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institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 2 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 3 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 4 Sumário OBJETIVO DO MÓDULO............................................................................................. 5 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5 2. COMENTÁRIOS À NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ................................ 6 2.1 CAPÍTULO I. DISPOSIÇÕES GERAIS ................................................................... 8 2.2 CAPÍTULO II DOS SUJEITOS DO CRIME ............................................................. 9 2.3 CAPÍTULO III DA AÇÃO PENAL ......................................................................... 11 2.4 CAPÍTULO IV DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS ............................................................................................................. 12 2.5 CAPÍTULO V DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA ...... 14 2.6 CAPÍTULO VI DOS CRIMES E DAS PENAS ....................................................... 15 2.7 CAPÍTULO VII DO PROCEDIMENTO .................................................................. 46 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 52 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 5 OBJETIVO DO MÓDULO Sejam bem-vindos ao segundo módulo de nossa pós-graduação em Segurança Pública e Atividade Policial. Ao se considerar a construção de um plano pedagógico de curso a equipe docente se reúne e debate qual é a construção mais adequada a ser feita no contexto de nossos programas de especialização, no sentido de permitir aos nossos discentes a evolução em sua área de atuação e a ampliação de raciocínio jurídico que surge em decorrência da análise crítica proposta, Nesse sentido, neste segundo módulo o professor Thiago Nemi Bonametti desenvolve análises quanto à nova lei de abuso de autoridade, trazendo as polêmicas sobre os novos crimes e os reflexos dessas previsões na atuação dos agentes encarregados da aplicação da lei. Desejamos a todos bons estudos. 1. INTRODUÇÃO A nova lei de abuso de autoridade foi editada em um momento político conturbado e inovou o cenário jurídico trazendo cheiro de vingança, por uma suposta retaliação pelo alardeado sucesso da famigerada “operação lava-jato”. As suspeitas iniciais, entretanto, aparentemente não se confirmaram. Apesar de ter surgido num momento tormentoso, a lei trouxe previsões que protegem os bons agentes públicos de acusações infundadas de abuso de autoridade. É fato, todavia, que os novos crimes tratam do assunto de forma mais específica, ao contrário da antiga lei de abuso, e por isso chamam a atenção. É possível visualizar especificamente atos de policiais, delegados, juízes, promotores, nas descrições dos novos tipos penais, e talvez isso tenha causado um alerta inicial exagerado. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 6 É que, como veremos, há dispositivos gerais que se aplicam a todas essas descrições típicas, exigindo finalidade especial de agir e vedando o crime de hermenêutica. De todo modo, é inegável também que o debate intenso sobre a lei gerou a rápida adaptação de instituições públicas visando resguardar a atuação de seus agentes e evitar alegações de abuso de autoridade. Para ver esses reflexos precisamos nos debruçar pelos dispositivos da lei, o que faremos comentando um a um os dispositivos legais. 2. COMENTÁRIOS À NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE A Lei n. 13.869/2019 dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade. Além disso, revoga a Lei n. 4.898/1965, e altera outros dispositivos da Lei de prisão temporária, do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Estatuto da OAB, e do Código Penal. A lei revogou a antiga lei de abuso de autoridade, tornando mais graves algumas condutas, e abolindo (abolitio criminis) totalmente outras condutas que não foram replicadas na nova lei. De um lado, tornou mais graves os abusos mais importantes, e de outro revogou várias disposições genéricas da antiga lei de abuso. Os delitos que foram criados são nova lei penal mais severa (novatio legis in pejus). De outro lado, alguns foram apenas formalmente revogados junto com a lei antiga, porque ainda há previsão típica em outras leis (princípio da continuidade normativo-típica). Por fim, houve abolitio criminis das condutas que antes estavam previstas na lei antiga de abuso. Vejamos alguns CASOS DE ABOLITIO CRIMINIS: • Art. 3º, d: atentado à liberdade de consciência e crença; • Art. 3º, h: atentado ao direito de reunião; • Art. 3º, j: atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional; institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 7 • Art. 4º, f: cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; • Art. 4º, g: recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; CASOS DE CRIMES REVOGADOS, MAS COM CONDUTAS PREVISTAS EM OUTRAS LEIS (continuidade normativo-típica): • Art. 3º, c: atentado ao sigilo da correspondência: pode configurar o art. 40 da Lei 6.538/78 (Lei que dispõe sobre os serviços postais); • Art. 3º, e: atentado ao livre exercício de culto religioso: pode configurar o art. 208 do Código Penal; • Art. 3º, f: atentado a liberdade de associação: pode configurar o crime do art. 199 do Código Penal; • Art. 3º, g: atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto: pode configurar o crime do art. 297 do Código Eleitoral; • Art. 3º, i: atentado à incolumidade física do indivíduo: pode configurar o art. 129 do Código Penal ou crime de tortura; • Art. 4º, h: ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal: pode configurar crime contra a honra do Código Penal. Vigência: a lei foi publicada com vacatio legis de 120 dias, entrando em vigor em 3 de janeiro de 2020 (um dia depois do último dia do prazo, conforme LC n. 95 de 1998). Feitas essas observações, analisemos então os dispositivos legais, seguidos dos pertinentes comentários. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 8 2.1 CAPÍTULO I. DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. § 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal. O dispositivo traz um elemento subjetivo específico, ou dolo específico. Não basta apenas querer praticar alguma conduta prevista na lei (agir com dolo), mas também agir buscando alguma dessas finalidades específicas de prejudicar alguém, beneficiar a si ou outra pessoa, ou por mero capricho ou satisfação pessoal. Trata-se de uma regra que se aplica a todos os crimes da lei de abuso de autoridade, e acaba por filtrar bem a aplicação da lei, que fica restrita aos maus agentes públicos que realmente atuemcom dolo e com a finalidade especial de prejudicar alguém, se beneficiar, beneficiar terceiro, ou por mero capricho ou satisfação pessoal. Por isso alguns autores entendem que não existe crime de abuso de autoridade culposo ou com dolo eventual, eis que a exigência de finalidade específica ou dolo específico é incompatível com a mera assunção de risco (do dolo eventual). Apesar de ser um filtro importante para configuração de todos os crimes de abuso previstos na nova lei, alguns desses conceitos são muito abertos, a exemplo da expressão “mero capricho”, tornando difícil e temerária sua definição na prática. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 9 § 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade. O parágrafo segundo traz ainda outra garantia à atuação dos agentes públicos, afastando o crime de abuso quando houver discussão, ainda que mínima, sobre um ou outro posicionamento. Essa previsão legal, portanto, afasta o tão comentado crime de hermenêutica, que não existe conforme afastado pela própria lei de abuso. Entretanto, um posicionamento teratológico não será protegido, e o agente pode sim responder se tomar decisões de forma abusiva, com finalidade específica. 2.2 CAPÍTULO II DOS SUJEITOS DO CRIME Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a: I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II - membros do Poder Legislativo; III - membros do Poder Executivo; IV - membros do Poder Judiciário; V - membros do Ministério Público; VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 10 cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo. A lei traz um rol exemplificativo de agentes públicos que podem praticar crime de abuso de autoridade. É o rol mais amplo possível, relacionado aqui de forma meramente exemplificativa, e que permite outras hipóteses não constantes do rol. Há uma equiparação no inciso I, em que a lei considera agente público os servidores e os militares, e as pessoas a eles equiparadas. Interessante verificar o art. 327 do Código Penal, que equipara a funcionário público também quem “exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública”. Assim poderiam ser incluídas também as pessoas vinculadas às empresas “terceirizadas”, como concessionárias e permissionárias de serviço público. Exercer qualquer função pública, ainda que transitoriamente, e sem remuneração, abrangendo todas as formas de vínculo, é elementar dos crimes de abuso, que só se configurarão se houver essa condição. Assim, essa condição elementar se comunica a eventuais particulares que atuem junto ao agente público. Uma outra questão relevante quanto aos possíveis autores de crime de abuso de autoridade é a dos militares. Isso porque houve modificação recente com a lei 13.491/17, que alterou o Código Penal Militar, que passou a considerar crimes militares (art. 9 do Código Penal militar) também os crimes previstos na legislação penal (e não apenas no Código Penal Militar), quando for praticado nas circunstancias das alíneas a) a e) do art. 9º do Código Penal Militar, das quais se ressalta a alínea c) (por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à adm. militar contra militar da reserva, reformado, ou civil). Diante dessa mudança, passariam a ser crimes militares, sujeitos à Justiça Militar e, portanto, de investigação também em inquérito policial militar, os crimes comuns (não previstos no Código Penal Militar), praticados por institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 11 militares contra civis mesmo que fora de estabelecimento militar, desde que por militar em serviço. Seria o caso dos crimes de abuso de autoridade. Assim, adotando esse entendimento, teriam de ser revistas as súmulas 172 e 90 do Superior Tribunal de Justiça: ■ Súmula 172 do STJ. Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço. ■ Súmula 90 – STJ. Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática de crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele. Entretanto, grande parte da doutrina sustenta a inconstitucionalidade dessa lei, porque o projeto legislativo aprovado era para ser de lei temporária, com vigência predeterminada, porque se destinava ao período da realização de alguns eventos esportivos no Brasil. Mas o Presidente da República à época, vetou o artigo que tornava a lei temporária, o que a tornou definitiva, contra a vontade do congresso, e desnaturando completamente a norma. Por isso, para Renato Brasileiro, a norma padece de vício de inconstitucionalidade. Nesse sentido, aliás, foi proposta a Ação direta de inconstitucionalidade n. 5804, pela ADEPOL, ainda pendente de julgamento. Outra importante ressalva é a controversa ampliação das atribuições de instituições militares, que seria segundo alguns autores, inconvencional, por violar a Convenção Americana de Direitos Humanos, sendo que a Corte Interamericana de Direitos Humanos já possui decisões no sentido de que instituições militares não podem ser responsáveis pela investigação de crimes cometidos contra civis, como já decidiu no caso Nadege Dorzema e outros vs. República Dominicana. 2.3 CAPÍTULO III DA AÇÃO PENAL Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. § 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 12 Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. § 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia. Trata-se de previsão semelhante ao disposto no art. 29 e art. 38 do Código de Processo Penal. 2.4 CAPÍTULO IV DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS Seção I Dos Efeitos da Condenação Art. 4º São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença. institucional@iejur.com.br /iejur@iejur (61) 3032-6143 13 Ver também os artigos 91 e 92 do Código Penal. O efeito de fixação do valor mínimo de indenização continua automático, mas a nova lei de abuso exige requerimento expresso do ofendido (o que o art. 387 inciso IV do Código de Processo Penal não faz para outros crimes). A perda do cargo foi regulamentada de forma diferente do Código Penal. O dispositivo da lei de abuso acrescenta a exigência de reincidência em crime de abuso para aplicação, mas não condiciona ao montante de pena aplicada. Para perda do cargo, o art. 92, inc. I alínea a) do Código Penal exige condenação igual ou superior a um ano quando o crime for praticado com abuso de poder, ou superior a quatro anos nos demais casos. Como a lei de abuso regulamentou o tema de forma especial, sem fazer referência, pensamos que os critérios são apenas o da nova lei, que revogou tacitamente a alínea a do inc. I do art. 92 do Código Penal (um ano para crimes com abuso) ao regulamentar os efeitos da condenação por crimes de abuso de autoridade. Nessa mesma toada foi a modificação feita pelo art. 42 da presente lei, que mudou a sistemática de perda do cargo para alguns crimes do ECA, exigindo apenas reincidência, independentemente de pena. Mas cuidado, a lei é nova e pode surgir divergência. Mais ainda, a lei de abuso acrescentou outro efeito, não previsto no Código Penal, que é a inabilitação para o exercício de cargo, emprego ou função pública, exigindo também apenas a reincidência em crime de abuso. Esses dois efeitos, de inabilitação e perda, dependem de motivação e declaração expressa do juiz na sentença, ou seja, não são automáticos, assim como não era a perda do cargo regulamentada no art. 92 do Código Penal. Seção II Das Penas Restritivas de Direitos Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade previstas nesta Lei são: I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 14 II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens; III - (VETADO). Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. Em virtude do princípio da especialidade, o rol aqui previsto tem preferência de aplicação em face do rol genérico de penas restritivas de direito substitutivas do art. 43 do Código Penal. Os critérios, a princípio, são ainda os do art. 44 do Código Penal. 2.5 CAPÍTULO V DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis. Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração. Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo criminal. A decisão que reconheça não ter havido o fato, ou que a apontada pessoa não é o autor afetará processos cíveis e administrativos. Mas reconhecer não ter havido o fato ou que tal pessoa não é o autor é diferente de não haver prova da autoria ou da existência do fato, situação em que também há absolvição, mas simplesmente porque não foi possível provar. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 15 Nesse caso a falta de provas pode ser suprida na apuração disciplinar ou no processo cível e por isso eles não são afetados pela absolvição (por falta de provas). A lei encampa a já conhecida distinção entre responsabilidade criminal, civil e administrativa. Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Ver também art. 65 do Código de Processo Penal. Mas há exceção. O estado de necessidade agressivo, em que o agente ataca um terceiro, embora exclua o crime, ainda permite indenização na esfera cível! Agora vejamos os crimes especificamente, e seus impactos. 2.6 CAPÍTULO VI DOS CRIMES E DAS PENAS Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Quem decreta medida privativa? Via de regra a privação de liberdade pode ser decretada pela autoridade policial (delegado) quando da prisão em flagrante, ou pelo magistrado (juiz, desembargador, ministro) quando da prisão preventiva, temporária, ou decorrente da condenação (imposição da pena). Em primeira análise, a prisão captura (feita por qualquer do povo ou agentes policiais) está fora da abrangência desse crime, afinal depende de ratificação pelo delegado. Em princípio a voz de prisão do agente policial ou qualquer do povo (art. 301 do Código Penal), pendente de ser ratificada pela autoridade (prisão captura), não configuraria o crime. É o posicionamento do Prof. Marcelo Lessa. Isso porque o art. 11 (que foi vetado), tipificaria esse crime justamente institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 16 diferenciando prisão captura de prisão decretada pelo delegado. Porém, para Rogerio Sanches o agente que faz a captura também pode ser sujeito ativo desse crime do art. 9. Mas na prática policial têm surgido dúvidas sobre a possibilidade de policiais conduzirem individuo que se identificou falsamente, ou que se recusou a se identificar aos policiais. Seria legítima essa condução para identificação ou legitimação? A providência, em nosso entendimento, é perfeitamente legítima desde que a abordagem policial tenha se dado de forma justificada, com a demonstração da fundada suspeita. Isso porque a garantia do direito ao silêncio, que abrange o direito de não produzir prova contra si (principio do nemo tenetur se detegere), não abrange a parte de identificação, nem dá o direito de acusar alguém falsamente ou de se autoacusar falsamente. Isto é, toda pessoa tem o dever de se identificar, com documento de identidade, ou informando os respectivos dados, pendentes de confirmação. A mentira sobre os dados pode configurar o crime do art. 307 do Código Penal, se feita para obter algum tipo de vantagem (como por exemplo esconder os maus antecedentes ou a condição de foragido), ou ainda a contravenção penal do art. 68 do Decreto Lei 3688/41. É o que a doutrina sustenta (Guilherme Nucci, Tourinho Filho, Luiz Flavio Borges D’urso). Assim já decidiu o STF: Tipifica o crime de falsa identidade o fato de o agente, ao ser preso, identificar-se com nome falso, com o objetivo de esconder seus maus antecedentes (STF – 2ª T., HC nº 72377/SP). E também o STF com REPERCUSSÃO GERAL no RE 640139 DF: EMENTA CONSTITUCIONAL. PENAL. CRIME DE FALSA IDENTIDADE. ARTIGO 307 DO CÓDIGO PENAL. ATRIBUIÇÃO DE FALSA INDENTIDADE PERANTE AUTORIDADE POLICIAL. ALEGAÇÃO DE AUTODEFESA. ARTIGO 5º, INCISO LXIII, DA CONSTITUIÇÃO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL. CONFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DA institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 17 CORTE NO SENTIDO DA IMPOSSIBILIDADE. TIPICIDADE DA CONDUTA CONFIGURADA. O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente (art. 307 do Código Penal). No Superior Tribunal de Justiça a jurisprudência oscilavaentre a 5ª e 6ª Turma (STJ, 5ª Turma, REsp 666003 de 2005 considerando crime, e STJ – 6ª Turma, HC nº 130309/MG considerando não ser crime). Com o julgamento em sede de repercussão geral pelo STF, entretanto, o STJ se alinhou ao entendimento do STF, e sumulou a matéria de igual forma. Súmula 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. Não resta dúvida, portanto, que o direito ao silêncio não afasta o dever de se identificar corretamente, de modo que é lícito tomar providências para obter a correta qualificação do indivíduo abordado, inclusive porque o policial não tem como saber se a pessoa está na condição de procurado da Justiça. Ainda sob outro viés, não há que se falar em abuso de autoridade na conduta porque o policial que age buscando o interesse público de identificar corretamente o cidadão e averiguar sua real identidade, não está imbuído da finalidade de prejudicá-lo gratuitamente, de se beneficiar, e nem está agindo por mero capricho ou satisfação pessoal. A conduta do policial no caso mencionado visa ao interesse público, de modo que ausentes quaisquer dessas finalidades especificas exigidas pela nova lei, inexiste crime de abuso de autoridade. Por fim, deve-se atentar também que outras prisões podem ensejar a ocorrência do crime, como a prisão civil decretada pelo juiz no caso de pensão alimentícia, que pode ser decretada com abuso de autoridade também e configurar o crime. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 18 Exemplos: delegado que lavra flagrante dois dias depois do crime (fora das hipóteses do art. 302 do Código de Processo Penal); juiz que decreta prisão civil do depositário infiel (prisão civil cabe apenas para o devedor de alimentos). Mas não se pode olvidar que em todos os crimes deverá haver o elemento subjetivo específico do art. 1º p. 1º. Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível; III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.‟ Aqui há um crime omissivo que equipara a conduta comissiva do “caput” (de decretar a privação) à omissão do magistrado que deixar de ofertar liberdade em prazo razoável. A lei não define qual seria o prazo razoável para o juiz analisar essas hipóteses de liberdade, o que dificultará a tipificação. A partir de quando há omissão razoável apta a configurar abuso de autoridade? Poderão surgir três orientações: I. 24 horas, aplicando o inc. III do art. 800 do Código Penal, que prevê o prazo de um dia para despachos de expediente, o que poderá ser muito curto, pois a análise de hipóteses de prisão é mais complexa do que um mero despacho de expediente. II. 5 dias, nos termos do inc. II do mesmo art. 800 do Código Penal. III. 48 horas, em analogia ao art. 322, p. único do Código Penal (posição de Rogério Sanches). Ressalte-se, por fim, que nos casos de apreciação da situação de flagrante delito na audiência de custódia não haverá problemas, pois a audiência ocorre em regra em até 24 horas da decretação do flagrante. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 19 O sujeito ativo dessa omissão é o magistrado. Não confunda com o crime do art. 12, no caso de prolongamento indevido de prisões (omissão no cumprimento de alvará de soltura por qualquer policial/agente responsável). Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. São duas formas de cometer o crime: 1. determinar a condução quando descabida (ex. se a parte já compareceu). Ou 2. sem que haja prévia intimação. Tanto o delegado como o juiz pode determinar condução coercitiva no Processo Penal, e, portanto ambos podem ser autores desse crime. Há posição minoritária de que a autoridade policial não pode decretar condução coercitiva, mas prevalece que é possível. Já na segunda parte a lei não fala em delegacia, apenas em juízo, sendo inaplicável o crime ao delegado de polícia, portanto, pelo principio da legalidade estrita. Em tese, portanto, se o delegado decretar a condução sem prévia intimação não incorreria no delito nessa hipótese, mas inevitavelmente incorreria na primeira, porque agindo de maneira descabida, conforme a interpretação dos tribunais superiores. Nas ações de descumprimento de preceito fundamental de números 395 e 444 o Supremo Tribunal Federal proibiu a condução coercitiva de investigados para interrogatório, eis que por força do direito ao silêncio o acusado não é obrigado nem a comparecer, nem a prestar sua versão, se não quiser. Entretanto, o STF não proibiu a condução coercitiva do investigado para outros atos, como submissão a reconhecimento pessoal, nem a condução coercitiva de testemunhas, que continuam permitidas. Já o crime em análise não restringe a ilegalidade da condução ao ato que for destinada, podendo haver abuso na condução coercitiva de investigado institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 20 para reconhecimento pessoal, ou de testemunha (que o STF considera válido), se isso for feito de maneira descabida ou sem prévia intimação, e haja obviamente o elemento subjetivo especifico (exigido para todos os crimes da nova lei de abuso em estudo). A lei nada fala sobre condução coercitiva de vítimas, que é também permitido pelo art. 201 do Código de Processo Penal. Assim, não haverá crime de abuso de autoridade na condução ilegal de vítimas, por falta de previsão no tipo, porém não é aconselhável assim proceder, eis que desarrazoado e desaconselhável inclusive sob o ponto de vista criminológico, por gerar evidente vitimização secundária. Para Rogério Sanches, o crime é formal, bastando a decretação da medida nos autos, de forma descabida ou sem prévia intimação. A efetiva condução, trazendo a pessoa para o ato seria mero exaurimento. Segundo o Prof. Marcelo Lessa a recusa de comparecimento pode ser direta ou indireta. Direta, quando a testemunha ou investigado é intimado e não comparece. E indireta quando investigadores identificam que está evitando ser encontrado para intimação. Em ambos os casos estará autorizada a condução coercitiva, por ter havido a prévia intimação para comparecimento, bastando que seja documentada a recalcitrância. Art. 11. (VETADO). Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à autoridade judiciária que a decretou; institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 21 II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada; III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas; IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. Atente-se aos prazos legais e a quempode ser autor desses crimes. No “caput” pune-se a demora dolosa e com ânimo subjetivo específico (como em todos os crimes de abuso), na comunicação da prisão em flagrante ao juiz. O prazo legal é de 24 horas (art. 306 do Código Penal). A autoridade policial deve determinar a comunicação dentro desse prazo, e o agente policial deve fazer a comunicação em seguida. Qualquer um dos dois pode ser autor do crime, segundo Rogério Sanches e Rogério Greco. Atente-se que se houver justificativa plausível esse prazo pode ser descumprido e mesmo assim não configurará o crime, porque o tipo fala em “deixar injustificadamente” de comunicar a prisão em flagrante. Nesse caso, apesar de não configurar o crime, poderá ensejar o relaxamento da prisão por ilegalidade (excesso de prazo). As figuras equiparadas dos incisos I a IV têm prazos diferentes. O incisos I e II exigem comunicação imediata. No primeiro caso, de prisões preventivas e temporárias ao juiz que a determinou (e não qualquer juiz). No segundo, exige a comunicação de qualquer prisão (flagrante, institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 22 preventiva, temporária, civil, militar, etc) e do local onde foi efetivada à família do preso, ou quem ele indicar, também imediatamente. Novamente a lei não define o prazo para termo “imediatamente” e resta a dúvida. Seria no primeiro minuto, na primeira hora, ou antes de 24 horas, enfim, quando? Pelo rigor do termo os atos para adoção da providência deverão ser tomados tão logo o recolhimento ao cárcere seja determinado (e não logo após a captura), eis que somente após conferência do mandado e análise de eventual situação flagrancial alguém será efetivamente preso. Segundo Rogério Sanches, o importante é não ultrapassar o prazo genérico de 24 horas para comunicação. O Prof. Marcelo Lessa também menciona que o termo imediatamente deve ter interpretação elástica, observando-se o limite de 24 horas. O inciso III trata da entrega da nota de culpa no prazo de 24 horas (art. 306 §2º do Código Penal). É um documento formal assinado pelo preso dando ciência da razão pela qual foi preso e quem são o condutor e testemunhas de sua prisão. Aqui em tese o prazo de 24 horas é contato da captura do preso, mas dependendo da situação, justificada, a autoridade policial pode contar a partir de sua decisão pela decretação do flagrante (ratificação da captura). O inciso IV traz um crime permanente, de prolongar pena, prisão, medida de segurança, ou internação. Também é crime omissivo, de qualquer agente responsável pelo cumprimento do alvará de soltura, e que não o faz, ou o que não solta após o prazo judicial ou legal. Escoado o prazo legal da prisão (por ex., a temporária deferida por 5 dias), o responsável deve efetivar a soltura imediatamente independentemente de nova decisão judicial. Já era a praxe em muitos lugares, mas a lei trouxe essa previsão especifica tanto no presente artigo, como também no art. 40. Em São Paulo, como bem lembra o Prof. Marcelo Lessa, as normas da corregedoria do Tribunal de Justiça (art. 428) já previam a soltura imediata sem necessidade de nova decisão judicial quando escoado o prazo da prisão temporária. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 23 Atraso justificável: a lei afasta a configuração do crime se houver motivo excepcionalíssimo. Novamente um adjetivo difícil de mensurar. Exemplo trazido pelo Prof. Marcelo Lessa é o risco de rebelião, ou outro motivo excepcional de segurança das instalações. Outrossim, na prática sabe-se que o cumprimento de alvará de soltura não é automático, pois depende no mínimo de pesquisa sobre a existência de outro mandado de prisão por outro fato (caso em que o individuo não pode ser solto). Por isso, um prazo razoável deverá ser tolerado. Relembramos, entretanto, que é sempre necessário o elemento subjetivo do tipo, para todos os crimes de abuso! Não basta negligenciar ou descumprir os prazos legais para soltura e comunicações de prisão! A mera desídia, negligência, etc., não configurarão abuso de autoridade, mas podem configurar infração disciplinar. Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a: I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência. São três formas de violência: física, moral (ameaça), e redução da capacidade de defesa. Há diferença entre preso e detento? Para Rogério Sanches a diferença é que o preso é aquele cuja prisão já foi formalizada, enquanto que o detido é aquele que está ambulatorialmente restrito, aguardando a formalização da prisão. Estariam apenas detidos, por exemplo, autores de crimes de menor potencial ofensivo esperando a lavratura do Termo Circunstanciado, e que só institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 24 serão efetivamente presos caso se recusem a assinar o termo de compromisso. De todo modo, um ou outro podem ser vítimas desse crime de abuso. Com base na Resolução n° 43/173, de 9 de dezembro de 1988 da Organização das Nações Unidas (ONU), o professor Marcelo Lessa diferencia explicando que “detido” (sinônimo de “detento”) é a “pessoa privada da liberdade, exceto por condenação. Trata-se do “conduzido” e/ou detido em flagrante delito por decreto exarado pelo Delegado de Polícia via lavratura do auto prisional, após análise jurídica do contexto fático”. Enquanto que o “preso” é “pessoa privada da liberdade em consequência de condenação que, por interpretação extensiva abarca o “preso” por ordem judicial, temporária ou preventiva”; Além dos elementos subjetivos de todos os crimes de abuso, esse crime poderá ocorrer para três finalidades específicas. O inciso I trata da exibição de corpo ou parte do corpo, como em entrevistas, ou exposição midiática. O Prof. Marcelo Lessa bem alerta que a via pública não pode ser integralmente controlada pela Polícia, e, portanto, em muitos casos não haverá dolo do agente policial nessa exposição inevitável. Foi esse fundamento, inclusive, que levou ao veto ao art. 14 que criminalizava permitir ou fotografar ou filmar preso sem consentimento. Outrossim, o tipo não abrange a exposição da voz, como em falas ou gravações do preso/detido. Os incisos II e III podem trazer confusão com o crime de tortura (art. 1º inciso I, alínea a e parágrafo primeiro da Lei 9455/97). A distinção, à primeira vista, residirá no sofrimento causado e na intensidade, eis que se exige para configuração do crime de tortura o sofrimento físico ou mental. Constrangimento não previsto em lei depende de análise dos diversos dispositivos que regulamentam principalmente a atuação policial. Como bem lembra o Prof. Marcelo Lessa, há regramento para uso de algemas no decreto federal n. 8.858/2016 e na Súmula Vinculante 11 do STF. E há regras de transporte de presos na lei federal n. 8.653/1993. Art. 14. (VETADO). institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 25 Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório: I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a presença de seu patrono. O caput trata de um crime contra atestemunha proibida de depor, e que independe do efetivo depoimento. Basta o mero constrangimento sob ameaça de prisão, para que testemunhas proibidas violem o segredo profissional. Configurará o crime, assim, ameaçar “alertando” a testemunha sobre o crime de falso testemunho, desde que sabendo de sua condição profissional, funcional, etc. Proibidas: segundo o art. 207 do Código Penal essas pessoas são proibidas de depor, não podendo fazê-lo mesmo que queiram, a não ser que a pessoa protegida pelo sigilo abra mão. Exemplos: advogado sobre fatos relacionados a quem foi seu cliente; médico sobre o tratamento do paciente. Parágrafo único: trata da proibição de interrogatório de pessoa que quis ficar em silêncio (art. 5º, inciso LXIII da CF), ou que manifestou desejo de constituir advogado ou ser assistida por defensor público. O crime é prosseguir, indicando que o ato já se iniciou e a pessoa manifestou desejo de não continuar, seja porque não quer se manifestar, seja porque deseja ter um advogado. Não foi feita ressalva alguma sobre a fase processual do interrogatório, se na fase policial (inquérito) ou em juízo (processo), de modo que em qualquer caso poderá ocorrer o crime. Da mesma forma, também pode ocorrer durante CPIs e procedimentos do Ministério Público. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 26 Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função. O preso tem direito de saber a identificação dos responsáveis por sua prisão (art. 5º LXIV da CF). No caput a conduta é dos agentes (policial militar de qualquer patente) ou da autoridade policial (delegado) se ela própria fizer a captura ou estiver no comando da operação. No caso dos militares e Guardas Municipais, bem alerta o Prof. Marcelo Lessa que a identificação consta do fardamento (dos militares) ou uniforme (dos guardas), o que basta para satisfazer a exigência. No caso de agentes policiais civis (ou federais), que em regra não usam tarjetas, ou no caso de militares/guardas eventualmente sem tarjetas, a identificação em regra deve ser feita no momento da captura/detenção, mas se isso restar inviabilizado pela dinâmica da ocorrência, poderá ser feito no momento seguinte, após acalmados os ânimos. Não haverá dolo de violar a norma se essa demora dos agentes se der por motivos de segurança, até porque podem antes ter que agir em legítima defesa ou estado de necessidade diante de algum tumulto ou risco. No parágrafo único a conduta é da autoridade responsável pelo interrogatório na fase investigativa criminal! (não há previsão para o interrogatório da fase judicial nem em investigações civis ou administrativas, e também não há para colheita de depoimento de testemunhas e declarações de vítimas). Assim, poderão ser autores o delegado de polícia (no inquérito), o oficial militar (no inquérito militar), etc, durante interrogatório. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 27 Identificação falsa: atente-se que nos dois casos é crime tanto deixar de se identificar, como se identificar falsamente. Questão curiosa pode surgir no caso do agente que, não sendo responsável pelo interrogatório, se identifica como delegado e realiza o ato. Não haverá o crime em tela porque não se trata de pessoa responsável pelo interrogatório, portanto, cuidado. No parágrafo único o crime é próprio da autoridade responsável pelo interrogatório. Nesse exemplo o agente pode responder pelo crime do caput se tiver participado da captura ou detenção. Art. 17. (VETADO). Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar declarações: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. O crime pressupõe clandestinidade no interrogatório feito à noite, o que revela desconhecimento da praxe policial, serviço público aberto e ininterrupto 24 horas por dia. Apesar da ressalva aos casos de prisão em flagrante, procedimento no qual o interrogatório será feito normalmente, a previsão legal proíbe interrogatórios de presos temporários ou preventivos capturados a noite e que deveriam ser interrogados nos respectivos procedimentos. Se o detido consentir e estiver assistido de advogado, o ato poderá ser realizado, porém ante a exigência de que esteja assistido, num primeiro momento nos parece que só poderá ser feito o interrogatório a noite, fora de situações flagranciais, se o preso tiver advogado e consentir. Não havendo advogado, mesmo com consentimento, em tese, poderá haver violação à norma. Repouso noturno: a lei não define o horário, podendo surgir dúvida. A melhor alternativa parece usar o critério do crime art. 22 dessa mesma lei (que trata do cumprimento de busca entre as 21 horas da noite até as 05 horas da institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 28 manhã). Por ser um critério adotado na mesma lei, parece razoável adotá-lo também aqui, o que é a posição também do Prof. Marcelo Lessa. Mas pode-se sustentar alternativamente o período trazido pelo art. 212 do Código de Processo Civil. Investigado solto: pode ser interrogado em qualquer horário, pois a lei proíbe o interrogatório noturno do preso. Portanto, se eventualmente conduzido autor de crime pretérito, não estando preso (flagrante, temporária, ou preventiva), poderá ser interrogado. ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO DA ACADEPOL DE SÃO PAULO É NESSE SENTIDO. Esse raciocínio foi firmado por meio da Súmula nº 4: O vocábulo “preso”, empregado no artigo 18 da Lei Federal 13.869/2019, abrange o custodiado temporário ou preventivo e não equivale ao mero investigado que, asseguradas as garantias fundamentais, sobretudo o direito de autodefesa e de acionar defesa técnica, poderá ser ouvido em declarações, sem prejuízo de pronta representação pela prisão provisória diante da suspeita de envolvimento em prática delitiva pretérita e do preenchimento dos requisitos legais. Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua custódia: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da demora, deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja. Atenção, quanto à comunicação do flagrante pelo delegado já há crime específico no art. 12. Os agentes policiais que eventualmente concorrerem institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 29 para demora na remessa do flagrante poderão responder pelo art. 12, vide comentários. Aqui o crime é direcionado à atuação do juiz e seus serventuários. O juiz responsável que deverá ser comunicado do pleito poderá ser o que decretou prisão temporária, preventiva, eventual prisão civil etc. No parágrafo único o crime é próprio do magistrado que se queda inerte a partir da ciência da demora já instalada. Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Visa assegurar o exercício da ampla defesa (art. 5º inc. LVda CF). Não confunda com o crime de violação de prerrogativas de advogados, que está no Estatuto da OAB e foi alterado também pela lei de abuso aqui estudada (ver artigo 43 mais a frente). O crime aqui do art. 20 também tutela uma prerrogativa do advogado, mas foi inserido na lei de abuso, fora do Estatuto da OAB. Atente-se que além do dolo e do elemento subjetivo específico (exigido em todos os crimes da lei de abuso), esse crime exige também falta de justa causa, de modo que havendo justificativa plausível para impedir a entrevista pessoal e reservada, não haverá crime. Exemplo: por segurança das instalações (receio de rebelião na cadeia, nos locais em que ainda há) a entrevista é impedida na fase policial. Além de crime, a recusa poderá contaminar o ato com o vício da nulidade, diante do art. 7º inciso XXI do Estatuto da OAB, modificado pela Lei n. 13.245/16. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 30 advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por videoconferência. Equipara com a mesma pena o embaraço da atuação do advogado com seu cliente durante o processo (audiência judicial), garantindo também a entrevista reservada antes da audiência e durante o ato (sentando-se ao lado). Aqui o crime é cometido pelo Juiz ou por seu agente. O agente pode praticar o ato se embaraçar a entrevista dolosamente antes da audiência, eis que na praxe forense muitas vezes os presos ficam na cela dos fóruns, sob a guarda de policiais ou serventuários da Justiça aguardando a instalação da audiência e ali entrevistam-se reservadamente com seus patronos antes. CUIDADO: durante o interrogatório ao réu cabe responder as perguntas, e não conversar reservadamente planejando cada resposta durante o ato, por isso a ressalva ao final, que também se aplica à audiência por videoconferência. Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). O verbo manter revela que se trata de um crime permanente, que se prolonga no tempo enquanto não regularizada a ilegalidade pelo agente ou autoridade. A necessidade de separação da mulher está prevista no art. 82 da Lei de Execução Penal. E a dos adolescentes está no art. 175 do ECA. A lei de abuso institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 31 tornou crime não obedecer a esses regramentos, desde que com dolo e com os demais elementos subjetivos. Atente-se que os presos provisórios (preventiva e temporária) também devem ser separados dos condenados (art. 84 da Lei de Execuções Penais), assim como os presos por prisão civil (art. 528 p. 4º do Código de Processo Civil), porém a ilegalidade não foi tipificada como crime, podendo configurar ilícito administrativo ou civil. Sofrimento físico ou mental: se houver, poderá configurar tortura (art. 1º, p. 1º da Lei 9455/97), que tipifica quem submete pessoa presa a sofrimento físico ou mental pela prática de ato não previsto em lei, segundo Rogério Sanches e Rogério Greco. Res. N. 1 de 2014 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária: 1. Preso travesti (sexo fisiológico masculino, mas apresentação social feminina, sem rejeitar o órgão sexual) e homem gay devem ficar em penitenciárias masculinas, mas separados da população geral. 2. Transexuais (psicologicamente de um sexo, mas anatomicamente de outro, rejeitando órgão sexual), devem ficar em unidades prisionais femininas. Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Trata-se de uma modalidade especial de violação de domicílio (art. 150 do Código Penal). Inclusive, a presente lei de abuso revogou o §2º do art. 150 do Código Penal que previa aumento de pena justamente quando a invasão fosse feita por funcionário público). A razão é que o tema foi disciplinado no presente crime do art. 22 da nova lei. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 32 São vários núcleos (Invadir, adentrar, ou permanecer), sendo que no ultimo o verbo permanecer revela que se trata de crime permanente, até o individuo deixar o imóvel. Condições estabelecidas em lei: o regramento da inviolabilidade domiciliar está no art. 5º inc. XI da CF, que só permite o ingresso com consentimento do morador, em caso de flagrante delito, desastre, para prestar socorro, ou durante dia por determinação judicial. Essas são as condições permitidas em “lei”. No mais, as buscas domiciliares estão regulamentadas no art. 245 do Código de Processo Penal. § 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem: I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas dependências; II - (VETADO); III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas). O legislador se preocupou em punir também o consentimento viciado, quando o agente público coage alguém a franquear o acesso. E também regulamentou o horário de cumprimento de mandados de busca (violação de domicílio com autorização judicial), definindo um período que, pensamos, também serve de parâmetro para o crime do art. 18. Então será que a lei finalmente regulamentou o horário para cumprimento de mandado de busca? Há divergência! Há entendimento doutrinário de que o período temporal previsto nesse artigo serve de base apenas para a configuração ou não do crime de abuso, e que o conceito de dia para fins de cumprimento de mandado de busca ainda remanesce o mesmo que a doutrina já sustentava anteriormente. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 33 Ou seja, para essa corrente, o mandado de busca só pode ser cumprido quando for fisicamente dia (com os primeiros raios de sol), sendo ilícita a prova se cumprido sem luz solar, ainda que depois das cinco horas da manhã e antes das nove da noite. Nesse caso, para essa corrente, não haverá crime de abuso (porque cumprido depois das 05), mas a prova será ilícita. Para essa corrente, então, haverá três situações. 1. Mandado cumprido após as 21h ou antes das 5h configurará crime de abuso. 2. Mandado cumprido antes das 21h ou depois das 05h, porém já a noite ou antes de aparecer o sol, não configurará crime de abuso, porém a prova será ilícita. 3. Mandado cumprido depois do surgimento do sol e antes do por do sol, depois das 5h e antes das 21h, não haverá abuso e a prova será legal. Para essa corrente o horário de cumprimento não foi alterado porque a constituição fala em dia, e não em determinada hora. Outra corrente, entretanto, sustenta que a lei de abuso regulamentou o horário de cumprimento do mandado de busca, ao considerar abusivo o cumprimento fora de uma janela razoável de horário. Para essa corrente é perfeitamente possível que a lei ordinária regulamente o conceito de dia previsto na Constituição Federal, trazendo segurança jurídica e uniformidade conceitual para a diligência ser consideradalícita. Facilita ao cidadão, que sabe de maneira exata que seu imóvel é inviolável pela polícia nesse horário definido fixamente, e também facilita a atuação policial. Não faria sentido a lei trazer uma janela temporal fixa, considerando abuso o cumprimento fora do horário definido, e a diligência ainda ter que obedecer a critérios doutrinários confusos, divergentes, e que não trazem nenhuma segurança jurídica. Isso porque o critério astronômico ou físico mencionado pela primeira corrente sequer é pacífico, havendo quem sustente também um critério fixo de horário (das 06 as 18 horas por exemplo). Assim, seria mais razoável entender que a lei de abuso disciplinou a restrição ao direito fundamental da inviolabilidade domiciliar prevendo um horário em que a diligência será considerada lícita, e outro em que será considerada abusiva. A restrição ao direito fundamental já é autorizada pela Constituição Federal, isto é, trata-se de direito fundamental de peso já dosado institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 34 pela Constituição, restringível, e a lei trouxe parâmetros razoáveis para essa restrição. § 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de desastre. Reitera a previsão constitucional, detalhando que a situação de flagrante ou desastre deve estar fundada em indícios. A jurisprudência recente tem exigido que esses indícios sejam colhidos anteriormente, de modo que a análise da legalidade da invasão é feita com base no momento em que decidiu- se pela entrada, e não posteriormente. Assim, pouco importa se constatada ou não a situação flagrancial após a violação. O importante é que quando isso foi decidido houvesse indícios apontando que havia situação de flagrante delito ou desastre. Afinal nessa situação não se pode exigir dos agentes que aguardem, pois se não agirem podem deixar um criminoso impune, ou um desastre acontecer. De outro lado essa exigência de indícios prévios impede violações a esmo na busca casual de um crime permanente, como ocorre com o tráfico de drogas. Invadindo um domicílio sem indício prévio algum, o agente cometerá ilegalidade, mesmo que fortuitamente se depare com uma situação flagrancial. Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir- se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. O crime de fraude processual do art. 347 do Código Penal, e o de fraude em acidente de trânsito do art. 312 do Código de Trânsito Brasileiro podem trazer confusão. O crime genérico de fraude processual (art. 347 do Código institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 35 Penal) tem como finalidade apenas induzir a erro o juiz ou perito, e é menos grave. O crime de abuso aqui em estudo é mais específico e mais grave. A diligência, investigação ou processo devem estar em curso: se já finalizados a inovação não poderá prejudicar a apuração, e por isso não há o crime. Podem ser de qualquer natureza (criminal ou outra) e o ato deve visar eximir-se ou agravar a responsabilidade (qualquer uma, criminal, civil, etc) de alguém, ou incriminar (aqui somente criminalmente) alguém. Exemplo: agente policial que apresenta arma verdadeira em lugar de simulacro após deter individuo por roubo, para prejudicá-lo forçando a aplicação da regra de aumento de pena (art. 157 §2º-A do Código Penal). Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de: I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de diligência; II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o curso da investigação, da diligência ou do processo. As figuras equiparadas focam em condutas específicas. No inciso I o agente age para eximir-se de uma responsabilidade específica, a decorrente do excesso de um ato inicialmente legítimo. É o que pode ocorrer, por exemplo, se o agente policial inserir um revolver na cena do crime depois de ter baleado em legítima defesa um furtador que estava desarmado, a fim de que sua ação não seja vista como excesso. No inciso II, exemplo bem lembrado pelo Prof. Marcelo Lessa é o do agente policial responsável por transcrições de interceptações telefônicas que omita dados ou os transcreva de forma incompleta para desviar o curso dos trabalhos. Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de instituição hospitalar institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 36 pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência. O crime foca naqueles agentes policiais que socorrem pessoa falecida, geralmente em confronto, apenas para dar a impressão de que a ação foi legítima. Mas para configuração do delito deve haver ameaça ou agressão ao funcionário do hospital que, vendo o óbito, se recusa a atender (porque não há pessoa para ser socorrida). Finalidade específica: exige-se a finalidade de alterar o local ou o momento do crime, o que diferencia o delito da fraude do artigo 23. Resultado material: segundo Rogério Sanches e Rogério Greco, o crime se consuma com o constrangimento mediante violência, não exigindo efetivo prejuízo à apuração. Entretanto, em virtude da parte final (prejudicando o local), poderá surgir corrente sustentando a necessidade desse efetivo prejuízo. Em São Paulo – SP: o socorro de pessoas por policiais está regulamentado pela Res. SSP 05 de 2013, que prevê que o policial acione o serviço de socorros de urgência e somente socorra se o tempo de atendimento for inadequado. Dúvida: não sendo médico, o policial ou agente que acreditar que a pessoa está viva não cometerá o crime, podendo haver erro de tipo, que afasta o dolo. Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 37 Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude. As provas obtidas por meios ilícitos são proibidas pelo art. 5º inc. LVI da Constituição Federal de 1988. A doutrina considera prova ilegal gênero, do qual se extraem as espécies 1. Prova ilícita: que viola princípio constitucional; e 2. Prova ilegítima: que viola norma processual. É crime apenas a obtenção ou utilização de prova ilícita (não estando abrangida a ilegítima). Pro reo: a lei criminaliza também o uso da prova, desde que em desfavor do investigado. Assim, o uso da prova ilícita em favor do réu não configurará o crime. A jurisprudência já admite em alguns casos, com base no principio da proporcionalidade, a utilização da prova ilícita em favor do réu, a fim de que não seja consumada uma injustiça. Manifestamente: para configuração do crime é necessário que a prova seja manifestamente ilícita, isto é, não haja dúvida nem posicionamento em sentido contrário. O termo “manifestamente” é aberto e depende de interpretação, mas conjugando com o disposto no art. 1º, §2º da presente lei, entendemos que havendo a mínima divergência, ou não estando o tema consolidado, não haverá crime. Inclusive porque nesses casos poderá havererro de proibição, e possivelmente não haverá o elemento subjetivo específico (exigido em todos os crimes de abuso). A academia de polícia de São Paulo tem o mesmo entendimento, conforme Súmula Doutrinária nº 6: A obtenção e o uso de prova cuja licitude seja objeto de controvérsia jurisprudencial ou doutrinária estão albergados na ressalva de divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas do § 2º do artigo 1º da Lei Federal 13.869/2019. Art. 26. (VETADO). Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 38 qualquer indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar sumária, devidamente justificada. Atenção com o crime de denunciação caluniosa (que exige imputação de crime e é mais grave). O presente crime de abuso exige apenas a falta de indício, e a requisição ou instauração de investigação penal ou administrativa. Alguém: exigindo que seja em desfavor de alguém, fica afastado o crime se a instauração não for contra uma pessoa determinada desde logo. Sindicância ou investigação preliminar sumária: a lei expressamente afasta o crime nessa hipótese, desde que haja justificação, de modo que se a requisição ou instauração for de um procedimento preliminar, básico, mínimo, não haverá o crime mesmo que não haja indícios iniciais. No âmbito administrativo, o termo usado foi sindicância, geralmente uma espécie de processo administrativo menos amplo, menor, e voltado à aplicação de sanções administrativas menores. No âmbito da investigação penal, o termo usado foi investigação preliminar sumária, em alguns lugares chamadas de verificação de procedência das informações, que precedem a instauração de inquérito justamente para evitar investigações infundadas. Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou acusado: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Aqui pressupõe-se que a interceptação, escuta, ou quebra do sigilo tenha sido regular, sob pena de, não tendo sido, configurar o crime do art. 10 da Lei de Interceptações. A ideia foi criminalizar o ato de divulgação, mesmo a institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 39 interceptação tendo sido regular, quando isso ocorrer de forma descontextualizada e ferindo a intimidade do investigado. O crime exige a divulgação de gravação alheia à prova, de modo que se estiver relacionada às evidências o crime estará afastado por expressa previsão legal, podendo configurar outro crime. Também exige a exposição da intimidade, vida privada, ou lesão à honra. Mas para Rogério Sanches e Rogério Greco, se consuma com a divulgação, independentemente da ofensa à intimidade, vida privada, ou honra. Crime da lei de interceptação: de todo modo, condutas mais graves poderão se adequar ao crime do art. 10 da lei de interceptações telefônicas, que inclusive foi alterado pela presente lei de abuso de autoridade. Veja os comentários ao art. 41, e a distinção entre interceptação, escuta e gravação. Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. (VETADO). A lei mira as informações prestadas pelo juiz aos tribunais superiores no caso de Habeas Corpus. A autoridade coatora tem que informar o que houve, e nesse ato não pode mentir. Apesar disso, qualquer agente público pode cometer o crime, tratando- se de modalidade especial de falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal). Finalidade específica: de prejudicar o investigado. Se não houver, não ocorrerá esse crime, podendo haver prevaricação ou outro delito. Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 40 Não confunda com o crime do art. 27: aqui no art. 30 a persecução é iniciada contra alguém que se sabe inocente. Por isso a pena aqui é mais grave. Mas ainda assim é também uma modalidade menos grave de denunciação caluniosa (art. 339 do Código Penal), que não exige a imputação de crime. O delito aqui contenta-se com o início da persecução contra alguém que se sabe inocente. Persecução: a persecução penal se inicia com o inquérito policial e segue até o processo penal. Nestes termos, o crime pode se configurar com a requisição de inquérito policial pelo membro do Ministério Público, com a instauração pelo delegado, e também com o oferecimento de denúncia pelo promotor. O mesmo vale para os procedimentos administrativos e civis (aqui abrangidos os de improbidade). Justa causa: conceito aberto e indefinido. Pode ser entendida como suporte probatório mínimo, relacionado aos indícios de autoria e prova da existência do crime. Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do investigado ou fiscalizado: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou conclusão de procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do fiscalizado. O caput trata do atraso na conclusão da investigação em que haja prazo definido, como por exemplo o inquérito policial, desde que isso se dê em prejuízo do investigado/fiscalizado. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 41 Abrange tanto procedimentos de investigação criminal, como de fiscalização administrativa, e por isso serão autores todos aqueles agentes que forem responsáveis pelos procedimentos, como delegados, promotores, corregedores, agentes de fiscalização, etc. O parágrafo único trata da procrastinação da investigação que não tem prazo previsto. Justificativa: afasta o crime em ambos os casos. Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Criminaliza tanto a negativa de acesso, como o impedimento de cópias, em qualquer procedimento investigatório (o rol é exemplificativo, seguido de cláusula de abertura). A ressalva final explica melhor o teor da súmula vinculante n. 14 do STF: é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.. Realmente, diligências em curso, ou já realizadas, mas que possam indicar que a realização das próximas diligências pode frustrar a investigação e por isso ficarão inacessíveis até serem documentadas sem risco à investigação. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 42 Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação,inclusive o dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido. Atente-se que o crime não pode ser usado para atrapalhar a atuação do delegado de polícia, que possui poder requisitório de informações. É esse, inclusive, o entendimento da ACADEPOL – SP, por meio da Súmula nº 7: A exigência de informações ou obrigações com amparo nas prerrogativas ordinárias e de persecução atreladas ao poder-dever de presidência da investigação criminal dos Delegados de Polícia retrata medida legítima e eventual desatendimento injustificado pode ensejar responsabilização civil, administrativa e penal. Exigir: não abrange violência ou grave ameaça, que se houver poderá configurar tortura, ou extorsão. Concussão/excesso de exação: exigir vantagem indevida em razão da função, ou tributo que sabe indevido, ou usando meio vexatório, são crimes mais graves que podem configurar respectivamente concussão e excesso de exação (art. 316 “caput” e §1º do Código Penal). Distinção: no caput do presente art. 33 o crime é exigir informação ou cumprimento de obrigação, e não há menção à vantagem indevida, que é o que é exigido no crime de concussão, e por isso é o ponto de distinção. Já no parágrafo único o crime é de utilizar o cargo ou invocá-lo para obter algum privilégio ou se eximir de obrigação legal, não havendo o verbo exigir, que existe no crime de concussão, sendo este o ponto de distinção. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 43 Parágrafo único: atenção, em meios policiais foi dada divulgação a essa previsão como se fosse o crime da “coxinha”, do policial que se alimenta em restaurante de graça. Mas o crime é o de invocar a condição de agente para se beneficiar, se eximir e pagar, etc, e exige também o dolo específico de todos os crimes de abuso. Receber refeição ou agrado mínimo de alguém que aprecia o trabalho policial não é atuar com esse dolo. Na verdade a intenção desse parágrafo único é punir as condutas de “carteirada”, daqueles que invocam suas condições de agentes públicos para obterem vantagem ou tratamento diferenciado (evitar filas, ingressar em casa noturna sem pagar). O crime poderá ocorrer, portanto, se o policial ou agente público insistir em não pagar pela refeição, ou algo do gênero, em razão de sua função. Há interessante posicionamento doutrinário da Academia de Polícia de São Paulo sobre esses agrados e gentilezas por apreço à função policial. É o teor da súmula doutrinária nº 8: A identificação formal de agente estatal quando as circunstâncias exigirem assim como a resposta cortês a ato voluntário e gratuito de particular motivado por respeito, educação ou gentileza não configura abuso de autoridade por ausência de dolo na conduta. De todo modo, receber vantagem em razão da função pode configurar na verdade o crime de corrupção passiva. Art. 34. (VETADO). Art. 35. (VETADO). Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Crime próprio do magistrado, que pode ser praticado em qualquer processo judicial, não necessariamente criminal. Exacerbadamente: novamente institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 44 um conceito indefinido, que dependerá de interpretação, e que dificulta a aplicação do dispositivo. Atenção para o fato de que a lei exige duas situações sequenciais para configuração do crime: primeiro que haja a decretação de indisponibilidade em valor bem acima do estimado para satisfação de dívida, e segundo, que o magistrado não corrija o valor do bloqueio mesmo depois de alertado pela parte interessada. Assim, trata-se de um crime com uma parte comissiva (ação), seguida de uma omissiva (omissão). Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que tenha requerido vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. O crime foca nos pedidos de vista em julgamento colegiados, quando o exercício do direito de melhor examinar o caso acaba se tornando abusivo, dotado da intenção na realidade de procrastinar o andamento ou solução do caso. Demora demasiada: mais uma vez outro conceito indeterminado, que terá de ser apurado no caso concreto. Dependerá também de eventual prazo fixado para a prática do ato, e ultrapassá-lo além do razoável. O art. 940 §1º do Código Penal fixa o prazo de dez dias para o magistrado proferir seu voto após pedir vista, com possibilidade de uma prorrogação. A resolução n. 202 do Conselho Nacional de Justiça também prevê igual prazo de 10 dias, prorrogáveis. O art. 162 do Regimento Interno do STJ prevê o prazo de 60 dias, prorrogáveis por mais 30. A resolução 278 do STF prevê prazo de 10 dias, prorrogáveis. Finalidade específica: mesmo em casos de demora extrema ainda deverá ser demonstrada a finalidade específica de atrasar o andamento ou julgamento. Assim, atraso por excesso de serviço, o que não é incomum nos institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 45 tribunais brasileiros, não configurará crime de abuso, até porque todos os crimes de abuso exigem um dos elementos subjetivos específicos que vimos no art. 1º §1º. Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Criminaliza o abuso na divulgação da apuração pela imprensa, seja qualquer veículo. Não impede a divulgação dos fatos e da apuração, mas a atribuição de culpa, ou juízo de valor sobre a responsabilidade, antes de finalização da investigação e formalizada a acusação. Basta, portanto, como bem lembra o Prof. Marcelo Lessa, que a autoridade cuide para não antecipar juízo de culpa, ressalvando que os fatos estão em apuração, sem encerrar certeza de autoria. Formalização da acusação: ocorre com o oferecimento de denúncia ou queixa-crime, em que a imputação é formalizada. Poderá haver discussão sobre esse momento, se antes ou depois do recebimento da denúncia. Contentando-se a lei com a formalização da acusação, todavia, pensamos que bastará o oferecimento da denúncia para que já não haja mais crime na divulgação das conclusões. Todavia, poderá haver ilícito administrativo, a depender das regras sobre o assunto em cada instituição responsável por investigações de qualquer natureza. Na Polícia Civil de São Paulo, o relacionamento com a imprensa está regulamentado na portaria DGP 30 de 1997, prevendo que as autoridades policiais devem se limitar a “divulgar exclusivamente, em relação a tais fatos, informações cujo conhecimento pelo público seja de manifesto interesse policial; que não causem prejuízo às investigações e que não afetem a intimidade, a honra, ou a imagem das pessoas envolvidas”. institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 46 2.7 CAPÍTULO VII DO PROCEDIMENTO Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta Lei, no que couber, as disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Juizados Especiais
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