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althusser e aranha

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TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO
AURORA MARIA GUILHERME
CAMILA FERNANDES DA SILVA
ISABELLA CASTILHO NUNES
SAMARA MARTINS OLIVEIRA
ANÁLISE DE DISCURSO
ALTHUSSER | ARANHA
SANTOS
2019
TEORIA DE ARANHA E ALTHUSSER
Os Aparelhos Ideológicos do estado são classificados em repressivos e ideológicos. Os Aparelhos do Estado (AE) repressivos como, por exemplo, a polícia e o exército funcionam pela violência (repressão), já os AEs ideológicos como as escolas e as igrejas funcionam pela ideologia, nenhum aparelho de estado é puramente repressivo ou ideológico, secundariamente os AEs repressivos funcionam pela ideologia e vice-versa. As seguintes instituições são consideradas aparelhos ideológicos de estado (AIE):
· AIE religioso (o sistema das diferentes igrejas);
· AIE escolar (o sistema das diferentes escolas públicas e privadas);
· AIE familiar;
· AIE jurídico;
· AIE político (o sistema político dos diferentes partidos);
· AIE sindical;
· AIE de informação (a imprensa, o rádio, a televisão, etc.);
· AIE cultural (Letras, Belas Artes, esportes, etc.).
Essas instituições ideológicas são criadas pela classe dominante a qual cria meios, mecanismos, para manter e reproduzir as condições materiais e ideológicas burguesas de exploração.
CORPUS
2015 foi um ano triste politicamente. Um ano arraigado por ódio, desilusão, confusão, autoritarismo. Foi um ano de total desgoverno em todos os patamares, como todos já sabem. Um ano de ocupações escolares por parte de estudantes, pais e professores nas escolas do Estado de São Paulo contra uma reorganização proposta pelo governo do estado.
Nas décadas de 60 e 70, vários artistas se empenhavam e batiam de frente contra uma política ditatorial instaurada no país. Logo depois, na década de 80 ainda havia uma certa politização na música, mas nas décadas seguintes isso foi perdendo força.
A arte (especialmente a música) é um dos meios mais impactantes para reivindicar, lutar e resistir contra algo fora de um sistema.
Dani Black, filho dos músicos Arnaldo Black e Tetê Espíndola, esteve presente nas ocupações escolares de São Paulo e compôs brava e ironicamente a canção O trono do estudar. 
Ninguém tira o trono do estudar
Ninguém é o dono do que a vida dá
E nem me colocando numa jaula porque sala de aula essa jaula vai virar
A vida deu os muitos anos da estrutura
Do humano à procura do que Deus não respondeu
Deu a história, a ciência, arquitetura, deu a arte, deu a cura e a cultura pra quem leu
Depois de tudo até chegar neste momento me negar conhecimento é me negar o que é meu
Não venha agora fazer furo em meu futuro
Me trancar num quarto escuro e fingir que me esqueceu
Vocês vão ter que acostumar
Ninguém tira o trono do estudar
Ninguém é o dono do que a vida dá
E nem me colocando numa jaula porque sala de aula essa jaula vai virar
E tem que honrar e se orgulhar do trono mesmo e perder o sono mesmo pra lutar pelo o que é seu
Que neste trono todo ser humano é rei, seja preto, branco, gay, rico, pobre, santo, ateu
Pra ter escolha, tem que ter escola, ninguém quer esmola, e isso ninguém pode negar
Nem a lei, nem estado, nem turista, nem palácio, nem artista, nem polícia militar
Vocês vão ter que engolir e se entregar
Ninguém tira o trono do estudar
ANÁLISE
De acordo com Aranha (1989), a educação não é uma simples transmissão da herança dos antepassados, mas um processo que torna possível a criação do novo e o rompimento com o velho. O ato pedagógico pode ser definido como uma atividade sistemática de interação entre seres sociais, tanto no intrapessoal como no interpessoal. Essa interação consiste em agir sobre sujeitos ou grupos de sujeitos com o objetivo de causar neles mudanças eficazes o suficiente para que eles se tornem os próprios autores da ação. A educação não pode ser compreendida fora de um contexto histórico-social concreto, sendo a prática social o ponto de partida e o ponto de chegada da ação pedagógica.
É excluído, considerado inculto aquele que não participa do saber da elite. Porém, se o homem se define na medida em que é capaz de produzir cultura, não existe homem inculto. Acontece que, nas sociedades em que predominam relações de dominação, as pessoas do povo são impedidas de elaborar criticamente a sua própria produção cultural.
O AIE escolar pode ser público ou privado e também é um aparelho que age pela ideologia e secundariamente pela repressão tentando igualar o direito a educação a todos, porém não teve êxito como desejavam.
Outra questão é a divisão da sociedade em burguesia e proletariado, a escola como educadora e formadora de seres sociais formais e intelectuais tenta impedir o desenvolvimento da ideologia do proletariado através da qualificação do trabalho intelectual e a desqualificação do trabalho manual.
A escola com suas práticas pedagógicas já instituídas pelo governo são submetidas a cumpri-las de acordo com os métodos propostos, por esse motivo alguns profissionais da educação que não sabem aplicar as regras corretamente acabam prejudicando alunos que por algum motivo não tiveram desenvolvimento significativo e desistem da escola tornando-se marginalizados porque não foram formados cidadãos intelectuais formais pela escola.
A educação é, portanto, fundamental para a socialização do homem e sua humanização. Trata-se de um processo que dura a vida toda e não se restringe à mera continuidade da tradição, pois supõe a possibilidade de rupturas, pelas quais a cultura se renova e o homem faz a história. Se o homem não tem oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, torna-se incapaz, não só de compreender o mundo que o cerca, mas também de agir sobre ele.
No contexto da composição de Dani Black, estudantes e professores do Estado de São Paulo ocupavam escolas em protesto às decisões do governo. Além do AIE escolar, a música retrata o AE repressivo em um momento marcado por opressão por parte da polícia e resistência dos protestantes.
Por se tratar de uma resposta às ações do governo, é possível ver na letra da música, mensagens diretas aos governantes:
“Depois de tudo até chegar nesse momento, me negar conhecimento é me negar o que é meu. / Não venha agora fazer furo em meu futuro
/ Me trancar num quarto escuro e fingir que me esqueceu.” 
Além disso, em um trecho da canção, Dani Black consegue citar cinco dos oito AIEs: (político, jurídico, de informação, cultural e escolar)
“Pra ter escolha, tem que ter escola, ninguém quer esmola, e isso ninguém pode negar / Nem a lei, nem estado, nem turista, nem palácio, nem artista, nem polícia militar.”
Assim, a canção nos mostra a importância de se discutir dentro das salas de aula sobre o mundo e seus problemas; sejam eles, ambientais, sociais, econômicos. Essas discussões, longe de ser uma fuga da disciplina, são meios para formar cidadãos que sejam críticos, conscientes de si e do mundo em que vivem.
QUESTÕES
1) Formações discursivas: tipo de discurso, principais lexias que devem aparecer. Pertencem à mesma família discursiva ou há discrepância?
O discurso é político por se tratar de uma canção de oposição contra a reorganização das escolas proposta pelo governo do Estado de São Paulo, trazendo, também, denúncias e críticas a um contexto social que mostram a intenção do autor através de seus versos e palavras escolhidas. Charaudeau (2015) sustenta que o discurso político, que é um gênero discursivo, comporta em si subgêneros, ou espécies mesmo de discursos, como o discurso de direita, o de esquerda, o fascista, o totalitário, o democrático, o extremista etc. Pertence à mesma família discursiva e não há discrepância.
2) Analise verbos, substantivos, pronomes e o que indicam.
A maior parte dos verbos aparecem no infinitivo pois indicam uma ação a ser executada. Exemplo: “E tem que honrar e se orgulhar do trono mesmo / E perder o sono mesmo pra lutar pelo que é seu. [...]”
Os substantivos que podem ser destacados estão todos relacionados à aquisição de conhecimento, uma vez que a música se trata de educação. Exemplo: “Deu a história, a ciência, arquitetura / Deu a arte, deu a curae a cultura pra quem leu. [...] ”
Por ser um discurso político, o enunciador faz referências a ele mesmo e, nesse caso, desafia o receptor a respondê-lo. Exemplo: “Não venha agora fazer furo em meu futuro / Me trancar num quarto escuro e fingir que me esqueceu / Vocês vão ter que acostumar | Vocês vão ter que engolir e se entregar [...]”
3) Há rupturas semânticas?
Não, a música mantém o mesmo tom de apoio aos estudantes e protesto, contra o governo e a opressão social e policial do começo ao fim.
4) Níveis de linguagem. Há banalização do vocabulário?
Não há banalização da linguagem. 
5) Analise o não dito, os tabus.
A música traz tabus como a clara diferenciação social que existe em nossa sociedade e governo, a opressão policial, também fazendo diferenciação social e racial, trazendo a ideia de que a educação de qualidade é para todos, não apenas para poucos privilegiados.
6) O tema é compatível? Sim, não, por quê?
Sim, na letra há a aparição de diversos trechos de que o estudar não é privilégio, é direito, o qual pode ser entendido como um poder de escolha individual e que, assim como o reinado, não pode ser retirado por motivos banais.
7) Essa formação discursiva gera uma ideologia? Qual ou quais?
Não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia: o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz sentido.(Pêcheux, 1975). Por se tratar de um discurso político que tem por finalidade comunicacional reivindicar, denunciar, articula-se estruturas discursivas que legitimam seu discurso, de tal forma a conseguir adeptos a sua causa política.

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