Buscar

Filosofia_da_Mente_20183_FIL_SEC (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FILOSOFIA
FILOSOFIA DA MENTE
Júlio Di Santi
Sebastião Donizetti Bazon
UNIDADE 01 - O QUE É FILOSOFIA DA MENTE? 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Introduzir o campo de estudo da filosofia da mente. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Apesar de antiga, a filosofia da mente sofreu seus maiores avanços a partir 
da segunda metade do século XX. Em aproximadamente cinquenta anos, o 
progresso neste campo foi maior do que aquele dos últimos dois mil anos. A obra 
que estabelece este marco divisório é O Conceito de Mente, de Gilbert Ryle. 
Esta aceleração brusca se deu por causa do desenvolvimento de novos 
campos científicos como a neurofisiologia e a psicologia cognitiva – até mesmo o 
surgimento dos computadores fez com que se iniciassem novas reflexões sobre a 
natureza da mente. Nesta primeira unidade, veremos em que consiste a filosofia 
da mente. 
A filosofia da mente consiste em reflexões sobre o estado mental, que 
juntos chamamos de mente – alguns deles exemplificados abaixo: 
1) Sensações - como dores, calor, frio. 
2) Percepções- como ver, ouvir, tocar. 
3) Estados quase-perceptuais são os imaginativos – sonhar, imaginar. 
4) Emoções - como ódio, amor, medo. 
5) Cognições - processos racionais como compreender, aprender, pensar. 
6) Estados conativos - os de intenção, como querer e desejar. 
A partir desta separação, nos surgem inúmeros questionamentos, como: 
Qual é a natureza destes estados? São biológicos? Os computadores são também 
capazes de tê-los? O que é o eu? 
E tais questões, por sua vez, trazem reflexões que vão além da mente, 
como, por exemplo: O que é uma pessoa? Qual é a natureza da ação humana? O 
ser humano, e isso é claro, não é apenas mente, mas possui um corpo – mas suas 
ações são calculadas pela mente. 
Então, ao iniciarmos um estudo sobre a filosofia da mente, temos que, 
antes de tudo, investigar um de seus conceitos mais importantes: a consciência. 
Tal conceito é importante, pois ele é paralelo ao da mente – já que todo ser que 
possui uma mente é consciente. Vejamos a definição de consciência dada por 
Costa: 
“Podemos definir consciência? Embora ouça um coro a dizer que não, 
creio que sim, posto que todos nós sabemos perfeitamente o que 
queremos dizer com a palavra. Minha vaga e esquemática definição é a 
seguinte: consciência é a experiência integrada que a mente tem da 
realidade externa e interna. O conceito chave aqui é o de experiência, 
pois não há consciência sem experiência. Mas não se trata de qualquer 
produto experimental: nos sonhos, temos experiência sem chegarmos a 
ter consciência. E a razão disso é que a experiência no sonho não é das 
coisas que admitimos que realmente sejam; ela não é verídica, mas 
deceptiva, ilusória. Além disso, para ser do que realmente é o caso, a 
experiência precisa vir coerentemente unificada, integrada a outras.” 
(Costa, p. 10) 
 
Costa, então, cita D. M. Armstrong (1926 – x), que separa a consciência em 
duas modalidades: a externa e a interna. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
As duas modalidades de consciência defendidas pelo filósofo australiano D. 
M. Armstrong são as seguintes: há duas modalidades, a perceptual, que se 
relaciona com o externo, e a introspectiva, que trata do lado subjetivo. 
A parte perceptual é usada quando usamos nossos sentidos – sempre que 
estamos acordados ela está ativa. Assim, quando uma pessoa dorme ou desmaia, 
ela está sem consciência. Dessa forma, ela é definida como a experiência que 
temos da realidade externa – de tudo que está à nossa volta. 
A parte introspectiva é a reflexão e a autoconsciência. E é definida 
inversamente: é a experiência da mente sobre a sua realidade interna: de seus 
próprios estados mentais. Ela é constituída por pensamentos, cognições de 
ordens superiores – como, por exemplo – quando uma pessoa está com raiva e 
sabe que está com raiva, ela tem uma cognição de segunda ordem sobre seu 
estado mental de raiva. É a consciência introspectiva que monitora, planeja e 
prevê ações. 
Uma forma de expressão importante da consciência introspectiva é a do 
eu, pois o homem adquire consciência de si mesmo através da percepção de seus 
estados mentais, que se repetem em situações, formando seu temperamento e 
personalidade. 
Para melhor refletir sobre o assunto, trago um excerto sobre o conceito de 
consciência.1 
Função mental de perscrutar o mundo, conforme afirma Steven Pinker, a 
consciência é a faculdade de segundo momento – ninguém pode ter consciência 
de alguma coisa (objeto, processo ou situação) no primeiro contato com essa 
coisa; no máximo se pode referenciá-la com algum registro próximo, o que 
permite afirmar que a coisa é parecida com essa ou com aquela outra coisa, de 
domínio. 
A consciência, provavelmente, é a estrutura mais complexa que se pode 
imaginar atualmente. 
Na obra a mente humana, a consciência é instanciada, tecnicamente, em 
sete camadas: do nível zero, factual (onde as coisas acontecem), até uma atividade 
ômega, dois pontos acima do nível que experimentamos hoje (consciência 
padrão); aquele estado conhecedor que conhece, e que seria alcançado apenas 
pelo ser humano. 
António Damásio, em O Mistério da consciência, divide a consciência em 
dois tipos: consciência central e consciência ampliada. Inspirados na tese 
                                                            
1 Disponível: <pt.wikipedia.org/wiki/Consciência>, acesso em: 20/10/2014. 
damasiana, entende-se que a faculdade em pauta é constituída com uma espécie 
de anatomia, que pode ser dividida, didaticamente, em três partes: 
 
1. Dimensão fonte - onde as coisas acontecem de fato, o aqui agora: o meu 
ato de escrever e dominar o ambiente e os equipamentos dos quais faço 
uso, o ato do internauta de ler, compreender a leitura e o ambiente que o 
envolve a todos os instantes, etc. Essa dimensão da consciência não 
retrocede muito ao passado e, da mesma forma, não avança para o futuro; 
ela se limita a registrar os atos presentes, com um espaço-tempo 
(passado/futuro) suficiente para que os momentos (presentes) tenham 
continuidade. 
2. Dimensão processual - amplitude de sistema que abriga expectativas, 
perspectivas, planos e qualquer registro mental em aberto; aquelas 
questões que causam ruídos e impulsionam o ser humano à busca de 
soluções. Essa amplitude de consciência permite observar questões do 
passado e investigar também um pouco do futuro. 
3. Dimensão ampla - região de sistema que, sem ser um dispositivo de 
memória, alberga os conhecimentos e experiências que uma pessoa 
incorpora na existência. Todos os conhecimentos do passado e 
experimentações pela qual o ser atravessou na vida: uma antiga profissão 
que não se tem mais qualquer habilidade para exercer, guarda registros 
importantes que servirão como experiência em outras práticas. Qual 
dimensão processual, esse amplitude da consciência permite examinar o 
passado e avançar no futuro - tudo dentro de limites impostos pelo 
próprio desenvolvimento mental do indivíduo. 
 
Além da anatomia de constituição, listada acima, a consciência humana 
também guarda alguns estados: 
Condições de consciência (vigília normal, vigília alterada e sono com 
sonhos), modos de consciência (passivo, ativo e ausente) e focos de consciência 
(central, periférico e distante). 
 
 
UNIDADE 02 - PROBLEMA DO DUALISMO: A MENTE E O CORPO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender alguns dos principais aspectos da relação mente-corpo 
discutidos em filosofia da mente. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O Dualismo – A visão de René Descartes 
 René Descartes nasceu em 1596 em La 
Haye. Foi um dos principais pensadores do 
século XVII. Em sua obra filosófica – sendo 
as principais O Discurso do Método e 
Meditações Metafísicas-, ele tenta provar o 
dualismo e entre seus inúmeros argumentos, 
encontramos o seguinte: pode-se pôr em 
dúvida a existência do corpoe da realidade, 
mas não a própria existência, pois para se 
duvidar de algo, é preciso existir. Portanto, o 
“eu” é indistinto do corpo material. 
 
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes). 
 
O filósofo também chega a uma outra conclusão a respeito da mente: se 
ela existe independentemente do mundo material, ela existe sem depender de 
mais nada para existir – é a definição de substância. Para Descartes, há dois tipos 
de substância – a material e a mente. O atributo principal da primeira é chamado 
René Descartes 
de extensão, o da segunda é o próprio pensar. Notemos que, para Descartes, esta 
substância pensante é o equivalente à ideia de alma defendida pela religião. 
Esta visão racionalista de Descartes encontra inúmeros problemas: apenas 
o fato de duvidar não significa que mente e corpo são separados, por exemplo. 
Mas o maior problema de todos surge com o desenvolvimento científico – pois a 
razão não consegue dar conta de inúmeros mistérios: quando teria surgido a 
alma? Como explicar o funcionamento do cérebro? Qual é o papel do cérebro. 
Quanto mais se desenvolve o cientificismo, mais a visão dualista de Descartes se 
isola. 
 
Behaviorismo Analítico 
 Contra a tradição dualista, a discussão entre o problema mente-corpo criou 
o chamado Behaviorismo Analítico, defendido principalmente por Gilbert Ryle 
(1900-1976). A ideia principal desta linha de pensamento é a de que o mental – 
toda a subjetividade – não possui função. Tudo que é um processo mental 
precisa ser analisado em termos de comportamento – ou “disposição para se 
comportar”. Ao transformar todos os reflexos mentais em um comportamento ou 
demonstração de comportamento, o Behaviorismo tenta superar a visão dualista 
cartesiana. 
 Porém, há inúmeras falhas nesta teoria. Ao “erradicar” a subjetividade, é 
quase que instintivo os seres humanos aceitarem esta teoria: a dor, uma das 
características comuns a todos os seres humanos – todos a sentem – segundo o 
behaviorismo, ela não existe se não traduzida em comportamento. Ora, isso é 
contraditório, pois ele rejeita a subjetividade humana. 
 
Eliminacionismo 
Outra solução para o problema da relação entre mente e corpo foi 
levantada por Paul Feyerabend (1924-1994) – o eliminacionismo. Esta é uma 
solução radical que defende que o entendimento comum que o homem pensa ter 
da mente é falso. Assim, para os filósofos, que defendem tal teoria, todo o 
vocabulário usado sobre estados mentais é falso, e a psicologia popular precisaria 
desaparecer e ser substituída pela neurofisiologia. Feyerabend defendeu que a 
visão popular que o ser humano tinha da mente era altamente incompatível com 
a visão do pensamento científico. Assim, a psicologia precisa ser revista a partir de 
uma nova investigação da mente e do cérebro. 
 Esta teoria também ganha inúmeros críticos, pois a presença da mente e 
dos estados psicológicos é inquestionável. Os eliminacionistas então respondem 
que estas intuições são falsas, assim como o homem achava que o sol girava ao 
redor da terra. 
 
Teoria da Identidade 
 A partir da segunda metade do século vinte, a teoria da identidade 
começou a substituir o behaviorismo analítico, e a ideia é bastante simples: 
estados mentais correspondem a estados cerebrais. Então, estímulos no cérebro 
criariam as sensações físicas. Há algumas identificações (como, por exemplo a 
ansiedade, que seria causada por efeitos corticais, causados por descargas 
neuronais nos sistema límbico), mas a neurociência ainda está engatinhando. Se 
um dia essa teoria for provada – a relação entre mente e corpo seria resolvida de 
uma maneira simples – e tudo seria reduzido a acontecimentos físicos. 
 Esta teoria também foi com o tempo abandonada pelos filósofos, 
principalmente porque o cérebro é capaz de uma múltipla realização: ele é 
plástico em suas funções – quando uma pessoa sofre um dano cerebral e perde, 
por exemplo, a fala, outras partes do cérebro podem aprender a desempenhar 
essa função. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Funcionalismo 
 A teoria da identidade fez um breve sucesso, pois, a partir da capacidade 
de múltiplas realizações do cérebro, os filósofos surgiram com a ideia do 
funcionalismo, que é a seguinte: há coisas que se definem pela sua materialidade 
– como um grão de areia, uma árvore, etc. E há outras que se definem pela 
função que têm. Uma cadeira é considerada pela sua função, e não pelo seu 
material, por exemplo. Importante é o cumprimento da função. Assim, a mente se 
define não pela sua função. 
 Por exemplo, um fenômeno como a dor tem um papel funcional definido 
dentro do sistema funcionalista – quase como um computador – em que há uma 
relação de input e output, que estabelecem a ligação com o meio. A configuração 
física ou o que causou a dor são apenas aspectos deste evento. É feita inclusive 
uma analogia entre o cérebro e o computador – em que há o hardware, que é o 
sistema físico, e o software, que é o que se instala no sistema. No caso, o cérebro 
seria o hardware e a mente, o software. 
 Quando pensamos no funcionalismo como um caso extremo, chegamos 
inclusive na questão da imortalidade: há quem acredite que, quando a inteligência 
artificial estiver completamente desenvolvida, poderemos implantar uma mente 
humana em um computador – e é nessa estranheza extrema que se começa a 
suspeitar do funcionalismo: se pensamos, por exemplo, na dor ou no prazer – 
todos sabemos que ambos têm um valor, que são estados de qualidade que vão 
além de uma simples qualidade funcional. Quando pensamos na mente sendo 
“carregada” em um computador, onde entrariam esses estados qualitativos? Um 
robô simula dor, raiva, mas não as sente. Assim, um dos grandes empecilhos para 
o funcionalismo é o fato de que apenas um cérebro biológico poderia sentir e 
reproduzir esses estados mentais tão sutis, complexos e profundos. As qualidades 
sensoriais são sentidas apenas por seres vivos, biológicos. 
 
 
UNIDADE 03 - INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Conhecer a proposta das inteligências múltiplas 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Howard Gardner (1943 – x) é um dos psicólogos cognitivos mais 
importantes da atualidade, que contribuiu fortemente para a filosofia da mente 
com sua obra “Estruturas da Mente”, em que ele propõe sete tipos de inteligência 
com sua teoria das inteligências múltiplas. Iremos abordar nesta unidade a visão 
que o psicólogo tem sobre inteligência. 
No mundo inteiro sempre se tentou medir a inteligência de maneira 
quantitativa. Em um teste de Q.I. (quantidade de inteligência), sempre nos 
deparamos com inúmeras perguntas sobre inúmeros assuntos, para depois 
chegarmos a um número que traduziria nossa inteligência. Mas como poderia ser 
possível medir uma inteligência? Peguemos exemplos diferentes para clarear essa 
pergunta: um jovem de quinze anos que dominou a língua árabe, outro de quinze 
anos que compõe canções e outro que dominou a arte da navegação. 
 São três comportamentos completamente diferentes, mas altamente 
inteligentes. Este exemplo serve para mostrar que os métodos de avaliação da 
inteligência são incompletos. Não se trata de uma questão para melhorar a 
maneira como são realizados estes testes, mas, sim, de mudar a percepção que 
nós mesmos temos sobre o que é de fato inteligência. 
 A visão ocidental sobre a inteligência começou a ser moldada há mais de 
dois mil anos, na civilização grega. Desde aquela época, notava-se e enfatizava-se 
a importância dos poderes mentais como a razão, a mente... Temos desenhadas 
na história frases que foram costurando o apreço ao conhecimento: o conhece-se 
a ti mesmo de Sócrates, o penso logo existo de Descartes e assim por diante. 
Outras funções, porém, ao longo da história também foram valorizadas: 
sentimento, fé coragem, por exemplo, mas sempre em contraste com o 
conhecimento. Quandoum era valorizado, o outro era deixado de lado. 
 Entretanto, razão, inteligência, lógica, conhecimento não são a mesma 
coisa e o que Howard Gardner propõe é uma maneira de separar estes conceitos 
como “mentais”. Durante muito tempo, foi comum dar valor a inúmeras partes da 
mente – por exemplo, na época clássica, ela era separada em razão, vontade e 
sentimento. Com o surgimento da psicologia, a mente foi dividida por alguns 
pensadores, que criaram dezenas de competências mentais – alguma áreas 
progrediram e outras não (como o debate entre fé e razão). Mas quando 
comparados os avanços como o de Darwin, Kepler, Copérnico – o progresso, às 
vezes, surge por mostrar um erro lógico ou simplesmente quando inúmeras 
evidências são agrupadas (como no caso de Darwin). 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 Para estabelecer e justificar a elaboração dos sete tipos de inteligência, 
Howard Gardner estabeleceu alguns critérios e requisitos que, antes de tudo, 
estabelecem uma “inteligência”. Uma competência intelectual precisa apresentar 
habilidades para resolver problemas e também para criar problemas, pois assim 
permite a aquisição de novos conhecimentos. Ele apresenta oito “sinais” que 
caracterizam uma inteligência: 
 
a) isolamento potencial por dano cerebral 
Se uma faculdade particular pode ser destruída através de um dano 
cerebral, fica mais aparentada sua provável “autonomia” de outras inteligências. 
Assim, a partir de uma lesão cerebral, pode-se notar que as diferentes estruturas 
da mente podem existir. 
 
b) a existência de idiots savants 
 A existência de savants é outro indício das inteligências múltiplas. A partir 
de um dano cerebral, há pessoas que desenvolvem fortemente apenas uma única 
capacidade, de maneira extrema. Assim, podemos observar a inteligência humana 
isolada em apenas uma capacidade. Assim, a alegação de uma existência 
específica pode ser mais plausível. 
 
c) uma operação central ou conjunto de operações identificáveis 
 Gardner considera central para suas concepções de inteligência a existência 
de operações ou mecanismos de processamentos de informações que possam 
lidar com tipos específicos de input. Assim, pode-se inclusive pensar em uma 
inteligência humana como “um mecanismo neural ou sistema computacional 
geneticamente programado para ser ativado ou “disparado” por determinados 
tipos de informação interna ou externamente apresentados.” A partir desta 
definição, precisa-se, então, localizar estas operações centrais para mostrar que 
tais centros são separados. 
 
d) uma história desenvolvimentista distintiva, aliada a um conjunto 
definível de desempenhos proficientes de expert “estado final” 
 Uma inteligência deve ter uma história desenvolvimentista identificável – 
pois, a não ser em casos específicos, ela não se desenvolve isoladamente, então, é 
preciso localizar as situações onde ela encontrar um papel central. E também 
dever-se-ia “provar ser possível identificar níveis discrepantes de inteligência, 
variando dos inícios universais, através dos quais todo novato passa, até níveis de 
competência cada vez mais elevados que podem estar visíveis apenas em 
indivíduos com talento incomum ou em formas especiais de treinamento. 
 
e) uma história evolutiva e a plausibilidade evolutiva 
 Uma inteligência fica ainda mais plausível quando se podem localizar seus 
antecedentes evolutivos – desde períodos de crescimento rápido na pré-história e 
até mesmo nas vias evolutivas, que não floresceram podem acrescentar ao 
assunto. 
 
 f) apoio de tarefas psicológicas experimentais 
 Muitos testes experimentais explicam melhor o funcionamento de 
experiências separadas. Os estudos mais sugestivos são os de tarefas que 
interferem umas nas outras e que se transferem a diferentes contextos. 
 
 g) apoio de achados psicométricos 
 Além de experiências psicológicas, testes padronizados também colaboram 
com o estudo das inteligências múltiplas (testes como o de Q.I.). Apesar de 
Gardner ser contra a definição de inteligência a partir de um teste, eles o ajudam 
muito na definição de uma inteligência. O que ele diz é que normalmente tais 
testes não avaliam o que propõem testar. 
 
 h) suscetibilidade à codificação em um sistema simbólico 
 Segundo Gardner, “grande parte da representação e da comunicação 
humana de conhecimento ocorre através de sistemas de símbolos – sistemas de 
significados culturalmente projetados que captam formas importantes de 
informação. Linguagem, desenhos, matemática são apenas três dos sistemas de 
símbolos que se tornaram importantes no mundo inteiro para a sobrevivência e a 
produtividade humana. Embora possa ser possível que uma inteligência prossiga 
sem seu próprio sistema especial de símbolos, ou sem alguma outra arena 
culturalmente delineada, é bem possível também que uma característica principal 
da inteligência humana seja sua gravitação natural em direção à incorporação em 
um sistema simbólico. 
 Para Gardner, antes de entrarmos nas inteligências específicas, falta atentar 
que as inteligências não são equivalentes a sistemas sensoriais. Não dependem de 
nenhum sistema também. Precisam ser consideradas como entidades com 
sistemas e regras próprios: “Embora o olho, o coração e os rins sejam órgãos do 
corpo, é um erro tentar comparar estes órgãos em cada detalhe, a mesma 
restrição deveria ser observada o caso das inteligências.” 
 
 
UNIDADE 04 - INTELIGÊNCIA LINGUÍSTICA/MUSICAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender mais profundamente as características das inteligências 
linguística e musical descritas por Howard Gardner. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Inteligência Linguística 
 A competência linguística para Gardner é a mais abrangente e espalhada 
das inteligências – afinal de contas, toda a comunicação humana é baseada em 
linguagem. Para ele, o poeta ou o escritor têm essas qualidades desenvolvidas 
muito acima da média, mas todo ser humano apresenta essa competência 
também. E tal inteligência apresenta algumas funções claras para os indivíduos 
“normais”: 
 1) aspecto retórico da linguagem – a capacidade de usar a linguagem para 
convencer o outro de algo – desde um político até mesmo uma criança de cinco 
anos trabalham este aspecto da linguagem. 
 2) potencial mnemônico da linguagem – que é a capacidade de usar a 
linguagem para lembrar de informações – desde um mero número de telefone 
até as regras de um jogo ou de uma empresa. 
 3) papel da explicação – o ensino e a aprendizagem, em sua maior parte, 
ocorrem através da explicação: em sua história, o ser humano sempre depende 
dela para trocar informações, explicar, ensinar – seja através do texto oral, ou no 
texto escrito. A linguagem sempre está presente. 
 4) o seu potencial metalinguístico – que é o potencial da linguagem, pode 
explicar e refletir sobre suas próprias atividades. Desde uma simples pergunta: 
Você quis dizer X ou Y? O que faz com que a pessoa reflita sobre o que acabou 
de dizer e até mesmo sobre a própria filosofia da linguagem e da linguística. 
 
As habilidades linguísticas 
 O desenvolvimento das habilidades linguísticas de uma criança é um 
fenômeno inexplicável e até mesmo assustador para alguns programadores de 
linguagem de computador. Segundo o linguista Noam Chomsky, as crianças 
nascem com um dom inato sobre regras e formas de linguagem que devem 
possuir como parte de seu direito de nascimento hipóteses sobre como 
decodificar e falar a língua ou qualquer linguagem natural – assim, uma criança 
que nasce na China, aprende a falar chinês. Mesmo assim, não é possível explicar 
a rapidez com que isso acontece. As crianças dominam as regras gramaticais 
muito rapidamente e cada uma à sua maneira – desde o tipo de palavra que elas 
pronunciam – algumas exclamam coisas, outras evitam substantivos e assim por 
diante. 
 
O desenvolvimento do escritor 
 O escritore filósofo Jean Paul Sartre era um prodígio em suas capacidades 
linguísticas – ao exercitar sua inteligência linguística, ele descobriu seus potenciais: 
“Ao escrever eu estava existindo... minha caneta corria tão rápido que 
era comum que meu punho doesse. Eu jogava os cadernos preenchidos 
no chão e, enfim, esquecia deles, eles desapareciam... Eu escrevia para 
escrever. Não me arrependo disso; se eu tivesse lido, teria tentado 
agradar. Eu teria me tornado um prodígio de novo. Sendo clandestino, 
eu era verdadeiro.” Sartre. 
 
 Como muitos escritores preconizam, a prática é o segredo para o sucesso. 
Como um músculo, a habilidade de escrever precisa ser exercitada, dizem os 
escritores. Ao menos, muitos deles. E, assim, ao refletirem sobre o próprio 
processo criativo, eles esclarecem inúmeros fatores sobre ele. O desenvolvimento 
através da prática faz com que o escritor domine seu “mestre poético” e 
encontreo caminho correto para expressar suas palavras e ideias – ele desenvolve 
quase ao máximo sua competência linguística. 
 
A linguagem como ferramenta 
 Na maioria dos casos, porém, a linguagem não é usada como um foco, 
mas como um meio – uma ferramenta para que as pessoas consigam executar o 
que querem. Mesmo cientistas, eles usam da linguagem para explicar suas 
descobertas, através de metáforas ou ensaios. O uso desta ferramenta difere de 
um poeta ou de um escritor, que escolheu a dedo palavras – um ensaísta, antes 
de tudo, quer transmitir um conteúdo e usa a linguagem para isso. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A Inteligência Musical 
 Quando pensamos em inteligência musical, podemos visualizar logo 
aqueles jovens prodígios que desde cedo já demonstram um talento altamente 
desenvolvido. Desde um que tenha o chamado “ouvido absoluto” e saiba 
reconhecer qualquer nota, até outro que domine com facilidade qualquer 
instrumento, e também outro que possa reproduzir com precisão qualquer 
sinfonia tocada. 
 Este tipo de inteligência desenvolvida está para o âmbito musical assim 
como a poeta está para a linguística. O compositor americano Roger Sessions 
relatou que o compositor pode ser claramente identificado como um homem que 
tem sons na mente – está sempre reconhecendo sons e padrões musicais na 
superfície de sua consciência. A composição vale dizer, uma música começa com 
esta “ideia musical” que paira na mente do músico. 
 Outros compositores fazem coro a Sessions, dizendo que a arte de compor 
é como uma macieira produzindo maçãs. A mente musical é marcada por uma 
memória tonal e quando ela assimila inúmeras experiências de tom é que começa 
a funcionar criativamente. Já Stravinsky indicou que “compor é fazer e não 
pensar.” 
 
Componentes da inteligência musical 
 Os dois componentes principais da inteligência musical são tom e ritmo. O 
primeiro seria a própria melodia, enquanto que o segundo seria a maneira como 
tais sons se agrupam. Parte da organização do som é horizontal – os tons se 
desenrolam no tempo, e parte da organização é vertical – os sons podem ser 
emitidos ao mesmo tempo. Após som e ritmo, o timbre é a próxima qualidade 
fundamental. 
 No trecho acima, a música está relacionada a afeto e prazer, o que 
configura um dos seus enigmas principais. Vejamos: a ciência ao longo dos 
séculos vem tentando transformar a música em matemática, o que ressalta a 
racionalidade da música. Mas não se deve esquecer que ela também se atém ao 
efeito que causa nos indivíduos. Para Sessions, a música não pode expressar 
medo, mas seus movimentos poder ser agitados, violentos e repletos de 
suspense. “A música se expressa a si mesma.”, diz Stravinsky. 
 Mas até então falamos apenas de compositores – e de pessoas que 
desenvolveram fortemente este talento musical. Mas em indivíduos que não são 
músicos e compositores, esta inteligência também se manifesta. Em pesquisa feita 
notou-se que todos os sujeitos reconhecem estruturas musicais – sabem julgar 
qual delas é adequada ou não a uma música, sabem reconhecer escalas e ritmos. 
E também os relacionamentos entre as tonalidades. Sabem, ainda, completar 
segmentos de música sem que o sentido musical se perca. O mesmo acontece no 
nível linguístico: nem todos são poetas, mas ainda assim expressam sua 
competência linguística, cada um a sua maneira. 
 Quanto ao desenvolvimento da competência musical, pouco se pode dizer. 
Mas alguns estudos mostram um retrato humilde de como isso acontece: os 
bebês já cantam e balbuciam, emitem sons e até mesmo brincam com eles. 
Alguns estudiosos defendem que há bebês que são mais sensíveis a sons do que 
a palavras. Nos dois anos de idade, há um marco neste desenvolvimento: as 
crianças começam pela primeira vez, por conta própria, a emitir sons em 
intervalos pontilhados e inventam músicas espontâneas – a ponto de dizer que as 
crianças de nossa cultura assimilam e descobrem cedo como é a estrutura de uma 
canção e do que ela precisa. 
 Na sabedoria popular, a área mais ligada à música é a matemática. Desde 
Pitágoras, esta relação vem sendo elaborada e estabelecida. 
 
 
UNIDADE 05 - INTELIGÊNCIA LÓGICO/ESPACIAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender o funcionamento das Inteligências lógico e espacial. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Inteligência Lógico / Matemática 
Até então, estudamos duas inteligências que têm origem na esfera auditiva 
e oral (a musical e a linguística). Ao contrário, esta forma de pensamento se 
origina a partir do confronto com o mundo físico – dos objetos. Pois é 
ordenando-os, classificando-os e avaliando-os que a criança começa a adquirir 
domínio e conhecimento sobre o mundo lógico-matemático. Isto preliminarmente 
– depois de confrontar os objetos, invariavelmente, com o curso do 
desenvolvimento da razão, o indivíduo torna-se mais capaz de apreciar as ações 
que pode desempenhar. Neste ponto, as relações prevalecem sobre as ações e, 
assim, de certa maneira, as ações sobre os objetos se tornam apenas abstrações 
mentais – o ápice da lógica e ciência. Para entender de que maneira se 
desenvolve o pensamento lógico-matemático, Gardner se baseia no pensamento 
do psicólogo Jean Piaget. 
Para Piaget, todo conhecimento (racional) deriva antes de tudo, das ações 
do homem sobre o mundo. E, assim, o estudo do pensamento começaria com 
recém-nascidos. No berço, o bebê mantém relações causais com objetos, explora 
todos eles. Mas em uma experiência - momento-a-momento - ou seja, quando o 
objeto some, ele também some da consciência da criança. Após dezoito meses 
de vida, ele começa a perceber que os objetos não desaparecem quando somem 
– mas que eles ainda existem. É o estado chamado de permanência do objeto. 
Assim que o bebê reconhece tal permanência, pode, então, se referir a eles, 
reconhecer similaridades, diferenças – até mesmo agrupar objetos. Ao agrupá-los, 
ela mostra que reconhece classes e conjuntos diferentes. Porém, não há um 
aspecto quantitativo – elas não reconhecem números nem quantidades – como 
mostra a dificuldade que elas têm em fazer contas. E esta inabilidade de contar 
dura até por volta dos quatro, cinco anos. Mesmo que a criança aprenda a contar 
antes, seria apenas uma repetição mecânica dos números. Ocorre que, nesta 
idade, ela aprende que esta série de números abstratos pode ser relacionada com 
números, ou seja, aprende concretamente e começa realmente a dar valor para os 
números. Por volta dos seis, sete anos, ela já pode contar e comparar esses 
números – já aprendeu com segurança a noção de quantidade. 
Para Piaget, este processo é extremamente importante porque a criança 
aprende a igualar com base em números de dois conjuntos mentais – ou seja, é 
capaz de comparar o número em um conjunto com o número em outro, mesmo 
quando não são conjuntos idênticos. E, a partir disso, ela começa a realizar novas 
operações, mais complexas – ela aprende as quatro operações básicas:somar, 
subtrair, dividir e multiplicar. Mas ela aprende para manusear coisas no mundo 
concreto – ou seja, todas essas operações dependem inicialmente de um 
manuseio de objetos. 
Tais ações, porém, podem ser realizadas mentalmente – e, após um tempo, 
elas são realmente internalizadas. O manuseio torna-se desnecessário. A 
necessidade lógica vem para dar conta das operações básicas. É o período de sete 
a dez anos, que Piaget chamou de operações concretas. Cabe ressaltar que neste 
período a criança ainda realiza essas operações com ações restritas a objetos 
físicos que possam ser manipulados. 
O próximo passo, que é essencial para Piaget, e também o considerado 
estágio final do desenvolvimento mental. Durante os primeiros anos de 
adolescência, a criança normal torna-se capaz de realizar operações mentais 
formais. Ela pode operar não apenas sobre os próprios objetos, mas também 
sobre palavras, símbolos ou sequência de símbolos. Ela pode inferir hipóteses e 
prever consequências. 
Gardner observa, porém, que apesar de ter esboçado a trajetória defendida 
por Piaget apenas no âmbito matemático, ela se estende a outras áreas. Limitá-la 
ao âmbito numérico seria grosseiro. Assim, para Piaget, esta sequência 
desenvolvimental se estabelece em todos os domínios do desenvolvimento, 
inclusive o tempo, espaço e causalidade. 
 
O trabalho do matemático 
“Se a matemática envolve apenas as regras da lógica supostamente aceitas 
por todas as mentes normais, por que alguém deveria sentir dificuldades para 
entender matemática?” 
Esta pergunta foi levantada pelo matemático Poincaré e faz bastante 
sentido: enquanto que na música ou na poesia conseguimos desfrutar o trabalho 
de uma inteligência desenvolvida, quanto mais avança a matemática, mais nos 
distanciamos dela. E não através da memória que o matemático consegue reter 
as novas teorias e ideias – já foi visto em inúmeros testes que eles não 
apresentam os melhores índices da qualidade mnemônica. 
 Poincaré distingue então duas habilidades: uma é a memória para etapas 
numa cadeia de raciocínio, o que poderia ser eficiente para a recordação de 
determinadas demonstrações. A outra, e de longe a mais importante, é o 
reconhecimento da natureza das ligações entre as proposições. Pois se tais 
ligações são reconhecidas, elas podem ser reestruturadas e reinventadas. Mas, 
para Poincaré, e também para outros matemáticos, apenas seguir a lógica é mais 
fácil – e é quase impossível de se fazer uma “boa matemática”. 
 O que caracteriza um bom matemático, então? Segundo o matemático 
Adler, a verdadeira matemática quase nunca ultrapassa sua própria disciplina, ou 
seja, eles raramente são talentosos em economia, por exemplo. O que o define é 
o amor por tratar com a abstração, a “exploração, sob a pressão de poderosas 
forças implosivas, de problemas de difíceis por cuja validade e importância o 
explorador, enfim, é considerado responsável pela sua realidade.” Assim, há uma 
liberdade de especulação do matemático que significa uma vontade de mudar a 
maneira de se estruturar o mundo – o matemático é um criador de padrões, mas 
as características especiais dos padrões matemáticos são que eles tendem mais a 
ser permanentes porque eles são feitos por ideias. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A inteligência espacial 
 Tome por exemplo um pedaço de papel quadrado. Dobre-o no meio e 
então dobre-o novamente duas vezes no meio. Quantos quadrados existem após 
esta dobradura final? 
 Este é um dos exemplos de problemas que testam nossa inteligência 
espacial. Ou, por exemplo, considere alguns problemas que exigem a construção 
de uma imagem mental: que torneira controla a água quente? O que é mais alto: 
o zênite da cauda de um cavalo ou a sua cabeça? Vejamos a definição de Gardner 
sobre a inteligência espacial: 
“Estão centrais à inteligência espacial as capacidades de perceber o 
mundo visual com precisão, efetuar transformações e modificações 
sobre as percepções iniciais e ser capaz de recriar aspectos da 
experiência visual, mesmo a ausência de estímulos físicos relevantes. 
Pode-se ser solicitado a produzir formas ou simplesmente manipular as 
que foram fornecidas. Estas capacidades são claramente não idênticas: 
um indivíduo pode ser arguto, digamos, em percepção visual, embora 
tenha pouca capacidade para desenhar, imaginar ou transformar um 
mundo ausente. Assim como a inteligência musical consiste de 
capacidades rítmicas e de afinação que são às vezes dissociadas entre si 
e que a inteligência linguística consiste em capacidades sintáticas e 
pragmáticas que podem também tornar-se desacopladas, do mesmo 
modo a inteligência espacial emerge como um amálgama de 
capacidades (...) De alguns pontos de vista seria adequado propor o 
descritivo visual porque nos seres humanos normais a inteligência 
espacial encontra-se intimamente ligada e parte mais diretamente da 
observação que a pessoa faz do mundo visual. (...) Mas parece preferível 
falar da inteligência espacial sem liga-la inextricavelmente a qualquer 
modalidade sensorial específica.” (GARDNER, p. 135) 
 
UNIDADE 06 - INTELIGÊNCIA CORPORAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender as inteligências corporal e pessoal. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A Inteligência Corporal-Sinestésica 
 Para explicar a natureza da inteligência corporal, Gardner descreve uma 
cena do trabalho do mímico Marcel Marceau. O mímico é um performer, dos 
raros. Para realizar suas simples ações, ele se utiliza de uma inteligência que não é 
cultivada pela nossa sociedade – a corporal-sinestésica. É característica desta 
inteligência usar o corpo de maneiras diferenciadas e hábeis para propósitos 
expressivos assim como voltados a objetivos. É também característico dela usar 
objetos de maneira motora e hábil. Assim, essas duas capacidades são objeto 
principal do estudo de Gardner: controlar os movimentos do próprio corpo e a 
capacidade de manusear objetos com habilidade. 
 Assim, quando buscamos imaginar que tipos de pessoas têm essa 
capacidade desenvolvida, pensamos em dançarinos, nadadores, jogadores de 
bola, instrumentistas, artesãos, atores, inventores. Apesar disso, não se deve 
confundir com outros tipos de inteligência – pois é impossível que se exerça 
apenas uma delas. 
 Quando pensamos em uso hábil do corpo, podemos voltar inclusive para a 
Grécia antiga, cujos artistas reverenciavam as formas perfeitas do corpo. Através 
de atividades artísticas e atléticas, esse ideal era cultivado. Eles buscavam, e isso 
vale ressaltar, uma harmonia entre mente e corpo – pois com a mente treinada, 
seria mais fácil de utilizar o corpo. A inteligência do corpo possuía outros 
propósitos, inclusive como mostra o escritor Normal Mailer: 
 
“Há linguagens além das palavras, linguagens de símbolos e linguagens 
da natureza. Há as linguagens do corpo. E o pugilismo é uma delas. O 
pugilista... fala com um domínio do corpo que é tão desprendido, sutil e 
abrangente em sua inteligência quanto qualquer exército da mente. Ele 
se expressa com graça, estilo e um instinto estético surpreendente 
quando boxeia com seu corpo. O boxe é um diálogo entre corpos, é um 
rápido debate entre dois conjuntos de inteligências.” MAILER, p. 163 
 
 A princípio, definir o corpo como algo inteligente por si só pode ser 
chocante. Isso se dá porque em nossa sociedade os trabalhos do corpo são vistos 
com muito menos valor que os trabalhos racionais. Mas, de certa forma, nosso 
centro motor muitas vezes é até mais rápido que a mente. O exemplo perfeito 
disso é que nosso corpo, quando dirigimos um carro, por exemplo, age sem que 
pensemos. A mente está livre para outras atividades, enquanto o corpo realiza as 
inúmeras tarefas para o carro ir para a frente. Mas, se parássemos para pensar em 
cada tarefa, nós nos confundiríamos ou inclusive dirigiríamos mais devagar. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 Quando pensamosna inteligência corporal e nas suas capacidades e 
possibilidades, notamos que o desenvolvimento dessa habilidade no performer, 
por exemplo, faz com que se possa traduzir a intenção em ação, e com uma 
suavidade geral de desempenho. Um performer perito realiza sua tarefa com 
tanta maestria que parece que ele tem o tempo todo do mundo para fazer o que 
deseja. 
 
A dança como forma madura de expressão corporal 
 Exemplificando casos em que a inteligência corporal pode ser bastante 
desenvolvida, podemos falar sobre a dança. É o uso mais desenvolvido e refinado 
do corpo, de inúmeras maneiras diferentes, ao redor do mundo. A dança, 
segundo Judith Hanna, seria então sequências culturalmente padronizadas de 
movimentos corporais não verbais, propositados, intencionalmente rítmicos e que 
apresentam valor estético aos olhos daquele para quem o dançarino está se 
apresentando. 
 A dança, então, pode ser uma forma de comunicação e expressão, mesmo 
que seja difícil que bailarinos descrevam seu trabalho de maneira concreta – ou 
lógica: 
 “Muitas vezes tenho comentado sobre a extrema dificuldade de manter, 
com a maioria dos dançarinos, qualquer tipo de conversação que tenha 
coesão lógica – as mentes deles apenas parecem ficar pulando – a 
lógica ocorre no nível da atividade motora.” GRAHAM, p. 174 
 
Tal visão só nos reforça a ideia de que a inteligência corporal vai além da 
inteligência racional, a ponto de conseguir transformar movimento não só em 
linguagem, mas em sistema simbólico. 
Para refletir sobre o assunto, apresento um excerto da dissertação de 
mestrado da pesquisadora Fernanda Castro Manhães que analisa a inteligência 
corporal.2 
 
Inteligência Corporal Cinestésica 
Características: o núcleo desta inteligência é o controle dos movimentos do corpo 
e o manejo hábil dos objetos, com fins expressivos ou para atingir metas. É a 
capacidade de trabalhar habilmente com objetos, tanto os que envolvem a 
motricidade dos dedos quanto os que exploram o uso integral do corpo. O valor 
desta inteligência é estimado de forma diferente em diversas culturas. A 
inteligência corporal completa um trio de inteligências relacionadas a objetos 
manipulados ou transformados, como a inteligência lógico-matemática, que 
cresce. 
A partir da padronização de objetos em conjuntos numéricos; a inteligência 
espacial, que focaliza na capacidade do indivíduo de transformar objetos dentro 
do seu meio e de orientar-se em meio a um mundo de objetos no espaço; e a 
inteligência corporal que, focalizando internamente, é limitada ao exercício que 
leva a ações físicas sobre os objetos no mundo (GARDNER, 1995). 
                                                            
2 Disponível: <http://www.pgcl.uenf.br/2013/pdf/cognicao_6587_1240934073.pdf>, acesso em: 22/10/2014. 
Habilidades: controle de partes específicas do corpo com o objetivo de resolver 
problemas ou criar produtos, movimentos atléticos, criativos (incluindo a 
capacidade de resposta física ao ritmo da música), coordenação motora e 
controle corporal, criação de coreografias. 
Estados Finais ou Domínios: É evidente em atletas, dançarinos, cirurgiões, 
artesãos, mímicos, inventores, atores, intérprete de linguagem dos sinais, 
escultores, os quais não elaboram previamente cadeias de raciocínios para realizar 
seus movimentos e, na maior parte das vezes, não conseguem explicá-los 
verbalmente. 
Estratégias ou Produtos que enfatizam a Inteligência Corporal-Cinestésica: dançar, 
fazer mímica, atuar em uma peça de teatro, pintar ou produzir uma obra de arte, 
praticar esportes. 
Uso diário da Inteligência: escovar os dentes e passar fio dental neles, fazer um 
penteado, consertar alguma coisa em casa, praticar esportes, ‘falar’ com o corpo 
ou usar o corpo enquanto fala para expressar as ideias. 
O que esta inteligência não é: é comum se pensar que crianças hiperativas 
tenham essa inteligência desenvolvida, mas não há relação entre esses fatos. 
Movimentação corporal sem uma intenção específica, como por exemplo, pedir 
para que as crianças façam um movimento com seu corpo sem que haja um 
objetivo para tal não é desenvolver a inteligência corporal cinestésica. Devemos 
lembrar sempre que uma atividade que estimule a inteligência em questão deve 
propor uma solução de problema em que, neste caso, o uso que se faz do corpo 
possa ser a solução para o mesmo (GARDNER, 1995). 
 
 
Bibliografia Básica 
 
GARDNER, H. A estrutura da mente: teorias das inteligências múltiplas. 2.ed. São 
Paulo: Edusp, 1996. 454p. 
NIETZSCHE, Além do bem e do mal, São Paulo, Hemus, 1995. 
ECO, Humberto, A estrutura ausente, São Paulo, Perspectiva, 2003. 
 
 
Bibliografia Complementar 
 
ECO, Humberto. As formas do conteúdo, São Paulo, Perspectiva 1974. 
GONZALES, M.E.Q.L. et alii (orgs.), Encontro com as ciências cognitivas, Marília, 
Fac de Filosofia e Ciências, 1997. 
CASSIRER, E. Ensaio sobre o Homem, São Paulo, Martins Fontes, 2001. 
ARANHA, M. L. & MARTINS, Maria H. Temas de Filosofia. SP: Ed. Moderna, 1998. 
GONZALES, M.E.Q.L. et alli (orgs.), Encontro com as ciências cognitivas, Marília, 
Fac. de Filosofia e Ciências, 1997. 
 
Av. Ernani Lacerda de Oliveira, 100
Parque Santa Cândida
CEP: 13603-112 Araras / SP
(19) 3321-8000
ead@unar.edu.br
www.unar.edu.br
0800-772-8030
POLO MATRIZ
http://www.unar.edu.br
http://www.unar.edu.br
	Página 1
	Página 2

Outros materiais