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CRIMINAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG
Autos n° (XXX)
Janice, já qualificada nos autos da ação penal acima indicado, por seus procuradores, vem, a Vossa Excelência, com fulcro no art. 593, I, do Código de Processo Penal, interpor
RECURSO DE APELAÇÃO 
Em face da decisão de fls. xxx, que condenou a recorrente a pela prática de furto qualificado, tipificado no art. 155, §4º, II do Código Penal, em ação movida pelo Ministério Público, o que faz pelas razões em anexo.
Termos que pede,
E espera deferimento.
Belo Horizonte, 22 de outubro de 2020.
Advogado (XXX) / OAB (XXX)
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Apelante: JANICE (XXX)
Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO
Autos de Origem nº: (XXX)
Vara de Origem: ___ Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte/MG
RAZÕES DE APELAÇÃO
O mérito da denúncia trata-se de suposta prática de delito de furto qualificado, enquadrado no art. 155, § 4º, II do Código Penal.
Segundo consta da denúncia, a acusada teria furtado o tablet de sua amiga em sala de aula, havendo abuso de confiança. 
Apesar do erro ocorrido ao efetuar a troca dos tablets da tomada em sala de aula durante o intervalo, a denúncia foi indevidamente recebida, o que merece ser revista uma vez que ocorrera o erro de tipo, conforme passa a demonstrar.
Após o trâmite regular, a ação obteve a seguinte decisão:
Condenação a uma pena de dois anos de reclusão em regime semiaberto, com sua execução suspensa nos termos do art. 77 do Código Penal.
Ocorre que referido decisum merece reparo, consoante demonstrado a seguir.
 I - DO DIREITO
JANICE foi denunciada pelo Ministério Público pela prática de furto qualificado por abuso de confiança. Durante uma Oficina Jurídica de sua Universidade UNA, deixou seu tablet acoplado em um tomada dentro da sala e, na hora do intervalo, fora à cantina realizar um lanche enquanto seu tablet carregava. Após seu retorno, Janice foi informada pelos outros presentes que o professor havia encerrado a aula antes do horário e que todos seriam dispensados. Assim, Janice foi até a tomada onde havia deixado seu tablet, e com pressa, juntou todos seus pertences em sua bolsa. 
Ao chegar em sua residência, Janice foi informada de que havia sido feita a ocorrência na Delegacia em seu desfavor, devolvendo o bem no dia seguinte antes mesmo de qualquer busca e apreensão do bem ou atitude policial, restituindo a coisa subtraída.
É notória que a acusação não merece prosperar, sendo evidenciado o erro de tipo, resultando na ausência de consciência do ato praticado, não havendo qualquer conhecimento em virtude da ilicitude do fato, mas, o pratica.
Neste sentido, cabe ressaltar o art. 20 do Código de Processo Penal:
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
Ao retirar o tablet da tomada, Janice não teve a intenção de subtrair o objeto de Angélica, tendo em vista que o tablet de sua propriedade estava acoplado no mesmo lugar do bem da vítima, ocorrendo o erro de tipo, cabendo o afastamento do dolo.
Conforme art. 386, III do Código Penal, haverá absolvição do réu quando este não constituir o fato infração penal. A vontade, a racionalidade, de cometer o ato ilícito é elemento subjetivo para atribuição do dolo, e este, sendo realizado em paralelo, não caracteriza a responsabilização.
Nestes termos, deve a sentença ser reformada pela constatação do erro de tipo e sua consecutiva absolvição, conforme demonstrado os fundamentos de direito.
II – DA NÃO OCORRÊNCIA DO ABUSO DE CONFIANÇA
Caso a tese anterior não seja acolhida e o entendimento seja pela condenação, insta analisar se realmente incidiu no caso concreto a qualificadora do art. 155, § 4º, II.
No caso em tela, não há que se falar em furto cometido com abuso de confiança, pois conforme explica a própria vítima, ela não tinha contato com Janice, porque ela era aluna de outra sala, tendo a visto somente nos corredores da instituição, descaracterizando o cometimento do furto por abuso de confiança merecendo reforma da pena aplicada, estando diante de um furto simples enquadrando-se na pena de um a quatro anos e multa.
Destaco que a pena aplicada ao crime de furto simples, está respaldada pelo preenchimento de sua aplicabilidade do art. 89 da Lei 9099/95, tendo em vista, atender todos os requisitos para o oferecimento da suspensão condicional do processo.
De todo modo, caso este Egrégio Tribunal entenda pela permanência da sentença fixada pelo juizo a quo, destaco que este se equivocou ao não considerar as hipóteses de diminuição da pena. Sendo assim, podemos destacar que a Ré é menor de 21 anos e confessou espontaneamente perante a autoridade, que se equivocou ao trocar os objetos, ensejando assim em ateanuação da pena cominada, conforme assim prevê o artigo 65, I e III, d, do Código Penal, vejamos:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;
[...]
III - ter o agente:
[...]
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
Outro fato importante a ser ressaltado é a hipótese é a redução da pena por circunstâncias de arrependimento posterior, elencadas no artigo 16 do código penal, vejamos:
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
Conforme assim exposto, resta evidente a falha no calculo da pena, uma vez que o juizo a quo, não reconheceu as duas hipóteses de atenuação da pena, tão como, não considerou a hipótese de redução da pena cominada. Desta forma, pelos fatos supracitados, requer a diminuição da pena fixada.
III- DA IMPOSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE PENA NO SEMIABERTO
Saliento que o juiz fixou a pena de dois anos de reculusão definitiva a ser cumprida em regime de semiaberto. Contudo, a fixação da pena foi inferior a quatro anos e a Ré não é reicidente. Deste modo, deve-se aplicar o regime aberto para cumprimento da pena, conforme assim prevê o artigo 33 , §1°,c, §2°,c, do Código Penal, vejamos:
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Considera-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
Sendo assim, resta claro que houve um equivoco do Juiz a quo, na aplicação do regime da pena. Desta forma, a Ré solicita a converção de pena de semiaberto em regime aberto, visto que esta cumpre todos os requisitos para cumprimento da pena neste molde.
III- DOS PEDIDOS.
Perante todo o exposto, a parte solicita em carater de urgência para que o presente recurso seja devidamente reconhecido e provido, reformando a sentença penal condentória, nos seguintes moldes:
a) Requer que absolva a Ré, pelas razões expostas no artigo 20 do Código Penal e Artigo 386, III, do Código de Processo Penal.
b) Caso não acate pela absolvição, que considere a manutenção da pena aplicada, com as respectivas diminuições e atenuantes elencadas nos artigos 65, I, II, d, e 16 do Código penal. Tão como, que considere o crime como furto simples, previsto no artigo 155, do Código Penal, convertando a pena do regime semiaberto para o aberto, conforme assim prevê o artigo 33, §1°,c, §2°, c, do Código Penal.
Nestes termos, pede o deferimento.
Belo Horizonte,22 de outubro de 2020.
Advogado (XXX) / OAB (XXX)

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