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1 Aula 1 A Filosofia e as Ciências Cognitivas Prof. Mario Negrão Conversa Inicial As proposições que embasam uma pesquisa devem ser apresentadas dentro da linguagem de alguma teoria Para tanto, é necessária uma coleta de dados, a formação de generalizações a partir deles e as deduções para a solução dos problemas em foco a partir dos princípios formados Pesquisadores como Lakatos, Kuhn e mais recentemente Paul Thagard tomam esses fatores em conta pois são compatíveis com o acúmulo de conhecimentos adquiridos nos tempos modernos a respeito da cognição humana Para eles, o conhecimento é alcançado pela formação de estruturas dinâmicas. São essas as ideias que vão fundamentar nossos estudos nesse curso 2 Por que a Ciência Cognitiva Precisa da Filosofia? A filosofia é útil para as ciências cognitivas, mas não pelos motivos que a maioria dos filósofos presume, não sendo capaz de fornecer fundamentos científicos A filosofia não é capaz tampouco de gerar verdades a priori para o estudo das faculdades mentais. Ela também não serve para resolver questões conceituais A filosofia é útil para a ciência cognitiva porque seu caráter generalista permite o cruzamento entre múltiplas áreas de investigação das faculdades mentais Outro caráter útil da filosofia é sua capacidade normativa, que pesquisa os aspectos éticos do conhecimento (como as coisas deveriam ser) Isso é diferente do caráter descritivo das ciências, que se preocupa apenas em descobrir como as coisas são 3 O Problema do Conhecimento na Primeira Pessoa O comportamento humano resulta de uma rede intricada de neurônios e suas conexões que produzem na entrada o estado psicológico dos estados mentais: Pensamentos Ideias Crenças e regras sentimentos Esses determinam o comportamento motor, incluindo o linguístico, que pode ser: Voluntário: atos gestos posturas dinâmicas Ou Involuntário: atos gestos posturas dinâmicas postura antigravitária Ao mesmo tempo, os estados mentais também resultam da experiência A isso denominamos o componente fenomenológico dos estados mentais 4 Na ciência cognitiva moderna, são as crenças que temos sobre nós mesmos, os outros, os objetos em torno de nós associada aos acontecimentos no ambiente chamados esquemas cognitivos Como os Conceitos são Estruturados As Ciências Cognitivas podem ser estudadas através do: Indutivismo Falsificacionismo Teorias Estruturais No Indutivismo, a ciência deriva do conhecimento provado Parte-se de condições iniciais que são dados provindos da experiência guiados por três máximas: 1.O número de dados devem ser grande o suficiente para se passar do fato singular para uma generalização do tipo universal 2. Essas observações devem ser repetidas em diversas condições e confirmada por autores diferentes 5 3.Nenhuma proposição deve conflitar-se com uma lei universal derivada dessa generalização No falsificacionismo, Karl Popper aceita que não existe observação imparcial como Galileu, Descartes e outros positivistas gostariam que fosse As teorias que apoiam as observações são úteis mas não necessariamente verdadeiras Essas devem ser substituídas ou aperfeiçoadas por novas teorias ou variações delas que evoluem a medida que a pesquisa prossegue Tanto o indutivismo quanto o falsificacionismo apresentam inconsistências Por isso, somos limitados na nossa capacidade de compreensão de tal maneira que nossa visão do mundo sempre será incompleta Quadros mais adequados teriam que incluir um espectro mais amplo do assunto, como os fatores históricos, sociais, psicológicos, metafísicos e outros na medida que forem necessários 6 Para Imre Lakatos existe aquilo que ele chama de “núcleo irredutível”, estipulando que certos conceitos básicos de uma teoria não podem ser mudados sem que a teoria inteira entre em degenerescência O que torna esse núcleo irredutível infalsificável é aquilo que Lakatos chama de cinturão protetor Assim, uma ideia central é protegida de tal forma que modificações subsequentes não modifiquem seu conteúdo empírico Thomas Kuhn também propõe uma teoria estrutural parecida com a de Lakatos, porém com uma grande diferença: O desenvolvimento científico passa a ser um acúmulo gradativo de fatos de observação e ideias. O quadro seguinte de Kuhn ilustra: Pré-ciência → ciência normal → crise-revolução → nova ciência normal → Pré-ciência → ciência normal → crise-revolução → nova ciência normal... Os elementos que preenchem essas duas características podem ser conhecidas como paradigmas Mais recentemente, Paul Thagard apresentou uma teoria baseada em Kuhn, mas com algumas modificações: O conceito de revoluções estruturais científicas se transforma em revoluções conceituais 7 A Ciência possui fatores do tipo conceitual (“internos”), representado por questões teóricas, empíricas e heurísticas Ao mesmo tempo, existem fatores (“externos”), principalmente de natureza contextual como sociais, econômicos, políticos e históricos Raciocínio Dedutivo e Raciocínio Probabilístico Argumentos lógicos são classificados como sendo do tipo dedutivo ou indutivo A dedução começa com declarações conhecidas como premissas, tidas como verdadeiras, mas que na verdade estão além da prova e dependem da fé O processo da indução parte de dados, e não de premissas, determinando que conclusões gerais poderiam ser derivadas Nesses casos, procura-se a teoria que melhor explicaria os dados A indução usa a probabilidade como ferramenta Expressões como “eu penso que”, “é pouco provável que”, são expressões comuns na lógica indutiva A lógica dedutiva tem o defeito de partir de bases pouco sólidas enquanto que a indução está sempre sujeita a erros Em tempos modernos, filósofos como Thomas Kuhn, Imre Lakatos e Paul Thagard descrevem o conhecimento como algo processual, substituindo axiomas por paradigmas, referência que podem mudar em alguns aspectos e ser menos mutáveis em outros 8 A Ética e as Ciências Cognitivas Três áreas articuladas entre a ética e as ciências cognitivas poderiam ser consideradas: Primeiramente existe a questão de se determinar o que se quer dizer quando palavras como justo, ético, honesto e assim por diante, são empregadas? Até que ponto esses termos derivam de substratos culturais, sociais ou psicológicos? Quanto poderíamos atribuir o fundamento desses conceitos às estruturas que compõem o cérebro? O primeiro problema poderia tratar-se de determinar se existe ou não uma estrutura mental para a cognição moral Em seguida existe a esfera normativa: O pensamento moral envolve algum sistema de regras? Qual a relação dessas normas com a linguística tendo em vista que essa também segue regras determinadas? Chomsky, por exemplo, acha que as regras gramaticais são muito complexas para serem aprendidas por uma criança sem que haja algum mecanismo inato para auxiliar 9 Em terceiro lugar, existe o problema dos sentimentos de justiça, sensação de bem-estar, felicidade e políticas sociais justas e sua relação com os achados da neurociência moderna
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