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Os verdadeiros impactos da construção civil

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Os verdadeiros impactos da 
construção civil 
 
 
 
 
Redação AECweb 
 
Um dos mais importantes setores da economia, a construção civil é essencial ao 
desenvolvimento no país, sendo responsável por mais de 2,327 milhões de 
empregos diretos e indiretos, de acordo com pesquisa do SindusCon-SP 
(Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) e da FGV 
(Fundação Getulio Vargas). Em contrapartida, o setor se caracteriza como um dos 
que mais consomem recursos naturais, desde a produção dos insumos utilizados 
até a execução da obra e sua operação ao longo de décadas. No Brasil, apropria-
se de 75% do que é extraído do meio ambiente. 
 
RESÍDUOS E CANTEIRO 
 
Apoderando-se dos recursos naturais, o setor é também, entre todas as atividades 
produtivas, o maior gerador de resíduos. Segundo Diana Scillag, diretora do CBCS 
– Conselho Brasileiro de Construção Sustentável -, de tudo o que extrai da 
natureza, apenas entre 20% e 50% das matérias-primas naturais são realmente 
consumidas pela construção civil. Dados revelam que o volume de resíduos 
gerado - entulho de construção e demolição -, chega a ser duas vezes maior que o 
volume de lixo sólido urbano. O economista e mestre em tecnologia ambiental 
Elcio Carelli, da empresa Obra Limpa, afirma que 60% do total de resíduos 
produzidos nas cidades brasileiras têm origem na construção civil. “Em São Paulo, 
estima-se a geração de 17 mil toneladas/dia de resíduos, sendo que 30% vêm da 
construção formal e o restante da informal”, diz ele. 
 
A produção de materiais de construção é, ainda, responsável por poluição que 
ultrapassa limites tolerados em poeira e CO2. O processo produtivo do cimento 
necessariamente gera o gás carbônico, um dos principais causadores do efeito 
estufa. Para cada tonelada de clinquer (componente básico do cimento) produzido, 
mais de 600 kg de CO2 são lançados na atmosfera. Junte-se o sedimento 
ambiental da produção de outras indústrias com o crescimento mundial da 
fabricação de cimento, o resultado é que a participação do insumo no CO2 total 
mais que dobrou no período de 30 anos, entre 1950 e 1980. Outros materiais 
usados em grande escala têm problemas similares. 
 
Scillag afirma que “a reciclagem é prática ideal de transformação para reduzir o 
volume de extração de matérias-primas, através da substituição por resíduos 
reciclados, redução de áreas destinadas a aterros, redução de energia referente 
ao processo de extração, além de possibilitar o surgimento de novos negócios”. 
 
ENERGIA E ÁGUA 
 
“Hoje, aproximadamente 40% da energia mundial são consumidas pelos edifícios”, 
diz Scillag, explicando que o consumo energético nas edificações ocorre em dois 
momentos. Na etapa pré-operacional ou de energia embutida, aquela da extração 
e fabricação de materiais, do transporte até a obra e da construção do edifício. 
“Porém, a etapa em que a edificação mais consome energia é durante sua 
ocupação, em manutenção e demolição”, diz. O consumo de energia é diferente 
dependendo do setor - comercial, público ou residencial. O consumo de energia 
elétrica do setor residencial no Brasil é o mesmo que o consumo somado do setor 
público e comercial. 
 
 
“Essa é uma das maiores oportunidades para construção civil mundial no combate 
as mudanças climáticas. No Brasil, por exemplo, as edificações consomem 
anualmente 44% do total de energia elétrica do País. O caminho para alcançar a 
eficiência energética é o investimento em projetos bioclimáticos com uso, quando 
possível, de energias renováveis”, recomenda. Com o uso racional de recursos é 
possível reduzir entre 30% e 40% o consumo de energia e de água. 
 
De acordo com o comitê temático da água do CBCS, a construção civil é 
responsável por exorbitante parte do consumo de água potável no mundo. Em 
áreas urbanizadas chega a ser de cerca de 50% da água potável fornecida à 
região, podendo chegar a 84% como ocorre na cidade de Vitória (ES), de acordo 
com a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan). O uso adequado de 
fontes alternativas de água em substituição à água potável pode ajudar a reduzir 
esse valor em 30% a 40% colaborando para a mitigação dos impactos causados 
pela construção civil no meio ambiente. 
 
 
Estação de Tratamento de Esgoto utilizada no Rodoanel. 
 
Na contramão do desperdício, são várias as fontes alternativas de água que 
podem ser implementadas. Hoje, o Brasil tem tecnologia para o tratamento e uso 
de água subterrânea, água pluvial e água cinza – e, quando necessário, de 
instalação de ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) no próprio edifício. O uso 
dessas fontes é ação positiva para a preservação ambiental, principalmente em 
edifícios em que a gestão da operação do sistema seja permanentemente 
garantida, de forma a evitar a contaminação do ambiente e preservar a saúde dos 
usuários. 
 
INFORMALIDADE 
 
Um dos pilares da sustentabilidade, a qualidade de vida que inclui a 
dos trabalhadores do setor, é amplamente desrespeitada no Brasil 
pela construção civil, flagrada em elevada escala de informalidade: cerca 40% dos 
R$ 160 bilhões gerados anualmente pela atividade é informal. 
 
 
 
As conseqüências vão desde a perda de arrecadação fiscal até o desperdício de 
materiais, resultando em má qualidade das unidades produzidas e aumento da 
demanda por recursos ambientais para reparar os problemas existentes. Segundo 
Vanderley John, professor-doutor em engenharia civil da Escola Politécnica da 
USP e conselheiro do CBCS, 72% dos trabalhadores estão alocados na 
construção informal, privados dos direitos sociais e apresentando apenas 25% da 
produtividade dos trabalhadores da construção formal, e apenas 44% da 
produtividade média dos trabalhadores brasileiros. 
 
“O maior entrave para a introdução de práticas mais sustentáveis é certamente a 
informalidade. Não existe sustentabilidade sem respeito completo ao contrato 
social vigente. A informalidade reduz dramaticamente o potencial de fazer política 
pública e até de cumprimento dos contratos”, comenta o professor, que recomenda 
aos interessados em selecionar fornecedores que atuam formalmente, uma visita à 
ferramenta ‘Seis Passos’, no site do CBCS (www.cbcs.org.br) 
 
CUSTOS 
 
“O custo de uma construção mais sustentável pode ou não ser maior do que a da 
convencional, dependendo de vários fatores, tais como a localização da obra e o 
nível de sustentabilidade que se pretende”, diz a arquiteta Silvia Manfredi, diretora 
da ANAB Brasil – Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica. Segundo ela, 
a sustentabilidade deve priorizar o desenvolvimento de um bom projeto de 
arquitetura. “É o projeto que definirá as estratégias bioclimáticas, priorizando 
soluções visando a eficiência energética e conforto; o uso de sistemas e 
tecnologias para redução do consumo de água; e, principalmente, a otimização 
dos recursos utilizados na obra. Com isso, pode-se chegar a um custo de 1% a 5% 
maior que o de construções tradicionais - e esse custo vem caindo nos últimos 
anos, no mundo todo. Devemos lembrar que o custo de operação de um edifício 
ao longo de 50 anos chega ser cinco vezes maior do que o custo de construção 
propriamente”, diz ela. 
 
 
 
 
http://www.cbcs.org.br/
Adotando práticas sustentáveis, o Complexo Rochaverá conseguiu a 
certificação LEED, na categoria Gold. 
 
Exemplo recente no país, o complexo Rochaverá, da Tishman Speyer, embarcou 
tecnologias e práticas sustentáveis que renderam às duas primeiras torres, já 
concluídas, a certificação LEED, na categoria Gold. Dos R$ 600 milhões de 
investimento total no complexo Rochaverá, as torres A e B consumiram a metade. 
“Essa obra ficou entre 2% e 3% mais cara na comparação com uma construção 
convencional. Através da economia proporcionada à operação do edifício, o 
payback é de três anos, principalmente se o edifício for locado rapidamente, o que 
ocorreu com os dois primeiros edifícios”, enfatiza LuizHenrique Ceotto, diretor de 
Design & Construction da Tishman Speyer, empresa que concebeu o 
empreendimento. Nem por isso a locação é mais cara. Deveria, segundo Ceotto, 
porque o cliente vai pagar um condomínio muito menor. “O condomínio de um 
edifício como Rochaverá é 30% menor do que o de um prédio convencional”, 
conclui. 
 
Para Silvia Manfredi, um dos caminhos apontados para tornar a obra mais 
sustentável, a industrialização da construção elimina desperdícios na obra; otimiza 
o uso dos materiais; aumenta a produtividade e tende reduzir a informalidade da 
mão-de-obra. “Porém, dependendo dos materiais utilizados, nem sempre a 
industrialização significa um ganho em termos biológicos, ou seja, na saúde de 
seus usuários. É o caso dos vários materiais que utilizam compostos orgânicos 
voláteis (COVs) – composição de milhares de elementos químicos, como o 
formaldeído e benzeno -, presentes na fabricação de nylon, tintas, carpetes, colas 
e solventes”, alerta a arquiteta. 
 
Redação AECweb 
https://www.aecweb.com.br/cont/n/os-verdadeiros-impactos-da-construcao-civil_2206 
acesso aos 28/05/18. 
https://www.aecweb.com.br/cont/n/os-verdadeiros-impactos-da-construcao-civil_2206

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