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Planos Genéticos do Desenvolvimento de Vygotsky

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VYGOTSKY
Uma forma muito interessante de entrar na concepção de Vygotsky sobre desenvolvimento, é uma questão que ele chamou de "planos genéticos do desenvolvimento". Que é uma ideia de que o mundo psíquico/o funcionamento psicológico não está pronto previamente. Ou seja, não é inato, não nasce com as pessoas, mas também não é recebido como um "pacote pronto" do meio ambiente. Vygotsky é um autor interacionista (ele leva em conta coisas que vêm de dentro do sujeito e coisas que vem do ambiente), assim bem como Wallon e Piaget. Mas, a postulação interacionista de Vygotsky ganha vida com os planos genéticos, onde ele fala em quatro entradas de desenvolvimento que juntas caracterizariam o funcionamento psicológico do ser humano.
1° FILOGÊNESE = A história da espécie humana. 
A Filogênese diz respeito a história de uma espécie animal, onde todas as espécies animais tem uma história própria. A partir daí existe uma definição de limites e possibilidades de funcionamento psicológicos, onde existem coisas que somos capazes ou não de fazer. Como por exemplo, sermos bípedes, termos as mãos liberadas para diversos outros tipos de atividades, temos uma determinada conformação da mão que permite movimentos finos, a visão binocular (por dois olhos). Diferentemente de algumas outras espécies animal, nós, seres humanos não podemos voar. Uma das características muito importante da espécie humana é a plasticidade cerebral, onde nosso cérebro se adapta a diversas circunstâncias diferentes e isso está ligado ao fato de sermos tão "inacabados" ao nascer.
2° ONTOGÊNESE = A história do indivíduo da espécie.
A Ontogênese que significa o desenvolvimento do ser, de um indivíduo de uma determinada espécie; onde esse ser passa por um percurso de desenvolvimento específico a sua espécie. Onde é fundamental o cumprimento de uma sequência lógica. Por exemplo, a criança que ao nascer fica apenas na posição deitada, depois começa a engatilhar e só depois de um determinado período aprende a andar.
3° SOCIOGÊNESE = A história cultural/meio cultural onde o sujeito está inserido.
A Sociogênese caracteriza as formas de funcionamento cultural que interferem/definem o funcionamento psicológico. Onde a cultura funciona como um alargador das potencialidades humana, como por exemplo, o fato de criar o avião sobre as circunstâncias de não poder voar por conta própria. Nesse sentido, a cultura pode ter uma compreensão historicamente diferente. Por exemplo, a puberdade. Onde a adolescência é vista sobre uma ótica diferente em determinado lugar. Variando as interpretações sobre os fatores de vaidade, comportamentos, necessidades biológicas e etc.
4° MICROGÊNESE = Um aspecto mais microscópico do desenvolvimento.
A Microgênese diz respeito ao fato de que cada fenômeno psicológico também tem a sua própria história. Por isso a ideia de micro; um foco bem definido. O que é interessante a respeito desse plano é o fato dela não ser "não determinista". Pois de certa forma a Filogênese e a Ontogênese carregam um certo determinismo biológico, onde o sujeito está atrelado as possibilidades da sua espécie e do seu momento de desenvolvimento como ser dentro daquela espécie. Na Sociogênese, existe um certo determinismo no que a cultura lhe possibilita se desenvolver ("até onde me permitem ir?"). Então, a Microgênese faz a gente olhar para o fato de que, como cada fenômeno tem a sua própria história e como ninguém tem uma história igual ao outro, vai aparecendo a construção de singularidade do indivíduo. Por exemplo, duas crianças socialmente parecidas em termos financeiros e etimológico. Ambas terão percursos de vida próprios que resultará em experiências distintas.
MEDIAÇÃO SIMBÓLICA
É a aquisição de conhecimentos realizada por meio de um elo intermediário entre o ser humano e o ambiente. Para Vygotsky, há dois tipos de elementos mediadores: os instrumentos e os signos - representações mentais que substituem objetos do mundo real.
É uma ideia de intermediação; de ter uma coisa interposta entre uma coisa e outra. No caso do ser humano, a ideia base de Vygotsky é de que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas é uma relação mediada, onde pode ser feita através de instrumentos e signos. A mediação de instrumentos é o fato de que a gente se relaciona com as coisas do mundo, usando ferramentas/instrumentos intermediários. Por exemplo, usar uma faca para cortar o pão, ou uma motosserra para cortar o tronco de uma árvore. Esses instrumentos da tecnologia estão fazendo uma mediação entre a minha ação concreta sobre o mundo e o mundo. 
Os signos são formas posteriores de mediação, que fazem uma mediação de natureza semiótica (simbólica). Nesse caso, existe uma interposição entre o sujeito e o objeto de conhecimento; o sujeito humano (o psiquismo) e o mundo; o eu e o objeto, de uma forma que não é concreta, como acontece com os instrumentos, mas é de uma forma simbólica. No entanto, existem algumas formas de signos que ainda tem uma existência concreta. Como por exemplo, as plaquinhas nas portas dos banheiros com a figura de algum objeto feminino ou masculino, para identificar o uso daquele ambiente por determinado gênero. Ou seja, isso é um signo que representa a ideia de feminino e masculino, onde "todo mundo" compartilha dessa informação e os usuários acertam de forma adequada a informação que a plaquinha quer passar. 
Mas também existem informações de natureza simbólica interpostas entre a intenção de fazer alguma coisa e a própria ação. Como por exemplo, deixar a minha vista um objeto que caracterize alguém, para que em dado momento apropriado eu lembre de ir encontrar essa pessoa. Ou seja, não se trata do próprio ato/característica de ir encontrar a pessoa. Mas, se trata de uma informação de natureza simbólica que está interposta entre a intenção de fazer alguma coisa e a própria ação de fato. E mesmo se tratando de um objeto concreto, visível por outros e marcado no mundo fora de mim, este não tem uma funcionalidade instrumental, mas sim simbólica.
Um outro plano em que aparece os signos, é o de TOTALMENTE SIMBÓLICO INTERNALIZADO, onde as coisas são postas para dentro do sistema psicológico e funcionam como mediadores semióticos/simbólicos. 
Com isso, aparece uma característica típica humana, que é a possibilidade de representação mental; a possibilidade de transitar por um mundo só simbólico. Como por exemplo, ao vermos uma mesa não é necessário esbarrar em sua quina ou então, apoiar-se em sua superfície para que seja percebido que aquele objeto se trata de uma mesa. Ou seja, apenas ao enxergá-la a mesma me remete a uma coisa de natureza simbólica que está em minha mente que representa a ideia/o conceito do que aquele objeto. Tanto em sua definição, imagem, nome e etc. 
Outro exemplo de relação mediada é quando uma criança encosta na chama da vela e se queima. Em um segundo momento, ao ver a vela, existirá uma lembrança que irá lhe remeter ao ocorrido. Com isso, ela não aproximará seu dedo muito perto da chama, pois saberá que aquilo pode lhe causar dor. Ou seja, na primeira vez é uma relação direta (criança + vela). Já na segunda vez, é uma relação mediada pela lembrança da experiência anterior. 
Também existe a intermediação feita por outro indivíduo. Como por exemplo, a mãe que fala para o filho não encostar na chama da vela pois pode queimar seu dedo. A obedecer, aquela situação não está sendo intermediada pela lembrança/própria experiência da criança, mas sim por influência de outrem. E esse fato é algo muito positivo no meio educacional, pois grande parte da medição do homem no mundo é guiada pelas experiências dos outros. Isso é essencial para os processos de crescimento histórico, pois assim, cada ser humano não precisa necessariamente começar tudo do zero.
PENSAMENTO E LINGUAGEM
Os signos são construídos culturalmente. O sujeito desenvolve a capacitação de representação simbólica inserido em uma cultura que fornece para ele um material para desenvolver esse campo do simbólico. O principal lugar que isso acontece é nalíngua. 
Todos os grupos humanos têm uma língua, e essa é o principal instrumento de representação simbólica de que os seres humanos dispõem. Vygotsky trabalha com duas funções básicas da linguagem. 
· Primeira função: comunicação.
Primeiramente as pessoas desenvolvem a língua para se comunicar, para resolver problemas de comunicação. Esse aspecto da língua também está presente nos animais. Eles se comunicam através de algum tipo de linguagem que podem ser gestuais ou emissões sonoras com o objetivo explícito de comunicação/troca de informações entre as espécies. 
A linguagem nasce para o ser humano como forma de comunicação. Como por exemplo, o choro do bebê. Seu primeiro ato de língua/linguagem é o choro. Mesmo que não haja um significado muito preciso, tal ato tem uma função comunicativa. 
· Segunda função da linguagem: Pensamento generalizante.
É onde a língua se encaixa com o pensamento. É nesta segunda função que a relação pensamento-linguagem é muito forte. O uso da linguagem implica uma compreensão generalizada do mundo. Isso quer dizer, ao nomear alguma coisa ocorre o ato de classificação. Por exemplo, ao chamar um cachorro de cachorro, está sendo colocado aquele ser em uma classe de objetos no mundo onde todos os outros seus semelhantes são agrupáveis em uma mesma categoria para o qual eu posso usar esse mesmo rótulo nominativo. Ou seja, ao ter uma palavra, ela serve para distinguir os objetos do mundo por categorias específicas. 
O uso da linguagem mais pensamento, é muito importante para definição do que é o funcionamento psicológico humano. Mas essa relação nas nasce com o sujeito, ela não aparece pronta. Isso é algo que é desenvolvido ao longo do desenvolvimento psicológico, tanto na Filogênese quanto na Ontogênese.
Na Filogênese existe a linguagem e existe pensamento separados. A linguagem tem o seu funcionamento principiante de comunicação. Como por exemplo, os chimpanzés. Eles utilizam de expressões faciais, gestos ou sons para comunicarem entre si. Esse fato tem apenas a função comunicativa. Ou seja, apenas a linguagem de forma isolada. No entanto, também existem primórdios de pensamentos (inteligência prática), onde existe uma atuação de resolver algum problema em um cenário inserido em um contexto perceptual imediato. Como por exemplo, pegar uma vara para conseguir puxar uma fruta ao seu alcance. Porém, isso se trata de uma inteligência prática, pois os componentes estão em um mesmo campo visual para que o problema seja resolvido. Ou seja, o chimpanzé não teria a capacidade de imaginar que precisa de uma cata para solucionar o problema. Isso é um indicador de que ele está funcionando em um plano apenas concreto e não simbólico. Existe a mesma semelhança de praticidade em uma criança pequena, onde antes da aquisição da linguagem, a criança pré-linguística tem essas pequenas ações baseadas apenas no campo concreto, sem a medição simbólica. Sendo que, em um determinado momento do desenvolvimento, essas duas potencialidades se unem e pensamento e linguagem se atrelam de maneira conjugada. O sujeito passa se comunicar com a linguagem com sistema articulado e a sua inteligência passa a ser abstrata, possibilitando o seu funcionamento em planos simbólicos como por exemplo, pensar no passado/futuro, criar algo e imaginar coisas. 
A língua é algo apropriado; acontece de fora para dentro. A criança nasce em um meio falante no qual ela vai se apropriar ao longo do seu desenvolvimento. O ponto de maior desenvolvimento da língua é o chamado discurso interior. Onde existe a capacidade interna de um funcionamento simbólico psicológico com o suporte da língua. Como por exemplo, ao pensar algo, não preciso externar isso com a minha fala.
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 
Para Vygotsky, o desenvolvimento se dá de fora para dentro, por causa da importância da cultura, a importância do sujeito na imersão de um mundo humano em volta dele. A aprendizagem aparece como algo extremamente importante na definição dos rumos do desenvolvimento. Para ele, é porque o sujeito aprende e faz coisas com que ocorra essa aprendizagem, é que faz com que ele se desenvolva. É como se a aprendizagem puxasse o desenvolvimento do sujeito, causando a ideia de que o caminho do desenvolvimento está em aberto. Ou seja, o fato de aprender é que vai definir por onde o desenvolvimento vai se dar. 
No caso de Piaget, esse desenvolvimento ocorre de maneira oposta (em uma espécie de motor endógeno "dentro para fora”). Para ele, por se desenvolver é que o sujeito pode aprender. Ele aprende porque está em determinado estágio do desenvolvimento.
ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL
O desenvolvimento deve ser olhado de maneira prospectiva e não retrospectiva. Ou seja, deve ser olhado para frente e não para aquilo que já aconteceu. 
Para explicar essa zona de desenvolvimento proximal, Vygotsky trabalha com dois conceitos:
O de desenvolvimento real: Que é o nível de desenvolvimento em que a criança já chegou. O olhar retrospectivo para aquilo que ela já tem. 
Nível de desenvolvimento potencial: É aquilo que a criança ainda não tem desenvolvido, mas pode-se imaginar que está próximo de acontecer. 
Então, entre aquilo que já está pronto e entre o que está próximo de se consolidar, é que Vygotsky localiza a chamada zona de desenvolvimento proximal. Que é um pedaço do desenvolvimento onde permite intervenção para operar transformações. 
Esse é um conceito muito flexível e não visível na prática. Por exemplo, não dá para comparar as zonas de uma criança para outras. Cada indivíduo tem um comportamento unânime.
A intervenção ativa de outras pessoas é algo crucial, pois o sujeito não percorreria caminhos e experiências de aprendizagem sem a intervenção deliberada de outrem em suas vidas. Interferir intencionalmente no desenvolvimento da criança é importante para a definição adequada de seus rumos na qual a cultura de sua vida está inserida.

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