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378 Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 5 – Set/Out, 2020 INATIVIDADE FÍSICA, DOENÇAS CRÔNICAS, IMUNIDADE E COVID-19 PHYSICAL INACTIVITY, CHRONIC DISEASES, IMMUNITY AND COVID-19 INACTIVIDAD FÍSICA, ENFERMEDADES CRÓNICAS, INMUNIDAD Y COVID-19 Thiago Teixeira Guimarães1 (Profissional de Educação Física) Henrique Mariano Brito dos Santos1 (Profissional de Educação Física) Rodrigo Terra Mattos Sanctos1,2 (Profissional de Educação Física) 1. Grupo de Pesquisa Excesso de Exercício (GPEEx), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2. Colégio Brigadeiro Newton Braga (CBNB), Diretoria de Ensino, Força Aérea Brasileira (DIRENS/FAB), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Correspondência: Thiago Teixeira Guimarães Av. Lucio Costa, 3550, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 22630-010. thiagotguimaraes@yahoo.com.br INTRODUÇÃO Cada vez mais pessoas são acometidas por DCNT, como por exemplo, obesidade, doenças cardiovasculares, metabólicas, pulmonares, renais, diversos tipos de câncer, transtornos mentais, dos ossos e articulações.1-4 Além de sofrimento, dependência funcional e investimentos intangíveis nos sistemas de saúde, em 2016, estima-se que 41 milhões de mortes em adultos ocorreram devido a essas doenças, representando 71% do total para essa população no mundo.4 No Brasil, as DCNT correspondem algo em torno de 70% das causas de mortes em adultos e percentual semelhante em gastos no Sistema Único de Saúde.5 Fast trackingDOI: http://dx.doi.org/10.1590/1517-8692202026052019_0040 A inatividade física figura como uma das principais causas atribuídas ao desenvolvimento de DCNT1,6 e o agravamento das condições clínicas por COVID-19 relaciona-se com o diagnóstico prévio de inflamação e DCNT.7 No Brasil, segundo levantamento publicado na página oficial do Ministério da Saúde, em meados de abril (2020), sete de cada 10 óbitos registrados por COVID-19 foram de pessoas acima dos 60 anos de idade com pelo menos um fator de risco, como doença cardíaca, pulmonar e diabetes. Ainda segundo o Ministério da Saúde, pessoas de qualquer idade com DCNT também se encontram no grupo de risco e precisam redobrar os cuidados com medidas de prevenção ao COVID-19.8 Artigo especiAl Special article articulo eSpecial RESUMO As complicações decorrentes da COVID-19 refletem uma resposta imune irregular em pessoas previamente acometidas por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como por exemplo, cardiovasculares, metabólicas e pulmonares. A inatividade física é reconhecidamente uma condição que impacta o desenvolvimento de inflamação crônica de baixo grau, DCNT e suscetibilidade a infecções celulares. Ansiedade e estresse mental, estado nutricional deficiente, consumo de drogas e ritmo circadiano perturbado podem agravar ainda mais os prejuízos da inatividade física. Sendo assim, o objetivo da revisão é convidar profissionais da área da saúde, seus respectivos conselhos regulatórios, universidades, fundações de amparo à pesquisa, mídia, autoridades políticas e cidadãos leigos para a conscientização sobre imunidade e saúde no controle em médio a longo prazo da atual pandemia. Nível de evidência V; Opinião do especialista. Descritores: Pandemia; Exercício físico; Inflamação; SARS-CoV-2. ABSTRACT Complications arising from COVID-19 reflect an abnormal immune response in people previously diagnosed with chronic, non-communicable diseases (NCD), such as cardiovascular, metabolic and pulmonary conditions. Physical inactivity is recognized as a condition that affects the development of chronic low-grade inflammation, NCD, and susceptibility to cell infections. Anxiety and mental stress, poor nutritional status, drug use and circadian rhythm disturbances can further aggravate the harm caused by physical inactivity. Therefore, the purpose of the review is to invite health professionals, their respective regulatory boards, universities, research promotion foundations, media, political authorities and lay citizens to raise awareness of immunity and health in the medium- to long-term control of the current pandemic. Level of evidence V; Expert opinion. Keywords: Pandemic; Physical exercise; Inflammation; SARS-CoV-2. RESUMEN Las complicaciones derivadas del COVID-19 reflejan una respuesta inmune irregular en personas previamente afectadas por enfermedades crónicas no transmisibles (ECNT) como, por ejemplo, cardiovasculares, metabólicas y pulmonares. La inactividad física es reconocidamente una condición que impacta en el desarrollo de inflamación crónica de bajo grado, ECNT y susceptibilidad a infecciones celulares. La ansiedad y el estrés mental, el estado nutri- cional deficiente, el consumo de drogas y el ritmo circadiano alterado pueden agravar aún más los perjuicios de la inactividad física. Por lo tanto, el objetivo de la revisión es invitar a profesionales del área de la salud, a sus respectivos consejos reguladores, universidades, fundaciones de apoyo a la investigación, medios de comunicación, autoridades políticas y ciudadanos laicos para la concienciación sobre inmunidad y salud en el control a mediano y largo plazo de la actual pandemia. Nivel de evidencia V; Opinión del especialista. Descriptores: Pandemias; Ejercicio físico; Inflamación; SRAG-CoV-2. mailto:thiagotguimaraes@yahoo.com.br https://orcid.org/0000-0001-6457-5098 https://orcid.org/0000-0003-3680-9605 https://orcid.org/0000-0001-8418-2654 379Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 5 – Set/Out, 2020 Existem clássicas evidências epidemiológicas1,6 e biológicas9-12 a favor da prática moderada de atividades físicas. Seus potenciais bene- fícios incluem a regulação e promoção de sistemas orgânicos como, por exemplo, o nervoso, cardiovascular, endócrino, respiratório, renal, digestório e imunológico.9-12 Embora as atividades físicas venham sendo estimuladas durante a pandemia, um melhor entendimento sobre o seu papel na modulação do sistema imune, enquanto estímulo estressor, pode permitir uma divulgação mais sólida, contextualizada e permanente de sua prática aliada a outros fatores ambientais (abordagem multifa- torial). Afinal, os vírus, como o Sars-CoV-2, sofrem mutação genética constantemente e dificultam ações remediadoras, sendo a prevenção contra o caos fisiológico e social, indiscutivelmente, a melhor solução. Considerações básicas sobre resposta imune e estresse A função do sistema imunológico é reconhecer o que é próprio e não próprio do organismo para reparar possíveis danos e preservar a homeos- tase, em cooperação com outros sistemas fisiológicos.12-14 No desempenho de suas funções, o sistema imune pode ser dividido em duas categorias: imunidade natural ou a inata e imunidade adquirida ou adaptativa.12-14 A resposta imune natural ou inata é imediata e inclui barreiras físicas (ex. pele) e químicas (ex. lágrima, sistema complemento), assim como a participação de células fagocíticas como os neutrófilos, macrófagos, células dendríticas e natural killers (NK), além de moléculas microbicidas como o óxido nítrico (NO) e ânion superóxido.12-14 Possui especificidade limitada e não desenvolve memória. A resposta imune adquirida ou adaptativa possui alta especificidade, além de desenvolver memória, e pode ser dividida em celular e humoral/ extracelular. A resposta imune celular é mediada, principalmente, por linfócitos T CD4+ auxiliares tipo 1 (Th1), linfócitos T CD8+ citotóxicos tipo 1 e citocinas (ex. IFN-γ, TNF, IL-1, IL-2, IL-12, IL-17).12-15 Ressalta-se ainda, a participação de macrófagos e células dendríticas tanto na função fagocítica como em relação à produção de citocinas e apresentação de antígenos aos linfócitos T virgens para sua diferenciação.12-14 O estímulo mútuo das funções de macrófagos e linfócitos representa um importante mecanismo de amplificação da imunidade específica.12 Na resposta imune humoral/extracelular, é possível destacar os linfócitos B, anticorpos, linfócitos T CD4+ auxiliares tipo 2 (Th2), linfócitos T CD8+ citotóxicos tipo 2 e citocinas (ex. IL-4, IL-5,IL-10, IL-13).12-15 Uma população importante na harmonia entre a imunidade celular e humoral, é a de células T regulatórias, ativadas por citocinas como IL-2, IL-10 e TGF-β.14 Essas células são responsáveis pela inibição da proliferação de Linfócitos T efetores.14 Sua deficiência está relacionada com a inflamação e o desenvolvimento de síndromes autoimunes severas.14 Embora até a presente data não se tenha conhecimento de evidências consistentes sobre o bloqueio da reprodução do Sars-CoV-2, é importante considerar o equilíbrio e integração entre a imunidade inata, celular e humoral contra os vírus. Há produção de interferons do tipo 1 (IFN alfa e beta), que atuam inibindo a replicação viral, criando o chamado estado antiviral, bem como há ação das NK destruindo células infectadas por vírus. Além disso, a produção de anticorpos neutralizantes produzidos por linfócitos B, ainda na fase extracelular do vírus, bloqueia sua entrada na célula-alvo e o reconheci- mento do antígeno viral, com posterior destruição da célula infectada pelos linfócitos T CD8+ citotóxicos, constituindo importantes vias contra vírus pela imunidade adaptativa.13,4 Na infecção por Sars-CoV-2, quando o organismo não é capaz de desenvolver uma resposta adquirida adequada, a inflamação persistente induzida pela imunidade inata favorece a severidade da doença.16 A imunidade de um organismo assintomático e previamente “saudá- vel” geralmente é capaz de solucionar infecções intracelulares17,18 Nessas condições, uma possível explicação para o reparo eficiente é o equilíbrio entre as respostas celulares e humorais, com discreta predominância do perfil celular,17-22 já que sua exacerbação pode resultar em danos teciduais.15 Entretanto, em situações de estresse acumulado e/ou DCNT, ou seja, quando a homeostase se encontra comprometida previamente à infecção, a inflamação crônica e/ou desequilíbrio na imunidade pa- recem favorecer a vulnerabilidade celular.15 De fato, a resposta imune é extremamente complexa e numerosos são os seus mecanismos, mas para corroborar essa hipótese, dois exemplos são apresentados. A senescência do organismo é acompanhada por alterações no sis- tema imunológico (imunosenescência).23 A inflamação crônica de baixo grau associada ao processo de envelhecimento (inflammaging) pode ser explicada pelo declínio da função imune, alterações na imunidade inata e desequilíbrio entre a imunidade celular e humoral, impactando no maior risco de exposição a patógenos para essa população.24,25 Além disso, a “janela aberta de oportunidades”, classicamente discutida nas ciências do exercício e esporte há três décadas, tem sido associada ao desequilíbrio entre a imunidade celular e humoral.15,26 Seguindo esse racional teórico, o nível de estresse fisiológico e perturbação da homeos- tase parece determinante para a suscetibilidade celular. O estresse é fundamental em processos adaptativos, sejam eles físicos, químicos ou psicológicos. Ele pode ser considerado um conjunto amplo de eventos, consistindo em um estímulo estressor, uma reação processada no sistema nervoso central, e respostas como, por exemplo, de luta-fuga (ou congelamento).27 Para a preservação da homeostase em situações de estresse, diversos mensageiros químicos são secretados e agem de forma autócrina, parácrina e endócrina, como as citocinas. Essas proteínas orquestram não somente a imunidade específica como também integram os sistemas imunológico, nervoso, endócrino, cardio- vascular, renal, digestório e hematopoiético.12-14 Curiosamente, em organismos previamente inflamados (ex. com DCNT) e mais vulneráveis ao Sars-CoV-2, sugere-se o desenvolvimento da “síndrome da tempestade de citocinas”.28 Se em condições de equilíbrio as citocinas atuam com eficiência em baixas concentrações, sua “tempestade” observada com frequência nos casos mais graves de COVID-19 reflete uma hiperinflamação,28 supostamente desencadeada por resposta exacerbada à reação de alarme provocada pelo estresse (infecção). Prejuízos teciduais e funcionais em sistemas como o respiratório são iminentes. Considerações básicas sobre resposta imune e exercício físico Doses controladas de estímulos físicos, químicos ou ambientais, com potencial lesivo em quantidades mais elevadas, parecem induzir efeitos crônicos positivos às células, tecidos, órgãos e sistemas fisiológicos.29 É nesse contexto que se situa o exercício físico. Um dos diversos argu- mentos para o incentivo à sua prática moderada e periódica, refere-se à proteção das células contra infecções causadas por microrganismos intracelulares (ex. vírus), a partir do equilíbrio entre respostas imunes celulares e humorais, com discreta prontidão para o perfil Th1.17-19 Por exemplo, dados do nosso grupo revelaram que células de linfonodos e sobrenadantes de macrófagos de camundongos, após 10 a 12 semanas de exercício moderado, expressaram mais citocinas pró-inflamatórias (ex. IFN-γ e TNF), enquanto a concentração de anti- -inflamatórias (ex. IL-4 e IL-10) reduziu significativamente em relação ao grupo inativo fisicamente.17,18,30 A redução da razão IL-10/IFN-γ pós- -intervenção convergiu com a hipótese da predisposição do perfil celular protetor (Th1) com o exercício moderado.15,17-19,30 Além disso, macrófagos de camundongos infectados pelo protozoário Leishmania major, pro- duziram mais IL-12 e NO em relação aos macrófagos do grupo controle sedentário.17,18 Destaca-se também uma maior atividade microbicida dessas células e redução dos índices de infecção e número de parasitos isolados da pata dos animais infectados.17,18 O protocolo de treinamento físico moderado tem se mostrado capaz de controlar o desenvolvimento da doença,17,18 corroborando clássicas teorias do exercício e imunidade na saúde, envelhecimento e qualidade de vida.15,31-33 380 Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 5 – Set/Out, 2020 De fato, ensaios clínicos randomizados e controlados podem permitir maior robustez quanto à hierarquia de evidência científica. Entretanto, cabe ressaltar que experimentos com humanos devem proteger o seu bem-estar físico e emocional, sendo imprescindível a utilização de modelos animais para infecções in vivo e in vitro. Comitês de ética repro- variam estudos mais robustos sobre o efeito do exercício na modulação da resposta imune em pessoas contra diferentes patógenos (ex. vírus, bactérias, protozoários e helmintos). Salienta-se, todavia, que qualquer programa de exercício físico por si só não garante efeitos positivos permanentes.26 Um trabalho apresentado pelo nosso grupo em 2019, sobre excesso de estresse induzido pelo exercício crônico, verificou o comprometimento da imunidade celular de macrófagos de camundongos nessas condições.30 O treinamento aeróbio de muito alto volume, além de prejudicar o desempenho físico da amostra estudada, aumentou a suscetibilidade de infecções por protozoários em macrófagos, paralelamente à predominância de perfil Th2, condições semelhantemente observadas no grupo fisicamente ina- tivo.30 Já o treinamento moderado, mostrou-se protetor contra infecções celulares e apresentou predominância de perfil Th1.30 Parece haver um consenso de que as respostas imunes ao exercício refletem o estresse fisiológico e metabólico acumulado individualmente.26 A abordagem multifatorial é crucial para que se possa levar em considera- ção fatores como o sono, ansiedade, fadiga mental, nutrição, histórico de infecções, higiene pessoal, frequência de viagens e condições climáticas (extremos ambientais).26 Sabe-se que a alimentação balanceada, dentre diversos benefícios, pode prevenir o desvio da rota metabólica de ami- noácidos, cruciais à saúde dos macrófagos, durante situações de estresse prolongado ou inadequação no consumo de proteínas.34,35 Além disso, restrições severas de carboidratos podem favorecer a elevação crônica do cortisol e contribuir para o processo de imunossupressão celular.36 O sono regular é fundamental para o equilíbriodo sistema imune e da relação entre hormônios anabólicos e catabólicos.37 Ansiedade, medo e preocupações gerais podem desencadear uma resposta de luta ou fuga “permanente” e estresse mental crônico,38 desequilibrando com- pletamente o sistema imune e tornando-o mais vulnerável. Sugestões para ações em saúde pública de médio a longo prazo • Ações conjuntas para o estímulo de práticas promotoras da imunidade e saúde podem amenizar a crise econômica, política e social no Brasil, pois novos surtos têm sido reportados no mundo. Sugere-se o fomento às atividades físicas paralelamente à conscientização sobre estratégias para o controle do estresse mental e ansiedade, alimentação, ritmo cir- cadiano, utilização de drogas lícitas (ex. fármacos, tabaco, álcool, outras substâncias psicoativas como a cafeína) e ilícitas. • Para que uma atividade física apresente benefícios potencializados e riscos reduzidos, é importante considerar uma mínima estruturação e contextualização com outros estímulos/fatores estressores. A orientação profissional é relevante nesse sentindo, por transformar atividades físicas em exercícios físicos. Princípios e conceitos básicos da prescrição devem ser respeitados para que sedentários, atletas de elite, amadores e de re- creação desenvolvam ou mantenham o condicionamento físico e saúde, evitando o gatilho para a imunossupressão celular ou qualquer outro tipo de efeito colateral ao movimento (ex. lesões, apatia, fadiga crônica, descondicionamento paradoxal ou respostas biológicas exacerbadas à reação de alarme decorrentes dos mais diferentes tipos de estresse). • Sabe-se que saúde não é meramente a ausência de doenças. A utilização de produtos químicos é uma prática extremamente importante durante a pandemia, mas torna-se limitada de médio a longo prazo se a imunidade celular e humoral desarmonizarem (ex. sedentarismo). Além disso, esses pro- dutos em excesso podem comprometer a microbiota e a relação simbiótica favorável à coevolução.39 Seria conveniente alertar sobre o seu uso consciente e moderado, aliado ao desenvolvimento da imunidade e saúde. • Pandemias mundiais estão se sobrepondo. A inabilidade do sistema imune na resposta ao estresse para preservar a homeostase parece estar associada à inflamação crônica, inatividade física e/ou aptidão cardiorres- piratória insatisfatória. Levando-se em consideração o risco elevado de contágio em ambientes fechados de uso coletivo e o assunto adesão ao exercício, talvez seja um momento apropriado para repensar o combate ao sedentarismo. Por exemplo, pessoas que realizam caminhadas em contato com a natureza reduzem significativamente a ativação de áreas do cérebro responsáveis pelo pensamento ruminante (ex. induzido por ressentimentos e responsabilidades acumuladas), associadas ao esgota- mento mental e depressão.40 Será que atividades físicas em ambientes naturais podem ajustar a produção de neurotransmissores como a dopa- mina, serotonina, anandamida, endorfina e ocitocina, ativando o sistema límbico de recompensas do cérebro, promovendo o reforço intrínseco positivo, balanceando diferentes sistemas fisiológicos, conferindo mais qualidade às funções psíquicas, imunológicas e de respostas ao estresse? • A predisposição do organismo humano para inúmeras doenças, a partir da inatividade física ou ingerência da homeostase, é incompatível com os valores e postulados de saúde pública. Profissionais da área, seus respectivos conselhos regulatórios, universidades, fundações de amparo à pesquisa, mídia, autoridades políticas e cidadãos leigos estão convidados para ações muito além do combate às doenças. É urgente a necessidade de se praticar imunidade e saúde. O "farol verde" da Figura 1 deve ser estimulado, para reduzir o impacto do "farol amarelo" no de- senvolvimento do "farol vermelho". Figura 1. Relação entre inatividade física, DCNT, estresse, imunidade, infecções e fatores associados. “Farol verde”: atividades físicas moderadas, preferencialmente estruturadas e contextualizadas, abordadas de forma multifatorial, levando-se em consideração a cronicidade do sono, ansiedade, fadiga mental, nutrição, consumo de drogas, exposição à poluição e ao sol, higiene pessoal e histórico de infecções, por exemplo. “Farol amarelo”: condições que merecem atenção especial por impactarem diretamente no desenvolvimento do “farol vermelho”. DCNT: doenças crônicas não transmissíveis. -Inflamação crônica de baixo grau; -DCNT; -Suscetibilidade à infecções celulares. -Inatividade física; -Estresse acumulado (ex. mental, fisiológico); -Imunosenescência; -Desequilíbrio imunológico. -Doses moderadas de estímulos físicos e ambientais; -Coevolução. 381Rev Bras Med Esporte – Vol. 26, No 5 – Set/Out, 2020 CONCLUSÃO Espera-se que profissionais da área da saúde, seus respectivos conse- lhos regulatórios, universidades, fundações de amparo à pesquisa, mídia, autoridades políticas e cidadãos leigos estimulem a conscientização sobre a relação entre inatividade física, estado nutricional deficiente, estresse mental, imunidade e saúde para o controle de médio a longo prazo da atual pandemia e prevenção de situações similares no futuro. Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo. REFERÊNCIAS 1. Handschin C, Spiegelman BM. 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Todos os autores leram, concordam e se responsabilizam por todos os aspectos do trabalho, no sentido de garantir que qualquer questão relacionada à integridade ou exatidão de qualquer de suas partes sejam devidamente investigadas e resolvidas. _ENREF_1 _ENREF_2 _ENREF_3 _ENREF_4 _ENREF_5 _ENREF_6 _ENREF_7 _ENREF_8 _ENREF_9 _ENREF_10 _ENREF_11 _ENREF_12 _ENREF_13 _ENREF_14 _ENREF_15 _ENREF_16 _ENREF_17 _ENREF_18 _ENREF_19 _ENREF_20 _ENREF_21 _ENREF_22 _ENREF_23 _ENREF_24 _ENREF_25 _ENREF_26 _ENREF_27 _ENREF_28 _ENREF_29 _ENREF_30 _GoBack
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