um dever imposto por lei. 
Tendo em vista que não foi oferecida a proposta da suspensão condicional do processo, deve ser imposta a nulidade de toda instrução processual, nos termos do art. 564, IV do Código de Processo Penal.
NO MÉRITO
Da ocorrência do erro de tipo essencial
Adriana, na data do fato, ao final da aula, resolveu ir comprar um café na cantina, tendo deixado seu celular carregando na tomada. Ocorre que ao retornar retirou o celular de Ana da tomada achando que era o seu. Quando inquirida em juízo, confirma os fatos, mas esclarece que acreditava que o celular subtraído era seu e, por isso, levara-o para casa. 
Conforme art. 155 do Código Penal, pratica furto quem subtrai coisa alheia móvel para si ou para outrem, sendo que de acordo com o esclarecido por Adriana ela incorreu em erro em relação a uma das elementares do tipo penal do furto, qual seja, a coisa alheia móvel, pois levou o celular de Ana para casa achando que era o seu, equívoco tal que exclui a configuração do crime. 
O art. 20 do Código Penal aduz que o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo.
Na conduta de Adriana não restou caracterizado nem o dolo nem a culpa, sendo que o erro de tipo que ela incorreu era escusável, achava de forma sincera que não estava praticando um crime, movida por um equívoco.
Resta, assim, absolutamente, caracterizada a atipicidade de sua conduta. Ainda que o erro fosse inescusável, não há previsto no delito de furto a modalidade culposa. Deve, pois, ser absolvida nos termos do art. 386, III ou VI, do Código de Processo Penal.
Da fixação da pena no mínimo legal
Observa-se nos autos, que se trata de ré primária, sendo as circunstâncias do art. 59 do Código Penal favoráveis, uma vez que não há a presença de agravantes ou causas de aumento de pena, devendo, por conseguinte, a pena ser fixada em seu mínimo legal.
Da confissão e menoridade relativa
A ré confessou em juízo o fato, ainda que tenha se movido por lapso. Dessa forma, na segunda fase da dosimetria deve ser reconhecida a atenuante da confissão, prevista no art. 65, III, d, do Código Penal, e reconhecida de igual forma, a atenuante da menoridade relativa (art. 65, I, do Código Penal), pois à época do fato contava com 19 anos de idade.
Do arrependimento posterior
Adriana está sendo acusada de um crime em que não houve o emprego de violência ou grave ameaça, sendo que restituiu, por livre e espontânea vontade, o bem da suposta vítima quando viu se tratar de um engano. Dessa forma há a possibilidade de se reconhecer o arrependimento posterior, e a redução da pena na sua fração máxima, qual seja, dois terços, nos termos do art. 16 do Código Penal. 
Da substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos
A pena a ser aplicada a acusada não passará de quatro anos, na conduta não houve o emprego de violência ou grave ameaça, ela não é reincidente em crime doloso, assim, no caso de aplicação de pena privativa de liberdade, esta deve ser substituída por penas restritivas de direitos, pois presentes todos os requisitos do art. 44 do Código Penal. 
Do regime aberto de cumprimento de pena
O regime inicial de cumprimento de pena deve ser o aberto, pois preenchidos os requisitos do art. 33, § 2º, c, do Código Penal, que prevê que o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer:
a) Nulidade da instrução processual em razão do não oferecimento da proposta da suspensão condicional do processo. 
b) Absolvição com base no art. 386, III ou VI do Código de Processo Penal, em decorrência do reconhecimento do erro de tipo essencial. 
c) A aplicação da pena base em seu mínimo legal, diante das condições favoráveis do art. 59 do Código Penal.
d) O reconhecimento, na segunda fase da dosimetria, das atenuantes previstas no art. 65, I e III, d, do Código Penal. 
e) A aplicação da redução de pena em sua fração máxima em virtude do arrependimento posterior previsto no art. 16 do Código Penal.
f) Em caso de aplicação de pena privativa de liberdade a sua substituição por penas restritivas de direitos, nos termos do art. 44 do Código Penal. 
g) No caso do douto juiz entender pelo efetivo cumprimento de pena privativa de liberdade que seja estabelecido o regime aberto, nos termos do art. 33, §2º, c, do Código Penal. 
Termos em que, pede deferimento.
Aracaju/SE, 29 de agosto de 2018.
Advogado ...
OAB...

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