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Módulo 2 - Abuso de autoridade

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Sumário 
OBJETIVO DO MÓDULO............................................................................................. 5 
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5 
2. COMENTÁRIOS À NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ................................ 6 
2.1 CAPÍTULO I. DISPOSIÇÕES GERAIS ................................................................... 8 
2.2 CAPÍTULO II DOS SUJEITOS DO CRIME ............................................................. 9 
2.3 CAPÍTULO III DA AÇÃO PENAL ......................................................................... 11 
2.4 CAPÍTULO IV DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS 
DE DIREITOS ............................................................................................................. 12 
2.5 CAPÍTULO V DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA ...... 14 
2.6 CAPÍTULO VI DOS CRIMES E DAS PENAS ....................................................... 15 
2.7 CAPÍTULO VII DO PROCEDIMENTO .................................................................. 46 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 52 
 
 
 
 
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OBJETIVO DO MÓDULO 
 
Sejam bem-vindos ao segundo módulo de nossa pós-graduação em 
Segurança Pública e Atividade Policial. 
Ao se considerar a construção de um plano pedagógico de curso a 
equipe docente se reúne e debate qual é a construção mais adequada a ser 
feita no contexto de nossos programas de especialização, no sentido de 
permitir aos nossos discentes a evolução em sua área de atuação e a 
ampliação de raciocínio jurídico que surge em decorrência da análise crítica 
proposta, 
Nesse sentido, neste segundo módulo o professor Thiago Nemi 
Bonametti desenvolve análises quanto à nova lei de abuso de autoridade, 
trazendo as polêmicas sobre os novos crimes e os reflexos dessas previsões 
na atuação dos agentes encarregados da aplicação da lei. 
Desejamos a todos bons estudos. 
1. INTRODUÇÃO 
 
A nova lei de abuso de autoridade foi editada em um momento político 
conturbado e inovou o cenário jurídico trazendo cheiro de vingança, por uma 
suposta retaliação pelo alardeado sucesso da famigerada “operação lava-jato”. 
As suspeitas iniciais, entretanto, aparentemente não se confirmaram. 
Apesar de ter surgido num momento tormentoso, a lei trouxe previsões que 
protegem os bons agentes públicos de acusações infundadas de abuso de 
autoridade. 
É fato, todavia, que os novos crimes tratam do assunto de forma mais 
específica, ao contrário da antiga lei de abuso, e por isso chamam a atenção. É 
possível visualizar especificamente atos de policiais, delegados, juízes, 
promotores, nas descrições dos novos tipos penais, e talvez isso tenha 
causado um alerta inicial exagerado. 
 
 
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É que, como veremos, há dispositivos gerais que se aplicam a todas 
essas descrições típicas, exigindo finalidade especial de agir e vedando o 
crime de hermenêutica. 
De todo modo, é inegável também que o debate intenso sobre a lei 
gerou a rápida adaptação de instituições públicas visando resguardar a 
atuação de seus agentes e evitar alegações de abuso de autoridade. 
Para ver esses reflexos precisamos nos debruçar pelos dispositivos da 
lei, o que faremos comentando um a um os dispositivos legais. 
2. COMENTÁRIOS À NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE 
 
A Lei n. 13.869/2019 dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade. 
Além disso, revoga a Lei n. 4.898/1965, e altera outros dispositivos da Lei de 
prisão temporária, do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Estatuto da 
OAB, e do Código Penal. 
A lei revogou a antiga lei de abuso de autoridade, tornando mais graves 
algumas condutas, e abolindo (abolitio criminis) totalmente outras condutas 
que não foram replicadas na nova lei. De um lado, tornou mais graves os 
abusos mais importantes, e de outro revogou várias disposições genéricas da 
antiga lei de abuso. 
Os delitos que foram criados são nova lei penal mais severa (novatio 
legis in pejus). De outro lado, alguns foram apenas formalmente revogados 
junto com a lei antiga, porque ainda há previsão típica em outras leis (princípio 
da continuidade normativo-típica). Por fim, houve abolitio criminis das condutas 
que antes estavam previstas na lei antiga de abuso. Vejamos alguns 
CASOS DE ABOLITIO CRIMINIS: 
• Art. 3º, d: atentado à liberdade de consciência e crença; 
• Art. 3º, h: atentado ao direito de reunião; 
• Art. 3º, j: atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao 
exercício profissional; 
 
 
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• Art. 4º, f: cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial 
carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a 
cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu 
valor; 
• Art. 4º, g: recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial 
recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou 
de qualquer outra despesa; 
CASOS DE CRIMES REVOGADOS, MAS COM CONDUTAS 
PREVISTAS EM OUTRAS LEIS (continuidade normativo-típica): 
• Art. 3º, c: atentado ao sigilo da correspondência: pode configurar 
o art. 40 da Lei 6.538/78 (Lei que dispõe sobre os serviços postais); 
• Art. 3º, e: atentado ao livre exercício de culto religioso: pode 
configurar o art. 208 do Código Penal; 
• Art. 3º, f: atentado a liberdade de associação: pode configurar o 
crime do art. 199 do Código Penal; 
• Art. 3º, g: atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao 
exercício do voto: pode configurar o crime do art. 297 do Código Eleitoral; 
• Art. 3º, i: atentado à incolumidade física do indivíduo: pode 
configurar o art. 129 do Código Penal ou crime de tortura; 
• Art. 4º, h: ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural 
ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem 
competência legal: pode configurar crime contra a honra do Código Penal. 
Vigência: a lei foi publicada com vacatio legis de 120 dias, entrando em 
vigor em 3 de janeiro de 2020 (um dia depois do último dia do prazo, conforme 
LC n. 95 de 1998). 
Feitas essas observações, analisemos então os dispositivos legais, 
seguidos dos pertinentes comentários. 
 
 
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2.1 CAPÍTULO I. DISPOSIÇÕES GERAIS 
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de 
autoridade, cometidos por agente público, servidor ou 
não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto 
de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido 
atribuído. 
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem 
crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo 
agente com a finalidade específica de prejudicar 
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, 
ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal. 
O dispositivo traz um elemento subjetivo específico, ou dolo específico. 
Não basta apenas querer praticar alguma conduta prevista na lei (agir com 
dolo), mas também agir buscando alguma dessas finalidades específicas de 
prejudicar alguém, beneficiar a si ou outra pessoa, ou por mero capricho ou 
satisfação pessoal. 
Trata-se de uma regra que se aplica a todos os crimes da lei de abuso 
de autoridade, e acaba por filtrar bem a aplicação da lei, que fica restrita aos 
maus agentes públicos que realmente atuemcom dolo e com a finalidade 
especial de prejudicar alguém, se beneficiar, beneficiar terceiro, ou por mero 
capricho ou satisfação pessoal. 
Por isso alguns autores entendem que não existe crime de abuso de 
autoridade culposo ou com dolo eventual, eis que a exigência de finalidade 
específica ou dolo específico é incompatível com a mera assunção de risco (do 
dolo eventual). 
Apesar de ser um filtro importante para configuração de todos os crimes 
de abuso previstos na nova lei, alguns desses conceitos são muito abertos, a 
exemplo da expressão “mero capricho”, tornando difícil e temerária sua 
definição na prática. 
 
 
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§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na 
avaliação de fatos e provas não configura abuso de 
autoridade. 
O parágrafo segundo traz ainda outra garantia à atuação dos agentes 
públicos, afastando o crime de abuso quando houver discussão, ainda que 
mínima, sobre um ou outro posicionamento. Essa previsão legal, portanto, 
afasta o tão comentado crime de hermenêutica, que não existe conforme 
afastado pela própria lei de abuso. Entretanto, um posicionamento teratológico 
não será protegido, e o agente pode sim responder se tomar decisões de forma 
abusiva, com finalidade específica. 
2.2 CAPÍTULO II DOS SUJEITOS DO CRIME 
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de 
autoridade qualquer agente público, servidor ou não, 
da administração direta, indireta ou fundacional de 
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do 
Distrito Federal, dos Municípios e de Território, 
compreendendo, mas não se limitando a: 
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles 
equiparadas; 
II - membros do Poder Legislativo; 
III - membros do Poder Executivo; 
IV - membros do Poder Judiciário; 
V - membros do Ministério Público; 
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. 
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os 
efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que 
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, 
nomeação, designação, contratação ou qualquer 
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, 
 
 
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cargo, emprego ou função em órgão ou entidade 
abrangidos pelo caput deste artigo. 
A lei traz um rol exemplificativo de agentes públicos que podem praticar 
crime de abuso de autoridade. É o rol mais amplo possível, relacionado aqui de 
forma meramente exemplificativa, e que permite outras hipóteses não 
constantes do rol. 
Há uma equiparação no inciso I, em que a lei considera agente público 
os servidores e os militares, e as pessoas a eles equiparadas. Interessante 
verificar o art. 327 do Código Penal, que equipara a funcionário público também 
quem “exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem 
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a 
execução de atividade típica da Administração Pública”. Assim poderiam ser 
incluídas também as pessoas vinculadas às empresas “terceirizadas”, como 
concessionárias e permissionárias de serviço público. 
Exercer qualquer função pública, ainda que transitoriamente, e sem 
remuneração, abrangendo todas as formas de vínculo, é elementar dos crimes 
de abuso, que só se configurarão se houver essa condição. Assim, essa 
condição elementar se comunica a eventuais particulares que atuem junto ao 
agente público. 
Uma outra questão relevante quanto aos possíveis autores de crime de 
abuso de autoridade é a dos militares. Isso porque houve modificação recente 
com a lei 13.491/17, que alterou o Código Penal Militar, que passou a 
considerar crimes militares (art. 9 do Código Penal militar) também os crimes 
previstos na legislação penal (e não apenas no Código Penal Militar), quando 
for praticado nas circunstancias das alíneas a) a e) do art. 9º do Código Penal 
Militar, das quais se ressalta a alínea c) (por militar em serviço ou atuando em 
razão da função, em comissão militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar 
sujeito à adm. militar contra militar da reserva, reformado, ou civil). 
Diante dessa mudança, passariam a ser crimes militares, sujeitos à 
Justiça Militar e, portanto, de investigação também em inquérito policial militar, 
os crimes comuns (não previstos no Código Penal Militar), praticados por 
 
 
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militares contra civis mesmo que fora de estabelecimento militar, desde que por 
militar em serviço. Seria o caso dos crimes de abuso de autoridade. 
Assim, adotando esse entendimento, teriam de ser revistas as súmulas 
172 e 90 do Superior Tribunal de Justiça: 
■ Súmula 172 do STJ. Compete à Justiça Comum processar e 
julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço. 
■ Súmula 90 – STJ. Compete à Justiça Estadual Militar processar e 
julgar o policial militar pela prática de crime militar, e à Comum pela prática do 
crime comum simultâneo àquele. 
Entretanto, grande parte da doutrina sustenta a inconstitucionalidade 
dessa lei, porque o projeto legislativo aprovado era para ser de lei temporária, 
com vigência predeterminada, porque se destinava ao período da realização de 
alguns eventos esportivos no Brasil. Mas o Presidente da República à época, 
vetou o artigo que tornava a lei temporária, o que a tornou definitiva, contra a 
vontade do congresso, e desnaturando completamente a norma. Por isso, para 
Renato Brasileiro, a norma padece de vício de inconstitucionalidade. Nesse 
sentido, aliás, foi proposta a Ação direta de inconstitucionalidade n. 5804, pela 
ADEPOL, ainda pendente de julgamento. 
Outra importante ressalva é a controversa ampliação das atribuições de 
instituições militares, que seria segundo alguns autores, inconvencional, por 
violar a Convenção Americana de Direitos Humanos, sendo que a Corte 
Interamericana de Direitos Humanos já possui decisões no sentido de que 
instituições militares não podem ser responsáveis pela investigação de crimes 
cometidos contra civis, como já decidiu no caso Nadege Dorzema e outros vs. 
República Dominicana. 
2.3 CAPÍTULO III DA AÇÃO PENAL 
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação 
penal pública incondicionada. 
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal 
pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao 
 
 
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Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e 
oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os 
termos do processo, fornecer elementos de prova, 
interpor recurso e, a todo tempo, no caso de 
negligência do querelante, retomar a ação como parte 
principal. 
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no 
prazo de 6 (seis) meses, contado da data em que se 
esgotar o prazo para oferecimento da denúncia. 
Trata-se de previsão semelhante ao disposto no art. 29 e art. 38 do 
Código de Processo Penal. 
2.4 CAPÍTULO IV DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS 
RESTRITIVAS DE DIREITOS 
Seção I Dos Efeitos da Condenação 
Art. 4º São efeitos da condenação: 
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano 
causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento 
do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para 
reparação dos danos causados pela infração, 
considerando os prejuízos por ele sofridos; 
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato 
ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) 
anos; 
III - a perda do cargo, do mandato ou da função 
pública. 
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e 
III do caput deste artigo são condicionados à 
ocorrência de reincidência em crime de abuso de 
autoridade e não são automáticos, devendo ser 
declarados motivadamente na sentença. 
 
 
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Ver também os artigos 91 e 92 do Código Penal. O efeito de fixação do 
valor mínimo de indenização continua automático, mas a nova lei de abuso 
exige requerimento expresso do ofendido (o que o art. 387 inciso IV do Código 
de Processo Penal não faz para outros crimes). 
A perda do cargo foi regulamentada de forma diferente do Código Penal. 
O dispositivo da lei de abuso acrescenta a exigência de reincidência em crime 
de abuso para aplicação, mas não condiciona ao montante de pena aplicada. 
Para perda do cargo, o art. 92, inc. I alínea a) do Código Penal exige 
condenação igual ou superior a um ano quando o crime for praticado com 
abuso de poder, ou superior a quatro anos nos demais casos. 
Como a lei de abuso regulamentou o tema de forma especial, sem fazer 
referência, pensamos que os critérios são apenas o da nova lei, que revogou 
tacitamente a alínea a do inc. I do art. 92 do Código Penal (um ano para crimes 
com abuso) ao regulamentar os efeitos da condenação por crimes de abuso de 
autoridade. Nessa mesma toada foi a modificação feita pelo art. 42 da presente 
lei, que mudou a sistemática de perda do cargo para alguns crimes do ECA, 
exigindo apenas reincidência, independentemente de pena. Mas cuidado, a lei 
é nova e pode surgir divergência. 
Mais ainda, a lei de abuso acrescentou outro efeito, não previsto no 
Código Penal, que é a inabilitação para o exercício de cargo, emprego ou 
função pública, exigindo também apenas a reincidência em crime de abuso. 
Esses dois efeitos, de inabilitação e perda, dependem de motivação e 
declaração expressa do juiz na sentença, ou seja, não são automáticos, assim 
como não era a perda do cargo regulamentada no art. 92 do Código Penal. 
Seção II Das Penas Restritivas de Direitos 
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas 
das privativas de liberdade previstas nesta Lei são: 
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades 
públicas; 
 
 
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II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do 
mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a 
perda dos vencimentos e das vantagens; 
III - (VETADO). 
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos 
podem ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. 
 
Em virtude do princípio da especialidade, o rol aqui previsto tem 
preferência de aplicação em face do rol genérico de penas restritivas de direito 
substitutivas do art. 43 do Código Penal. Os critérios, a princípio, são ainda os 
do art. 44 do Código Penal. 
2.5 CAPÍTULO V DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA 
 Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas 
independentemente das sanções de natureza civil ou 
administrativa cabíveis. 
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos 
nesta Lei que descreverem falta funcional serão 
informadas à autoridade competente com vistas à 
apuração. 
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são 
independentes da criminal, não se podendo mais 
questionar sobre a existência ou a autoria do fato 
quando essas questões tenham sido decididas no 
juízo criminal. 
A decisão que reconheça não ter havido o fato, ou que a apontada 
pessoa não é o autor afetará processos cíveis e administrativos. Mas 
reconhecer não ter havido o fato ou que tal pessoa não é o autor é diferente de 
não haver prova da autoria ou da existência do fato, situação em que também 
há absolvição, mas simplesmente porque não foi possível provar. 
 
 
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Nesse caso a falta de provas pode ser suprida na apuração disciplinar 
ou no processo cível e por isso eles não são afetados pela absolvição (por falta 
de provas). 
A lei encampa a já conhecida distinção entre responsabilidade criminal, 
civil e administrativa. 
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como 
no administrativo-disciplinar, a sentença penal que 
reconhecer ter sido o ato praticado em estado de 
necessidade, em legítima defesa, em estrito 
cumprimento de dever legal ou no exercício regular 
de direito. 
Ver também art. 65 do Código de Processo Penal. Mas há exceção. O 
estado de necessidade agressivo, em que o agente ataca um terceiro, embora 
exclua o crime, ainda permite indenização na esfera cível! 
Agora vejamos os crimes especificamente, e seus impactos. 
2.6 CAPÍTULO VI DOS CRIMES E DAS PENAS 
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em 
manifesta desconformidade com as hipóteses legais: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Quem decreta medida privativa? Via de regra a privação de liberdade 
pode ser decretada pela autoridade policial (delegado) quando da prisão em 
flagrante, ou pelo magistrado (juiz, desembargador, ministro) quando da prisão 
preventiva, temporária, ou decorrente da condenação (imposição da pena). Em 
primeira análise, a prisão captura (feita por qualquer do povo ou agentes 
policiais) está fora da abrangência desse crime, afinal depende de ratificação 
pelo delegado. 
Em princípio a voz de prisão do agente policial ou qualquer do povo (art. 
301 do Código Penal), pendente de ser ratificada pela autoridade (prisão 
captura), não configuraria o crime. É o posicionamento do Prof. Marcelo Lessa. 
Isso porque o art. 11 (que foi vetado), tipificaria esse crime justamente 
 
 
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diferenciando prisão captura de prisão decretada pelo delegado. Porém, para 
Rogerio Sanches o agente que faz a captura também pode ser sujeito ativo 
desse crime do art. 9. 
Mas na prática policial têm surgido dúvidas sobre a possibilidade de 
policiais conduzirem individuo que se identificou falsamente, ou que se recusou 
a se identificar aos policiais. Seria legítima essa condução para identificação ou 
legitimação? 
A providência, em nosso entendimento, é perfeitamente legítima desde 
que a abordagem policial tenha se dado de forma justificada, com a 
demonstração da fundada suspeita. Isso porque a garantia do direito ao 
silêncio, que abrange o direito de não produzir prova contra si (principio do 
nemo tenetur se detegere), não abrange a parte de identificação, nem dá o 
direito de acusar alguém falsamente ou de se autoacusar falsamente. 
 Isto é, toda pessoa tem o dever de se identificar, com documento de 
identidade, ou informando os respectivos dados, pendentes de confirmação. A 
mentira sobre os dados pode configurar o crime do art. 307 do Código Penal, 
se feita para obter algum tipo de vantagem (como por exemplo esconder os 
maus antecedentes ou a condição de foragido), ou ainda a contravenção penal 
do art. 68 do Decreto Lei 3688/41. É o que a doutrina sustenta (Guilherme 
Nucci, Tourinho Filho, Luiz Flavio Borges D’urso). 
Assim já decidiu o STF: Tipifica o crime de falsa identidade o fato de o 
agente, ao ser preso, identificar-se com nome falso, com o objetivo de 
esconder seus maus antecedentes (STF – 2ª T., HC nº 72377/SP). 
E também o STF com REPERCUSSÃO GERAL no RE 640139 DF: 
EMENTA CONSTITUCIONAL. PENAL. CRIME DE 
FALSA IDENTIDADE. ARTIGO 307 DO CÓDIGO PENAL. 
ATRIBUIÇÃO DE FALSA INDENTIDADE PERANTE 
AUTORIDADE POLICIAL. ALEGAÇÃO DE 
AUTODEFESA. ARTIGO 5º, INCISO LXIII, DA 
CONSTITUIÇÃO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO 
GERAL. CONFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DA 
 
 
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CORTE NO SENTIDO DA IMPOSSIBILIDADE. 
TIPICIDADE DA CONDUTA CONFIGURADA. O princípio 
constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da 
CF/88) não alcança aquele que atribui falsa identidade 
perante autoridade policial com o intento de ocultar maus 
antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada 
pelo agente (art. 307 do Código Penal). 
No Superior Tribunal de Justiça a jurisprudência oscilavaentre a 5ª e 6ª 
Turma (STJ, 5ª Turma, REsp 666003 de 2005 considerando crime, e STJ – 6ª 
Turma, HC nº 130309/MG considerando não ser crime). Com o julgamento em 
sede de repercussão geral pelo STF, entretanto, o STJ se alinhou ao 
entendimento do STF, e sumulou a matéria de igual forma. 
Súmula 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante 
autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. 
Não resta dúvida, portanto, que o direito ao silêncio não afasta o dever 
de se identificar corretamente, de modo que é lícito tomar providências para 
obter a correta qualificação do indivíduo abordado, inclusive porque o policial 
não tem como saber se a pessoa está na condição de procurado da Justiça. 
Ainda sob outro viés, não há que se falar em abuso de autoridade na 
conduta porque o policial que age buscando o interesse público de identificar 
corretamente o cidadão e averiguar sua real identidade, não está imbuído da 
finalidade de prejudicá-lo gratuitamente, de se beneficiar, e nem está agindo 
por mero capricho ou satisfação pessoal. 
A conduta do policial no caso mencionado visa ao interesse público, de 
modo que ausentes quaisquer dessas finalidades especificas exigidas pela 
nova lei, inexiste crime de abuso de autoridade. 
Por fim, deve-se atentar também que outras prisões podem ensejar a 
ocorrência do crime, como a prisão civil decretada pelo juiz no caso de pensão 
alimentícia, que pode ser decretada com abuso de autoridade também e 
configurar o crime. 
 
 
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Exemplos: delegado que lavra flagrante dois dias depois do crime (fora 
das hipóteses do art. 302 do Código de Processo Penal); juiz que decreta 
prisão civil do depositário infiel (prisão civil cabe apenas para o devedor de 
alimentos). Mas não se pode olvidar que em todos os crimes deverá haver o 
elemento subjetivo específico do art. 1º p. 1º. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade 
judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: 
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; 
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar 
diversa ou de conceder liberdade provisória, quando 
manifestamente cabível; 
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, 
quando manifestamente cabível.‟ 
Aqui há um crime omissivo que equipara a conduta comissiva do “caput” 
(de decretar a privação) à omissão do magistrado que deixar de ofertar 
liberdade em prazo razoável. A lei não define qual seria o prazo razoável para 
o juiz analisar essas hipóteses de liberdade, o que dificultará a tipificação. A 
partir de quando há omissão razoável apta a configurar abuso de autoridade? 
Poderão surgir três orientações: 
I. 24 horas, aplicando o inc. III do art. 800 do Código Penal, que prevê o 
prazo de um dia para despachos de expediente, o que poderá ser muito curto, 
pois a análise de hipóteses de prisão é mais complexa do que um mero 
despacho de expediente. 
II. 5 dias, nos termos do inc. II do mesmo art. 800 do Código Penal. 
III. 48 horas, em analogia ao art. 322, p. único do Código Penal (posição 
de Rogério Sanches). 
Ressalte-se, por fim, que nos casos de apreciação da situação de 
flagrante delito na audiência de custódia não haverá problemas, pois a 
audiência ocorre em regra em até 24 horas da decretação do flagrante. 
 
 
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O sujeito ativo dessa omissão é o magistrado. Não confunda com o 
crime do art. 12, no caso de prolongamento indevido de prisões (omissão no 
cumprimento de alvará de soltura por qualquer policial/agente responsável). 
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de 
testemunha ou investigado manifestamente 
descabida ou sem prévia intimação de 
comparecimento ao juízo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
São duas formas de cometer o crime: 1. determinar a condução quando 
descabida (ex. se a parte já compareceu). Ou 2. sem que haja prévia 
intimação. Tanto o delegado como o juiz pode determinar condução coercitiva 
no Processo Penal, e, portanto ambos podem ser autores desse crime. Há 
posição minoritária de que a autoridade policial não pode decretar condução 
coercitiva, mas prevalece que é possível. 
Já na segunda parte a lei não fala em delegacia, apenas em juízo, sendo 
inaplicável o crime ao delegado de polícia, portanto, pelo principio da 
legalidade estrita. Em tese, portanto, se o delegado decretar a condução sem 
prévia intimação não incorreria no delito nessa hipótese, mas inevitavelmente 
incorreria na primeira, porque agindo de maneira descabida, conforme a 
interpretação dos tribunais superiores. 
Nas ações de descumprimento de preceito fundamental de números 395 
e 444 o Supremo Tribunal Federal proibiu a condução coercitiva de 
investigados para interrogatório, eis que por força do direito ao silêncio o 
acusado não é obrigado nem a comparecer, nem a prestar sua versão, se não 
quiser. 
Entretanto, o STF não proibiu a condução coercitiva do investigado para 
outros atos, como submissão a reconhecimento pessoal, nem a condução 
coercitiva de testemunhas, que continuam permitidas. 
Já o crime em análise não restringe a ilegalidade da condução ao ato 
que for destinada, podendo haver abuso na condução coercitiva de investigado 
 
 
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20 
para reconhecimento pessoal, ou de testemunha (que o STF considera válido), 
se isso for feito de maneira descabida ou sem prévia intimação, e haja 
obviamente o elemento subjetivo especifico (exigido para todos os crimes da 
nova lei de abuso em estudo). 
A lei nada fala sobre condução coercitiva de vítimas, que é também 
permitido pelo art. 201 do Código de Processo Penal. Assim, não haverá crime 
de abuso de autoridade na condução ilegal de vítimas, por falta de previsão no 
tipo, porém não é aconselhável assim proceder, eis que desarrazoado e 
desaconselhável inclusive sob o ponto de vista criminológico, por gerar 
evidente vitimização secundária. 
Para Rogério Sanches, o crime é formal, bastando a decretação da 
medida nos autos, de forma descabida ou sem prévia intimação. A efetiva 
condução, trazendo a pessoa para o ato seria mero exaurimento. 
Segundo o Prof. Marcelo Lessa a recusa de comparecimento pode ser 
direta ou indireta. Direta, quando a testemunha ou investigado é intimado e não 
comparece. E indireta quando investigadores identificam que está evitando ser 
encontrado para intimação. Em ambos os casos estará autorizada a condução 
coercitiva, por ter havido a prévia intimação para comparecimento, bastando 
que seja documentada a recalcitrância. 
Art. 11. (VETADO). 
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar 
prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo 
legal: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: 
I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de 
prisão temporária ou preventiva à autoridade 
judiciária que a decretou; 
 
 
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21 
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de 
qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua 
família ou à pessoa por ela indicada; 
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e 
quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela 
autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do 
condutor e das testemunhas; 
IV - prolonga a execução de pena privativa de 
liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, 
de medida de segurança ou de internação, deixando, 
sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o 
alvará de soltura imediatamente após recebido ou de 
promover a soltura do preso quando esgotado o 
prazo judicial ou legal. 
Atente-se aos prazos legais e a quempode ser autor desses crimes. 
No “caput” pune-se a demora dolosa e com ânimo subjetivo específico 
(como em todos os crimes de abuso), na comunicação da prisão em flagrante 
ao juiz. O prazo legal é de 24 horas (art. 306 do Código Penal). A autoridade 
policial deve determinar a comunicação dentro desse prazo, e o agente policial 
deve fazer a comunicação em seguida. Qualquer um dos dois pode ser autor 
do crime, segundo Rogério Sanches e Rogério Greco. 
Atente-se que se houver justificativa plausível esse prazo pode ser 
descumprido e mesmo assim não configurará o crime, porque o tipo fala em 
“deixar injustificadamente” de comunicar a prisão em flagrante. Nesse caso, 
apesar de não configurar o crime, poderá ensejar o relaxamento da prisão por 
ilegalidade (excesso de prazo). 
As figuras equiparadas dos incisos I a IV têm prazos diferentes. 
O incisos I e II exigem comunicação imediata. No primeiro caso, de 
prisões preventivas e temporárias ao juiz que a determinou (e não qualquer 
juiz). No segundo, exige a comunicação de qualquer prisão (flagrante, 
 
 
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22 
preventiva, temporária, civil, militar, etc) e do local onde foi efetivada à família 
do preso, ou quem ele indicar, também imediatamente. 
Novamente a lei não define o prazo para termo “imediatamente” e resta 
a dúvida. Seria no primeiro minuto, na primeira hora, ou antes de 24 horas, 
enfim, quando? 
Pelo rigor do termo os atos para adoção da providência deverão ser 
tomados tão logo o recolhimento ao cárcere seja determinado (e não logo após 
a captura), eis que somente após conferência do mandado e análise de 
eventual situação flagrancial alguém será efetivamente preso. Segundo 
Rogério Sanches, o importante é não ultrapassar o prazo genérico de 24 horas 
para comunicação. O Prof. Marcelo Lessa também menciona que o termo 
imediatamente deve ter interpretação elástica, observando-se o limite de 24 
horas. 
O inciso III trata da entrega da nota de culpa no prazo de 24 horas (art. 
306 §2º do Código Penal). É um documento formal assinado pelo preso dando 
ciência da razão pela qual foi preso e quem são o condutor e testemunhas de 
sua prisão. Aqui em tese o prazo de 24 horas é contato da captura do preso, 
mas dependendo da situação, justificada, a autoridade policial pode contar a 
partir de sua decisão pela decretação do flagrante (ratificação da captura). 
O inciso IV traz um crime permanente, de prolongar pena, prisão, 
medida de segurança, ou internação. Também é crime omissivo, de qualquer 
agente responsável pelo cumprimento do alvará de soltura, e que não o faz, ou 
o que não solta após o prazo judicial ou legal. 
Escoado o prazo legal da prisão (por ex., a temporária deferida por 5 
dias), o responsável deve efetivar a soltura imediatamente independentemente 
de nova decisão judicial. Já era a praxe em muitos lugares, mas a lei trouxe 
essa previsão especifica tanto no presente artigo, como também no art. 40. Em 
São Paulo, como bem lembra o Prof. Marcelo Lessa, as normas da 
corregedoria do Tribunal de Justiça (art. 428) já previam a soltura imediata sem 
necessidade de nova decisão judicial quando escoado o prazo da prisão 
temporária. 
 
 
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23 
Atraso justificável: a lei afasta a configuração do crime se houver motivo 
excepcionalíssimo. Novamente um adjetivo difícil de mensurar. Exemplo trazido 
pelo Prof. Marcelo Lessa é o risco de rebelião, ou outro motivo excepcional de 
segurança das instalações. Outrossim, na prática sabe-se que o cumprimento 
de alvará de soltura não é automático, pois depende no mínimo de pesquisa 
sobre a existência de outro mandado de prisão por outro fato (caso em que o 
individuo não pode ser solto). Por isso, um prazo razoável deverá ser tolerado. 
Relembramos, entretanto, que é sempre necessário o elemento 
subjetivo do tipo, para todos os crimes de abuso! Não basta negligenciar ou 
descumprir os prazos legais para soltura e comunicações de prisão! A mera 
desídia, negligência, etc., não configurarão abuso de autoridade, mas podem 
configurar infração disciplinar. 
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante 
violência, grave ameaça ou redução de sua 
capacidade de resistência, a: 
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à 
curiosidade pública; 
II - submeter-se a situação vexatória ou a 
constrangimento não autorizado em lei; 
III - produzir prova contra si mesmo ou contra 
terceiro: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, 
sem prejuízo da pena cominada à violência. 
São três formas de violência: física, moral (ameaça), e redução da 
capacidade de defesa. 
Há diferença entre preso e detento? Para Rogério Sanches a diferença é 
que o preso é aquele cuja prisão já foi formalizada, enquanto que o detido é 
aquele que está ambulatorialmente restrito, aguardando a formalização da 
prisão. Estariam apenas detidos, por exemplo, autores de crimes de menor 
potencial ofensivo esperando a lavratura do Termo Circunstanciado, e que só 
 
 
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24 
serão efetivamente presos caso se recusem a assinar o termo de 
compromisso. De todo modo, um ou outro podem ser vítimas desse crime de 
abuso. 
Com base na Resolução n° 43/173, de 9 de dezembro de 1988 da 
Organização das Nações Unidas (ONU), o professor Marcelo Lessa diferencia 
explicando que “detido” (sinônimo de “detento”) é a “pessoa privada da 
liberdade, exceto por condenação. Trata-se do “conduzido” e/ou detido em 
flagrante delito por decreto exarado pelo Delegado de Polícia via lavratura do 
auto prisional, após análise jurídica do contexto fático”. Enquanto que o “preso” 
é “pessoa privada da liberdade em consequência de condenação que, por 
interpretação extensiva abarca o “preso” por ordem judicial, temporária ou 
preventiva”; 
Além dos elementos subjetivos de todos os crimes de abuso, esse crime 
poderá ocorrer para três finalidades específicas. 
O inciso I trata da exibição de corpo ou parte do corpo, como em 
entrevistas, ou exposição midiática. O Prof. Marcelo Lessa bem alerta que a via 
pública não pode ser integralmente controlada pela Polícia, e, portanto, em 
muitos casos não haverá dolo do agente policial nessa exposição inevitável. 
Foi esse fundamento, inclusive, que levou ao veto ao art. 14 que criminalizava 
permitir ou fotografar ou filmar preso sem consentimento. Outrossim, o tipo não 
abrange a exposição da voz, como em falas ou gravações do preso/detido. 
Os incisos II e III podem trazer confusão com o crime de tortura (art. 1º 
inciso I, alínea a e parágrafo primeiro da Lei 9455/97). A distinção, à primeira 
vista, residirá no sofrimento causado e na intensidade, eis que se exige para 
configuração do crime de tortura o sofrimento físico ou mental. 
Constrangimento não previsto em lei depende de análise dos diversos 
dispositivos que regulamentam principalmente a atuação policial. Como bem 
lembra o Prof. Marcelo Lessa, há regramento para uso de algemas no decreto 
federal n. 8.858/2016 e na Súmula Vinculante 11 do STF. E há regras de 
transporte de presos na lei federal n. 8.653/1993. 
Art. 14. (VETADO). 
 
 
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25 
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, 
pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou 
profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem 
prossegue com o interrogatório: 
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao 
silêncio; ou 
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por 
advogado ou defensor público, sem a presença de 
seu patrono. 
O caput trata de um crime contra atestemunha proibida de depor, e que 
independe do efetivo depoimento. Basta o mero constrangimento sob ameaça 
de prisão, para que testemunhas proibidas violem o segredo profissional. 
Configurará o crime, assim, ameaçar “alertando” a testemunha sobre o crime 
de falso testemunho, desde que sabendo de sua condição profissional, 
funcional, etc. Proibidas: segundo o art. 207 do Código Penal essas pessoas 
são proibidas de depor, não podendo fazê-lo mesmo que queiram, a não ser 
que a pessoa protegida pelo sigilo abra mão. Exemplos: advogado sobre fatos 
relacionados a quem foi seu cliente; médico sobre o tratamento do paciente. 
Parágrafo único: trata da proibição de interrogatório de pessoa que quis 
ficar em silêncio (art. 5º, inciso LXIII da CF), ou que manifestou desejo de 
constituir advogado ou ser assistida por defensor público. O crime é prosseguir, 
indicando que o ato já se iniciou e a pessoa manifestou desejo de não 
continuar, seja porque não quer se manifestar, seja porque deseja ter um 
advogado. 
Não foi feita ressalva alguma sobre a fase processual do interrogatório, 
se na fase policial (inquérito) ou em juízo (processo), de modo que em qualquer 
caso poderá ocorrer o crime. Da mesma forma, também pode ocorrer durante 
CPIs e procedimentos do Ministério Público. 
 
 
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26 
Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se 
falsamente ao preso por ocasião de sua captura ou 
quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como 
responsável por interrogatório em sede de 
procedimento investigatório de infração penal, deixa 
de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa 
identidade, cargo ou função. 
O preso tem direito de saber a identificação dos responsáveis por sua 
prisão (art. 5º LXIV da CF). 
No caput a conduta é dos agentes (policial militar de qualquer patente) 
ou da autoridade policial (delegado) se ela própria fizer a captura ou estiver no 
comando da operação. No caso dos militares e Guardas Municipais, bem alerta 
o Prof. Marcelo Lessa que a identificação consta do fardamento (dos militares) 
ou uniforme (dos guardas), o que basta para satisfazer a exigência. No caso de 
agentes policiais civis (ou federais), que em regra não usam tarjetas, ou no 
caso de militares/guardas eventualmente sem tarjetas, a identificação em regra 
deve ser feita no momento da captura/detenção, mas se isso restar 
inviabilizado pela dinâmica da ocorrência, poderá ser feito no momento 
seguinte, após acalmados os ânimos. Não haverá dolo de violar a norma se 
essa demora dos agentes se der por motivos de segurança, até porque podem 
antes ter que agir em legítima defesa ou estado de necessidade diante de 
algum tumulto ou risco. 
No parágrafo único a conduta é da autoridade responsável pelo 
interrogatório na fase investigativa criminal! (não há previsão para o 
interrogatório da fase judicial nem em investigações civis ou administrativas, e 
também não há para colheita de depoimento de testemunhas e declarações de 
vítimas). Assim, poderão ser autores o delegado de polícia (no inquérito), o 
oficial militar (no inquérito militar), etc, durante interrogatório. 
 
 
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27 
Identificação falsa: atente-se que nos dois casos é crime tanto deixar de 
se identificar, como se identificar falsamente. 
Questão curiosa pode surgir no caso do agente que, não sendo 
responsável pelo interrogatório, se identifica como delegado e realiza o ato. 
Não haverá o crime em tela porque não se trata de pessoa responsável pelo 
interrogatório, portanto, cuidado. No parágrafo único o crime é próprio da 
autoridade responsável pelo interrogatório. Nesse exemplo o agente pode 
responder pelo crime do caput se tiver participado da captura ou detenção. 
Art. 17. (VETADO). 
Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial 
durante o período de repouso noturno, salvo se 
capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente 
assistido, consentir em prestar declarações: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
O crime pressupõe clandestinidade no interrogatório feito à noite, o que 
revela desconhecimento da praxe policial, serviço público aberto e ininterrupto 
24 horas por dia. Apesar da ressalva aos casos de prisão em flagrante, 
procedimento no qual o interrogatório será feito normalmente, a previsão legal 
proíbe interrogatórios de presos temporários ou preventivos capturados a noite 
e que deveriam ser interrogados nos respectivos procedimentos. 
Se o detido consentir e estiver assistido de advogado, o ato poderá ser 
realizado, porém ante a exigência de que esteja assistido, num primeiro 
momento nos parece que só poderá ser feito o interrogatório a noite, fora de 
situações flagranciais, se o preso tiver advogado e consentir. Não havendo 
advogado, mesmo com consentimento, em tese, poderá haver violação à 
norma. 
Repouso noturno: a lei não define o horário, podendo surgir dúvida. A 
melhor alternativa parece usar o critério do crime art. 22 dessa mesma lei (que 
trata do cumprimento de busca entre as 21 horas da noite até as 05 horas da 
 
 
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28 
manhã). Por ser um critério adotado na mesma lei, parece razoável adotá-lo 
também aqui, o que é a posição também do Prof. Marcelo Lessa. Mas pode-se 
sustentar alternativamente o período trazido pelo art. 212 do Código de 
Processo Civil. 
Investigado solto: pode ser interrogado em qualquer horário, pois a lei 
proíbe o interrogatório noturno do preso. Portanto, se eventualmente conduzido 
autor de crime pretérito, não estando preso (flagrante, temporária, ou 
preventiva), poderá ser interrogado. 
ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO DA ACADEPOL DE SÃO PAULO É 
NESSE SENTIDO. Esse raciocínio foi firmado por meio da 
Súmula nº 4: O vocábulo “preso”, empregado no artigo 18 da Lei Federal 
13.869/2019, abrange o custodiado temporário ou preventivo e não equivale ao 
mero investigado que, asseguradas as garantias fundamentais, sobretudo o 
direito de autodefesa e de acionar defesa técnica, poderá ser ouvido em 
declarações, sem prejuízo de pronta representação pela prisão provisória 
diante da suspeita de envolvimento em prática delitiva pretérita e do 
preenchimento dos requisitos legais. 
Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o 
envio de pleito de preso à autoridade judiciária 
competente para a apreciação da legalidade de sua 
prisão ou das circunstâncias de sua custódia: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado 
que, ciente do impedimento ou da demora, deixa de 
tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não 
sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa 
de enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja. 
Atenção, quanto à comunicação do flagrante pelo delegado já há crime 
específico no art. 12. Os agentes policiais que eventualmente concorrerem 
 
 
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para demora na remessa do flagrante poderão responder pelo art. 12, vide 
comentários. 
Aqui o crime é direcionado à atuação do juiz e seus serventuários. O juiz 
responsável que deverá ser comunicado do pleito poderá ser o que decretou 
prisão temporária, preventiva, eventual prisão civil etc. 
No parágrafo único o crime é próprio do magistrado que se queda inerte 
a partir da ciência da demora já instalada. 
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal 
e reservada do preso com seu advogado: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Visa assegurar o exercício da ampla defesa (art. 5º inc. LVda CF). 
Não confunda com o crime de violação de prerrogativas de advogados, 
que está no Estatuto da OAB e foi alterado também pela lei de abuso aqui 
estudada (ver artigo 43 mais a frente). O crime aqui do art. 20 também tutela 
uma prerrogativa do advogado, mas foi inserido na lei de abuso, fora do 
Estatuto da OAB. 
Atente-se que além do dolo e do elemento subjetivo específico (exigido 
em todos os crimes da lei de abuso), esse crime exige também falta de justa 
causa, de modo que havendo justificativa plausível para impedir a entrevista 
pessoal e reservada, não haverá crime. Exemplo: por segurança das 
instalações (receio de rebelião na cadeia, nos locais em que ainda há) a 
entrevista é impedida na fase policial. 
Além de crime, a recusa poderá contaminar o ato com o vício da 
nulidade, diante do art. 7º inciso XXI do Estatuto da OAB, modificado pela Lei 
n. 13.245/16. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem 
impede o preso, o réu solto ou o investigado de 
entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu 
 
 
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30 
advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de 
audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com 
ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso 
de interrogatório ou no caso de audiência realizada 
por videoconferência. 
Equipara com a mesma pena o embaraço da atuação do advogado com 
seu cliente durante o processo (audiência judicial), garantindo também a 
entrevista reservada antes da audiência e durante o ato (sentando-se ao lado). 
Aqui o crime é cometido pelo Juiz ou por seu agente. O agente pode praticar o 
ato se embaraçar a entrevista dolosamente antes da audiência, eis que na 
praxe forense muitas vezes os presos ficam na cela dos fóruns, sob a guarda 
de policiais ou serventuários da Justiça aguardando a instalação da audiência e 
ali entrevistam-se reservadamente com seus patronos antes. CUIDADO: 
durante o interrogatório ao réu cabe responder as perguntas, e não conversar 
reservadamente planejando cada resposta durante o ato, por isso a ressalva ao 
final, que também se aplica à audiência por videoconferência. 
Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma 
cela ou espaço de confinamento: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem 
mantém, na mesma cela, criança ou adolescente na 
companhia de maior de idade ou em ambiente 
inadequado, observado o disposto na Lei nº 8.069, de 
13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do 
Adolescente). 
O verbo manter revela que se trata de um crime permanente, que se 
prolonga no tempo enquanto não regularizada a ilegalidade pelo agente ou 
autoridade. 
A necessidade de separação da mulher está prevista no art. 82 da Lei de 
Execução Penal. E a dos adolescentes está no art. 175 do ECA. A lei de abuso 
 
 
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tornou crime não obedecer a esses regramentos, desde que com dolo e com 
os demais elementos subjetivos. 
Atente-se que os presos provisórios (preventiva e temporária) também 
devem ser separados dos condenados (art. 84 da Lei de Execuções Penais), 
assim como os presos por prisão civil (art. 528 p. 4º do Código de Processo 
Civil), porém a ilegalidade não foi tipificada como crime, podendo configurar 
ilícito administrativo ou civil. 
Sofrimento físico ou mental: se houver, poderá configurar tortura (art. 1º, 
p. 1º da Lei 9455/97), que tipifica quem submete pessoa presa a sofrimento 
físico ou mental pela prática de ato não previsto em lei, segundo Rogério 
Sanches e Rogério Greco. 
Res. N. 1 de 2014 do Conselho Nacional de Política Criminal e 
Penitenciária: 1. Preso travesti (sexo fisiológico masculino, mas apresentação 
social feminina, sem rejeitar o órgão sexual) e homem gay devem ficar em 
penitenciárias masculinas, mas separados da população geral. 2. Transexuais 
(psicologicamente de um sexo, mas anatomicamente de outro, rejeitando órgão 
sexual), devem ficar em unidades prisionais femininas. 
Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou 
astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, 
imóvel alheio ou suas dependências, ou nele 
permanecer nas mesmas condições, sem 
determinação judicial ou fora das condições 
estabelecidas em lei: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Trata-se de uma modalidade especial de violação de domicílio (art. 150 
do Código Penal). Inclusive, a presente lei de abuso revogou o §2º do art. 150 
do Código Penal que previa aumento de pena justamente quando a invasão 
fosse feita por funcionário público). A razão é que o tema foi disciplinado no 
presente crime do art. 22 da nova lei. 
 
 
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São vários núcleos (Invadir, adentrar, ou permanecer), sendo que no 
ultimo o verbo permanecer revela que se trata de crime permanente, até o 
individuo deixar o imóvel. 
Condições estabelecidas em lei: o regramento da inviolabilidade 
domiciliar está no art. 5º inc. XI da CF, que só permite o ingresso com 
consentimento do morador, em caso de flagrante delito, desastre, para prestar 
socorro, ou durante dia por determinação judicial. Essas são as condições 
permitidas em “lei”. No mais, as buscas domiciliares estão regulamentadas no 
art. 245 do Código de Processo Penal. 
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no 
caput deste artigo, quem: 
I - coage alguém, mediante violência ou grave 
ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas 
dependências; 
II - (VETADO); 
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar 
após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h 
(cinco horas). 
O legislador se preocupou em punir também o consentimento viciado, 
quando o agente público coage alguém a franquear o acesso. 
E também regulamentou o horário de cumprimento de mandados de 
busca (violação de domicílio com autorização judicial), definindo um período 
que, pensamos, também serve de parâmetro para o crime do art. 18. 
Então será que a lei finalmente regulamentou o horário para 
cumprimento de mandado de busca? Há divergência! Há entendimento 
doutrinário de que o período temporal previsto nesse artigo serve de base 
apenas para a configuração ou não do crime de abuso, e que o conceito de dia 
para fins de cumprimento de mandado de busca ainda remanesce o mesmo 
que a doutrina já sustentava anteriormente. 
 
 
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33 
Ou seja, para essa corrente, o mandado de busca só pode ser cumprido 
quando for fisicamente dia (com os primeiros raios de sol), sendo ilícita a prova 
se cumprido sem luz solar, ainda que depois das cinco horas da manhã e antes 
das nove da noite. Nesse caso, para essa corrente, não haverá crime de abuso 
(porque cumprido depois das 05), mas a prova será ilícita. 
Para essa corrente, então, haverá três situações. 1. Mandado cumprido 
após as 21h ou antes das 5h configurará crime de abuso. 2. Mandado 
cumprido antes das 21h ou depois das 05h, porém já a noite ou antes de 
aparecer o sol, não configurará crime de abuso, porém a prova será ilícita. 3. 
Mandado cumprido depois do surgimento do sol e antes do por do sol, depois 
das 5h e antes das 21h, não haverá abuso e a prova será legal. Para essa 
corrente o horário de cumprimento não foi alterado porque a constituição fala 
em dia, e não em determinada hora. 
Outra corrente, entretanto, sustenta que a lei de abuso regulamentou o 
horário de cumprimento do mandado de busca, ao considerar abusivo o 
cumprimento fora de uma janela razoável de horário. Para essa corrente é 
perfeitamente possível que a lei ordinária regulamente o conceito de dia 
previsto na Constituição Federal, trazendo segurança jurídica e uniformidade 
conceitual para a diligência ser consideradalícita. Facilita ao cidadão, que sabe 
de maneira exata que seu imóvel é inviolável pela polícia nesse horário definido 
fixamente, e também facilita a atuação policial. 
Não faria sentido a lei trazer uma janela temporal fixa, considerando 
abuso o cumprimento fora do horário definido, e a diligência ainda ter que 
obedecer a critérios doutrinários confusos, divergentes, e que não trazem 
nenhuma segurança jurídica. Isso porque o critério astronômico ou físico 
mencionado pela primeira corrente sequer é pacífico, havendo quem sustente 
também um critério fixo de horário (das 06 as 18 horas por exemplo). 
Assim, seria mais razoável entender que a lei de abuso disciplinou a 
restrição ao direito fundamental da inviolabilidade domiciliar prevendo um 
horário em que a diligência será considerada lícita, e outro em que será 
considerada abusiva. A restrição ao direito fundamental já é autorizada pela 
Constituição Federal, isto é, trata-se de direito fundamental de peso já dosado 
 
 
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34 
pela Constituição, restringível, e a lei trouxe parâmetros razoáveis para essa 
restrição. 
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar 
socorro, ou quando houver fundados indícios que 
indiquem a necessidade do ingresso em razão de 
situação de flagrante delito ou de desastre. 
Reitera a previsão constitucional, detalhando que a situação de flagrante 
ou desastre deve estar fundada em indícios. A jurisprudência recente tem 
exigido que esses indícios sejam colhidos anteriormente, de modo que a 
análise da legalidade da invasão é feita com base no momento em que decidiu-
se pela entrada, e não posteriormente. 
Assim, pouco importa se constatada ou não a situação flagrancial após a 
violação. O importante é que quando isso foi decidido houvesse indícios 
apontando que havia situação de flagrante delito ou desastre. Afinal nessa 
situação não se pode exigir dos agentes que aguardem, pois se não agirem 
podem deixar um criminoso impune, ou um desastre acontecer. De outro lado 
essa exigência de indícios prévios impede violações a esmo na busca casual 
de um crime permanente, como ocorre com o tráfico de drogas. Invadindo um 
domicílio sem indício prévio algum, o agente cometerá ilegalidade, mesmo que 
fortuitamente se depare com uma situação flagrancial. 
Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de 
diligência, de investigação ou de processo, o estado 
de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-
se de responsabilidade ou de responsabilizar 
criminalmente alguém ou agravar-lhe a 
responsabilidade: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
O crime de fraude processual do art. 347 do Código Penal, e o de fraude 
em acidente de trânsito do art. 312 do Código de Trânsito Brasileiro podem 
trazer confusão. O crime genérico de fraude processual (art. 347 do Código 
 
 
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35 
Penal) tem como finalidade apenas induzir a erro o juiz ou perito, e é menos 
grave. O crime de abuso aqui em estudo é mais específico e mais grave. 
A diligência, investigação ou processo devem estar em curso: se já 
finalizados a inovação não poderá prejudicar a apuração, e por isso não há o 
crime. Podem ser de qualquer natureza (criminal ou outra) e o ato deve visar 
eximir-se ou agravar a responsabilidade (qualquer uma, criminal, civil, etc) de 
alguém, ou incriminar (aqui somente criminalmente) alguém. 
Exemplo: agente policial que apresenta arma verdadeira em lugar de 
simulacro após deter individuo por roubo, para prejudicá-lo forçando a 
aplicação da regra de aumento de pena (art. 157 §2º-A do Código Penal). 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem 
pratica a conduta com o intuito de: 
I - eximir-se de responsabilidade civil ou 
administrativa por excesso praticado no curso de 
diligência; 
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou 
informações incompletos para desviar o curso da 
investigação, da diligência ou do processo. 
As figuras equiparadas focam em condutas específicas. No inciso I o 
agente age para eximir-se de uma responsabilidade específica, a decorrente do 
excesso de um ato inicialmente legítimo. É o que pode ocorrer, por exemplo, se 
o agente policial inserir um revolver na cena do crime depois de ter baleado em 
legítima defesa um furtador que estava desarmado, a fim de que sua ação não 
seja vista como excesso. 
No inciso II, exemplo bem lembrado pelo Prof. Marcelo Lessa é o do 
agente policial responsável por transcrições de interceptações telefônicas que 
omita dados ou os transcreva de forma incompleta para desviar o curso dos 
trabalhos. 
Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, 
funcionário ou empregado de instituição hospitalar 
 
 
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pública ou privada a admitir para tratamento pessoa 
cujo óbito já tenha ocorrido, com o fim de alterar local 
ou momento de crime, prejudicando sua apuração: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, 
além da pena correspondente à violência. 
O crime foca naqueles agentes policiais que socorrem pessoa falecida, 
geralmente em confronto, apenas para dar a impressão de que a ação foi 
legítima. Mas para configuração do delito deve haver ameaça ou agressão ao 
funcionário do hospital que, vendo o óbito, se recusa a atender (porque não há 
pessoa para ser socorrida). 
Finalidade específica: exige-se a finalidade de alterar o local ou o 
momento do crime, o que diferencia o delito da fraude do artigo 23. 
Resultado material: segundo Rogério Sanches e Rogério Greco, o crime 
se consuma com o constrangimento mediante violência, não exigindo efetivo 
prejuízo à apuração. Entretanto, em virtude da parte final (prejudicando o local), 
poderá surgir corrente sustentando a necessidade desse efetivo prejuízo. 
Em São Paulo – SP: o socorro de pessoas por policiais está 
regulamentado pela Res. SSP 05 de 2013, que prevê que o policial acione o 
serviço de socorros de urgência e somente socorra se o tempo de atendimento 
for inadequado. 
Dúvida: não sendo médico, o policial ou agente que acreditar que a 
pessoa está viva não cometerá o crime, podendo haver erro de tipo, que afasta 
o dolo. 
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em 
procedimento de investigação ou fiscalização, por 
meio manifestamente ilícito: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
 
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37 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz 
uso de prova, em desfavor do investigado ou 
fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude. 
As provas obtidas por meios ilícitos são proibidas pelo art. 5º inc. LVI da 
Constituição Federal de 1988. A doutrina considera prova ilegal gênero, do qual 
se extraem as espécies 1. Prova ilícita: que viola princípio constitucional; e 2. 
Prova ilegítima: que viola norma processual. É crime apenas a obtenção ou 
utilização de prova ilícita (não estando abrangida a ilegítima). 
Pro reo: a lei criminaliza também o uso da prova, desde que em desfavor 
do investigado. Assim, o uso da prova ilícita em favor do réu não configurará o 
crime. A jurisprudência já admite em alguns casos, com base no principio da 
proporcionalidade, a utilização da prova ilícita em favor do réu, a fim de que 
não seja consumada uma injustiça. 
Manifestamente: para configuração do crime é necessário que a prova 
seja manifestamente ilícita, isto é, não haja dúvida nem posicionamento em 
sentido contrário. O termo “manifestamente” é aberto e depende de 
interpretação, mas conjugando com o disposto no art. 1º, §2º da presente lei, 
entendemos que havendo a mínima divergência, ou não estando o tema 
consolidado, não haverá crime. Inclusive porque nesses casos poderá havererro de proibição, e possivelmente não haverá o elemento subjetivo específico 
(exigido em todos os crimes de abuso). 
A academia de polícia de São Paulo tem o mesmo entendimento, 
conforme Súmula Doutrinária nº 6: A obtenção e o uso de prova cuja licitude 
seja objeto de controvérsia jurisprudencial ou doutrinária estão albergados na 
ressalva de divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e 
provas do § 2º do artigo 1º da Lei Federal 13.869/2019. 
Art. 26. (VETADO). 
Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar 
procedimento investigatório de infração penal ou 
administrativa, em desfavor de alguém, à falta de 
 
 
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qualquer indício da prática de crime, de ilícito 
funcional ou de infração administrativa: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de 
sindicância ou investigação preliminar sumária, 
devidamente justificada. 
Atenção com o crime de denunciação caluniosa (que exige imputação de 
crime e é mais grave). O presente crime de abuso exige apenas a falta de 
indício, e a requisição ou instauração de investigação penal ou administrativa. 
Alguém: exigindo que seja em desfavor de alguém, fica afastado o crime 
se a instauração não for contra uma pessoa determinada desde logo. 
Sindicância ou investigação preliminar sumária: a lei expressamente 
afasta o crime nessa hipótese, desde que haja justificação, de modo que se a 
requisição ou instauração for de um procedimento preliminar, básico, mínimo, 
não haverá o crime mesmo que não haja indícios iniciais. No âmbito 
administrativo, o termo usado foi sindicância, geralmente uma espécie de 
processo administrativo menos amplo, menor, e voltado à aplicação de 
sanções administrativas menores. No âmbito da investigação penal, o termo 
usado foi investigação preliminar sumária, em alguns lugares chamadas de 
verificação de procedência das informações, que precedem a instauração de 
inquérito justamente para evitar investigações infundadas. 
Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem 
relação com a prova que se pretenda produzir, 
expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a 
honra ou a imagem do investigado ou acusado: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Aqui pressupõe-se que a interceptação, escuta, ou quebra do sigilo 
tenha sido regular, sob pena de, não tendo sido, configurar o crime do art. 10 
da Lei de Interceptações. A ideia foi criminalizar o ato de divulgação, mesmo a 
 
 
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39 
interceptação tendo sido regular, quando isso ocorrer de forma 
descontextualizada e ferindo a intimidade do investigado. 
O crime exige a divulgação de gravação alheia à prova, de modo que se 
estiver relacionada às evidências o crime estará afastado por expressa 
previsão legal, podendo configurar outro crime. Também exige a exposição da 
intimidade, vida privada, ou lesão à honra. Mas para Rogério Sanches e 
Rogério Greco, se consuma com a divulgação, independentemente da ofensa à 
intimidade, vida privada, ou honra. 
Crime da lei de interceptação: de todo modo, condutas mais graves 
poderão se adequar ao crime do art. 10 da lei de interceptações telefônicas, 
que inclusive foi alterado pela presente lei de abuso de autoridade. Veja os 
comentários ao art. 41, e a distinção entre interceptação, escuta e gravação. 
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento 
judicial, policial, fiscal ou administrativo com o fim de 
prejudicar interesse de investigado: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Parágrafo único. (VETADO). 
A lei mira as informações prestadas pelo juiz aos tribunais superiores no 
caso de Habeas Corpus. A autoridade coatora tem que informar o que houve, e 
nesse ato não pode mentir. 
Apesar disso, qualquer agente público pode cometer o crime, tratando-
se de modalidade especial de falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal). 
Finalidade específica: de prejudicar o investigado. Se não houver, não 
ocorrerá esse crime, podendo haver prevaricação ou outro delito. 
Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, 
civil ou administrativa sem justa causa fundamentada 
ou contra quem sabe inocente: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
 
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40 
Não confunda com o crime do art. 27: aqui no art. 30 a persecução é 
iniciada contra alguém que se sabe inocente. Por isso a pena aqui é mais 
grave. 
Mas ainda assim é também uma modalidade menos grave de 
denunciação caluniosa (art. 339 do Código Penal), que não exige a imputação 
de crime. O delito aqui contenta-se com o início da persecução contra alguém 
que se sabe inocente. 
Persecução: a persecução penal se inicia com o inquérito policial e 
segue até o processo penal. Nestes termos, o crime pode se configurar com a 
requisição de inquérito policial pelo membro do Ministério Público, com a 
instauração pelo delegado, e também com o oferecimento de denúncia pelo 
promotor. O mesmo vale para os procedimentos administrativos e civis (aqui 
abrangidos os de improbidade). 
Justa causa: conceito aberto e indefinido. Pode ser entendida como 
suporte probatório mínimo, relacionado aos indícios de autoria e prova da 
existência do crime. 
Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, 
procrastinando-a em prejuízo do investigado ou 
fiscalizado: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, 
inexistindo prazo para execução ou conclusão de 
procedimento, o estende de forma imotivada, 
procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do 
fiscalizado. 
O caput trata do atraso na conclusão da investigação em que haja prazo 
definido, como por exemplo o inquérito policial, desde que isso se dê em 
prejuízo do investigado/fiscalizado. 
 
 
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41 
Abrange tanto procedimentos de investigação criminal, como de 
fiscalização administrativa, e por isso serão autores todos aqueles agentes que 
forem responsáveis pelos procedimentos, como delegados, promotores, 
corregedores, agentes de fiscalização, etc. 
O parágrafo único trata da procrastinação da investigação que não tem 
prazo previsto. 
Justificativa: afasta o crime em ambos os casos. 
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou 
advogado acesso aos autos de investigação 
preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou 
a qualquer outro procedimento investigatório de 
infração penal, civil ou administrativa, assim como 
impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a 
peças relativas a diligências em curso, ou que 
indiquem a realização de diligências futuras, cujo 
sigilo seja imprescindível: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Criminaliza tanto a negativa de acesso, como o impedimento de cópias, 
em qualquer procedimento investigatório (o rol é exemplificativo, seguido de 
cláusula de abertura). 
A ressalva final explica melhor o teor da súmula vinculante n. 14 do 
STF: é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos 
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório 
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao 
exercício do direito de defesa.. 
Realmente, diligências em curso, ou já realizadas, mas que possam 
indicar que a realização das próximas diligências pode frustrar a investigação e 
por isso ficarão inacessíveis até serem documentadas sem risco à 
investigação. 
 
 
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42 
Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de 
obrigação,inclusive o dever de fazer ou de não fazer, 
sem expresso amparo legal: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se 
utiliza de cargo ou função pública ou invoca a 
condição de agente público para se eximir de 
obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio 
indevido. 
Atente-se que o crime não pode ser usado para atrapalhar a atuação do 
delegado de polícia, que possui poder requisitório de informações. É esse, 
inclusive, o entendimento da ACADEPOL – SP, por meio da Súmula nº 7: A 
exigência de informações ou obrigações com amparo nas prerrogativas 
ordinárias e de persecução atreladas ao poder-dever de presidência da 
investigação criminal dos Delegados de Polícia retrata medida legítima e 
eventual desatendimento injustificado pode ensejar responsabilização civil, 
administrativa e penal. 
Exigir: não abrange violência ou grave ameaça, que se houver poderá 
configurar tortura, ou extorsão. 
Concussão/excesso de exação: exigir vantagem indevida em razão da 
função, ou tributo que sabe indevido, ou usando meio vexatório, são crimes 
mais graves que podem configurar respectivamente concussão e excesso de 
exação (art. 316 “caput” e §1º do Código Penal). Distinção: no caput do 
presente art. 33 o crime é exigir informação ou cumprimento de obrigação, e 
não há menção à vantagem indevida, que é o que é exigido no crime de 
concussão, e por isso é o ponto de distinção. Já no parágrafo único o crime é 
de utilizar o cargo ou invocá-lo para obter algum privilégio ou se eximir de 
obrigação legal, não havendo o verbo exigir, que existe no crime de concussão, 
sendo este o ponto de distinção. 
 
 
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Parágrafo único: atenção, em meios policiais foi dada divulgação a essa 
previsão como se fosse o crime da “coxinha”, do policial que se alimenta em 
restaurante de graça. Mas o crime é o de invocar a condição de agente para se 
beneficiar, se eximir e pagar, etc, e exige também o dolo específico de todos os 
crimes de abuso. Receber refeição ou agrado mínimo de alguém que aprecia o 
trabalho policial não é atuar com esse dolo. Na verdade a intenção desse 
parágrafo único é punir as condutas de “carteirada”, daqueles que invocam 
suas condições de agentes públicos para obterem vantagem ou tratamento 
diferenciado (evitar filas, ingressar em casa noturna sem pagar). O crime 
poderá ocorrer, portanto, se o policial ou agente público insistir em não pagar 
pela refeição, ou algo do gênero, em razão de sua função. 
Há interessante posicionamento doutrinário da Academia de Polícia de 
São Paulo sobre esses agrados e gentilezas por apreço à função policial. É o 
teor da súmula doutrinária nº 8: A identificação formal de agente estatal quando 
as circunstâncias exigirem assim como a resposta cortês a ato voluntário e 
gratuito de particular motivado por respeito, educação ou gentileza não 
configura abuso de autoridade por ausência de dolo na conduta. 
De todo modo, receber vantagem em razão da função pode configurar 
na verdade o crime de corrupção passiva. 
Art. 34. (VETADO). 
Art. 35. (VETADO). 
Art. 36. Decretar, em processo judicial, a 
indisponibilidade de ativos financeiros em quantia 
que extrapole exacerbadamente o valor estimado para 
a satisfação da dívida da parte e, ante a 
demonstração, pela parte, da excessividade da 
medida, deixar de corrigi-la: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Crime próprio do magistrado, que pode ser praticado em qualquer 
processo judicial, não necessariamente criminal. Exacerbadamente: novamente 
 
 
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um conceito indefinido, que dependerá de interpretação, e que dificulta a 
aplicação do dispositivo. 
Atenção para o fato de que a lei exige duas situações sequenciais para 
configuração do crime: primeiro que haja a decretação de indisponibilidade em 
valor bem acima do estimado para satisfação de dívida, e segundo, que o 
magistrado não corrija o valor do bloqueio mesmo depois de alertado pela parte 
interessada. Assim, trata-se de um crime com uma parte comissiva (ação), 
seguida de uma omissiva (omissão). 
Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no 
exame de processo de que tenha requerido vista em 
órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu 
andamento ou retardar o julgamento: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
O crime foca nos pedidos de vista em julgamento colegiados, quando o 
exercício do direito de melhor examinar o caso acaba se tornando abusivo, 
dotado da intenção na realidade de procrastinar o andamento ou solução do 
caso. 
Demora demasiada: mais uma vez outro conceito indeterminado, que 
terá de ser apurado no caso concreto. Dependerá também de eventual prazo 
fixado para a prática do ato, e ultrapassá-lo além do razoável. 
O art. 940 §1º do Código Penal fixa o prazo de dez dias para o 
magistrado proferir seu voto após pedir vista, com possibilidade de uma 
prorrogação. A resolução n. 202 do Conselho Nacional de Justiça também 
prevê igual prazo de 10 dias, prorrogáveis. O art. 162 do Regimento Interno do 
STJ prevê o prazo de 60 dias, prorrogáveis por mais 30. A resolução 278 do 
STF prevê prazo de 10 dias, prorrogáveis. 
Finalidade específica: mesmo em casos de demora extrema ainda 
deverá ser demonstrada a finalidade específica de atrasar o andamento ou 
julgamento. Assim, atraso por excesso de serviço, o que não é incomum nos 
 
 
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tribunais brasileiros, não configurará crime de abuso, até porque todos os 
crimes de abuso exigem um dos elementos subjetivos específicos que vimos 
no art. 1º §1º. 
Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, 
por meio de comunicação, inclusive rede social, 
atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações 
e formalizada a acusação: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
Criminaliza o abuso na divulgação da apuração pela imprensa, seja 
qualquer veículo. Não impede a divulgação dos fatos e da apuração, mas a 
atribuição de culpa, ou juízo de valor sobre a responsabilidade, antes de 
finalização da investigação e formalizada a acusação. Basta, portanto, como 
bem lembra o Prof. Marcelo Lessa, que a autoridade cuide para não antecipar 
juízo de culpa, ressalvando que os fatos estão em apuração, sem encerrar 
certeza de autoria. 
Formalização da acusação: ocorre com o oferecimento de denúncia ou 
queixa-crime, em que a imputação é formalizada. Poderá haver discussão 
sobre esse momento, se antes ou depois do recebimento da denúncia. 
Contentando-se a lei com a formalização da acusação, todavia, pensamos que 
bastará o oferecimento da denúncia para que já não haja mais crime na 
divulgação das conclusões. 
Todavia, poderá haver ilícito administrativo, a depender das regras sobre 
o assunto em cada instituição responsável por investigações de qualquer 
natureza. 
Na Polícia Civil de São Paulo, o relacionamento com a imprensa está 
regulamentado na portaria DGP 30 de 1997, prevendo que as autoridades 
policiais devem se limitar a “divulgar exclusivamente, em relação a tais fatos, 
informações cujo conhecimento pelo público seja de manifesto interesse 
policial; que não causem prejuízo às investigações e que não afetem a 
intimidade, a honra, ou a imagem das pessoas envolvidas”. 
 
 
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2.7 CAPÍTULO VII DO PROCEDIMENTO 
Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos 
delitos previstos nesta Lei, no que couber, as 
disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro 
de 1941 (Código de Processo Penal), e da Lei nº 9.099, 
de 26 de setembro de 1995. 
Juizados Especiais

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