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6
 I. INTRODUÇÃO 
 
Falar sobre “perda” implica mexer com a nossa própria intimidade. É inevitável 
não parar e pensar em nossas próprias perdas: perdas que já tivemos, as que 
vivenciamos hoje e as que ainda estão por vir. Evitamos falar sobre a morte, mesmo 
sabendo que esta é uma das únicas certezas que possuímos na vida; evitamos 
entrar em contato com nosso próprio sofrimento e agimos como se fôssemos 
imortais. O maior medo, na realidade, não é da morte em si, mas de como e quando 
ela vai chegar. 
Conforme Lya Luft exemplifica em seu livro “Perdas e Ganhos” (2004), não 
queremos nunca perder, porém vivenciamos uma alternância entre ganhos e perdas 
constantemente em nossas vidas. A autora explica ainda porque não gostamos de 
perder: simplesmente porque perder dói, de uma forma ou de outra. A dor é 
importante, faz parte do processo de luto e precisamos de recursos internos para 
enfrentar as dores e tragédias. 
 
Consultando o Dicionário Aurélio (2004), encontramos diversas significações 
para a palavra perder: 
 
“Perder v.t. 1. Ser ou ficar privado de (coisa que possuía). 2. Cessar de ter 
ou deixar de sentir. 3. Sofrer a perda, o prejuízo de. 4. Não aproveitar. 5. 
Ter mau êxito em. 6. Esquecer em lugar de que não se tem lembrança. 7. 
Deixar de viajar em (um veiculo) por não chegar na hora própria. 8. 
Perverter. 9. Deixar de ver ou de ouvir. 10. Desperdiçar. 11. Ser vencido 
em. 12. Não chegar a dar a luz. Int. 13. Sofrer dano ou prejuízo. 14. 
Arruinar-se, desgraçar-se. 15. Extraviar-se.” 
 
As diversas interpretações para a mesma palavra refletem o amplo significado 
que a perda possui em nossas vidas. De acordo com VIORST (2005), a perda é uma 
condição permanente da vida humana, pois vivemos de perder e abandonar. E a 
morte não é a única perda que possuímos na vida: perdemos pessoas queridas, 
saúde, papéis, empregos, posições, nos separamos, mudamos de casa, nossos 
filhos saem de casa e, junto com tudo isso, perdemos também vários sonhos e 
expectativas. 
 
 
 
7
Qualquer mudança em nossas vidas, mesmo que desejada, como por 
exemplo, o nascimento de um bebê, um casamento ou ainda a aposentadoria, 
requer uma perda. Para WALSH & McGOLDRICK (1998:28), “(...) todas as perdas 
requerem um luto que reconheça a desistência e transforme a experiência, para que 
possamos internalizar o que é essencial e seguir em frente”, sendo necessário 
desistir ou alterar alguns papéis, planos e possibilidades para termos outras 
mudanças. 
Segundo MINUCHIN (1982:53), “o sentido de separação e de individuação 
ocorre através da participação em diferentes subsistemas familiares em diferentes 
contextos familiares, tanto quanto através da participação em grupos 
extrafamiliares”. Desta forma, fica mais fácil entendermos porque o ajustamento à 
morte parece ser o mais difícil dentre outras transições de vida, devido à 
complexidade das relações e pelas profundas conexões históricas existentes entre 
os membros de uma família. 
Cada indivíduo se constitui como parte de um ou vários subsistemas dentro 
do sistema familiar, que podem ser formados por geração, sexo, interesse ou 
funções. Cada um, por sua vez, acaba pertencendo a diferentes subsistemas, e 
dentro dos mesmos assume diferentes papéis e níveis de poder, adaptando-se às 
habilidades de relações diferenciadas, de acordo com as funções que exerce. Como 
exemplo, podemos citar uma mulher, que pode possuir o papel de irmã no 
subsistema fraternal, de esposa no subsistema conjugal, de mãe no subsistema 
parental, dentre outras funções. 
Quando algum membro da família morre, diferentes subsistemas são afetados 
com a perda. MINUCHIN comenta que “o sistema mantém a si mesmo” (1982:57), e 
a estrutura familiar deve ser capaz de se adaptar, quando as circunstâncias mudam. 
As fronteiras, que são as regras que definem quem participa, quando e de que forma 
em um subsistema, devem ser nítidas o suficiente para que cada um desempenhe 
suas funções de responsabilidade e autoridade, sem a interferência de outros 
membros em seu papel – por exemplo, o papel de mãe, avó, filho, entre outros. A 
principal função das fronteiras é a de proteção e diferenciação do sistema, para que 
ocorra o adequado funcionamento/reajustamento da família. Desta forma, a 
hierarquia na família será preservada, assim como a aglutinação de seus membros 
será impedida. 
 
 
 
 
8
Os estresses na família são produzidos por inúmeros motivos, e a morte de 
uma pessoa é compreendida como uma fonte de estresse, tendo como 
conseqüência o desenvolvimento de novas linhas de diferenciação entre seus 
membros. Por exemplo, com a perda do pai, o subsistema mãe-filhos deverá se 
reorganizar e assumir novos papéis, para que continuem levando suas vidas 
adiante. 
Segundo MIERMONT (1994:179), períodos de tensão e conflitos surgem 
periodicamente na vida de todas as famílias, e toda crise provoca uma ruptura 
temporária na homeostase1 do sistema familiar. Desta forma, para que o sistema se 
readapte, deve haver uma reorganização das relações e a descoberta de novas 
regras de funcionamento familiar. O autor distingue as crises familiares em dois 
tipos: as “previsíveis”, que são aquelas impostas pelos ciclos de vida familiar, como 
por exemplo, a adolescência e a aposentadoria, e as “imprevisíveis”, que são muito 
mais dramáticas por serem inesperadas, como por exemplo, o falecimento de um 
dos membros da família, o desemprego, o divórcio, as doenças, entre outras. 
 
Para PECK & MANOCHERIAN (1995:293), o divórcio vem em segundo lugar 
na escala de eventos mais estressantes de vida e, assim como a morte de um ente 
querido, requer grandes reajustes, com transições graduais. Para VIORST (2005), o 
divórcio pode ser considerado uma “outra morte”, pois o fim de um casamento é 
sofrido e lamentado com intensidade semelhante à situação da perda de um dos 
cônjuges. A autora afirma ainda que o divórcio, por ser opcional, acaba provocando 
muitas vezes mais raiva no cônjuge que não tomou a decisão de se divorciar do que 
a morte. 
O sofrimento, a falta que o outro faz e a saudade que se sente chegam a ser 
intensamente proporcionais nas duas situações e, em alguns casos, a morte pode 
ser algo menos doloroso do que o divórcio, uma vez que, neste último, a sensação 
de abandono poderá ser maior pelo simples fato de que o cônjuge não precisava 
deixar o outro, mas o fez por decisão própria. Desta forma, o “preço do divórcio”, 
tanto físico quanto emocional, passa a ser maior que o imposto pela morte de um 
dos cônjuges, assim como chegar ao fim do luto também se torna algo mais difícil, 
 
1 Homeostase: sf (homeo+estase) Med Capacidade do corpo para manter um equilíbrio estável a 
despeito das alterações exteriores; estabilidade fisiológica. 
 
 
 
9
pois ambos continuam vivos, envolvendo discussões sobre filhos, lidando com 
ciúmes e com o fracasso da relação. 
 
No presente trabalho, a perda por morte será o principal foco a ser abordado. 
Realizaremos um levantamento bibliográfico acerca do assunto ao mesmo tempo em 
que serão inseridas exemplificações de casos clínicos atendidos pela autora. 
 
Temos como objetivo principal identificar e explorar os aspectos emocionais 
envolvidos em situações de luto e perda nas diferentes fases do ciclo de vida familiar 
- queixa freqüente de famílias em busca de ajuda no contexto clínico -, bem como 
seus impactos e as diferentes formas de elaboração do luto no seio familiar, sob a 
perspectiva da Teoria Relacional Sistêmica. Refletiremos ainda sobre a postura do 
terapeuta nestas situações em diferentes contextos, ou seja, de que forma o 
terapeuta poderá auxiliar a família neste momento do ciclo de vida, visando a 
reestruturação e continuidade após a perda. 
 
O trabalho possui como principal finalidade a ampliação dos estudos e 
conhecimentos na área, sem a pretensão de esgotaro assunto. Esperamos ainda 
que a pesquisa possa futuramente servir de base para novos estudos sobre o tema. 
 
Utilizaremos o conceito de família sob a ótica da Teoria Relacional Sistêmica, 
onde os conceitos-chave da teoria relacionam-se com a totalidade, a organização e 
a padronização dos sistemas. Para PAPP (1992:22), no pensamento sistêmico “os 
eventos são estudados dentro do contexto no qual ocorrem e a atenção é focalizada 
nas conexões e relações, mais do que nas características individuais”. As idéias 
centrais desta teoria são as de que o todo é maior do que a soma de suas partes, 
cada parte só pode ser entendida no contexto do todo e uma mudança em qualquer 
uma das partes pode afetar todas as outras. A seguir pontuaremos algumas 
questões relevantes referentes a esta abordagem. 
 
 
 
 
 
 
 
10
II. REFERENCIAL TEÓRICO: A ABORDAGEM RELACIONAL SISTÊMICA 
DA FAMÍLIA 
 
Segundo PAPP (1992:22), terapeutas familiares que baseiam seu trabalho na 
Teoria Relacional Sistêmica consideram que nenhum evento ou parte de um 
comportamento causa outro, mas está ligado de uma maneira circular a muitos 
outros eventos e partes de comportamentos. 
 
Para MINUCHIN (1982:12), a terapia familiar baseia-se no fato de que o 
homem não é um ser isolado, e sim um membro ativo e reativo a grupos sociais. O 
que experiencia como real depende de componentes tanto internos quando 
externos, ou seja, suas experiências são determinadas pela sua interação com o seu 
ambiente. 
 
Sob a ótica do autor, a terapia familiar baseia-se em três axiomas principais: 
em primeiro lugar, que o indivíduo influencia seu contexto e é por ele influenciado; 
em segundo lugar, as mudanças numa estrutura familiar2 contribuem para mudanças 
no comportamento e nos processos psíquicos internos dos membros desse sistema, 
e por fim, quando um terapeuta trabalha com um paciente ou com uma família, seu 
comportamento se torna parte do contexto. Sendo assim, o terapeuta se une ao 
sistema e então utiliza a si mesmo para transformá-lo e, ao mudar a posição dos 
membros no sistema, modifica suas experiências subjetivas. 
 
ANDOLFI (1996:16) parte do pressuposto que “a família é um sistema entre 
sistemas”, fazendo-se necessária a exploração das relações interpessoais e das 
normas que regulam a vida dos grupos a que o indivíduo pertence, para que desta 
forma possamos melhor compreender o comportamento dos membros e 
formularmos intervenções eficazes. O autor ressalta três aspectos significantes da 
teoria sistêmica aplicados à família: 
 
 
2 Segundo MIERMONT (1994:248), o termo ‘estrutura familiar’ é uma expressão utilizada por 
Minuchin, utilizada para designar as estruturas transacionais e os papéis familiares, implícitos e 
explícitos, que regem a família através dos anos. 
 
 
 
11
° A família como sistema em constante transformação, adaptando-se às 
diferentes exigências das diversas fases do seu ciclo de desenvolvimento. 
A tendência homeostática e a capacidade de transformação do sistema 
familiar constituem o equilíbrio dinâmico destas duas funções 
aparentemente contraditórias: a continuidade e crescimento psicossocial 
dos membros que a constituem. 
 
° A família como sistema ativo auto-regulado, sendo que estes “ajustes” 
são feitos por regras desenvolvíveis e modificáveis no tempo através de 
tentativas e erros. Como qualquer organismo humano, a família também 
não é um sujeito passivo, mas sim um sistema ativo. Como exemplifica o 
autor, cada tipo de tensão, seja ela originada no interior ou no exterior do 
sistema familiar, causa algum tipo de repercussão no âmbito familiar e 
requer algum tipo de adaptação por parte dos membros que a constituem. 
 
° A família como sistema aberto em interação com outros sistemas, ou 
seja, as relações familiares possuem uma relação dialética com as 
relações sociais. Ao mesmo tempo em que a família nos condiciona, é 
condicionada pelas normas e valores sociais através de um equilíbrio 
dinâmico. Portanto, a premissa do autor de que a família é um sistema 
entre sistemas, a exploração das relações interpessoais e das normas que 
regulam a vida dos grupos será um elemento indispensável para a 
compreensão dos comportamentos dos seus membros, partindo assim de 
uma abordagem individual para uma abordagem familiar. 
 
Esta forma de abordar a família, segundo o referencial sistêmico, permite ao 
terapeuta analisar a relação, o processo e contexto onde são geradas, mantidas e 
transformadas as crenças e valores familiares. Sendo assim, a terapia familiar é 
considerada uma prática na qual clientes e terapeutas conjuntamente constroem e 
arriscam as mudanças, para que seja restabelecida a funcionalidade do sistema 
familiar. 
 
O fato de que as famílias incorporam novos membros através do nascimento, 
adoção ou casamento, e que os membros podem ir embora somente pela morte, faz 
 
 
 
12
com que se torne difícil pensar na família como um todo, pela complexidade 
envolvida. Embora as famílias possuam papéis e funções próprias, o que ela tem de 
mais valor são seus relacionamentos, que por sua vez são insubstituíveis. Por 
exemplo, se um pai vai embora ou morre, alguém poderá ser colocado em seu lugar 
para preencher a função paterna na família, porém este jamais substituirá o pai em 
seus aspectos emocionais. 
Para CARTER & McGOLDRICK (1995:17), a família compreende todo o 
sistema emocional de pelo menos três, e agora freqüentemente quatro gerações; 
que por sua vez pode ser considerada um subsistema emocional que reage aos 
relacionamentos passados, presentes e antecipa os futuros. 
As autoras nos apresentam uma perspectiva de “Ciclo de Vida Familiar”, com 
uma classificação de diferentes estágios na vida das famílias. Desta forma, fica mais 
fácil para o terapeuta observar os sintomas e disfunções na família, relacionando o 
funcionamento normal ao longo do tempo, podendo auxiliá-la a restabelecer seu 
momento desenvolvimental: 
 
1. Saindo de casa: jovens solteiros 
2. A união de famílias no casamento: o novo casal 
3. Famílias com filhos pequenos 
4. Famílias com adolescentes 
5. Lançando os filhos e seguindo em frente 
6. Famílias no estágio tardio da vida 
 
Existem ainda as variações do ciclo de vida familiar, como o divórcio e o 
recasamento, tendo em vista o alto índice de divórcios atualmente. De acordo com 
as autoras, estes eventos deverão ser considerados cada vez mais normativos no 
ciclo de vida das famílias, pois agregam uma interrupção e o deslocamento do 
tradicional ciclo, produzindo um desequilíbrio com mudança no status relacional e o 
agregamento de importantes tarefas emocionais. Como em qualquer uma das outras 
fases, as questões emocionais não resolvidas nesta fase continuarão como 
obstáculos em relacionamentos futuros. 
 
 
 
13
III. PERDA E LUTO NO CONTEXTO FAMILIAR 
 
 A morte ou uma doença grave de qualquer membro de uma família podem ser 
vivenciadas pelas pessoas de diferentes formas, dependendo da fase do ciclo de 
vida que esta família se encontra, dos contextos culturais, sociais e principalmente, 
dos vínculos afetivos estabelecidos. 
 
3.1 As Diferentes Fases da Elaboração do Luto 
 
 Ao lidarmos com as perdas no decorrer de nossas vidas, geralmente 
lamentamos por certo tempo; tempo este que vai depender do que foi perdido, da 
importância do que perdemos tinha em nossas vidas, da idade em que vivenciamos 
a perda, da nossa história de vida, se estamos ou não preparados para isso, e do 
apoio externo que poderemos dispor. VIORST (2005) afirma que assim como há um 
fim para muitas das coisas que amamos, há um fim também para as nossas 
lamentações. 
 
 KÜBLER-ROSS (1996) aborda o luto como sendo um processo evolutivo. A 
autora resume em fases distintas o que aprendeu em seu trabalho com pacientes 
terminais, que estavam lidando com a própria morte. Os estágiosdefinidos pela 
autora são cinco, que descrevem a maneira como reagimos a todas as perdas, 
sejam elas grandes ou pequenas, permanentes ou temporárias: 
 
1. Negação, 
2. Raiva, 
3. Barganha, 
4. Depressão e 
5. Aceitação. 
 
A fase inicial, chamada de negação, funciona como um “pára-choque” logo 
após o recebimento de notícias inesperadas e chocantes, permitindo quem recebeu 
a noticia se recuperar com o tempo. A negação pode ser considerada uma defesa 
temporária e geralmente logo após é substituída por uma aceitação parcial do fato. A 
dificuldade inicial em aceitar os fatos é algo comum no ser humano, já que 
 
 
 
14
consciente ou inconscientemente afastamos a idéia da morte com freqüência, 
vivendo uma vida na qual esta é negada a todo o instante. A frase que geralmente 
ouvimos nesta fase é “não, isto não pode estar acontecendo comigo”, ou ainda 
“deve estar havendo algum engano”. 
 
 O segundo estágio, o da raiva, ocorre logo em substituição à negação, 
quando ela não pode mais ser mantida. Esta fase envolve sentimentos relacionados 
à injustiça, revolta, inveja e ressentimentos contra os médicos e enfermeiras, ou 
ainda contra o destino. A frase característica costuma ser “por que comigo?”. 
 
 A fase da barganha caracteriza-se pela presença de promessas e 
negociações, na tentativa de “adiar o inevitável”. Estas negociações quase sempre 
são feitas com Deus, geralmente são mantidas em segredo e almejam um 
prolongamento da vida, ou ainda que a pessoa não sofra com a morte. Atos de 
caridade e promessas são feitas nesta tentativa, que pode estar associada a algum 
tipo de culpa ou remorso por erros cometidos no passado. 
 
 A fase da depressão acaba surgindo quando as “fichas começam a cair”, e a 
perda e a separação tornam-se cada vez mais evidentes. Este momento de 
exteriorização do sofrimento e contato com a dor é a fase onde se começa a aceitar 
a perda. De nada adianta pedir para uma pessoa que se encontra nesta fase não 
ficar triste; estar junto a ela, mostrando-se presente neste momento de dor, é algo 
que pode surtir um efeito muito mais significativo. 
 
 A quinta e última fase, chamada de aceitação, que não representa uma fase 
de “cura”, felicidade ou fim do sofrimento, mas sim de aceitação dos fatos. 
Geralmente as pessoas que conseguem chegar nesta etapa puderam “externar seus 
sentimentos, sua inveja pelos vivos e sadios e sua raiva por aqueles que não são 
obrigados a enfrentar a morte tão cedo” (KÜBLER-ROSS, 1996:125). 
 
 Ressalta a autora que nem todos passam por esses cinco estágios em cada 
perda: algumas pessoas, por exemplo, acabam passando anos agarrados à 
negação, não conseguindo entrar em contato com a sua própria dor. Estas reações, 
mesmo que ocorram, nem sempre acontecem na mesma ordem, e podemos passar 
 
 
 
15
mais de uma vez pelos estágios. KÜBLER-ROSS (2004:75) afirma ainda que “as 
sucessivas perdas nos dão oportunidade de aprender a lidar melhor com elas, o que 
nos torna mais bem preparados para enfrentar as perdas que a vida inevitavelmente 
nos trará”. 
 
BOWLBY (1985) descreve quatro fases de elaboração do luto muito 
semelhantes às de Kübler-Ross: a fase de choque, que pode durar horas ou 
semanas, e geralmente é acompanhada de raiva e desespero; a fase de desejo e 
busca da figura perdida, que pode durar meses ou anos, a fase de 
desorganização e desespero, e por fim a fase de alguma reorganização. Alguns 
autores refutam estas idéias de classificar em estágios o processo de aceitação da 
morte, alegando que não existe modo “certo” de morrer ou de aceitar a morte de 
uma pessoa importante para nós. 
 
Quando a família aceita a perda e as mudanças decorrentes desta, a dor 
pode ser transformada em saudade, mantendo sempre ‘vivas’ as lembranças da 
pessoa que se foi. A patologia na elaboração do luto muitas vezes vem 
acompanhada de depressão, tristeza, choro, agressividade e culpa persistentes, 
impedindo que a família se reorganize e planeje seu futuro após a perda. 
 
 “(...) Não devemos nunca estar muito certos de que sabemos o que é 
melhor ou mais apropriado para os outros ao lidarem com seu luto. O 
julgamento negativo dos outros a respeito de quando o luto é demais ou de 
menos pode aumentar as dificuldades dos membros da família que sofre”. 
(McGOLDRICK et al., 1998:199) 
 
 Segundo MIERMONT (1994:356), “a reação de luto é uma reação 
psicossomática de cicatrização-restauração do comportamento de apego”, e pode 
exigir vários anos para ser reabsorvida. 
 
A forma e duração consideradas “normais” para o luto, diferem muito de uma 
cultura para outra. McGOLDRICK et al. (1998), afirmam que em alguns locais da 
Grécia e da Itália, por exemplo, as mulheres vestem preto pelo resto de suas vidas 
após a morte de seus maridos. Na Índia, algumas viúvas se atiram na pira funerária, 
 
 
 
16
como um sacrifício em nome dos seus maridos falecidos; na cultura porto-riquenha 
espera-se que as mulheres expressem suas emoções na forma de ataques; já nas 
sociedades do sudeste asiático, no ambiente privado espera-se que as pessoas 
mantenham-se ‘compostas’, não demonstrando muito os seus sentimentos. 
Assim como no Brasil, a autora comenta que nos Estados Unidos os rituais 
funerários foram ‘comercializados’ pela indústria funerária. A própria ‘licença’ 
permitida nos locais de trabalho em situações de luto limita o desempenho de 
práticas de elaboração do luto em algumas culturas. No Brasil, são permitidos dois 
dias de licença em caso de morte do cônjuge, pais, filhos e irmãos. As mulheres 
geralmente assumem o papel principal nas tarefas emocionais e de cuidados com os 
doentes e sobreviventes, enquanto os homens se encarregam da parte 
administrativa – escolhem o caixão, pagam as taxas, etc. 
É importante ressaltarmos que acima de tudo, como terapeutas, devemos 
respeitar as crenças dos nossos pacientes acerca da morte, seus valores culturais e 
seu momento certo para lidar com as conseqüências da perda. Para McGOLDRICK 
et al. (1998:201), os questionamentos sobre as tradições culturais na família são de 
especial importância para o terapeuta, como por exemplo: verificar quais são os ritos 
da família ao lidar com a morte e o corpo do morto; quais as crenças familiares sobre 
o que acontece após a morte; o que a família acredita que seja uma expressão 
emocional apropriada; qual o papel dos homens e das mulheres quando alguém 
morre; ou ainda quais os tipos de morte são particularmente mais difíceis para esta 
família. 
 
3.2 A Importância da Comunicação no Processo de Luto e Perda 
 
De acordo com BOWEN (1998), nenhum outro evento vital provoca nas 
pessoas mais pensamentos dirigidos pela emoção e mais reações emocionais nos 
envolvidos como a morte. Os conceitos de sistemas de relacionamentos “abertos” e 
“fechados” abordados pelo autor são utilizados para descrever a morte como um 
fenômeno familiar. Os relacionamentos “abertos” são definidos como sendo aqueles 
nos quais os indivíduos se permitem comunicar uma grande parte de seus 
sentimentos, pensamentos e fantasias para o outro, e o mesmo é capaz de um 
comportamento recíproco. É importante ressaltar que nenhum de nós possui um 
relacionamento completamente aberto com as outras pessoas, mas podemos atingir 
 
 
 
17
um grau saudável de abertura. Já os relacionamentos “fechados” são aqueles onde 
os indivíduos envolvidos acabam se sensibilizando diante de questões que são 
consideradas “difíceis” para o outro, e evitam conversar sobre estes assuntos. 
Diversas vezes evitamos falar com as outras pessoas sobre determinados 
assuntos, muitas vezes por medo da reação do outro frente ao tema, ou ainda por 
medo das nossas próprias reações frente à ansiedade causada no outro. Segundo 
WRIGHT & NAGY (1994), frequentemente a família e o paciente tentam proteger um 
ao outro da ansiedade, deixando de se comunicar – o que os torna mais distantes e 
tensos.A manifestação da ansiedade por sintomas não é rara nestas situações, pois 
quanto maior o estresse da família, mais facilmente a disfunção toma conta da 
situação. 
 
Para ilustrar, citamos o caso de E. 3, 43 anos, que havia sido paciente da 
autora durante o ano de 2004-2005. No inicio do ano de 2008, E. volta à terapia, 
desta vez comunicando que seu marido havia falecido em um acidente. O pai deixou 
duas filhas, uma de 12 anos e outra de 21, que juntamente com a mãe acabou 
assumindo as responsabilidades da casa após a perda do pai. Neste momento, a 
família vem se deparando a cada dia com a dificuldade de ver o outro sofrer dentro 
de casa. A filha caçula tem tido mais dificuldades em admitir abertamente que sente 
falta do pai, e muitas vezes a mãe encontra a filha chorando pelos cantos da casa. 
Durante as sessões, E. se emociona ao contar o quanto isto é difícil para ela, porém 
na maioria das vezes toma iniciativa e vai ao encontro da filha para chorarem juntas 
e mostrar para ela que todas sentem a falta do pai. A filha mais velha de certa forma 
acaba intimidando a externalização do sentimento da mais nova, pois acha que este 
sofrimento todo é “besteira”. Em uma sessão com as três, foram trabalhados os 
significados que cada uma atribui à perda, suas crenças a respeito da morte e as 
diferentes formas de elaborar o luto dentro de uma mesma família. 
 
Para BOWEN (1998), a morte se constitui num dos principais “assuntos-tabu”, 
geralmente envolvendo três sistemas fechados: o paciente, que na grande maioria 
das vezes tem plena consciência do que está acontecendo consigo mesmo, porém 
não conversa com ninguém sobre o assunto a fim de evitar um maior sofrimento e 
 
3 Os nomes utilizados neste trabalho são fictícios, a fim de se preservar a identidade e privacidade 
dos pacientes. 
 
 
 
18
exacerbar conflitos na família; a família, que por sua vez recebe as informações dos 
médicos, mas evita conversar abertamente com o paciente para não frustrá-lo, 
“editando” o boletim médico a seu critério; e o próprio médico e seu corpo clínico, 
muitas vezes influenciados pelas respostas emocionais da família e pelo receio em 
dar “más notícias” ao paciente e aos familiares. 
Nestes casos, os profissionais da saúde acabam dando as notícias 
rapidamente ou ainda utilizando-se de termos técnicos, afim de não entrar em 
contato com os sentimentos provocados por suas crenças acerca da morte. Desta 
forma, deixam de expressar o que realmente deve ser comunicado à família neste 
momento difícil. O triângulo a seguir exemplifica os três sistemas dos quais estamos 
falando, e as flechas representam a comunicação entre os sistemas: 
 
 
 
 
 
 
 
 
De acordo com BOWEN (1998), até meados dos anos 60 a maioria dos 
médicos não contava aos próprios pacientes que estes possuíam uma doença 
terminal. Apesar de esta idéia ter mudado muito nos dias de hoje, grande parte dos 
profissionais ainda não aderiu a esta mudança de atitudes. O autor sugere que os 
profissionais da área da saúde tomem consciência das dificuldades existentes nesta 
relação triangular4 na comunicação entre “médico-família-paciente”, ou ainda 
recorram à ajuda de um terapeuta para que o mesmo o auxilie a lidar com suas 
próprias ressonâncias e fantasias frente à dor do outro – algo que pode facilitar na 
comunicação entre os sistemas. 
WRIGHT & NAGY (1994:131) comentam que “(...) com muita freqüência os 
profissionais da saúde não aproveitam o momento do diagnóstico como uma 
oportunidade para iniciar uma discussão sobre a morte”, e que nesta situação os 
 
4 Segundo MIERMONT (1994:571), o triângulo é uma configuração emocional de três pessoas e 
constitui o menor dos sistemas de relação estável. Os triângulos podem ocupar uma posição central 
ou periférica, e sua estrutura pode ser patogênica ou não. 
paciente
famíliamédicos 
 
 
 
19
profissionais confrontam-se com suas próprias crenças sobre a imortalidade. Como 
terapeutas de família, devemos também tomar este cuidado, observando se nossas 
próprias crenças não estão nos impedindo de abordar a morte com as famílias. 
 
Em seu trabalho na Unidade de Enfermagem Familiar da Universidade de 
Calgary com famílias que experienciam dificuldades com problemas de saúde, 
WRIGHT & NAGY (1994:129) constataram que a “crença sobre o problema é o 
problema”, já que as mesmas moldam o modo como as famílias se adaptam às 
perdas e doenças terminais. As autoras distinguem estas crenças em “limitadoras” e 
“facilitadoras”, e comenta que a mudança ocorre quando se mudam as crenças 
limitadoras, e a capacidade da família para a mudança depende de sua capacidade 
para alterar suas crenças acerca do problema. 
 
“As crenças limitadoras inibem a autonomia do individuo e da família, 
restringindo as opções para soluções alternativas aos problemas. Essas 
crenças podem ser desafiadas pelos profissionais da saúde através da 
introdução de novas conexões entre crenças e comportamentos, que 
podem criar crenças facilitadoras nos membros da família”. (IMBER-
BLACK, 1994:130) 
 
De acordo com BOWEN (1998:108): “(...) Uma unidade familiar está em 
equilíbrio funcional quando está calma e cada membro está funcionando com 
eficiência razoável naquele período. O equilíbrio da unidade é perturbado seja pela 
chegada, seja pela perda de um membro. (...)”. Para o autor, as reações emocionais 
dos envolvidos às perdas são reguladas pelo nível de funcionamento e integração 
emocional na família, ou ainda pela significação da pessoa que foi acrescentada ou 
perdida no sistema. As perdas que podem desequilibrar um sistema familiar podem 
ser físicas, quando por exemplo, um filho sai de casa; funcionais, quando algum 
membro importante na família morre ou tem uma doença que o incapacita de 
continuar a exercer suas funções para o sustento da família; e ainda emocionais, 
quando a família perde alguém que por exemplo sempre organizava os eventos 
alegres e datas festivas na família. 
 
 
 
 
20
“O tempo necessário para que a família estabeleça um novo equilíbrio 
emocional depende de sua integração emocional e da intensidade da 
perturbação” (BOWEN, 1998:108) 
 
As famílias que conseguem demonstrar mais facilmente seus sentimentos e 
compartilhar suas angústias em relação à perda vivenciada, mais facilmente 
conseguirão se adaptar às mudanças, enquanto as famílias menos integradas 
podem demonstrar pouca reação no momento da perda, e manifestar tardiamente 
seu sofrimento através de sintomas físicos ou emocionais. BOWEN (1998) 
aprofunda estas questões referentes à integração emocional, explicando a “onda de 
choque emocional”: 
 
“A ‘onda de choque emocional’ é uma rede de ‘tremores secundários’ 
subterrâneos de sérios eventos vitais, que podem ocorrer em qualquer 
parte do sistema familiar extenso nos meses ou anos após um evento 
emocional importante para a família. Ela ocorre com mais freqüência após 
a morte real ou ameaçada de um membro significativo da família, mas 
pode ocorrer após outros tipos de perdas” (BOWEN, 1998:109) 
 
Segundo o autor, esta ‘onda de choque emocional’ não se refere às reações 
normais de sofrimento perante a perda, mas à dependência emocional que ocorre 
entre os membros de uma família, geralmente negada pelos mesmos. É importante 
ressaltar que ela ocorre com muito mais freqüência após a morte de um membro 
significativo da família e pode ser desencadeada também por uma morte ameaçada. 
Os sintomas da ‘onda’ podem ser diversificados, englobando sintomas físicos 
(diabetes, câncer, gripes, etc.), emocionais (depressão, fobias, etc.), ou ainda sociais 
(alcoolismo, problemas na escola, etc.). Caso o terapeuta não se atente à estes 
dados, conectando-os com a perda, a tendência é tratar todos os sintomas 
separadamente, deixando-se levar pelo sistema de proteção dafamília, que 
geralmente nega as associações e realmente acredita que estes sintomas nada tem 
a ver com a perda. 
 
Algumas famílias podem tentar camuflar ainda mais a relação entre os 
eventos seguintes com a perda, principalmente se perceber que o terapeuta está 
buscando alguma relação entre eles. Já outras famílias podem se mostrar menos 
 
 
 
21
reativas e chegar à terapia conectando os sintomas atuais com a perda recente, 
tornando-se mais interessadas no fenômeno do que em reagir a ele com a negação. 
PAPP (1992) comenta que muitas vezes a forma que a família encontra para se 
equilibrar é desenvolvendo algum sintoma, e quando este se torna inaceitável para 
eles e para a sociedade, causando um stress intolerável, a família procura ajuda. 
 
BROWN (1995:405) afirma que “muitas reações emocionais e dificuldades de 
ajustamento a longo prazo relacionadas à morte se originam da falta de franqueza 
no sistema familiar”. Por ‘franqueza’ entende-se a capacidade de cada membro da 
família de comunicar aos outros seus sentimentos sem esperar que os mesmos 
sejam influenciados por estes, e pela capacidade de permanecer não reativo às 
emoções na família. Tanto o estresse familiar quanto o nível de diferenciação, ou 
seja, de maturidade emocional, determinam o grau de franqueza em uma família. 
Um indivíduo diferenciado é capaz de permanecer não reativo às emoções das 
outras pessoas e define suas posições embasado em idéias ou princípios, sabendo 
ouvir as outras pessoas e não reagindo exageradamente às situações. 
 
3.3 Repercussões da Perda em Diferentes Fases do Ciclo de Vida 
Familiar 
 
As complicações e repercussões que uma perda gera em uma família 
dependem diretamente da fase do ciclo de vida em que a mesma se encontra. De 
acordo com WALSH & McGOLDRICK (1998), alguns fatores tendem a tornar a 
morte em algumas situações mais difíceis do que em outras. Como exemplo, 
podemos citar algumas situações: 
 
• Quando a morte ocorre prematuramente, “fora de hora”, como por exemplo, a 
viuvez precoce, o falecimento precoce de um dos pais ou ainda de um filho. 
Nestes casos, o luto prolongado é mais comum, e as famílias estão sempre 
em busca de uma explicação para a perda inesperada. Em muitas ocasiões, a 
culpa por não poder ter feito nada para impedir a morte do cônjuge, irmão ou 
pais, sentida pelos que sobreviveram, os impede de realizar projetos para o 
seu futuro. A forma da morte também acaba interferindo na elaboração da 
 
 
 
22
perda, que pode ser repentina, prolongada, violenta, ou ainda uma perda 
ambígua5. 
 
• Quando envolve o aparecimento de sintomas coincidindo com a perda 
recente ou ameaçada, tendo como exemplo o aparecimento de sintomas nas 
crianças ou conflitos conjugais. Geralmente os membros não reconhecem a 
conexão dos sintomas com a perda ou podem nem mencionar a morte 
recente / iminente ao terapeuta. Nestes casos, é importante que o terapeuta 
avalie o impacto das perdas antecipadas, e ainda aquelas que ocorreram nos 
últimos dois anos na família. 
 
• Quando coincide com outras perdas ou relaciona-se com outras grandes 
mudanças no ciclo de vida, assim como ocorrem em algumas famílias onde o 
nascimento de um bebê coincide com a data da perda de algum membro da 
família, ou ainda algumas pessoas que se casam logo após uma perda. Toda 
e qualquer fase do ciclo de vida da família requer uma reorganização de 
papéis, criando assim novas tarefas e demandas que podem sobrecarregar a 
família. Quando todos estes eventos se acumulam, as tarefas tendem a ficar 
muito mais complexas e o apoio da família é essencial neste momento. 
 
• Quando são perdas pós-traumáticas ou seguidas de um luto não resolvido, 
que podem ser melhor avaliadas com a utilização dos genogramas e 
cronologias familiares no contexto terapêutico. Podemos tomar como exemplo 
as famílias que buscam auxílio terapêutico por preocuparem-se com o 
sofrimento e/ou sintomas psicossomáticos em um de seus membros após 
uma perda. Observamos ainda os padrões de aniversários transgeracionais, 
onde são verificados no paciente identificado6 sintomas que coincidem com a 
idade ou o estágio do ciclo de vida de um dos pais ao morrer. No contexto 
clínico, como terapeutas, devemos explicitar e conectar estes padrões 
 
5 A perda ambígua pode ser definida como uma perda que não recebeu uma validação pública, nem 
foi oficialmente documentada ou ritualizada. Exemplos deste tipo de perdas são de seqüestros, 
crianças desaparecidas, soldados desaparecidos em guerra, entre outros. 
6 Segundo MIERMONT (1994:420), a expressão ‘paciente identificado’ é utilizada para designar a 
pessoa cuja situação provocou uma demanda de tratamento por parte de um ou vários membros da 
família, ou seja, o comportamento sintomático de um indivíduo é apreendido como resultante de um 
disfuncionamento familiar. 
 
 
 
23
ocultos, auxiliando na diferenciação dos membros desta família, para que a 
história não passe a se repetir. 
 
A seguir relacionaremos diferentes formas de perda em uma família, bem 
como seus impactos e repercussões em diferentes fases do ciclo de vida familiar. 
 
3.3.1 A perda dos Pais 
 
Na infância, a perda dos pais é algo que pode acarretar conseqüências a 
curto e a longo prazo, incluindo sintomas físicos e transtornos emocionais. De 
acordo com WALSH & McGOLDRICK (1998), as crianças que experimentam a 
perda de um dos pais podem desenvolver certa dificuldade nos relacionamentos 
íntimos, temendo muitas vezes que a separação e o abandono se repitam. As 
reações das crianças dependem muito do seu estágio de desenvolvimento e do 
modo como os outros adultos encararam a perda no momento. É importante que os 
adultos compreendam as diferentes reações que as crianças podem ter, e 
principalmente se as mesmas já são capazes de entender o que aconteceu. 
 
É importante ressaltarmos que as crianças não devem ser excluídas de 
conversas e rituais que acompanham a perda, devendo ser esclarecidas e 
informadas sobre o que se passa o redor delas. Muitos pais na tentativa de poupá-
las da dor acabam deixando-as de fora em um momento que o luto deve ser 
elaborado em conjunto. As funções do pai / mãe que faleceram, no caso de famílias 
com crianças pequenas, deverão ser desempenhadas por outros membros da 
família, a fim de se dar suporte às crianças e ao cônjuge sobrevivente no manejo da 
nova configuração e distribuição de tarefas. Portanto, a família neste momento 
servindo de rede de apoio acaba sendo de fundamental importância, pois o modo 
como a criança vai lidar com a perda depende diretamente do estado emocional do 
pai/mãe sobrevivente. 
 
Para WALSH & McGOLDRICK (1998), perder um dos pais na adolescência 
pode acarretar um sentimento de culpa, pelo desejo implícito do adolescente nesta 
fase de se ver “livre” dos pais e do controle deles. A perda parental pode gerar uma 
sobrecarga, em uma fase em que a reestruturação de papéis e tarefas na família já 
 
 
 
24
faz parte do ciclo de vida “natural”, só que desta vez, com o agravante da perda. No 
âmbito clínico, quando presentes queixas sobre o comportamento dos adolescentes 
neste momento, é importante avaliarmos os contextos onde ocorrem os problemas, 
que muitas vezes aparecem nas relações familiares, na escola, entre outros. 
Conforme OSTERWEIS (1984), apud WALSH & McGOLDRICK (1998), os 
meninos que perdem um dos pais geralmente se retraem socialmente, ou ainda se 
envolvem com roubo, brigas e drogas, enquanto as meninas possuem tendência de 
se unirem às irmãs e em muitas das vezes sexualizam as relações amorosas. Em 
muitas ocasiões, as meninas casam-se ou saem de casa precocemente logo após a 
perda, buscando proximidade e conforto no parceiro. 
 
Segundo VIORST (2005), a perda de um dos pais durante a vida adulta pode 
muitas vezes servir de incentivo para o desenvolvimento, impulsionandoos filhos 
para o crescimento e desenvolvimento da maturidade; já em outros casos, perder os 
pais para um adulto jovem pode fazer com que o mesmo sinta-se dividido entre seus 
planos para o futuro e a tarefa de lidar com uma perda repentina. 
 
Para WALSH & McGOLDRICK (1998), nesta fase os jovens geralmente estão 
se afastando de sua família de origem para formar a sua própria família nuclear. As 
expectativas de cuidados dos pais nesta fase geralmente são depositadas sobre os 
filhos mais velhos, ou ainda sobre as filhas mulheres. Estas tendem a se preocupar 
muito mais com as situações de doença ou perda, pois existe a forte crença em 
nossa cultura de que as mulheres devem tomar conta dos pais, dos progenitores 
sobreviventes, irmãos e avós. Já os filhos homens, ou os filhos (as) mais velhos (as) 
em geral, ao invés do papel de cuidadores, acabam freqüentemente assumindo o 
papel de “chefe” na família, se envolvendo muito mais com as questões financeiras e 
burocráticas. As questões de cuidados nas famílias tornam-se alvo fácil de 
discussões e redefinições de papéis. MEYNCKENS-FOUREZ (2000) ressalta que 
neste momento, a hierarquia das gerações pode inverter – e os filhos são levados a 
cuidar de seus pais. 
 
Citaremos novamente o caso de E., 43 anos, que perdeu o marido em um 
acidente. Com a perda do pai, a filha mais velha de 21 anos, juntamente com a mãe 
acabou assumindo as responsabilidades da casa após a perda do pai. Neste caso, 
 
 
 
25
as mudanças de papéis e tarefas na família decorrentes da perda, chocaram-se com 
o momento em que a filha mais velha estava terminando sua faculdade. Seu 
trabalho de conclusão de curso e outras responsabilidades desta etapa da vida da 
estudante acabaram se misturando com todas as responsabilidades de organizar as 
finanças e negócios deixados pelo pai para a família e dos cuidados com a irmã 
caçula de 12 anos. No momento, estão sendo trabalhadas as diferenciações de 
cada membro sobrevivente na família e a reorganização dos papéis. Com o 
fortalecimento da mãe, a filha mais velha tem se sentido mais ‘autorizada’ a 
continuar sendo ‘filha’, levar seu curso de graduação em frente, deixando que a mãe 
assuma mais as questões financeiras da família. 
 
Para um jovem casal, a perda de um dos pais nesta etapa da vida em que 
estão focando em seus planos e futuro, muitas vezes pode impedi-los de vivenciar a 
estruturação da nova família. Os filhos, ao mesmo tempo em que se preocupam em 
elaborar o luto do pai falecido, possuem ainda a preocupação em atender o pai/mãe 
sobrevivente. A perda de ambos os pais nesta etapa da vida do casal traz ainda a 
preocupação de que eles são a ‘última geração sobrevivente’, e muitas vezes 
acabam precipitando casamentos e filhos. O estreitamento do envolvimento com a 
família de origem novamente pode deixar o novo casal confuso em suas tarefas e 
adaptação ao novo sistema, complicando esta fase. Nestes casos, o apoio do 
parceiro torna-se fundamental, afim de que o luto seja facilitado – e o casamento 
fortalecido – evitando desapontamentos e crises conjugais já no início da vida em 
comum. 
 
O casal H., de 31 anos e N., de 32 anos ilustra esta questão da antecipação 
do casamento. Após a decisão de encerrar a terapia de casal em 2005, em 2008 a 
esposa, H. vem em busca de terapia – desta vez sozinha – com algumas questões 
que esteve pensando neste período tentando dar a volta por cima no casamento. 
Trabalhando os fatos significativos da vida do casal através da técnica da “linha do 
tempo”7, H. reconhece que o noivado na época aconteceu devido à pressão 
implícita, existente na família de N., pois seu pai estava em estado terminal de 
 
7 A técnica da “linha do tempo” permite que o terapeuta e o casal organizem o tempo do 
relacionamento, levantando momentos marcantes na vida em comum, bem como o padrão de 
funcionamento do casal. 
 
 
 
26
câncer. O noivado acabou acontecendo em uma cerimônia realizada dentro do 
quarto do hospital, com a presença dos pais de ambas as famílias. H. hoje se 
arrepende de ter precipitado o noivado, e reconhece que na época não tinha certeza 
se queria realmente noivar, apesar do longo tempo de namoro. Atualmente o casal 
se encontra em processo de separação. 
 
Adultos que perdem os pais ao mesmo tempo em que estão vivenciando a 
saída dos filhos de casa – a fase do ‘ninho vazio’ –, acabam enfrentando perdas dos 
dois lados, em duas gerações distintas. Quando os filhos saem de casa, a principal 
tarefa da família consiste na reorganização e renegociação de antigas relações, 
dando espaço a relações mais igualitárias e menos hierárquicas. Em geral os 
adultos nesta fase estão um pouco mais preparados para assumir responsabilidades 
e cuidados com seus próprios pais e confrontarem com sua própria mortalidade. 
Para McGOLDRICK & WALSH (1998:70), “(...) a morte do último membro 
sobrevivente da geração anterior torna-os especialmente conscientes de que eles 
são agora a geração mais velha, e a próxima a morrer”. A inclusão de netos no 
sistema familiar em geral torna a aceitação da mortalidade algo mais fácil, por isso a 
pressão sobre a geração dos filhos, para que estes dêem continuidade na família 
pode aumentar, caso a família não se conscientize desta situação ou não procure 
ajuda de um terapeuta. 
 
 3.3.2 A perda do Cônjuge 
 
 Para VIORST (2005:263), na morte de um dos cônjuges, chora-se “(...) o 
companheiro, o amante, o amigo íntimo, o protetor, o provedor ou parceiro na 
criação dos filhos. Pode-se chorar o fato de não ser mais parte de um par”. A autora 
comenta ainda que a morte do cônjuge destrói uma unidade social, impondo novos 
papéis e colocando o outro em uma posição solitária. 
 
“Para a criança, é muito traumática a perda de um dos pais. Para os pais é 
muito traumática a perda de um filho. Mas a perda do marido ou da mulher 
é um compêndio de várias perdas diferentes.” (VIORST, 2005:263) 
 
 
 
 
27
Em algumas situações, a família e os amigos do cônjuge viúvo, esperam que 
ele inicie um novo relacionamento rapidamente, a fim de “dar a volta por cima”, 
porém corre-se o risco de que a dor seja negligenciada neste momento e mais tarde 
possa vir à tona. Em geral, as mulheres possuem mais dificuldades em iniciar um 
novo relacionamento do que os homens, principalmente quando a família do cônjuge 
falecido insinua que isto é algo desleal. Os homens geralmente tocam a vida mais 
rapidamente, e esperam que a nova parceira seja solidária com a sua dor. 
 
A morte de um dos cônjuges na fase da formação do casal tende a ser muito 
chocante e desorientadora, tornando o luto muito mais difícil para o sobrevivente, já 
que a formação do novo casal representa a modificação de dois sistemas inteiros 
com a finalidade de desenvolver um terceiro. 
 
A perda do cônjuge nas famílias com crianças pequenas implica em o cônjuge 
sobrevivente assumir a posição de único cuidador, e também sozinho as 
responsabilidades financeiras. As crianças muitas vezes acabam desenvolvendo 
sintomas, o que distrai o cônjuge sobrevivente do foco da sua própria elaboração da 
perda. Membros adultos da família e amigos constituirão uma rede de apoio 
fundamental, auxiliando nas tarefas e cuidados. 
 
A repercussão deste tipo de perda na família pode ser exemplificada com M., 
46 anos, mãe de três filhos: a mais velha hoje com 28 anos, casada e mãe de 
gêmeos; e dois filhos homens, gêmeos de 26 anos. M. ficou viúva aos 21 anos com 
três filhos pequenos para cuidar – na época, a primogênita tinha três anos e os 
gêmeos um pouco mais de um ano de idade. Sua maior preocupação sempre foi 
trabalhar para conseguir manter as crianças e hoje reconhece que sempre deu tudo 
o que pôde, sendo pai e mãe ao mesmo tempo, cuidando da casa e trabalhando 
fora. Atualmente suas preocupações giram em torno da vida profissional de seus 
filhoscaçulas, que ainda não se estabilizaram em suas profissões, algo que traz 
muitas preocupações para a mãe, que alega que na idade deles dava conta de 
muito mais tarefas do que eles hoje em dia. Quando os filhos menores tinham 
aproximadamente oito anos, a viúva começou a namorar e mantém um 
relacionamento estável até os dias de hoje. Atualmente, os filhos mais novos fazem 
faculdade e estão em busca de oportunidades profissionais. Com o incentivo da mãe 
 
 
 
28
e do padrasto, têm conseguido administrar melhor as questões relacionadas às suas 
vidas profissionais. 
 
A perda de um dos cônjuges no momento de lançamento dos filhos e no 
estágio tardio da vida tende a ser preocupante para ambos os sexos, pois neste 
momento a reestruturação da família gira em torno da renegociação das funções do 
casal, não mais centrados na criação dos filhos. Quando os filhos saem de casa, 
geralmente o casal reinveste energia no casamento e faz planos para o futuro, ao 
mesmo tempo em que começa a entrar em contato com a sua própria mortalidade. 
 
De acordo com WALSH & McGOLDRICK (1998), as mulheres 
estatisticamente ficam viúvas mais cedo, tendo quatro vezes mais chances de 
sobreviver, do que os homens. Sendo assim, as mulheres nesta fase devem priorizar 
a reconstrução de redes de apoio social, bem como considerar como estas vão se 
sustentar a partir do falecimento do cônjuge. Já os homens possuem menor 
tendência de ficarem viúvos, já que estes geralmente morrem antes do que as 
mulheres. Vale a pena ressaltar que a taxa de suicídios entre homens viúvos é 
bastante alta, dado que mostra o despreparo dos homens em perder aquelas que 
geralmente foram emocionalmente centradas neles durante a vida conjugal. 
O cônjuge sobrevivente, muitas vezes, pode se fechar em seu sofrimento, 
evitando compartilhar seus sentimentos com os filhos que acabaram de sair de casa. 
As principais tarefas nesta etapa constituem-se em fazer o luto da perda do cônjuge 
e reinvestir no futuro. 
 
O caso de C., 55 anos, ilustra esta situação. O casal há cerca de dois anos 
havia se mudado para um sítio no interior, e suas duas filhas adultas e ainda 
solteiras continuaram a morar na casa da família na cidade. O pai, diabético, faleceu 
após um infarto fulminante no próprio sítio, o que no decorrer do tempo acarretou 
muitas dificuldades na comunicação entre mãe e filhas. A mãe, que permaneceu 
morando no sítio e buscando apoio na irmã que mora próximo, elabora seu luto 
dando continuidade no que o casal sempre planejou, que seria construir uma nova 
casa no sitio e plantar um enorme pomar. As filhas por sua vez preferem morar na 
cidade devido ao convívio com os amigos e principalmente pelas possibilidades 
profissionais – a mais velha chega a dizer que “foi o sítio quem matou seu pai”, e 
 
 
 
29
nunca vai até lá. Em resumo, cada uma das gerações da família leva adiante seus 
projetos para o futuro, porém sem conversar muito sobre a perda. Atualmente 
somente a filha mais nova se mostra disponível em fazer terapia. Um dos maiores 
medos para cada uma delas é piorar a situação de sofrimento para as demais caso 
demonstrem seus sentimentos e sofrimentos. A filha mais nova, por exemplo, evita 
chorar ou comentar sobre o pai, para não deixar a mãe mais triste ainda –, algo que 
acaba mantendo o sistema fechado e sem comunicação. 
 
“É interessante que os viúvos (as) sejam a única classe de pessoas 
enlutadas a receber um titulo especifico que define seu status. Contudo, 
esta identidade é um lembrete constante da perda e pode impedir o 
processo de retomada da vida. E, ao contrário do divorcio, um cônjuge 
falecido não é referido como um ex-marido ou ex-mulher.” (WALSH & 
MCGOLDRICK, 1998:72) 
 
3.3.3 A perda dos Filhos 
 
De uma forma geral, a morte de um filho é algo extremamente doloroso, algo 
que reverte a ordem natural da vida e frustra as expectativas geracionais de uma 
família, em especial para os pais. Para VIORST (2005:261), “a morte de um filho é 
como uma morte fora de tempo, uma monstruosidade, um ultraje contra a ordem 
natural das coisas”. A perda de um filho, independendo da idade, produz um 
sofrimento duradouro, e a família pode ter a sensação de que alguma “injustiça” 
ocorreu. 
 
A infertilidade pode ser considerada uma perda, embora muitas vezes não 
seja reconhecida nem considerada como tal. A perda de um filho não nascido em 
geral representa a perda dos planos de continuidade para o futuro do jovem casal, 
seja ele planejado ou não. Em geral a mulher pode se sentir um “peixe fora d’água” 
ao ver suas irmãs e amigas animadas com suas gravidezes ou bebês. A perda por 
abortos, sejam eles espontâneos ou provocados, acaba sendo sentida muito mais 
intensamente pelas mulheres do que por seus cônjuges, pelo fato de o bebê ter sido 
gerado em seu próprio corpo. Muitas vezes sente-se muita culpa por não ter 
conseguido levar a gravidez adiante, algo que influencia diretamente nas tentativas 
futuras. O trauma acaba desafiando o novo casal, que possui grandes possibilidades 
 
 
 
30
de separação, caso a perda não seja trabalhada com ambos ou ainda não recebam 
apoio suficiente das famílias e dos amigos. 
 
A morte de uma criança tende a ser um momento de muita perturbação para 
todos os familiares, pois conforme citam McGOLDRICK & WALSH (1998:63), 
“Quando seus pais morrem, você perde seu passado; quando seus filhos morrem, 
você perde seu futuro”. A perda da criança muitas vezes vulnerabiliza a relação 
conjugal e saúde dos pais, havendo grandes possibilidades de divórcio. Os pais 
acabam questionando o real sentido de suas vidas, muitas vezes culpando-se e 
responsabilizando-se pela morte da criança – já que as crianças pequenas são 
inteiramente dependentes dos pais para segurança e sobrevivência. O papel da 
criança que morre influencia diretamente a forma como os pais vão lidar com a 
situação: a perda de um primogênito, de um filho único, de um filho único de um dos 
sexos, ou ainda as mortes por acidentes podem ser muito mais difíceis de lidar do 
que em algumas outras situações. Grupos de auto-ajuda e crenças religiosas neste 
momento podem ser fundamentais para o apoio e conforto dos pais. 
 
A perda de um filho adolescente geralmente envolve acidentes, associados a 
comportamentos arriscados, envolvendo álcool, drogas, automóveis ou ainda 
suicídio, homicídio e câncer. Em muitas das mortes ocasionadas por 
comportamentos autodestrutivos, é comum que a família sinta raiva do filho que 
morreu, gerando uma confusão de sentimentos, misturadas com a dor da perda. Nos 
casos de doença, como por exemplo, o câncer, a rebeldia em muitos casos faz com 
que o adolescente não leve o tratamento tão a sério, e os pais tenham um pouco 
mais de dificuldades em colocar os limites e distinguir o que é adequado ou o que 
não deve se fazer neste momento. 
 
GORER apud VIORST (2005:262), conclui que “a mais profunda e duradoura 
de todas as dores é a do pai e da mãe pelo filho ou pela filha já crescidos”, apesar 
de o lamento pela perda de um filho, ou das esperanças do que o filho seria, pode 
começar em qualquer estágio do processo de maternidade / paternidade. Quando se 
perdem filhos adultos – geralmente cheios de planos para o futuro –, a dor e culpa 
dos familiares que ficaram vivos pode paralisá-los e impedí-los de continuar seus 
projetos de vida por um bom tempo. 
 
 
 
31
3.3.4 A perda dos Irmãos 
 
A perda de um dos irmãos por parte das crianças pode ser experimentada 
também como parte da perda dos pais, já que os mesmos estarão mais vulneráveis 
e voltados à perda do filho. A rivalidade natural entre irmãos pode contribuir para um 
grande sentimento de culpa nos mesmos, o que pode bloquear seu desenvolvimento 
e provocar reações nos aniversários após a perda. Para VIORST (2005:266), a 
perda de um dos irmãos na infância pode ser considerada algo extremamente 
doloroso e confuso,algo que combina triunfo e culpa: “(...) Triunfo por ter se livrado 
finalmente do rival. Culpa por ter desejado se livrar do rival. Dor pela perda do 
companheiro de brinquedos, de quarto. A dor de ter perdido – e de ter ganho”. 
Um dos irmãos sobreviventes nestas situações pode ainda ser colocado em 
função substituta – algo que futuramente pode prejudicar sua individuação e 
separação da família; ou ainda os pais engravidam logo em seguida ou adotam uma 
criança. Alguns estudos comprovam que o investimento de energia nos filhos 
sobreviventes torna o ajustamento à perda algo mais fácil de ser elaborada para os 
pais. 
 
A perda de irmãos na adolescência geralmente vem acompanhada de um 
distanciamento da família e dos amigos, fazendo com que muitas vezes o 
adolescente sobrevivente não tenha vontade de falar com ninguém sobre a perda. 
Este geralmente se afasta dos possíveis compartilhamentos de sentimentos com a 
família, mas o que realmente determina a forma com que o irmão sobrevivente vai 
lidar com a perda é a bagagem da família e a possibilidade de todos lidarem com a 
perda. Sobre as repercussões no subsistema fraterno, MEYNCKENS-FOUREZ 
(2000:29) comenta que em muitas vezes, um irmão (ã) “perde seu melhor 
confidente, ou vê partir aquele que lhe dava atenção, ou que assumia um pouco a 
função de ‘escudo’ entre eles e os pais”. 
 
Conforme cita VIORST (2005:267), “quando irmãos e irmãs crescem e saem 
de casa, descobrem que seu relacionamento é opcional”. Na idade adulta, a perda 
dos irmãos vai depender muito dos vínculos estabelecidos por estes, pois alguns 
fortalecem seus vínculos, fazendo-os durar até a fase adulta, vendo uns aos outras 
como pessoas que podem ser seus amigos, já outros buscam manter o mínimo de 
 
 
 
32
contato. Na realidade com o passar do tempo e a morte dos pais, os irmãos são tudo 
o que resta da família. A perda é lamentada, de uma forma ou de outra, pois como 
define a autora, são os irmãos os guardiões do nosso passado. 
 
3.4 Os Rituais de Despedida na Elaboração do Luto 
 
IMBER-BLACK (1998) investigando rituais de luto em diferentes culturas 
observa que há muitas diferenças e semelhanças no que se refere às crenças de 
cada uma delas. Os rituais ocorrem em locais específicos (casa, igrejas, 
cemitérios...) e são limitados no espaço e tempo, proporcionando algum alívio e 
segurança psicológica para quem participa destes. 
 
“Nos rituais de luto, as pessoas se reúnem para chorar a morte de uma 
forma limitada no tempo, que proporciona apoio mútuo e permite a 
expressão inicial de dor e perda em um contexto criado para promover a 
conexão interpessoal” (IMBER-BLACK,1998:229) 
 
Os rituais terapêuticos possuem a função de facilitar a expressão do 
sofrimento, marcam as mudanças nos relacionamentos formalizando a perda e 
possibilitam a elaboração de toda uma comunidade. O terapeuta, avaliando a vida 
ritual de uma família, como por exemplo, os rituais diários (refeições, tradições, 
aniversários, férias, comemoração de datas religiosas) e os rituais que fazem parte 
do ciclo de vida (casamentos, nascimentos, etc.), pode melhor compreender a 
maneira que a família tem de lidar com as perdas atuais e anteriores. 
 
“(...) Os rituais da vida de qualquer família são a melhor porta de entrada 
para facilitar a elaboração. Os rituais diários, as tradições, as 
comemorações e os rituais do ciclo de vida proporcionam oportunidades 
para enfrentar as perdas e o sofrimento” (IMBER-BLACK, 1998:243) 
 
Para o autor, existem famílias que não costumam celebrar as mudanças na 
família nem participam de rituais: são as famílias chamadas ‘sub-ritualizadas’. Outras 
famílias são ‘rigidamente ritualizadas’, pois realizam seus rituais sempre da mesma 
forma, sem alterações nem evoluções. Como exemplo, citamos as famílias que 
agem de uma forma estereotipada, não reconhecendo a perda e vivenciando as 
 
 
 
33
próximas datas festivas como se nada tivesse acontecido. Há ainda as famílias com 
‘rituais interrompidos’, que não conseguem vivenciar por inteiro os rituais devido a 
mudanças/perdas súbitas. 
 
Segundo IMBER-BLACK (1998), existem duas tendências que predominam 
nos padrões familiares perante a perda: em algumas famílias, existe uma regra 
implícita de que falar sobre a perda é algo que deve ser banido. Geralmente estas 
pessoas agem como se nada tivesse acontecido e a tensão aumenta na medida em 
que as datas festivas como aniversários, Natal, aniversários da perda, entre outras 
datas significativas vão se aproximando. Alguns membros acabam desenvolvendo 
sintomas que não são reconhecidos como relacionados à perda negada e à 
aproximação destas datas importantes. Desta forma, as famílias simplesmente vão 
‘suportando’ as comemorações e acabam se afastando da família nestas ocasiões, 
com receio de demonstrar seus sentimentos ou ainda não suportar ver o outro 
sofrer. 
 
VIORST (2005) afirma que mesmo quando finalmente sentimos que estamos 
nos adaptando à perda podemos sofrer as ‘reações de aniversário’, chorando mais 
uma vez de saudade, tristeza e desespero no aniversário de nascimento ou de 
falecimento da pessoa que se foi. 
 
Em outras famílias, toma-se como premissa básica a regra ‘nada de festas’, 
onde a família passa a viver em um estado de permanente sofrimento. Nestes 
casos, a família acaba se isolando do apoio emocional mútuo que poderia existir 
nestes momentos de elaboração de rituais. O primeiro ou os primeiros rituais do ano 
após a perda de alguém da família, geralmente são experimentados com maior 
intensidade do que os subseqüentes. 
 
O terapeuta, ao entrevistar a família, deverá ainda observar se a pessoa que 
faleceu era a responsável pela elaboração das festas na família, algo que torna um 
pouco mais difícil para o sistema a reorganização de papéis. Em muitas situações, 
as pessoas buscam terapia com queixas de ansiedade e depressão em momentos 
de suas vidas nos quais se aproximam da idade que tinha um dos pais quando 
morreu, por exemplo, não conectando esta ansiedade com o evento próximo. 
 
 
 
34
 
Para VIORST (2005:254), “(...) internalizando os mortos, tornando-os parte do 
nosso mundo interior, podemos finalmente completar o processo de lamentação”, ou 
seja, fazendo com que a pessoa permaneça sempre em nosso mundo interior, 
podemos mantê-la conosco e deixá-la partir ao mesmo tempo. 
 
Podemos citar como exemplo a família de E., que perdeu o marido em um 
acidente. A esposa atualmente sente-se culpada por logo após a morte ter 
esvaziado o armário do marido. Hoje chega a dizer que foi uma atitude precipitada, e 
tem medo de perdê-lo ao se desfazer de mais algum pertence que tenha ficado em 
casa. Uma forma que arrumou para ‘compensar’ esta atitude para si mesma foi 
deixar a caminhonete do marido estacionada na garagem exatamente da mesma 
forma como ele a deixou antes de partir para a viagem em que faleceu. A esposa 
conta em uma das sessões que quando sente saudades do marido, vai até o carro 
estacionado na garagem e, ao sentir seu cheiro, sente-se mais confortada por 
encontrar um ‘pedacinho’ dele ali, presente ainda em sua vida. Atualmente E. pensa 
em levar as duas filhas à fazenda, para que todas juntas, e mais calmamente 
possam se desfazer dos pertences do pai/marido que ainda permanecem naquele 
local - algo que não conseguiu fazer em casa e gostaria de dar a si própria uma 
nova chance. E. diz ainda não se sentir preparada para isto, mas sabe que o 
momento vai chegar e que isto é necessário. 
 
VIORST (2005:261) comenta que comenta que o apegar-se à dor muitas 
vezes funciona como um ato de fidelidade ao morto – e ceder ao tempo parece ser 
algo desleal. Para a autora, podemos chamar de ‘mumificação’ este fenômeno de 
sofrimento crônico, que geralmente ocorre quando as pessoas não conseguem 
aceitar e perda, nem se desfazer dos pertences da pessoa que morreu, mantendo 
cada objetoexatamente no seu lugar. A autora comenta ainda que o sofrimento 
também pode ser considerado disfuncional quando está ausente ou ainda é adiado – 
num esforço de evitar a dor da perda. 
 
“(...) E se, ao invés de nos sentirmos arrasados, suportamos 
maravilhosamente, sem lágrimas e continuando a vida como se nada 
tivesse acontecido, só estamos nos enganando, pensando que estamos 
 
 
 
35
‘suportando muito bem’, pois, na verdade, não podemos aceitar o fato” 
(VIORST, 2005:257) 
 
WHITE (1993) a partir de seu trabalho com famílias diagnosticadas como ‘luto 
patológico’, desenvolveu um artigo8 que aborda a “metáfora do olá”, apresentando 
pensamentos que questionam a idéia tradicional de que as pessoas passam por 
fases até a aceitação e conformidade com a perda, dizendo ‘adeus’ aos que se 
foram. Para o autor, criar um contexto para incorporar a relação perdida parece mais 
adequado do que investir todos os esforços para esquecê-la. Esta abordagem 
possui como idéia principal a elaboração de perguntas que façam com que a pessoa 
resgate a sua relação com o morto, alegando que quando uma pessoa morre, o 
relacionamento não morre, mas é encarado como um novo contexto de relação entre 
os que se foram e os que sobreviveram. O autor ressalta ainda que qualquer 
experiência de perda é única, assim como são únicos os passos necessários para 
resolver esta perda. 
 
3.5 Terapia do Luto 
 
Conforme já abordado no início do trabalho, toda e qualquer perda requer que 
a família se reorganize como um todo. Para auxiliar as famílias neste momento, 
como terapeutas, devemos avaliar a família e seus contextos sociais, culturais e 
temporais. 
 
“Embora uma família não possa mudar seu passado, as mudanças do 
presente e no futuro ocorrem em relação a ele. (...) A morte traz desafios 
adaptativos comuns, exigindo uma reorganização imediata e a longo prazo 
e mudanças nas definições de identidade e objetivos da família” (WALSH & 
McGOLDRICK, 1998:33) 
 
De acordo com o Dicionário Aurélio (2004), adaptar significa ajustar, 
acomodar, adequar. Portanto, adaptar não significa resolver, aceitar completamente 
a perda, mas descobrir maneiras de seguir em frente com a vida, não esquecendo 
das perdas e possuindo a capacidade de mantê-las em uma outra perspectiva. 
 
8 O artigo “Saying hullo again: the reincorporation of the lost relationship in the resolution of grief” foi 
publicado em 1988. 
 
 
 
36
WALSH & McGOLDRICK (1998) comentam que seria um equívoco impormos 
estágios fixos e pré-definidos para as famílias organizarem suas perdas, porém as 
mesmas sugerem algumas tarefas adaptativas para a família, que caso não forem 
realizadas, a probabilidade de desenvolverem disfunções no sistema aumenta 
consideravelmente. São elas: 
 
1. O reconhecimento compartilhado da realidade da morte e a experiência 
comum da perda. A morte se torna mais fácil de ser elaborada quando 
todos os membros da família, cada um a seu modo, confrontam a 
realidade da perda, inclusive as crianças. Estas geralmente se 
machucam mais com a ansiedade dos sobreviventes do que com a 
própria exposição à morte. As informações claras e a comunicação 
aberta entre os membros da família facilitam o processo de adaptação e 
o fortalecimento familiar. 
 
2. A reorganização do sistema familiar e o reinvestimento em outras 
relações e projetos de vida. A promoção da flexibilidade e união no 
sistema familiar é essencial para sua reestabilização. As mudanças 
bruscas na rotina de algumas famílias, como, por exemplo, a mudança 
de casa no momento em que algum membro da família morre, podem 
piorar o processo. A paralisação em antigos padrões não mais 
funcionais, como manter os pertences da pessoa intactos, também 
perturba o processo de reorganização da família. Cada nova estação, 
aniversário e momentos importantes do ciclo de vida da família podem 
trazer de volta a perda. 
 
Com algumas famílias com dificuldades de comunicação e elaboração da 
perda, VIORST (2005) sugere ir além dos rituais normais, co-criando rituais 
especiais a fim de conectar a família com o morto, oferecendo não somente um 
fechamento simples, mas possibilitando a família envolver-se novamente com a vida 
e com os que sobreviveram. 
 
A principal questão a ser trabalhada com as famílias que estão vivenciando a 
perda de um membro na família seria a prevenção de sintomas e disfunções 
 
 
 
37
familiares após a morte. Para BOWEN (1998), a forma como a família pode ou não 
reagir a uma perda, e as possibilidades da ocorrência de uma ‘onda de choque 
emocional’ podem ser exploradas pelo terapeuta, avaliando a importância e funções 
da pessoa que morreu no sistema, já que nem todas as mortes possuem a mesma 
importância para uma família. 
 
Para o autor as perdas que mais possuem probabilidade de gerar uma ‘onda 
de choque’ são aquelas onde os pais morrem prematuramente em uma família 
jovem, um filho importante na família, um avô/avó que possui um papel decisivo e 
figura central na estabilidade familiar, entre outros. As chances de ocorrer a ‘onda de 
choque’ geralmente são bem menores quando ocorre a morte já esperada de um 
membro da família, uma morte que vem a ser um “alívio” para o sistema, uma morte 
de um membro disfuncional da família, ou ainda de algum membro que possuía um 
papel mais periférico. 
 
BROWN (1995:408) propõe algumas intervenções terapêuticas úteis para 
lidar com o estresse na fase de elaboração do luto: 
 
° Deve-se considerar a família em seu contexto, facilitando desta forma a 
capacidade do terapeuta compreender o impacto da perda no sistema e 
desenvolver hipóteses acerca da mesma; 
° É importante que o terapeuta utilize terminologias francas e diretas. Para a 
autora, utilizar palavras diretas como ‘morte’ mostra à família que o 
terapeuta é capaz de ficar à vontade de conversar sobre o assunto, 
fazendo com que a família também se sinta; 
° Buscar o estabelecimento de pelo menos um relacionamento franco no 
sistema familiar – ou seja, o terapeuta, ao invés de triangular a relação 
com a família, deve incentivar cada pessoa a falar diretamente com as 
outras sobre a morte, facilitando assim a comunicação no sistema; 
° Respeitar a esperança de vida e de viver de cada família, observando o 
timing de cada um para elaborar sua perda, aceitando o fato de que as 
pessoas avançam e retrocedem algumas etapas até a aceitação da perda; 
 
 
 
38
° Não nos deixar levar pelas emoções no contexto terapêutico. Não 
necessariamente precisamos ‘bloquear’ nossos sentimentos, mas sim 
permanecermos calmos e pensando claramente, sempre conectado com 
os pacientes e suas emoções, ajudando-os a lidarem uns com os outros; 
° Lidar com os sintomas de estresse da família, prestando atenção aos 
sintomas secundários à perda, aparentemente não conectados à ela; 
° E por fim, reconhecer e encorajar as famílias a utilizarem seus próprios 
costumes e rituais no momento da perda, questionando o manejo de 
mortes anteriores, explorando o relacionamento da família com o membro 
que faleceu e ainda aproveitando a oportunidade para conversar sobre a 
própria mortalidade dos sobreviventes. 
 
A terapia do luto pode ser considerada uma grande alavanca, no sentido de 
auxiliar as questões relativas à estagnação da família, que muitas vezes fica 
paralisada e confusa, devido à absorção dos novos papéis a serem desempenhados 
e à tarefa da elaboração do processo do luto. Desta forma, como terapeutas 
devemos focar na reorganização do sistema familiar e no realinhamento das 
relações, assim como incentivar o investimento em outros vínculos e o planejamento 
de projetos de vida para o presente e o futuro. 
 
 
 
 
39
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Verificamos no trabalho apresentado que em qualquer idade e em qualquer 
uma das fases da nossa vida, é difícil perder. Algumas fases e situaçõesimplicam 
em um maior sofrimento do que outras, porém cada uma com suas particularidades. 
As famílias que sofrem algum tipo de perda acabam buscando terapia por vários 
motivos, geralmente relacionados a disfunções e sintomas em algum de seus 
membros. 
 
Com freqüência, estes sintomas relacionam-se com a perda, seja ela por 
morte, divórcio, doença, emprego, entre outras; porém na maioria das vezes, as 
famílias não conectam seus sintomas atuais com as perdas recentes. Já em outros 
casos, algumas famílias já percebem a relação entre seus sintomas antes mesmo de 
buscar apoio externo e abordam isto abertamente no contexto terapêutico. 
 
Sabemos que em todos os pontos de transição no ciclo de vida da família o 
estresse tende a aparecer, e com a morte não é diferente. No decorrer do trabalho 
ficou cada vez mais evidente que as repercussões da perda na família estão 
intrinsecamente relacionadas com o momento do ciclo de vida em que esta se 
encontra. Outros fatores que interferem na elaboração da perda para a família 
podem ser citados, como por exemplo, o tipo da morte, o papel funcional da pessoa 
que morreu, os diversos papéis que o morto desempenhava no sistema, as crenças 
da família a respeito da morte, o estabelecimento ou não de rituais específicos para 
a elaboração da perda, a história de perdas anteriores, entre outros. 
 
No contexto terapêutico, o profissional pode trabalhar tanto individualmente 
com algum membro da família, ou com todos juntos, dependendo da disponibilidade 
e abertura da família para trabalhar suas questões. Devemos permanecer sempre 
atentos ao timing de cada membro da família, pois cada perda é única e seu modo 
de vivenciá-la também. 
 
Devemos ainda incentivar os membros a permanecerem conectados entre si 
e com a família ampliada, buscando em sua rede de apoio os recursos necessários 
 
 
 
40
para lidarem com a perda - rede esta que não se limita à terapia, mas amplia seu 
foco para as amizades, grupos de auto-ajuda, livros, filmes, etc. 
 
A importância da comunicação entre os membros e o compartilhamento de 
sentimentos e emoções são atitudes que devem ser encorajadas a fim de facilitar o 
processo de elaboração e reorganização da família, dando a esta a capacidade de 
seguir em frente com seus planos futuros, pois quanto mais isolados uns dos outros, 
mais sintomas e ansiedade tendem a ser gerados. 
 
Entendemos ainda que se constitui uma tarefa difícil classificarmos quantas 
etapas ou quantos anos são necessários para que as famílias se adaptem às suas 
perdas, mas podemos dizer que uma perda pode ser ‘bem elaborada’ quando a 
família consegue reconhecê-la, reorganiza seus papéis diante dela, cria novos 
padrões de funcionamento e apresenta ainda possibilidades de construir e planejar o 
futuro. 
 
A utilização de uma comunicação clara com a família sobre a morte e a 
capacidade de distinguir nossas próprias emoções da experiência de perda da 
família é essencial para que consigamos permanecer calmos e pensar com clareza e 
imparcialidade sobre as questões apresentadas. Esta tarefa requer muito preparo 
por parte do terapeuta, pois em situações de luto é inevitável deixarmos de pensar 
em nossas próprias perdas e em nossa mortalidade. 
 
Enfim, como cita Judith Viorst (2005), “perder é o preço que pagamos para 
viver”, e devemos tirar proveito desta situação, tanto como pacientes quanto 
terapeutas, para que possamos crescer e transformar nossas relações, 
reorganizando e readaptando-as às circunstâncias que a vida nos traz. 
 
 
 
41
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