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entrevista - trabalho estagio

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
ALUNA: TATIANA FREITAS MENESES BAPTISTA
MAT.201703074378
ESTÁGIO SUPERVISIONADO I
TRABALHO AV2
MACAÉ
1
	2019.2
	
No dia 13 de novembro de 2019, foi realizada a entrevista com a psicóloga Cristine Kuhner CRP 05/56149, na Fundação Joanna de Ângelis, que se localiza na Rua Vassouras, Lt 20 Qd 16- Jardim Mariléa/ Rio das Ostras - RJ, com o intuito de conhecer o trabalho da psicóloga e técnicas utilizadas pela mesma.
A psicóloga entrevistada tem como atuação principal a área clínica e sua formação em psicologia embasada na linha de abordagem psicanalista. 
O trabalho que ela realiza na Fundação citada se insere no campo da Psicologia Social e Comunitária em interface com a Psicologia Jurídica, pois os fenômenos do estudo vão de encontro com a produção de conhecimento deste campo em relação a compreensão e posicionamento frente a transformação da realidade social de cada indivíduo que participa de algum projeto que a instituição oferece. Embora esse trabalho na instituição se dê por meio destes campos da psicologia, a psicóloga entrevistada faz questão de ter sua referência apenas como psicóloga voluntária.
Entrevista
1. Porque você se interessou em ser voluntária nessa Instituição?
R: “Bom, o trabalho voluntário foi uma coisa que sempre suscitou dentro da minha vida, na verdade eu comecei com trabalho voluntário na época de escola, foi quando eu fiz o meu primeiro trabalho onde os alunos eram responsáveis por uma creche, e desde então eu comecei a ter meu olhar voltado para o social, de pensar o que cada um, independente da formação pode fazer para atuar na sociedade, mas com a sua responsabilidade como cidadão, o que cada um pode acrescentar para uma sociedade melhor”.
2. Como é o seu trabalho na Fundação?
R: “Aqui eu tenho dois trabalhos, dois papéis na verdade. Eu entrei como voluntária especificamente para fazer o atendimento clínico que a Instituição fornece a comunidade por meio de seus projetos sociais, após seis meses fui convidada pela coordenação jurídica da fundação para desenvolver um projeto com o “grupo amanhecer” que são apenados que a justiça estadual e federal manda para a Fundação para cumprir o restante de sua pena como alternativa prestando algum tipo de serviço aqui com a gente e eu entro com o acompanhamento psicológico desse grupo, desde o atendimento individual por alguma questão especifica como também o trabalho com o grupo todo.”
3. Quais profissionais estão envolvidos nesse projeto?
R: “Nossa equipe é formada por dois advogados que fazem essa ponte com os órgãos da justiça estadual e federal, duas assistentes sociais que recebem os apenados e fazem o primeiro atendimento com eles, a coordenação do projeto e na área da psicologia eu e mais uma psicóloga voluntária. Temos também os médicos (cardiologista, ginecologista, pediatra e clinico geral) que de alguma forma também fazem parte do projeto, pois os apenados e suas famílias tem direito a esses atendimentos se necessário.”
4. Qual seu papel como psicóloga nesse projeto da fundação?
R: “Acho que meu papel aqui se dá em fazer o sujeito se implicar na sua própria condição, não é no sentido de dar o caminho e mostrar quais são as possibilidades, mas sim de fazer com o que o próprio sujeito consiga identificar um caminho possível pra ele dentro de suas próprias possibilidades, mas não dele ficar preso a uma única questão, como por exemplo a do que trouxe ele aqui e não só o que o trouxe, mas tudo o que está em torno dele, o que isso representa, em qual condição que ele se vê nisso, a sua responsabilidade, o que ele pode fazer a partir disso, como que é a influência relacionada a vida dele familiar também, buscar esse olhar de como ele se posiciona perante a vida, perante os outros e perante a si mesmo e como que ele trabalha isso”.
5. Qual o público alvo que você atende na Fundação?
R: “Cumpridores de penas alternativas ou penas extensivas em regime aberto que a justiça manda e que varia muito de faixa etária (de 18 a 55 anos mais ou menos dentro do que já atendi) dependendo do delito, já tivemos no grupo pessoas de comunidade e com renda e escolaridade baixa, mas já tivemos também pessoas graduadas e com condição financeira boa, isso varia muito, então fica complicado definir um público. No projeto social voltado para comunidade atendo qualquer pessoa acima de 12 anos que procure a fundação para o atendimento psicológico, em breve estaremos atendendo crianças menores de 12 anos também”.
6. Qual técnica é aplicada nas reuniões de grupo? Alguma dinâmica ou atividade que pudesse citar e a finalidade da mesma?
R: “Olha, eu uso a dinâmica no sentido de explorar um pouco a fala deles e de possibilitar que um determinado tema possa surgir e a partir daí que a gente possa trabalhar isso, uma dinâmica as vezes pra eles poderem também se construir no sentido de poder se identificar e falar um pouco mais de si, então essas dinâmicas visam um pouco esse tipo de trabalho, mas eu uso mais a fala, como uma roda de conversa sempre trabalhando as questões que eles me trazem no dia. Porque é um grupo que não é muito homogêneo no sentido de ser sempre as mesmas pessoas, então não tem uma continuidade, de um grupo pra outro, de um dia de trabalho para outro, porque são sempre pessoas diferentes apesar de que sempre um número limitado de pessoas, eu já tive dias no grupo com duas pessoas e já tive dias com quinze pessoas, então isso é muito variado também. Eu gosto muito de usar poesia, volta e meia eu trago bastante, a partir da poesia que é a palavra, ela pode suscitar, ampliar e abrir bastante as questões pessoais e isso é bem bacana e tem sido um bom recurso”.
7. Como é a questão de documentação dos atendimentos, no caso das reuniões de grupo?
R: “Existe a documentação jurídica, como assentada de cada apenado e toda essa documentação burocrática que fica com a coordenação do projeto amanhecer e que eu também tenho acesso caso seja necessário.
Eu tenho que fazer um relatório que a gente tem que manter no arquivo dos atendimentos em função ao conselho de psicologia, um prontuário, um relatório de atendimento, é isso que a gente tem que ter aqui disponibilizado caso o conselho venha aqui pedir ou faça algum tipo de fiscalização desse trabalho. Eu faço os relatórios tanto do trabalho clínico individual, quanto do projeto amanhecer. Esses do projeto amanhecer, são baseados no que foi feito em cada reunião, do que é trabalhado, se foi usado dinâmica, a proposta, queixas, o que se produziu e etc. Só pra deixar registrado que no caso dos relatórios produzidos e arquivados por mim, somente eu possuo acesso”.
8. Quais são os déficits e desafios desse serviço?
R: “Déficits eu acho que não seria a palavra mais desafio são vários. As questões que os apenados trazem como questões no que se refere a própria instituição, uma resistência com que é falado, questões de ordem, o porquê deles estarem aqui, o porquê de estarem cumprindo e o fato de ser uma instituição também religiosa, mesmo sendo bem separado essa questão de religioso e projetos sociais e a nossa atuação como profissional aqui dentro, eles tem uma resistência quanto a isso e levam para um lado de doutrinação, que é bastante trabalhado nas nossas reuniões com o grupo. 
Aqui tenho bastante dificuldade também com o espaço da estrutura da instituição, a acústica aqui também não é a mais adequada, me faz pensar sobre o sigilo de cada paciente. A limitação do funcionamento da fundação, por ser totalmente de funcionários voluntariados tem essa a questão de horário de funcionamento, então isso implica de as vezes você não ter horário para atender na clínica, aí a gente fica um pouco limitado nisso. Na sala que eu atendo, multiuso, dentro de um olhar psicanalista não é a mais adequada pra fazer um atendimento, mas a gente não pode ficar escolhendo e acaba trabalhando com que o que tem”.
9. É possível mensurar e avaliar os resultados?
R: “É meio difícil nesse quesito até porque quando um apenado cumpre a pena ele deixa de vir, ele não é maisobrigado a vir, então um feedback direto eu só tenho dos que cumprem penas mais longas e permanecem na instituição por mais tempo, com esses eu consigo fazer um trabalho mais aprofundado e ver os resultados”.
10. Como se percebe enquanto profissional dessa área?
R: “É um trabalho que me motiva bastante, eu busco estar sempre estudando e buscando mais a teoria para pôr em pratica e paralelo a isso também o que mais eu posso trazer e fazer por esse trabalho aqui na fundação, eu acho que ainda é um pouco recente pra mim, tem um ano que eu estou trabalhando com eles, mas no geral eu me sinto bem motivada não só no projeto amanhecer com os apenados, mais também com os atendimentos clínicos que faço aqui. O que me possibilita bastante é esse olhar dentro da instituição de um todo e ver o que mais a psicologia pode agregar na instituição, aos funcionários, a comunidade, nesse sentido entende”.
11. Qual a importância da psicologia comunitária e social na sua percepção enquanto profissional?
R: “Eu acho que é a possibilidade de inserir o sujeito dentro dessa realidade que a gente vive, de estar buscando e construir essa relação e mostrar para eles que eles têm a possibilidade de ser algo para além daquilo que é rotulado, dessa limitação imposta de sei lá, ser rotulado como pobre, apenado, alguém que está com uma carga jurídica nas costas e etc. Fazer com que eles enxerguem que cada um tem essa possibilidade de ser algo além disso, mas precisa também que eles queiram e busquem essa possibilidade, precisa que haja movimento da parte deles para isso”.
12. Como a gente poderia pensar ou como você pontua a importância da Psicologia Comunitária e Social para o mercado, entendendo mercado enquanto campo de trabalho dos psicólogos? E também, pensar a importância para a sociedade em geral.
R: “A psicologia está a cada ano se fortalecendo e mostrando essa importância de estar inserido no contexto social, não só na abordagem da psicologia social, mas nas outras também. A gente hoje vê muito os problemas nas escolas e em instituições ligadas diretamente a sociedade, a importância do psicólogo estar inserido nessas instituições é muito nítida. É um campo de trabalho grande, mas com uma remuneração muito precária ainda, dá pra trabalhar muito como voluntário, fora isso pra atuar nesse seguimento tendo fonte de renda, você tem que procurar as políticas públicas, concursos, mediante SUS, CREA, CRAS, CREAS, CAPS que é onde você vai conseguir atuar nesse seguimento. Em relação a salário eu estou bem por fora, só sei mesmo o que é divulgado através de concursos”.
13. Pensando na questão da dificuldade da atuação do psicólogo comunitário, pensando em todo o processo que é bem burocratizado, você acredita que há também certa negação dentro da própria categoria de profissionais psicólogos, que de alguma forma, alguns pensam muito na questão individual e negam o social? Você vê alguma barreira dentro da própria categoria, o que você acha?
R: “Seria uma resposta muito particular pois eu não tenho me envolvido tanto nessas questões de classe e debates.
Dentro do meio e com colegas que eu convivo eu acho que tem uma preocupação muito grande voltada para o social, eu percebo que na parte clinica tem havido uma preocupação muito grande voltada para esse assunto no sentido de possibilitar a pessoas que queiram o atendimento psicológico e não tenham condições de arcar com isso, cria-se os atendimentos sociais com valores mais razoáveis pra poder abranger essa questão social. Para além disso eu realmente não sei o que opinar”.
14. Em relação a visibilidade e reconhecimento da área da Psicologia Comunitária e Social, o que você acha disso?
R: “Eu acho que é uma coisa que vem crescendo sim, principalmente dentro das políticas públicas vem se buscando trabalhar bastante com grupos, inserir isso dentro dos hospitais, dentro dos setores públicos como na Prefeitura, CREAS, CRAS, CAPS, atendimentos com adolescentes, em instituições escolares e dentro das próprias comunidades. Eu acho que é importante essa relação da psicologia com as comunidades que buscam desenvolver essa autonomia do sujeito perante a sua própria realidade. Eu acho que isso é o mais importante de introduzir esses tipos de serviços e trabalhos buscando essa autonomia do sujeito de que ele é capaz, de que ele pode produzir e que a partir dele as transformações são possíveis e que ele não tem que esperar que alguém faça alguma coisa por ele, ele não tem que esperar que o estado determine o que ele pode fazer ou que não pode fazer, ou como pode fazer, pelo contrário é ele se voltar para o estado buscando as necessidades e alternativas, o que eles realmente precisam e então se colocarem para o estado. Nesse sentido é um movimento importante que vem crescendo e acontecendo. Nas instituições prisionais também, ainda é bem pouco mas existem alguns trabalhos, dessas rodas de conversas que acontecem nas instituições prisionais, a gente vê que isso tem se colocado em vários contextos”.

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