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UNIVERSIDADE ESTACIO Graduação em Psicologia TEORIA E SISTEMAS PSICOLÓGICOS II: PSICANÁLISE Marcelo de Almeida Martins RESENHA CRÍTICA SOBRE A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA: CONVERSAÇÕES COM UMA PESSOA IMPARCIAL (1926) Prof.º Ms. Claudio Fernando Adolph Rio de Janeiro 2020 RESENHA CRÍTICA SOBRE A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA: CONVERSAÇÕES COM UMA PESSOA IMPARCIAL (1926) 1. CREDENCIAIS DO AUTOR Freud, S. (1926) A questão da análise leiga. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. XX. Rio de Janeiro: Imago Editora; 1976. pp. 203-93. 2. INTRODUÇÃO O título deste pequeno trabalho não é de pronto inteligível e a questão é se os não-médicos bem como os médicos devem ter permissão para praticar a análise. Na realidade, as pessoas se pesaram pouquíssimo com isto – a única coisa com o qual estavam concordando era o desejo de que ninguém se desvia praticá-la. Assim, a exigência de que apenas médicos devem analisar corresponder a uma atitude nova e aparentemente mais amistosa em relação à análise – se, isto é, ela pode escapar à desconfiança de ser, afinal de contas, apenas um derivado ligeiramente modificado da atitude mais antiga. O autor afirma que o motivo dessa restrição torna-se assim um assunto de indagação. A questão está limitada no espaço porque não surge em todos os países com igual significado. Na Alemanha e nos Estados Unidos não passa de uma discussão acadêmica, pois os países qualquer paciente podem submeter-se ao tratamento e por quem ele escolher, e qualquer um que ele escolha pode, como um 'charlatão', lidar com quaisquer pacientes, contanto que ele assuma a responsabilidade de suas ações. Mas na Áustria, na qual e para o qual escrevo, existe uma lei preventiva, que proíbe aos não-médicos empreenderem o tratamento de pacientes, sem aguardar o seu resultado. Depreende-se que não se permite aos leigos praticar a análise em neuróticos, sendo puníveis se não adormece agir dessa maneira. Ainda assim, há certas complicações, com as quais a lei não se preocupa, mas que não obstante exigem consideração. Talvez venha a acontecer que nesse caso os pacientes não sejam como outros, que os leigos não sejam realmente leigos, e que os médicos não tenham exatamente as mesmas qualidades que se o direito de esperar deles e nas quais suas suas alegações alegam basear-se. Se isso puder ser provado, haverá fundamentos justificáveis para exigir que a lei não seja aplicada sem modificação ao caso diante nós. 3. INTERPRETAÇÃO DA NARRATIVA CAPÍTULO I Ao consideramos a Freudiana de I a V, encontramos as seguintes ponderações: Isto vai acontecer dependerá das pessoas que não são obrigadas a estar desconformadas com as peculiaridades de um tratamento analítico, ele correria o perigo de não o que se estava passando entre o analista e o paciente, ou ficou enfadado. Por bem ou por mal, portanto, ele deve contentar-se com nossas informações, que tenta tornar tão dignas de confiança quanto possível. Um paciente, então, pode estar sofrendo de flutuações em seus estados de ânimo que ele pode controlar, ou de um sentimento de desvenda pelo qual sua energia se sente paralisada porque pensa incapaz de fazer algo adequado, ou de um constrangimento entre estranhos. Ele pode ter um dia ter sofrido um ataque aflitivo, desconhecido em sua origem de sentimentos de ansiedade, e desde então tornou-se incapaz, sem luta, de caminhar sozinho pela rua, ou de viajar de trem; Mas seu estado se torna intolerável se súbito verificar ser incapaz de desviar a ideia de que empurrou uma criança para debaixo das rodas de um carro ou de que lançou um estranho da ponte dentro d'água, ou se tem de perguntar a si mesmo não é o assassino que a polícia está à procura em relação a um crime que foi descoberto naquele dia. jamais cometeu dano algum contra alguém, mas se fosse realmente o assassino que está sendo procurado, seu sentimento de culpa não poderia ser mais forte. Ou nosso ainda paciente, teríamos há considera-lo como mulher – pode sofrer de outra forma e em campo diferente. Eventualmente, os pacientes vêm a saber que há pessoas interessadas de modo bem especial no tratamento de tais machos e iniciam com elas uma análise. Durante essa indagação sobre os sintomas dos neuróticos, a Pessoa Imparcial, que imagino estar presente, vem mostrando sinais de impaciência. Nesse ponto, contudo, ela se torna atenta e interessada. 'Então agora', diz ela 'sabe o que o analista faz com o paciente a quem o médico foi incapaz de ajudar'. Nada acontece entre eles, salvo que conversam entre si. O analista concorda em fixar um horário com o paciente, faz com que ele fale, ouve o que ele diz, por sua vez conversa com ele e faz com que ele ouça. Como feições da Pessoa Imparcial agora sinais de alívio e relaxamento inegáveis, mas também traem claramente certo desprezo. Palavras, palavras, palavras, como diz o príncipe Hamlet.' E sem dúvida ela também está pensando na fala zombeteira de Mefistófeles sobre com que conforto se pode ir passar com palavras – versos que nenhum alemão jamais esquecerá. O autor ressalta que 'Assim é uma espécie de mágica', comenta ela: 'O senhor fala e dissipa seus machos.' É mesmo. Convidá-lo a ser inteiramente sincero com o seu analista, nada refrear mente fic que lhe venha à cabeça, e por tanto pôr de lado toda reserva que o pode impedir de informar sobre certos pensamentos ou lembranças. Cada um está cônscio de que existem certas coisas em si que não estaria absolutamente disposto a contar as outras pessoas ou que considera inteiramente para a de cogitação revelar. Essa pessoa também não tem qualquer ideia – e esta representa um grande progresso no autoconhecimento psicológico – de que há outras coisas que alguém não se importa de admitir para ficar: coisas que alguém gosta de ocultar de si próprio e que por esse motivo interrompe e expulso de seus pensamentos se, a de tudo, vierem à tona. Se agora ela aceita a exigência feita pela análise de que dirá tudo, facilmente se tornou acessível a uma expectativa de que ter relações e trocas de pensamento com alguém sob condições inusitadas talvez também possa levar os resultados inusitados. 'Compreendo', diz nossa Pessoa Imparcial. Mas posso muito bem acreditar que como analista o senhor consegue uma influência mais acentuada sobre seus pacientes do que um padre confessor sobre seus penitentes, visto que os contatos do senhor com ele são muito mais longos, mais intensos e também mais individuais, e visto que o senhor emprega essa maior influência para desviá-lo de seus pensamentos doentios, para que, pela conversa, ele se livre de seus temores, e assim por diante. Há sinais inegáveis de que ela está tentando compreender a psicanálise com a ajuda de seu conhecimento anterior, de que está tentando ligá-la com algo que já conhece. Encontrar-se agora diante de nós a difícil tarefa de tornar-lhe claro que ela não será bem-sucedida nisto: que a análise é um procedimento sui generis, algo novo e especial, que só pode ser compreendida com o auxílio de novas compreensões internas (insights) – ou hipóteses, se este soar melhor. Se um paciente nosso está sofrendo de um sentimento de culpa, como se ele houvesse perpetrado um crime grave, não recomendamos que ele despreze seus escrúpulos de consciência e não frise sua inocência reconhecida; O que faz é recordar-lhe que um sentimento tão forte e persistente deve, afinal de contas, estar baseado em algo real, que talvez possa ser possível descobrir. CAPÍTULO II O mais utilizado, modo pelo qual descobriu que era um fenômeno psíquico, e desta forma enaltece sua narrativa como a seguir. Se devo dizer algo de inteligível ao leitor, sem dúvida terei de dizer-lhe alguma coisa sobre uma teoria psicológica que não éconhecida ou que não é apreciada para a dos círculos analíticos. Se quiser ainda ter em mente que a nossa ciência é muito jovem, não chegando quase a ser tão velha quanto o século, e que ela se interessa que seja talvez o material mais difícil que possa ser o assunto de pesquisa humana, facilmente será capaz de adotar a atitude correta na tocante à minha exposição. 'Naturalmente', retrucou ela, 'ora, afinal de contas, eu própria já fui bebê.' 'E o senhor alega que descobriu esse "fundamento comum" da vida mental, que foi desprezado por todo psicólogo, a partir de observações de pessoas doentes? A fonte dos nossos achados não me parece privá-los do seu valor. E, afinal de contas, todos tem a experiência, à noite, de nossos pensamentos seguem o seu próprio curso e criarem coisas que não compreendem, que nos intrigam e que são suspeitamente rememorativas de produtos patológicos. Mas é justo dizer que uma psicologia que não pode explicar os sonhos é também inútil para a compreensão da vida mental normal, e que ela não pode reivindicar a denominação de ciência. 'O senhor está-se tornando agressivo; E ao pensar em todo o mal que alguns analistas têm causado com a interpretação de sonhos, quase perco a coragem e repito o pronunciamento pessimista do nosso grande satirista Nestroy, quando estes diz que cada grande passo à frente é apenas a metade do que parece ser de início. Deixa inteiraremosmente de lado a linha material de abordagem, mas não a espacial, pois imaginamos o aparelho desconhecido que serve às atividades da mente como sendo realmente um instrumento de várias partes (que denominamos de 'instâncias'), cada um dos que tem uma função particular e tem uma relação espacial fixa umas com asoutras: ficando com relação espacial – 'em frente de' e 'atrás', 'superficial' e 'profundo' – simplesmente ao dizer em primeiro lugar uma representação da O que leva um proceder assim? Sua pergunta indica-me o caminho certo a trilhar, pois a coisa importante e valiosa é saber que o ego e o id diferem grandemente um dos outros em vários aspectos. Não nos surpreendemos então que algumas coisas na frente foram diferentes do que estavam atrás das linhas, e que muitas coisas que estavam permitidas atrás das linhas tinham de ser proibidas na frente. A psicologia barrara seu próprio acesso à região do id, insistindo num postulado que é bastante plausível mas porsus: a saber, que todos os atos mentais são conscientes para nós – que ser consciente é o critério do que é normal, e que, se há processos em nosso cérebro que não são conscientes, não merecem ser chamados de atos mentais e não são de interesse para a psicologia. "Mas eu desvio ter pensado que esta era óbvia." Sim, e isso é que os psicólogos pensam. O senhor não pode dessa maneira chegar ao fato de que em sua pessoa pode ocorrer atos de natureza mental, e amiúde muito complicados, dos quais sua consciência sabe nada e o senhor também não. O verdadeiro é que tudo que acontece no id é e permanece inconsciente, e que os processos no id, e somente eles, pode tornar-se conscientes. Qual é o ponto principal, então, de todos esses exames de teorias ousados e obscuras que o senhor não pode convencer que são justificadas?' Sei que não pode convencê-lo. Estou formulando nossas teorias perante o senhor visto que essa é a melhor forma de tornar-lhe claro qual o âmbito de ideias abrangido pela análise, com base em quais hipóteses ela aborda um paciente e o que faz com ele. CAPÍTULO III Assim S. Freud nos narra as variações do id e do ego. Até onde ele domestica os impulsos do id dessa forma, ele substitui o princípio de prazer, que anteriormente era o único decisivo, pelo que se conhece como o 'princípio de realidade', que, embora persiga os mesmos objetos finais, leva em conta as condições impostas pelo mundo externo real. decisões quanto a quando é mais controlado conveniente as paixões e curvar-se diante da realidade, e quando é mais apropriado ficar ao seu lado e lutar contra o mundo externo – decisões com toda a essência da sabedoria mundial. 'E o id atura ser dominado assim pelo ego, apesar de ser, se é que eu o compreendo bem, a parte mais forte?' Sim, tudo correrá bem se o ego está de posse de toda a sua organização e eficiência, se tiver acesso a todas as partes do id e puder exercer sua influência sobre elas, pois não existe qualquer oposição natural entre o ego e o id; Essa reação à percepção do perigo introduz agora uma tentativa de fuga, que pode ter o efeito de poupar a vida até que se tenha tornado bastante forte para fazer face aos perigos do mundo externo de maneira mais ativa – mesmo agressivamente, talvez. "Tudo isso está muito longe do que o senhor prometeu me relatar." O senhor não tem ideia alguma de como eu estou perto de cumprir minha promessa. De imediato a natureza de uma perturbação neurótica se torna clara para nós: por um lado, um ego que é inibido em sua síntese, que não tem alguma influência sobre partes do id, que deve renunciar a algumas de suas atividades a fim de evitar novo choque com o que foi reprimido, e que se exaure no que, na maior parte, são atos vão de defesa contra sintomas, os derivados dos impulsos reprimidos; Uma neurose é assim o resultado de um conflito entre o ego e o id, no qual o ego se envolveu porque, como revelar uma investigação cuidadosa, ele deseja todo o custo reter sua adaptabilidade em relação com o mundo externo real. Mas observe que o que cria o determinante da doença não é o fato desse conflito – pois discordâncias dessa natureza entre a realidade e o id são inevitáveis, sendo uma das principais tarefas do ego servir de mediador nelas -, mas a circunstância do ego haver feito uso do instrumento ineficiente depressão lidar com o conflito. O senhor expôs a relação entre o mundo externo, o ego e o id, e formulou como sendo determinante de uma neurose que o ego em sua dependência do mundo externo luta contra o id. CAPÍTULO IV Para Freud, era possível, então, que tão coisas importantes não desempenhem absolutamente qualquer papel dessas perturbações profundas?" Então o senhor julga que uma consideração tanto do que é mais baixo quanto do que é mais alto ter faltado às nossas apreciações até este momento? Como se poderia sonhar em permitir tais perigosas liberdades a pessoa de cujo caráter não tinha qualquer garantia?' É verdade que os médicos desfrutam de certos privilégios esfera na esfera do sexo: é-lhes mesmo permitido examinar os órgãos genitais das pessoas – embora não seja permitido no Oriente e embora alguns reformadores idealistas (o senhor sabe quem eu tenho em mente) ter disputado esse privilégio. Ele não diz antecipadamente: 'Estaremos lidando com as intimidades de sua vida sexual!' Ele permite que começar o que tem a dizer onde lhe aprouver, e tranquilamente aguardando até que o próprio paciente aborde fatos sexuais. Ter o cuidado de não introduzi-lo em nossas análises e de estragar nossa oportunidade de encontrar tal caso.' Mas até agora nenhum de nós teve essa boa sorte. Estou cônscio, naturalmente, de que nosso reconhecimento da sexualidade se tornou – quer confessadamente, quer não – o motivo mais forte da hostilidade de outras pessoas em relação à análise. Por exemplo, o senhor sem dúvida fica surpreendido em saber como amiúde meninos de pouca idade tem medo de ser devorado pelo pai. (E talvez também se surpreenda por eu incluir esse medo entre os fenômenos da vida sexual.) Mas gostaria de lembrar-lhe o conto mitológico, do qual é possível que ainda se recorde dos seus dias de escola, de como o deus Cronos engoliu os filhos. Hoje também o podemos registrar grande número de contos de fadas nos que aparecem algum animal voraz como um lobo, e o reconheceremos como um disfarce do pai. Esta é a oportunidade de assegurar-lhe que foi somente através do conhecimento da sexualidade infantilque se tornou compreender possível a mitologia e o mundo dos contos de fadas. CAPÍTULO V Como narrativa o autor, assegura a fala como sendo legitima para afirmar sua teoria, como conta-se a seguir - O senhor deseja demonstrar-me que espécie de conhecimento se necessário faz o fim de praticar a análise, de modo que eu poderia ser capaz de julgar se apenas os médicos devem ter o direito de praticá-la. Infiro do que ele me diz a espécie de impressões, experiências e desejos queu porque se defrontou com eles numa época em que seu ego ainda estava fraco e tinha medo deles em vez de enfrentá- los. O senhor tem de resolver contemplar o material que ele lhe entrega em obediência à regra de uma maneira bem especial: como se fosse minério, talvez, do qual seu teor de metal precioso tem de ser extraído por um processo específico. Aqui devemos ter um primeiro motivo do prolongado caráter do tratamento. "Mas como se trabalha com essa matéria-prima - para manter seu símile?" Presumindo-se que as observações e associações do paciente são apenas distorções do que se procura – alusões, por assim dizer, dos quais tem de adivinhar o que se acha oculto detrás delas. “’Interpretar!” Que palavra sórdida! Não gosto do seu som; ele me rouba toda a certeza. Se tudo depender de minha interpretação, quem pode garantir que eu interpreto certo? Assim, afinal de contas, tudo é deixado ao meu capricho?’ Nesses institutos os próprios candidatos são submetidos à análise, recebem instrução teórica mediante conferências sobre todos os assuntos que são importantes para eles, e desfrutam da supervisão de analistas mais velhos e mais experimentados quando lhes estão permitidos fazer suas primeiras experiências com casos relativos brandos. O que ainda precisa ser adquirido pela prática e por uma troca de ideias nas sociedades psicanalíticas nos que membros jovens e velhos se reúnem. Mas qualquer um que tenha sido analisado, que tenha dominado o que pode ser ensinado em nossos dias sobre a psicologia do inconsciente, que está familiarizado com a ciência da vida sexual, que tenha aprendido a delicada técnica da psicanálise, a arte da interpretação, de combate resistências e de lidar com a transferência – qualquer um que tenha realizado tudo isso não é mais um leigo no campo da psicanálise. Ele é capaz de empreender o tratamento de perturbações neuróticas e ainda pode com o tempo alcançar nesse campo o que quer exigir dessa forma de terapia. CAPÍTULO VI Mai uma vez, o autor, tentar argumentar os fundamentos de sua teoria. 'O senhor despendeu grande dose de esforço ao mostrar-me o que é a psicanálise e que espécie de conhecimento se faz necessário o fim de praticá-la com certa perspectiva de êxito. Constituir regra em outros casos, bem como para um médico que tenha escolhido um ramo especial da medicina, não se satisfazer com a educação que é confirmada pelo seu diploma: particularmente se ele pretende fixar-se na cidade razoavelmente grande, uma cidade que, apenas ela, pode oferecer um meio de vida a especialistas. Qualquer um que deseje ser cirurgião tenta trabalhar por alguns anos na clínica cirúrgica, e de forma semelhante o mesmo se verifica com oculistas, laringologistas, e assim por diante – para não dizer nada de psiquiatras, que talvez seja jamais capazes de afastar-se de uma instituição ou um sanatório do Estado. E o mesmo acontecerá no caso de psicanalistas: qualquer um que se resolva em favor desse novo ramo especializado da medicina, quando concluído seus estudos, fazem os dois anos de especialização que o senhor mencionou no instituto de formação, se realmente exigir este tanto tempo. De acordo com a lei, charlatão é qualquer um que trata pacientes sem possuir um diploma oficial que prove que ele é médico. Eles com grande frequência praticam o tratamento analítico sem o ter aprendido e sem compreendê-lo. De nada vale o senhor argumentar que isso é e que não pode acreditar que os médicos são capazes disso; que afinal de contas um médico sabe que um diploma de médico não é uma carta de corso e que um paciente não é um para a-da-lei; e que se deve sempre admitir que um médico está agindo de boa fé mesmo que talvez esteja trabalhando em erro. A psiquiatria tem razão de agir dessa forma e a educação médica é claramente excelente. Se for descrita como unilateral, deve-se primeiro descobrir o ponto de vista a partir do qual está transformando essa característica numa censura. Tem de ser assim, visto que ela se restringe a assuntos, pontos de vista e métodos específicos, assim ela não pode ocupar seu lugar mas, por outro lado, não pode ser substituída por ela. A comparação que o senhor apresentou para tranquilizar-me, entre a especialização na análise e em outros ramos da medicina, não é, então, aplicável. O jovem médico, que teve de confiar tanto em seus mestres que quase teve de educar seu julgamento, prazerosamente aproveita o momento propício para desempenhar o papel de crítico por exceção no campo no qual ainda não há qualquer autoridade reconhecida. A honestidade obriga-me a admitir que a atividade de um analista não formado causa menos mal aos seus pacientes do que a de um cirurgião inábil. Mas pode compreender que dar ênfase à nossa lei sobre charlatanismo não leva em direção à abordagem das condições na Alemanha a que tanto se visa hoje, e que a aplicação dessa lei ao caso da psicanálise traz em algo de anacrônico, visto que na época de sua promulgação ainda não havia essa coisa que se chama análise e que a natureza peculiar das doenças neuróticas ainda não era reconhecida. CAPÍTULO VII Por fim Freud constata que o paciente está em sofrimento, e narra - quando se submete à análise um paciente que sofre do que se descreve como perturbações nervosas, deseja-se de antemão estar certo – até agora, naturalmente, conforme a certeza pode ser alcançada – de que ele se presta a essa espécie de tratamento, de que se pode ajudar-lo por esse método. No fato de que o ego, a organização superior do aparelho mental (elevada através da influência do mundo externo), não é capaz de cumprir com sua função de mediador entre o id e a realidade, de que na sua debilidade ela recua de certas partes instituais do id e, a fim de compensar isto, tem de aturar as consequências de sua renúncia sob a forma de restrições, sintomas e formações reativas Uma debilidade do ego dessa espécie é encontrada em todos nós na infância e é por que as experiências dos primeiros anos da infância são de importância tão grande para a vida ulterior. Sob o fardo extraordinário desse período da infância – temos em poucos anos de abarcar a enorme distância de desenvolvimento entre os homens primitivos da idade da pedra e os participantes da civilização contemporânea, e, ao mesmo tempo e em particular, temos de desviar os impulsos instituais do período sexual inicial, sob esse fardo, portanto, nosso ego procura refúgio na repressão e fica exposto a uma neurose da infância, cujo precipitado ele carrega consigo até a maturidade como uma disposição a uma doença nervosa ulterior. Há uma regra técnica de que um analista, se surgirem sintomas dúbios como esse durante o tratamento, não o submeterá ao seu próprio julgamento mas o encaminhará a um médico que está ligado à análise – um consultor médico, talvez -, mesmo se o próprio analista para médico e até mesmo bem versado em seus conhecimentos médicos. "E por que se deve elaborar uma regra que me parece tão desnecessária?" Não é desnecessário; O senhor de ter concordado que esses interesses são de três espécies: os dos pacientes, os dos médicos e – último em ordem mas não em importância – o da ciência, que realmente abrange os interesses de todos os futuros pacientes. Vamos examinar esses três pontos juntos? Para o paciente, portanto, é uma questão de indiferença se o analista para um médico ou não, contantoapenas que o perigo de sua condição ser mal compreendida fique excluído pelo relatório médico necessário antes do início do tratamento e em algumas ocasiões possíveis durante o curso do mesmo. Poder-se-ia pensar que a autoridade de um analista seria prejudicada se o paciente soubesse que ele não é médico e que não pode, em certas situações, passar sem o apoio de um médico. Naturalmente jamais deixamos de informar os pacientes sobre a qualificação de seu analista, e temos sido capazes de nos convencer de que os preconceitos profissionais não encontram eco- neles, estando prontos para aceitar uma cura de qualquer direção do qual provenha – o que, incidentalmente, a profissão médica há muito descobriu, para sua profunda mortificação. A análise, ao qual todos os candidatos no instituto de formação analítica tem de submeter-se, é ao mesmo tempo o melhor meio de formar uma opinião sobre sua aptidão pessoal para o desempenho de sua exigente profissão. 4. CONCLUSÃO E APRECIAÇÃO CRITICA DO RESENHISTA Na modernidade, diversos conceitos são compreendidos no que tange a inteligência e seu equilíbrio mental. PÓS-ESCRITO (1927) Logo depois de ter escrito o pequeno volume que constituiu o ponto de partida da apreciação presente, houve uma acusação de charlatanismo apresentada contra um membro não-médico de nossa Sociedade, o Dr. Theodor Reik, nos tribunais de Viena. Eu sabia que não tinha conseguido convertê-lo aos meus pontos de vista, e foi por isso que fez com que meu diálogo com a Pessoa Imparcial terminasse também sem acordo. Nem esperei que conseguiu êxito na obtenção de unanimidade da atitude dos próprios analistas em relação ao problema da análise leiga. Penso que muitos dos meus colegas modificaram seu extremo parti pris e que a maioria aceitou minha opinião de que o problema da análise leiga não deve ser solucionado nos mesmos moldes do uso tradicional, mas que decorre de uma nova situação e, portanto, exige novo julgamento. Além disso, a forma que dei a todo o exame parece que contorno com aprovação. E embora eu não aceite essa implicação, ainda sinto certas dúvidas quanto o presente cortejar da psicanálise pelos médicos está baseado, ponto de vista da teoria da libido, na primeira ou na segunda subfases de Abraão – se desejam tomar posse de seu objeto com a finalidade de destrui-lo ou de preservá-lo. Gostaria de considerar o histórico argumento por mais um momento. Por motivos que podem facilmente ser compreendidos, os seres humanos neuróticos oferecem material muito mais instrutivo e acessível do que os normais, e sonegar esse material a qualquer um que deseje estudar e aplicar a análise é privá-lo de boa metade das suas possibilidades de formação. Não tenho, naturalmente, intenção alguma de pedir que os interesses de pacientes neuróticos sejam sacrificados aqueles de instrução e de pesquisa científica. Em que ponto de nossa análise tinha ocasião de uso dos meus conhecimentos médicos?' Ele admitiu que eu não tivera tal ocasião. Além disso, não atribuo grande importância ao argumento de que um analista leigo, porque ele deve estar preparado para consultar um médico, não ter autoridade aos olhos de seus pacientes e não ser tratado com mais respeito do que pessoas tais como endireitas* ou massagistas. Mais uma vez, a analogia é imperfeita – bem independente do fato de que o que rege os pacientes no reconhecimento, por parte destes, da autoridade é, em geral, a transferência emocional deles e que a posse de um diploma médico não a impressão tanto como os médicos acreditam. Temos o direito de exigir, contudo, que elas não devem confundir sua educação preliminar com uma formação completa, que elas devem superar a unilateralidade que está estimulada pela instrução nas escolas de medicina e que deve resistir à tentação de flertar com a endocrinologia e o sistema nervoso autônomo, quando aquilo de que se precisa ser de uma percepção de fatos psicológicos com a ajuda de uma estrutura de conceitos psicológicos. Também partilho do ponto de vista de que todos aqueles que se relacionam com a ligação entre os fenômenos psíquicos e seus fundamentos orgânicos, anatômicos e químicos podem ser abordados apenas por aqueles que têm ambos estudado, isto é, analista por médicos. Na conclusão desta narrativa S. Freud no campo da psicanálise desenvolveu, mesmo que ainda estabelecendo uma contribuição capaz de promover uma ação dialógica mediada e de autoconhecimento, buscou mudanças necessárias aos aspectos do equilíbrio emocional do paciente, tanto quanto, no saber e no fazer de suas intervenções. A conciliação destes conflitos e suas identidades promoveram as concepções da psique humana. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREUD, Sigmund. A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA: conversações com uma pessoa imparcial (1926). Rio de Janeiro: Imago, 1926. 177 p. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de SigmundFreud). Tradução. Disponível em: http://conexoesclinicas.com.br/wp- content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-20-1925- 1926.pdf. Acesso em: 23 nov. 2020.
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