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Livro Método e Interpretação Bíblica

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MÉTODOS E 
INTERPRETAÇÃO 
BÍBLICA
Professor Dr. Júlio Paulo Tavares Zabatiero
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. 
 
 Métodos e Interpretação Bíblica. Júlio Paulo Tavares Zabatiero. 
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2020.
 278 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. Métodos. 2. Interpretação. 3. Bíblica. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0435-9
CDD - 22 ed. 220
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Pós-graduação 
Bruno do Val Jorge
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas
Gerência de de Contratos e Operações
Jislaine Cristina da Silva
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisora de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Coordenador de Conteúdo
Roney de Carvalho
Designer Educacional
Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Bruno Pardinho
Editoração
Fernando Henrique Mendes
Qualidade Textual
Daniela Ferreira dos Santos
Yara Martins Dias
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
A
U
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Professor Dr. Júlio Paulo Tavares Zabatiero
Doutorado em Teologia pela Escola Superior de Teologia (2000). Mestrado 
em Teologia pela mesma instituição (1995). Graduação em Teologia pela 
Faculdade Teológica Batista de São Paulo (1980). Atualmente é professor 
da Faculdade Teológica Sul Americana e coordena o Instituto de Teologia 
Humanidades e Artes do Vale do Paraíba (ITHAVALE). Suas experiências são na 
área de Teologia e Ciências da Religião, atuando principalmente nos temas: 
Exegese Bíblica, Judaísmo Antigo, Análise do Discurso, Teologia Pública e 
Sociologia da Religião.
Link: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id= 
K4777582U6
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) a mais uma disciplina de nosso curso de Bacharelado 
em Teologia! É uma bênção poder contar com sua participação e sua companhia conos-
co no Unicesumar. Nossa expectativa é que o curso seja uma bênção e que lhe propicie 
momentos de edificação e companheirismo no aprendizado da Teologia.
Esta disciplina tem como título: MÉTODOS E INTERPRETAÇÃO BÍBLICA. Como o título 
indica, é uma disciplina que ensinará como fazer algo. Ou seja, ensinará você a interpre-
tar a Bíblia de um modo mais aprofundado, disciplinado e, teoricamente, consistente.
Em certo sentido, você já sabe interpretar a Bíblia. De fato, mesmo sem conhecimento 
teológico, toda pessoa é capaz de ler e entender razoavelmente bem uma boa parte dos 
textos bíblicos. Entretanto, a interpretação de textos antigos como os da Bíblia deman-
da mais do que o conhecimento e a capacidade adquiridos na vida cotidiana.
Você já sabe, por exemplo, que os livros da Bíblia foram escritos em três idiomas: hebrai-
co (quase todo o Antigo Testamento), aramaico (poucas partes do Antigo Testamento) e 
grego (Novo Testamento). Também já sabe que foram escritos em lugares e épocas bem 
diferentes dos nossos: no Antigo Oriente Próximo, a partir do século XII a.C., o Antigo 
Testamento foi escrito. Já o Novo Testamento foi escrito ao longo das duas margens do 
Mar Mediterrâneo, ou seja, na região do Oriente, mas também no que hoje conhecemos 
como o sul da Europa (na região da Itália e Grécia, principalmente).
Essas distâncias geográficas, cronológicas e culturais tornam a interpretação da Bíblia 
um desafio. O desafio de conhecermos e compreendermos modos de viver e de explicar 
a vida bem distintos dos nossos. E, em especial, modos de crer em Deus e viver a fé que 
não são idênticos aos nossos.
Além dessas razões, a interpretação da Bíblia é desafiadora porque cremos que nela está 
a Palavra de Deus para nós. Lemos a Bíblia para conhecer melhor a Deus e para viver 
mais de acordo com o Seu desejo e plano para a Sua criação. Por isso, nossa leitura de-
manda excelência.Não podemos “ler de qualquer jeito”. Precisamos ler com dedicação, 
cuidado, afinco, perseverança e qualidade.
Por isso, precisamos aprender métodos que são modelos de como fazer algo. Ler é algo 
que pode ser feito de diferentes maneiras. Algumas melhores, outras nem tanto. Mas 
não há uma única maneira de ler adequadamente um texto. Assim, você aprenderá 
diferentes métodos. Entretanto, precisamos escolher um método para aprender com 
mais profundidade e para poder aplicar com mais constância. Nesta disciplina, você en-
contrará as duas coisas: métodos para poder escolher e um método para aprofundar e 
começar a usar.
Métodos não são inventados a partir do nada. Por isso, começaremos a disciplina com 
uma descrição de aspectos cruciais da história da interpretação da Bíblia, começando 
com a própria Bíblia. É verdade, pois dentro dela mesmo encontramos formas de in-
terpretar textos bíblicos que podem nos ajudar a entender o que é ler com proveito. 
Veremos como a Bíblia foi interpretada ao longo da história das Igrejas Cristãs, antes, 
durante e depois da Reforma. 
APRESENTAÇÃO
MÉTODOS E INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
Estudaremos com mais detalhes o que eu chamo de paradigma histórico da in-
terpretação da Bíblia. Até meados do século passado, era o modo mais comum e 
conhecido de interpretação da Bíblia. O que poucos sabem, porém, é que, nas ori-
gens dos métodos históricos de interpretação da Bíblia, encontramos os escritos de 
um filósofo, Espinosa, que não era um cristão atuante, mas uma pessoa que buscou 
seriamente compreender o mundo. Em um de seus livros, dedicou um capítulo ao 
tema de como interpretar a Bíblia. Com base nesse capítulo, começou a se desen-
volver o paradigma histórico.
Depois, estudaremos uma forma de renovação do paradigma histórico, desenvolvi-
da no Brasil e América Latina, nas décadas de 1970 em diante. O que eu chamo de 
hermenêuticas sóciocontextuais. Estudaremos dois métodos distintos: o da her-
menêutica contextual e da leitura popular da Bíblia.
Finalizaremos nossa disciplina com o estudo do método sêmio-discursivo, desen-
volvido a partir dos anos 1990, e que engloba tanto o paradigma histórico quanto a 
sua renovação sóciocontextual.
O conteúdo desta disciplina faz parte de minha vida acadêmica desde o seu início. 
Sempre me preocupei com a leitura da Bíblia: os métodos, os objetivos, as atitudes, 
as finalidades com que lemos a Bíblia. Por isso, também escrevi alguns livros que 
estão na base do que você estudará aqui. Ler a Bíblia com qualidade e paixão! São 
essas as atitudes indispensáveis para aprender a ler a Escritura com eficiência. Es-
pero que você também as desenvolva. Mais do que métodos, são as atitudes que 
contam. Os métodos são ferramentas, não são a leitura em si.
Tenha um ótimo proveito deste estudo. Paz e bênção!
Prof. Júlio Paulo.
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO DA ESCRITURA
15 Introdução
16 A Interpretação da Bíblia: Definindo Hermenêutica e Exegese 
24 Interpretação de Textos Bíblicos na Própria Bíblia 
29 História da Interpretação da Bíblia: A Hermenêutica na Igreja Antes da 
Reforma
34 História da Interpretação da Bíblia: A Hermenêutica no Período da 
Reforma
44 História da Interpretação da Bíblia: Uma Visão Panorâmica da 
Hermenêutica Evangélica Atual (1)
49 História da Interpretação da Bíblia: Uma Visão Panorâmica da 
Hermenêutica Evangélica Atual (2)
57 Considerações Finais 
65 Gabarito 
UNIDADE II
A INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA DA ESCRITURA
69 Introdução
70 A Hermenêutica de Espinosa e o Surgimento da Exegese Histórica (1) 
79 A Hermenêutica de Espinosa e o Surgimento da Exegese Histórica (2) 
89 A Exegese Histórico-Gramatical 
93 A Exegese Histórico-Crítica 
SUMÁRIO
10
95 A Exegese Histórica: Uma Visão Crítico-Valorativa 
104 Considerações Finais 
111 Gabarito 
UNIDADE III
A INTERPRETAÇÃO SÓCIO-CONTEXTUAL DA ESCRITURA
115 Introdução
116 A Hermenêutica Contextual 
125 A Leitura Popular da Bíblia 
138 Exemplo de Exegese Popular Sociológica 
143 Exemplo de Exegese Popular Sociológica (2) 
149 Exemplo de Exegese Contextual 
158 Considerações Finais 
165 Gabarito 
UNIDADE IV
A INTERPRETAÇÃO DISCURSIVA DA ESCRITURA
169 Introdução
170 Fundamento Teórico 
178 O Método em Ação – Fases Preliminar e Preparatória 
187 O Método Em Ação – Fase Final – I Ciclo: Dimensão Espaço-Temporal da 
Ação
SUMÁRIO
11
194 O Método em Ação – Fase Final - II Ciclo: Dimensão Teológica da Ação (1) 
202 O Método em Ação – Fase Final - II Ciclo: Dimensão Teológica da Ação (2)
217 Considerações Finais 
222 Gabarito 
UNIDADE V
DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO DA ESCRITURA
225 Introdução 
226 O Método Em Ação – Fase Final - III Ciclo: A Dimensão Sóciocultural da Ação 
– Caminho da Narratividade
234 O Método em Ação – Fase Final - III Ciclo: A Dimensão Sóciocultural da Ação 
– Caminho da Interdiscursividade
239 O Método em Ação – Fase Final - IV Ciclo: A Dimensão Psicosocial da Ação 
249 O Método em Ação – Fase Final - V Ciclo: A Dimensão 
262 Exemplo de Exegese Sêmio-Discursiva 
271 Considerações Finais 
279 Gabarito 
280 CONCLUSÃO 
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Professor Dr. Júlio Paulo Tavares Zabatiero
DEFINIÇÃO E HISTÓRIA 
DA INTERPRETAÇÃO DA 
ESCRITURA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Explicar o que é interpretação bíblica, a partir dos conceitos de 
exegese e hermenêutica.
 ■ Descrever as principais características da interpretação bíblica na 
Escritura.
 ■ Descrever as principais características da interpretação bíblica nos 
Pais da Igreja e na Idade Média.
 ■ Descrever as principais características da interpretação bíblica dos 
reformadores.
 ■ Descrever as principais características da interpretação bíblica 
evangélica atual.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A interpretação da Bíblia: definindo hermenêutica e exegese
 ■ Interpretação de textos bíblicos na própria Bíblia
 ■ História da Interpretação da Bíblia: a hermenêutica na Igreja antes da 
Reforma
 ■ História da Interpretação da Bíblia: a hermenêutica no período da 
Reforma
 ■ História da Interpretação da Bíblia: uma visão panorâmica da 
hermenêutica evangélica atual (1)
 ■ História da Interpretação da Bíblia: uma visão panorâmica da 
hermenêutica evangélica atual (2)
Introdução
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INTRODUÇÃO
Olá, aluno(a)! É um prazer estar com você estudando o importante tema da inter-
pretação bíblica. Nesta primeira unidade, estudaremos os principais conceitos 
utilizados na disciplina acadêmica da Hermenêutica e Exegese. Termos como 
hermenêutica, exegese, leitura, análise do discurso, releitura etc. Para dominar 
bem uma disciplina e saber usar os métodos que ela desenvolve, você precisa 
conhecer e dominar os conceitos (termos técnicos) da disciplina.
Além disso, você aprenderá como a interpretação da Bíblia começou a 
acontecer na própria Bíblia. Verá como autores do Antigo e Novo Testamento 
interpretavam os seus textos. É verdade! A interpretação da Bíblia começa na 
própria Bíblia e aprenderemos os princípios usados pelos autores bíblicos na 
interpretação em sua época.
Depois, veremos os princípios de interpretação utilizados pelos Pais da Igreja 
(teólogos, pastores e bispos que, nos séculos II-V d. C., desempenharam um 
papel importante na formulação da doutrina cristã eclesiástica).
A seguir, estudaremos a interpretação medieval da Escritura. Neste período 
(sécs. VI-XV d. C.), a Igreja Católica Apostólica Romana era a única institui-
ção eclesiástica cristã existente. Nesse tempo, desenvolveu-se a interpretação 
chamada sensus plenior, uma atualização da hermenêutica dos Pais da Igreja. É 
uma metodologia importante e deve ainda ser levada em conta nos nossos dias.
Finalizaremos nosso livro com a reflexão sobre a interpretação da Bíblianos 
meios evangélicos brasileiros da atualidade. Dei um salto histórico para a nossa 
época porque, com muita probabilidade, você aprendeu a interpretar a Bíblia den-
tro dos parâmetros do mundo cristão atual. Assim, é importante que você possa 
olhar criticamente para a sua prática, e é importante notar como a interpretação 
da Bíblia se dá fora da Academia. Muito bem! O terreno é longo, mas proveitoso. 
Mãos à obra e que Deus lhe abençoe!
DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO DA ESCRITURA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E16
A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA: 
DEFININDO HERMENÊUTICA E EXEGESE
Aluno(a), talvez você tenha estranhado o título deste tópico: “o estudo da her-
menêutica”. Que palavra é essa? Bem, hermenêutica é uma palavra importada da 
língua grega. No grego da época do Novo Testamento, usava-se o verbo herme-
neuo – com o significado de “traduzir”, “interpretar’. O substantivo hermeneutes 
significava “tradutor”, “intérprete”. Havia até um deus na religião grega, de nome 
Hermes, cuja tarefa primária era traduzir a fala dos deuses para os seres humanos. 
Então, a palavra hermenêutica, em nossa língua, é usada para se referir à “interpre-
tação” (o ato de interpretar) e também para se referir à ciência da interpretação, 
a Hermenêutica. Agora, você já conhece o primeiro termo técnico indispensável 
para estudar esta disciplina e ler a bibliografia sobre o assunto da interpretação 
da Bíblia. Há, porém, mais um termo técnico que você precisa aprender antes de 
continuar o estudo: exegese. Também é uma palavra importada da língua grega. 
No grego do período do Novo Testamento, usava-se o verbo exegeomai que 
poderia significar: explicar, relatar, contar, ou interpretar. Em João 1,18, lemos: 
“Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem 
o revelou” – o verbo “revelou” traduz o verbo exegeomai, que poderia também 
ser traduzido como explicou ou anunciou. Literalmente, o verbo grego signi-
fica: “conduzir para fora”, mas ele nunca é usado no Novo Testamento com esse 
sentido. Em português, quase não usamos a forma verbal “exegetar” – embora 
seja correta, não é de uso comum. Usamos, sim, o substantivo exegese, com o 
sentido técnico de “análise interpretativa” ou “interpretação” de textos bíblicos.
A Interpretação da Bíblia: Definindo Hermenêutica e Exegese 
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Há diferença de sentidos entre hermenêutica e exegese? Sim e não! (Vá se 
acostumando com esse tipo de resposta, pois, na linguagem técnica das ciên-
cias, os termos recebem diferentes sentidos conforme os autores e autoras que 
os utilizam). Não há diferença se usamos os dois termos apenas para signifi-
car “interpretação”. Entretanto, há usos desses termos na Teologia que mostram 
diferenças marcantes: (1) às vezes, exegese é o termo usado para o método de 
interpretação, enquanto hermenêutica se refere à teoria da interpretação; (2) às 
vezes, hermenêutica é usado nos dois sentidos de método e teoria, então, fica, 
de novo, sinônimo de exegese; (3) às vezes, hermenêutica é usada no sentido de 
“aplicação” ou “atualização” do sentido do texto bíblico para o tempo do intér-
prete; então, nesse caso, exegese se refere à interpretação do sentido do texto 
bíblico no contexto em que foi escrito.
É isso? Bem, ainda falta algo mais. Usamos também outros termos para falar 
da interpretação da Bíblia nos cursos de Teologia. Leitura e releitura também são 
termos usados. Normalmente, leitura é sinônimo de exegese (interpretação do 
texto em seu contexto) e releitura é sinônimo de hermenêutica (atualização do 
sentido do texto). Por fim, também se usa o termo análise do discurso e/ou aná-
lise semiótica do discurso. Esses dois nomes não são tão comuns no campo da 
Teologia. Ambos veem de estudos da Linguística e Literatura na França (prin-
cipalmente). São nomes de duas disciplinas científicas derivadas da Linguística 
que têm algo em comum, mas também diferenças de sentido e prática. De qual-
quer modo, para nosso uso no momento, basta saber que são diferentes técnicas 
de interpretação de texto, baseadas na Linguística.
Em que essas técnicas se diferenciam da Hermenêutica? Principalmente 
porque a Hermenêutica é uma disciplina acadêmica ligada à Filosofia e não à 
Linguística. Ademais, enquanto a hermenêutica se preocupa principalmente com 
a interpretação do sentido, as Análises do Discurso se preocupam primariamente 
com o processo de produção do sentido dentro da sociedade, especialmente em 
relação à política e à cultura.
Como introdução, já basta! Você terá chance de voltar a esses termos téc-
nicos ao longo da disciplina. Vamos, então, estudar por que precisamos de 
Hermenêutica (ou de métodos de interpretação).
DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO DA ESCRITURA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
O estudo da Hermenêutica
Quando examinamos a interpretação da Bíblia que se faz em igrejas cristãs, vemos 
que são muito diversificadas as interpretações que pregadoras e pregadores dão 
aos mesmos textos bíblicos. Um texto como Isaías 53, por exemplo, pode servir 
para defender a ausência de doenças, pois Cristo “carregou sobre si nossas enfer-
midades”; para afirmar a necessidade de fé em Cristo, “mas ele foi traspassado 
pelas nossas transgressões”; para defender a prosperidade, “pois eu lhe darei mui-
tos como a sua parte e com os poderosos repartirá ele o despojo”; para defender a 
humildade e a obediência a Deus, “ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu 
a boca”; e eu poderia continuar a alistar mais e mais exemplos. A situação não 
é tão diferente nos meios acadêmicos, em que mais e mais comentários a cada 
livro da Bíblia são publicados, com novas propostas de leitura, novas soluções 
para antigos problemas exegéticos, novas interpretações para textos familiares. 
Nas igrejas e nas academias teológicas, a novidade também é moeda corrente.
Por que precisamos de uma hermenêutica?
Tanta novidade assim também é expressão de perplexidade. Sinal de que não se 
sabe muito bem o que fazer, de que hábitos antigos já não têm mais tanto valor 
quanto antes imaginávamos que tivessem. Tempos pós-modernos diriam algu-
mas pessoas! Tempos de relativismo, de pluralismo, de contextualismo, de tantos 
ismos que a gente pode escolher o nosso próprio ismo nas prateleiras dos super-
mercados culturais. Mas há mais do que esse tipo de ismos. Há também a busca 
de certezas, de estabilidades, de verdades em que ainda valha a pena acreditar. Os 
limites dos hábitos anteriores não devem nos impedir de reconhecer seus valores 
e de buscar, a partir deles, aperfeiçoamento, melhora de qualidade, novos hábitos 
mais eficazes, mais criativos, mais realizadores. Por isso, precisamos estudar her-
menêutica em um curso de Teologia. Não para inventar tudo de novo, mas para 
contribuir para o avanço de nossas habilidades interpretativas. Não para fechar 
a questão, mas para apresentar novas perguntas e possibilidades. Por que a Bíblia 
é importante? Por que os tempos em que vivemos são complexos? Precisamos 
fazer melhor algumas das coisas que fazíamos antes. Ler a Bíblia é uma dessas 
A Interpretação da Bíblia: Definindo Hermenêutica e Exegese 
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práticas que valem a pena ser mantidas. Precisamos continuar lendo a Bíblia, 
mas lendo melhor, mais criativamente, mais fielmente. Por quê?
Por que a Bíblia é um livro diferente?
De fato, como sabemos, a Bíblia não é um livro, mas uma pequena biblioteca de 
sessenta e seis livros (no cânon adotado por protestantes), ou setenta e três (no 
cânon adotado por católico-romanos). Uma biblioteca de duas religiões: judaica e 
cristã. Uma bibliotecade dois mundos culturais: oriental e ocidental. Uma biblio-
teca de livros provenientes de lugares e épocas diferentes. Uma biblioteca de livros 
escritos em três idiomas distintos (hebraico, aramaico e grego) e traduzida para 
inúmeros outros idiomas. Uma biblioteca sem as primeiras edições de seus livros – 
não temos nenhum manuscrito original dos livros da Bíblia, apenas cópias antigas 
também manuscritas, que serviram de base para as edições impressas dos textos 
nas línguas originais e nas traduções. (As edições impressas da Bíblia são muito 
recentes, durante muitos séculos os livros da Bíblia eram manuscritos, copiados 
geração após geração, circulando em vários lugares e sofrendo pequenas alterações 
no processo de cópia). Uma biblioteca de livros com os mais variados gêneros lite-
rários e temas: narrativas, leis, cartas, interpretações da história do povo de Deus, 
profecias, exortações, canções litúrgicas e canções de amor.
Outra peculiaridade dos livros da Bíblia, em relação as nossas práticas de 
escrever livros, é que boa parte deles não foi escrita pela mesma pessoa, nem em 
um curto período de tempo. Para sermos exatos, nem deveríamos chamar os livros 
da Bíblia de “livros”, pois isso já nos faz pensar em um tipo muito específico de 
obra. Veja o “livro” dos Salmos, por exemplo, não é um livro, mas uma coletâ-
nea de orações, de poemas e de hinos litúrgicos, escritos por pessoas diferentes, 
em épocas e lugares diferentes, e usados em diversas liturgias e festividades cúlti-
cas ao longo da história de Israel. Os doze “livros” dos profetas menores, por sua 
vez, eram considerados um único “livro” nos tempos bíblicos após sua escrita – 
porque eles ocupavam um “rolo” de pergaminho – um dos materiais de escrita 
utilizados. A chamada “literatura paulina” se compõe exclusivamente de cartas, 
assim como as “obras” de Pedro e Judas, e há um livro do Novo Testamento que 
não é nem livro, nem carta, nem sermão – Hebreus!
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Essas características da biblioteca que chamamos de Palavra de Deus exi-
gem, consequentemente, um trabalho interpretativo disciplinado. Mesmo se 
o objetivo da leitura for devocional, não podemos abrir mão de interpretar o 
texto a partir de suas próprias características literárias e linguísticas, nem pode-
mos deixar de ler o texto à luz do seu próprio contexto. Uma leitura devocional 
não terá as mesmas características de uma leitura acadêmica, mas os princípios 
básicos, derivados da natureza sociocultural da Bíblia, não podem deixar de ser 
aplicados. A diversidade literária, social, cultural e religiosa da Bíblia gerou, 
em meios acadêmicos, amplas e detalhadas pesquisas e constituiu todo um 
campo de estudos que é composto por várias disciplinas acadêmicas: geografia e 
arqueologia bíblicas, introdução aos escritos bíblicos, história dos tempos bíbli-
cos, estudo dos idiomas bíblicos, teologia bíblica, exegese e hermenêutica bíblica. 
As riquezas da pesquisa acadêmica da Bíblia não podem ser desperdiçadas, 
mesmo quando não seguimos os seus métodos, não concordamos com seus 
resultados, ou simplesmente quando nossos interesses na leitura da Bíblia são 
distintos dos interesses acadêmicos.
Graças a esse imenso esforço de muitas pessoas ao longo dos últimos três 
séculos, temos hoje a nossa disposição uma vasta bibliografia especializada em 
diversas áreas do estudo da Bíblia. Gramáticas e livros-texto para aprendizado das 
línguas bíblicas, léxicos e dicionários teológicos de grego, hebraico e aramaico; 
séries de comentários exegéticos, literários, sociológicos, homiléticos, feministas 
etc.; compêndios de arqueologia bíblica, história de Israel, história do período do 
Novo Testamento; introduções ao Antigo e Novo Testamentos; manuais sobre 
formas literárias da Bíblia; manuais de crítica textual, de metodologia exegé-
tica e muito mais. Graças a essa bibliografia, nosso trabalho de interpretação 
fica bastante facilitado, pois muitas questões já foram resolvidas por estudiosos. 
Ao mesmo tempo, porém, precisamos tomar cuidado com a maneira mediante 
que usamos essa bibliografia. Ela não pode substituir o nosso trabalho de aná-
lise cuidadosa e interpretação do texto bíblico, deve servir como auxiliar e não 
como guia da nossa interpretação.
Para muitas pessoas, a Bíblia é apenas mais uma coleção de livros. Mas, 
para muitas outras, gente como nós que estuda Teologia, é muito mais do que 
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uma coleção de livros. É Palavra de Deus. Como Palavra de Deus, encanta-nos 
(quantos textos da Bíblia marcaram nossa vida por sua beleza e riqueza), às vezes 
nos chateia (experimente ler aqueles vários capítulos de genealogias, de descri-
ções de rituais sacrificiais) e nos faz trabalhar duro para entendê-la (afinal de 
contas, quem são as bestas do Apocalipse? O que era o tal batismo pelos mor-
tos que os cristãos coríntios praticavam? Quem eram os filhos de Deus que se 
casaram com as filhas dos homens?). Como palavra de Deus, desafia-nos, exor-
ta-nos, ensina-nos, corrige-nos, conforta-nos, transforma-nos, alimenta nossa 
fé, capacita-nos para fazer a vontade de Deus, sermos felizes, praticarmos a mis-
são e os seus ministérios.
Por que o caminho aqui proposto é diferente?
Resumindo e simplificando quase ao extremo, as práticas de exegese da Bíblia 
mais comuns nos últimos duzentos anos são: (1) leituras devocionais dos mais 
variados tipos, nas quais se busca, de forma intuitiva e sem muito trabalho com 
o texto, ouvir o que Deus tem a nos dizer hoje; (2) leituras homiléticas dos mais 
variados tipos, nas quais o texto é estudado em função do que se busca: o melhor 
sermão para a comunidade; (3) leituras técnicas ou acadêmicas, principalmente 
as históricas (exegese histórico-crítica e exegese histórico-gramatical), que são as 
mais antigas e ainda mais comumente praticadas no ambiente acadêmico, mas 
também as sociológicas, as antropológicas, as feministas, as de raça e as diaco-
nais. O que todas essas formas diferentes têm em comum? De uma forma ou de 
outra, todas buscam o sentido do texto. Nos manuais técnicos de exegese, quase 
sempre se define a tarefa da interpretação como “entender o sentido original 
do texto, conforme a intenção do autor, e a compreensão dos seus primeiros lei-
tores” - esse é o primeiro passo, a partir do qual se pergunta pelo “sentido do 
texto para nós hoje”. O que varia nos manuais é principalmente a ordem dessas 
duas tarefas. Tradicionalmente, a ordem é a que eu descrevi acima – a exegese 
tem prioridade sobre a hermenêutica. Mais recentemente, essa ordem tem sido 
invertida – a hermenêutica tem prioridade sobre a exegese.
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Em que sentidos a teoria interpretativa que estudaremos nesta disciplina ofe-
rece um caminho diferente?
Em primeiro lugar, o método aqui proposto pode ser usado igualmente 
para leituras devocionais, homiléticas e técnicas, conforme o interesse de quem 
está estudando a Bíblia, que selecionará, então, partes do método que lhe sejam 
mais úteis.
Em segundo lugar, porque não se prende à ordem do hábito acadêmico de 
interpretação bíblica – você pode começar com a exegese ou com a hermenêutica. 
Tanto faz, pois, de fato, sempre que lemos fazemos as duas coisas simultanea-
mente. Só as distinguimos por razões metodológicas e didáticas. Por isso, nesta 
disciplina, usaremos indistintamente os termos exegese, interpretação, leitura 
e hermenêutica. São termos que, na história, receberam sentidos diferentes e 
definiram propostas distintas de leitura, mas precisam ser revistos e reconheci-dos como sinônimos.
Em terceiro lugar, porque a tarefa fundamental da exegese não é vista como 
a compreensão do sentido do texto, mas dos sentidos da ação no texto e a partir 
do texto. Essa mudança representa uma tentativa de ir além dos limites da inter-
pretação moderna da Bíblia, limites impostos pelas discussões e conflitos entre fé 
e razão, ciência e revelação, objetividade e subjetividade, deísmo e teísmo; e, mais 
importante, pela prioridade do sujeito individual, masculino, branco, racional e 
norte-atlântico, e pela prioridade da teoria sobre a prática. A leitura da Bíblia é 
Há uma importante diferença entre os objetivos de interpretação da Bíblia 
na “igreja” e na “academia”. Normalmente, na Igreja, se lê a Bíblia para pregar, 
formar doutrina, ensinar a viver a fé cristã nos dias “de hoje”. Na academia, 
dá-se mais ênfase ao conhecimento da época do texto bíblico, dos proble-
mas que o texto tentava resolver, e das formas literárias, retóricas e discursi-
vas usadas na escrita dos textos bíblicos. Por isso, às vezes, se tem a impres-
são de que a leitura acadêmica é “teórica” e “seca”, mas não se trata disso, e, 
sim, de diferença de ênfase. Pode-se usar os métodos acadêmicos para, com 
proveito, atualizar o sentido da Bíblia para a prática cristã.
Fonte: o autor.
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tarefa de comunidades cristãs, eclesiais, missionárias, acadêmicas e familiares. A 
leitura da Bíblia é parte integrante da espiritualidade cristã e da ação ministerial 
e missionária. Isso exige uma mudança do centro da tarefa: por isso, o sentido 
da ação vem ocupar o lugar do sentido do texto enquanto tal.
Em quarto lugar, porque integra as três grandes tendências da leitura: a base-
ada na intenção do autor ou autora, a baseada na intenção da obra e a baseada na 
intenção da leitora ou do leitor. O eixo central é a obra, o texto enquanto expres-
são de um conteúdo que é simultaneamente pessoal e social, pelo que a autoria é 
importante, mas não determinante do sentido. Como consequência, a pergunta 
textual mais importante não é “o que o autor/texto quer dizer?”, mas “que possi-
bilidades de sentido o texto coloca à disposição de quem o lê?”.
Em quinto lugar, porque a mudança da tarefa exige mudança da teoria e do 
método interpretativos. Precisamos de uma teoria da ação que seja, também, 
uma teoria do sentido. Precisamos de um método que priorize a ação, mas simul-
taneamente seja apropriado para o trabalho com textos, pois nos textos que se 
testemunha da ação – de Deus e de sua criação.
Em sexto lugar, porque a mudança da tarefa exige mudança de objetivos 
da interpretação da Bíblia. Neste curso, o objetivo fundamental da leitura da 
Bíblia é a práxis cristã. Lemos a Bíblia para responder à ação de Deus por meio 
da nossa ação, como membros do povo de Deus, visando ao crescimento espiri-
tual, à edificação da Igreja, à realização da missão, à transformação das pessoas, 
grupos sociais e da própria sociedade. Enfim, visando à expansão do Reino de 
Deus que, como Pai, Filho e Espírito Santo é glorificado quando sua vontade é 
realizada na terra e seu propósito se concretiza em nossas vidas.
Antes de aprendermos o método de análise semiótica de textos bíblicos, 
estudaremos os principais métodos de exegese usados na Teologia e nas Igrejas. 
Construiremos um caminho histórico que nos levará à hermenêutica sêmio-dis-
cursiva (semiótico-discursiva), que entendo ser o método mais completo, por 
ora, para estudarmos a Bíblia com proveito. São diversas as disciplinas de um 
curso de Teologia, mas todas formam um grande caminho para que possamos 
aprender a interpretar melhor o texto bíblico, a fim de viver mais intensamente 
a fé e a missão cristãs. Caminho que passa por muitas estações, mas que se com-
põe de um único grande eixo: ler, ler, ler, ler... a Palavra de Deus.
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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 
BÍBLICOS NA PRÓPRIA BÍBLIA
A interpretação da Bíblia já começou a existir dentro da própria Bíblia. Os auto-
res e autoras de livros bíblicos também eram leitores (ou exegetas) da Bíblia 
(mesmo ainda não completa canonicamente) e nos deixaram alguns exemplos 
de como liam a Bíblia. Nosso objetivo nesta lição é analisar aspectos importan-
tes da interpretação (hermenêutica) dentro da Escritura.
Aspectos da hermenêutica no Antigo Testamento
Este breve exemplo a seguir, oferece-nos três princípios hermenêuticos no Antigo 
Testamento: (1) um texto sempre é interpretado a partir do contexto de quem 
o interpreta; (2) a interpretação de um texto envolve vários textos com paren-
tesco discursivo (temático); e (3) a interpretação nunca é repetição do sentido 
do texto interpretado, podendo ser uma ampliação, uma reformulação, uma cor-
reção, ou uma nova aplicação.
Um exemplo baseado no conteúdo do texto
Aluno(a), leia com bastante atenção estes três textos bíblicos, de preferência, 
várias vezes:
YHWH, YHWH, Deus de ternura e de piedade, lento para a cólera, 
rico em graça e fidelidade; que guarda sua graça a milhares, tolera a 
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falta, a transgressão e o pecado, mas a ninguém deixa impune e castiga 
a falta dos pais nos filhos, e os filhos dos seus filhos, até a terceira e a 
quarta geração. (BÍBLIA, Êx 34,6-7).
Saberás, portanto, que YHWH teu Deus é o único Deus, o Deus fiel, 
que mantém a aliança e o amor por mil gerações, em favor daqueles que 
o amam e observam os seus mandamentos; mas é também o que retri-
bui pessoalmente aos que o odeiam; faz com que pereça sem demora o 
que o odeia, retribuindo-lhe pessoalmente. (BÍBLIA, Dt 7,9-10).
“Tu YHWH, Deus de piedade e compaixão, lento para a cólera, cheio de amor 
e fidelidade, volta-te para mim, tem piedade de mim” (BÍBLIA, Sl 86,15-16).
Os trechos descritos estão em ordem cronológica: o mais antigo é o do livro 
do Êxodo, depois o do Deuteronômio e, por fim, o do Salmo 86. Repare como 
o texto de Êxodo é interpretado e reformulado:
1. O texto Deuteronômico interpreta o do Êxodo a partir da nova situação 
urbana em que o Deuteronômio está sendo escrito: (a) desaparece a expressão “a 
falta dos pais nos filhos, e os filhos dos seus filhos, até a terceira e a quarta geração”, 
que é substituída pelas expressões “o que retribui pessoalmente aos que o odeiam 
[...] retribuindo-lhe pessoalmente”. O Deuteronômio interpreta o texto do Êxodo e 
já lhe dá um novo sentido (ou um sentido renovado). O texto do Êxodo fazia bas-
tante sentido em uma comunidade agrária, pouco urbanizada, em que os filhos 
e netos viviam na propriedade do pai (e do avô) e sofriam os efeitos dos proble-
mas do pai (ou do avô) – quando a colheita ia mal, todos sofriam. Já o texto do 
Deuteronômio é escrito em um ambiente urbanizado, onde pais e filhos e netos 
vivem em casas separadas, têm (podem ter) diferentes profissões e suas vidas não 
estão ligadas de forma tão intensa quanto no sítio; (2) pela mesma razão, o termo 
“milhares” de Êxodo é substituído por “mil gerações” e recebe o acréscimo de “em 
favor daqueles que O amam e observam os seus mandamentos”; (3) O texto do 
Deuteronômio é da mesma época (ou talvez um pouco anterior) aos de Ezequiel 18 
e Jeremias 31, textos que também indicam uma mudança de mentalidade em Judá: 
Nesses dias já não se dirá: Os pais comeram uvas verdes e os dentes 
dos filhos se embotaram. Mas cada um morrerá por sua própria falta. 
Todo homem que tenha comido uvas verdes terá os dentes embotados 
(BÍBLIA, Jr 31,29-30). 
A palavra de YHWH me foi dirigida nestes termos:Que vem a ser este provérbio 
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que vós usais na terra de Israel: 
Os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos ficaram embotados’? 
Por minha vida, oráculo de YHWH, não repetireis jamais este provérbio 
em Israel. Todas as vidas me pertencem, tanto a vida do pai, como a do 
filho. Pois bem, aquele que pecar, esse morrerá (BÍBLIA, Ez 18,1-4); 
e (4) o Deuteronômio insere sua própria visão da aliança na interpretação 
de Êxodo: YHWH é descrito como “teu Deus”, “o único Deus”.
2. Já o Salmo 86 cita apenas a primeira parte do texto do Êxodo, deixando de fora 
toda a seção sobre a punição. Por quê? Porque o Salmo 86 é uma oração individual 
de súplica, de modo que o contexto litúrgico da interpretação autoriza o intérprete 
a se apropriar de apenas parte do texto interpretado, a fim de destacar a mensagem 
que deseja comunicar aos seus ouvintes. A interpretação que o Salmo 86 faz do texto 
do Êxodo é exemplo de uma “nova aplicação” do texto em um novo contexto. Não 
se trata de negar os aspectos do texto que não foram citados, nem de ressignificar o 
texto (como no caso do Deuteronômio), mas, sim, de se apropriar do texto em uma 
situação distinta da situação em que o texto interpretado foi elaborado.
Um exemplo baseado na forma do texto
Vejamos outro exemplo, dessa vez, destacando um aspecto mais técnico da inter-
pretação, o recurso à intertextualidade:
Em Dt 12,13-19, há dois exemplos de citação de Êx 20,24, o primeiro no 
verso 14 e o segundo no 15:
(a) Em Dt 12:14 que faz referência ao santuário único e às instruções acerca 
do que fazer no santuário citam Êx 20,24, mas de forma quiástica, ou seja, inver-
tida. A lei do altar em Êx 20,24 tem dois componentes principais:
A Sacrificarás sobre ele tuas ofertas queimadas. 
B em todo lugar onde... 
Dt 12,14 toma esses dois elementos em ordem quiástica, invertida, fazendo 
com que o foco da lei recaia sobre o lugar do sacrifício e não sobre o ato do sacri-
fício (como em Êxodo):
B1 no lugar que Javé tiver escolhido.
A1 lá oferecerás tuas ofertas queimadas. 
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(b) Em Dt 12,15, o texto de Êx 20,24 é ressignificado, de modo a permitir o 
abate de animais nas cidades, longe do altar (o que era exigido no texto do Êxodo):
A sacrificarás sobre o altar tuas ofertas queimadas.
B em todo lugar onde Eu proclamar meu nome Eu virei a ti e te abençoarei. 
O texto do Êxodo é citado invertidamente e ressignificado em Dt 12,15:
A1 conforme o desejo de teu coração poderás abater e comer carne. 
B1 conforme a bênção de Javé teu Deus em cada um de teus portões. 
Aspectos da hermenêutica em o Novo Testamento
Aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de Nazaré da Galiléia e foi ba-
tizado por João no rio Jordão. E, logo ao subir da água, ele viu os céus se 
rasgando e o Espírito, como uma pomba, descer até ele, e uma voz veio dos 
céus: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”. (BÍBLIA, Mc 1, 9-11).
Repare no conteúdo da voz que veio dos céus: as sentenças Tu és o meu filho amado, 
em ti me comprazo vêm do Antigo Testamento e são retiradas de três textos dis-
tintos: Gn 22,2 “Deus disse: ‘Toma teu filho, teu único, a quem amas, Isaque, e 
vai à terra de Moriá, e lá o oferecerás em holocausto sobre uma montanha que 
eu te indicarei” (BÍBLIA, Gn 22,12-16); Sl 2,7 “Publicarei o decreto de YHWH: 
Ele me disse: ‘Tu és meu filho, eu hoje te gerei’.” e Is 42,1 “Eis o meu servo que eu 
sustento, o meu eleito, em quem me comprazo. Pus sobre ele o meu Espírito, ele 
trará o direito às nações”. O Evangelho de Marcos usa diferenciadamente os três 
textos vétero-testamentários: no caso de Gn 22, temos uma alusão, pois não há 
uma cópia literal do texto de Gênesis: “filho amado” (de Marcos) equivale - “a 
quem amas” (de Gênesis). Nos casos do Sl 2,7 e de Is 42,1, é usada a estratégia 
da citação, pois parte do texto vétero-testamentário é literalmente copiada: “Tu 
és meu filho” (no caso do Salmo); “me comprazo” (no caso de Isaías).
Por que Marcos junta três textos aparentemente tão diferentes para falar de 
Jesus? Ou, em outras palavras, que princípios hermenêuticos Marcos usou ao 
construir o seu texto? Dois dos princípios nós já conhecemos – Marcos interpreta 
os textos do Antigo Testamento à luz de seu próprio contexto como intérprete. 
Marcos já conhece a vida de Jesus e essa vida de Jesus se torna a chave para inter-
pretar os textos do Antigo Testamento – o princípio hermenêutico (1) acima. 
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Marcos não escolhe os textos do Antigo Testamento de qualquer jeito. É a cris-
tologia que serve de base para a escolha: o texto de Gênesis é aludido porque 
Jesus era anunciado como o novo Isaque – mas um Isaque diferente, que mor-
reu sacrificialmente. O Salmo é citado porque a igreja cristã acreditava que Jesus 
era o pregador do reino de Deus, o rei assentado à direita do trono de Deus Pai. 
Isaías é citado porque Jesus era anunciado como o Servo de Deus que morre e 
ressuscita em benefício do Seu povo – o princípio (2) acima.
O terceiro princípio que vimos no exemplo do Antigo Testamento é usado de 
forma peculiar por Marcos. Ele, de fato, corrige o sentido dos textos vétero-testa-
mentários, mas não os textos em si, e sim a interpretação que rabinos judeus faziam 
desses textos, afirmando que a interpretação cristã era a mais correta. Isso nos mostra 
um quarto princípio hermenêutico: (4) o da conflitividade da interpretação – textos 
sagrados recebem interpretações conflitantes nas diferentes comunidades de segui-
dores desses textos. Um novo princípio, por fim, também é perceptível: (5) Marcos 
usa uma técnica comum entre os intérpretes judeus: a associação de textos das dife-
rentes seções do cânon hebraico mediada pelo uso de palavras-chave ou temas-chave.
No pano de fundo dessa técnica, está o texto bíblico de Dt 17,6: “Pela boca de 
duas ou de três testemunhas, será morto o que houver de morrer; pela boca duma 
só testemunha não morrerá”. Esse texto é interpretado a partir de outro princípio 
hermenêutico: (6) se um texto vale para uma situação material, também há de valer 
para uma situação espiritual. As três seções do cânon hebraico são as três testemu-
nhas que confirmam a validade do texto de Marcos! (Note como esse princípio está 
presente também na pregação de Paulo, [BÍBLIA, 1 Co 9,8-14 e BÍBLIA, 1 Tm 5,17-
18] que interpreta o texto “não amordaçarás o boi que debulha” como um texto que 
valida o pagamento de remuneração aos pregadores da palavra).
Escreva, em sequência, todos os princípios hermenêuticos estudados ante-
riormente. Reflita sobre a importância deles para entender a Bíblia e sobre 
como você pode usá-los em seu estudo bíblico (o autor).
História da Interpretação da Bíblia: A Hermenêutica na Igreja Antes da Reforma
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HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA: A 
HERMENÊUTICA NA IGREJA ANTES DA REFORMA
Na seção anterior, examinamos brevemente os modos e princípios de inter-
pretação de textos bíblicos na própria Bíblia. Notamos como a preocupação 
fundamental da interpretação era a compreensão da palavra e da vontade de 
Deus para a época do intérprete (aquilo que alguns chamam hoje em dia de apli-
cação). Notamos também alguns dos princípios hermenêuticos utilizados para 
que essa compreensão não fosse arbitrária (ou seja, de acordo com a vontade 
do intérprete), mas pudesse ser validada pela comunidade judaica ou cristã na 
época da interpretação. Aprendemos, enfim, que,na Bíblia, a interpretação de 
textos bíblicos nunca se resumia a uma repetição do texto, mas sempre envolvia 
uma ampliação ou mesmo uma reinvenção do texto interpretado.
Nosso foco recairá agora sobre a interpretação da Bíblia na história das 
Igrejas Cristãs antes da Reforma. É importante prestarmos atenção a esse tema, 
pois um hábito ruim de estudo teológico se desenvolveu em escolas protestan-
tes. Esse hábito foi o do esquecimento da riqueza da fé e do trabalho cristão no 
período anterior à Reforma. Juntamente com esse esquecimento, muita vez se 
afirmou que toda a história entre o Novo Testamento e a Reforma foi uma histó-
ria de corrupção e banalização da fé cristã. Não é possível, neste pequeno texto, 
corrigir tais injustiças, por isso, nosso foco recairá sobre os aspectos principais 
da hermenêutica pré-Reforma, com destaque para a sua importante contribui-
ção para a nossa própria tarefa de interpretação da Bíblia.
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A hermenêutica no período dos Pais da Igreja 
Há diversos modos de estruturar e apresentar o trabalho hermenêutico no período 
da Patrística que é o nome que se dá ao estudo dos textos e obras dos chamados 
Pais da Igreja, líderes e teólogos. Eles foram responsáveis pelo desenvolvimento da 
estrutura e do pensamento do Cristianismo nos primeiros séculos da história da 
Igreja. Uma das maneiras de organizar cronologicamente esse período é a seguinte:
 ■ Período ante-niceno: corresponde ao período anterior ao Concílio 
Ecumênico de Niceia (324 d. C). Geralmente compreende os escritos 
surgidos entre o século I e início do IV século.
 ■ Período niceno: corresponde ao período entre os anos anteriores até 
alguns imediatamente posteriores ao Concílio Ecumênico de Niceia (324 
d. C). Geralmente compreende os escritos surgidos entre o início do IV 
século até o final deste.
 ■ Período pós-niceno: corresponde ao período compreendido entre os 
séculos V e VII (ou VIII).
Tal cronologia aponta para um fator importante no estudo da Patrística – o forte 
vínculo entre o trabalho dos Pais e a formação do Dogma, da Doutrina oficial da 
Igreja Cristã (então, havia apenas a Igreja Católica). Além da ênfase na formação 
doutrinária, o trabalho dos Pais da Igreja também teve um forte tom evange-
lístico e apologético (diálogo e debate com religiões e filosofias concorrentes). 
Dessa forma, a hermenêutica dos Pais da Igreja deve ser entendida à luz dessa 
tarefa dual: formar doutrina e comunicar o Evangelho fora da Igreja.
Conforme Allen Brent, em artigo no Dictionary of biblical criticism and inter-
pretation, há pelo menos três modos de interpretação bíblica entre os Pais da 
Igreja, os quais podem ser assim descritos:
(1) Os contextos históricos e narrativas do Antigo e do Novo Testamentos 
eram literalmente verdadeiros e os eventos, pessoas e palavras descritos pos-
sibilitavam a seleção de princípios gerais e de modelos de ação para o bem ou 
para o mal [...].
(2) [...] os contextos históricos e as narrativas eram verdadeiros, mas os even-
tos e pessoas descritos eram misteriosos. Eventos e pessoas não eram exatamente 
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o que pareciam: por trás do sentido literal desenvolvia-se uma história eterna, 
na qual o tipo dava lugar ao antítipo, e o presente seria cumprido no futuro [...].
(3) Os textos bíblicos serão mal-entendidos se acreditarmos que são literais 
e históricos, ou que são produtos exortativos, poéticos e proféticos endereça-
dos a uma situação histórica específica: ao contrário, são alegorias nas quais 
cada pessoa e evento da estória é um código para o drama eterno da salvação. 
A redenção é alcançada por quem consegue captar o sentido verdadeiro da ale-
goria ou história redentiva.
O elemento comum a esses três modos hermenêuticos era o da prioridade da dou-
trina para a validação da interpretação da Bíblia. A maioria dos textos bíblicos era 
interpretada segundo o sentido mais claro do texto (chamado erroneamente de 
literal), mas, quando os textos apresentavam dificuldades hermenêuticas, deve-
riam ser lidos à luz da doutrina cristã. Nesse sentido, a hermenêutica patrística 
não se diferenciava, em termos formais, das hermenêuticas presentes na Bíblia. 
Os Pais não se preocupavam em descrever o que o texto bíblico quis dizer no 
passado, mas o que o texto bíblico diz no presente (do intérprete).
As diferenças estavam no grau de ampliação ou reinvenção do texto inter-
pretado. No primeiro modo (literal), a ampliação se dava do ponto de vista da 
vida cristã ou espiritualidade, e normalmente se usavam recursos tipológicos 
para tornar textos do Antigo Testamento relevantes para a prática cristã e para a 
evangelização ou apologética (por exemplo, Moisés podia ser descrito como um 
grande filósofo, cujas ideias já prenunciavam as descobertas filosóficas e eram 
“Tipo” é uma pessoa ou instituição do Antigo Testamento que apontava para 
outra pessoa ou instituição (o antítipo) do Novo Testamento. Por exemplo: 
Moisés e Davi eram tipos de Cristo. O sacrifício pascal era tipo da redenção 
na Cruz.
Fonte: o autor.
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até mesmo superiores a elas). No segundo modo, o uso da tipologia era bem mais 
intenso, de modo que o Antigo Testamento era interpretado à luz dos ensinos 
do Novo, e esse à luz das doutrinas da Igreja (por exemplo, após a definição da 
doutrina da Trindade, mesmo textos bíblicos que não se referiam à Trindade pas-
savam a ser interpretados à luz dessa doutrina, tais como o plural em Gn 1,26, 
ou as menções ao Anjo do Senhor no Pentateuco, que era visto como o próprio 
Jesus etc.). No terceiro modo, o alegórico, o grau de reinvenção do texto era ainda 
maior, de modo que o recurso tipológico era estendido aos próprios detalhes do 
texto (por exemplo, uma interpretação excessivamente alegórica procurava nas 
parábolas um significado específico para cada detalhe: o assaltado na parábola 
do Samaritano era o incrédulo, a estalagem a igreja, o samaritano Jesus etc.).
Aos princípios hermenêuticos presentes na própria Bíblia, acrescentou-se 
um princípio determinante: a interpretação do texto deve corresponder ao con-
junto da doutrina cristã. Até hoje a interpretação da Bíblia nas Igrejas segue esse 
princípio patrístico – o sentido dos textos bíblicos sempre valida as doutrinas de 
cada denominação cristã e invalida as doutrinas concorrentes. 
Hermenêutica Medieval
No período medieval, poucas foram as inovações na hermenêutica. Em geral, 
seguiam-se os princípios da Patrística, mas foi feita uma formalização desses 
princípios por meio da definição de uma quádrupla descrição do sentido dos 
textos bíblicos. Afirmava-se, em geral, que o texto bíblico deve ser lido à luz de 
quatro dimensões de sentido: literal ou histórico, alegórico ou tipológico (com 
ênfase na cristologia), moral ou tropológico e anagógico ou místico (distinção 
que é atribuída a João Cassiano, autor do V século da era cristã).
Littera gesta docet
Quid credas allegoria
Moralis quid agas
Quo tendas anagogia
O sentido literal ensina os fatos
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O alegórico, o que crer
O moral, o que fazer
O anagógico, a direção a seguir
(Poema de Nicolau de Lira, século XIII d. C.).
O sentido literal servia de base para os demais, especialmente para o alegórico, 
de modo que esse não se tornasse excessivamente subjetivo. Osentido anagó-
gico, que correspondia grosso modo à doutrina cristã, servia de critério para os 
demais na medida em que nenhuma interpretação da Bíblia poderia contradi-
zer o ensino da Igreja.
A interpretação da Bíblia não era a principal tarefa dos cristãos nem dos 
sacerdotes ou líderes cristãos. Essa era, sim, a comunicação da doutrina cristã 
aos membros da Igreja e aos pagãos no território da Igreja. Na pregação, por 
exemplo, a ênfase recaía sobre os deveres morais dos ouvintes (sentido tropo-
lógico), ou sobre os exemplos bíblicos a serem seguidos (sentido alegórico), ou 
sobre a fidelidade à doutrina da Igreja (sentido anagógico). No estudo da Bíblia, 
em geral, havia significativas diferenças entre os intérpretes no tocante ao peso 
que cada sentido do texto deveria ter na interpretação. Se por um lado é verdade 
que muitos exageraram na alegorização e na vinculação do texto à doutrina da 
Igreja, não foram poucos os intérpretes da Escritura que davam peso significa-
tivo ao sentido literal ou histórico do texto bíblico, que servia como controle 
para as suas ampliações e/ou reinvenções.
Infelizmente, nosso tempo não permite um aprofundamento desse tema tão 
rico e significativo. Fica assim o desafio para o estudo de obras que permitam 
tal aprofundamento. Cabe ressaltar, porém, que não podemos desconsiderar o 
período pré-Reforma, nem descrevê-lo como um tempo de corrupção moral e 
doutrinária, ou como um tempo de distanciamento dos ensinamentos bíblicos. 
Certamente, houve excessos, exageros e erros na vida cristã, na organização ecle-
siástica e na interpretação da Bíblia. Tais excessos, porém, não podem ocultar a 
riqueza da vida cristã e da hermenêutica nos séculos entre o Novo Testamento 
e a Reforma Protestante.
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HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA: A 
HERMENÊUTICA NO PERÍODO DA REFORMA
Para a maioria dos protestantes, as práticas hermenêutico-exegéticas dos 
Reformadores se revestem de uma validade peculiar. Elas são vistas como a 
superação dos grandes erros da interpretação bíblica na Igreja antes da Reforma, 
de modo que se tornam como que um princípio de fé e não apenas uma forma 
historicamente condicionada de realizar a interpretação da Bíblia. 
Hermenêutica na Reforma
Em grande medida, a validade que se dá aos reformadores é fruto do sincretismo 
entre a mentalidade protestante e a metanarrativa moderna. Enquanto a protestante 
classifica o passado eclesiástico como de deturpação do ideal bíblico, a moderni-
dade classifica o mundo pré-moderno como pré-racional ou mesmo irracional, 
dogmático. Se queremos, porém, entender a hermenêutica dos reformadores de 
modo adequado, precisamos abrir mão dessa visão avaliativa. Precisamos des-
crever a hermenêutica nos tempos da Reforma como mais um passo na história 
da interpretação bíblico, sem lhe atribuir valor especial – seja para a metodolo-
gia, seja do ponto de vista da fé.
Com isso em mente, apresento alguns aspectos fundamentais da hermenêu-
tica na Reforma, com destaque para o seu aspecto crítico que, em certa medida, 
é precursor do paradigma moderno-iluminista de exegese.
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Uma nova atitude perante a Escritura
Um dos princípios fundamentais da Reforma Protestante foi o da Sola Scriptura 
(expressão latina que significa: Somente a Escritura). Esse princípio tinha uma 
dupla função: (a) polêmica, na medida em que contradizia a doutrina católico-
-romana da continuidade da revelação divina na tradição eclesiástica e, com isso, 
contradizia a legitimidade das doutrinas que os reformadores consideravam não 
bíblicas; e (b) positiva, na medida em que fazia com que a Escritura voltasse a 
ocupar lugar de destaque na vida da Igreja e na vida cristã.
Para os Reformadores, a doutrina oficial da Igreja Católica havia se desviado 
do rumo correto, afastando-se das Escrituras e se tornando fortemente mar-
cada pela presença de ideias meramente humanas. Parte da responsabilidade 
por esse desvio estava no modo medieval de ler as Escrituras. Por um lado, os 
Reformadores criticavam o costume medieval de ler trechos isolados da Escritura, 
bem como o uso de traduções sem consulta aos textos originais. À época, a tradu-
ção oficial era a Vulgata (tradução para o latim), a qual, segundo especialistas de 
línguas bíblicas de então (tanto nas igrejas quanto fora delas), não representava 
a melhor tradução possível. Para as igrejas nascentes, a Vulgata estava profun-
damente marcada pela tradição eclesiástica e não oferecia um caminho seguro 
para o conhecimento da Palavra de Deus.
Por outro lado, criticavam o uso exagerado das alegorizações e da vinculação 
do texto bíblico ao controle do dogma oficial. Embora não negassem plena-
mente o valor da interpretação medieval, com sua teoria dos quatro sentidos, 
os Reformadores consideravam perigoso o método enquanto praticado, pois 
ficava muito exposto à subjetividade dos intérpretes, sem controles adequados 
para a interpretação do texto. A teoria dos quatro sentidos permitia que a deci-
são do intérprete estivesse acima da direção oferecida pelo próprio texto bíblico, 
tornando, assim, a Escritura sujeita ao arbítrio do indivíduo e da direção ecle-
siástica. O princípio da sola Scriptura não poderia ser eficaz sob tais condições, 
de modo que o método medieval foi abandonado.
Um segundo princípio fundamental da hermenêutica dos Reformadores foi 
a afirmação da perspicuidade (clareza) das Escrituras. Esse segundo princípio 
completava o primeiro, na medida em que afirmava que qualquer cristão seria 
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capaz de compreender a Bíblia. Como o primeiro princípio já exposto, esse tam-
bém tinha uma dupla função – polêmica e positiva.
Para apreciar o que está genuinamente em jogo na ênfase de Lutero e Cal-
vino sobre a claritas scripturae precisamos examinar com cuidado como 
ela emergiu em vários contextos polêmicos, e também sua formulação 
no contexto das questões acerca do estatuto do conhecimento humano. 
Em relação à afirmação que notamos, por exemplo, em Clemente de Ale-
xandria e outros, que o sentido da escritura é, em princípio, enigmático 
e polivalente, a perspicuidade da escritura emerge como um princípio 
hermenêutico. Em relação à afirmação de que a escritura só pode ser in-
terpretada à luz do magisterium da Igreja, ele se torna um princípio cris-
tológico, eclesiológico e crítico. Em relação à afirmação de que nenhum 
conhecimento pode ser suficientemente certo para permitir que juízos 
teológicos resultem em ação radical, a perspicuidade da escritura se torna 
um princípio epistemológico. (THISELTON, 1992, p. 180).
Como um princípio hermenêutico, a perspicuidade da escritura afirma que tudo 
o que é necessário e possível conhecer sobre a Escritura está no sentido natural 
do texto, ou seja, no sentido que pode ser apreendido na que se chamava, então, 
de sentido literal (o primeiro dos quatro sentidos da tradição medieval). Como 
um princípio crítico, a noção de perspicuidade da Escritura apontava para o fato 
de que Jesus Cristo é a própria chave hermenêutica da Bíblia – toda a Bíblia dá 
testemunho de Cristo e esse testemunho é claro, compreensível e serve como 
fundamento da igreja. Como princípio epistemológico (relativo às condições do 
conhecimento), a perspicuidade implica em que qualquer pessoa que conhecer 
a linguagem (não a língua original) e o contexto (contexto textual, não o histó-
rico) dos textos bíblicos será capaz de entendê-los.
O aspecto epistemológico do princípio da perspicuidade nos encaminhapara 
a terceira grande mudança de atitude dos Reformadores em relação à interpre-
tação da Bíblia. Esse terceiro princípio afirma que a Bíblia é a melhor intérprete 
de si mesma. Completamos, assim, a grande transformação no modo de ver e ler 
a Bíblia promovida pelos Reformadores. Por um lado, esse princípio polemiza 
com a necessidade da autoridade eclesiástica para interpretar adequadamente 
a Bíblia. Por outro lado, o princípio afirma que não se deve interpretar textos 
bíblicos isoladamente, mas sempre a partir do conjunto da própria Escritura. 
A melhor formação para a interpretação bíblica é o estudo constante de toda a 
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Escritura, pois ela oferece aos leitores e leitoras as orientações necessárias para 
sua própria compreensão.
Uma nova metodologia de interpretação
A partir da nova atitude perante a Bíblia, os Reformadores passaram a usar uma 
nova metodologia para a interpretação da Palavra de Deus. Eles não escreveram 
manuais de interpretação bíblica, mas, em seus sermões, comentários bíblicos e 
obras de teologia, encontramos os princípios metodológicos por eles utilizados. 
Em primeiro lugar, embora fossem críticos dos modos anteriores de interpreta-
ção da Bíblia na Igreja, eles não deixaram de utilizar a bibliografia já existente, 
especialmente os escritos dos Pais da Igreja. Não se tratava, então, de “começar 
do zero”, mas, sim, de permitir que a Escritura fosse reencontrada em sua clareza 
e autoridade e de permitir que a Escritura funcionasse como princípio crítico 
para a leitura das obras de teologia e interpretação bíblica ao longo da história 
do Cristianismo.
Em segundo lugar, os Reformadores tiraram proveito dos conhecimentos 
produzidos fora do ambiente eclesiástico – filosofia, direito, as ciências de sua 
época – a fim de desenvolver suas próprias metodologias de interpretação da 
Escritura. Ou seja, para eles, a metodologia não era uma questão de “doutrina”, 
mas, sim, de eficiência e utilidade. O alvo final era a compreensão da Bíblia e a 
prática da vontade de Deus, o método era uma ferramenta em busca desse alvo. 
Para alcançar o alvo, foram capazes de usar crítica e sabiamente conhecimen-
tos hermenêuticos e filosóficos do mundo exterior à Igreja, pois acreditavam 
que toda verdade provinha de Deus – por mais maculado que estivesse o ser 
humano pelo pecado.
Em terceiro lugar, não encontramos uma única metodologia nos escritos dos 
Reformadores – nem mesmo nos escritos de um mesmo reformador (ao longo 
de sua vida, eles mudavam modos de trabalhar). Por exemplo: (a) Calvino admi-
rava a obra de Martin Bucer e de Melanchton, mas criticou o trabalho de ambos 
como comentaristas de Romanos: a Bucer pela grande extensão de seu comen-
tário e pela excessiva sofisticação do mesmo em certos pontos, a Melanchton 
pelas omissões que, segundo Calvino, podiam ser encontradas em seu escrito; 
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(b) Zwínglio deu muito mais valor ao modo alegórico de interpretação do que 
outros reformadores.
Feitas as considerações já descritas, passo a descrever com brevidade as 
principais características hermenêuticas encontradas em obras dos principais 
líderes da Reforma.
1. Valorização do texto enquanto fonte e critério da sua própria interpretação. 
Seguindo a tradição humanística e renascentista de sua época, os Reformadores 
insistiam no uso das línguas originais no estudo da Bíblia (lembremos que não 
havia traduções suficientemente confiáveis em seu tempo), a fim de apreciar com 
maior qualidade e precisão a estrutura, o vocabulário, o estilo e o modo de fun-
cionamento do texto bíblico.
2. Identificação do sentido do texto com a intenção do autor do texto, embora 
tal princípio fosse entendido primariamente como a percepção da intenção 
explícita do autor no próprio texto – não se tratava de uma busca psicológica da 
intenção do autor independentemente do texto bíblico.
3. Atenção aos detalhes do texto juntamente com a utilização de outros 
textos bíblicos como auxiliares indispensáveis na compreensão de cada texto 
estudado, especialmente em dois sentidos: (a) para situar o texto estudado em 
seu contexto histórico; e (b) para permitir que o conjunto da Escritura funcio-
nasse como chave hermenêutica da leitura de textos particulares.
4. A finalidade da interpretação era a edificação da pessoa e da Igreja, de 
modo que não distinguiam entre uma leitura “histórica” e outra leitura “aplica-
tiva”. Todo texto era lido sempre em função do significado que ofereceria para a 
vida da Igreja e das pessoas na época da leitura.
Uma nova epistemologia para a interpretação da Bíblia
Michel Foucault concentrou boa parte de seus esforços na análise crítica dos 
modelos epistemológicos da Modernidade, especialmente com relação às ciên-
cias humanas e às ciências psíquicas. Em seus escritos maiores, praticamente 
não deu atenção à questão da hermenêutica bíblica. Entretanto, em um artigo 
fundamental sobre a epistemologia crítica da modernidade, o tema da leitura 
da Bíblia ocupa papel central. Foucault descreve a leitura da Bíblia na Reforma 
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a partir da sua discussão do conceito de crítica do poder, e nos ajuda a perce-
ber aspectos normalmente não destacados na descrição da hermenêutica dos 
Reformadores. 
Segundo Foucault, “a pastoral cristã, ou a igreja cristã ao realizar uma 
atividade precisamente e especificamente pastoral, desenvolveu a ideia 
– singular e estranha à cultura antiga – que cada indivíduo, qualquer 
que seja sua idade, seu status, do início ao fim de sua vida e nos deta-
lhes de suas ações, deve ser governado e deve se deixar governar, isto 
é, se deixar dirigir para a sua salvação, por alguém ao qual se liga por 
um relacionamento global e ao mesmo tempo meticuloso, detalhado, 
de obediência. E esta operação de direção para a salvação por meio 
de um relacionamento de obediência a alguém, deve se fazer em uma 
tripla relação com a verdade: verdade entendida como dogma; verdade, 
também, na medida em que esta direção implica um certo modo de 
co nhecimento dos indivíduos, particular e individualizante; e, enfim, 
na medida em que esta direção se dispõe como uma técnica reflexiva, 
comportando regras gerais, conhecimen tos particulares, preceitos, mé-
todos de exame, confissões, entrevistas etc.”. (FOUCAULT, p. 170ss).
Essa “direção de consciência”, essa “arte de governar”, sofreu uma “verda-
deira ex plosão” a partir do século XV, “explosão entendida em dois sentidos. 
Deslocamento, pri meiro, em relação ao seu lar religioso e, em segundo lugar, 
multiplicação desta arte de governar em domínios variados. [...] Como governar 
uma das questões fundamentais que se passa do século XV ao XVI. 
Questão fundamental que é respondida com a multi plicação das artes 
de governar – arte pedagógica, arte econômica, arte política, se vocês 
Epistemologia é um termo técnico da filosofia, que significa “teoria do co-
nhecimento”. Vem de duas palavras gregas: episteme = conhecimento e lo-
gos = palavra, doutrina. Falar em epistemologia é falar sobre o modo como 
nós produzimos conhecimento válido.
Fonte: o autor.
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quiserem – e de todas as instituições de governo, no sentido amplo que 
tinha a palavra governo àquela época. (FOUCAULT, 2000, p. 171).
Ou, colocado de outra forma, a essa explosão da governamentalizaçãocorres-
pon de uma questão: “como não ser governado? [... ou] como não ser governado 
desse modo, em nome desses princípios, em vista de tais objetivos e por meio 
de tais procedi mentos, não desse modo, não para isto, não por estas pessoas” 
(FOUCAULT, 2000, p. 171).
A atitude crítica, pensa Foucault (2000, p. 171ss), cresce lado a lado dessa 
explosão da governamentalização: 
[...] em face, e como contraparte, ou melhor, como parceira e adversária 
das artes de governar, como maneira de desconfiar delas, de recusá-las, 
de limitá-las, de lhes encontrar uma justa medida, de transformá-las, 
de procurar escapar a estas artes de governar, ou, em todo caso, de des-
locá-las a título de reticência essencial, mas também, e, por isso mes-
mo, como linha de desenvolvimento das artes de governar, teria nasci-
do na Europa, naquele momento, uma espécie de forma cultural geral, 
ao mesmo tempo atitude moral e política, maneira de pensar etc., que 
pode ser chamada como arte de não ser governado ou arte de não ser 
governado dessa forma e a esse preço. Proporia, portanto, como uma 
primei ra definição da crítica, esta caracterização geral: a arte de não ser 
de tal forma governa do.
Os pontos históricos de ancoragem da atitude crítica, segundo Foucault (2000, 
p. 172), teriam sido a Bíblia, o direito e a ciência: 
[...] em uma época na qual o governo dos homens era es sencialmente 
uma arte espiritual, ou uma prática essencialmente religiosa ligada à 
autori dade de uma Igreja, ao magistério de uma Escritura, não querer 
ser governado de tal modo seria essencialmente buscar nas Escrituras 
uma relação outra, que a ligada ao fun cionamento do ensinamento de 
Deus [...] uma certa maneira de refutar, recusar, limitar (di gam como 
vocês quiserem) o magistério eclesiástico, seria um retorno às Escri-
turas, se ria a questão do que é autêntico nas Escrituras, do que está 
efetivamente escrito nas Es crituras, a questão de que espécie de ver-
dade dizem as Escrituras, como ter acesso a esta verdade da Escritura 
na Escritura e a despeito, talvez, do escrito, e até chegarmos à questão 
finalmente muito simples: as Escrituras são verdadeiras? Diremos que 
a críti ca é historicamente bíblica.
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E, especialmente no caso da crítica em busca da verdade bíblica, a Reforma de-
sempenha um papel crucial, reconhecido pelo próprio Foucault (1995, p. 236): 
Eu suponho que não é a primeira vez que a nossa sociedade se con-
frontou com este tipo de luta. Todos aqueles movimentos dos séculos 
XV e XVI, e que tiveram a Reforma como expressão e resultado máxi-
mos, poderiam ser analisados como uma grande crise da experiência 
ocidental da subjetividade, e como uma revolta contra o tipo de poder 
religioso e moral que deu forma, na Idade Média, a esta subjetividade. 
A necessidade de ter uma participação direta na vida espiritual, no tra-
balho de salvação, na verdade que repousa nas Escrituras – tudo isso foi 
uma luta por uma nova subjetividade.
Do ponto de vista histórico, a Reforma Protestante é o clímax de uma série 
de movimentos de oposição à maneira pela qual os interesses da instituição 
eclesiástica foram se sobrepondo ao ideal neotestamentário da vida cristã. Em 
particular, a centralização da autoridade e do governo na instituição papal gerou 
reações significativas que, aliadas ao movimento mais amplo de autonomia das 
nações europeias, desembocaram na Reforma. Se a crítica é um não querer ser 
governado desta maneira, então, pode-se dizer que a crítica faz parte da identi-
dade do Protestantismo. Na linguagem de Foucault, o Protestantismo encarna 
uma atitude crítica cristã à forma de institucionalização e governo desenvolvi-
dos pela Cristandade.
Paul Tillich apresenta uma interpretação semelhante para o Protestan-
tismo, caracterizando a identidade protestante como a concretização 
do que ele chamou, em diferentes escritos, de o princípio protestan-
te. “O princípio protestante pode aparecer de diversas formas. A mais 
simples é esta: ‘os meios pelos quais o sagrado aparece não podem ser 
identificados com o sagrado’. Esta formulação negaria quaisquer rei-
vindicações de identidade com o divino feitas por qualquer religião, 
credo religioso, doutrina ou rito, bem como por qualquer movimento 
histórico ou político ou por destacadas personalidades religiosas. Com 
a mesma intenção Tillich formularia às vezes o princípio protestante 
como ‘... a luta de Deus dentro da religião contra a religião’ (UMESP, 
on-line)1.
Devemos levar em consideração, também, que a crítica protestante não se fun-
damentava exclusivamente na Escritura, mas tinha também sua parcela de apoio 
no pensamento secular. 
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Tillich reconhece que “em toda forma protestante, o elemento religioso 
deve ser vinculado a um elemento secular e questionado por ele. [...] O 
secularismo é exatamente o corretivo do qual o protestantismo precisa 
contra a tentação de toda esfera religiosa e de todo sistema eclesiástico, 
de querer identificar-se ao incondicionado ao qual remetem.” (TILLI-
CH, 1995, p. 258). 
Por mais paradoxal que pareça, o retorno à Escritura como única fonte de auto-
ridade para a fé cristã, presente na Reforma Protestante, exige também uma 
nova valorização do pensamento secular. Em outras palavras, o princípio da 
Sola Scriptura somente se sustenta em um ambiente intelectual que desconfie 
do dualismo entre espiritual e material, revelado e racional, religioso e político.
A arte de não querer ser governado, portanto, constitui parte essencial da 
identidade do Protestantismo. Entretanto, a atitude crítica encontra dentro do 
próprio Protestantismo uma forte tensão dialética: não queremos ser governa-
dos por seres humanos pecadores e suas instituições corruptas, mas queremos 
ser governados por Deus e sua pura e santa Palavra. A aliança entre o espiritual 
e o secular que se constitui como elemento integrante da identidade Protestante 
não tem pontos fortes de sustentação. E a própria luta pela autoridade única da 
Escritura contra a autoridade da instituição eclesiástica acaba se voltando con-
tra o Protestantismo. A crítica, como bem percebeu Foucault, é historicamente 
bíblica, na medida em que se insurge contra os dogmas e outras técnicas do poder 
pastoral da Cristandade. Entretanto, a partir do momento em que se volta para 
a própria Escritura, lança desconfiança contra a autoridade única dela.
Desde suas origens, até nossos dias, o Protestantismo tem de lidar com essa 
tensão entre a submissão ao governo divino e a atitude crítica contra os governos 
humanos. Como distinguir entre ambos? Como saber qual governo é humano 
e qual é divino? A Reforma apostou no princípio da Sola Scriptura como a res-
posta a essas perguntas. Em pouco tempo, porém, percebeu a fragilidade da 
Escritura para atender a esse fim e foi lhe acrescendo elementos de suporte e força. 
Primeiramente, foram as sistematizações da pluralidade teológica da Bíblia em 
História da Interpretação da Bíblia: A Hermenêutica no Período da Reforma
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tratados teológicos, dos quais as Institutas da Religião Cristã, de João Calvino, são 
um dos mais brilhantes exemplos. Posteriormente, dados os conflitos interpreta-
tivos entre as diferentes sistematizações produzidas nas diferentes denominações 
protestantes, apostaram nas Confissões de Fé, como meios de garantir que a 
interpretação da Bíblia fosse relativamente uniforme dentro da denominação.
Essas duas respostas, porém, trouxeram em si mesmas o germe de sua fra-
queza. Teologias

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